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A importância da Educação Nutricional em crianças portadoras

de TEA: uma revisão de literatura.

The importance of Nutrition Education in children with ASD:


a literature review.

Carla Regina Rossi ¹


Daniela Nazaré Cotrim²

Resumo: A Seletividade Alimentar da criança e do adolescente autista, está relacionada a diversos fatores
biológicos como a inabilidade na mastigação ou deglutição, problemas no Trato gastrointestinal (TGI) e
disfunção sensorial, porém desconsidera-se a relação que esses indivíduos estabelecem com o alimento, a escala
de gravidade e as formas como sua famílias enfrentam as dificuldades no momento das refeições.Objetivo:
Conduzir uma revisão na literatura focando as intervenções nutricionais com crianças e adolescentes que
apresentam o transtorno do espectro autista e os dispositivos metodológicos utilizados para as mudanças
comportamentais.Metodologia: Buscas nas bases de dados Literatura Latina Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), Public Medical (PubMed) e Scientific Electronic Library Online (SciELO),
utilizando-se os unitermos, “Nutrição e Transtorno do Espectro Autista”, “ Seletividade Alimentar e o
Transtorno do Espectro Autista”, “Educação Nutricional e o Transtorno do Espectro Autista”, “Modelo
Transteórico e Alimentação”. Conclusão: Programas de Educação Nutricional voltados às crianças e
adolescentes com TEA, e seus familiares, podem promover bons resultados na redução da seletividade
alimentar, porém ainda há lacunas em abordagens considerando novos métodos, como o Modelo Transteórico
de Mudanças.

Palavras-chave: Nutrição e Transtorno do Espectro Autista; Seletividade Alimentar e o Transtorno do


Espectro Autista, Educação Nutricional e o Transtorno do Espectro Autista, Modelo Transteórico e
Alimentação.

Abstract: Food Selectivity in autistic children and adolescents is related to several biological factors such as
inability to chew or swallow, problems in the gastrointestinal tract (GIT) and sensory dysfunction, but the
relationship that these individuals establish with food is disregarded. , the severity scale and the ways in which
their families face difficulties at mealtimes. Objective: To conduct a review of the literature focusing on
nutritional interventions with children and adolescents who have autism spectrum disorder and the
methodological devices used for behavioral changes
.Methodology: Searches in the databases Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences
(LILACS), Public Medical (PubMed) and Scientific Electronic Library Online (SciELO), using the keywords,
“Nutrition and Autism Spectrum Disorder” , “Food Selectivity and Autism Spectrum Disorder”, “Nutritional
Education and Autism Spectrum Disorder”, “Transtheoretical Model and Food”. Conclusion: Nutritional
Education Programs aimed at children and adolescents with ASD, and their

1Graduanda em Nutrição na Universidade de Mogi das Cruzes – UMC. Av. Dr. Cândido X. de Almeida e Souza, 200
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Cívico, Mogi das Cruzes – SP. E-mail: carlotarrossi@gmail.com
2Docente em Nutrição na Universidade de Mogi das Cruzes – UMC. E-mail: danielacotrim@umc.br
families, can promote good results in reducing food selectivity, but there are still gaps in approaches
considering new methods, such as the Transtheoretical Model of Change.

Keywords: Nutrition and Autism Spectrum Disorder; Food Selectivity and Autism Spectrum Disorder,
Nutritional Education and Autism Spectrum Disorder, Transtheoretical Model and Food.

Introdução
A prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem aumentando na última
década, as estimativas são de 1/54 nos Estados Unidos, sendo mais frequentemente em
crianças do sexo masculino (SULKES, 2022). A OMS estima que uma a cada 160
crianças apresentam o TEA (OMS). Segundo o Ministério da Saúde, os dados do Sistema de
Informações Ambulatoriais (SIA), de 2021, demonstram que foram realizados 9,6 milhões de
atendimentos ambulatoriais a pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões referentes ao público
infantil com até 9 anos de idade (BRASIL, 2022).
O Transtorno do Espectro Autista é um distúrbio das funções do
neurodesenvolvimento que comprometem a comunicação, linguagem e comportamento
social, como restrição de interesses e ações repetitivas. Podem ser identificados como de grau
de leve e total independência até níveis de total dependência para as atividades cotidianas
(BRASIL, 2022).
Dentre os distúrbios comportamentais podemos citar a reação exagerada ou falta de
reação a estímulos sensoriais, como aversão extrema a cheiros, aromas e texturas (SULKES,
2022). Assim, caracterizando a seletividade alimentar, que segundo a Sociedade Brasileira
de Pediatria, pode ocasionar carências nutricionais e desnutrição energético-proteica. Com
padrão de alto consumo de alimentos processados, preferências por doces, baixo consumo de
frutas, hortaliças e variedades de alimentos, observa-se que grande parte das crianças e
adolescentes com TEA, apresentam sobrepeso e obesidade, além da dificuldade em aceitar
novos alimentos na dieta. (SBP, 2022).
A recusa alimentar geralmente é comum e frequente na população pediátrica, porém
com maior prevalência entre as crianças e adolescentes portadores do TEA.

