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RESUMO
Os efeitos relacionados à saúde do consumo de leite de vaca por humanos tem sido o foco de
pesquisas epidemiológicas recentes. O leite é um componente substancial da nutrição nos
países industrializados ocidentais. Atualmente há evidências crescentes de que a β-caseína A1,
uma proteína presente no leite da maior parte dos tipos de vacas, também está associada à
sensibilidade ao alimento. Com base nisso, o presente trabalho tem como objetivo abordar por
meio de uma revisão integrativa o impacto do consumo da caseína A1, proteína presente no
leite de vaca, na microbiota intestinal humana. Assim, obedecendo aos seguintes critérios de
inclusão, os artigos foram selecionados considerando os que mencionaram caseína A1 e
microbiota intestinal, que estivessem indexados nas bases de dados pré-selecionadas, que
fossem publicados em inglês e português entre 2014 a 2020 e estivessem disponíveis na íntegra.
Acrescenta-se que os artigos foram eleitos utilizando as bases de dados Pubmed, Scielo e
Lilacs, por meio dos seguintes descritores (Decs): Caseína A1, β-caseomorfina-7, μ-opióides,
microbiota. Para essa seleção realizou-se a leitura dos títulos e dos respectivos resumos, com a
finalidade de verificar apropriação do estudo com a questão norteadora levantada para
investigação. Ao final da pesquisa, foram encontrados 20 artigos, contudo foram excluídos 15
desses estudos por serem artigos de revisão, restando 5 artigos de pesquisa. Os resultados
desses estudos sugerem que o consumo de leites contendo beta-caseína do tipo A1, podem
causar alterações na motilidade intestinal, consistências das fezes e aumento de biomarcadores
inflamatórios (IL4, IgG, IgG1, IgE), devido à ativação dos receptores de μ-opióides, derivados
da digestão desta proteína. Em humanos, a digestão da β-caseína A1 bovina libera β-
caseomorfina-7, que ativa os receptores μ-opióides expressos em todo o trato gastrointestinal
e no corpo. Embora sejam poucos os estudos relacionando a β-caseína A1 a problemas
gastrointestinais, ainda são necessárias mais pesquisas, com um percentual maior de
participantes com sensibilidade à beta-caseína A1 do leite de vaca, para confirmação.
1
Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção de nota para
conclusão do curso de Nutrição.
²Graduanda em Nutrição pela Universidade Potiguar. E-mail: marianadn_@outlook.com
²Graduando em Nutrição pela Universidade Potiguar. E-mail: rebertonnunes@gmail.com
³Orientadora Nutricionista clínica e esportiva funcional. Mestre em Nutrição. Doutora em Bioquímica.
Professora da Universidade Potiguar. E-mail: fabiana.serquiz@ulife.com.br
1
POTENTIAL EFFECTS OF CASEIN A1 ON INTESTINAL MICROBIOTA: AN
INTEGRATIVE REVIEW
ABSTRACT
The health-related effects of human consumption of cow's milk have been the focus of recent
epidemiological research. Milk is a substantial component of nutrition in western industrialized
countries. There is now increasing evidence that β-casein A1, a protein present in the milk of
most types of cows, is also associated with food sensitivity. Based on this, the present work
aims to address, through an integrative review, the impact of the consumption of casein A1, a
protein present in cow's milk, on the human intestinal microbiota. Thus, according to the
following inclusion criteria, articles were selected considering those that mentioned casein A1
and intestinal microbiota, that were indexed in pre-selected databases, that were published in
English and Portuguese between 2014 and 2020 and were available in full . It should be added
that the articles were selected using Pubmed, Scielo and Lilacs databases, using the following
descriptors (Decs): Casein A1, β-caseomorphin-7, μ-opioids, microbiota. For this selection, the
titles and respective abstracts were read, with the purpose of verifying the appropriation of the
study with the guiding question raised for investigation. At the end of the search, 20 articles
were found, however 15 of these studies were excluded because they were review articles,
leaving 5 research articles. The results of these articles suggest that the consumption of milks
containing type A1 beta-casein can cause changes in intestinal motility, stool consistencies and
an increase in inflammatory biomarkers (IL4, IgG, IgG1, IgE), due to the activation of μ-opioid
receptors, derived from the digestion of this protein. In humans, digestion of bovine β-casein
A1 releases β-caseomorphin-7, which activates μ-opioid receptors expressed throughout the
gastrointestinal tract and in the body. Although there are few studies linking A1 β-casein to
gastrointestinal problems, more research is still needed, with a higher percentage of participants
with sensitivity to A1 beta-casein from cow's milk, for confirmation.
