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NUTRIÇÃO

Nutrição materno infantil


NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL
ORGANIZADORES ALINE ROCHA RODRIGUES; LAÍS ANGÉLICA DE PAULA SIMINO
MATERNO INFANTIL
ORGANIZADORES ALINE ROCHA RODRIGUES;
LAÍS ANGÉLICA DE PAULA SIMINO

O livro Nutrição materno infantil é direcionado para estudantes de cursos


de nutrição.

Após a leitura da obra, o leitor vai aprender sobre a fisiologia e as reper-


cussões nutricionais diabetes e hipertensão gestacionais; conhecer os
motivos pelos quais o aleitamento materno é superior a outros métodos de
C
nutrição infantil e como estimular o aleitamento; saber as definições e
M
terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil; aprofun-
Y
dar os conhecimentos sobre os aspectos relacionados aos ajustes fisiológi-
CM
cos e riscos para a saúde da mulher durante o período gestacional;
MY
apreender informações importantes sobre a dieta de gestantes na
CY
promoção de uma gestação saudável, com influência na saúde da mãe e do
CMY
bebê; descobrir os métodos para realizar a avaliação de consumo alimen-
K
tar, tanto de maneira qualitativa quanto de maneira quantitativa.

E não é só isso. Tem muito mais. O livro tem muito conteúdo relevante.

GRUPO SER EDUCACIONAL


Aproveite.

Agora é com você! Bons estudos!

ISBN 9786555580259

9 786555 580259 > gente criando futuro


NUTRIÇÃO
MATERNO INFANTIL
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional.

Diretor de EAD: Enzo Moreira

Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato

Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes

Coordenadora educacional: Pamela Marques

Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa

Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha

Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi

Rodrigues, Aline Rocha.

Nutrição materno infantil / Aline Rocha Rodrigues; Laís Angélica de Paula Simino:

Cengage – 2020.

Bibliografia.

ISBN 9786555580259

1. Nutrição

Grupo Ser Educacional

Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro

CEP: 50100-160, Recife - PE

PABX: (81) 3413-4611

E-mail: sereducacional@sereducacional.com
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL

“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com


isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec,


tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da
democracia com a ampliação da escolaridade.

Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar


as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no
contexto da sociedade.”

Janguiê Diniz
Autoria
Aline Rocha Rodrigues
Nutricionista, Especialista em Nutrição com ênfase em Alimentação Escolar, Mestranda em
Desenvolvimento Territorial Sustentável, pela Universidade Federal do Paraná. Formada há mais de
15 anos, com a carreira focada em políticas públicas de alimentação e nutrição, como o Programa
Nacional de Alimentação Escolar. Membro dos conselhos de Alimentação Escolar e Segurança
Alimentar e Nutricional de Curitiba, sendo coordenadora da Câmara de Acesso aos Alimentos.

Laís Angélica de Paula Simino


Graduada em Nutrição pela Universidade Paulista, especialização em Bioquímica, Fisiologia,
Treinamento e Nutrição Desportiva pela UNICAMP, mestre e doutora em Ciências da Nutrição e do
Esporte e Metabolismo pela UNICAMP. Atua nas áreas de Pesquisa e Nutrição Clínica.
SUMÁRIO

Prefácio..................................................................................................................................................8

UNIDADE 1 - Nutrição e desfechos materno-fetais..........................................................................9


Introdução.............................................................................................................................................10
1. Saúde materno-infantil...................................................................................................................... 11
2. Aspectos relacionados à gestação..................................................................................................... 13
3. Nutrição e desfechos gestacionais..................................................................................................... 18
4. Programação metabólica................................................................................................................... 20
5. Avaliação e recomendações nutricionais na gestação....................................................................... 26
PARA RESUMIR...............................................................................................................................31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................32

UNIDADE 2 - Nutrição na gestação.................................................................................................35


Introdução.............................................................................................................................................36
1. Guia alimentar para a gestação......................................................................................................... 37
2. Necessidades nutricionais da gestante e situações incomuns........................................................... 44
3. Como avaliar o consumo alimentar de gestantes: avaliação quantitativa e qualitativa.....................48
4. Metodologia de atenção nutricional em pré-natal de baixo risco:
como se faz uma consulta de nutricionista dirigida a gestantes?.......................................................... 51
5. Como organizar as intervenções nutricionais dentro de um pré-natal de baixo risco,
com ênfase no papel do nutricionista.................................................................................................... 54
PARA RESUMIR...............................................................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................58
UNIDADE 3 - Situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil pós-natal...................61
Introdução.............................................................................................................................................62
1. Situações patológicas na gestação.................................................................................................... 63
2. Aleitamento materno......................................................................................................................... 68
3. Nutrição materna pós-natal............................................................................................................... 74
4. Nutrição do lactente.......................................................................................................................... 78
5. Desvios do estado nutricional do lactente......................................................................................... 86
PARA RESUMIR...............................................................................................................................89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................90

UNIDADE 4 - Nutrição na infância...................................................................................................91


Introdução.............................................................................................................................................92
1. Metodologia da atenção nutricional dirigida a lactentes, pré-escolares e crianças.......................... 93
2. Identificação e manejo de desvios do estado nutricional e aconselhamento nutricional
durante a fase de alimentação complementar e desmame................................................................... 100
3. Características da idade pré-escolar, necessidades nutricionais na idade pré-escolar,
avaliação nutricional e guia alimentar para idade pré-escolar.............................................................. 102
4. Estudos de situações especiais, envolvendo crianças e cuidado nutricional.....................................107
5. Políticas de saúde e alimentação brasileiras focadas no grupo materno-infantil e
cálculo e interpretação de inquérito alimentar aplicado à avaliação de gestantes e crianças..............109
PARA RESUMIR...............................................................................................................................114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................115
PREFÁCIO

Este livro, Nutrição materno infantil, informa o leitor, além de conceitos básicos
da área, conteúdo específico sobre nutrição e desfechos materno-fetais, nutrição na
gestação, situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil pós-natal, e
nutrição na infância.

Entre muitos assuntos, a primeira unidade, Nutrição e desfechos materno-fetais,


explica as características do período gestacional, incluindo as principais definições
e as terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil; os aspectos
relacionados aos ajustes fisiológicos e riscos para a saúde da mulher durante a
gestação; a relação entre a nutrição e os desfechos gestacionais, e mais.

A segunda, Nutrição na gestação, aborda as principais funções da nutrição no


período de gestação. O texto é fundamentado nas guias que auxiliam as escolhas
alimentares da gestante, as bases para uma dieta saudável e avaliações de consumo
alimentar baseados tanto em quantidade de alimentos ingeridos quanto na qualidade
destes alimentos.

A terceira unidade, Situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil


pós-natal, trata da fisiologia das situações patológicas mais comuns na gestação;
a importância do aleitamento materno exclusivo e como estimular o aleitamento;
características da avaliação do estado nutricional e das recomendações para a mulher
no período pós-natal.

E para finalizar o conteúdo da obra, a quarta unidade, Nutrição na infância, explana


os assuntos relacionados a nutrição de crianças, desde o nascimento até o final da
primeira infância. Serão abordados temas relacionados a: amamentação, atenção
nutricional nos períodos de lactente, pré-escolar e crianças menores de 2 anos. Será
explicado como identificar e manejar os desvios nutricionais, bem como as relações da
nutrição com o desmame e alimentação adequada e saudável.

Esta é apenas uma pequena amostra do que o leitor aprenderá após a leitura do
livro.

Desejamos que o leitor tenha uma carreira de sucesso, com muito prestígio. Aos
leitores, sorte em seus estudos!
UNIDADE 1
Nutrição e desfechos materno-fetais
Introdução
Olá,

Você está na unidade Nutrição e desfechos materno-fetais. Conheça aqui as características


do período gestacional, incluindo as principais definições e as terminologias mais
utilizadas na área da saúde materno-infantil; os aspectos relacionados aos ajustes
fisiológicos e riscos para a saúde da mulher durante a gestação; a relação entre a nutrição
e os desfechos gestacionais; o conceito de programação metabólica; e os motivos da
importância da Nutrição nos primeiros mil dias de vida. Conheça ainda as particularidades
da avaliação e das recomendações nutricionais para a gestante.

Bons estudos!
11

1. SAÚDE MATERNO-INFANTIL
A fisiologia da gestação, popularmente conhecida como gravidez, começa a se manifestar a
partir do momento em que um óvulo feminino é fecundado pelo espermatozoide masculino e,
subsequentemente, inicia-se o desenvolvimento intrauterino do feto, até sua expulsão, ou seja,
o momento do nascimento.

Primeiramente, antes de nos aprofundarmos nos conhecimentos acerca dos aspectos


nutricionais, é importante abordarmos algumas definições e terminologias mais utilizadas na
área da saúde materno-infantil.

1.1 Caracterização do grupo materno-infantil


São incluídos no grupo chamado de materno-infantil aqueles indivíduos que apresentam
necessidades nutricionais elevadas, devido à fase de rápido crescimento e desenvolvimento em que se
encontram. As faixas etárias ou momentos fisiológicos compreendidos no grupo materno-infantil são:

• mulheres em idade reprodutiva (dos 10 aos 49 anos);

• gestantes;

• nutrizes ou lactantes (mulheres em período de amamentação);

• lactentes (crianças de 0 a 12 meses);

• pré-escolares (crianças de 1 a 7 anos);

• escolares (crianças de 7 a 10 anos);

• adolescentes (dos 11 aos 20 anos).

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:


12

1.2 Terminologia em saúde materno-infantil


Os termos mais utilizados na área da saúde materno-infantil e os respectivos conceitos estão
explicados na tabela abaixo.

Figura 1 - Terminologia utilizada em saúde materno-infantil


Fonte: Adaptado de Accioly et al. (2009)
#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas, na primeira (termo),
está uma lista de termos relacionado à área materno-infantil; na segunda (conceito), estão as
explicações acerca do significado de cada termo.
13

2. ASPECTOS RELACIONADOS À GESTAÇÃO


A gestação normal é acompanhada de mudanças anatômicas, fisiológicas e psicológicas da
mulher, que criam um ambiente favorável para o desenvolvimento saudável do feto. Esse conjunto
de mudanças é essencial para regular o metabolismo materno e promover o crescimento fetal,
além de preparar a mãe tanto para o momento do parto, como para a lactação.

É importante que o nutricionista entenda os ajustes ocorridos no corpo da mulher durante a


gestação, para que possa auxiliar na assistência nutricional pré e pós-natal com segurança.

2.1 Ajustes fisiológicos, nutricionais e metabólicos da gestação


O período gestacional normal é constituído por 40 semanas, mas os aspectos fisiológicos,
nutricionais e metabólicos são, no geral, diferentes em cada fase da gestação.

No primeiro trimestre, acontecem grandes mudanças biológicas, devido à intensa divisão


celular que ocorre nesse período.

Já o segundo e terceiro trimestres caracterizam uma fase em que o meio externo exerce grande
influência na condição nutricional do feto e, dessa forma, o ganho de peso e a ingestão adequada
de nutrientes, bem como o fator emocional e o estilo de vida, serão fatores determinantes para o
crescimento e desenvolvimento saudável do feto.

Figura 2 - Diferenciação celular (tipo e velocidade de crescimento e peso médio do feto) de


acordo com o período gestacional.
Fonte: Adaptado de Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em 4 colunas e 3 linhas. As colunas


são Idade gestacional, Tipo de crescimento, Velocidade e Peso médio do feto; e as linhas são 1º
trimestre (12 semanas); 2º trimestre (de 13 a 27 semanas); e 3º trimestre (a partir de 28 semanas).
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Uma das ferramentas importantes para o profissional que faz o acompanhamento da gestante
é a curva de ganho de peso fetal. Com os dados obtidos pela ecografia solicitada pelo médico, o
nutricionista pode avaliar se o peso estimado do feto se encontra no percentil adequado (entre P10
e P90). Valores próximos ou abaixo do percentil P10 indicam retardo do crescimento intrauterino,
enquanto valores acima do percentil P90 podem sugerir alteração glicêmica ou diabetes gestacional.

Figura 3 - Crescimento fetal


Fonte: BUMPA, Shutterstock, 2020.

#ParaCegoVer: A imagem mostra um gráfico de crescimento que tem as medidas de peso do


bebê em gramas na vertical esquerda, os meses lunares da gestação na horizontal, e o comprimento
em milímetros na vertical direita. No meio do gráfico, é possível ver uma linha vermelha e uma azul
(indicando curvas de crescimento). Abaixo dessas linhas, dentro do gráficos, está o desenho de três
fetos em sequência, passando a ideia de desenvolvimento fetal ao longo dos meses.

Os principais hormônios com função essencial durante o período gestacional são:


• estrógeno

tem como principal ação o aumento da elasticidade da parede do útero e do canal cervical.
Como consequências, esse hormônio reduz as proteínas séricas, afeta as funções da tireoide,
interfere no metabolismo do ácido fólico;
• progesterona

tem como principal ação promover o relaxamento da musculatura lisa uterina. Atua também
no intestino, diminuindo sua motilidade e possibilitando, assim, um maior tempo para absorção
dos nutrientes. Por outro lado, pode levar à constipação intestinal. Além disso, favorece o aumento
de gordura corporal, aumenta a excreção de sódio e afeta o metabolismo do ácido fólico;
• HCG:

tem papel fundamental no início da gestação, enquanto a placenta ainda não é capaz de
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produzir os hormônios estrógeno e progesterona em quantidade ideal para promover a evolução


da gravidez. Pode ser detectado no sangue a partir de 8 dias após a fecundação e, na urina, após
15 dias, sendo utilizado como fator de detecção da gestação;

• insulina:

no início da gestação, a resposta à insulina, frente ao estímulo com glicose, costuma ser normal,
porém, com o avanço do período gestacional, mais insulina é necessária para promover a captação
da mesma quantidade de glicose. Por isso, a gestação é considerada um estado hiperinsulinêmico,
ou seja, por menor sensibilidade à insulina que, em partes, pode ser explicada pela ação antagonista
dos hormônios progesterona, cortisol, prolactina e hormônio lactogênio placentário;

• hormônio lactogênio placentário:

tem ação antagônica à insulina, favorecendo o aumento da glicose circulante. Sua ação é
semelhante à do hormônio do crescimento, pois leva à deposição de proteínas nos tecidos. Além
disso, apresenta função anabólica e lipolítica e acredita-se que esteja envolvido com o início do
processo da produção do leite materno;

• tiroxina:

tem ação regulatória nas reações oxidativas que envolvem a produção de energia e, além
disso, participa de mecanismos homeostáticos que envolvem a progesterona e o estrógeno.

De forma geral, as principais alterações fisiológicas, nutricionais e metabólicas decorrentes


do período gestacional estão resumidas no quadro abaixo.
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Figura 4 - Alterações fisiológicas, nutricionais e metabólicas observadas durante o período


gestacional
Fonte: ACCIOLY et al. , 2009 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido nos fatores de risco que podem afetar
a gestação e, abaixo de cada um deles, há uma lista de respectivas especificações e exemplos.
Os fatores de risco listados são: idade materna nos extremos da vida reprodutiva; situação
conjugal insegura; atividade profissional; baixa escolaridade materna; condições de saneamento
ambiental desfavoráveis; estado nutricional antropométrico materno; uso de álcool ou drogas
(lícitas ou ilícitas); histórico reprodutivo anterior desfavorável; doença obstétrica na gravidez
atual; intercorrIencias clínicas.

A imagem mostra um quadro que tem uma primeira linha denominada Alterações gestacionais. Abaixo
dessa linha, o quadro se divide em 3 partes: alterações fisiológicas, alterações nutricionais e alterações
metabólicas. Abaixo de cada subtítulo desses, está uma lista das alterações que a eles pertecem.

FIQUE DE OLHO
A placenta - responsável pela produção de alguns hormônios essenciais na gestação e pelo
transporte de oxigênio e nutrientes da mãe para o feto - é um órgão de alta complexidade
metabólica. Para saber mais sobre ela, leia o capítulo 8 (Aspectos Fisiológicos e Nutricionais
na Gestação), p. 80 de Vitolo (2015).

2.2 Fatores de risco associados à gestação


Existem diversas condições que podem interferir na evolução normal da gravidez. Entre as
condições mais frequentes associadas à intercorrências gestacionais, estão: idade, paridade, parâmetros
antropométricos, tabagismo, uso de álcool e condições de saúde como anemia, desnutrição, obesidade,
hipertensão arterial e diabetes mellitus, mas existe uma extensa lista de fatores que, embora menos
frequentes, também podem ser considerados como fatores de risco associados à gestação.
17

Figura 5 - Fatores de risco associados a resultados obstétricos indesejáveis


Fonte: Adaptado de Accioly et al. (2009)
18

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido nos fatores de risco que podem afetar a
gestação e, abaixo de cada um deles, há uma lista de respectivas especificações e exemplos. Os fatores de
risco listados são: idade materna nos extremos da vida reprodutiva; situação conjugal insegura; atividade
profissional; baixa escolaridade materna; condições de saneamento ambiental desfavoráveis; estado
nutricional antropométrico materno; uso de álcool ou drogas (lícitas ou ilícitas); histórico reprodutivo
anterior desfavorável; doença obstétrica na gravidez atual; intercorrIencias clínicas.

Quanto maior o número destes fatores presentes, pior o quadro e, dependendo da gravidade
e quantidade de fatores, a gestação pode ser classificada como baixo, médio ou alto risco.

FIQUE DE OLHO
Para compreender melhor os aspectos envolvidos com os principais fatores de risco
associados à gestação, leia o capítulo 9 (Fatores de Risco na Gestação), p. 83 de Vitolo (2015).

3. NUTRIÇÃO E DESFECHOS GESTACIONAIS


O consumo dietético e o estado nutricional são fatores que estão diretamente relacionados a
desfechos gestacionais, seja em um momento mais precoce, com relação ao sucesso reprodutivo,
ou durante o período gestacional em si, se relacionando com o desenvolvimento de condições
adversas que levam a riscos obstétricos ou, ainda, por intervenções nutricionais que auxiliam na
prevenção dessas condições ou no alívio de situações indesejadas.

3.1 Fatores de risco e proteção ao sucesso reprodutivo relacionados à nutrição


A nutrição exerce papel importante na síntese de DNA e, por isso, sua influência pode
impactar no desenvolvimento tanto de espermatozóides, como de oócitos. Assim, já que o estilo
de vida e a nutrição são fatores que podem ser modificáveis de acordo com a necessidade, deve-
se atentar para uma alimentação adequada para garantir o sucesso reprodutivo.

A infertilidade é definida como a inabilidade de um casal sexualmente ativo, que não faz uso
de métodos contraceptivos, de estabelecer a gravidez dentro do período de um ano. Estima-
se que 90% dos casais sexualmente ativos que não utilizam métodos contraceptivos consigam
engravidar nesse período. As causas que levam à infertilidade podem ser diversas, mas acredita-
se que a nutrição exerça papel importante.

Muitos nutrientes, de forma isolada, podem afetar positivamente ou negativamente a


fertilidade humana. Em relação à fertilidade masculina, a ingestão de vitaminas C e E foi associada
positivamente com o número, concentração e/ou motilidade dos espermatozoides, enquanto o
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consumo de soja e alimentos fonte de isoflavonas foram relacionados de forma inversa com a
concentração de espermatozoides.

Com relação à fertilidade feminina, estima-se que o consumo de gorduras trans esteja
relacionado com um risco muito aumentado de desenvolvimento de infertilidade ovulatória,
assim como o consumo excessivo de alimentos com alto índice glicêmico. Por outro lado,
suplementação de ferro, uso de multivitamínicos e consumo de laticínios integrais (sem redução
do teor de gordura) foram associados a menor risco de infertilidade ovulatória.

Contudo, como recomendações gerais, deve-se priorizar a nutrição adequada, tanto para
homens como, principalmente, para mulheres que desejam engravidar, garantindo o suprimento das
necessidades de macro e micronutrientes. Além disso, o fator mais decisivo para o sucesso reprodutivo,
relacionado ao estilo de vida, tanto para homens como para mulheres, é a composição corporal.

O sobrepeso e a obesidade podem levar a modulações hormonais significativas que diminuem


ou até ocasionam a perda da fertilidade. Em contrapartida, estudos demonstraram que a perda de
peso, promovida por intervenção dietética, pode melhorar o perfil hormonal e a fertilidade feminina.

Assim, o papel do nutricionista é adequar a alimentação de forma individual, garantindo


o aporte nutricional adequado e utilizar estratégias de redução de gordura corporal, quando
necessário, para auxiliar no sucesso reprodutivo.

3.2 Consumo dietético e condições metabólicas da mulher, relacionados


a condições adversas e melhora de desconfortos na gestação
Algumas condições adversas frequentemente observadas em gestantes, como baixo peso,
obesidade, anemias carenciais, diabetes gestacional e hipertensão/pré-eclâmpsia, estão
estreitamente relacionadas ao estado nutricional e ao consumo dietético.

O baixo peso materno, ou a gestante que se desnutre durante o período gestacional, em


função de ganho de peso insuficiente, devem receber atenção especial. É comum que exista
inapetência e anemias carenciais nesse grupo, e o papel do nutricionista é estimular o aumento
do aporte energético ou de nutrientes específicos, quando identificada a necessidade.

O sobrepeso ou obesidade durante a gestação são fatores de risco para o desenvolvimento


de outras complicações, como diabetes gestacional, hipertensão, pré-eclâmpsia e eclampsia e,
nesses casos, o nutricionista deve se atentar ao ganho de peso excessivo durante a gestação, sem
deixar que faltem nutrientes para o desenvolvimento saudável do feto.

Com relação a alguns desconfortos que podem ser minimizados por orientação nutricional
durante a gestação, os mais comuns são náuseas/vômito, pica, pirose e constipação intestinal.
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Náuseas e vômitos são situações frequentes, principalmente no primeiro trimestre. Para


amenizar o desconforto, recomenda-se: o fracionamento das refeições (refeições menores e mais
frequentes, até 8 vezes ao dia; consumo de alimentos com baixo teor de gordura e abrandados,
como purês; o consumo de gengibre ou preparações que contenham esse alimento; e a
suplementação de vitamina B6 (25mg, 3 vezes ao dia) podem ser úteis.

