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Curso Terapia Nutricional em Pediatria

Versão 1.0

Uso de probióticos em pediatria

Pollyanna Fernandes Patriota

Histórico:

Desde o século XIV, com o reconhecimento da importância da flora intestinal


como um mecanismo ativo de controle de processos infecciosos e na modulação da
resposta imunológica, que os pesquisadores têm buscado formas de possibilitar a
restauração da flora intestinal ideal1.
A utilização de leite fermentado na alimentação humana ocorre há mais de
10.000 anos, pois esta era a forma de preservar este alimento na época. Porém,
Metchnikoff foi o primeiro pesquisador que em 1905 verificou uma associação entre
longevidade e preservação de uma microbiota intestinal saudável utilizando o
microorganismo Lactobacillus bulgaricus1,2.

Conceito:

O termo probiótico é originário do grego “para a vida”, tendo sido proposto em


1965 por Lilley e Stillwell2.
Probióticos são microorganismos vivos que, quando administrado em
quantidade adequada, conferem efeito benéfico à saúde do hospedeiro3.
Para ser considerado probiótico, o microorganismo deve apresentar as
seguintes características 4,1:
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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o.
9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material
de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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a) Origem humana
b) Ser comprovadamente seguro.
c) Permanecer vivo e estável no produto até o final do prazo de validade;
d) Estar em quantidade suficiente, na forma de células vivas, antes da ingestão;
e) Ter capacidade de aderir à célula epitelial;
f) Sobreviver à ação dos ácidos gástricos, dos sais biliares e chegar vivo e ativo ao seu
sítio de atuação no organismo.
g) Exercer benefício clinicamente comprovado.

Características da microflora intestinal durante a infância e suas implicações na


saúde da criança.

Na infância a microflora é simples, instável e muito influenciada pela nutrição.


Antes do nascimento o intestino é estéril, banhado apenas pelo líquido amniótico.
Dessa forma, a colonização intestinal inicia-se logo após o nascimento quando em
contato com diferentes espécies de microorganismos5,6.
A criança que nasce de parto normal entra em contato com a flora vaginal, com
a região perineal da mãe, o que contribui para o desenvolvimento de sua flora
intestinal. O aleitamento materno propicia um bom desenvolvimento da flora
intestinal da criança, sendo que no sétimo dia de aleitamento materno exclusivo a
microflora já se aproxima da estabilidade e é composta principalmente por
lactobacillus e bifidobactérias ( >90%)1,6.
Por volta dos 18 aos 24 meses a microbiota da criança tende a estabilizar e
assemelhar-se a do adulto 7.

Principais microorganismos bacterianos considerados como probióticos


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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei n o.
9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material
de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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Microorganismos dos gêneros lactobacillus e bifidobacterium, além de


Escherichia coli, Enterococcus e Bacillus e o fungo Sccaramoyces boulardii.
Efeitos benéficos que têm sido atribuídos aos probióticos

a) Melhora da constipação intestinal, diminuindo o tempo de trânsito intestinal 4.


b) Ação eficaz no tratamento da diarréia aguda com o uso de Lactobaccillus casei defensi
4,8
.
c) Melhora dos sintomas na doença inflamatória intestinal e na prevenção de recaídas de
colite ulcerativa e na doença de Cronh8,9.
d) Melhora da cólica do lactente: Estudo utilizando fórmula láctea com alfa-
lactoalbumina enriquecida com probiótico verificou melhora significativa na presença
das cólicas tanto em lactentes de três semanas à três meses de idade, possibilitando
crescimento adequado10, 11.
e) Estímulo da resposta imunológica, sem desencadear resposta inflamatória prejudicial:
aumento da secreção de interferon-gama, redução dos níveis séricos de células
precursoras hematopoiéticas CD 34+ 11.
f) Redução de manifestações alérgicas específicas10: pela capacidade de induzir a quebra
de proteínas com potencial alergênico no trato gastrintestinal, por propiciar a
restauração da permeabilidade intestinal, aumento da secreção de inteferon-gama em
pacientes com alergia ao leite de vaca e dermatite atópica.