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Embora a definição de Seletividade Alimentar relaciona-se a escolhas limitadas de alimentos,
a causa dessa seletividade no TEA ainda é desconhecida. Estudos apontam que a percepção
sensorial alterada pode contribuir para a hipersensibilidade a texturas dos alimentos, no
entanto faz-se necessário o acompanhamento de famílias de crianças e adolescentes com
TEA, para conhecer seus hábitos alimentares e prevenir futuros problemas de saúde
(OLIVEIRA & FRUTUOSO,2021).
A Seletividade alimentar no TEA pode ser classificada em leve, moderada e grave,
essas escalas são determinadas com base na diversidade e qualidade dos alimentos
consumidos (GRAY, 2022).
Para FISBERG, entender os problemas sensoriais pode colaborar para desenvolver
estratégias para criar novos hábitos e rotinas alimentares, dessa forma é importante considerar
o papel da Nutrição no cuidado com indivíduos com TEA, para uma abordagem nutricional
equilibrada e que considere a conveniência e o prazer de comer, sendo eficaz a longo prazo
(FISBERG , 2023).
Outro aspecto importante a observar, são os hábitos alimentares dos pais e práticas
não recomendadas na hora das refeições, considerando que as crianças e adolescentes com
TEA não têm conhecimento nutricional para decidirem sobre suas escolhas alimentares
(OLIVEIRA & FRUTUOSO,2021).
Sharp sugere que programas de Educação Nutricional Parental em crianças com TEA,
possam trazer potenciais benefícios na diversidade alimentar, promovendo uma dieta
equilibrada e reduzindo os riscos de deficiências nutricionais (SHARP, 2020).
É de grande relevância incluir a família no processo de Educação Nutricional, nesse
contexto de estratégia em família, pode-se alcançar resultados satisfatórios. Por meio do
brincar a criança interage com o mundo, ainda no brincar em grupo, pode iniciar um processo
de socialização, desenvolvimento, manutenção e recuperação da saúde (OLIVEIRA, 2018).
Considerando as diversas abordagens para mudanças de comportamento e

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ainda que existam diversas teorias para auxiliar nessas mudanças, baseadas nas mesmas
idéias gerais, cada teoria abrange um aspecto único. O conjunto dessas teorias que facilitam o
entendimento de um problema específico em um contexto particular, origina os modelos
teóricos, destacando-se atualmente o Modelo Transteórico, que busca entender as fases de
mudanças comportamentais (LIMA, 2019).
O intuito do presente estudo é, através da revisão bibliográfica, avaliar como um
programa de Educação Nutricional e as diversas abordagens terapêuticas, podem contribuir
com pais e cuidadores de crianças com TEA a superarem ou minimizarem a seletividade
alimentar apresentada nesses pacientes.

Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada por meio de busca nas
bases de dados Literatura Latina Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Public Medical (PubMed) e Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Foram utilizadas as seguintes palavras-chave de maneira combinada: “Nutrição e Transtorno
do Espectro Autista” , “Seletividade Alimentar e o Transtorno do Espectro Autista”,
“Educação Nutricional e Transtorno do Espectro Autista” e “Modelo Transteórico e
Alimentação”. Para uma seleção mais efetiva, durante busca nas plataformas, foram utilizados
determinados filtros. Na plataforma SciELO foram utilizados os seguintes filtros: ano de
publicação (últimos 5 anos), coleção (Brasil), tipo de literatura: (artigo) e idioma (português),
já na plataforma LILACS foram utilizados os filtros: ano de Publicação (últimos cinco anos),
tipo de texto (texto completo). Na plataforma PubMed não houve a necessidade de aplicação
de filtros, pois já foi utilizado o buscador avançado.
Como critérios de inclusão foram utilizados artigos que estivessem disponíveis na
íntegra, publicados no período de janeiro de 2019 a junho de 2023, estudos feitos com
crianças e adolescentes que apresentam transtorno do espectro autista, em diversos países e
que contemplassem os objetivos da pesquisa. Foram excluídos artigos de revisão de literatura
ou de revisão sistemática com ou sem meta-análise, assim como materiais oriundos de
diretrizes.