A pica, condição em que a mulher sente desejo e ingere substâncias não alimentares (terra,
sabão, tijolo, cinza de cigarro, etc), tem etiologia desconhecida, mas pode estar relacionada a
mecanismos de tentar aliviar sintomas como náuseas e vômitos, ou à deficiência de ferro, que
deve ser investigada.

A pirose, sintoma de queimação ou azia, ocorre, geralmente, após as refeições. Indica-se, nesses
casos, o fracionamento das refeições e o estímulo a alimentação mais lenta e com mais mastigações.
É importante ressaltar que o consumo de frutas cítricas não está relacionado à piora de pirose, e sua
restrição pode levar ao comprometimento da ingestão de vitaminas sem necessidade.

A constipação intestinal é frequente em gestante, devido a mudanças hormonais,


principalmente. Recomenda-se, como prevenção ou para melhora da condição, o aumento da
ingestão de água, inclusão de variedades de verduras (cruas ou cozidas), consumo de alimentos
fonte de fibras, frutas secas (ameixa, damasco, figos) e caminhadas regulares.

FIQUE DE OLHO
Para conhecer mais sobre estratégias de intervenção nutricional relacionadas a
situações adversas durante a gestação, leia os capítulos 13 (Situações Comuns Durante
a Gestação e Práticas Alimentares) e 14 (Estratégias de Intervenção Nutricional), p.108
e 114, de Vitolo (2015).

4. PROGRAMAÇÃO METABÓLICA
Nos dias atuais, são bem aceitas as teorias que propõe que grande parte dos distúrbios
metabólicos e das doenças desenvolvidas nos adultos têm origem no período fetal. Esse
fenômeno é conhecido na literatura de diversas formas: origens do desenvolvimento da saúde e
da doença (do inglês, Developmental Origins of Health and Disease – DOHaD), hipótese de Barker
e imprinting metabólico, ou programação metabólica.

4.1 O conceito de programação metabólica


Por definição, programação metabólica se refere ao “processo em que estímulos ou condições
21

adversas em um período crítico de desenvolvimento resultam em alterações permanentes nas


respostas fisiológicas e metabólicas dos filhos” (SULLIVAN; GROVE, 2010, p.1).

A programação metabólica se refere ao conceito de que muitas das DCNT (doenças crônicas não
transmissíveis), tais como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, por exemplo, têm início
durante períodos críticos do desenvolvimento, como o período intrauterino ou pós-natal precoce.

Um dos primeiros indícios históricos da existência da programação metabólica foram os


estudos epidemiológicos que analisaram os dados de adultos que nasceram durante a Segunda
Guerra Mundial, entre os anos de 1944 e 1945, em um período que ficou conhecido como “Inverno
da Fome” na Holanda. Durante esse período, parte da Holanda foi ocupada por tropas nazistas,
que impediram a chegada de alimentos pelas ferrovias. Além disso, foi um período de inverno
muito rigoroso, o que impediu a produção local de alimentos e fez com que a população passasse
por uma severa restrição alimentar. Através de arquivos médicos das mulheres que estavam
grávidas durante esse período e de seus filhos, pesquisadores identificaram que a subnutrição
materna, durante o período gestacional, levou os filhos a nascerem com baixo peso, mas, já na
idade adulta, apresentaram grande propensão ao desenvolvimento de obesidade, intolerância à
glicose e doenças cardiovasculares.

Alguns anos depois, o conceito de programação metabólica foi popularizado por um


pesquisador chamado David Barker, que conduziu pesquisas por meio das quais conseguiu
correlacionar as mortes neonatais relacionadas ao baixo peso ao nascer com a nutrição
insatisfatória das mães durante o período de gestação. Barker demonstrou que crianças nascidas
com baixo peso tinham risco de desenvolver hipertensão quando adultas, enquanto as crianças
que nasciam com peso normal e eram amamentadas até 1 ano de vida apresentavam risco muito
menor de morte por doenças cardiovasculares e infarto. Essas observações o levaram a considerar
que as doenças manifestadas no adulto poderiam ser programadas durante o desenvolvimento
fetal, e sua publicação em uma revista científica, no ano de 1990, ganhou tamanha notoriedade
que o tema ficou conhecido, a partir de então, como “A Hipótese de Barker”.

A partir de então, o ambiente intrauterino e o pós-natal precoce passaram a ser estudados


como uma fase importante que pode impactar no desenvolvimento de diversos tipos de doença
na vida adulta.

4.2 A importância dos primeiros 1000 dias


Sabe-se que diferentes estímulos, durante o período intrauterino e pós-natal precoce, podem
estar relacionados à programação metabólica: exposição a doenças e toxinas, microbioma,
estado psicológico, estresse físico e mental, exercícios físicos, entre outros fatores. Mas, dentre os
fatores envolvidos com esse fenômeno, a nutrição materna e os fatores relacionados à nutrição,
como a composição dietética e corporal e parâmetros metabólicos, estão entre os tópicos mais
22

explorados acerca desse tema.

Existem, hoje, campanhas de conscientização sobre a importância dos primeiros 1000 dias,
que compreendem o período de gestação e os dois primeiros anos de vida da criança.

Figura 6 - Primeiros 1000 dias


Fonte: Elaborado pela autora, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra quatro círculos. Um deles está acima dos outros e, dentro
dele, está escrito “os primeiros 1000 dias”. Deste círculo saem três linhas que levam aos outros
três círculos, que estão um ao lado do outro. Um deles diz “Gestação (270 dias)”, o segundo diz
“1º ano (365 dias)” e o terceiro círculo, por fim, diz “2º ano (365 dias)”.

Os “primeiros 1000 dias” constituem a fase mais intensa para o desenvolvimento de um


indivíduo, tanto em relação a questões físicas e metabólicas, como em relação ao fator mental
e emocional. Nesse período, acontece o maior estirão de crescimento, o desenvolvimento
neurológico é intenso (com 2 anos de vida, o cérebro da criança já apresenta 80% do tamanho do
cérebro de um adulto e, além disso, é 2 vezes mais ativo) e imunológico. Essa fase também está
relacionada a formação de bons hábitos alimentares, que aumentarão as chances da criança de
se tornar um adulto com hábitos mais saudáveis.

Durante essa fase, conhecida como uma “janela de oportunidades”, é imprescindível que
haja uma atenção integral: acesso à saúde, estímulos para aprendizagem, segurança e proteção,
cuidados responsivos e acesso à nutrição adequada, para garantir, assim, maior qualidade de
vida a longo prazo e minimizar as chances de dificuldades de aprendizado, desenvolvimento de
doenças crônicas de longo prazo e maior probabilidade de mortalidade por essas doenças, o que
reduz o tempo e a qualidade de vida dessa pessoa.
23

Assim, a nutrição adequada durante o período gestacional não visa apenas a promover a saúde e
bem-estar da mãe, mas também está associada à prevenção de doenças no filho, principalmente as DCNT.
As condições ou fatores maternos relacionados aos aspectos nutricionais que mais estão envolvidos com
o desenvolvimento de DCNT nos filhos são a restrição energética ou proteica, obesidade/supernutrição,
diabetes gestacional, baixo peso ao nascer ou macrossomia fetal e modificações epigenéticas.

Figura 7 - Fatores envolvidos com a “programação metabólica” para o desenvolvimento de


doenças na vida adulta
Fonte: Elaborado pela autora, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra seis círculos conectados por linhas uns aos outros. Dentro
de cada um deles está um fator de risco: obesidade, epigenética, macrossomia fetal, baixo peso
ao nascer, diabetes gestacional e restrição energética e proteica.

A restrição energética e proteica durante a gestação foi um dos primeiros fatores nutricionais
relacionados à programação metabólica, conforme citado na seção anterior, através das descobertas
de David Barker, acerca do impacto da restrição alimentar severa de mulheres holandesas
durante a Segunda Guerra Mundial, sobre o baixo peso ao nascer e sobre a maior propensão ao
desenvolvimento de obesidade, intolerância à glicose e doenças cardiovasculares na vida adulta.

Diversos estudos subsequentes, realizados em modelos experimentais, principalmente,


identificaram que a baixa oferta energética ou de proteínas durante a gestação está relacionada
ao prejuízo de diversas funções nos filhos: alterações no desenvolvimento do pâncreas e,
consequentemente, menor resposta secretória da insulina e desenvolvimento de diabetes;
má-formação hipotalâmica, impactando no controle da fome e do gasto energético e levando a
maiores chances de desenvolvimento de obesidade; prejuízos na formação e funções metabólicas
24

de tecidos como o fígado, tecido adiposo e musculatura esquelética; aumento da pressão


arterial; prejuízos no desenvolvimento psicomotor e cognitivo; dislipidemias; alterações renais e
cardiorrespiratórias, entre outros.

Curiosamente, a obesidade/supernutrição e o diabetes gestacional podem levar à desfechos


fetais muito semelhantes aos observados em casos de restrição energética ou proteica durante
a gestação. A supernutrição, a obesidade e a hiperglicemia da mãe durante a gravidez são
condições que podem estar relacionadas tanto com a macrossomia fetal, quanto com o baixo
peso ao nascer. Muitas pesquisas demonstraram que ambas as condições (baixo peso ou peso
excessivo ao nascer) estão positivamente correlacionadas com maior risco de desenvolvimento
de doenças metabólicas na vida adulta.

Figura 8 - Risco de desenvolvimento de doenças metabólicas em função do peso ao nascer


Fonte: Elaborado pela autora, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra um gráfico de curva. No eixo vertical, está o risco de doenças
metabólicas; no eixo horizontal, está o peso ao nascer, estando o baixo peso à esquerda, o peso normal
no centro, e o peso excessivo á direita. A curva que se forma tem formato de U, mostrando que o risco
aumenta à medida que o peso ao nascer se distancia do normal, tanto para mais, quanto para menos.

É de conhecimento popular o fato de que o peso excessivo ao nascer pode estar relacionado
ao desenvolvimento de obesidade e suas comorbidades na vida adulta. Um corte realizada nos
EUA demonstrou que adolescentes nascidos com 1kg a mais em relação ao peso considerado
normal apresentam 50% a mais de chances de serem obesos. O excesso de nutrientes,
principalmente a glicose, circulantes na mulher obesa ou diabética durante a gestação levam a
maior produção de insulina pelo feto e, se persistente, essa condição pode levar a resistência a
insulina e desenvolvimento de síndrome metabólica.

O baixo peso ao nascer, por outro lado, é um fator que, geralmente, leva as pessoas à
associação apenas com baixo peso ou desnutrição da mãe, e com menor risco de desenvolvimento
de obesidade ao longo da vida, o que as pesquisas já demonstraram ser uma inverdade.
25

Existem muitas evidências de que o baixo peso ao nascer está intimamente relacionado com a
maior deposição de gordura. Isso pode ter explicação pela chamada teoria do fenótipo poupador, que
propõe que o desenvolvimento fetal em um ambiente intrauterino malnutrido, seja ele caracterizado
pelo excesso, insuficiência ou desbalanço de nutrientes, faz com que o indivíduo apresente baixo
peso no momento do nascimento mas seja programado para poupar energia, levando a um rápido
crescimento pós-natal, recuperação do peso e favorecimento da obesidade e DCNT.

Ao contrário do que se supõe, grande parte dessas alterações transmitidas de mãe para o
filho não estão relacionadas à predisposição genética. Apenas 5 a 10% dos casos de obesidade e
doenças metabólicas estão associadas com a genética, e acredita-se que a origem dessas doenças
seja o resultado de interações complexas entre a genética e os fatores ambientais que cercam o
indivíduo, por meio de mecanismos epigenéticos.

O termo epigenética foi primeiramente utilizado e descrito pelo pesquisador Conrad


Waddington, na década de 40. A epigenética era definida como as interações dos genes
com seu ambiente que leva o fenótipo a se manifestar. Hoje, sabe-se que fatores como a
exposição a toxinas, drogas recreativas e medicamentos, os disruptores endócrinos (como o
bisfenol A, presente em plásticos), a prática de exercícios físicos, as condições metabólicas e,
principalmente, a composição da dieta estão diretamente relacionados com as mudanças no
epigenoma do indivíduo. As alterações no epigenoma acontecem por meio de mecanismos como
metilação do DNA, modificações das histonas e a expressão de RNAs não codificantes, e muitas
pesquisas demonstraram que a nutrição materna inadequada afeta diretamente diversos desses
mecanismos, impactando na saúde dos filhos ainda no ambiente intrauterino, até a vida adulta.

Dessa forma, o acompanhamento nutricional adequado durante a gestação é de extrema


importância tanto para a saúde materna quanto para a prevenção de doenças de origem
metabólica nos filhos.
26

5. AVALIAÇÃO E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS


NA GESTAÇÃO
O estado nutricional materno está relacionado à gestação saudável ou ao desenvolvimento
de complicações obstétricas, como diabetes gestacional, anemia e distúrbio hipertensivo da
gravidez, além de impactar diretamente na saúde do filho, conforme discutido na seção anterior.

A avaliação nutricional da gestante inclui a investigação de parâmetros antropométricos, bem


como avaliação alimentar, bioquímica e clínica.

5.1 Avaliação nutricional da gestante


A avaliação por meio da antropometria é o método mais acessível, rápido e não invasivo para
se avaliar o estado nutricional da gestante.

Primeiramente, calcula-se o IMC (Índice de Massa Corporal) pré-gestacional referido. De


preferência, deve-se utilizar dados de 2 meses antes da gestação, mas, caso não seja possível,
calcula-se o IMC a partir de medição realizada até a 13ª semana gestacional.

Para o cálculo da semana gestacional referida pela gestante, devemos arredondar, caso
necessário, da seguinte forma: 1, 2, 3 dias, considera-se o número de semanas completas, e 4, 5,
6 dias, considera-se a semana seguinte. Por exemplo:

gestante com 12 semanas e 2 dias: considera-se 12 semanas;

gestante com 12 semanas e 4 dias: considera-se 13 semanas.

De posse da semana gestacional correta e do IMC, é possível utilizar o quadro de classificação


de IMC para gestantes e a curva de IMC para avaliação do estado nutricional. No quadro de
classificação do IMC, deve-se identificar, na primeira coluna, a semana gestacional calculada e,
nas colunas seguintes, identificar em qual faixa está situado o IMC da gestante.
27

Figura 9 - Classificação de IMC para gestantes de acordo com a semana gestacional


Fonte: Brasil (2017)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em 5 colunas: a primeira refere-se à


semana gestacional (6 a 42); a segunda traz os valores de referência de IMC para Baixo peso;
a terceira traz os valores de referência de IMC para Peso adequado; a quarta traz os valores de
referência de IMC para Sobrepeso; e a quinta traz os valores de referência de IMC para Obesidade.
28

É importante destacar que, nesta tabela, o ponto de corte inferior para consideração de eutrofia
é de 19,8, pois ainda não havia sido atualizado para o valor considerado atualmente (de 18,5).

De acordo com o estado nutricional pré-natal, estimado pelo quadro de classificação de IMC
para gestantes e pela curva de IMC para avaliação do estado nutricional, estima-se o ganho de
peso adequado durante a gestação e o ganho de peso semanal adequado no 2º e 3º trimestres.

Figura 10 - Ganho de peso recomendado durante a gestação


Fonte: Institute of Medicine (2009)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em quatro colunas: estado nutricional
antes da gestação; IMC; ganho de peso durante a gestação (Kg); ganho de peso por semana no 2º
e 3º trimestre (Kg). Abaixo da primeira coluna, estão as linhas: baixo peso (BP); peso adequado
(A); sobrepeso (S); obesidade (O); abaixo das outras colunas, estão os valores de referência para
cada uma dessas classificações.

Nas consultas subsequentes, a avaliação do IMC deve ser realizada para o acompanhamento
da curva de ganho de peso adequado, de acordo com o estado nutricional pré-gestacional.

A aplicação de inquéritos alimentares permite investigar os hábitos alimentares da gestante


que possam prejudicar a sua saúde e a do feto. Os inquéritos mais utilizados para essa população
são: alimentação diária habitual, recordatório de 24 horas, inquérito de frequência alimentar e
inquérito por registro.

Os parâmetros bioquímicos normais diferem entre mulheres adultas não-gestantes e


gestantes, já que a gestação promove modificações fisiológicas naturalmente. Na grande maioria
das vezes, existe acompanhamento médico durante a gestação, e o médico fica responsável
pela solicitação dos exames necessários, mas o nutricionista deve avaliar os resultados antes de
planejar a orientação dietética.
29

FIQUE DE OLHO
Para conhecer mais sobre os inquéritos alimentares mais utilizados com as gestantes,
as aplicações, vantagens e desvantagens de cada um, leia o capítulo 11 (Avaliação
Nutricional da Gestante), p. 95 de Vitolo (2015).

5.2 Recomendações nutricionais na gestação


Na gestação, existe um aumento das recomendações diárias da maioria dos nutrientes, devido
aos ajustes fisiológicos desta fase. A partir da avaliação nutricional, o nutricionista deve adequar
as recomendações, a fim de garantir o aporte adequado de nutrientes para a manutenção da
saúde da gestante e desenvolvimento saudável do feto.

Para o cálculo das necessidades energéticas, existem 2 métodos que são mais frequentemente
utilizados:

• Recomendação baseada na RDA – 1989

Para utilização desse método, calcula-se o GET, considerando-se o peso pré-gestacional e, a

FIQUE DE OLHO
Para conhecer mais métodos de estimativa de valor energético recomendado para
gestantes, como o valor recomendado baseado da curva de IMC e o valor recomendado
baseado nas DRIs, leia o capítulo 12 (Recomendações Nutricionais para Gestantes), p.
99 de Vitolo (2015).
30

partir do segundo trimestre, acrescenta-se 300kcal/dia.

GET = Taxa de metabolismo basal (TMB) x Fator atividade física (FA)

GET a partir do segundo trimestre gestacional = GET (pré-gestacional) + 300kcal

• Recomendação baseada no cálculo simplificado do valor energético

Para utilização desse método, multiplica-se o valor energético recomendado para mulheres
adultas (36kcal/kg) pelo peso ideal pré-gestacional.

O peso ideal pré-gestacional é determinado por regra de três, de acordo com o IMC. Em
seguida, o peso ideal é multiplicado por 36kcal (no caso de mulheres adultas), ou seja:

VET (valor energético total) = peso ideal x 36

A partir do segundo trimestre, adiciona-se 300kcal/dia ao VET.

FIQUE DE OLHO
Para consultar a tabela de recomendações nutricionais de micronutrientes para gestante
e conhecer mais sobre a importância de cada micronutriente para o período gestacional,
leia as referências a seguir: Accioly et al. (2009, p. 151) e Vitolo (2015, p.100).

Em relação aos macronutrientes, recomenda-se, para gestantes:

• proteínas: deve-se haver aumento da ingestão proteica durante a gestação, em razão do


crescimento fetal, da expansão acelerada do volume sanguíneo e do aumento dos anexos
fetais. Recomenda-se 60g/dia de proteínas para gestantes, sendo que 50%, pelo menos,
devem ser de proteínas de alto valor biológico;

• lipídios: a ingestão de lipídios vai depender do requerimento de energia para o ganho


de peso adequado, que se baseia em um percentual de 20% a 35% em relação ao valor
energético total. Dentro do valor total de lipídios, 13g devem ser provenientes de ácidos
graxos ω-6, e 1,4 g de ácido graxo ω-3;

• carboidratos: para mulheres gestantes, recomenda-se de 45 a 65% das calorias totais


provenientes de carboidratos, ou 175 g/dia.
31

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer as definições e terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-


infantil;

• aprofundar os conhecimentos sobre os aspectos relacionados aos ajustes fisiológicos


e riscos para a saúde da mulher, durante o período gestacional;

• compreender a relação entre a nutrição e os eventos ocorridos durante a gestação,


como os fatores de risco e proteção ao sucesso reprodutivo e as condições
metabólicas pré-gestacionais e o consumo de macro e micronutrientes relacionadas
aos desfechos gestacionais;

• familiarizar-se com o conceito de programação metabólica e os motivos pelos quais a


nutrição adequada é essencial nos primeiros mil dias de vida;

• aprender sobre as particularidades da avaliação e das recomendações nutricionais


para a gestante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E. et al. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2009.

BLACK, M. M. et al. Advancing Early Childhood Development: from Science to Scale 1.


Early childhood development coming of age: science through the life course. The Lancet,
v. 389, ed. 10064, p. 77-90, 2016. Disponível em: sciencedirect.com/science/article/pii/
S0140673616313897?via%3Dihub. Acesso em: 5 fev. 2020.

BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Alei-


tamento materno e Alimentação Complementar. Cadernos de Atenção Básica, 2015.
Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_mater-
no_cab23.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. IMC para gestantes. 2017. Disponível em: http://www.
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FERNANDES, B. S. et al. Cartilha de Orientação Nutricional Infantil. Departamento de Pe-


diatria - UFMG, 2013. Disponível em: http://ftp.medicina.ufmg.br/observaped/cartilhas/
Cartilha_Orientacao_Nutricional_12_03_13.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

GOVERNO DO ESTADO (Ceará). Secretaria da Educação. Nutrição materno-infantil. Curso


técnico em Nutrição e Dietética, 2013. Disponível em: https://efivest.com.br/wpcontent/
uploads/2017/12/nutricao_e_dietetica_nutricao_materno_infantil.pdf. Acesso em: 30
jan. 2020.

HALES, CN; BARKER, DJ. Type 2 (non-insulin-dependent) diabetes mellitus: the thrifty
phenotype hypothesis. Diabetologia, 1992 Jul; 35(7):595-601. Disponível em: ncbi.nlm.
nih.gov/pubmed/1644236. Acesso em: 30 jan. 2020.

_______. The thrifty phenotype hypothesis revisited. Diabetologia. 2012 Aug;


55(8):2085-8. Disponivel em: ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22643933. Acesso em: 09 mar.
2020.

LOCHE, E; OZANNE, SE. Non-Genetic Transmission of Obesity - It’s in Your Epigenes.


