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Curso Terapia Nutricional em Pediatria

Versão 1.0

Alimentação e Orientação Nutricional nas Escolas


Quais os Cuidados?
Vera Regina Mello Dishchekenian

A urbanização do país associada à inserção da mulher no mercado de trabalho e a


preocupação da sociedade com o acolhimento e escolarização das crianças deram origem a
instituições de atendimento educacional para crianças de 0 a 6 anos. As creches e escolas
foram legalizadas e reconhecidas como instituições de ensino pela Constituição Federal, em
1988, artigo 208, tornando-se direito da família e dever do Estado.
As Instituições de Ensino passaram a dividir com a família o papel de formação de
hábitos saudáveis. Elas oferecem um espaço propício, com estrutura organizada e separada
por faixas etárias, onde a permanência dos alunos permite a realização de uma a várias
refeições ao dia, durante ao menos cinco dias na semana. Paralelamente, as Instituições de
Ensino são ambiente de formação de opinião, por meio dos conteúdos desenvolvidos e da
convivência de crianças com diferentes hábitos o que faz com que umas influencie às outras
1,2
.
Os hábitos alimentares começam a ser estabelecidos durante a infância e sofrem
influência de diversos fatores como: dinâmica e ambiente familiar, fatores culturais, tabus
existentes, tradições, influencia dos amigos da mídia e das Instituições de Ensino. Os hábitos
alimentares como sendo a somatória de práticas alimentares, refletirão diretamente no
crescimento e desenvolvimento e na prevenção de doenças relacionadas com a oferta
nutricional. Assim a alimentação saudável deve contemplar todos os nutrientes necessários:
carboidratos (fonte de energia preferencial), proteínas (nutriente construtor), gorduras
(fonte energética de armazenamento), vitaminas e minerais (nutrientes reguladores). Esta
deve ser composta por carnes, leites e derivados, frutas, legumes, verduras, cereais, massas
e pães 1.
É necessário que família e profissionais da Saúde envolvidos na educação infantil
tenham conhecimento sobre as diferentes necessidades nutricionais por faixa etária. Este
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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o. 9.610 de
19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer
forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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conhecimento permitirá a elaboração de programas de alimentação visando atingir o


crescimento e desenvolvimento das crianças em toda a sua potencialidade e a prevenção de
distúrbios nutricionais por carência ou excesso de nutrientes.
O avanço da ciência e das novas tecnologias de produção, transporte e conservação
dos alimentos geraram preocupação com a qualidade, composição, biossegurança, aspectos
toxicológicos e rotulagem dos alimentos disponíveis para a população infantil. A maior
acessibilidade alimentar e importantes mudanças nos hábitos dietéticos da família e
conseqüentemente da criança (transição nutricional) vem causando efeitos deletérios ao
bom estado nutricional das crianças e dos adolescentes 3.
O lactente muitas vezes é deixado no berçário ainda na fase de amamentação, fazendo
com que a introdução da alimentação complementar ocorra fora do núcleo familiar. Nesse
período o berçário ou creche passa a ser o provedor da alimentação devido ao longo período
de permanência diária. É essencial que a mãe acompanhe a alimentação ofertada na
Instituição por meio do recebimento dos cardápios e questionamento dos utensílios
utilizados, horários e intervalos de refeição, composição e textura das papas de fruta e
salgada, tamanho das porções e aceitação destas pela crianças. Sugere-se que os horários e
a introdução da alimentação complementar seja seguida aos finais de semana, garantindo a
evolução das condutas pertinentes à faixa etária 1,4.
Quando a criança ingressa na escola com idade entre 01 e 06 anos, ela passa a ser
reconhecida como pré-escolar. Esta fase tem como característica a diminuição do apetite
associada à redução da velocidade de crescimento. O sistema metabólico e digestivo já tem
funções semelhantes ao dos adultos porém o volume gástrico ainda é reduzido 5.
Nessa fase, o comportamento alimentar é imprevisível e variável. A quantidade de
alimentos ingerida pode oscilar, sendo grande em alguns períodos e nula em outros; o
alimento favorito de hoje poderá ser inaceitável amanhã ou um único alimento pode ser
aceito por muitos dias seguidos. A falta de conhecimento dos pais e cuidadores faz com que
haja muita insistência e medidas coercitivas em relação à alimentação, com repercussões

