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INTRODUÇÃO
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007) uma das fases do ciclo da
vida mais afetada por tais transtornos é a adolescência. Este público se torna ainda mais
vulnerável devido às transformações acarretadas pela puberdade, início da autonomia
alimentar e a necessidade de pertencer a grupos sociais, a soma desses precedentes gera,
portanto, uma maior suscetibilidade a padrões alimentares não saudáveis e desenvolvimento
dos transtornos alimentares, incluindo o transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP).
A TCAP é definida como: uma grande ingestão alimentar, seguida da sensação de
descontrole, mesmo quando não se tem apetite, com objetivo de sentir um prazer como forma
de escape ou alcance da sensação de plenitude.
A fim de um olhar crítico aprofundado sobre esses fatores, este estudo tem por
objetivo verificar a relação dos fatores familiares e socioculturais na ocorrência do TCAP.
METODOLOGIA
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Esse estudo foi feito por meio de revisão de literatura integrativa, ou seja, um
método de pesquisa que gera uma análise a partir dos dados anteriores sobre um
determinado tema. A mesma possibilita a inclusão de estudos experimentais e não
experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado, permitindo novos
conhecimentos pautados nos resultados apresentados por estudos independentes sobre o
mesmo assunto. Pontua-se, então, que o impacto da utilização da revisão integrativa se dá
não somente pelo desenvolvimento de políticas, protocolos e procedimentos, mas também
no pensamento crítico que a prática diária necessita. (SOUZA et al., 2010.)
A partir dos dados coletados, realizamos uma análise dos estudos com o público-alvo
da faixa etária de 12 a 18 anos, tendo como principal intuito verificar a influência da cultura
alimentar familiar no desenvolvimento da compulsão alimentar periódica.
Os critérios de exclusão foram: a) artigos que não estavam disponíveis para leitura
gratuita, b) doenças não relacionadas com os transtornos alimentares (TAs), c) idosos e
gestantes, d) idades entre 0 a 10 anos e de 30 anos ou mais, e) que apresentavam fuga
completa do tema proposto para o presente trabalho.
RESULTADOS
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- Fatores Familiares
Em um estudo realizado por (HAINES et al., 2016) foram analisados 6382 indivíduos
entre 14-24 anos, dos quais 41% eram homens e 59% eram mulheres. Os dados analisados
apresentaram uma correlação entre um bom convívio familiar e comportamento alimentar,
mostrando uma maior prevalência para desordens alimentares para aqueles que viviam em um
ambiente familiar sem um bom convívio.
No estudo de (HANSON, 2017) foi encontrado associações entre pais que têm
transtorno alimentar diagnosticado anteriormente, desregulação emocional e frequência de
refeições compartilhadas, com a probabilidade de os filhos também desenvolverem alguma
desregulação emocional (DE). Foi utilizado um método indicativo de transtorno alimentar, o
SCOFF, onde apenas um “sim” em alguns casos pode indicar um transtorno alimentar. Cerca
de 13,1% dos meninos e 35,2% das meninas relataram 1 ou mais respostas “sim” no SCOFF
associadas com DE de seus pais.
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Os resultados desses estudos são de grande importância, uma vez que, o ambiente e o
comportamento familiar podem influenciar positiva ou negativamente no desencadeamento de
comportamentos compensatórios, nos quais está inserido o TCAP, estando relacionados a
carências, inseguranças e abalos emocionais nos adolescentes. (ROLIM, 2021)
Embora a causa exata do TCAP ainda não seja totalmente compreendida, existem
evidências de que fatores sociais desempenham um papel importante no desenvolvimento e na
manutenção desse transtorno.
- Fatores Sociais
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É importante destacar que os fatores sociais não são a única causa da compulsão
alimentar periódica. Esse distúrbio alimentar é multifatorial também pode envolver fatores
culturais, como questões relacionadas a etnia e gênero.
- Fatores Culturais
O TCAP afeta pessoas de diferentes etnias e gêneros, mas sua prevalência varia de
acordo com esses fatores. Segundo um estudo realizado nos Estados Unidos, a porcentagem
de pessoas que sofrem de TCAP é de 1,6% para brancos, 2,6% para negros, 3,5% para
hispânicos e 2,1% para asiáticos. Em relação ao gênero, o TCAP é mais comum entre as
mulheres do que entre os homens, sendo que 3,5% das mulheres e 2% dos homens
apresentam o transtorno (JAMES I. HUDSON et al., 2007). Esses dados indicam que o TCAP
é um problema de saúde pública que afeta diversos grupos populacionais e que requer atenção
e tratamento adequados.
Segundo (UDO E GRILO, 2018) a internalização dos ideais estéticos dominantes, que
leva as pessoas a adotarem padrões irreais e rígidos de beleza como metas pessoais, aumenta a
vulnerabilidade para o desenvolvimento de comportamentos alimentares desadaptativos.
Esses fatores culturais podem interagir com outros aspectos biológicos, psicológicos e
ambientais, criando um contexto propício para o surgimento e a perpetuação do TCAP
(FAIRBURN E HARRISON, 2003). Por isso, é fundamental que as intervenções para
prevenir e tratar esse transtorno considerem a influência da cultura na construção da
identidade, da autoestima e da relação com o corpo e a comida dos indivíduos.
DISCUSSÃO
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A partir dos resultados observados nesse estudo, foram identificados três possíveis
influenciadores etiológicos relacionados ao transtorno da compulsão alimentar periódica
(TCAP): fatores familiares, fatores sociais e fatores culturais.
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SZTAINER, et al., 2011) é durante a adolescência que os hábitos alimentares se tornam mais
autônomos e independentes. Porém a autonomia alimentar aumenta a probabilidade do
desenvolvimento de comportamentos alimentares inadequados. (BITTAR E SOARES, 2020).
De acordo com um estudo que buscou correlacionar os TAs com as mídias sociais foi
observado que adolescentes com problemas de baixa autoestima tinham maior probabilidade
de insatisfação corporal associada a transtornos alimentares (BUTTON, SONUGA-BARKE,
DAVIES, E THOMPSON, 1996; FRENCH, STORY, NEUMARK-SZTAINER,
FULKERSON, E HANNAN, 2001). A literatura evidencia o impacto corporal
negativo cultivado pelo padrão de beleza ideal nas mídias sociais se tornando um forte
propulsor de comparações e inseguranças, esses impactos negativos influenciam diretamente
nas condutas dos nutricionistas que visam serem promotores de saúde ao invés de
catalisadores da doença.
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Embora esta revisão tenha proposto uma análise da literatura, encontramos algumas
limitações relacionadas ao tema. Um fator restritivo ao aprofundamento e dimensionamento
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CONCLUSÃO
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