Trends in Endocrinology & Metabolism. Volume 27, Issue 6, P349-350, June 01, 2016.
Disponível em: dx.doi.org/10.1016/j.tem.2016.04.003. Acesso em: 30 jan. 2020.

MIWA, M. T. Nutrição e dietoterapia obstétrica e pediátrica. Londrina: Editora e Distribui-


dora Educacional S.A., 2018. 208 p.

SENADO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Gestão de Pessoas. Orientações Nutricionais: da


gestação à primeira infância. 2015. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institu-
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meira-infancia. Acesso em: 30 jan. 2020.

SIMINO, L. A. de P. Modulação de Let-7 hepático e os efeitos na homeostasia energética


em prole programada pela obesidade materna. 2020. Tese (Doutorado em Ciências da
Nutrição e do Esporte e Metabolismo) - Faculdade de Ciência Aplicadas, Universidade
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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63, p. 186-194, 2010. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/
PMC3255478/pdf/nihms-298824.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

TEIXEIRA, D. et al. Alimentação e nutrição na gravidez. Programa nacional para a promo-


ção da alimentação saudável, Lisboa, Portugal, 2015.

VITOLO, M. R. (org.). Nutrição da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro:


Rubio, 2015. 568 p.

UNICEF (Brasil). Desenvolvimento infantil. 2017. Disponível em: https://www.unicef.org/


brazil/desenvolvimento-infantil. Acesso em: 5 fev. 2020.
UNIDADE 2
Nutrição na gestação
Introdução
Você está na unidade Nutrição na gestação. Conheça aqui as principais funções da nutrição
no período de gestação. Nos aprofundaremos em guias alimentares que auxiliam nas
escolhas alimentares da gestante, nas bases para uma dieta saudável e em avaliações de
consumo alimentar fundamentadas tanto em quantidade de alimentos ingeridos, quanto
na qualidade destes alimentos.Entenderemos ainda como funcionam as metodologias
aplicadas ao atendimento nutricional de gestantes de baixo risco, na fase pré-natal, e as
possíveis intervenções do nutricionista junto a estas pacientes, garantindo assim nutrição
adequada tanto para a gestante como para o bebê.

Bons estudos!
37

1. GUIA ALIMENTAR PARA A GESTAÇÃO


A nutrição é importante em todas as fases da vida, mas cada uma delas traz questões
específicas que podem garantir mais saúde ao indivíduo (MAHAN, 2013). Para compreender
melhor as necessidades alimentares durante a gestação, faremos uma incursão em guias
alimentares e na literatura específica sobre gestação, buscando conhecer as diretrizes de uma
alimentação saudável que podem ser aplicadas a gestantes. Para iniciar, analisaremos a função
dos guias alimentares, sua composição em termos de conteúdo e qual a melhor maneira de
trabalhar as informações ali contidas juntos aos pacientes.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

1.1 Função dos guias alimentares


Os guias alimentares são considerados instrumentos de apoio nas ações de educação
alimentar e nutricional, praticadas por profissionais de saúde (BRASIL, 2014), dentre eles o
nutricionista. Através destes documentos, preferencialmente elaborados por órgãos públicos
como o Ministério da Saúde, são dadas as diretrizes, ou seja, os fundamentos para a obtenção
de uma alimentação saudável. A principal função de um guia alimentar é orientar o consumo,
portanto, ele traz consigo uma série de informações que serão úteis aos comensais em suas
escolhas alimentares cotidianas.

Um dos compromissos dos guias alimentares é o de refletir a realidade vivida pela população
a que se destina, sendo assim, terá como base os alimentos mais consumidos por aquela
população em questões de cultura alimentar, além disso levará em conta em sua formulação
a linguagem popular, bem como as formas de consumo que são comuns entre as pessoas às
quais é destinado (BRASIL, 2014). Outra questão importante sobre os guias alimentares é que
as informações ali contidas contribuam para a saúde da população, sejam claras em relação ao
seu conteúdo e que possam ser facilmente executadas, sendo incorporadas de maneira possível
38

no dia a dia do público alvo. Considerar outras questões que vão além do ato de comer, como o
plantio, comercialização, preparo, custos, por exemplo, também é uma preocupação que deve
estar presente na formulação destes documentos.

Deste modo, percebemos a importância de que as informações contidas em um guia alimentar


possam auxiliar os pacientes na promoção da saúde, sejam acessíveis e que tenham como foco
principal a população a que se destinam, e quando necessário sejam adaptadas às necessidades
de situações específicas, como é o caso das gestantes.

1.2 Guias alimentares na gestação


No caso das gestantes, o guia alimentar deve levar em consideração as alterações pelas quais o corpo
passa durante este período. As orientações nutricionais neste período devem ser baseadas tanto no
Guia Alimentar para a população brasileira, quanto em outros documentos norteadores do Ministério
da Saúde. Eles podem ser elaborados junto ao setor responsável pelo atendimento de saúde destas
pacientes, com orientações individualizadas que visem a favorecer a alimentação saudável na gestação,
mas também podem ser trabalhadas em grupos de gestantes nas unidades básicas de saúde.

O Guia Alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014), por exemplo, traz informações
gerais sobre alimentação e nutrição que auxiliam na busca por uma alimentação saudável,
neste sentido, pode ser seguido por gestantes saudáveis. Já o Guia da Rede Cegonha (BRASIL,
2013b; 2013d) traz informações focadas em gestantes especificamente, sendo estes materiais
complementares.

Figura 1 - Alimentação na Gestação


Fonte: SERGE GORENKO, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em 2 colunas (Passos e Orientações). A


coluna Passos contém os números de 1 a 10 (um em cada linha), e a coluna Orientações contém
as orientações referentes a cada um dos dez passos.
39

1.3 Aplicabilidade dos guias junto aos pacientes


Agora vamos conhecer outros orientadores de consumo alimentar e nos aprofundar nos já citados.
Conhecidos como Guias Alimentares, estes documentos podem ser utilizados nas recomendações
nutricionais para gestantes, mesmo guias que não são destinados exclusivamente para esta população.

Um exemplo de guia, publicado em 2013, é o Manual Instrutivo das ações de alimentação e


nutrição na Rede Cegonha (BRASIL, 2013b), ele é destinado à população de gestantes atendidas
na rede pública de saúde. Ele traz informações sobre a Vigilância Nutricional, programa
de acompanhamento do estado nutricional do Ministério da Saúde, estratégias de apoio a
amamentação, suplementações de ferro e vitamina A, outros programas auxiliares que podem
contribuir para a saúde da gestante, além de material de consulta e referências pertinentes.

Este informativo, destinado a profissionais de saúde, pode auxiliar entre outros, aos
nutricionistas na atenção primária. Um dos principais intuitos desta padronização no atendimento
é a diminuição da mortalidade materno-infantil, através da promoção de saúde. A recomendação
do Ministério da Saúde é que o atendimento seja realizado por equipe multiprofissional, na qual
poderão fazer parte médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, agentes de
saúde, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. As fases do atendimento são:

• pré-natal;

• parto e nascimento;

• puerpério (período pós-parto); e

• atenção à saúde da criança.

As ações propostas no material estão baseadas nas diretrizes do atendimento primário em saúde
do SUS (Sistema Único de Saúde) e na PNAN (Política Nacional de Alimentação e Nutrição), além e
recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). O público alvo são as gestantes, mulheres
no puerpério e crianças até 2 anos. As orientações vão de acordo com as bases da SAN (Segurança
Alimentar e Nutricional) e o Marco de Educação Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2012b), prevendo uma
alimentação saudável e adequada, que promova uma gravidez saudável, estímulo à amamentação/
aleitamento materno e saúde da criança, através de um desenvolvimento e crescimento adequados.

Já o Guia Alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014) traz o enfoque de uma
alimentação saudável para a população em geral, exceto as crianças menores de 2 anos, que
têm um guia específico. Nele são dadas diretrizes para uma alimentação adequada, e gestantes
sem agravos de saúde, podem segui-lo sem restrições. Neste sentido, o acompanhamento de um
profissional de saúde poderá ajustar as recomendações contidas nesse Guia para as gestantes.
Um dos orientadores do Guia, que também segue as recomendações da OMS, é conhecido
40

como 10 PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL (BRASIL, 2013a). E as recomendações de


alimentação e nutrição da gestante devem levar em consideração este documento.

Figura 2 - 10 Passos para uma alimentação saudável


Fonte: Brasil (2014)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em 2 colunas (Passos e Orientações). A


coluna Passos contém os números de 1 a 10 (um em cada linha), e a coluna Orientações contém
as orientações referentes a cada um dos dez passos.

Estas dicas de alimentação podem ser aplicadas para gestantes saudáveis, pois se aplicam a
toda a população brasileira e, como vimos, suas orientações são simples e de fácil compreensão,
base para uma informação acessível. Estas orientações não dispensam a avaliação individualizada
das gestantes na atenção primária, seja por nutricionista ou outro profissional de saúde capacitado.

FIQUE DE OLHO
Cabe ao nutricionista conhecer o Guia Alimentar para população brasileira. Este
documento oficial poderá facilitar o atendimento de gestantes e a elaboração de planos
alimentares para manutenção da saúde. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>
41

1.4 Alimentos, porções, preparações e refeições recomendados


Em estados de gravidez sem complicações de saúde, a alimentação materna segue os mesmos
padrões da alimentação habitual da mulher. Questões como bom aporte de ferro, vitamina A e
ácido fólico devem ser observadas e acompanhadas pela equipe de saúde, seguindo as diretrizes
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013c). A nutrição neste período deve suprir as
necessidades calóricas e de nutrientes para satisfazer tanto as demandas da mãe quanto do bebê.

Segundo Mahan et al. (2013) a suplementação para garantia de uma condição nutricional
adequada, inclusive em períodos pré-gestacionais, em algumas políticas públicas de
suplementação tem como foco a gestação. Porém estudos comprovam que são mais bem
sucedidas suplementações de multinutrientes do que apenas alguns poucos nutrientes. Sendo
que a suplementação necessita de avaliação do estado nutricional, seguindo a ordem de quanto
mais desnutrida for a gestante, maior será a necessidade de suplementação.

Outra questão inerente à gestação é evitar desconfortos comuns à condição, como dificuldade no
esvaziamento gástrico, náuseas, azia, quedas de pressão e desmaios, e neste sentido a alimentação pode
contribuir positivamente. As recomendações de hidratação seguem as mesmas da população em geral,
com uma média de 2 litros de água por dia, sempre nos intervalos das refeições. Ainda se preconiza
refeições fracionadas, que mantenham a paciente alimentada e satisfeita, facilitem a digestão, diminuam
as náuseas e possam garantir uma nutrição adequada. Uma boa avaliação nutricional da gestante poderá
garantir que sejam supridas todas as necessidades para uma gravidez adequada

Figura 3 - Porções e quantidades de alimentos


Fonte: WAVEBREAKMEDIA, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra pequenas porções de amêndoas, feijões, ervilhas, brócolis,


morangos, rodelas de laranja, framboesa, nozes, milho, castanhas, amendoim, farinhas, uvas.

1.5 Dez passos para alimentação saudável na gestação


Foi criado um informativo para gestantes, baseado no programa Rede Cegonha, pelo
Ministério da Saúde, com o título: “Alimentação Saudável para Gestantes – Siga os 10 passos”. Em
42

resumo, este orientador traz as seguintes informações (BRASIL, 2013a):

realize três refeições e dois lanches saudáveis – evitando ficar mais de 3h sem comer e
ingerindo líquidos nos intervalos das refeições (ao menos 2 litros), evitando bebidas açucaradas.
Pular refeições não é adequado, pois se alimentando corretamente seu estômago não ficará
vazio por muito tempo, evitando algumas sensações típicas da gravidez como náuseas, vômitos,
fraquezas e desmaios. Esta ação também promove outros benefícios como controle do ganho de
peso, da azia e de consumo de alimentos em grandes quantidades;

inclua cereais, de preferência integrais, sendo seis porções destes alimentos, fonte de energia,
fibras, vitaminas e minerais. Dando preferência à forma natural dos alimentos, ou seja, sem
grandes processamentos. Distribua essas fontes de carboidratos durante todas as refeições. E,
caso seja uma adolescente grávida, sua quantidade de consumo deverá ser aumentada, já que,
além do crescimento do bebê, você deverá garantir seu próprio crescimento nesta fase;

consuma três porções de legumes e verduras e três porções de frutas, no mínimo, durantes
as refeições. Você poderá distribuir entre as grandes refeições e os lanches. Um prato colorido
é um prato saudável, fornece fibras, vitaminas e minerais, além de contribuir com quantidades
significativas de água em alguns casos. Observar as condições de higiene e lavagem destes
alimentos garante uma qualidade ainda maior de consumo;

coma o prato típico brasileiro de arroz e feijão, ao menos uma vez ao dia. Esta combinação
garante boas doses de carboidratos complexos, fibras e proteínas, além de vitaminas e minerais.
Uma parte de feijão para duas partes de arroz é a combinação perfeita, mas cuidado com o
preparo destes alimentos. Evite a inclusão de muito sal, gordura ou outros componentes como
carnes gordas e linguiças que possam interferir na qualidade desta combinação;

consuma uma porção de carne ou ovos e três porções de leite e derivados. O leite e seus
derivados são uma boa fonte de cálcio, fundamental na gestação. E as carnes de proteínas, que
é outro nutriente bastante importante neste período. Cuidado ao escolher as carnes, leite e
derivados, pois muitos podem ter altos índices de gorduras e sódio. Cálcio e Ferro são nutrientes
que competem entre si na absorção, procure evitar consumir fontes destes dois nutrientes nas
mesmas refeições. Por exemplo: se seu almoço tiver carne, prefira leite ou iogurte numa próxima
refeição, como o lanche da tarde. Achocolatados e café também interferem na absorção de cálcio,
por isso devem ser evitados. No caso de uma alimentação sem carne, vegetariana ou vegana,
consulte um nutricionista ou profissional de saúde para maiores informações;

consuma pouca gordura, sendo uma porção diária de óleos vegetais, azeite, manteiga. Prefira
aqueles que, em sua rotulagem se apresentam sem gorduras trans. Evite alimentos gordurosos,
principalmente aqueles que passaram por industrialização, com adição de grandes porções de
gorduras e sódio. Buscar informações sobre os alimentos nos rótulos é sempre uma boa maneira
43

de escolher os alimentos mais saudáveis. Lembrando que alimentos gordurosos tendem a


aumentar e sensação de náuseas;

evite alimentos industrializados, como refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos recheados


e guloseimas. Estes alimentos aumentam os riscos de obesidade, doenças associadas e ainda
fornecem uma grande quantidade de calorias e poucos nutrientes, além do excesso de açúcar ser
apontado como um fator de favorecimento das cáries dentárias. Em caso de diabetes gestacional
ou gestantes que já apresentem diabetes, deve ser consultado um profissional para o manejo do
uso de adoçantes artificiais;

diminua o consumo de sal. Ele pode estar presente em diversos alimentos, sendo fácil
ultrapassar as recomendações diárias de consumo. Retirar o saleiro da mesa e evitar a adição de
sal após o alimento pronto são aneiras de reduzir o consumo. Alimentos industrializados também
podem apresentar grandes teores de sódio, sendo a redução do consumo destes uma boa opção.
Complicações na gestação relacionadas ao aumento da pressão arterial são comuns, e a redução
do sódio pode ser um fator protetor. O sal pode se apresentar em rótulos como sal, sódio e
cloreto de sódio;

consuma alimentos fonte de ferro, eles evitam a anemia, mantendo a gravidez saudável. A
anemia na gestação está relacionada a casos de morte tanto materna, quanto fetal, baixo peso
ao nascer e partos prematuros, devendo ser prevenida. Alimentos fonte de ferro são carnes,
vísceras, feijões e alguns grãos, folhas verde-escuras e castanhas. O consumo de alimentos fontes
de vitamina C favorece a absorção e biodisponibilidade do ferro, sendo favorável o consumo
destes nutrientes combinados em uma mesma refeição. Por exemplo: temperar uma salada de
folhas verdes com limão é uma boa dica. O ferro de origem animal é melhor absorvido do que
o de origem vegetal, por isso, em dietas com restrição de proteínas de origem animal, deve-
se procurar um profissional de saúde que possa orientar o consumo e suplementação de ferro.
Lembrando que, de acordo com as políticas de saúde vigentes, gestantes entre 20 semanas
até 3 meses pós-parto receberão suplementação de ferro, via postos de saúde, bem como
suplementação de ácido fólico;

mantenha seu ganho de peso dentro do recomendado. O acompanhamento pré-natal tanto


por profissionais de saúde, quanto por nutricionista pode auxiliar na manutenção do ganho de
peso adequado na gestação. Os ganhos podem variar entre 18kg a 5kg entre gestantes baixo peso,
eutrófica, com sobrepeso ou obesidade, durante toda a gestação, e deve ser distribuído durante
todo o período. As dicas de alimentação deste guia e outras recomendações de profissionais
de saúde podem ajudar as pacientes a atingir este objetivo. Os riscos de diabetes gestacional,
hipertensão, entre outros estados de saúde não desejáveis podem ser prevenidos através de uma
alimentação saudável, atividade física e acompanhamento de saúde.

Pudemos perceber que as dicas do orientador alimentar para a gestação trazem informações
44

simples e do cotidiano da alimentação das gestantes brasileiras, com foco nos principais nutrientes
e na hidratação, com a intenção de prevenir doenças, através de uma alimentação adequada. Para
aprimorar as orientações que serão ministradas às gestantes, podemos fazer um cruzamento de
informações entre este guia, que foi lançado em 2013, e o Guia Alimentar de 2014, atualizando
assim as dicas que serão repassadas às pacientes.

FIQUE DE OLHO
Conhecer os documentos norteadores para o atendimento nutricional é uma boa
ferramenta na atenção primária. Um bom conhecimento de todos os documentos
disponíveis permite ao profissional um sucesso maior na adaptação dos conteúdos diversos
ao planejamento alimentar de seu paciente. Para pacientes gestantes, é importante
consultar sempre o guia da Rede Cegonha para informações sobre atendimento específico
para esse público. este documentos está disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/manual_alimentacao_nutricao_rede_cegonha.pdf>.

2. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTANTE E


SITUAÇÕES INCOMUNS
Segundo Acioly et al. (2009), há fortes correlações entre o estado nutricional das gestantes
e o resultado da gestação, com reflexos inclusive no bebê. Sendo assim, é importante saber
quais as necessidades nutricionais da gestante e fornecer informações e orientações precisas
para este público, em seu acompanhamento pré-natal, independente do momento em que este
atendimento se inicia (BRASIL, 2012a). Lembrando que, quanto mais cedo ocorrer o início do
atendimento, melhores os resultados na saúde da gestante.

As deficiências de nutrientes como ferro, ácido fólico e vitamina A podem causar deformidades
no feto, prejudicar sua formação e desenvolvimento (VITOLO, 2008). O baixo peso da gestante no
inicio da gestação, baixo ganho de peso, bem como sobrepeso e obesidade também são fatores
que influenciam na saúde, tanto da gestante, quanto do bebê (ACIOLY et al., 2009). Podendo
influenciar inclusive em nascimentos de pré-maturos (KRAUSE, 2013).

Situações alimentares não comuns podem ocorrer na gestação, conhecida como Pica, caso
em que as gestantes relatam a necessidade de ingerir substancias não alimentícias, como gomas
de passar roupa, tijolos, cimento ou cal, por exemplo (VITOLO, 2008). Esta condição também é
conhecida como Malácia ou Alotriofagia, e pode ocorrer fora da gestação, sendo mais comum
45

durante a gravidez. Pode ser oriunda da falta de nutrientes ou ainda de foro psicológico, sendo
necessário o acompanhamento de médicos, nutricionistas e psicólogos ou psiquiatras.

Ela não deve ser confundida com a vontade de comer ou desejo de determinado alimentos
que ocorre na gestação, bastante relatado em senso comum. Este processo se dá pela alteração
de hormônios que ocorrem na gestação, que afetam a sensação de apetite e saciedade, bem
como podem aumentar o olfato, gustação e causar sensações de aversão a alguns alimentos e
vontade incontrolável de outros. As relações com a alimentação se alteram de gestante para
gestante, necessitando, tanto paciente, quanto profissionais de saúde estarem atentos às rotinas
de alimentação.

Devemos ainda acompanhar o ganho de peso das gestantes, como ponto fundamental
do atendimento relacionado a nutrição, sendo orientado pelo Ministério da Saúde um ganho
recomendado de:

(i) as gestantes que iniciaram a gravidez com baixo peso ganhem entre 12,5kg e 18kg; (ii) as que
iniciaram a gravidez com peso normal ganhem entre 11,5kg e 16kg; (iii) as que iniciaram a gravidez com
sobrepeso ganhem entre 7kg e 11,5kg; e (iv) as que iniciaram a gravidez com obesidade ganhem entre
5kg e 9kg durante todo o período gestacional (BRASIL, 2012a, p. 88).

2.1 A dieta saudável na gestação


Ao contrário do que diz o senso comum, uma gestante não deve comer por dois. As
necessidades nutricionais não se alteram em grandes proporções, sendo recomendado atenção
especial à quantidade de calorias, ferro, vitamina A e B12 e ácido fólico, nutrientes essenciais
nesta fase. Proteínas, Cálcio e outros micronutrientes também são importantes durante este
período, mas não sofrem alteração tão drásticas e não geram distúrbios de saúde comuns na
gestação.

Como visto anteriormente, seguir as recomendações do Guia Alimentar do Ministério da


Saúde (BRASIL, 2014) também pode contribuir para uma alimentação adequada e saudável na
gestação. Fracionar as refeições, evitando consumir grandes quantidades de alimentos numa
mesma refeição, não deitar logo após a alimentação e observar a hidratação, preferencialmente
nos intervalos das refeições, são dicas importantes para o manejo alimentar das gestantes.