O quadro 1 abaixo mostra estudos recentes sobre os efeitos da utilização de


probióticos no grupo pediátrico:

Quadro 1- Estudos sobre o efeito dos probióticos na população pediátrica

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Revista/Ano/ Objetivos Desenho do Conclusões


Local estudo/faixa etária

European journal Efeito de uma Estudo duplo-cego Uma fórmula enriquecida com
of Clinical fórmula com alfa- controlado com grupo alfa-lactoalbumina e
Nutrition/ 2010/ lactoalbumina placebo com 66 suplementada com probióticos
Paris- France suplementada com lactentes saudáveis (lactobacillus rhamnosus,
probióticos em com queixas de cólicas bifidobacterium infants)
bebês com cólicas. e com idade de 3 garantiu bom ganho de peso e
semanas a 3 meses. crescimento das crianças com
cólicas como também boa
tolerância gastrintestinal.
European journal Verificar a utilização Estudo duplo-cego, A ingestão diária de bebida
of Clinical de um leite randomizado com láctea fermentada contendo a
Nutrition/ 2010/ fermentado com ocultação da alocação cepa de L casei DN - 114 00,
Washington- probiótico na dos probióticos mostrou redução nas chances
USA. redução de doenças controlado e com de adoecer, principalmente por
infecciosas em grupo placebo com 638 infecções gastrintestinais.
crianças. crianças de 3 a 6 anos .
European journal Determinar se o Estudo duplo-cego O consumo de um iogurte com
of Clinical consumo de iogurte randomizado, 1010 Unidades Formadoras de
Nutrition/ 2010/ contendo uma dose controlado com grupo Colônia de Bifidobaterium
Washington- elevada de placebo com ocultação animalis SSP. Lactis por dia,
USA. probiótico melhora a da alocação dos durante 90 dias, não reduziu o
saúde da criança. probióticos com 182 número de dias perdidos na

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crianças saudáveis de escola devido à presença de


1- 3 anos doença

É importante lembrar que cada cepa de bactéria probiótica possui efeito


benéfico específico e diferente sobre o hospedeiro.
Em pediatria o objetivo de utilização dos probióticos para prevenção de
determinadas doenças deve ser feita no momento da instalação da microbiota
intestinal do lactente, para que os microorganismos façam parte da microbiota
definitiva do hospedeiro1.
A quantidade considerada adequada para que os efeitos benéficos se
produzam é de 5 bilhões de unidades formadoras de colônias (UFC) por dia ( 5 x 10 9 ) ,
por pelo menos 5 dias1.
No Brasil, a recomendação da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária para
utilização de bifidobactérias no leite fermentado pronto para o consumo é de 108 a 10
9 15
UFC . Veja no quadro 2, abaixo a Lista de alegações de propriedade funcional
aprovadas pela ANVISA:

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Quadro 2. Lista de alegações de propriedade funcional aprovadas

Lactobacillus acidophilus
Lactobacillus casei shirota
Lactobacillus casei variedade rhamnosus
Lactobacillus casei variedade defensis
Lactobacillus paracasei
Lactococcus lactis
Bifidobacterium bifidum
Bifidobacterium animallis (incluindo a subespécie B. lactis)
Bifidobacterium longum
Enterococcus faecium
Alegação
“O (indicar a espécie do microrganismo) (probiótico) contribui para o equilíbrio da flora
intestinal. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
Requisitos específicos
A quantidade mínima viável para os probióticos deve estar situada na faixa de 108 a 109
Unidades Formadoras de Colônias (UFC) na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante. Valores menores podem ser aceitos, desde que a
empresa comprove sua eficácia.

A documentação referente à comprovação de eficácia, deve incluir:

- Laudo de análise do produto que comprove a quantidade mínima viável do microrganismo até o final do
prazo de validade.

- Teste de resistência da cultura utilizada no produto à acidez gástrica e aos sais biliares.

A quantidade do probiótico em UFC, contida na recomendação diária do produto pronto para


consumo, deve ser declarada no rótulo, próximo à alegação.