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1. INTRODUÇÃO
O consumo de leite de vaca faz parte dos hábitos nutricionais básicos dos países
industrializados ocidentais e acompanha o ser humano desde antes da existência das
civilizações. O ser humano é o único mamífero a prolongar a ingestão de leite ao longo de toda
a vida (LOUISE, 2020).
O leite mais consumido no Brasil é o de vaca e neste produto a β-caseína representa
aproximadamente 30% do total de proteínas contidas e de acordo com a genética do animal
serão expressas no leite as variantes β-caseína A1 e/ou A2, originando a denominação leite A1,
o qual haverá apenas β-caseína A1 ou uma mistura de β-caseína A1 e A2; e leite A2, no qual
haverá apenas β-caseína do tipo A2 (XIMENES, 2019).
Uma das principais (se não a mais importante) razões de ser um alimento bastante
consumido, é pelo seu alto poder nutritivo que, no geral, engloba muitos nutrientes como,
cálcio, carboidratos, lipídeos, proteínas, peptídeos bioativos, vitaminas e minerais, além de
imunoglobulinas, hormônios, fatores de crescimento, entre outros, que contribuem para a saúde
humana (LIMA, 2022). Estudos epidemiológicos recentes associam a ingestão de leite de vaca
a um risco aumentado de doenças (MELNIK, 2021).
O trato gastrointestinal (TGI) apresenta um epitélio contínuo que se estende da boca até
o ânus. Tem como função principal a digestão e absorção de nutrientes, e também fornece uma
barreira física e imunológica. No intestino habitam diversas bactérias, patogênicas e benéficas,
o equilíbrio entre essas bactérias promove vários benefícios ao hospedeiro, como produção de
ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), de algumas vitaminas, além de influenciar o
desempenho do sistema imunológico uma vez que, o tecido linfóide associado ao intestino
contém 70% a 80% de todas as células imunológicas que um ser humano possui (OLIVEIRA,
2019; MARTINS, 2022).
Nos humanos, o TGI é povoado por diversos microrganismos, comensais e simbióticos,
cuja composição é definida geneticamente e se inicia ainda na vida intra-uterina e continua
sofrendo influência no período pós-natal pelos fatores ambientais, modo de nascimento,
aleitamento materno nos primeiros meses de vida, idade, hábitos alimentares e estilo de vida
(OLIVEIRA, 2019).
É na microbiota intestinal que os nutrientes ingeridos na dieta são transformados em
produtos metabólicos que irão afetar a saúde intestinal e consequentemente, a saúde do
indivíduo. A alimentação está diretamente associada ao equilíbrio da microbiota e à integridade
da mucosa intestinal. Uma vez que esse equilíbrio se rompe, instala-se um quadro de disbiose
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intestinal (OLIVEIRA, 2019). Dentre os alimentos relacionados a um quadro de disbiose
intestinal, os mais citados na literatura são o leite de vaca e o trigo, alimentos consumidos
diariamente por milhões de pessoas (OLIVEIRA, 2019).
Existe uma suposição generalizada na sociedade e entre os profissionais de saúde de
que a causa predominante da intolerância ao leite é a atividade insuficiente da enzima lactase.
No entanto, existem situações em que os que relatam ter esse problema, não mostram
evidências de má absorção da lactose, o que vem permitindo estudos crescentes e mais
aprofundados sobre o tema. Com base nisso, os olhares começaram a se voltar para a caseína,
uma proteína presente em grande quantidade do leite de vaca (PAL, 2015).