Segundo Mahan et al. (2013, p. 732), seis passos podem resumir os cuidados nutricionais na gestação:

1. ingestão de energia que atenda às necessidades nutricionais e permita um ganho de peso de


aproximadamente 0,4 kg por semana; durante as últimas 30 semanas de gestação;

2. ingestão de proteínas que atenda às necessidades nutricionais, um adicional de


aproximadamente 25 g/dia; adicional de 25 g/dia/feto, se houver mais de um; 20% de ingestão de
energia a partir das proteínas;
46

3. ingestão de sal iodado que não exceda nem seja menor que 2-3 g/dia;

4. ingestão de minerais e vitaminas que atendam às ingestões diárias recomendadas


(suplementação de ácido fólico e, possivelmente, de ferro necessária);

5. álcool omitido;

6. omitir toxinas e substâncias não nutritivas dos alimentos, da água e do ambiente o máximo
possível.

Em seguida, veremos quais são as recomendações nutricionais para suprir as necessidades das
gestantes, de acordo com a faixa etária. Conhecer estas recomendações trará grandes benefícios
ao nutricionista na prescrição dietética, elaboração de orientações e planos alimentares e no
acompanhamento do estado nutricional no período da gestação.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

2.2 Recomendações nutricionais


Cabe ao nutricionista conhecer quais são as recomendações dos principais nutrientes que
influenciam o metabolismo humano, fator importante tanto na prescrição dietética quanto na
elaboração de planos alimentares, ou ainda nas orientações nutricionais para grupos ou indivíduos
na atenção básica. Vamos conhecer as recomendações nutricionais, baseadas no Institute of
Medicine (USA), na forma IDR (Ingestão Dietética de Referência) para gestantes.
47

Figura 4 - Recomendações Nutricionais de macro e micronutrientes para gestantes


Fonte: Adaptado de Acioly et al. (2009) e Mahan et al. (2013)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro onde é possível ler IDR para Gestantes no topo.
abaixo disso, o quadro se divide em duas colunas: Nutriente e Recomendação. Abaixo da coluna
nutriente, as linhas expressam os principais macro e micro nutrientes relevantes para a gestação
e, abaixo da coluna recomendação, estão as linhas com suas respectivas quantidades.

Em relação aos micronutrientes, cabe ressaltar que Ferro, vitamina B12 e ácido fólico
representam papel fundamental no desenvolvimento de anemia ferropriva, sendo primordiais
em avaliação e, se necessário, suplementação para uma gravidez saudável. Quanto a
macronutrientes, o aumento da TMB (Taxa Metabólica Basal) de gestantes ocorre, de acordo com
o informado na tabela acima, para suprir as necessidades energética fetais, para seu crescimento,
desenvolvimento e gasto calórico, esta mudança tem seu auge a partir do 3º mês de gestação.
48

Ainda segundo Acioly et al. (2009), são medidas de prevenção da anemia ferropriva durante a
gestação:

· ingestão de carnes em pelo menos 2 refeições diárias; consumo de frutas com grandes
aportes de vitamina C, como caju, abacaxi, laranja, maracujá e goiaba; estímulo ao consumo de feijões
e outras leguminosas; presença de vegetais verde-escuros e alimentos fortificados com ferro;

· devem ser desestimulados hábitos como o consumo de produtos lácteos (leite e derivados) junto
às grandes refeições; presença de aveia e cereais integrais em almoço ou jantar; consumo de refrigerantes,
mate, chás que contenham cafeína e café junto a refeições de maior volume (almoço e jantar).

2.3 Adesão a uma dieta saudável na gestação


A adesão a um programa alimentar saudável durante a gestação tem se demonstrado, através
de diversos estudos de saúde materna e fetal, como um diferencial na qualidade de vida tanto de
gestantes, quanto de seus bebês. Deficiências nutricionais estão relacionadas a más-formações,
baixo peso ao nascer, aumento na pressão arterial e eclampsia, diabetes gestacional, anemia
ferropriva, parto prematuro, entre outras complicações (VITOLO, 2008).

Acompanhamento e elaboração de um plano alimentar que possa garantir uma alimentação


adequada e saudável durante a gestação fazem parte do atendimento nutricional na saúde
primária, ou seja, durante o período pré-natal. A seguir, veremos estratégias de ação para realizar
avaliação antropométrica, o consumo de alimentos e a elaboração de um plano alimentar na
gestação que seja possível de ser cumprido pelas pacientes em questão.

Lembrando que este processo pode ocorrer tanto na rede pública de atendimento, através
dos postos de saúde e programas de saúde da mulher, gestante e família, quanto pode ocorrer
dentro da rede privada de atendimento, em hospitais, clinicas e consultórios. Bem como poderá
acontecer em atendimento individual ou em grupo. Os principais passos para elaboração de um
atendimento global passam por recepção humanizada das pacientes, processo de escuta das
necessidades e anseios, avaliação antropométrica, avaliação bioquímica, avaliação dietética,
diagnóstico e elaboração do plano de ação nutricional.

3. COMO AVALIAR O CONSUMO ALIMENTAR DE


GESTANTES:AVALIAÇÃOQUANTITATIVAEQUALITATIVA
Os métodos mais utilizados na avaliação do consumo alimentar de pacientes, tanto gestantes
quanto não gestantes, em populações saudáveis e enfermas são: recordatório de 24 horas e
frequência de consumo. Estes dois métodos podem ser utilizados de maneira isolada ou ainda
em combinação, e realizam uma avaliação tanto quantitativa, quanto qualitativa do consumo de
alimentos de um indivíduo.
49

O esclarecimento, ao paciente, de como funcionam estes questionários, preenchimento de


um piloto simulado durante a consulta como exemplificação e a retirada de todas as dúvidas
relacionadas ao preenchimento poderão trazer informações mais acertadas em relação ao
consumo de alimentos, sendo que a partir destas informações será traçada a estratégia de
atendimento nutricional destas pacientes.

3.1 Avaliação nutricional


A partir destes questionários de consumo será possível verificar quais são as ingestões
de alimentos relacionadas a calorias, nutrientes e grupos alimentares. Com o resultado desta
avaliação dos questionários, é possível avaliar, juntamente com os exames bioquímicos, se
existem excessos no consumo de alguns nutrientes e falta de outros, sendo possível traçar o plano
alimentar desta paciente, de acordo com a avaliação antropométrica, que nos trará informações
como peso, altura e pregas cutâneas, e, em alguns casos, bioimpedância (avaliação das taxas de
gordura corporal), sendo então calculadas as necessidades nutricionais diárias de cada paciente,
dentre elas o valor calórico diário, por exemplo, seguido pelo ganho de peso estimado na gestação
durante as 40 semanas.

Para ajustes de plano alimentar, prescrição dietética e acompanhamento do estado nutricional


da gestante, importa saber qual o valor de calorias diário que deverá ser consumido. O cálculo de
VET e GE (gasto energético) das gestantes pode ser obtido através das seguintes fórmulas:

VET = GE + ADICIONAL ENERGÉTICO GESTACIONAL

GE = TMB x fa*

*Fator atividade física

Figura 5 - Fator atividade física


Fonte: Revista O2 (2006)

#ParaCegoVer: a imagem traz uma tabela do fator de atividade física de homens e mulheres
para atividades físicas leves, moderadas e intensas.
50

3.2 Avaliação quantitativa


Esta avaliação tem como objetivo verificar as quantidades de alimentos, tanto em termos de
nutrientes, quanto de grupos alimentares consumidas por um paciente. Conforme mencionamos
no tópico Avaliação Nutricional, esta investigação pode ser feita através de diferentes métodos,
sendo o mais quantitativo descrito abaixo:

Recordatório 24 horas: questionário no qual são anotados todos os alimentos consumidos


pelo paciente nas últimas 24 horas anteriores ao atendimento nutricional. Ele pode ser feito em
período anterior às 24 horas que antecedem a consulta, mas normalmente reflete o consumo
de um dia inteiro de alimentação, constando todas as refeições (café da manhã ou desjejum,
almoço, lanches e jantar). Mesmo alimentos que não refletem uma refeição ou lanches deverão
ser anotados, bem como as quantidades consumidas, como balas, sucos, frutas, entre outros.
Os consumos hídricos que não estejam relacionados a refeições ou lanches também deverão ser
devidamente registrados.

3.3 Avaliação qualitativa


Um dos métodos de investigação qualitativa de alimentação, desenvolvido no decorrer dos
anos, foi o questionário de frequência de consumo alimentar, também conhecido como QFA
(questionário de frequência alimentar). Abaixo veremos a descrição deste método:

Frequência de Consumo: conhecido como um registro qualitativo de consumo alimentar,


pode ser tratado como semi-qualitativo ou ainda, quantitativo, de acordo com a avaliação que é
feita dos dados coletados. Ele permite obtenção de informações a respeito do consumo alimentar
de alimentos e nutrientes, sua frequência e quantidades consumidas. Este questionário consiste
basicamente do preenchimento de uma lista de alimentos ou nutrientes (carboidratos por
exemplo) e a frequência em que consome este alimento/nutriente. A marcação pode ser diária,
semanal ou mensal.

Tanto nos métodos quantitativos, quanto nos qualitativos cabe ao profissional receptor dos
dados, neste caso o nutricionista, avaliar e compilar as informações recebidas, de modo que elas
possam contribuir para as orientações, planos alimentares ou possíveis prescrições dietéticas que
possam dar sequência no atendimento em saúde.

Outros métodos de verificação do consumo alimentar podem ser utilizados, porém não são
tão comuns quanto os referidos acima. São eles: registro ou diário alimentar, história dietética e
inventário alimentar. Todos têm em comum o fato de registrarem longos períodos de consumo,
mas apresentam como fragilidade o fato de ficarem sujeitos à rotina dos pacientes e à memória
dos mesmos.
51

4. METODOLOGIA DE ATENÇÃO NUTRICIONAL EM PRÉ-


NATAL DE BAIXO RISCO: COMO SE FAZ UMA CONSULTA
DE NUTRICIONISTA DIRIGIDA A GESTANTES?
O Ministério da Saúde, como órgão máximo de gestão de saúde pública brasileiro, define as
diretrizes do atendimento primário. Este atendimento primário consiste nas consultas realizadas
em programas desenvolvidos em postos e unidades básicas de saúde. Estes atendimentos podem
ser feitos de forma individualizada, como é o caso das consultas médicas, avaliações e aferições
de enfermagem, atendimento nutricional e de outras especialidades. Mas também podem ser
desenvolvidos através de ações coletivas, que visem a estimular o atendimento em grupo, como
é o caso dos grupos de gestantes atendidos nas unidades de saúde básicas.

Em seguida, nos aprofundaremos neste tipo de atendimento, com foco nos documentos
oficiais do Ministério da Saúde, voltados para o público de gestantes, para atendimento na
atenção básica de baixo risco (BRASIL, 2016). Este atendimento procura englobar o momento de
descoberta de gravidez, seu desenvolvimento no decorrer das 40 semanas, parto e período de
puerpério e saúde da mulher e criança no período pós-parto.

Segundo manual prático para implementação da Rede Cegonha – folder (BRASIL, 2013d), o
atendimento deve seguir os seguintes passos:

· Acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, ampliação do acesso e


melhoria da qualidade do pré-natal;

· Vinculação da gestante à unidade de referência para o parto, e ao transporte seguro;

· Boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento;

· Atenção à saúde das crianças de 0 a 24 meses com qualidade e resolutividade;

· Acesso às ações de planejamento reprodutivo.

Segundo Costa et al. (2005, p. 773), o atendimento a gestantes de baixo risco, no âmbito da
atenção básica segue o seguinte protocolo:

[...] o Ministério da Saúde estabelece diretrizes e princípios norteadores para o PHPN entre os
quais destaca-se o conjunto dos direitos relacionados a: universalidade do atendimento ao pré natal,
ao parto e puerpério digno e de qualidade às gestantes, acesso com visitação prévia ao local do parto,
presença do acompanhante no momento do parto e atenção humanizada e segura ao parto. Esses
direitos são ainda extensivos ao recém-nascido, em relação à adequada assistência neonatal.

Posteriormente, deverão ser seguidos os passos de avaliação nutricional preconizados pelos


52

Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde em seu nº 32:

1. Calcule a idade gestacional em semanas.

Obs.: Quando necessário, arredonde a semana gestacional da seguinte forma: 1, 2, 3 dias,


considere o número de semanas completas; e 4, 5, 6 dias, considere a semana seguinte. Exemplos:
gestante com 12 semanas e 2 dias = 12 semanas; gestante com 12 semanas e 5 dias = 13 semanas.

2. Localize, na primeira coluna da tabela 1 (presente no caderno nº 32), [...] a semana gestacional
calculada e identifique, nas colunas seguintes, em que faixa está situado o IMC da gestante.

3. Classifique o estado nutricional (EN) da gestante, segundo o IMC, por semana gestacional, da
seguinte forma:

Baixo peso: quando o valor do IMC for igual ou menor do que os valores apresentados na coluna
correspondente a baixo peso;

Adequado: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na


coluna correspondente a adequado;

Sobrepeso: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na


coluna correspondente a sobrepeso;

Obesidade: quando o valor do IMC for igual ou maior do que os valores apresentados na coluna
correspondente a obesidade. (BRASIL, 2012a, p. 74 e 75).

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

4.1 Como recepcionar a paciente


A recepção da paciente em serviço de saúde pode resultar no retorno ou sucesso no
atendimento. De acordo com as diretrizes de atendimento humanizado, baseadas na PNH
(Política Nacional de Humanização) do Ministério da Saúde, observar questões como nome da
53

paciente, respeito a sua individualidade e intimidade, cordialidade e agilidade no atendimento


podem trazer benefícios tanto para o sistema de saúde, como para própria paciente. Estes
fatores promovem maior engajamento nas consultas e maiores chances de aderência às práticas
promotoras de saúde, além da promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da
morbimortalidade materna e perinatal (BRASIL, 2012a).

Segundo o documento norteador da Rede Cegonha (BRASIL, 2013d), um atendimento


humanizado é aquele que:

Pode-se afirmar que para haver humanização deve haver: compromisso com a ambiência (bem-
estar integral em determinado ambiente), melhoria das condições de trabalho e de atendimento;
respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios,
quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.); fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional,
fomentando a transversalidade e a grupalidade (experiências coletivas significativas); apoio à construção
de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de
sujeitos; fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do
SUS; e compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de
saúde, estimulando processos de educação permanente.

É de suma importância aplicar estes conceitos a todas as pacientes em atendimento de


saúde, promovendo maior qualidade de vida e bem-estar a estes atores sociais. Na sequência,
observaremos as demais questões envolvidas no atendimento na atenção básica para gestantes
de baixo risco.

4.2 Como manter o foco nas orientações


Um atendimento de saúde, que contemple as necessidades dos pacientes e ainda observe
as questões relacionadas à realidade vivida por aquela população, tende a gerar orientações
que são factíveis, ou seja, que podem ser adaptadas às rotinas diárias dos pacientes. Em casos
de gestantes, compreender os processos fisiológicos pelos quais elas passam, suas alterações
hormonais e de humor, as ansiedades pertinentes à geração de uma vida e questões relacionadas
ao desenvolvimento da gravidez e parto pode ocasionar maior adesão às orientações dietéticas.

O apoio de toda a equipe de saúde e acompanhamento multidisciplinar também são ações


que podem trazer bons frutos neste sentido. A clareza das informações prestadas, tanto em
relação às condições de saúde, quanto em relação às orientações, bem como sugestões de
melhorias relacionadas à alimentação são certamente bons caminhos a serem seguidos.

Podemos usar como exemplo uma paciente que receba um plano alimentar com alimentos
que não fazem parte de seu cotidiano, ou ainda, que tenham alto valor, não acompanhando seu
poder aquisitivo, isto causaria estranhamento e possível abandono deste plano. Se, por outro
lado, o profissional tiver conhecimento da rotina alimentar desta paciente, investigando quais
alimentos ela costuma ingerir, qual sua rotina de alimentação diária, seu acesso aos alimentos, e o
54

plano alimentar respeitar estas condicionantes, certamente as chances de sucesso serão maiores.

4.3 Casos tardios ou desistências


Outras questões com as quais teremos que lidar, no atendimento em saúde de pacientes de
baixo risco, são os casos tardios e as desistências. Nem todas as pacientes descobrem a gravidez
no primeiro trimestre, não sendo raro relatos de casos de descoberta inclusive no momento do
parto.

Nesse sentido, é importante que possamos saber qual a abordagem mais adequada, quando
a paciente descobre a gravidez num estágio avançado da gestação. Sendo necessário iniciar as
avaliações de peso e altura, número de semanas de gestação, e possivelmente a escolha de
métodos de avaliação do consumo alimentar que não demandem tanto tempo, como pode ser o
caso de um recordatório de 24 horas.

Imaginemos que uma paciente chegue ao serviço de saúde com amenorreia (ausência de
menstruação), e seja feita a solicitação de exames de sangue. Digamos que entre o trâmite de
solicitação dos exames, coleta e resultados, e ainda marcação de nova consulta se passem 30 dias.
Se a paciente já estivesse grávida no momento da primeira consulta, e com gestação estimada em
20 semanas, a confirmação ocorreria com 24 semanas. A sequência de um plano de pré-natal não
poderia seguir o mesmo padrão de uma paciente que descobriu a gravidez na terceira semana.

Já em casos de desistência, deve ser um trabalho realizado em equipe, sendo envolvidos


recepcionistas ou atendentes da unidade de saúde e agentes de saúde, na descoberta do
motivo do abandono do pré-natal e tentativas de reestabelecer este atendimento. Mudanças
de cidade, internamentos, abortos espontâneos, ou apenas falta de motivação para permanecer
comparecendo às consultas podem ser alguns dos motivos que deverão ser investigados e
solucionados pela equipe da atenção básica.

5. COMO ORGANIZAR AS INTERVENÇÕES


NUTRICIONAIS DENTRO DE UM PRÉ-NATAL
DE BAIXO RISCO, COM ÊNFASE NO PAPEL DO
NUTRICIONISTA
Segundo as orientações do Ministério da Saúde, este tipo de atendimento, realizado em
assistência básica, tem por objetivo:

· Fomentar a implementação de um novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da


criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança
55

de zero aos 24 meses;

· Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil que garanta acesso, acolhimento e
resolutividade e;

· Reduzir a mortalidade materna e infantil (BRASIL, 2016).

As recomendações de intervenções nutricionais, neste momento, têm maior foco nos


trabalhos em grupo do que nos individuais, por questões pedagógicas do aprendizado que ocorre
nas trocas entre diversos atores sociais que trabalham em conjunto um mesmo tema.

São ações que podem surtir efeito e são preconizadas pelo Ministério da Saúde no
atendimento nutricional:

• ações de educação em saúde;

• ações de educação alimentar e nutricional e promoção da alimentação saudável e ade-


quada (de acordo com os guias alimentares).

5.1 Educação alimentar e nutricional


Segundo o Marco de EAN, documento norteador para criação de politicas públicas de
alimentação e nutrição, educação alimentar e nutricional significa:

Educação Alimentar e Nutricional, no contexto da realização do Direito Humano à Alimentação


Adequada e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, é um campo de conhecimento e de prática
contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática
autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A prática da EAN deve fazer uso de abordagens
e recursos educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos
populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações
e significados que compõem o comportamento alimentar (BRASIL, 2012b, p. 23).

Este conceito deve balizar as ações tanto do trabalho em grupo relacionado à alimentação
e nutrição das gestantes, quanto do atendimento individual, seja na avaliação do consumo
alimentar das pacientes, seja na tomada de decisões sobre a melhor estratégia de trabalho, bem
como nas orientações prestadas.

Deste modo, cabe estabelecer uma relação baseada nas recomendações do Marco de EAN,
quanto às intervenções nutricionais para gestantes de baixo risco:

escuta ativa e próxima; reconhecimento das diferentes formas de saberes e práticas; construção
partilhada de saberes, práticas e soluções; valorização do conhecimento, da cultura e do patrimônio
alimentar; atender às necessidades dos indivíduos e grupos; busca da formação de vínculo entre os
diferentes sujeitos que integram o processo; busca de soluções contextualizadas; relações horizontais;
monitoramento permanente dos resultados; formação de rede entre profissionais e setores envolvidos
visando à troca de experiências e o diálogo (BRASIL, 2012b, p. 35).
56

5.2 Trabalho em equipe multidisciplinar


A atenção pré-natal tem como objetivos principais: assegurar a evolução normal da gravidez;
preparar a mulher em gestação para o parto, o puerpério e a lactação normais; identificar o mais
rápido possível as situações de risco. Essas medidas possibilitam a prevenção das complicações
mais frequentes da gravidez e do puerpério (OSIS et al., 1993), neste sentido, é primordial o
atendimento realizado por equipe multidisciplinar.

As equipes de saúde compostas por diversas áreas do atendimento tendem a prestar maiores
cuidados aos pacientes por meio de abordagens diferenciadas, porém complementares, além de
desafogarem o atendimento de um único profissional responsável por todo o cuidado com aquela
paciente.

No caso da gestação, são muitos os benefícios tanto do atendimento em equipe multidisciplinar,


quanto em grupos de apoio. As trocas de experiências entre profissionais e pacientes tem sido
apontada como positiva por maior adesão, benefícios mútuos e aprendizado colaborativo. Além
de ser estimulada pelas diretrizes da atenção básica em saúde (BRASIL, 2009) e OMS. Ainda que
em muitos casos o nutricionista não componha a equipe do Programa de Saúde da Família, por
exemplo, planos de trabalho têm sido desenvolvidos na ampliação da presença deste profissional
nas unidades básicas de saúde, promovendo assim maior interação de nutricionistas com o
campo da saúde pública.
57

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer sobre a estrutura dos guias alimentares, inclusive os indicados para ges-
tantes, sempre baseados em documentos oficiais do Ministério da Saúde;

• compreender melhor como devem ser as orientações sobre alimentação adequada


e saudável na gestação, com apresentação de 10 passos para uma alimentação sau-
dável;

• apreender informações importantes sobre a dieta de gestantes na promoção de


uma gestação saudável, com influência na saúde da mãe e do bebê;

• descobrir os métodos para realizar a avaliação de consumo alimentar, tanto de ma-


neira qualitativa quanto de maneira quantitativa;

• identificar as bases metodológicas para a atenção nutricional em gestantes de baixo


risco pelas diretrizes do SUS;

• aprender como organizar as intervenções nutricionais baseadas em educação ali-


mentar e nutricional, tanto para coletividade e consultas individuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E. et al. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura


Médica, 2009. 649p.

