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PALAVRAS-CHAVE
Transtornos alimentares, comer transtornado, comportamento de risco, paternal, criança, adolescente.
ABSTRACT
Objectives: To assess whether parental modeling, regarding the practice and/or encouragement of
diets, can predict risk behaviors related to eating disorders (EDs) in children and adolescents. Methods:
A systematic review of studies published until June 2022, available in indexed databases – such as Pub-
Med, Virtual Health Library, SciELO and Cochrane Library, was carried out. Cross-sectional and longitu-
dinal studies in Portuguese, Spanish and English were included and assessed for risk of bias according
to the NewCastle – Ottawa Quality Assessment Scale. Results: Fourteen studies were considered in
the review. Most of them are cross-sectional (71.4%), coming from the United States and European
countries (57.1%), in addition to presenting a low risk of bias (85.7%). Most of the studies found associa-
tions between parental encouragement of diets (direct modeling) and risk behaviors in children and
adolescents, such as the use of weight control methods, body dissatisfaction and food restriction. Few
studies have related the father’s habit of dieting (indirect modeling) with these behaviors. Conclu-
sions: Data support the idea that direct modeling, that is, verbal encouragement to use diets, can be
very harmful, especially to individuals who are excessively concerned about weight and food. Future
research is needed to assess the impact of parental eating practices and the development of possible
actions to prevent weight-related problems.
KEYWORDS
Eating disorders, disordered eating, risk behavior, paternal, child, adolescent.
• língua estrangeira (n = 37) aos TAs, os instrumentos utilizados foram: Eating Attitudes
Artigos selecionados
Test (EAT)23; Eating Disorder Inventory (EDI) e subescalas24;
(n = 26) Artigos excluídos (n = 12): Dutch Eating Behavior Questionnaire (DEBQ)26; Child Eating
• desfecho errado (n = 7)
• população errada (n = 5)
Disorder Examination Questionnaire (ChEDE-Q)28; e subesca-
las de Weight Concern e Shape Concern, do Eating Disorder
Examination Questionnaire (EDEQ-WS)35. Alguns trabalhos,
como medidas de risco, lançaram mão de métodos de
controle de peso22,25,27,30,34. Um deles abordou a insatisfação
INCLUÍDOS
Estudos incluídos na revisão corporal32, e aqueles que analisaram crianças fizeram uso de
(n = 14)
questionários específicos para avaliação de práticas paren-
tais de alimentação, como a pressão imposta sobre a comida
e as dificuldades alimentares31,33.
Figura 1. Fluxograma PRISMA dos artigos incluídos e excluídos.
Amostra
Tipo de estudo/
Autor, ano e país Objetivos (número, população, Risco de viés Resultados principais
Instrumentos
idade)
Balantekin et al. Avaliar se relatos dos pais de 165 meninas Baixo Longitudinal Meninas que foram incentivadas a
(2014)30 incentivo à prática de dietas adolescentes de 9 a 15 PECWL (pais), uso de fazer dieta aos 9 anos pelos pais
(EUA) predizem o início de dietas na anos dietas (meninas) tiveram duas vezes mais chances de
infância e adolescência. 165 pais fazer dietas.
O IMC das meninas aos 9 anos teve
correlação positiva com maior
incentivo paterno à dieta.
Vollmer et al. Determinar a relação entre as 150 crianças (M = 49,1 Baixo Transversal A restrição paterna foi
(2015)31 práticas alimentares paternas no meses, 55,3% meninas) CFQ, CEB (pais) significativamente associada com
(EUA) peso e comportamento alimentar. 150 pais aversão alimentar, comer emocional
e maior escore z do IMC. A pressão
paterna para comer foi
significativamente associada com a
evitação de alimentos,
responsividade à saciedade e
lentidão para comer, e significativa e
inversamente associada ao prazer
da comida.
Guimarães et al. Avaliar as práticas parentais de peso 136 meninas Baixo Transversal O incentivo dos pais a fazerem
(2020)32 e alimentação e sua relação com a adolescentes Questionário de dietas foi considerado um fator de
(Brasil) insatisfação da imagem corporal em (12 a 19 anos) percepção sobre risco significativo para a insatisfação
adolescentes. práticas parentais, que corporal.
investiga o incentivo a As escolhas alimentares saudáveis
fazer dietas e seu uso do pai têm influência como fator
pelos pais. protetor.