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Resultados
A busca em todas as bases de dados resultou no total de 37 estudos. Na triagem
inicial foram excluídos 26 artigos. Destes, 14 encontravam-se fora do tema, 9 eram
duplicados e 3 estudos tratavam-se de revisão de literatura. O processo de seleção de estudos
está descrito no fluxograma (figura 1). A descrição dos onze estudos presentes nesta revisão,
encontra-se na tabela (quadro 1).

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Quadro 1. Descrição dos estudos incluídos na revisão.

Autor/Ano Tipo de Objetivo/Intervenção População Principais achados


estudo

Ismail et transversal Explorar o conhecimento nutricional Pais de alunos que Entende-se que a exploração de novos
al.,2020 qualitativo de pais e educadores especiais de frequentam o Centro alimentos por meio de brincadeiras com
crianças com TEA e como reflete na Nacional de Autismo amigos, passeios a mercados com os pais e
prática alimentar através de uma (Malásia) por pelo menos ajudando no preparo das refeições, faz com que
abordagem qualitativa. Os candidatos 6 meses, e educadores as crianças com TEA se familiarizem com os
selecionados foram matriculados para especiais com no mínimo novos alimentos e lentamente possam ser
aulas de meio dia três vezes por um ano de experiência, introduzidos nas refeições.
semana. Foram realizadas oito séries com formação em A exposição repetida também pode
de entrevistas para os pais e quatro diversas áreas da saúde, auxiliar na sensação de controle da
séries para os educadores especiais. exceto em nutrição e/ou criança.
dietética.

Liu et al., análise Examinar a relação entre competência 51 crianças com TEA, de Observou-se que fatores ambientais como a
2019 descritiva motora, Índice de Massa 7 a 12 anos, onde 5 do dinâmica da família, conhecimento nutricional
Corporal(IMC) e conhecimento sexo feminino e 46 do dos pais, padrões de consumo entre pais e
nutricional em crianças com TEA. sexo masculino filhos, podem influenciar o comportamento
alimentar da criança com TEA.

Sharp et.al,, ensaio Avaliar a viabilidade e eficácia inicial 38 crianças entre 3 e 8 Trata-se de um estudo piloto de intervenção
2020 clínico de um programa estruturado de anos com diagnóstico de nutricional com pais e crianças com TEA,
randomiza treinamento parental para crianças TEA, sendo 32 meninos onde observou-se que um programa de
do com TEA e seletividade alimentar e 6 meninas, que treinamento com pais e cuidadores pode
moderada. Um ensaio randomizado de apresentavam resultar na melhora de comportamentos
16 semanas comparando aversões seletividade alimentar durante as refeições, assim como na
alimentares e moderada, e seus quantidade e qualidade de alimentos
Variedade limitada. Plano respectivos pais ou consumidos.
REFEIÇÃO (10 sessões básicas e 3 cuidadores.
sessões de reforço)

Gray et al, ensaio Avaliar a viabilidade e a eficácia 48 díades Foram avaliados duas metodologias de
2022 clínico preliminar da intervenção de educação (pais-crianças) de um Educação Nutricional para crianças com TEA
piloto nutricional para crianças com TEA e Programa de e seus pais.Uma com cuidados específicos
randomiza seus pais.Os participantes foram Intervenções Precoces na para criança com TEA e outro baseado no
do divididos em dois grupos onde um foi Flórida. programa nutricional da localidade. Três
controlado submetidos a intervenções nutricionais parâmetros foram usados para comparar os
presenciais, em 10 sessões semanais métodos:Ingestão alimentar, comportamento
de 25 minutos e outro grupo teve aula da hora das refeições,e prática de alimentação
única de nutrição e semanalmente infantil. e avaliados em três momentos
receberam folhetos informativos de específicos, sendo avaliação inicial, pós
acordo com o programa nutricional da intervenção e acompanhamento após 5 meses ,
localidade. Ambos os grupos examinando a dieta cotidiana dos
interagiam em grupo privado no participantes.Nota-se que o programa pode
facebook, no período de atingir bons resultados se acompanhado por
acompanhamento de 5 meses. longo período e colocando os participantes em
contato para troca de experiências.