ALMEIDA FILHO, N; BARRETO, ML. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013. 699 p.

BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
19 set. 1990a Seção 1. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm>. Acesso em: 18 de fev. de 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação
complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos
- Cadernos de Atenção Básica, n. 23).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012a. (Série
A. Normas e Manuais Técnicos - Cadernos de Atenção Básica, n° 32).

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional


de Segurança Alimentar e Nutricional. Marco de referência de educação alimentar e
nutricional para as políticas públicas. Brasilia: MDS, 2012b. 68p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Cartilha 10 passos para uma alimentação saudável – gestantes. Brasília:
Ministério da Saúde, 2013a. Disponível em: <http://189.28.128.100/nutricao/docs/
geral/10passosGestantes.pdf> Acesso em 17 de fev. de 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Manual instrutivo das ações de alimentação e nutrição na rede Cegonha. Brasília:
Ministério da Saúde, 2013b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro: manual de condutas gerais.
Brasília: Ministério da Saúde, 2013c. 24p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Rede Cegonha: Manual prático para implementação. Brasília: Ministério da
Saúde, 2013d.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Universidade Federal de Minas Gerais. Instrutivo:


metodologia de trabalho em grupos para ações de alimentação e nutrição na atenção
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Ministério da Saúde, 2016. 168 p.

COSTA, A. M. et al. Atendimento a gestantes no Sistema Único de Saúde. Revista de


Saúde Pública. vol. 39, 2005. p: 768-774

MAHAN, L. K. et al. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro:
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MENDES, A. Gestão pública e relação público-privado na Saúde. Ciênc. saúde coletiva


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OSIS, M. J. D. et al. Fatores associados à assistência pré-natal entre mulheres de baixa


renda no Estado de São Paulo (Brasil). Rev Saúde Pública. 1993; 27:49-53.

PALMA, D; et al. Guia de nutrição clínica na infância e na adolescência. Barueri, SP:


Manole, 2009, 661 p.

REVISTA O2. Calorias sob medida. 2006. Disponível em:<http://www.leb.esalq.usp.br/


leb/aulas/ler0140/Calorias_sob_medida.pdf>. Acesso em 20 de fev. de 2020.

ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Rio de janeiro:


MEDSI, 2003. 780p.

VÍTOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008,


628 p.
UNIDADE 3
Situações patológicas na gestação e
nutrição materno-infantil pós-natal
Introdução
Você está na unidade Situações patológicas na gestação e Nutrição materno-
infantil pós-natal. Conheça aqui a fisiologia e as repercussões nutricionais das situações
patológicas mais comuns na gestação; a importância do aleitamento materno exclusivo
e como estimular o aleitamento; características da avaliação do estado nutricional e das
recomendações para a mulher no período pós-natal; características na nutrição infantil
para o lactente de 6 a 24 meses de vida; e, ainda, as repercussões dos desvios do estado
nutricional do lactente.

Bons estudos!
63

1. SITUAÇÕES PATOLÓGICAS NA GESTAÇÃO


Algumas condições adversas, que são frequentemente observadas em gestantes, podem estar
estreitamente relacionadas ao estado nutricional e ao consumo dietético. Dentre essas condições,
a hipertensão e o diabetes gestacionais estão entre as mais frequentes e representam grande risco
para a saúde da gestante e do feto e, por isso, vamos agora aprender um pouco mais sobre elas.

1.1 Hipertensão e pré-eclâmpsia/eclampsia na gestação


A hipertensão gestacional, também conhecida na literatura como hipertensão induzida pela
gravidez ou doença hipertensiva induzida pela gravidez, é uma condição relativamente comum
durante a gestação e que, em linhas gerais, significa que houve aumento da pressão arterial
sistêmica no período gestacional.

A pré-eclâmpsia/eclampsia, por sua vez, é resultado de uma má adaptação do organismo


materno à gestação. O termo eclampsia, literalmente, significa súbito, repentino, ou seja, algo
que acontece de forma rápida e inesperada.

Na tabela abaixo, estão descritos os termos que classificam os tipos de alterações na pressão
arterial que podem ocorrer no período gestacional.

Figura 1 - Tipos de alterações na pressão arterial no período gestacional


Fonte: Vitolo (2015)
64

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas: classificação e


alterações. Abaixo da coluna classificação, encontram-se os tipos de alteração na pressão, um
por linha (Hipertensão crônica, Pré-eclâmpsia, Hipertensão crônica com sobreposição de pré-
eclâmpsia, Hipertensão gestacional, Hipertensão transitória). Abaixo da coluna alterações, estão
as respectivas alterações que cada uma delas produz.

A hipertensão pode ser crônica (quando a mulher já apresenta o distúrbio antes da gestação
ou quando desenvolve durante a gestação, mas persiste por mais de 12 semanas após o parto),
gestacional (quando aparece na gestação, geralmente após a 20ª semana, sem associação de
proteinúria), transitória (quando o quadro vai e volta ao normal repetidas vezes) ou crônica com
sobreposição de pré-eclâmpsia (quando há proteinúria associada).

A pré-eclâmpsia/eclampsia não tem causas bem definidas ainda, mas suspeita-se que seja
decorrente de produção excessiva de hormônios pela placenta e glândula supra-renal, além de
desequilíbrios na síntese de substâncias que agem como vasodilatadores e vasoconstritoras. Essa
condição é mais frequente no último trimestre de gestação e está associada a sintomas como tontura,
dores de cabeça, distúrbios visuais, dores abdominais, vômito e edema no rosto e nas mãos.

As gestantes que apresentam fatores de risco para o desenvolvimento de hipertensão devem


ser orientadas a um maior controle do ganho de peso, já que o sobrepeso e a obesidade podem
desencadear o problema.

As recomendações nutricionais para hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia são baseadas


no valor energético e quantidades de proteína, sódio e cálcio:

• energia

para estimativa do valor energético diário, utiliza-se as mesmas fórmulas usadas para as
gestantes saudáveis. Porém, deve-se fazer os ajustes necessários e trabalhar com os valores
mínimos recomendados para que não haja ganho de peso excessivo;

• proteínas

para estimativa do valor energético diário, utiliza-se as mesmas fórmulas usadas para as
gestantes saudáveis. Porém, deve-se fazer os ajustes necessários e trabalhar com os valores
mínimos recomendados para que não haja ganho de peso excessivo;

• sódio

de modo geral, a restrição de sódio não é indicada para gestantes para que não haja prejuízos
no volume plasmático. Recomenda-se que sejam ingeridos de 2 a 3g de sódio por dia (cerca de
5 a 6g de sal), mesma recomendação feita para adultos. Se a gestante apresentar hipertensão
crônica, não deve ultrapassar as 2g de sódio por dia;
65

• cálcio

a suplementação de cálcio para gestantes hipertensas ou com alto risco de desenvolver


hipertensão induzida pela gravidez é associada com menores risco de desenvolvimento de pré-
eclâmpsia. Para gestantes que não tenham risco de nefrolitíase e que apresentam baixa ingestão
de cálcio, recomenda-se a suplementação de 1500 a 2000mg/dia desse micronutriente.

1.2 Diabetes gestacional


O diabetes gestacional (DG) é a condição onde há intolerância a glicose durante a gestação.
A resistência à insulina é comum na gestação por conta das alterações fisiológicas desse período,
mas, em alguns casos, as mulheres podem desenvolver um defeito funcional nas células beta, o
que as impede de compensar a resistência à insulina.

Dados demonstram que até 12% das gestantes podem desenvolver DG e, dessas, 40 a 60%
desenvolvem diabetes tipo II entre 15 a 20 anos após a gestação.

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DG estão descritos na Tabela abaixo.

Figura 2 - Fatores de risco para desenvolvimento de DG


Fonte: Vitolo (2015)
66

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas: Autores e Fatores
de risco para rastrear diabetes gestacional. Abaixo da coluna autores, estão as referências
bibliográficas de autores que indicam os fatores de risco; e, abaixo da segunda coluna, estão os
fatores de risco apontados por cada autor.

As condições metabólicas observadas durante o diabetes descompensado são similares às


do jejum prolongado, e a cetoacidose é muito desfavorável para o feto, podendo até ser fatal.
Recém-nascidos de mulheres diabéticas costumam apresentar baixas concentrações de ferro no
fígado, cérebro e coração e, ainda, é comum que apresentem macrossomia.

A macrossomia fetal, por sua vez, está associada a complicações como: morbidade materna,
mortalidade pré-natal, traumatismos de nascimento, hiperbilirrubinemia e hipoglicemia neonatal.

Como prevenção, recomenda-se o rastreamento do DG para todas as gestantes, mesmo que não
apresentem fatores de risco. O ponto de partida para o rastreamento do DG é a glicemia de jejum.

Figura 3 - Procedimentos para rastreamento da DG - Glicemia de jejum


Fonte: Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um fluxograma em formato de árvore tendo como nó


principal a Glicemia de Jejum. Partindo dela, estão os procedimentos necessários para a análise.
67

Se a glicemia de jejum na 1ª consulta for igual ou superior a 85mg/dL, recomenda-se o


rastreamento positivo. Se for menor que 85mg/dL, um novo exame deverá ser realizado após a
20ª semana. Se o resultado for inferior a 85mg/dL novamente, não é necessário o rastreamento
e, se for igual ou superior a esse valor, recomenda-se o rastreamento positivo.

Figura 4 - Procedimentos caso o resultado da Glicemia de Jejum seja Positivo


Fonte: Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um fluxograma em formato de árvore tendo como nó


principal o Rastreamento Positivo. Partindo dele, estão os procedimentos necessários para a
análise, até o resultado final do teste em Negativo ou diabetes Gestacional.

Ao ser diagnosticado o DG, deve-se iniciar as recomendações dietéticas específicas. O cálculo


do valor energético recomendado pode ser feito considerando-se valores de 30 a 35kcal por kg
de peso ideal para a idade gestacional, ou seja, se a gestante estiver com peso ideal, utiliza-se o
peso real, caso esteja acima ou abaixo do peso ideal, utiliza-se o peso ideal. Em casos de gestantes
obesas, indica-se o uso de 24kcal/kg de peso ideal para evitar o ganho de peso excessivo
68

Figura 5 - Cálculo do valor energético total


Fonte: Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas: Estado Nutricional da
Gestante (Baixo Peso, Eutrófica, Obesidade, Obesidade Mórbida) e Kcal/kg de pedo ideal por dia
(36-40, 30-35, 24, 12-18).

A distribuição de macronutrientes pode ser: 40 a 55% de carboidratos, 20% de proteínas e 25


a 40% de lipídeos, dividindo-se o total de energia diário da seguinte forma:

• café da manhã: 10%;

• lanche matinal: 10%;

• almoço: 30%;

• lanche da tarde: 10%;

• jantar: 30%;

• ceia: 10%.

A terapia com insulina é recomendada se, após 2 semanas de dieta controlada, os índices
de glicemia permanecerem elevados (maior que 105mg/dL em jejum ou acima de 120mg/dL no
pós-prandial). Também pode ser recomendado tratamento com insulina caso o crescimento fetal,
observado por ecografia entre a 29ª e a 33ª semana gestacional, for superior ao percentil 75.
Porém, a terapia com insulina só poderá ser prescrita pelo médico.

2. ALEITAMENTO MATERNO
A amamentação, ou aleitamento materno, é um processo que, assim como a gestação, tem
grande impacto na saúde do lactente.

Por esse motivo, os profissionais de saúde, dentre eles, o nutricionista, devem saber da
importância desse período e incentivar as mulheres a essa prática.

Vamos conhecer, nesta seção, a importância do aleitamento materno, a composição do leite


e como estimular/incentivar as lactantes.
69

2.1 A importância do aleitamento materno


O aleitamento materno é um processo de grande importância tanto para a mãe, como para o
bebê, pois envolve fatores fisiológicos, ambientais e emocionais, estando relacionado a questões
como: afeto, vínculo, proteção e nutrição.

Figura 6 - Aleitamento materno


Fonte: WAVEBREAKMEDIA, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem mostra os braços de uma mulher segurando um bebê, enquanto


ele mama em seu seio.

A Organização Mundial da Saúde classifica o aleitamento materno das seguintes formas:

• aleitamento materno: quando o bebê recebe leite materno, seja ele exclusivo, predomi-
nante ou complementado;

• aleitamento materno exclusivo: a criança recebe somente leite materno (diretamente


da mama ou ordenhado), ou leite humano de outra fonte (banco de leite, por exemplo),
sem outros alimentos líquidos ou sólidos (com exceção de vitaminas, sais de reidratação
oral, suplementos minerais ou medicamentos);

• aleitamento materno predominante: quando o bebê recebe água ou bebidas à base de


água (chás, infusões) e/ou sucos de frutas, além do leite materno;

• aleitamento materno complementado: a criança recebe qualquer alimento sólido ou


semissólido com a finalidade de complementar (mas não de substituir) o leite materno;

• aleitamento materno misto ou parcial: acontece quando a criança recebe, além do leite
materno, outros tipos de leite (fórmulas, leite de vaca, entre outros).

Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a condição ideal é que a criança seja
amamentada já na primeira hora de vida, receba aleitamento materno exclusivo até os 6 meses
de idade e continue recebendo leite materno complementado até os 24 meses de vida.
70

Figura 7 - Indicadores do Aleitamento Materno


Fonte: Brasil (2015a)

#ParaCegoVer: A imagem mostrauma tabela dividida em duas colunas: Indicadores e


Classificação da OMS. A coluna de Indicadores está dividida nas linhas Aleitamento Materno na
1ª hora de vida, AME em menores de 6 meses e Duração mediana do AM; cada uma dessas linhas
subdivide-se nas linhas Ruim, Razoável, Bom e Muito Bom. Abaixo da coluna Classificação da
OMS, estão os valores percentuais para cada um desses indicadores.

A superioridade do aleitamento materno sobre os leites de outras espécies já está largamente


comprovada e, entre os argumentos a favor dessa prática, destacam-se:

• evita mortes infantis:

• o leite materno, diferente de outros tipo de leite, apresenta fatores de proteção para
a criança. Estima-se que o aleitamento materno faz com que haja redução de 13% das
mortes em crianças com menos de 5 anos, em todo o mundo, e que 1,47 milhões de vi-
das poderiam ser salvas se as recomendações de aleitamento materno exclusivo por seis
meses e até os dois anos de vida, de forma complementada, fossem cumpridas;

• evita diarreia e infecções respiratórias:

• o aleitamento materno exclusivo, nos primeiros 6 meses de vida, protege contra a diar-
reia e doenças respiratórias, enquanto, por outro lado, oferecer chás e até mesmo água a
crianças até os 6 meses pode dobrar as chances e intensidade dos episódios de diarreia;

• diminui o risco de alergias, hipertensão, diabetes e dislipidemias:


71

• da mesma forma, a amamentação exclusiva, nos primeiros 6 meses de vida, diminui o


risco de alergias, como alergia à proteína do leite de vaca, dermatite atópica, asma, entre
outros tipos. Evidências sugerem, também, que o aleitamento materno faz com os níveis
de pressões sistólica sejam mais baixos, o colesterol seja diminuído e que haja um risco
37% menor de desenvolvimento de diabetes tipo II ao longo da vida;

• reduz as chances de desenvolvimento de obesidade:

• existem evidências de que os indivíduos apresentem chance 22% menor de desenvolver


sobrepeso ou obesidade ao longo da vida e, ainda, parece haver uma relação de “dose/
resposta”, ou seja, quanto maior o tempo em que o indivíduo é amamentado, menor
será a chance de ele apresentar excesso de peso;

• é a melhor opção de nutrição:

• o leite materno é o único que apresenta todos os nutrientes essenciais para o cresci-
mento e o desenvolvimento saudável da criança. Esse alimento supre, sozinho, todas as
necessidades nutricionais do bebê nos primeiros 6 meses de vida e continua sendo uma
ótima fonte de nutrientes até o segundo ano, além de ser mais bem digerido e tolerado
quando comparado com leites de outros tipos;

• efeito intelectual positivo:

• o leite materno otimiza o desenvolvimento cerebral e está relacionado a melhor cogni-


ção, tanto em crianças, como em adultos;

• melhor desenvolvimento da cavidade bucal:

• a movimentação que o bebê faz para retirar o leite materno da mama é de extrema impor-
tância para o adequado desenvolvimento da cavidade oral e, ainda, o desmame precoce
pode prejudicar funções como a mastigação, deglutição, respiração e articulação da fala;

• proteção contra o câncer de mama:

• mães que amamentam apresentam redução na prevalência de câncer de mama, inde-


pendente da idade, etnia ou paridade;

• evita uma nova gravidez:

• desde que a mulher esteja amamentando em livre demanda e não esteja menstruando, a
amamentação representa um excelente método anticoncepcional nos primeiros 6 meses
após o parto, com eficácia comparada a outros métodos (cerca de 98%);

• melhor opção de custo:

• as fórmulas infantis apresentam custo elevado e, ainda, ao ser oferecido outro tipo de
leite, devem-se acrescentar custos com mamadeiras, bicos e gás de cozinha e, portanto,
a opção mais barata de alimentação do bebê, até os 6 meses de vida, é o leite materno;

• vínculo afetivo:
72

• um dos grandes benefícios da amamentação é o vínculo afetivo desenvolvido entre mãe


e filho, fortalecendo os laços, aumentando a intimidade entre eles, a troca de afeto e,
ainda, a criança se sente mais segura e autoconfiante.

FIQUE DE OLHO
Aprofunde seus conhecimentos sobre a fisiologia do aleitamento materno lendo as
seguintes referências: Vitolo (2015, p. 141) e Accioly et al. (2009, p.226).

2.2 Composição do leite materno


A composição nutricional do leite materno varia nos diferentes estágios da lactação: o leite
secretado até, mais ou menos, o sétimo dia pós-parto, é chamado de colostro. Do 7º dia até a
segunda semana, chamamos de leite de transição e, a partir daí, já é considerado leite maduro.

Além disso, a composição do leite de mães que tiveram seus filhos prematuros ou a termo é
diferente.

Figura 8 - Composições do leite materno e do leite de vaca


Fonte: Brasil (2015a)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em 4 colunas. Na primeira (Nutriente),


estão listados os nutrientes sob avaliação (calorias, lipídios, proteínas e lactose). A segunda
(Colostro) e terceira (Leite maduro) colunas estão subdivididas em A termo e Pré-termo. A última
coluna se refere ao leite de vaca.

Em comparação ao leite de vaca, o leite humano apresenta menos proteínas, mas o que é
mais diferente entre eles é o tipo de proteínas presentes: a principal proteína do leite materno
é a lactoalbumina, digerida muito mais facilmente pelas crianças, enquanto, no leite de vaca,
predomina a caseína, de difícil digestão.

Além disso, o leite humano possui muitos fatores imunológicos de proteção para a criança, como
anticorpos IgA, IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido.
73

2.3 Estímulo ao aleitamento materno


Estima-se que, no Brasil, cerca de 50% das mães desistem de amamentar logo na primeira
semana de vida, seja por dores nos seios, dúvidas sobre a qualidade do leite ou falta de prática.

Entre os fatores pelos quais o bebê pode não obter a quantidade suficiente de leite, estão
alguns fatores relacionados à amamentação e fatores psicológicos da mãe (mais comuns) e
condições físicas da mãe e do bebê (incomuns).

Figura 9 - Fatores envolvidos com o aporte insuficiente de leite materno para o bebê
Fonte: Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em quatro colunas: Fatores relacionados


à amamentação, Fatores psicológicos da mãe, Condições físicas da mãe e Condições do bebê.
Abaixo de cada uma dessas colunas estão os fatores influenciadores associados a cada uma delas.

Sendo assim, os principais fatores da insuficiência de leite materno para a criança são
fatores evitáveis com informação e instruções à lactante. É papel dos profissionais da saúde,
inclusive do nutricionista, informar a mãe sobre todos os benefícios, tanto para ela, quanto
para a criança, da prática da amamentação, incentivar a busca de soluções em caso dores ao
amamentar, desestimular a introdução de outros alimentos durante os 6 primeiros meses de vida
e, principalmente, ensinar as técnicas adequadas de amamentação, tranquilizando a mãe em
relação à composição do seu próprio leite.

FIQUE DE OLHO
O Ministério da Saúde possui um material muito completo sobre aleitamento materno e
nutrição da criança. Saiba mais sobre o assunto, consultando Brasil (2015a).
74

3. NUTRIÇÃO MATERNA PÓS-NATAL


Assim como em outros momentos fisiológicos importantes, o estado nutricional durante a
lactação pode ser avaliado por antropometria e parâmetros dietéticos e bioquímicos. Contudo,
não existem muitos padrões de referência para essa fase da vida da mulher, mas o nutricionista
deve adequar suas orientações pensando na saúde ótima da mãe, para que nada interfira no
processo de amamentação.

3.1 Avaliação nutricional das nutrizes


Para avaliar o estado nutricional da nutriz, podemos utilizar parâmetros antropométricos e
bioquímicos.

Umas das maiores preocupações das mulheres nessa fase é a perda de peso e a composição
do leite. A amamentação promove uma perda de peso mais rápida, em consideração a mulheres
que não amamentam. Entretanto, de qualquer forma, para que a perda de peso seja saudável
nessa fase, ela deve ser gradativa.

Assim, o acompanhamento da perda de peso pode ser feito através do peso total, de
avaliações das dobras cutâneas e do IMC, comparando sempre com o último dado pré-gestacional
disponível.

Em relação aos parâmetros bioquímicos, não existem referências para nutrizes. No entanto,
sabe-se que alterações no volume plasmático, a concentração de micronutrientes no soro,
como zinco e cobre, o balanço nitrogenado, a concentração sérica de glicose e insulina e de
lipoproteínas, como triglicérides e colesterol, por exemplo, são comuns em nutrizes em relação a
mulheres adultas não lactantes.
75

3.2 Recomendações nutricionais para as nutrizes


A lactação é uma fase de grande demanda energética, já que, através do leite materno, o
lactente, após apenas 4 meses do nascimento, dobra o seu peso, que foi acumulado durante os
9 meses de gestação.