Phillippe et al. Avaliar as associações entre práticas 105 crianças (M = 3,9 Alto Transversal A restrição dos pais predisse
(2021)33 alimentares maternas e paternas no anos, 48,5% meninas) CFRS, CEDQ (pais) significativamente níveis mais altos
(França) comportamento alimentar dos filhos. 210 pais (50% pais) de alimentação na ausência de fome
na criança.
Maior pressão paterna para comer
predisse significativamente maior
neofobia alimentar infantil.
Dell’Osbel et al. Identificar possíveis associações 685 meninas Baixo Transversal O incentivo do pai ao uso de dietas
(2021)34 entre práticas parentais de controle adolescentes Questionário de esteve relacionado à frequência de
(Brasil) de peso e alimentação e práticas (M = 14 anos) percepção sobre pesagem, uso de dietas no último
para perda e controle de peso em práticas parentais, que ano e omissão de refeições para
meninas adolescentes. investiga o incentivo a controle ou perda de peso.
fazer dietas e seu uso
pelos pais. Questionário
de uso de métodos de
controle de peso.
Dahill et al. (2022) Verificar associações entre 2.204 adolescentes Baixo Transversal Os comentários dos pais sobre a
(Austrália)35 comentários negativos sobre (12-19 anos, 52,7% Questionário sobre alimentação estiveram associados
alimentação dos pais com cognições meninAas) comentários em relação com risco de TA em meninos e
dos TAs e saúde psicológica nos à alimentação (pais) meninas.
filhos e filhas. EDEQ-WS (adolescentes)
Transversal
Questionário sobre
comentários em relação
à alimentação (pais)
EDEQ-WS (adolescentes)
ChEDE-Q: Child Eating Disorder Examination Questionnaire; DBS: The Dieting Behavior Scale; DEBQ: Dutch Eating Behavior Questionnaire; CEB: Children’s Eating Behavior; CEDQ: Children’s Eating Difficulties
Questionnaire; CFRS: Children Food Rejection Scale; CFQ: Child Feeding Questionnaire; EAT: Eating Attitudes Test; EDEQ-WS: Weight Concern and Shape Concern subscales of the Eating Disorder Examination
Questionnaire; EDI: Eating Disorders Inventory; EDI-BD: Eating Disorders Inventory-Body Dissatisfaction; EDI-DT: Eating Disorders Inventory – Drive for Thinness; EDI-Bulimia: Eating Disorders Inventory –
Bulimia; IPPA-short version: Inventory of Parent and Peer Attachment; PECWL: Parent Encouragement of Child Weight Loss Scale; PIPAF: Perceived Importance of Physical Appearance in Females Scale.
Prática de dietas pela figura paterna Quanto às diferenças de impacto da figura paterna, as
poucas investigações da relação pai-meninos adolescentes
Considerando-se a modelagem indireta dos pais quanto ao vincularam o desejo de perder peso23 ao uso de métodos de
próprio hábito de fazer dietas, poucos estudos investigaram controle de peso29, como em Blisset et al.38. Para os autores, a
o comportamento em relação à perda de peso das filhas22 e insatisfação corporal dos pais se relacionou mais intensamen-
dos filhos23, e a maior propensão a pular refeições22. Em al- te com as práticas alimentares disfuncionais dos filhos do que
guns artigos, não foram encontradas associações com com- com as das filhas. Isso sugere que a transmissão das preocu-
portamentos de risco23,24,26, e em um deles se observou que pações alimentares pode ser mais significativa na relação
as escolhas saudáveis dos pais podem ser consideradas um pai-filho.
