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Ma.

Aila Stefania de Almeida

Aula 8:

Transtornos
alimentares
Psicopatologia geral
Elaboração do conteúdo
Ma. Aila Stefania de Almeida
Núcleo de produção
NTE (Núcleo de Tecnologias Educacionais)
Coordenação de produção
Dra. Nínive Daniela Guimarães Pignatari
Coordenação de AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)
Esp. Eric de Oliveira Freitas
Revisão
Me. Camilo Augusto Giamatei Esteluti
Ma. Silvia Brandão Cuenca Stipp
Auxiliar de revisão
Larissa Gabriela de Oliveira Greco
Projeto gráfico
Douglas Augusto Victorino Junior
Vinícius Sanchez dos Santos
Diagramação
Helen Anaí Magalhães
Design instrucional
Cristiane da Silva
Jéssica Belucci
Marisa Cavalcante Diégues Nara
Imagens editoriais
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desta obra sem autorização do titular.
Competência

Descrever os aspectos fundamentais dos transtornos


alimentares.

Caracterizar e diferenciar a anorexia nervosa, bulimia


nervosa e transtorno de compulsão alimentar.

Nesta aula

• Transtornos alimentares

• Bulimia nervosa

• Anorexia nervosa

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Introdução

Olá, estudante!

Na aula anterior você estudou alguns dos transtornos de


ansiedade. Nesta aula, continuaremos a discussão de alguns
grupos de transtornos psicológicos do DSM-5 e, desta vez, você irá
aprender sobre os transtornos alimentares. Vamos lá!

Transtornos alimentares

Os transtornos alimentares são caracterizados por


disfunções no comportamento alimentar ou comportamentos
relacionados a alimentação que causam alterações no consumo
e/ou na absorção dos alimentos (APA, 2014). O agrupamento de
transtorno alimentares é composto por: pica, transtorno de
ruminação, transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia
nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar.

O comportamento alimentar é um fenômeno complexo,


constituído por dimensões fisiológico-nutritiva; psicodinâmica e
afetiva; e relacional.

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• Dimensão fisiológico-nutritiva. Relaciona-
se a aspectos metabólicos, endócrinos e
neuronais, que regulam a demanda e a
satisfação das necessidades nutricionais.

• Dimensão psicodinâmica e afetiva. Aqui, a


fome e a alimentação vinculam-se à


satisfação e ao prazer oral. O prazer
alimentar oral tem, segundo a psicanálise,
uma conotação nitidamente libidinal.

• Dimensão relacional. No desenvolvimento


da criança, a boca é o mediador da primeira
relação interpessoal; a relação mãe-bebê. A
incorporação oral pode representar
simbolicamente diversas coisas: o amor, a
destruição, a conservação no interior do Eu
e a apropriação das qualidades do objeto
amado etc. Por exemplo, alimentar seu filho,
para a mãe, é muito mais que uma tarefa
fisiológica, tem valor emocional especial,
podendo exprimir afeto, aplacamento de
sentimentos de culpa ou tentativa de “dar
amor” que, às vezes, ela se sente incapaz de
dar de outra forma.

(TROUVÉ, 1976 apud DALGALARRONDO,


2008, p. 339)

O desenvolvimento dos transtornos alimentares é


fortemente influenciado por fatores socioculturais, em
detrimento dos fatores biológicos e psicológicos, como em outros
transtornos psicológicos (BARLOW; DURAND, 2015). São o

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principal componente cultural a valorização da magreza e o
ideário do corpo magro (APA, 2014), frequentemente atrelados a
realização pessoal e sucesso. Mas isso não significa que
determinantes genéticos deixam de compor a etiologia dos
transtornos alimentares.


Acesse o link abaixo e veja:

O Mínimo para Viver

https://youtu.be/aXS2taIXXQA

Bulimia nervosa

A característica essencial da bulimia nervosa é a ingestão de


grande quantidade de alimentos – evento denominado de
compulsão alimentar – geralmente ricos em carboidratos e
açúcares (BARLOW; DURAND, 2015). A quantidade e os tipos de
alimentos podem variar, contudo esta é quantidade
significativamente maior que a consumida no demais contextos e
situações vivenciadas pelo sujeito.

