Alim. Nutr.
, Araraquara
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun. 2012
CONSUMO DE LEITE DE VACA E DERIVADOS ENTRE
AGRICULTORES DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ*
RESUMO: O leite é a principal fonte de cálcio na ali-
mentação humana, cuja importância está relacionada às
suas funções no organismo humano, pois contribui para a
formação do tecido ósseo, promove o crescimento, regu-
la o sistema nervoso e aumenta a resistência a infecções.
Seus principais nutrientes são: proteínas de alta qualidade,
gorduras, carboidratos, além de ser rico em vitaminas e mi-
nerais. O objetivo deste estudo foi identificar o consumo
de leite de vaca e derivados na população rural residente
na região oeste do Paraná. O estudo transversal descritivo
foi realizado durante o 20º Show Rural Coopavel, no ano
de 2009, em Cascavel, Paraná, com agricultores morado-
res das áreas urbana e rural dessa região. Para verificar os
hábitos alimentares foi aplicado o teste “Como está a sua
Alimentação?” validado pelo Ministério da Saúde, cuja
classificação segue as porções diárias de leite e derivados
recomendadas pela pirâmide alimentar para a população
adulta. Dos 372 agricultores que participaram do teste,
193 responderam sobre o consumo de leite, e destes, 160
afirmaram consumir leite e derivados, dos quais 82,5%
apresentaram consumo maior ou igual à recomendação e
17,5% apresentaram consumo menor que a recomendação.
Em relação à adequação de consumo, 82,7% das mulheres
e 82,2% dos homens consomem leite e derivados dentro
das recomendações estabelecidas pela pirâmide alimentar,
assim como 81,6% dos adultos e 89,5% dos idosos. Segun-
do as classes econômicas, o consumo adequado de leite e
derivados foi verificado em 85,7% na classe A, 90,2% na
classe B, 77,5% na classe C e 83,3% na classe D+E, não
havendo diferença significativa entre estas variáveis. O tipo
de leite mais consumido pelos agricultores foi o leite inte-
gral (86,1%) e apenas 13,9% relataram ingerir leite desna-
tado. De acordo com o local de domicílio 20% residia na
zona urbana e 80% no meio rural, sendo que dos residentes
na cidade, 90,6% referiram consumo adequado e entre os
moradores da área rural 80,5%. Desta forma, espera-se que
os resultados obtidos na presente pesquisa possam servir de
subsídios para novos inquéritos sobre o consumo de leite
pela população, tanto rural quanto urbana, possibilitando a
* Trabalho de Conclusão do Curso de Nutrição.
** Curso de Graduação em Nutrição – Faculdade Assis Gurgacz – FAG – 85806-095 – Cascavel – PR – Brasil. E-mail:
heloisatombini@hotmail.com.
** Centro de Ciências Médicas e Farmacêuticas – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 85819-110 – Cascavel – PR – Brasil.
*** Departamento de Nutrição – Universidade Federal da Fronteira Sul – 85770-000 – Realeza – PR – Brasil.
**** Departamento de Tecnologia de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – 80230-901 – Curitiba – PR – Brasil.
ISSN 0103-4235
ISSN 2179-4448 on line
Heloísa TOMBINI**
Márcia Cristina DALLACOSTA***
Rozane Aparecida Toso BLEIL****
Janesca Alban ROMAN*****
implementação de ações públicas de educação nutricional,
visando o aumento do consumo de leite pela população.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalhador rural; leite; pirâmide
alimentar.
INTRODUÇÃO
A transição alimentar mundial é caracterizada pelo
aumento no consumo de gorduras, açúcares e cereais refi-
nados, e ainda pelo declínio no consumo de carboidratos
complexos e alimentos fontes de fibra o que, concomitante-
mente com o sedentarismo, levam ao aumento das doenças
crônico-degenerativas. 23 A mudança no perfil nutricional
da população deve começar pela opção de uma alimentação
saudável e equilibrada, promovendo mudanças nos hábitos
diários.
Uma alimentação adequada visa atender as deman-
das do organismo, suprindo as necessidades de nutrientes e,
ainda, envolve alguns aspectos que devem ser levados em
consideração, como os valores culturais, afetivos, sociais
e sensoriais. A alimentação diária deve apresentar seis ca-
racterísticas fundamentais: ser variada, incluindo todos os
grupos alimentares; equilibrada, garantindo os nutrientes
recomendados para cada indivíduo; suficiente, em quanti-
dades que atendam às necessidades individuais; acessível,
preferindo alimentos produzidos e comercializados regio-
nalmente; colorida, tornando a refeição mais atrativa além
de ser adequada em nutrientes e, ainda, segura, livre de
contaminantes para garantir a saúde do indivíduo. Os prin-
cipais objetivos de uma alimentação saudável e equilibrada
são a promoção da saúde e a prevenção de doenças. 10
Nessa perspectiva de promoção da saúde global e
mudanças de hábitos alimentares, pesquisadores adapta-
ram a pirâmide alimentar norte-americana para a realidade
brasileira, utilizando-a como instrumento na orientação ali-
mentar e nutricional de indivíduos e grupos populacionais,
respeitando os hábitos alimentares e as diferentes realida-
267
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.
des regionais e institucionais. A pirâmide alimentar brasi-
leira é dividida em oito grupos alimentares, sendo o grupo 4
da pirâmide alimentar constituído pelos leites e derivados,
merecendo destaque pelo seu valor nutricional, cuja quan-
tidade recomendada garante a necessidade dos nutrientes
que o compõe. O leite é um alimento nutritivo, principal
fonte de cálcio dos grupos da pirâmide, sendo essencial
para o crescimento e manutenção da saúde. 32 De acordo
com Gomes et al.,14 a importância do leite na alimentação
diária é indiscutível, devido à sua riqueza em nutrientes e,
ainda, por proporcionar um conjunto equilibrado e abran-
gente de benefícios para a saúde humana, promovendo o
crescimento, contribuindo para a formação e renovação do
tecido ósseo, regulando o sistema nervoso e aumentando a
resistência a doenças infecciosas.