Os microorganismos Lactobacillus delbrueckii (subespécie bulgaricus) e Streptococcus


salivarius (subespécie thermophillus) foram retirados da lista tendo em vista que além de serem
espécies necessárias para produção de iogurte, não possuem efeito probiótico
comprovado.
cientificamente

http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno_lista_alega.htm

Colli, 2002 apud Pimentel2, recomenda que o nível de consumo de 109 a 1010
organismos/dia seria a quantidade ideal, durante duas a três semanas, o que
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equivaleria a um litro de leite de acidófilos formulados ao nível de 2 x 10 6 UFC/ml,


lembrando que a validade desses produtos refrigerados é de três a seis meses.
De qualquer forma, trata-se de assunto que necessita ainda de maiores estudos
para que se verifique a indicação precisa em pediatria.

Bibliografia:

1. DE MORAIS, M.B & JACOB, CMA. Probióticos e prebióticos em pediatria. Jornal de


Pediatria – vol . 82. No. 5( Supl),p. S189 – S197, 2006.

2. PIMENTEL,C.V.M.B. Probióticos in : Alimentos funcionais : introdução as principais


substancias bioativas em alimentos.São Paulo : Livraria Varela,2005.

3. FOOD AN AGRICULTURE Organization of the United Nations and World Health


Organization.Guidelines for evaluation of probiotics in food, 2002.

4. RODRIGUES, G.P. Probióticos. In: DUTRA-DE-OLIVEIRA, J.E.; MARCHINI, J.S.Ciências


nutricionais : aprendendo a aprender. 2ª Ed. São Paulo: Savier, p. 447 – 487, 2008.

5. OBA, J; CUKIER, C;MAGNONI, D. .Probióticos em pediatria.Instituto de Metabolismo


e Nutrição – Imen ,2009. Disponível em :
http://www.nutricaoclinica.com.br/content/view/125/16/ . Acesso em
25/07/2010.

6. MITSUOKA, T. History and future prospects of intestinal flora research.In: Special 20 th


anniversary edition of healhtist,Tokio Japan Ed. Yakult Honsa Co,1997.

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7. VANDERHOOF JA, YOUNG RJ. Current and potential uses of probiotics. Ann Allergy
Asthma Immunol,93 (Suppl 3): S33-S37,2004.

8. KARKOW, F.J.A.; FAINTUCH,J. ; KARKOW, A.G.M. Probióticos : perspectivas


médicas.Revistas de AMRIGS, v 51, No. 1, p. 38 – 48 , 2007.

9. FIOOCHI,C . Probiotics in inflamatory boewl disease. J Bras Gastroenterol, v 8, No 2,


p 58-64, 2008.

10. MARTINS, F. O.100 Trilhões de Bactérias no Nosso Corpo, Precisamos de


Probióticos?. Nutrição em Pauta, São Paulo, p. 15 – 19, 2009.

11. DUPONT, C. ET AL. Alfa- lactalbumin-enriched and probiotic- supplemented infant


formula in infants with colic: growth and gastrointestinal tolerance. European Journal
of clinical Nutrition,64,765-767, 2010.

12. Lima, L. M ET AL. In vitro evaluation of probiotics microorganisms adhesion to na


artificial caries model. European Journal of clinical Nutrition,59, 884-886, 2005

13. MEREINSTEIN,D. ET AL. The study to investigate the potential benefits of probiotics
in yogurt, a patient –oriented, double-blind, cluster –randomized, placebo-controlled,
clinical trial. European Journal of clinical Nutrition 64, 685-691,2010.

14. MEREINSTEIN ,D. ET AL. Use of a fermented dairy probiotic drink containing the
rate of ilness in kids : the DRINK study A patient –oriented, Double –blind, cluster-
randomized, placebo-controlled, clinical trial. European Journal of clinical Nutrition 64,
669-677,2010.
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15. BRASIL. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Alimentos


com Alegações de Propriedades Funcionais e de Saúde, Novos Alimentos/Ingredientes,
Substâncias Bioativas e Probióticos. Atualizado em julho de 2008.Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno_lista_alega.htm
acesso em 25/07/2010.

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