Assim, as necessidades nutricionais da nutriz são aumentadas, para que a energia e nutrientes
necessários para a produção do leite materno não esgote as reservas da mãe.

Os principais ajustes necessários são em relação ao valor energético, ao conteúdo proteico e


de micronutrientes:

Valor energético

O cálculo do valor energético para nutrizes pode ser feito de duas formas: através de ajustes
dos cálculos do GET (gasto energético total), baseado nas recomendações da RDA e, ou através
das fórmulas das DRI (ingestão dietética de referência).

Para o cálculo utilizando as recomendações da RDA, calcula-se o GET, através dos dados da
TMB (taxa de metabolismo basal) e FA (fator atividade) e, considerando-se o estado nutricional
pré-gestacional, faz-se os seguintes ajustes:

• Baixo peso pré-gestacional:

Considera-se no cálculo da TMB o peso desejável (utilizando IMC ideal entre 18,7 e 23,8). Se o
ganho de peso ponderal durante a gestação foi adequado, adiciona-se 500kcal/dia e, se o ganho
de peso ponderal durante a gestação foi insuficiente, adiciona-se 700kcal/dia.

• Peso normal pré-gestacional:

Considera-se no cálculo da TMB o peso pré-gestacional. Se o ganho de peso ponderal durante


a gestação foi adequado, adiciona-se 500kcal/dia e, se o ganho de peso ponderal durante a
gestação foi insuficiente, adiciona-se 700kcal/dia.

• Sobrepeso/obesidade pré-gestacional:

Considera-se no cálculo da TMB o peso pré-gestacional. Independente do ganho de peso


ponderal na gestação, adiciona-se 500kcal/dia na primeira consulta pós-parto. Nas consultas
subsequentes, deve-se avaliar se houve a perda de peso esperada. No caso da manutenção do
peso, perda insignificante ou ganho de peso, deve-se fazer o cálculo sem o adicional de 500kcal/dia.

Para o cálculo das necessidades energéticas de acordo com as DRI, no 1º semestre pós-parto,
considera-se o EER (requerimento energético estimado) pré-gestacional, acrescenta-se 500kcal
76

ao dia de adicional calórico para lactação e subtrai-se 170kcal ao dia, para auxiliar na perda de
peso adequada dessa fase. No 2º semestre pós parto, deve ser adicionado 400kcal ao dia, sem
subtração de calorias.

FIQUE DE OLHO
Você tem dúvidas de como calcular o EER pré-gestacional? Leia o Capítulo 12
(Recomendações Nutricionais para Gestantes), p. 100 de Vitolo (2015).

Proteínas

As necessidades proteicas também são aumentadas durante a lactação, já que, no primeiro


mês de lactação, o conteúdo médio de proteínas no leite materno é de 1,3g/100mL e, a partir
do segundo mês, o conteúdo é de 1,15g/100mL, sendo que a eficiência com que se converte a
proteína dietética da mulher em proteína do leite é em torno de 70%.

Dessa forma, calcula-se o adicional proteico da seguinte forma:

- 1º semestre de lactação: +16g/dia

- 2º semestre de lactação: +12/g/dia

- Após 1 ano: +11g/dia

Micronutrientes

Assim como o valor energético e proteico, as necessidades de muitas vitaminas e minerais


são aumentadas durante a lactação. As recomendações de micronutrientes para nutrizes estão
apresentadas na figura abaixo.
77

Figura 10 - Micronutrientes para a fase de lactação


Fonte: Accioly et al. (2009)
#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas: Nutrientes e IDR
(Ingestão Dietética de Referência). Abaixo da coluna Nutrientes, estão os micronutrientes mais
relevantes para a lactação; e abaixo da coluna IDR, a linha correspondente a cada nutriente está
subdividida por faixa etária da lactante.
78

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

4. NUTRIÇÃO DO LACTENTE
O lactente, ou seja, a criança que recebe o leite materno, idealmente dos 0 a 24 meses de
vida, está em fase de crescimento e desenvolvimento máxima e, por isso, a avaliação do estado
nutricional e as recomendações dietéticas e alimentares são imprescindíveis.

4.1 Avaliação do estado nutricional do lactente


O recém-nascido deve ser acompanhado para identificação do seu estado nutricional e saúde
geral. De acordo com o peso aferido no momento do nascimento, o recém-nascido pode ser
classificado como macrossômico, peso adequado ou diferentes níveis de déficit de peso.

Figura 11 - Classificação do Recém-nascido pelo Peso ao Nascer


Fonte: Adaptado de Vitolo (2015)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas: Classificação e Peso
ao nascer. Abaixo da coluna classificação, estão as categorias: Macrossômico, Peso adequado,
peso insuficiente, Baixo peso, peso extremamente baixo e Prematuro PIG/a termo com RCIU;
abaixo da segunda coluna, estão so valores de referência em gramas para cada categoria.
79

PIG = pequeno para idade gestacional; RCIU = restrição de crescimento intrauterino.

Após o nascimento, deve-se acompanhar o ganho de peso do bebê. Até os 6 meses,


recomenda-se que o ganho ponderal seja de 600g ao mês e, após os 6 meses de vida, deve-se
ganhar 400g ao mês de peso.

Além disso, é importante que se faça o acompanhamento pelas curvas de crescimento da


Organização Mundial de Saúde, que considera parâmetros como peso por idade e estatura por idade.

4.2 Recomendações nutricionais para o lactente


Conforme abordado anteriormente, é extremamente preconizado que o bebê seja
amamentado na primeira hora de vida e que a amamentação seja exclusiva nos primeiros 6 meses
de vida. Nos primeiros 6 meses, recomenda-se que a criança seja amamentada sem restrições de
horários e de tempo de permanência na mama, ou seja, em livre demanda.

As nutrizes devem ser alertadas sobre práticas não recomendáveis durante a amamentação,
como: oferecer outros tipos de leite ou fórmulas infantis, começar a introdução alimentar antes
dos 6 meses de idade, oferecer mamadeiras e chupeta, fumar durante a amamentação, se
automedicar, ingerir bebidas alcoólicas.

Além disso, existem algumas condições em que a amamentação é contraindicada: infecção


pelos vírus HIV, HTLV1 e HTLV2 e em uso de alguns medicamentos, como os para tratamento de
câncer. Mulheres que consomem álcool de forma regular ou drogas ilícitas não devem amamentar
seus filhos enquanto estiverem fazendo uso dessas substâncias.

O requerimento energético (EER) para lactentes pode ser calculado da seguinte forma:

- 0 a 3 meses: (89 x peso em kg – 100) + 175kcal

- 4 a 6 meses: (89 x peso em kg – 100) + 56kcal

- 7 a 12 meses: (89 x peso em kg – 100) + 22kcal

- 13 a 24 meses: (89 x peso em kg – 100) + 20kcal.

FIQUE DE OLHO
É importante que você leia e conheça as recomendações de macro e micronutrientes
específicas para crianças do nascimento aos 2 anos de vida. Para isso, leia o Capítulo 24
(Recomendações Nutricionais para Crianças), p.191 de Vitolo (2015).
80

A partir do 6º mês, os alimentos podem começar a ser oferecidos para as crianças. É importante
que os sinais de fome e saciedade sejam respeitados em todas as fases e, para crianças de 6
meses, é possível identificar esses sinais de acordo com as dicas da figura abaixo.

Figura 12 - Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados à alimentação e sinais de fome e


saciedade - 6 meses
Fonte: Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em duas colunas: Aspectos do


desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação e Sinais de fome e de sacie

De forma geral, aos 6 meses de idade, podemos recomendar que a composição e


fracionamento da dieta seja como demonstrado na figura abaixo.

Figura 13 - Alimentação diária da criança de 6 meses


Fonte: Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro com uma primeira coluna que ocupa todo o
comprimento da figura, sinalizando que o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança
81

quiser. Na segunda coluna, encontra-se um cardápio dividido em café da manhã e lanche da


manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e antes de dormir. Ao lado de cada refeição, estão as suas
respectivas recomendações aos 6 meses de vida da criança.

Entre 7 e 8 meses de vida, a criança já deve conseguir sentar sem apoio, pega os alimentos e
leva à boca e novos dentes surgem, mas os sinais de fome e saciedade ainda são parecidos.

Figura 14 - Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados à alimentação e sinais de fome e


saciedade - 7 e 8 meses
Fonte: Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em duas colunas: Aspectos do


desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação e Sinais de fome e de saciedade mais
comuns. Abaixo de cada uma delas, encontra-se uma lista de aspectos e sinais, respectivamente,
compatíveis com a criança de 7 a 8 meses.

Um exemplo da alimentação ao longo do dia para crianças entre 7 e 8 meses está apresentado
na figura a seguir.

Figura 15 - Alimentação diária da criança de 7 a 8 meses


Fonte: Brasil (2010)
82

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro com uma primeira coluna que ocupa todo o
comprimento da figura, sinalizando que o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança
quiser. Na segunda coluna, encontra-se um cardápio dividido em café da manhã, lanche da manhã
e da tarde, almoço e jantar, e antes de dormir. Ao lado de cada refeição, estão as suas respectivas
recomendações aos 7 a 8 meses de vida da criança.

Já entre os 9 e 11 meses, identificamos os sinais de fome e saciedade conforme relatado na figura abaixo.

Figura 16 - Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados à alimentação e sinais de fome e


saciedade - 9 e 11 meses
Fonte: Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em duas colunas: Aspectos do


desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação e Sinais de fome e de saciedade mais
comuns. Abaixo de cada uma delas, encontra-se uma lista de aspectos e sinais, respectivamente,
compatíveis com a criança de9 a 11 meses.

Lembrando-se sempre de oferecer água ao longo do dia. A alimentação deve ser baseada no
exemplo da figura abaixo.

Figura 17 - Alimentação diária da criança de 9 a 11 meses


Fonte: Brasil (2010)
83

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro com uma primeira coluna que ocupa todo o
comprimento da figura, sinalizando que o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança
quiser. Na segunda coluna, encontra-se um cardápio dividido em café da manhã, lanche da manhã
e da tarde, almoço e jantar, e antes de dormir. Ao lado de cada refeição, estão as suas respectivas
recomendações aos 9 a 11 meses de vida da criança.

Por fim, o lactente entre 1 e 2 anos de vida consegue expressar sinais de fome e saciedade
de maneira mais clara.

Figura 18 - Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados à alimentação e sinais de fome e


saciedade - 1 a 2 anos
Fonte: Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em duas colunas: Aspectos do


desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação e Sinais de fome e de saciedade mais
comuns. Abaixo de cada uma delas, encontra-se uma lista de aspectos e sinais, respectivamente,
compatíveis com a criança de 1 a 2 anos.

Nessa fase, a alimentação passa a ser mais rica em alimentos sólidos, mas é extremamente
recomendável que a mãe continue oferecendo o leite materno.
84

Figura 19 - Alimentação diária da criança de 1 a 2 anos


Fonte: Adaptado de Brasil (2010)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro com uma primeira coluna que ocupa todo
o comprimento da figura, sinalizando que o leite materno pode ser oferecido sempre que a
criança quiser. Na segunda coluna, encontra-se um cardápio dividido em café da manhã, lanche
da manhã, almoço, lanche da tarde e antes de dormir. Ao lado de cada refeição, estão as suas
respectivas recomendações aos 1 a 2 anos de vida da criança.

Obs: Nesta fase de vida, a refeição almoço deve ser repetida no horário do jantar.

O papel do nutricionista, mais do que avaliar o estado nutricional da criança, é orientar os


pais sobre a importância do aleitamento materno e da introdução alimentar de forma saudável.
Nos primeiros anos de vida, a criança está formando seus hábitos alimentares e, por isso, a
alimentação deve ser tão saudável e diversificada quanto possível.

O Ministério da Saúde recomenda que os profissionais de saúdem adotem, para os lactentes,


as condutas descritas na figura abaixo.
85

Figura 20 - Conduta do profissional de saúde com o lactente


Fonte: Governo do Estado do Ceará (2013)

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividio em 2 colunas: Período (relativa ao


período de vida do lactente) e Orientações (relativa a como o lactente deve ser atendido, que
orientações a família deve receber, em cada período de vida).

FIQUE DE OLHO
Para consultar as recomendações para crianças de até 6 meses que não são amamentadas
de forma exclusiva ou não recebem leite materno, e para crianças de 6 a 24 meses que não
recebem leite materno, leia a referência Brasil (2010).
86

5. DESVIOS DO ESTADO NUTRICIONAL DO


LACTENTE
Estima-se que mais de 30% das crianças menores de 5 anos, em todo o mundo, apresentam
algum tipo de consequência negativa decorrente da má nutrição. Entre os desvios do estado
nutricional adequado mais comuns em lactentes, destacam-se os distúrbios nutricionais e as
hipovitaminoses.

5.1 Distúrbios nutricionais


Os distúrbios nutricionais mais prevalentes em lactentes no Brasil e no mundo são a
desnutrição, a obesidade e a anemia ferropriva.

Desnutrição

Embora tenha havido uma diminuição da desnutrição, em detrimento do excesso de peso


tanto no Brasil como no mundo, estima-se que ainda haja a prevalência de baixo peso para a
estatura de 1,6%, e de baixa estatura para a idade de 6,8% em crianças menores de 5 anos. Nas
classes mais baixas, esse panorama é muito maior: a prevalência de baixo peso é de 4,6% e de
baixa estatura é de 14,5%.

A desnutrição pode ocorrer precocemente desde a vida intra-uterina e levar ao baixo peso ao
nascer. Ela também pode ser desenvolvida precocemente na infância, por conta da interrupção
precoce do aleitamento materno exclusivo e introdução alimentar inadequada dos 6 meses aos
2 anos de vida.

Entre as desnutrições consideradas mais graves, estão:

- Marasmo: ocorre com mais frequência em lactentes com até 12 meses, e a criança apresenta
emagrecimento acentuado, pouca atividade, irritabilidade, atrofia muscular, frouxidão na pele,
costelas proeminentes e desaparecimento da “bola de Bichat”, localizada na região malar e o
último depósito de gordura a ser consumido. Pode haver aspecto aumentado no abdome e os
cabelos são finos e escassos.

- Kwashiorkor: é mais frequente em crianças acima de 2 anos e se caracteriza por lesões na


pele, alteração na textura e coloração do cabelo, hepatomegalia, ascite, edema na face e em
membros inferiores e apatia.

Obesidade

Conforme citado anteriormente, os índices de obesidade infantil vêm aumentando em


87

detrimento da desnutrição. A obesidade infantil é um fator de predição para a obesidade na vida


adulta e, além disso, pode gerar consequências tanto a curto, como a longo prazo.

Assim como a desnutrição, a obesidade é muito prevalente em classes sociais mais baixas,
pois os alimentos com alta densidade energética costumam apresentar baixo custo, ou seja, o
acesso é facilitado na população de baixa renda.

Crianças obesas apresentam risco muito aumentado para desenvolvimento de doenças


crônicas não transmissíveis e, nesses casos, há predomínio da distribuição de gordura na região
do tronco ou na região abdominal, pode haver respiração predominantemente bucal, resistência
a insulina, infecção fúngica nas dobras, hepatomegalia (sugestiva de esteatose hepática), edema,
desvios de coluna e alterações de marcha.

Anemia ferropriva

A anemia por deficiência de ferro em lactentes é considerada um dos principais problemas


de saúde pública do mundo. No Brasil, a mediana da prevalência de anemia em crianças menores
de 5 anos é de 50%.

A anemia tem sido apontada como um dos determinantes que prejudicam o desenvolvimento
de crianças e, lactentes anêmicos apresentam maior probabilidade de possuírem, no futuro,
baixo rendimento escolar.

O comprometimento dos estoques de ferro e as consequências para o metabolismo, como um


todo, aparecem antes mesmo da instalação da anemia propriamente dita. Os sinais, que aparecem
tardiamente, são palidez cutânea e das mucosas, apatia, astenia, comprometimento do desenvolvimento
neuropsicomotor, cognitivo e do crescimento, além de maior suscetibilidade a infecções.

5.2 Hipovitaminoses
Em crianças, não é raro que seja observada a deficiência de vitaminas B1, B12, C e D, mas, a
hipovitaminose mais comum e mais preocupante para lactentes é a da vitamina A.

A deficiência de vitamina A é dividida em duas fases: subclínica, quando há diminuição


progressiva de reservas hepáticas, ainda não existem alterações clínicas evidentes e os níveis
de retinol plasmático estão entre 20 a 40 µg/dL; e fase clínica, quando os níveis de retinol no
plasma são inferiores a 20 µg/dL e existem comprometimentos clínicos, como: alterações no
crescimento, maior predisposição a infecções, alterações cutâneas (como pele seca, com aspecto
escamoso) e alterações oculares.

As alterações oculares podem atingir 6 estágios, de acordo com a duração e gravidade da


deficiência:
88

– Nictalopia: conhecida como cegueira noturna, é a alteração visual mais precoce e impede a
criança de enxergar bem em ambientes pouco iluminados;

– Xerose conjuntival: o aspecto do olho se torna seco e opaco e os reflexos luminosos ficam
difusos e com menos intensidade;

– Manchas de Bitot: surgem placas acinzentadas, com aparência espumosa;

– Xerose corneal: a córnea fica comprometida e com um aspecto granular;

– Ulceração da córnea: há destruição de parte importante da córnea;

– Queratomalácia: há o surgimento de úlceras progressivas na córnea e o globo ocular é


destruído, caracterizando uma cegueira irreversível.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:


89

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• aprender sobre a fisiologia e as repercussões nutricionais de situações patológicas


comuns na gestação: diabetes e hipertensão gestacionais;

• conhecer os motivos pelos quais o aleitamento materno é superior a outros méto-


dos de nutrição infantil e como estimular o aleitamento;

• compreender sobre a avaliação do estado nutricional e as recomendações nutricio-


nais para nutrizes;

• compreender sobre as recomendações nutricionais e a avaliação do desenvolvimen-


to e estado nutricional de lactentes de 6 a 24 meses de vida;

• conhecer as repercussões dos desvios do estado nutricional do lactente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E. et al.. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar
para menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/
portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

BRASIL. Secretaria de atenção à saúde. Ministério da Saúde. Saúde da Criança:


Aleitamento materno e Alimentação Complementar. Cadernos de Atenção Básica,
2015a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_
aleitamento_materno_cab23.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

BRASIL. Senado Federal. Secretaria de Gestão de Pessoas. Orientações Nutricionais:


da gestação à primeira infância. 2015b. Disponível em: https://www12.senado.leg.
br/institucional/programas/pro-equidade/pdf/cartilha-orientacoes-nutricionais-da-
gestacao-a-primeira-infancia. Acesso em: 30 jan. 2020.

FERNANDES, B. S. et al. Cartilha de Orientação Nutricional Infantil. Departamento de


Pediatria - UFMG, 2013. Disponível em: http://ftp.medicina.ufmg.br/observaped/
cartilhas/Cartilha_Orientacao_Nutricional_12_03_13.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020.

GOVERNO DO ESTADO (Ceará). Secretaria da Educação. Nutrição materno-infantil.


Curso técnico em Nutrição e Dietética, 2013. Disponível em: https://efivest.com.br/
wp-content/uploads/2017/12/nutricao_e_dietetica_nutricao_materno_infantil.pdf.
Acesso em: 30 jan. 2020.

MIWA, M. T. Nutrição e dietoterapia obstétrica e pediátrica. Londrina: Editora e


Distribuidora Educacional S.A., 2018. 208 p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (São Paulo). Departamento de Nutrologia.


Avaliação nutricional da criança e do adolescente: manual de orientação. São Paulo,
2009. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/MANUAL-
AVAL-NUTR2009.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020.
UNIDADE 4
Nutrição na infância
Introdução
Você está na unidade Nutrição na infância. Conheça aqui os assuntos relacionados à
nutrição de crianças, desde o nascimento até o final da primeira infância. Conheceremos
mais sobre a amamentação, a atenção nutricional nos períodos de lactente, pré-escolar
e crianças menores de 2 anos. Compreenderemos como identificar e manejar os desvios
nutricionais, bem como as relações da nutrição com o desmame, e com a alimentação
adequada e saudável. Seguiremos nossos estudos pelas principais doenças relacionadas
à alimentação na infância, pelas políticas públicas de nutrição que se relacionam com
este público, e finalizaremos, explorando os cálculos nutricionais e inquéritos alimentares
tanto na gestação, quanto na infância.

Bons estudos!
93

1. METODOLOGIA DA ATENÇÃO NUTRICIONAL


DIRIGIDA A LACTENTES, PRÉ-ESCOLARES E
CRIANÇAS
A alimentação, desde o nascimento até a idade adulta, muda consideravelmente: nascemos
consumindo preferencialmente apenas um tipo de alimento, o leite materno, e vamos expandindo
nossa alimentação de acordo com as características e cultura alimentar da sociedade em que
vivemos. A expansão da gama de alimentos consumidos tem forte ligação com a alimentação
nos primeiros anos de vida, bem como a saúde e predisposição para determinadas doenças no
decorrer de nossa jornada.

Durante a gestação, a alimentação da mãe e o estado nutricional antes e durante a gravidez


terão influências sobre o crescimento e desenvolvimento do feto. Após o nascimento, além da
carga nutricional passada de mãe para filho, a amamentação e introdução alimentar (fase de
transição) terão peso importante para a saúde da criança.

Sabe-se que, entre os dois primeiros anos de vida, ocorrem grandes demandas de crescimento
com subsequente requerimento tanto energético, quanto de outros nutrientes (MAHAN et al.,
2013). Portanto, veremos a seguir como se dá a atenção nutricional em todas as fases da primeira
infância, desde o nascimento até a fase pré-escolar. Segundo Acioly et al. (2009, p.258), a fase
ambulatorial do atendimento em saúde básica deve passar pelos seguintes passos:

• Avaliação antropométrica;

• Queixa principal;

• Evolução desde a última consulta;

• Dados socioeconômicos;

• Desenvolvimento da criança;

• Imunização;

• Função intestinal;

• História alimentar pregressa;

• Alimentação atual;

• Exames bioquímicos;

• Uso de medicamento.
94

Como pudemos perceber, parte deste atendimento poderá ser realizado por nutricionista, ou
ainda, os dados coletados por outros profissionais podem auxiliar na construção do diagnóstico
do estado nutricional da criança, sendo importante tanto a padronização de técnicas corretas na
coleta de dados, quanto o trabalho de equipes multiprofissionais para melhores resultados.