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Um episódio de compulsão alimentar tem
duração limitada e é também marcado pela
sensação de falta de controle e incapacidade
de parar de comer. Indivíduos com Bulimia
Nervosa geralmente experimentam
sentimentos de vergonha e culpa, e tendem a
manter sua condição em segredo e ocultar a
ocorrência dos episódios de compulsão
alimentar (APA, 2014).

Critérios para Bulimia Nervosa

A. Episódios recorrentes de compulsão


alimentar. Um episódio de compulsão
alimentar é caracterizado pelos seguintes
aspectos:

1. Ingestão, em um período de tempo


determinado (p. ex., dentro de cada período de
duas horas), de uma quantidade de alimento
definitivamente maior do que a maioria dos
indivíduos consumiria no mesmo período sob
circunstâncias semelhantes.

2. Sensação de falta de controle sobre a


ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento
de não conseguir parar de comer ou controlar
o que e o quanto se está ingerindo).

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B. Comportamentos compensatórios
inapropriados recorrentes a fim de impedir o
ganho de peso, como vômitos autoinduzidos;
uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros
medicamentos; jejum; ou exercício em excesso.

C. A compulsão alimentar e os
comportamentos compensatórios
inapropriados ocorrem, em média, no mínimo
uma vez por semana durante três meses.

D. A autoavaliação é indevidamente
influenciada pela forma e pelo peso corporais.

E. A perturbação não ocorre exclusivamente


durante episódios de anorexia nervosa.

(APA, 2014, p. 345)

Outra característica fundamental da bulimia nervosa é que,


para minimizar o ganho de peso, ocorre a tentativa de compensar
a ingestão calórica com técnicas de purgação. Para tanto, o sujeito
pode fazer uso de vômito autoinduzido, laxantes, enemas,
diuréticos, jejuns ou exercícios excessivos.

As perturbações no padrão de ingestão de alimentos estão


fortemente relacionadas à excessiva influência da percepção da
configuração corporal na autoavaliação do sujeito. Vale ressaltar
que a bulimia nervosa ocorre predominantemente em mulheres,
como as primeiras manifestações durante a adolescência ou início
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da vida adulta (APA, 2014). Estas características evidenciam a
importante influência de fatores sociais e culturais na etiologia do
transtorno.

Figura 1 – Pessoas com bulimia nervosa vivenciam perturbação na avaliação do peso


e forma corporal.

Fonte: Shutterstock. Foto: Tatyana Dzemileva.

Pessoas com bulimia nervosa desenvolvem uma série de


complicações de saúde. As mulheres frequentemente
desenvolvem irregularidade menstrual ou amenorreia (APA,
2014). Os vômitos autoinduzidos recorrentes podem causar
desgastes nos esmaltes dos dentes, pela ação dos ácidos
estomacais; além do desequilíbrio eletrolítico, a alteração dos
níveis de sódio e potássio no corpo e calos nos dedos e dorso das
mãos, pela fricção com os dentes e garganta durante a indução de
vômito (BARLOW; DURAND, 2015). As alterações gastrointestinais
incluem lesões no esôfago, ruptura gástricas e a dependência para

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o trânsito intestinal e lesões no cólon, causada pelo uso intenso
de laxantes pode ocasionar (APA, 2014).

Anorexia nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada pela perda drástica de


peso, que pode colocar a vida de pessoas com bulimia em risco.
Assim como ocorre na bulimia nervosa, pessoas com anorexia
nervosa vivenciam uma perturbação na avaliação da autoimagem
e peso corporal, mas a diferença é que estas são bem-sucedidas
na tentativa de perder peso (BARLOW; DURAND, 2015).

Apesar da perda de peso ser uma característica relevante no


transtorno, esta não é sua característica essencial. A perda de
peso ocorre como consequência da restrição na ingestão de
calorias, que é, por sua vez, efeito da perturbação da avaliação da
autoimagem e peso corporal. Veja os critérios para anorexia
nervosa abaixo.

