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INFO. TEC.

Nº07/2023 — AGOSTO/2023

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


COORDENADORIA DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

INFORMATIVO TÉCNICO SME/CODAE Nº 07/2023—AGOSTO/2023

Direcionado a: Unidades Educacionais com gestão Direta, Mista, Terceirizada e Rede Parceira.
Objetivo: Orientar sobre a alimentação de estudantes no Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nutricionista Responsável Técnica: Fernanda Lourenço de Menezes.
Coordenadora da CODAE: Maria de Fátima de Brum Cavalheiro.

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

É caracterizado pelo desenvolvimento atípico, dificuldade na comunicação e


na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo
apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Tais características podem se
estender aos hábitos alimentares, com dificuldades alimentares ou não.
Vale lembrar nem sempre estudantes com TEA apresentam dificuldades alimentares!
As principais dificuldades alimentares no TEA serão mencionadas a seguir.

SELETIVIDADE ALIMENTAR

Há alimentos específicos que são aceitos e selecionados pelo estudante, e há


preferência por algumas consistências, texturas, temperaturas, cores, aromas. Essa
seleção pode modificar com o tempo, podendo comprometer o estado nutricional
(desnutrição ou excesso de peso). Assim, precisamos ficar atentos a isso!

CONSIDERAÇÕES PARA ATENDER ESTUDANTES NO TEA

Quando introduzir um novo alimento, fora do


O educador pode registrar os alimentos que o
repertório alimentar do estudante, oferecer
estudante aceita, o modo como aceita
separadamente dos outros alimentos
(forma, cor, apresentação) ou quando rejeita
daquela refeição. Variar as formas de
os alimentos. Trocar essas informações com a
preparo e de apresentação do novo
família ajuda a ampliar o repertório alimentar.
alimento para facilitar a aceitação.

Comunicar e antecipar as ações que


Segurança, conforto e respeito aos estudantes
ocorrerão durante o período escolar trará
no TEA são muito importantes para a
segurança ao estudante, facilitando a
promoção da alimentação adequada e
conexão com os envolvidos.
saudável.

É preciso tempo e paciência com estudantes que possuem seletividade! É um trabalho diário,
construído entre família, comunidade escolar e equipe multiprofissional de saúde.

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CONSUMO DE ULTRAPROCESSADOS

Os alimentos ultraprocessados devem ser evitados, segundo o


Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014). No am-
biente escolar, de acordo com a Resolução nº 6 do Fundo Nacio-
nal de Desenvolvimento da Educação (FNDE, 2020), esses alimentos
devem ser restritos até os 3 anos e 11 meses de idade.

No entanto, devido ao fácil acesso, a publicidade e o baixo


custo, o consumo dos ultraprocessados faz parte da rotina
alimentar de muitos brasileiros. Assim, pais e/ou responsáveis
oferecem esses alimentos às crianças e aos adolescentes, inclusive
para aqueles no TEA. Além disso, os ultraprocessados são
hiperpalatáveis (mais marcantes ao paladar), pois têm grande
quantidade de gordura, açúcar e sódio na composição.

Todos os fatores citados anteriormente, somados à


seletividade alimentar, podem levar ao consumo frequente desses
alimentos pelos estudantes no TEA, inclusive, alguns só aceitam os
ultraprocessados. Assim, considerando o direito à alimentação
escolar, as condições sensoriais do TEA, as recomendações do
FNDE, devemos avaliar com cautela os casos de estudantes no
TEA que só aceitam ultraprocessados e a oferta desses alimentos
no ambiente escolar.
O planejamento alimentar deve considerar as necessidades e preferências dos
estudantes, BEM COMO AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS, A CULTURA E AS PRÁTICAS
ALIMENTARES, envolvendo as equipes multiprofissionais e as famílias nas decisões. Por essa
razão, recomenda-se o acompanhamento multiprofissional do estudante para estímulos
adequados, para possíveis modificações e ampliação do seu repertório alimentar.

ACOMPANHAMENTO MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE

É importante o acompanhamento de equipe multiprofissional


em saúde para estudantes no TEA. No SUS, os estudantes podem
ser acompanhados pela Equipe Multiprofissional da Atenção
Básica (EMAB). Caso necessário, poderão ser encaminhados para
os Centros Especializados em Reabilitação (CER).
Entretanto, a atenção e cuidado de estudantes no TEA
devem ser compartilhados. Nesse sentido, a comunicação
contínua entre as equipes das Unidades Educacionais, as equipes
de saúde e os responsáveis pelos estudantes, favorece o
acompanhamento e o cuidado integrado.
Na escola, é essencial o alinhamento entre o nutricionista
responsável técnico ou assessor, nutricionistas da supervisão,
cozinheiras escolares, educadores e outros profissionais da
Unidade.

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ACOLHIMENTO E DIÁLOGO COM AS FAMÍLIAS


O acolhimento adequado dos responsáveis dos estudantes é importante para confiarem
nos profissionais da Unidade Educacional, sobretudo quando há dificuldades alimentares. Assim,
devemos escutar atentamente os responsáveis e anotar todas as particularidades relatadas e
repassá-las à equipe. Se houver modificações na alimentação da escola, sempre comunicar e
orientar os responsáveis para que façam de forma similar em casa, facilitando a comunicação
e o cuidado com o estudante.

COMER JUNTOS

Em crianças no TEA, experiências têm demonstrado que o co-


mer juntos é um momento importante para promover interação e
conhecimento sobre os alimentos. Também é um espaço precioso de
acolhimento das diferenças e para a percepção das complexas
relações existentes entre o alimento e o comer. No mais, no TEA há hiper-
sensíbilidade aos estímulos sensoriais do próprio ambiente das refeições.
Entretanto, é importante observar cada estudante e conduzir a alimenta-
ção conforme suas especificidades.

SOLICITAÇÃO DE ALIMENTAÇÃO ESPECÍFICA

O atendimento ocorrerá mediante laudo prescrito por nutricionista, médico, terapeuta


ocupacional, psicólogo ou fonoaudiólogo contendo:
 Prescrição com letra legível;
 Nome completo do estudante;
 Detalhamento dos alimentos da seletividade alimentar (quais alimentos o estudante aceita e
rejeita, quando for o caso);
 Detalhamento da consistência da alimentação, quando necessário alterar a consistência dos
alimentos;
 Dados do profissional: nome e sobrenome, carimbo/número do registro profissional e
assinatura;
 Data do laudo com alimentação específica inferior a 12 meses.

NOTA: Excepcionalmente, para estudantes no TEA, a CODAE aceitará carta dos pais e/ou responsáveis
complementar ao laudo OU termo de visita do nutricionista supervisor, contendo detalhadamente os
alimentos aceitos ou rejeitados pelo estudante. Se possível, considerar o cardápio disponível no Prato
Aberto. Neste sentido, sugerimos que o laudo atualizado seja enviado a cada 6 meses para adequarmos
as possíveis alterações na alimentação do estudante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MAGAGNIN, T. et al. Relato de Experiência: Intervenção Multiprofissional sobre Seletividade Alimentar no Transtorno do Espectro
Autista. Id on Line Rev. Mult. Psic. V.13, N. 43, p. 114-127, 2019.
OLIVEIRA, B. M. F.; FRUTUOSO, M. F. P. Muito além dos nutrientes: experiências e conexões com crianças autistas a partir do cozinhar
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