Levando em consideração a importância do leite para a nutrição e colonização por
microorganismos do intestino de seres humanos, torna-se essencial investigar a carga
microbiológica dos diferentes tipos de leite e estudar a interferência destes na saúde humana e
sua relação com a microbiota intestinal. Com base nisso, o presente trabalho tem como objetivo
abordar por meio de uma revisão integrativa o impacto do consumo da caseína A1, proteína
presente no leite de vaca, na microbiota intestinal humana.
2. METODOLOGIA
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Acrescenta-se que os artigos foram eleitos utilizando as bases de dados Pubmed, Scielo
e Lilacs, por meio dos seguintes descritores (Decs): Caseína A1, β-caseomorfina-7, μ-opióides,
microbiota. Para essa seleção realizou-se a leitura dos títulos e dos respectivos resumos, com a
finalidade de verificar apropriação do estudo com a questão norteadora levantada para
investigação. Ao final da pesquisa, foram encontrados 20 artigos, contudo foram excluídos 15
desses estudos por serem artigos de revisão, restando 5 artigos de pesquisa.
Para a extração de dados dos artigos incluídos foi investigada a sua identificação,
características do método abordado nos estudos, avaliação do rigor metodológico, intervenções
estudadas e resultados encontrados. A apresentação dos dados e a discussão foram feitas de
forma descritiva, possibilitando a aplicabilidade desta revisão na abordagem do impacto do
consumo da caseína A1, proteína presente no leite de vaca, na microbiota intestinal humana.
3. CARACTERIZAÇÃO DO CASEÍNA A
A β-caseína é uma molécula composta por 209 aminoácidos e apresenta duas variantes
principais que são as A1 e A2 que se diferenciam entre si pela substituição de um aminoácido
na posição 67 da cadeia, decorrente de uma mutação. Enquanto a A1 possui uma histidina
(His67), a A2 possui uma prolina (Pro67) (Figura 1) (BROOKE, 2017; LOUISE, 2020;
MARINA, 2019; PAL, 2015; XIMENES, 2019).
Embora a diferença na estrutura seja sutil, estas variantes de β-caseína são digeridas de
forma diferente. A His67 favorece a liberação do peptídeo opióide β-casomorfina-7 (BCM-7),
durante sua digestão gastrointestinal. Por outro lado, a presença do resíduo de aminoácido
Pro67 na βA2 libera quantidades muito pequenas da BCM-7, gerando o peptídeo β-
casomorfina-9. A caseína A2 é encontrada nos leites de cabra, ovelha e búfala (XIMENES,
2019; LOUISE, 2020).
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A ação das enzimas digestivas sobre a βA1 pode liberar peptídeos bioativos, como o
peptídeo opióide BCM-7. Os opióides são substâncias químicas com atividade semelhante à de
morfinas que têm atividade tanto no sistema nervoso central como em órgãos periféricos e no
trato gastrointestinal. Eles se ligam à receptores µ-opióides, que são amplamente expressos em
humanos e podem agir interferindo no controle da função gastrointestinal (GI), incluindo a
regulação da motilidade, produção de muco, produção de hormônios, aumento da absorção de
água, inibição da secreção gástrica e estímulo da contração da vesícula biliar. (PAL, 2015;
XIMENES, 2019).
É sabido que o muco GI fornece uma barreira protetora. Na via µ-opióides, esse muco
é produzido em excesso interferindo na função gastrointestinal, ocasionando um trânsito
intestinal prolongado que pode perturbar a composição da microbiota intestinal. Essas
interferências podem causar aumento da expressão de marcadores inflamatórios como
mieloperoxidade (MPO), proteína quimiotática de monócitos-1 e interleucina-4, além de
hipolactasia (Diminuição da atividade da enzima lactase), fermentação de outros
oligossacarídeos derivados da dieta e a redução do antioxidante glutationa sérica (GSH) (PAL,
2015).