Buro et al, ensaio Avaliar a viabilidade e a aceitabilidade Foram realizadas duas Observa-se uma abordagem diferenciada, em
2023 clínico não de intervenção de educação nutricional intervenções em ambiente virtual e com adolescentes, ambas
randomiza virtual. diferentes plataformas iniciaram em ambiente presencial e logo em
do virtuais, sendo na seguida passando apenas ao virtual. Envolveu
Microsoft Teams com 27 atividades sensoriais, degustação, preparação de
adolescentes de 12 a 21 alimentos, seleção e compras dos alimentos. Os
anos e na Zoom pais

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11 adolescentes entre recebiam informativos sobre as
15 e 18 anos. intervenções, assim puderam acompanhar e
entender as etapas das sessões. Tanto os
jovens como os pais tiveram boa
aceitabilidade nas intervenções.

Oliveira & pesquisa Descrever e analisar as relações que 17 crianças entre 3 e Nas oficinas realizadas, observa-se que no
Frutuoso,2 etnográfica as crianças com TEA estabelecem em 15 anos, que participam início as crianças apresentaram resistência
021 atividades em grupo envolvendo da Associação Amigos apenas observando..Após familiarização
alimentos e o comer, através de dos Autistas de Sorocaba com ambiente e pessoas, começam a
experiências. (AMAS) sem participar, cheiram, manuseiam alimentos,
relato/diagnóstico de alguns até experimentam.
alergia alimentar.

Oliveira & pesquisa Descrever e analisar as relações que 19 crianças e 13 Nas atividades descritas, as crianças e
Frutuoso,2 etnográfica as crianças e adolescentes com TEA adolescentes com idades adolescentes com TEA consumiam e recusavam
021 estabelecem em atividades extramuros entre 3 e 15 anos que alimentos, desfrutavam experiências sensoriais,
(festas e passeios ao ar livre) participam da Associação interagiam com espaços e pessoas.
Amigos dos Autistas de
Sorocaba (AMAS)

Magagnin pesquisa Compreender os hábitos, 14 pais de crianças e Através de entrevistas com os pais,
et al, 2021 qualitativa, dificuldades e estratégias adolescentes com TEA avaliou-se os hábitos, dificuldades e
exploratóri alimentares de crianças e que frequentam a escola estratégias alimentares com crianças e
ae adolescentes com TEA especial de uma cidade adolescentes autistas, a partir de
descritiva do Sul Catarinense perspectiva terapêutica.
(AMA-REC/SC)

Lazaro et Estudo de Construir itens e realizar validade de entrevista com 298 pais de Identifica e classifica o comportamento
al, 2019 validação conteúdo e construto da escala de indivíduos com TEA alimentar alterado pelo TEA, possibilitando o
comportamento alimentar do autismo direcionamento de tratamento e mensurando
resultados.

Lima et al; descritiva, Identificar metodologias de mudanças 138 profissionais entre Identificou-se, através de coleta de dados
2019 exploratóri comportamentais e prática de educação médicos e enfermeiros referentes às práticas de educação em saúde, e
a, analitico, em saúde voltadas a indivíduos com envolvidos no Projeto de dentre as abordagens para mudanças de
de abordage Diabetes Mellitus. Estratégia e Saúde da comportamento utilizadas, que 84% dos
m Família, do município de profissionais adotam o Modelo Transteórico
transversal Aracaju, SE. de Mudanças (MTT) e a Entrevista
Motivacional, ainda 131 profissionais
concordam com sua aplicabilidade.