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o. 9.610 de
19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer
forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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negativas que podem se converter em distúrbios alimentares que podem perdurar em fases
posteriores 5,6.
Os pré-escolares possuem período escolar de quatro horas diárias em média, podendo
extender-se à oito horas, nos casos de período integral. Neste último caso, faz-se necessária
a mesma atenção destinada aos lactentes freqüentadores de berçários.
O esquema alimentar na fase da pré-escola proposto no Manual de Nutrologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria1 é composto por cinco a seis refeições diárias, com horários
regulares: café da manhã – 8h; lanche matinal –10h; almoço – 12h; lanche vespertino – 15h;
jantar – 19h e conforme a necessidade, lanche antes de dormir.
Atualmente observa-se que as crianças que permanecem na escola em período
integral recebem uma refeição na escola, muitas vezes denominada jantar, antes do horário
de saída, por volta das 16/17 horas. Vale verificar se ela é uma refeição completa, ou se se
faz necessário a oferta do jantar em casa. Observa-se que comumente a família
complementa o dia alimentar em casa com refeição láctea ou produtos industrializados de
fácil acesso e preparo, como sobremesas lácteas, biscoitos, doces, lanches, macarrão
instantâneo e pratos semi-prontos ou congelados sendo na maior parte das vezes estes ricos
em açúcar, sal e gordura.
Nessa fase as preferências já recaem sobre o sabor doce e sobre os alimentos
calóricos. As preferências não devem prevalecer sobre o consumo de alimentos saudáveis,
podendo ser ofertadas com moderação em termos de porcionamento e de horários. É
fundamental o controle na oferta de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal por parte da
escola e da família.
A faixa etária escolar compreende crianças de sete a dez anos de idade. Esse período
caracteriza-se por maior atividade física, ritmo de crescimento constante com ganho mais
acentuado de peso devido à proximidade do estirão da adolescência e crescente
independência alimentar. Essas transformações, aliadas ao processo educacional e social,
são determinantes para o aprendizado e estabelecimento de novos hábitos alimentares 1,6.

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o. 9.610 de
19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer
forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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No período escolar a criança apresenta um gasto energético significativo e necessita de


energia para desenvolver de forma positiva as atividades exigidas na escola, como a
concentração, memorização, aprendizado e atividades físicas cotidianas. Nessa fase é
essencial que se respeite os hábitos, preferências e necessidades nutricionais na escolha dos
alimentos que compõem o lanche escolar.
Já na adolescência, o hábito alimentar é marcado de maneira importante pela
independência, padrões alimentares ditados pelo grupo, local de refeição aleatório e
redução da participação da família nos momentos da refeição e durante as escolhas
alimentares.
Nessa fase é muito prevalente a omissão do café da manhã e o lanche escolar trazido
de casa passa a ser rejeitado pelo jovem. Aumenta o acesso às cantinas escolares onde na
maioria das vezes são ofertados alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, com alta
densidade energética.
A alimentação inadequada nessa fase pode levar o jovem a apresentar alterações
metabólicas como dislipidemias, hipertensão, aterosclerose e aumentando o risco de na
fase adulta desenvolverem doenças crônicas como obesidade, diabetes melito tipo 2 e
doenças cardiovasculares 6, além de doenças carenciais destacando-se principalmente a
deficiência de ferro, cálcio e vitamina A.
É essencial a sensibilização do jovem para a importância da alimentação durante as
mudanças que ocorrem nesta fase. É fundamental estabelecer estratégias para atingir as
necessidades nutricionais. Por exemplo em relação ao cálcio, por exemplo, é necessário
explicar que o nutriente é fundamental para o crescimento e rigidez óssea, alcance da
estatura geneticamente projetada e prevenção de fraturas. Cabe propor acordos do número
de porções de leite e derivados ao dia, com propostas de substituições e tamanho das
porções para a faixa etária 1.
A educação alimentar deve ser continuada durante toda a fase de crescimento e
mesmo com as escolhas contraditórias do adolescente. Os bons hábitos cultivados na
infância e mantidos pela família têm grande chance de serem resgatados posteriormente.
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Merenda e Cantina Escolar