4. MICROBIOTA INTESTINAL
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antibacterianos ou peptídeos de reparo, além de conter altas concentrações de IgA secretor. As
células epiteliais são a segunda barreira física do sistema imunológico da mucosa intestinal e
estão envolvidas na defesa direta de microorganismos. Elas também enviam sinais ao sistema
imunológico da mucosa, produzindo quimiocinas e citocinas (MARTINS, 2022).
Quando a integridade da parede fica comprometida, a permeabilidade do intestino pode
ser alterada e a capacidade deste de atuar como uma barreira contra antígenos e patógenos é
prejudicada. Um desequilíbrio na microbiota intestinal que produz efeitos prejudiciais e é
chamado de disbiose intestinal, e esta interfere imensamente na integridade intestinal
(ALMEIDA, 2008).
A disbiose intestinal consiste em um desequilíbrio entre o número de bactérias
protetoras e agressoras, tornando o trato gastrointestinal mais vulnerável. (MACEDO, 2021).
Esse fato pode provocar aumento na permeabilidade intestinal, resultando na passagem de
substâncias (como lipopolissacarídeos - LPS) para a circulação sistêmica, gerando uma
endotoxemia metabólica e desenvolvimento de um estado inflamatório crônico (MACEDO,
2021).
O termo Leaky gut ou desequilíbrio da barreira intestinal ou síndrome da
permeabilidade intestinal, acontece pela diminuição da camada de muco, afrouxamento ou
desequilíbrio das tight junctions que são estruturas que ligam um enterócito a outro
(MACEDO, 2021). Essa abertura entre as células torna o intestino hiperpermeável e permite a
passagem de bactérias pela barreira intestinal que atingem a corrente sanguínea onde ativam o
sistema imunológico causando inflamação (MACEDO, 2021). A dieta e os alimentos que a
constituem são conhecidos por terem forte influência na composição da microbiota intestinal
(BIBBÒ, 2016; WEISS, 2017).
O leite bovino possui uma composição nutricional bastante diversificada que é capaz
de fornecer substratos nutricionais necessários para uma dieta balanceada. É composto
aproximadamente por 87% de água, 3 a 4% de gorduras, 3% de proteínas, 4 a 5 % de
carboidrato (lactose), 0,1% de vitaminas e 0,8% de sais minerais, além de aminoácidos
essenciais, sendo, portanto, considerado um alimento de alto valor biológico (LOUISE, 2020;
LIMA, 2022). Como carboidrato principal têm-se a lactose, que contribui para o aumento da
absorção intestinal de fósforo, cálcio e magnésio presentes no leite. Esses micronutrientes são
importantes no que diz respeito ao metabolismo ósseo (LIMA, 2022).
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Em relação aos lipídios, possuem a função de carrear vitaminas lipossolúveis. É
composta principalmente por triacilgliceróis (98%), diacilglicerol (2%), colesterol (< 0,5%),
fosfolipídios (~1%) e ácidos graxos livres (0,1%). Dentre os ácidos graxos presentes no leite,
70% são saturados sendo os outros 30% insaturados com maior representatividade de ácido
oleico, linoleico e α-linolênico. Também possui pequenas quantidades de gorduras trans,
dentre as quais, destaca-se o ácido linoleico conjugado (CLA), que vem sendo associado a
benefícios à saúde, melhorando a condição cardiovascular, do sistema imunológico, além de
alguns outros ganhos para a saúde (LIMA, 2022).
Em relação às proteínas do leite, elas podem ser divididas em dois grandes grupos: as
solúveis e as não solúveis. As solúveis são as chamadas proteínas do soro do leite e
correspondem a 20% da composição proteica total. Dentre as quais destacam-se as
lactoglobulinas, imunoglobulinas, albumina, lactoferrinas, lactoperoxidases e lisozimas, e cada
uma desenvolve funções específicas no organismo (Figura 2) (COSTA, 2021).
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A composição do leite difere entre as espécies na porcentagem de seus constituintes,
podendo variar também por fatores climáticos e fisiológicos tais como estágio de lactação,
idade do animal e de seu próprio genótipo (XIMENES, 2019).