Discussão
Os cuidados com a alimentação das crianças e adolescentes com TEA, vão além do
nutricional, os momentos de refeição normalmente são difíceis, com recusa e comportamentos
inadequados. Um estudo bem estruturado para avaliar a viabilidade de Programas de
Educação Nutricional que atende crianças com TEA e seus pais, foi desenvolvido por
SHARP, onde observa-se que o treinamento e suporte nutricional aos familiares pode trazer
melhoras no comportamento durante

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as refeições, assim como na qualidade na ingestão de alimentos, trazendo novas perspectivas
para o tratamento de seletividade alimentar. A alta prevalência de seletividade alimentar em
crianças com TEA, apresenta uma necessidade evidente de desenvolver e testar tratamentos
experimentais correspondente a vários níveis de gravidade (SHARP).

Tanto nas intervenções presenciais como nas virtuais, nota-se que houve o
envolvimento familiar, fato de grande relevância para promover mudanças no comportamento
das crianças e jovens com TEA. Nas sessões presenciais são explorados os aspectos
sensoriais, onde as crianças e jovens podem manusear, cheirar e até mesmo experimentar os
alimentos trabalhados. As intervenções virtuais permitem que os participantes interajam nas
intervenções, na familiaridade de suas casas, o que pode ser considerado ideal para indivíduos
com TEA. (BURO, 2023)

Oficinas culinárias, passeios ao ar livre, entre outras atividades coletivas, foram


exploradas por Oliveira & Frutuoso em diversos estudos, a fim de analisar a interação de
crianças e adolescentes com TEA com o espaço, pessoas e alimento, possibilitando novas
experiências além do ambiente domiciliar e terapêutico. Ações autista incomuns, como as
observadas nas atividades extramuros, abrem um campo de discussão sobre os
relacionamentos; viver e alimentar-se em grupos influenciam a alimentação do ser humano e
para indivíduos com TEA não é diferente, potencializam-se aspectos socioculturais de
alimentação e permitem que as crianças e adolescentes construam conexões mediadas pela
comida, mesmo que os autista não sigam os padrões de respostas a um aprendizado
significativo, não significa que não aprendam. (OLIVEIRA & FRUTUOSO,2021)

O atendimento multidisciplinar, a combinação de estratégias de gerenciamento de


comportamento e a educação nutricional visam estabelecer além de uma dieta balanceada, um
programa que venha a atender a promoção à saúde (SHARP).

Buscando identificar um modelo adequado e eficaz para a mudança de


comportamento de indivíduos com Diabete Mellitus, Lima (2019) entrevistou 138
profissionais da área da saúde, entre médicos e enfermeiros envolvidos no programa de
Estratégia Saúde da Família no município de Aracaju-SE , para conhecer a

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abordagem usada. Desses, 131 concordaram com a aplicabilidade do Modelo Transteórico
para mudanças comportamentais, pois possibilita diagnosticar a situação de disponibilidade
para mudanças no comportamento (LIMA, 2019).

Os estágios propostos pelo Modelo Transteórico permitem avaliar a adesão do


paciente às intervenções nutricionais, possibilitando direcionar estratégias adequadas às
crianças e adolescentes com TEA, e novos comportamentos podem ser desenvolvidos através
de mudanças sequenciais, segundo as etapas da abordagem.

Embora alguns autores demonstram progresso do comportamento alimentar das


crianças e adolescentes com TEA submetidos às intervenções nutricionais, novos trabalhos
com uma amostra adequada e período de intervenção superior a 6 meses, são necessários para
que se compreenda e possa minimizar os problemas de seletividade alimentar nos indivíduos
com TEA.

Conclusão
As intervenções aplicadas e observadas nesse estudo, levam a concluir que os
profissionais da área de nutrição têm novos desafios a serem trilhados na busca de melhores
práticas para Educação Nutricional de crianças e adolescentes com TEA com seletividade
alimentar em suas variadas escalas de gravidade. As estratégias normalmente utilizadas foram
a exposição a alimentos, produção de receitas e rotinas regulares de refeição, assim como
pesquisas com pais e cuidadores.

O Modelo Transteórico na área da Nutrição ainda necessita ser explorado, outras áreas
revelam respostas positivas advindas de intervenções baseadas nesse tipo de abordagem.

Contudo, ainda poucos estudos abordam intervenções de Educação Nutricional com crianças
e adolescentes com TEA e seus familiares, que visem melhorar a variedade de alimentos
ingeridos e desenvolvendo hábitos saudáveis, deixando uma grande lacuna para novos
estudos que venham colaborar com os programas de saúde pública.

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