O Governo Federal, por meio do Programa de Alimentação Escolar, envia aos estados
R$0,30/refeição/criança matriculada nas escolas públicas. O Estado de São Paulo é o único
na Federação a complementar a verba recebida com o repasse de R$ 0,22/refeição/criança.
No estado de São Paulo, a merenda escolar deve suprir de 20 a70 % das necessidades
energéticas dos alunos matriculados em creches, Centros de Educação Infantil, Escolas
Estaduais de Ensino Fundamental e Médio. A permanência por 4 horas exige a oferta de
uma refeição ou 20% das necessidades diárias. Períodos de 5 a 6 horas, com um lanche e
uma refeição devem preencher 30% das necessidades e períodos integrais, com dois lanches
e uma refeição devem satisfazer 70% das necessidades diárias dos consumidores. Quando a
verba chega ao município ela pode ser aplicada de maneira centralizada, descentralizada ou
7,8
conveniada . Vale ressaltar que a centralização de compras resulta na aquisição de
alimentos não perecíveis, de fácil transporte e armazenamento e na maioria das vezes mais
calóricos e caros do que alimentos in natura. Vale ainda salientar que refeições salgadas vêm
sendo servidas em horário de lanche da manhã e da tarde, beneficiando alunos em risco ou
vigência de carências nutricionais e predispondo os demais a risco de excesso de peso e suas
comorbidades.
Nas escolas particulares normalmente existe uma cantina, muitas vezes arrendada
como qualquer outro estabelecimento comercial ou mesmo uma filial de rede de fast food.
Normalmente estes locais são administrados por profissionais sem conhecimento sobre
alimentação e nutrição e sem a preocupação com a criação de hábitos saudáveis nas
crianças e adolescentes. Outro local que pode ser apontado como fator de risco para
consumo inadequado de alimentos e na saída da escola onde carrocinhas de pipoca, de
cachorro quente, algodão doce e pastel ficam acessíveis para os alunos.
Reconhecendo a importância da escola na formação de hábitos saudáveis, os
Ministérios da Educação e Saúde publicaram a Portaria Interministerial nº 1.010, em
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08/05/2006 , direcionada às escolas públicas e privadas, visando a promoção da
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19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer
forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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alimentação saudável e ações para a adoção de práticas alimentares adequadas no ambiente


escolar.
Vários Estados e Municípios regulamentaram o comércio nas cantinas escolares com a
proibição da comercialização de artigos como balas, pirulitos, gomas de mascar,
refrigerantes, sucos artificiais, salgadinhos industrializados, salgados fritos e pipocas
industrializadas porém a medida ainda não atingiu as dimensões esperadas 10.
Cabe aos pais exigirem posicionamento das Instituições de Ensino por eles
selecionadas, quanto ao seu papel como formadores de hábitos saudáveis dos alunos. Cabe
aos profissionais de Saúde orientarem pais e familiares sobre a importância de uma
alimentação familiar saudável no crescimento e desenvolvimento adequado e para a
prevenção de doenças crônicas.

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Referências Bibliográficas

1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: alimentação do lactente,


alimentação do pré-escolar, alimentação do escolar, alimentação do adolescente,
alimentação na escola. Departamento de Nutrologia. Disponível em:
<http://www.sbp.com.br/img/manuais/manual_alim_dc_nutrologia.23-32,pdf> Acesso em
06ago 2010.

2. MAGALHÃES, CG. Impacto de programa educativo nos conhecimentos, preferências e


hábitos alimentares de escolares. Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de
Medicina, 2002. Tese de Mestrado. São Paulo.

3. LICHTENSTEIN, A H et al .Diet and lifestyle recommendations revision 2006: a scientific


statement from the American Heart Association Nutrition Committee. Circulation: Journal
of the American Heart Association 2006; 114:82-96.

4. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para crianças menores de dois anos.
<http://nutricao.saude.gov.br/nutricao/docs/geral/enpacs_10passos.pdf >Acesso em:
05AGO2010.

5. VITOLO, MR. Nutrição: da gestação à adolescência. Rio de Janeiro, Reichmann &


Autores Editores, 2003. p.144-145.

6. BIRCH LL & FISHER JO. Development of Eating Behaviors Among Children and
Adolescents. Pediatrics. 101 No. 3 Supplement March, 1998; 539-549.

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o. 9.610 de
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7. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.


Alimentação escolar: Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-
alimentacao-escolar> Acesso em: 05AGO2010.

8. BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Departamento de


Suprimento Escolar. O programa de alimentação escolar. Disponível
em:<http://dse.edunet.sp.gov.br/>Acesso em: 05ago2010.

9. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Portaria


Interministerial n° 1.010, de 8 de maio de 2006 – Institui as diretrizes para a Promoção da
Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das
redes públicas e privadas, em âmbito nacional. Disponível em:
<http://dtr2004.saude.gov.br/sas/legislacao/portaria1010_08_05_06.pdf> Acesso em:
05ago2010.

10. PORTAL EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANA. Lei nº 14423, de 02/06/2004. Dispõe


que os serviços de lanches nas unidades educacionais públicas e privadas que atendam a
educação básica, localizadas no Estado, deverão obedecer a padrões de qualidade
nutricional e de vida, indispensáveis à saúde dos alunos. Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/fundepar/02_04_lei_cantina_saudavel.shtml> Acesso em:
05ago2010.

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