Na infância a alimentação exclusiva com leite humano é amplamente recomendada
como a primeira escolha para a nutrição infantil. O leite humano fornece não apenas uma
nutrição ideal, mas também componentes bioativos que são importantes para otimizar a
colonização microbiana intestinal, a maturação imunológica, o desenvolvimento metabólico e
até mesmo o desenvolvimento cognitivo (LIMA, 2022).
Equivocadamente, muitas vezes, se considera alergias e intolerâncias alimentares como
sinônimos, uma vez que os sintomas de ambas são parecidos (OLIVEIRA, 2019; XIMENES,
2019). No entanto, elas são situações diferentes:
As alergias são condições que atingem o sistema imunológico. São reações com os
componentes protéicos do leite, principalmente a caseína e as imunoglobulinas. Elas são
digeridas pelo organismo humano, mas podem não ser reconhecidas pelo sistema imunológico,
provocando liberação de anticorpos, histaminas e outros agentes defensivos, gerando sintomas
como diarreia, vômito, enjoo, desnutrição derivada da absorção intestinal e, muito raramente,
refluxo gastroesofágico, constipação intestinal crônica ou urticária. O tratamento nutricional
desse tipo de condição consiste na exclusão do leite da vaca e dos seus derivados, o que
preservará a função da barreira intestinal e evitará distúrbios pela resposta imunológica em
decorrência da proteína do leite bovino (OLIVEIRA, 2019).
Já a intolerância, diferentemente do que ocorre na alergia, é uma afecção da mucosa
intestinal que incapacita a digestão da lactose e absorção deste carboidrato da dieta decorrente
de uma insuficiência da enzima βD-galactosidase (ou lactase), resultando no acúmulo da
mesma e dando origem a sintomas como diarreia, inchaços, dores abdominais, náuseas,
vômitos, hipoglicemia, flatulências, desnutrição e perda de peso. A literatura aponta que cerca
de 50% da população adulta mundial são intolerantes à lactose, sendo a má absorção, o fator
mais decisivo para essa patologia. A proposta de tratamento nutricional é suspender a ingestão
de leite e derivados da dieta a fim de promover o alívio dos sintomas ou, consumir os chamados
produtos “lactose free” ou “sem lactose”. A pessoa pode levar uma vida absolutamente normal,
desde que siga a dieta adequada e evite o consumo de leite e derivados além da quantidade
tolerada pelo organismo (OLIVEIRA, 2019).
A microbiota intestinal tem um papel significativo na saúde humana. Mudanças na sua
composição podem impactar diretamente a saúde do indivíduo (LIMA, 2022). Existe uma
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relação fundamental entre o intestino e a saúde, por meio do conceito de permeabilidade
intestinal. A alimentação adequada dá suporte à integridade intestinal, que se relaciona à função
única do intestino de atuar como um canal entre os nutrientes e a circulação sistêmica e como
barreira contra toxinas de uma variedade de fontes (ALMEIDA, 2008).
Com base na fisiopatologia desses quadros, verifica-se uma redução das
microvilosidades da parede intestinal, diminuindo a superfície de absorção de nutrientes e
aumentando a passagem de grandes moléculas no intestino. O quadro clínico de disbiose
modifica a população de bactérias protetoras promovendo um meio ideal para as bactérias
patogênicas proliferarem-se (OLIVEIRA, 2019).
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produzido, não foram observadas alterações significativas após o consumo dos leites Jersey ou
contendo apenas a caseína A2 quando comparados ao leite convencional.