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Critérios para Anorexia Nervosa

A. Restrição da ingesta calórica em relação às


necessidades, levando a um peso corporal
significativamente baixo no contexto de idade,
gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde
física. Peso significativamente baixo é definido


como um peso inferior ao peso mínimo normal
ou, no caso de crianças e adolescentes, menor
do que o minimamente esperado.

B. Medo intenso de ganhar peso ou de


engordar, ou comportamento persistente que
interfere no ganho de peso, mesmo estando
com peso significativamente baixo.

C. Perturbação no modo como o próprio peso


ou a forma corporal são vivenciados,
influência indevida do peso ou da forma
corporal na autoavaliação ou ausência
persistente de reconhecimento da gravidade
do baixo peso corporal atual.

(APA, 2014, p. 338-339)

Como forma objetiva de avaliar a condição de peso


significativamente baixo utiliza o Índice de Massa Corporal (IMC),
para calcular a relação entre peso e altura do indivíduo. O IMC
esperado para adultos varia de 18,50 kg/m2 e 24,99 kg/m2,
considerada a faixa de peso normal. Índices inferiores a 18,50
kg/m2 são indicativos de magreza, sendo que um IMC abaixo de

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17,00 kg/m2 passa a ser considerado condição de magreza
moderada ou grave. Assim, pessoas com IMC 17,00 kg/m2
atendem a critério de “peso significativamente baixo” (APA,
2014).


Acesse o link abaixo e veja:

Transtornos alimentares crescem entre os


jovens

https://www.medicina.ufmg.br/transtorno
s-alimentares-crescem-entre-os-jovens/


Calcule seu IMC:

https://www.programasaudefacil.com.br/
calculadora-de-imc

Para exemplificar, uma pessoa como a modelo Ana Carolina


Reston, de 21 anos: 1,72 m, peso 40 quilos e IMC igual a 13,5

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kg/m2. Veja no box ao final desta secção um breve relato sobre a
condição da modelo e complicações decorrentes da anorexia
nervosa que culminaram em sua morte.

O cálculo do IMC é também utilizado como critério de


gravidade do transtorno. Os níveis de gravidade estabelecidos
pelo DSM-5 (APA, 2014) são apresentados abaixo.

Figura 2 – Critério de gravidade para anorexia nervosa.

Nível de gravidade IMC

Leve ≥ 17 kg/m2

Moderada 16-16,99 kg/m2

Grave 15-15,99 kg/m2

Extrema < 15 kg/m2

Fonte: Do autor.

Mesmo vivenciando perda de peso tão severa, pessoas com


anorexia têm grande dificuldade em reconhecer a gravidade de
seu estado físico. Estas pessoas se veem como gordas mesmo com
as constantes reduções de peso a aparência esquelética e,
algumas delas, têm a percepção distorcida de si focalizada em

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algumas regiões do corpo, como barriga, nádegas, pernas ou
braços (BARLOW; DURAND, 2015).

Outra importante característica da anorexia nervosa é que


no curso deste transtorno também podem ocorrer episódios de
compulsão alimentar e purgação. Estes casos devem ser
especificados como anorexia nervosa do tipo compulsão
alimentar purgativa. Indivíduos com este tipo de transtorno
apresentam predominantemente o comportamento de restrição
de ingestão calórica e, adicionalmente, purgam os alimentos
ingeridos e, eventualmente, envolvem-se em episódios de
compulsão alimentar (APA, 2014).

Indivíduos que obtém a redução de peso apenas com a


restrição de ingestão de calorias por meio de jejum e
compensação com exercícios físicos excessivos recebem o
especificador tipo restritivo. A avaliação dos subtipos do
transtorno deve ser realizada periodicamente, pois é comum que
pessoas com anorexia sofrem alternância recorrente entre os dois
tipos (APA, 2014).