fator protetor contra a insatisfação corporal32. Nielsen39 discute possíveis explicações de como a mo-
delagem direta da figura paterna pode aumentar o risco de
desenvolvimento de TAs pelas filhas, conforme a maioria dos
Incentivo a dietas por parte da figura paterna estudos desta revisão24,25,27,29,30,32,34,35. A insatisfação do pai com
o corpo da filha pode se traduzir no discurso que incentiva
A maioria dos estudos conseguiu estabelecer associações a aderência a dietas para emagrecer. Assim, as filhas, em res-
entre o incentivo paterno a dietas e alguns comportamentos posta à rejeição, à crítica ou à sensação de desapontamento
de risco em adolescentes. Entre esses riscos, é possível citar: do pai, recorrem à perda de peso, a fim de, dessa forma, ga-
uso de métodos de controle de peso não saudáveis25,27,29; de- nhar a atenção dele. Algumas meninas, inclusive, reagem a
sejo de perder peso23; aumento na frequência de pesagem34; isso e tentam interromper o processo de maturação sexual,
maiores scores de sintomatologia alimentar24,35; aderência a mantendo sua imagem de criança, na crença de que o pai
dietas30,34; hábito de pular refeições34; e insatisfação corpo- não aprovaria seu crescimento. No entanto, Nielsen39 reforça
ral32. Algumas das pesquisas destacaram, ainda, a pressão a necessidade de mais estudos sobre os significados e pro-
para comer e um monitoramento paterno feito a partir de cessos mentais envolvidos na percepção das filhas em rela-
comportamentos não saudáveis, como o controle excessivo ção às atitudes dos pais quanto à sintomatologia alimentar.
de peso29 e a redução de excessos alimentares28 em meninos Em outro estudo, Blisset e Haycraft40 afirmam que os pais
– com maior intensidade, se comparados às meninas. com sintomas de TA tendem a pressionar seus filhos crianças
Nos estudos realizados com crianças, a restrição alimen- a comerem. Mais recentemente, Lydecker et al.41 observaram
tar e a pressão para comer, impostas pelos pais, também ti- que os pais tiveram uma preocupação similar ou maior que
veram associação significativa com alguns comportamentos as mães com o peso dos filhos. Segundo essa pesquisa, ape-
de risco em crianças, como a neofobia alimentar, a alimenta- sar de os pais com sintomas de TAs relatarem ter uma maior
ção com ausência de fome, o comer emocional, a responsivi- responsabilidade com a alimentação e o peso dos filhos, não
dade à saciedade e a redução do prazer em comer31,33. foram observadas, nas crianças, diferenças significativas em
relação à restrição e à pressão para comer, assim como no
peso, se comparadas às crianças cujos pais não têm sinto-
DISCUSSÃO matologia alimentar.
Vale ressaltar que o estímulo à feitura de dietas normal-
A revisão mostrou que a modelagem direta da figura paterna mente não é expresso somente pelas palavras, mas também
no incentivo a dietas teve associação com comportamentos por ações e atitudes dos pais, como controle, monitora-
de risco relacionados aos TAs. Já em relação à modelagem mento, restrições no momento da refeição etc. Os poucos
indireta – o próprio pai fazendo dieta –, não foram observa- estudos realizados com crianças31,33 que foram inclusos nesta
das associações significantes. revisão demonstram o quanto estilos parentais de restrição
Segundo a base teórica dos estilos parentais, de Costanzo da alimentação podem gerar, já na primeira infância, aver-
e Woody36, muitos pais que incentivam a aderência a die- sões alimentares, comer emocional, alterações no peso e nas
tas em resposta à inquietude com o peso e os descontroles percepções dos sinais internos, entre outros. Os comporta-
alimentares dos filhos também o fazem por causa da preo- mentos observados nesses estudos com crianças também
cupação com o seu próprio peso. Esse incentivo pode ter são comumente constatados em pacientes com TAs42.
consequências a longo prazo, como observado no estudo Não obstante os achados da presente revisão indiquem
longitudinal de Berge et al.37, em que adolescentes apresen- uma associação entre a modelagem direta e os comporta-
taram maior risco de sobrepeso/obesidade, restrição e com- mentos de risco, tal vínculo não pode ser considerado cau-
pulsão alimentares e uso de métodos de controle de peso sal. A família pode desempenhar um papel na origem e na
15 anos depois. Os autores também constataram que o in- manutenção de um TA, mas não deve ser considerada a
centivo dos pais costuma ser transmitido para as gerações única envolvida no desenvolvimento desses quadros nem
seguintes. culpabilizada por isso43.
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