Jianqin et al., (2016) realizou um estudo onde observou os efeitos gastrointestinais e
sintomas de desconfortos comportamentais cognitivos em pessoas declaradas intolerantes ao
leite de vaca, quando ofertado leite contendo apenas Caseína A1 ou A2. Neste estudo foi obtido
como resultado que o consumo de leite convencional, contendo Caseína A1, está relacionado
com a piora dos sintomas gastrointestinais, como: aumenta do tempo de trânsito
gastrointestinal, aumento de marcadores de inflamação sérica, redução do conteúdo total de
Ácidos graxos de cadeia curta (SCFA) fecal, diminuição da velocidade de processamento
cognitivo e diminui a precisão do processamento comparados com os valores basais. Já os
participantes que consumiram leite contendo somente Caseína A2, não tiveram alterações
nessas variáveis. Sendo assim, cogitou-se no estudo que os participantes intolerantes
autorreferidos, poderiam não ter intolerância à lactose, mas sim a Caseína A1.
Sheng, Xiaoyang et al., (2019), também realizou estudo para avaliar os efeitos do
consumo de leite convencional contendo Caseína A1 e A2 e leite contendo apenas Caseína A2.
Obteve resultados parecidos com os citados acima, onde aqueles que consumiram o leite
convencional apresentaram frequência de evacuações significativamente mais alta e pontuação
na Escala de Fezes de Bristol, aumento de biomarcadores de inflamação (IL4, IgG, IgG1, IgE),
aumento de betacasomorfina-7, quando comparados ao consumo de apenas β-caseína A2 na
dieta. O estudo demonstrou ainda benefícios do consumo de leite contendo apenas Caseína A2,
como o aumento significativo da Glutationa reduzida (GSH), um poderoso antioxidante que
possui papel central na biotransformação e eliminação de xenobióticos e na defesa das células
contra o estresse oxidativo. Assim, trazendo benefícios tanto para o sistema gastrointestinal
como para a melhora da cognição nos pré-escolares estudados.
Ho et al., (2014) realizou um estudo piloto randomizado, para avaliar os efeitos do
consumo de leite contendo caseína A1 e A2. Os participantes foram instruídos a consumir 750
ml ao dia dos seus respectivos leites e amostras fecais foram coletadas para determinação da
Calprotectina fecal, um marcador de inflamação gastrointestinal. Além de análise de
desconforto intestinal e da consistência das fezes, medida pela Escala de Bristol. Os resultados
mostraram um significativo aumento na consistência das fezes, do trânsito intestinal e sinais
de inchaço, na dieta com leite contendo caseína A1 em comparação com a dieta com leite
contendo caseína A2. Não houve diferenças gerais na calprotectina fecal entre as dietas A1 e
A2 (valores médios de 41,6μg/g versus 35,8 μg/g). No entanto, 3 participantes que receberam
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a caseína A1 tiveram valores de FC acima de 100 μg/g, o que não foi verificado no outro grupo
e, portanto, a análise foi estatisticamente insegura, sendo necessário mais estudos para
comprovação. Esses parâmetros refletem o tempo de trânsito intestinal, onde fezes mais moles
sugerem um tempo de trânsito mais rápido, ao contrário do observado na formação de fezes
mais endurecidas. Inúmeras evidências indicam que a inflamação intestinal está relacionada a
má absorção de líquidos, nutrientes e eletrólitos.
Barnet et al., (2014), diferente dos demais, realizou um estudo para avaliar e comparar
o perfil gastrointestinal de 48 ratos machos Wistar, submetidos à dieta a base de leite desnatado
contendo caseínas do tipo A1 ou A2, provenientes de vacas do tipo Friesian homozigotas para
caseína A1 (A1/A1) e caseína A2 (A2/A2) com base nos exames de genotipagem do folículo
piloso da cauda, provenientes de uma fazenda em Hamilton na Nova Zelândia. Como os outros,
este estudo com animais, obteve resultados pertinentes quando a alterações gastro intestinais,
quando consumido leite contendo caseína A1, como: atraso do trânsito intestinal, além de
aumento na atividade de mieloperoxidase (MPO) no colón, ratificando processo inflamatório
intestinal e Dipeptidil peptidase (DPP-4) aumentada no jejuno, que pode ser indicador de
Doenças Crônicas não Transmissíveis, em relação à ꞵ-caseína A2.