1.1 Atenção nutricional aos lactentes


De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), podemos definir a fase da lactação
como o período contido entre o nascimento até os dois anos de idade, ou seja, de 0-2 anos.
Durante este período, a predominância alimentar é feita através do leite materno ou de fórmulas
lácteas, sendo preconizado tanto pela OMS (Organização Mundial de Saúde), quanto pelo
Ministério da Saúde, que neste período o bebê seja alimentado através do aleitamento materno.

A atenção neste período se dá num duplo processo, pois haverá demandas específicas
para o lactente e para a lactante. Chamamos de lactente o bebê que se alimenta exclusiva ou
prioritariamente de leite, preferencialmente materno; e de lactante a mãe, que fornece o leite
materno ao seu filho. Demandas de calorias aumentadas, consumo de alimentos ricos em macro
e micronutrientes, aumento no consumo de líquidos são as principais demandas da lactante,
buscando, além de recuperar o corpo da gestação e parto, nutrir o bebê.

Segundo Mahan et al. (2013), os bebês perdem em média 6% do seu peso de nascimento nos
primeiros dias de vida, e voltam a ganhar peso entre o 7º e 10º dia, sendo as demandas nutricionais
de primeira importância neste período, evitando assim quadros de hipoglicemia, por exemplo.

Quanto aos benefícios da amamentação para a mãe, podemos citar:

• maior vínculo afetivo com o bebê;

• menor tempo para regressão do útero (através da liberação de ocitocina);

• auxilio na perda de peso pós-parto;

• segurança alimentar e nutricional do bebê;

• custo benefício do leite materno, entre outros.

Já o lactente necessita de calorias, macro e micro nutrientes, anticorpos e outros elementos


que favorecerão o seu crescimento, proteção e desenvolvimento adequados, facilmente
fornecidos pela amamentação. Além disso, através do leite materno, a relação com um mundo
novo começa a aflorar, bem como o desenvolvimento de seu trato gástrico, ainda imaturo para
outros alimentos, começa a evoluir para que sua alimentação também possa evoluir com o passar
do tempo. O desenvolvimento de boca e demais músculos faciais também sofre um avanço com
o aleitamento materno.
95

Figura 1 - Necessidades calóricas na infância


Fonte: Adaptado de BRASIL (2013)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com dados sobre as necessidades de calorias
por quilo de peso e por dia, para crianças de 6 meses a 15 anos.

São diversos os estudos relacionados ao aleitamento, à composição do leite materno e aos


benefícios tanto para a mãe, quanto para o bebê. Entre os benefícios mais citados pelos autores
e órgãos oficiais de saúde estão:

• a biodisponibilidade de nutrientes;

• a composição que favorece a digestão e absorção;

• a compatibilidade deste alimento com o sistema digestório ainda imaturo;

• os fatores de proteção agregados (que também contribuem para um sistema imunológi-


co ainda em formação);

• e as questões psicológicas associadas.

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com dados sobre as necessidades de calorias
por quilo de peso e por dia, para crianças de 6 meses a 15 anos.

São diversos os estudos relacionados ao aleitamento, à composição do leite materno e aos


benefícios tanto para a mãe, quanto para o bebê. Entre os benefícios mais citados pelos autores
e órgãos oficiais de saúde estão: a biodisponibilidade de nutrientes, a composição que favorece
a digestão e absorção, a compatibilidade deste alimento com o sistema digestório ainda imaturo,
os fatores de proteção agregados (que também contribuem para um sistema imunológico ainda
em formação) e as questões psicológicas associadas

Na atenção primária, o cuidado com lactentes está baseado em alguns quesitos: peso/ganho de
peso, altura, curva de crescimento, circunferências corpóreas e parâmetros de crescimento (relação
entre altura e peso), sempre baseados nas curvas de crescimento preconizadas pela OMS. Tanto
a perda de peso, quanto o excesso de ganho de peso devem ser considerados no atendimento
nutricional do lactente, sendo um sinal de alerta nutricional que deverá ser melhor investigado.

Questões como aleitamento materno, aleitamento através de fórmulas e suplementação


também são pontos fundamentais no acompanhamento do estado nutricional dos lactentes.
96

É preconizada pelo Ministério da Saúde, tanto em cadernos informativos da saúde na infância,


quanto no Guia Alimentar para menores de dois anos (BRASIL, 2019), a livre demanda no
aleitamento materno, ou seja, o bebê poderá mamar quantas vezes quiser e pelo tempo que
quiser, sem horários pré-definidos ou tempo definido de mamada. Além de priorizar o aleitamento
materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida, que significa que o bebê irá receber
apenas leite materno e nenhum outro liquido ou alimento durante este período.

O estímulo ao aleitamento ocorre ainda no atendimento pré-natal, mas segue no período de


puerpério, sempre protagonizando mãe e filho, com apoio de profissionais de saúde e familiares.
Além das retiradas de dúvidas relacionadas ao ato de amamentar, participação em grupos de
educação continuada e apoio, bem como disposição da equipe de saúde em auxiliar o processo,
distribuição de materiais de informação e apoio fazem parte do acompanhamento de lactentes.

O estímulo a este ato de amamentar torna-se significativo, segundo a OMS, devido à


superioridade do leite materno em diversos termos, não só de composição nutricional. Sendo
este alimento apontado, segundo Mahan et al. (2013) e Vitolo (2008), como:

• fator redutor de mortalidade infantil;

• prevenção de diarreia;

• evita infecções respiratórias;

• diminuição no risco de alergias;

• diminuição no risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT);

• melhorias no estado nutricional;

• melhor desenvolvimento buco-maxilar;

• prevenção do câncer de mama;

• auxilio na contracepção;

• menor custo financeiro;

• formação de vinculo e melhor qualidade de vida tanto para mãe, quanto para o bebê.

Porém, no atendimento básico do lactente, outras questões devem ser avaliadas, como
dificuldades de aleitamento por parte da mãe, dificuldades de sucção e pega por parte do
lactente, doenças que possam impedir o aleitamento materno, condições adversas e baixo
desenvolvimento do bebê.

O aleitamento através de fórmulas deve ser desestimulado, mas é uma recomendação de


97

profissionais de saúde em alguns casos, como baixo ganho de peso, depressão pós-parto grave,
incapacidade de amamentar (coma ou internamento em estado grave de saúde), mastites
(que não são uma contraindicação, mas podem causar alterações no sabor do leite, condição
dolorosa e rejeição ao ato de amamentar tanto pela mãe quanto pele bebê), nova gestação
(não há proibição para amamentação em caso de nova gestação, mas em alguns casos ela pode
gerar contrações uterinas e estimular o aborto), uso de medicamento incompatíveis com a
amamentação, galactosemia, entre outros.

Temos uma classificação, baseada em regulamentações de órgãos federais, dos tipos de


fórmulas lácteas, são elas:

[...] fórmulas infantis para lactentes: considerando lactentes saudáveis até o sexto mês de vida;
fórmulas infantis de seguimento: indicado para lactentes a partir do sexto mês de vida até os 12 meses
de idade incompletos, ou seja, 11 meses e 29 dias; fórmulas infantis para crianças de primeira infância:
indicado para crianças de um ano até os três anos de idade (MIWA, 2018, p. 138).

Lembrando ainda que existe uma rígida regulação de propaganda de alimentos relacionados a
primeira infância e a proibição de propagandas que promovam o aleitamento através de fórmulas
lácteas, bem como promoções que estimulem a compra de tais produtos, como, por exemplo: na
compra de duas latas de fórmula infantil, ganhe uma mamadeira ou bolsa térmica. Em relação a
este assunto, cabe à NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes)
a regulação dos alimentos da primeira infância, baseados na Lei nº 11.265 (BRASIL, 2006) e a
Portaria nº 2.051 (BRASIL, 2009b).

Neste sentido a avaliação do estado nutricional da criança, principalmente seu ganho de


peso devem ser o ponto chave para indicação ou não de uma fórmula láctea. Este procedimento
deve ser realizado por médico ou nutricionista, se possível em trabalho multidisciplinar, com
esclarecimentos junto a mãe e acompanhamento da evolução do lactente a longo prazo.

A adoção de uma alimentação complementar não exclui a amamentação com leite materno.
Muitas mães se queixam de diminuição do leite relacionada a introdução de uma fórmula láctea,
porém o manejo de alternância entre os dois métodos de alimentação e a preferência pela oferta
do leite materno podem ser boas técnicas para manter a produção de leite materno.

FIQUE DE OLHO
Você conhece os tipos de aleitamento? São eles: aleitamento materno exclusivo;
aleitamento materno predominante; aleitamento materno; aleitamento materno
complementado; aleitamento materno misto ou parcial. Saiba mais: https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf
98

1.2 Atenção nutricional aos pré-escolares e crianças


Segundo a OMS, ainda que preconizado o aleitamento exclusivo até os primeiros 6 meses, ele
continua sendo importante no decorrer do desenvolvimento da criança:

No segundo ano de vida, o leite materno continua sendo importante fonte de nutrientes. Estima-
se que dois copos (500 mL) de leite materno no segundo ano de vida fornecem 95% das necessidades
de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% de proteína e 31% do total de energia. Além disso, o leite
materno continua protegendo contra doenças infecciosas. Uma análise de estudos realizados em três
continentes concluiu que quando as crianças não eram amamentadas no segundo ano de vida elas
tinham uma chance quase duas vezes maior de morrer por doença infecciosa quando comparadas com
crianças amamentadas (Brasil, 2015 apud OMS, 2000, p. 15).

Porém, o acesso ao leite materno, devido a demandas externas, pode ser uma preocupação,
fato pelo qual muitas mães deixam de fornecer este alimento a seus filhos. Retorno ao mercado
de trabalho, dentição, falta de leite e rotina escolar das crianças são comumente apontados como
fator decisivo para mudanças na alimentação dos mesmos.

Após os primeiros dias de vida, a criança está na fase de lactente, que se estende até o 6º
mês, porém muitas mães voltam a trabalhar neste momento ou ainda antes, e muitas crianças
passam pelo período de desmame, sendo relatado pela literatura desmames desde os 3 meses
de idade.

Classifica-se a fase pré-escolar é aquela que compreende entre 2-4 anos, e a fase escolar, que
compreende o período em que o bebê passa a ser chamado de criança, compreende a fase entre
5-10 anos (WAMI, 2018). A orientação tanto das equipes de saúde da família, quanto da OMS
são de aleitamento materno mesmo sem a presença da mãe, com esgotamento e congelamento
do leite para administração através de cuidador (avós, tios, babás ou profissionais de educação),
sendo preconizado o uso de colher ou copinho ao invés de mamadeiras.

A amamentação pela própria mãe nos períodos de descanso no trabalho é garantida por
lei, antes da sua saída e após sua chegada. Sendo as demais mamadas provenientes do leite
materno extraído, congelado e reaquecido. Neste sentido, após o 6º mês será iniciada a transição
do aleitamento exclusivo para o aleitamento misto. Serão introduzidos novos alimentos em
concomitância com a administração do leite materno.

A atenção neste sentido deve ser dada tanto à quantidade de alimentos ingeridos, quanto
à qualidade desses alimentos, respeitando o amadurecimento fisiológico da criança. Questões
importantes como o consumo de água devem ser observadas, pois para crianças em aleitamento
materno exclusivo não há consumo de água, porém com o desmame será necessário para suprir
as necessidades diárias em outras fontes além do leite materno.
99

Figura 2 - Necessidades diárias de água na infância


Fonte: Mahan et al. (2013)

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com dados sobre as necessidades diárias de
ingestão de água, desde os 6 meses até os 14 anos.

Percebam que a quantidade de água que deverá ser consumida diminui com o avanço da
idade, este fato se dá pois, com a introdução de novos alimentos, o acesso a água nestes alimentos
aumenta, complementando as necessidades diárias. Condições de diarreia ou outras que possam
propiciar a perda de líquidos devem ser monitoradas para que não haja desidratação. Olhos, pele,
boca e demais mucosas são formas aparentes de verificar a hidratação em crianças, sendo pontos
de observação tanto para pais, quanto para profissionais de saúde.

Em relação à alimentação complementar, ou seja, aquela que irá propiciar uma boa
condição nutricional à criança após o desmame, o Ministério da Saúde preconiza as seguintes
ações: “a alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia,
proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos,
economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança” (BRASIL, 2015, p. 95).

Após os 6 meses, a criança já começa a apresentar maturidade para a ingestão de outros alimentos,
que deve começar de maneira lenta e gradual e ir evoluindo de acordo com o Guia alimentar para
menores de 2 anos (BRASIL, 2019). Os sinais de que a criança já é capaz de se alimentar são:

• manter a cabeça erguida;

• contato visual e reação aos alimentos;

• capacidade de mexer e segurar com braços e mãos;

• surgimento dos primeiros dentes;

• desenvolvimento do paladar.

A comida que é oferecida à família, se for saudável e adequada, também pode ser oferecida à criança,
segundo o Guia alimentar para menores de 2 anos (BRASIL, 2019). Deve-se respeitar as quantidades
100

ideais para a idade, a consistência que deve evoluir de uma papa amassada com o garfo para pedacinhos
no decorrer do tempo, e a não adição de sal ou açúcar, com adição mínima de gorduras.

Outra recomendação do guia é fazer da base da alimentação da criança os alimentos in natura


e minimamente processados, evitando fornecer alimentos processados e ultraprocessados, ricos
em sal e açúcar, corante e conservantes.

O sucesso desta fase depende da paciência de quem acompanha a criança nos momentos
de alimentação. Ofertar diversas vezes o mesmo alimento, variar a dieta, fazer uso de alimentos
in natura, não adicionar sal ou açúcar, estimular a capacidade alimentar da criança, tornando os
alimentos acessíveis, seja em localização ou forma de servimento, são algumas das orientações
que devem ser prestadas durante este período.

2. IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DE DESVIOS DO


ESTADO NUTRICIONAL E ACONSELHAMENTO
NUTRICIONAL DURANTE A FASE DE ALIMENTAÇÃO
COMPLEMENTAR E DESMAME
Cabe aos profissionais de saúde envolvidos no atendimento de crianças saber identificar
e manejar as situações de desvio nutricional que podem ocorrer na infância. Dificuldade de
aceitação da alimentação e birra são as principais queixas de familiares que acompanham este
momento, mas existem outras situações que podem gerar problemas nutricionais na infância.

A desnutrição na infância é uma das maiores causas de mortalidade infantil, sendo associada a
fatores sociais como baixa renda, condições precárias de moradia e situação financeira debilitada.

Uma das agendas públicas mais difundidas pela OMS é a atenção primária voltada para a
alimentação na infância, combate à mortalidade infantil e desnutrição. Sabe-se que cuidados
neste sentido podem gerar quedas nos índices de mortalidade e ainda melhorias na qualidade de
vida desta população, com reflexos até a idade adulta e velhice.

Segundo estudos da OMS, desnutrição, anemia, hipovitaminoses, déficit de crescimento e


obesidade têm sido apontados como os desvios nutricionais mais comuns na primeira infância
(BRASIL, 2015). Estudos realizados em 2009 pelo Ministério as Saúde apontaram para má qualidade
da alimentação das crianças brasileiras, com alto consumo de alimentos ultraprocessados
(salgadinhos, guloseimas e bebidas açucaradas), em relação ao baixo consumo de alimentos in
natura, principalmente frutas e verduras (BRASIL, 2009a). Tendo sido assumida, nos últimos anos,
a saúde da criança com foco na alimentação como meta de diversos governos.
101

2.1 Identificação de desvios do estado nutricional na infância


Identificar de maneira correta os desvios nutricionais na infância pode ser um fator decisivo
no desenvolvimento da criança. Sabe-se, por exemplo, que, além de baixo peso, a longo prazo,
a desnutrição pode causar baixa estatura, menor aproveitamento escolar e até infertilidade na
vida adulta. Assim como a obesidade em crianças, que pode levar à DCNT (Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis) a médio e longo prazo, como diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia.
Todas estas questões influenciam tanto no desenvolvimento físico, quanto psicológico e mental
das crianças.

Anemia e Hipovitaminose A juntas formam uma pandemia de deficiência nutricional em


crianças de todo mundo, sendo prevalentes no Brasil. O acompanhamento de índices de
crescimento, como peso, altura, circunferência da cabeça, e suas respectivas conferências em
curvas de crescimento da OMS, são importantes, mas devem ser aliados à observação de sinais
e sintomas de anemia e hipovitaminoses, bem como o requerimento de exames bioquímicos em
casos que despertem o alerta nutricional, com claros sinais de desnutrição.

Pele, cabelos, mucosas e olhos, por exemplo, podem fornecer sinais importantes destes
desvios nutricionais e devem ser avaliados em consultas de acompanhamento das crianças, além
das verificações antropométricas de rotina. Também é relevante a participação de pais, familiares
e cuidadores em palestras e ações de educação continuada que possam esclarecer dúvidas sobre
a alimentação e condições nutricionais adversas nesta fase.

2.2 Manejo e aconselhamento nutricional na Infância


Nem sempre as crianças estarão presentes em consultas de rotina nas unidades de saúde,
sendo importante orientar qualquer familiar que esteja participando da alimentação deles.
Grupos de apoio que são preconizados no pré-natal deverão manter suas formações de atores
sociais, ampliando a gama de assuntos abordados e promovendo a participação de todos na rede
pública básica de atenção à saúde.

As pautas das ações nos postos de saúde podem incluir dificuldades na amamentação,
alimentação da mãe neste período, transição ou introdução alimentar, o Guia alimentar para
menores de dois anos, alimentação e a vida escolar, entre outros. As relações entre saúde e
educação devem se estreitar para que se cumpram as bases da educação alimentar e nutricional.

A escola tem papel fundamental neste processo, tendo em vista que muitas das crianças
nesta fase estarão em ambiente escolar durante a maior parte do dia. Em escolas públicas, o
PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) traz diretrizes de estímulo a uma alimentação
saudável e adequada, prevendo inclusive a fase de transição. Através de diretrizes, de cardápios
elaborados por nutricionista, de compras da agricultura familiar, avaliação nutricional e ações
102

de educação alimentar e nutricional busca-se cumprir os parâmetros de segurança alimentar e


nutricional brasileiros.

Em escolas particulares, o acompanhamento dos pais junto à alimentação, verificando


cardápios, locais de alimentação e inclusive acompanhando algumas das refeições do filho
nos primeiros dias será de suma importância. Os processos de escuta e aconselhamento dos
profissionais de saúde neste momento também são decisivos, sendo necessário entender a
dinâmica familiar, tendo e dando acesso a informações confiáveis e esclarecendo as dúvidas que
possam surgir, bem como continuar com o acompanhamento do estado nutricional da criança.

FIQUE DE OLHO
O PNAE atende crianças de várias faixas etárias, matriculadas na rede pública de ensino,
fornecendo alimentação escolar. A lei nº 11.947/2009 (BRASIL, 2009c) e a Resolução FNDE
nº 26/2013 regulam alimentação nas escolas públicas, conhecê-las poderá facilitar o
entendimento sobre alimentação infantil no ambiente escolar.

3. CARACTERÍSTICAS DA IDADE PRÉ-ESCOLAR,


NECESSIDADES NUTRICIONAIS NA IDADE PRÉ-
ESCOLAR, AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E GUIA
ALIMENTAR PARA IDADE PRÉ-ESCOLAR
Sabemos que, desde o nascimento, o ambiente alimentar é de suma importância no
desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e adequados. Os pais têm uma grande
influência nas escolhas alimentares de seus filhos, mas, na idade pré-escolar, para aquelas
crianças que frequentam o ambiente escolar, são muitas as influências na alimentação, incluindo
até a mídia e a propaganda neste processo.

Toda e qualquer pessoa que esteja envolvida na alimentação de crianças influencia de alguma
maneira o modo de se alimentar daquela criança. E essas influências irão perdurar por toda a
vida, sendo importante que sejam fundamentadas em hábitos saudáveis que possam promover
um estado nutricional adequado.
103

Respeitar as necessidades nutricionais na infância, realizar acompanhamento do estado


nutricional tanto na saúde básica quanto na escola, assim como promover ações de educação
alimentar e nutricional são meios de obter segurança alimentar e nutricional nesta fase,
fomentando o desenvolvimento ideal das crianças.

Com o avanço da idade, as visitas aos postos de saúde diminuem e muitas vezes se realizam
em momentos de campanhas de vacinação, sendo necessário estreitar as relações com a
comunidade, a fim de garantir o atendimento a este público em outras oportunidades e estimular o
acompanhamento do estado de saúde das crianças. Um bom exemplo de parceria que pode gerar
bons resultados é o programa Saúde na Escola, que realiza avaliação do estado nutricional das
crianças em idade pré-escolar e escolar, em parceria entre postos de saúde e unidades escolares.

Figura 3 - Alimentação na escola


Fonte: MONKEY BUSINESS IMAGES, Shutterstock, 2020.

#ParaCegoVer: A imagem mostra várias crianças sorrindo e comendo sanduíches e frutas,


aparentam estar lanchando na escola.

3.1 Nutrição na idade pré-escolar, escolar e guias alimentares


Para que seja alcançada uma saúde nutricional adequada na infância, importa conhecer
as necessidades nutricionais neste período. Percebemos anteriormente que as demandas de
nutrientes se alteram com o passar do tempo, assim como a própria alimentação, que começa
com aleitamento e segue na introdução e consolidação de uma alimentação idêntica à da família.

Segundo Mahan et al., “as necessidades nutricionais de uma criança refletem as taxas de
crescimento, a energia gasta em atividades, as necessidades metabólicas basais e a interação
dos nutrientes consumidos” (2013, p. 764). Podemos dividir essas necessidades em nutrientes e
garantir assim a nutrição adequada deste público.
104

Figura 4 - Necessidades alimentares na idade pré-escolar


Fonte: Adaptada de Mahan et al. (2013); Miwa (2018).