A anorexia nervosa pode levar as pessoas que sofrem com o


transtorno a desenvolver graves complicações de saúde e até
mesmo a morte por inanição. Estima-se que a taxa de mortalidade
da anorexia seja de 4,4% a 5% e ocorrem como consequência das

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complicações do transtorno ou por suicídio (WHITEBOURNE;
HALGIN, 2015; APA, 2014).

Os agravos similares aos que ocorrem na bulimia nervosa


são frequentemente observados em pessoas com anorexia
nervosa do tipo compulsão alimentar purgativa, como
desequilíbrio eletrolítico e problemas cardíacos e renais
(BARLOW; DURAND, 2015). Além disso, os cabelos e unhas podem
tornar-se quebradiços, a pele seca, a pressão artéria e
temperatura corporal baixa (WHITEBOURNE; HALGIN, 2015;
BARLOW; DURAND, 2015). São frequentes também a amenorreia,
perda da densidade óssea, e, em casos graves, a alteração de
humor, isolamento social, anedomia e redução da libido (APA,
2014).

Acesse o link abaixo e veja:

Modelo de 21 anos morre vítima de


anorexia em São Paulo

https://g1.globo.com/Noticias/SaoPa
ulo/0,,AA1350931-5605,00.html

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Lorraine é estudante universitária do
primeiro ano e tem 18 anos. Desde que
mudou-se da casa para a faculdade, tem
perdido peso regularmente. A princípio,
queria perder alguns quilos, acreditando
que isso a faria parecer mais sexy. Ela parou
de comer no refeitório porque serviam
alimentos com muito amido, preferindo,
Na prática

em vez disso, preparar suas próprias


refeições de baixa caloria. Em 2 meses,
tornou-se obcecada por dietas e exercícios,
bem como pelo medo de que pudesse estar
ganhando peso e ficando gorda. Ela parou
de menstruar, e seu peso caiu de 49 para 36
kg. Independentemente das repetidas
expressões de preocupação de seus amigos
por ela parecer cadavérica, Lorraine insistia
que estava gorda. Quando foi para casa
para o dia de Ação de Graças, seus pais
ficaram tão alarmados que insistiram que
ela procurasse ajuda profissional
(WHITEBOURNE; HALGIN, 2015, p. 239).

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Você seria capaz de dizer qual o
diagnóstico de Lorraine? Por que você
pensou neste transtorno? Quais sintomas
você conseguiu identificar no caso de
Lorraine? Ela passou a se preocupar cada
vez mais com a quantidade de calorias
ingeridas, chegando a realizar rígido
controle e restrição dos alimentos ingeridos
e realizar exercícios físicos compensatórios.
Lorraine tem medo de engordar, acredita
que um corpo magro a tornará mais sexy e
não reconhece sua atual condição de
extrema magreza. Assim, o diagnóstico
mais adequado é de anorexia nervosa, tipo
restritivo.

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Conclusão

Chegamos ao final da aula e este é o momento de


recapitularmos tudo que você estudou até agora. Pare por alguns
minutos e pense sobre o que você considerou como as principais
características dos transtornos estudados.

Nesta aula você aprendeu sobre o conjunto de transtornos


de alimentares, discutimos detalhadamente sobe a bulimia
nervosa e anorexia nervosa. Estes transtornos possuem como
principal característica a perturbação no comportamento
alimentar e na autoimagem e avaliação do peso e forma corporal.
Você deve atentar-se para os critérios que possibilitam a distinção
entre os transtornos, como o padrão de ingestão de alimentos, o
peso dos indivíduos e a presença de compulsão alimentar e
purgação de alimentos.

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Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual


diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5.
5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BARLOW, David. H.; DURAND, V. M. Psicopatologia: Uma


abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning Brasil,
2015. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885
22124992/. Acesso em: 09 fev. 2022.

WHITEBOURNE, Susan. K.; HALGIN, Richard. P.


Psicopatologia: perspectivas clínicas dos transtornos
psicológicos. Porto Alegre: AMGH, 2015. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885
80554878/. Acesso em: 22 dez. 2021.

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