12
pré-escolares dias. Os indivíduos selecionados de inflamação (IL4, IgG, IgG1,
intolerantes à lactose, passaram wash-out de 10 dias antes da IgE), aumento de betacasomorfina-
resulta na redução de fase 1, 9 de dias de wash-out após a fase 7, quando comparados ao consumo
sintomas 1. E a fase dois que compreende 5 dias. de leite contendo apenas a β-caseína
gastrointestinais A2.
associados à intolerância
à lactose, e que isso
corresponderia a
melhorias cognitivas.
Jianqin et al., (2016) Analisar o consumo de Estudo duplo-cego, randomizado, feito O consumo de leite contendo β-
leite contendo β caseína com 45 participantes que foram caseína A1 foi associado ao
A1 e A2 e a piora dos submetidos a uma dieta a base de leite aumento da inflamação
sintomas contendo os 2 tipos de Caseína. Durante gastrointestinal, piora dos sintomas
gastrointestinais. 14 dias, os participantes não de desconforto digestivo, trânsito
consumiam nenhum lácteo e depois, atrasado e diminuição da velocidade
por mais 14 dias, cada grupo consumia e lentidão do processamento
o seu tipo de leite. cognitivo. Já o leite contendo
apenas a β-caseína A2 não agravou
os sintomas mencionados.
Ho et al., (2014) Avaliar as diferenças nos Estudo randomizado, duplo-cego e O consumo de leite contendo ꞵ-
efeitos gastrointestinais cruzado, aplicado em 12 homens e 29 caseína A1 levou a valores
em adultos, que mulheres, por 8 semanas. Os significativamente mais elevados de
consumiram leite participantes foram submetidos a um consistência das fezes pela Escala
contendo ꞵ-caseína A1 período de 2 semanas de consumo de Bristol, em comparação com os
ou A2. exclusivo de leite de arroz, seguido de que consumiram leite contendo ꞵ-
2 semanas com leite que continha ꞵ- caseína A2. Houve também uma
caseína A1 ou A2. associação positiva significativa
entre dor abdominal e consistência
das fezes na dieta A1, mas não na
dieta A2.
Barnett et al., (2014) Analisar os efeitos O estudo comparou vários aspectos de O estudo demonstrou que o o
gastrointestinais de função gastrointestinal em 48 ratos consumo de ꞵ-caseína A1 causou
dietas à base de leite Wistar machos, onde estes foram um atraso no trânsito
contendo β-caseína A1 alimentados à base de leite desnatado gastrointestinal, aumento na
ou A2, em ratos Wistar contendo ꞵ-caseína do tipo A1 ou A2 atividade de mieloperoxidase
machos alimentados com para 36 ou 84 h. Todos os ratos foram (MPO) no colón e Dipeptidil
as dietas experimentais marcados com um marcador inerte peptidase (DPP-4) no jejuno, em
por 36 ou 84 h. (titânio dióxido [TiO2]). Metade dos relação à ꞵ-caseína A2. Os efeitos
ratos em cada grupo também receberam da ꞵ-caseína A1 envolvem vias de
doses de naloxona (antagonista sinalização opióides e não opióides.
opiódie)
7. CONCLUSÃO
13
um desempenho normal das funções fisiológicas do hospedeiro, o que irá garantir uma
melhoria na qualidade de vida do indivíduo.
Os resultados desses estudos mostram que a digestão da β-caseína A1 bovina libera β-
caseomorfina-7, que ativa os receptores μ-opióides expressos em todo o trato gastrointestinal
e no corpo. Há também um aumento de biomarcadores inflamatórios (IL4, IgG, IgG1, IgE) e
alteração na motilidade intestinal e consistência das fezes, compatíveis com quadro de disbiose
intestinal.
Embora alguns efeitos adversos à saúde sejam atribuídos ao consumo de leite de vaca
contendo a variante A1 da beta caseína, ainda não existe um consenso na comunidade científica
quanto a isso, uma vez que são poucos os estudos relacionados ao assunto. Portanto, são
necessárias mais pesquisas, com um percentual maior de participantes, bem como estudos de
maior duração, para confirmação dessas informações.
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