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro que mostra as quantidades diárias dos


nutrientes, e a porcentagem que essas quantidades representam, por faixa etária.

Ainda neste sentido, além de conhecer as necessidades alimentares das crianças nesta
fase, cabe identificar outros documentos que auxiliem na formação de conceitos, que poderão
nortear uma alimentação saudável. O Caderno nº 23 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015) traz
informações sobre a rotina alimentar das crianças, com exemplos de alimentos e divisão por faixas
etárias, facilitando a orientação de profissionais de saúde e o desenvolvimento das refeições por
parte de pais, familiares ou cuidadores.

Figura 5 - Recomendações nutricionais na infância


Fonte: Brasil (2015)
105

#ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro com a descrição dos tipos de alimentação


complementar, desde os 6 meses até 24 meses.

O guia alimentar para menores de dois anos traz 10 passos para uma alimentação saudável
e adequada para este público, sendo uma fonte de informação segura e de qualidade tanto
para profissionais, quanto para pais, familiares e cuidadores no desenvolvimento de uma rotina
alimentar que garanta o crescimento e saúde das crianças.

Sabendo-se que ambiente, questões culturais, propaganda de alimentos, acesso aos


alimentos, e rotina escolar podem influenciar a alimentação das crianças, é papel de toda a
sociedade tornar o ambiente alimentar das crianças seguro, saudável e adequado. É papel do
nutricionista conhecer os documentos norteadores de uma alimentação saudável.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

3.2 Avaliação nutricional na idade pré-escolar


Utilizar os marcadores do Ministério da Saúde na avaliação nutricional de crianças na idade pré-
escolar é a garantia para um bom diagnóstico da saúde nutricional para esse público. Além de conhecer
os métodos, saber coletar e interpretar estes dados é fundamental para um diagnóstico seguro.

O uso de POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados), comuns em cozinhas industriais,


pode ser um meio de padronizar a coleta de dados antropométricos. Estes dados podem ser
coletados por nutricionistas, mas também por outros profissionais, como educadores físicos,
enfermeiros e técnicos em enfermagem, professores, sendo importante para o resultado da
avaliação que estes dados sejam fidedignos.

Em bebês, por exemplo, a retirada de toda a roupa, inclusive a fralda pode representar uma grande
diferença no peso. Em crianças maiores não há a necessidade de retirada de toda a roupa, podendo a
106

criança ficar com roupas leves, mas sem os sapatos, que podem representar um acréscimo de peso.
Crianças menores deverão ser pesadas deitadas, mas as maiores podem ficar de pé na balança.

O estado nutricional diz muito sobre a saúde de um indivíduo, e no período da infância ele é
bastante mutável. Além da alimentação, outros fatores podem influenciar no estado nutricional
das crianças.

Através da avaliação nutricional, podemos verificar se peso e altura, ou seja, o desenvolvimento


das crianças está dentro dos padrões esperados. Em caso de déficit identificado precocemente,
o tratamento adequado poderá minimizar os danos. Antropometria, exames bioquímicos,
anamnese ou entrevista e avaliação de consumo alimentar podem fazer parte desta avaliação.

Segundo a padronização tanto da OMS, quanto do Ministério da Saúde, e informações da Sociedade


Brasileira de Pediatria, acompanhamento de peso e altura devem fazer parte do acompanhamento
periódico de crianças na atenção básica de saúde. Para que este atendimento possa ficar registrado
e ainda utilize os parâmetros mundiais, curvas de crescimento e cartão da criança são fornecidos aos
pais e devem ser preenchidos pelos profissionais de saúde a cada visita à unidade de saúde.

Durante os primeiros períodos do recém-nascido, o principal marcador é o peso, sendo


esperado um ganho de 20 a 40 g/dia (MIWA, 2018). Já no período seguinte, dos 6 meses até os
2 anos, os marcadores compreendem peso, altura e circunferência da cabeça, que representa
o crescimento cerebral característico da idade. Após os 2 anos, peso e altura são as aferições
mais comuns, sendo possível calcular IMC (Índice de Massa Corpórea) e coletar dados de pregas
cutâneas para avaliação de gordura corporal. Lembrando que a formula para cálculo de IMC é:

IMC = Peso (kg)/Altura2 (mts)

Fonte: Vitolo (2008).

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:


107

4. ESTUDOS DE SITUAÇÕES ESPECIAIS,


ENVOLVENDO CRIANÇAS E CUIDADO NUTRICIONAL
A infância é repleta de descobertas e adaptações. Nesta fase, as novidades podem advir de
comportamentos relacionados à individualidade das crianças, que começam a se manifestar, ou
até mesmo doenças que não haviam sido diagnosticadas nos primeiros momentos de vida.

Cabe ao nutricionista conhecer melhor quais as situações de déficit nutricional que


podem causar doenças, e quais os desvios nutricionais causados por determinadas doenças. A
desnutrição, por exemplo, tanto pode ser causada por ingestão inadequada de nutrientes, quanto
por diarreias prolongadas, distúrbios enzimáticos ou na absorção dos nutrientes. Por sua vez, a
desnutrição, a longo prazo, irá gerar crescimento menor do que o esperado e baixa estatura.

Avaliação do estado nutricional e acompanhamento, bem como estímulo ao comparecimento


rotineiro aos postos de saúde, poderá ser o diferencial na saúde da criança neste período,
devendo ser preconizado por todos os profissionais da equipe multiprofissional.

4.1 Fatores de atenção à saúde nutricional na infância


Refluxos gastresofágicos, alergias e intolerâncias alimentares também se relacionam
diretamente com o estado nutricional das crianças. Muitas vezes, a suspensão de determinados
nutrientes, como é o caso da intolerância à lactose - causada por falta ou déficit na enzima lactase,
que causa desconfortos relacionados ao trato gastrointestinal, podendo provocar erupções
cutâneas - requer a suspensão de leite e derivados que contenham lactose. A não observação
destas condições pode gerar danos à saúde nutricional de criança.

O atendimento precoce, com estrita avaliação da saúde nutricional, acompanhamento


e prescrição dietética das necessidades especiais são um fator decisivo para que problemas
relacionados à alimentação não causem danos à saúde das crianças. As orientações repassadas
aos responsáveis pela criança deverão ser claras para que possam ter adesão.

Podemos imaginar, como citamos acima, uma criança com intolerância à lactose. Ela pode ser
confundida com uma alergia à proteína do leite, por exemplo, situação em que será necessário
a retirada da proteína do leite e não da lactose. Se nas orientações nutricionais para aqueles
que estão diretamente ligados à alimentação da criança, não ficar claro qual o diagnóstico, e
quais os alimentos que contêm o nutriente a ser retirado, bem como como manejar este tipo
de dieta, pode ser que seja administrada uma alimentação sem leite, mas com outros alimentos
que contenham leite em sua formulação, como biscoitos e bolos. Causando assim desconforto e
alterações nutricionais.
108

A obesidade também é um fator preocupante em relação à saúde nutricional das crianças, ela
pode gerar danos futuros, expor a criança a uma DCNT, além de práticas de bullying em ambientes
escolares. O Brasil tem passado por uma transição nutricional, se antes os casos de desnutrição
eram prevalentes, agora temos inúmeros casos de sobrepeso e obesidade na infância. Não são
recomendadas dietas restritivas neste período, mas sim o controle da qualidade da alimentação
fornecida, os porcionamentos, a frequência da alimentação, bem como o incentivo à prática de
atividades físicas e acompanhamento da evolução do estado nutricional por profissionais de saúde.

4.2 Situações especiais, diagnóstico e tratamento


Falta de apetite, dificuldade em aceitar novos alimentos, a chamada fobia alimentar, birra
e alimentação seletiva são outras questões relacionadas à alimentação na infância que devem
despertar a atenção dos profissionais de saúde, em especial os nutricionistas.

Um bom processo de anamnese (entrevista), investigação e escuta ativa podem fornecer


dados que auxiliarão tanto no diagnóstico como no tratamento destas situações. Através
desta investigação, o verdadeiro motivo para estes distúrbios pode ser encontrado e o melhor
tratamento escolhido (PALMA et al., 2009). Nem sempre o nutricionista conseguirá resolver o
problema sozinho, muitas vezes, sendo necessário o encaminhamento para outros profissionais,
como fonoaudiólogo, médicos especialistas e psicólogos.

A DEP (desnutrição energético proteica) já foi um dos panoramas mais assoladores da condição
nutricional da infância no Brasil. Ela pode ser classificada, segundo Mawi, como: “Kwashiorkor:
deficiência predominantemente proteica; Marasmo: deficiência energético-proteica equilibrada;
Kwashiorkor marasmático: forma mista em que existe a deficiência energética e proteica, porém
desequilibrada” (2018, p. 187).

Apesar de sua prevalência ter diminuído nos últimos anos, em determinadas regiões do
Brasil este problema ainda persiste. Avaliação precoce e acompanhamento, bem como políticas
públicas podem ser fortes aliados no tratamento desta situação.

A desnutrição pode variar de leve a grave, sendo caso de internamento quando em parâmetros
de maior gravidade. Reposição dos principais nutrientes através de soro e suplementos sintéticos,
com evolução para alimentação são alguns dos tratamentos possíveis. Acompanhamento
psicossocial da situação familiar da criança também pode gerar melhorias no quadro.

A falta de apetite pode estar relacionada tanto a características psicológicas das crianças,
quanto a outras enfermidades como feridas na boca, desconforto gástrico, gripes e estados febris
(PALMA et al., 2009). Ela pode ser transitória ou se estender por mais tempo, sendo necessária
a observação do consumo alimentar da criança nestes períodos. Os profissionais de saúde
deverão verificar o consumo alimentar, através de ganho de peso e inquérito alimentar, pois,
109

além de verificar o crescimento, será possível verificar a qualidade da alimentação consumida e


a frequência.

Os grupos de apoio, nas unidades de saúde, deverão abordar estes assuntos, seus sinais e
sintomas, as condições que promovem estes estados e ainda quais as recomendações para que
possam ser sanadas estas dúvidas. Os trabalhos em grupo promovem além de conhecimento, a
troca de experiencias entre pais e cuidadores, sendo bastante benéfica.

No atendimento individual, antropometria (peso, altura e IMC); verificação do histórico de


saúde; escuta da rotina alimentar e queixas dos acompanhantes da criança em questão; avaliação
de todos os dados coletados; e decisão da conduta devem fazer parte da rotina de atendimento
nas unidades de saúde.

Segundo o Guia alimentar (BRASIL, 2019), fazer da base da alimentação das crianças, desde a
introdução alimentar, os alimentos in natura e minimamente processados trará benefícios a curto
e longo prazo. Uma alimentação variada, com pouco ou nenhum consumo de ultraprocessados ou
processados, que apresentam grandes quantidades de calorias, sal, açúcar e gorduras, poderá sanar
problemas como obesidade, constipação, má alimentação, desnutrição, anemia, entre outros.

5. POLÍTICAS DE SAÚDE E ALIMENTAÇÃO


BRASILEIRAS FOCADAS NO GRUPO MATERNO-
INFANTIL E CÁLCULO E INTERPRETAÇÃO DE
INQUÉRITO ALIMENTAR APLICADO À AVALIAÇÃO
DE GESTANTES E CRIANÇAS
O Brasil, no decorrer dos anos, desenvolveu diversos aparatos jurídicos para a garantia do
Direito Humano à Alimentação Adequada, um direito fundamental. Estes aparatos preveem
a garantia de uma alimentação saudável e adequada, seguindo os parâmetros da segurança
alimentar e nutricional. São norteadores destas ações para formulação de políticas públicas, a
Constituição Federal de 1988, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição e a Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional.

Na infância, algumas políticas têm como foco a alimentação e nutrição. Estas políticas estão
ligadas ao atendimento básico de saúde, englobando ações que fomentem e protejam a alimentação
saudável e adequada, políticas de estímulo ao aleitamento materno, políticas de suplementação de
nutrientes, e a política nacional de alimentação escolar, que prevê o fornecimento de alimentação
saudável e adequada a todos os alunos da rede básica pública de educação.
110

Figura 6 - Alimentação em família


Fonte: YUGANOV KONSTANTIN, Shutterstock, 2020.

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma mulher adulta e uma criança deitadas de bruços,
apoiadas sobre os cotovelos, com garfos nas mãos, comendo frutas picadas em uma tigela.

5.1 Nutrição e políticas públicas materno-infantis


Cabe aos nutricionistas conhecer estas políticas, verificar seu público alvo, em que âmbito
são efetivadas (federal, estadual e municipal ou regional), quais as diretrizes destas políticas, seja
pelas leis que as regulam ou pelos cadernos orientativos dos ministérios responsáveis.

O PAISC (Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança) foi uma das primeiras propostas
do Ministério da Saúde relacionado a este público. Com intuito de atenção global, prevê ações
em todas as áreas, inclusive nutrição. As políticas de atenção à infância têm ainda foco na atenção
materna, já que, do estado de saúde desta população, deriva a saúde da população infantil. É o
caso da desnutrição, que, em casos de desnutrição materna, pode gerar casos de desnutrição
infantil, com nascimento de bebês com baixo peso.

Segundo Accioly et al. (2009, p. 20), a PAISC tem ações em: acompanhamento do crescimento
e desenvolvimento; aleitamento materno e alimentação complementar; assistência e controle de
IRA (infecções respiratórias agudas); controle das doenças diarreicas e imunização. A Assistência
Integral às Doenças Prevalentes na Infância é outra ação da qual derivam políticas públicas para
este público, seguindo as recomendações da OMS e UNICEF.

Já os programas de atenção à saúde da mulher são os responsáveis por ações como


imunização, atendimento no pré-natal e puerpério, suplementações vitamínicas, atenção ao parto
e aleitamento materno. Os programas de atenção à saúde da criança preveem acompanhamento
nutricional, imunização, suplementação de vitaminas e minerais, controle de desnutrição e
obesidade, entre outros.
111

Dentre as principais ações tanto na fase da gestação quanto na infância, podemos citar:

· Programa Nacional de Suplementação de Ferro;

· Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A;

· Programa de Combate a Deficiência de Iodo;

· Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN);

· Promoção da Alimentação Saudável (Guias Alimentares e demais ações);

· Pesquisas de saúde nutricional da população (Estudo Nacional de Nutrição Infantil);

· Programa Nacional de Alimentação Escolar;

· Rede cegonha;

· Programa de Atenção à Saúde da Mulher;

· Programas de transferência de renda.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

5.2 Cálculo nutricional e inquérito alimentar na gestação e infância


Saber realizar cálculos nutricionais e inquéritos alimentares, tanto na infância quanto
na gestação, são atribuições do nutricionista. Destes dados dependem parte do diagnóstico
nutricional e elaboração de uma estratégia de ação relacionada à alimentação e nutrição.

Durante a gestação, além de conhecer as recomendações de macro e micronutrientes para


112

cada fase, também se faz necessário realizar o cálculo de gasto energético para este público. A
fórmula a seguir define como realizar este cálculo:

GE = TMB x AF

Gasto Energético = Taxa Metabólica Basal x Fator Atividade física

VET = GE + Adicional de Energia

Valor energético total = gasto energético + adicional de energia para idade gestacional

Fonte: Vitolo (2008); Mello (2012).

Na infância, não existem fórmulas específicas para cálculo de consumo de nutrientes


baseados em calorias, porém podemos usar a mesma fórmula referida para adultos, verificando
que os padrões de atividades física relacionados as crianças são:

• dormindo ou predominantemente deitado – 1,0;

• atividades muito leves – 1,3 a 1,5;

• atividades leves – 1,6 a 2,5;

• atividades moderadas e intensas – 2,5 a 5,0 (Vitolo, 2008, p. 193).

Ainda segundo a autora, “esses valores citados não se referem ao fator atividade diária, e
sim a atividade desenvolvida. Devem-se multiplicar as horas de cada atividade até somar 24h,
multiplicar por cada valor de acordo com a atividade e dividir por 24h” (VITOLO, 2008, p. 193).

A grande dificuldade nesta fase se concentra nos inquéritos alimentares, sendo que os
responsáveis pela alimentação das crianças é que realizarão o preenchimento de acordo com a
observação.

Este processo pode ser dificultado pois, além dos cuidadores poderem ser múltiplos - como
por exemplo uma criança que fica com a mãe no período da manhã, na creche no período da
tarde e com a avó ou pai no período da noite -, as percepções da quantidade consumida podem
ser super ou subestimadas de acordo com quem as relata. As anotações deverão poder mensurar
as quantidades consumidas com base na observação atenta e podem ser norteadas por manuais
de quantificação alimentar.

Em caso de alimentação realizada através do aleitamento materno, as quantificações podem


ser ainda mais complicadas, sendo verificadas através do tempo de mamada, intervalo entre elas,
“quantidade de fraldas molhadas e evacuações, além de verificação do ganho de peso” (VITOLO,
2008, p. 183).
113

As crianças podem ser avaliadas em conjunto com mãe, pai ou cuidadores habituais, sendo
que, até os 7 anos de idade, os responsáveis pelo fornecimento de dados são os adultos que
acompanham a criança, após esta fase, ou seja, depois dos 8 anos de idade, a criança pode
relatar seu consumo e ser auxiliada neste relato pelos responsáveis. Já na fase da adolescência, é
importante tentar coletar estes dados diretamente com o paciente.

Devido ao fato de crianças variarem seu apetite de acordo com questões que vão além do
habito alimentar, convém investigar o consumo alimentar com mais de um método de inquérito.
Solicitar um recordatório de 24 horas pode não ser totalmente suficiente se a criança estiver com
febre, indisposta ou fora de sua rotina normal no dia da coleta. Neste caso, seria interessante
um inquérito alimentar que possa verificar, por exemplo, de três a quatro dias de alimentação
(VITOLO, 2008).

FIQUE DE OLHO
Você conhece o Manual Fotográfico de Quantificação Alimentar Infantil? Ele pode ser
uma boa ferramenta de inquérito alimentar para crianças. https://enani.nutricao.ufrj.br/
wp-content/uploads/2019/06/Manual-quantificacao-alimentar-infantil-BR.pdf
114

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• compreender quais as metodologias de atendimento nutricional relacionadas à fase


de lactentes, idade pré-escolar e crianças, na atenção básica, através de norteadores
de saúde baseados tanto no Ministério da Saúde, quanto na Organização Mundial da
Saúde;

• identificar o manejo dos principais desvios nutricionais, como desnutrição, obesidade


e situações especiais relacionadas à alimentação, ou ainda, doenças que interfiram
na nutrição das crianças;

• conhecer mais sobre a nutrição nas principais fases da infância, com quantidades de
ingestão de nutrientes, necessidades nutricionais de cada fase e a importância dos
Guias alimentares, como é o caso do Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos;

• aprofundar seus conhecimentos sobre as situações especiais, desde o aleitamento


materno até a fase pré-escolar, como seletividade alimentar, birra e outras situações
que envolvem a alimentação na infância;

• explorar os conhecimentos acerca das políticas públicas que se relacionam com a


alimentação na infância e gestação, entendendo mais sobre a interpretação de
inquéritos alimentares, cálculos nutricionais e avaliação nutricional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E. et al. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura


Médica, 2009. 649p.

BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
19 set. 1990. Seção 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm>. Acesso em: 28 de fev. de 2020.

BRASIL. LEI Nº 11.265, DE 3 DE JANEIRO DE 2006. Regulamenta a comercialização de


alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de
puericultura correlatos. Brasília, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11265.htm. Acesso em: 12 mar. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Saúde da criança: nutrição infantil, aleitamento materno e alimentação
complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009a. (Série A. Normas e Manuais
Técnicos - Cadernos de Atenção Básica, n. 23).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. A legislação e o marketing de produtos que interferem na
amamentação: um guia para o profissional de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Editora
do Ministério da Saúde, 2009b.

BRASIL. LEI Nº 11.947, DE 16 DE JUNHO DE 2009. Dispõe sobre o atendimento da


alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação
básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de
2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no
2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras
providências. Brasília, 2009c. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2009/Lei/L11947.htm. Acesso em: 12 mar. 2020.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional


de Segurança Alimentar e Nutricional. Marco de referência de educação alimentar e
nutricional para as políticas públicas. Brasília: MDS, 2012. 68p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Manual instrutivo das ações de alimentação e nutrição na rede Cegonha. Brasília:
Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica.
– 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Guia alimentar para menores de 2 anos/ Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2019.

MAHAN, L. K. et al. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013. 1228 p.

MELO, A. L. Manual de avaliação nutricional e necessidade energética de crianças e


adolescentes: uma aplicação prática. - Salvador: EDUFBA, 2012. 88 p

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasil. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Atenção Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro: manual de condutas
gerais. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 24p.

MIWA, M. T. Nutrição e dietoterapia obstétrica e pediátrica. CDD 615.854. Londrina:


Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 208 p.

PALMA, D. et al. Guia de nutrição clínica na infância e na adolescência. Barueri, SP:


Manole, 2009, 661 p.

VÍTOLO, MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008,


628 p.
O livro Nutrição materno infantilé direcionado para estudantes
de cursos de nutrição.

Após a leitura da obra, o leitor vai aprender sobre a fisiologia


e as repercussões nutricionais diabetes e hipertensão gestacionais;
conhecer os motivos pelos quais o aleitamento materno é superior a
outros métodos de nutrição infantil e como estimular o aleitamento;
saber as definições e terminologias mais utilizadas na área da saúde
materno-infantil; aprofundar os conhecimentos sobre os aspectos
relacionados aos ajustes fisiológicos e riscos para a saúde da mulher
durante o período gestacional; apreender informações importantes
sobre a dieta de gestantes na promoção de uma gestação saudável,
com influência na saúde da mãe e do bebê;

descobrir os métodos para realizar a avaliação de consumo


alimentar, tanto de maneira qualitativa quanto de maneira
quantitativa.

E não é só isso. Tem muito mais. O livro tem muito conteúdo


relevante. Aproveite.

Agora é com você! Bons estudos!

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