O leite de vaca contém vários nutrientes, podendo-
se destacar as proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas
e minerais. A proporção desses nutrientes varia de acordo
com a espécie do animal, a sua alimentação, a estação do
ano e a época de lactação. 31
As proteínas do leite de vaca possuem alto valor
biológico constituindo uma ótima fonte de aminoácidos
essenciais e, ainda, contêm um conjunto de proteínas com
diversas atividades biológicas, incluindo fatores de cresci-
mento e agentes microbianos, além de hormônios, enzimas,
anticorpos e imunomoduladores. O carboidrato presente no
leite é a lactose, dissacarídeo que sofre transformação em
glicose e galactose pela digestão, e contribui em torno de
30% do valor calórico total do leite. A gordura do leite é um
dos componentes mais ricos desse alimento, representando
46% a 53% do valor energético total e apresenta fácil di-
gestão. 14 A gordura ocorre em pequenos glóbulos contendo
principalmente triacilgliceróis, envolvidos por uma mem-
brana lipoproteica.37
O leite de vaca é composto ainda por vitaminas,
destacando-se as lipossolúveis, as quais estão associadas
às moléculas de gordura e as demais estão na fase aquosa
do leite. A concentração das vitaminas lipossolúveis depen-
de da alimentação do gado, exceto a vitamina K, pois esta
é sintetizada no sistema digestório dos ruminantes. 37 Por
ser rico em muitas vitaminas, o leite é considerado um im-
portante alimento de fortificação, fundamental no combate
a carências nutricionais específicas como, por exemplo, a
carência de vitamina A.1
Os alimentos lácteos são as principais fontes de cál-
cio, devido à alta absorção do elemento em comparação a
outros alimentos. 25 O leite contém teores consideráveis de
cloro, fósforo, potássio, sódio, cálcio e magnésio; e baixos
teores de ferro, alumínio, bromo, zinco e manganês. 37
O consumo de leite é importante nos diversos perí-
odos da vida. Na infância, participa no desenvolvimento e
formação do organismo fornecendo proteína, sais minerais
e gordura; na adolescência, o leite fornece condições para o
rápido crescimento com ótima constituição muscular, óssea
e endócrina; e, para pessoas idosas, é fonte principal de cál-
cio, fundamental na manutenção da integridade dos ossos.
22
Durante a adolescência, a ingestão adequada de cálcio é
268
fundamental, pois 95% da quantidade total de cálcio dos
ossos depositam-se entre os 18 e 22 anos. E nas mulheres,
mais de 51% do pico de massa óssea é acumulado durante
a puberdade. 19
Para adultos e idosos, é indicado o consumo de leite
desnatado devido ao reduzido teor de gorduras, para evitar
o desenvolvimento e agravamento de doenças, tais como as
dislipidemias, pois como já se sabe, a alimentação pode ser
fator desencadeante destas doenças. Já crianças e adoles-
centes devem consumir preferencialmente leite e derivados
na forma integral, para o perfeito desenvolvimento do cres-
cimento, desde que não haja contraindicação em seu uso. 5
O alto consumo de leite é descrito como custo-efi-
ciente ou custo-efetivo, pois os alimentos lácteos estão en-
tre as fontes de cálcio menos dispendiosas, ao contrário dos
suplementos e outros alimentos fontes do nutriente. 25
A falta de alimentos fontes de cálcio implica em
maior risco de desenvolver osteoporose, principalmente
para as mulheres, sendo esta uma doença que atinge todas
as idades e é caracterizada pela reduzida massa óssea e
deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, levando
à fragilidade mecânica e, posteriormente, a fraturas. Esta
doença é considerada problema de saúde pública mundial,
devido à sua alta prevalência e também em função de seus
efeitos devastadores na saúde física e psicossocial. Pode
causar invalidez e, devido à demora do tratamento, gera um
custo elevado aos serviços de saúde. 7
Estudos em indivíduos saudáveis demonstram que
consumir alimentos de origem láctea pode melhorar a qua-
lidade nutricional da dieta sem aumentar significativamente
a ingestão de calorias, ou mesmo do peso corporal. 25 Pes-
quisas referem, ainda, que a ingestão moderada de leite e
cálcio reduz significativamente o risco de câncer colorretal,
o qual consiste em tumor que atinge o cólon (intestino gros-
so) e o reto. 9, 20
Um estudo realizado por Pereira et al.30 demonstrou
que o consumo de leite pode reduzir a ocorrência de síndro-
me de resistência a insulina nos indivíduos com sobrepeso
e, em indivíduos obesos, pode reduzir a ocorrência de dia-
betes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Em revisão da literatura, Heaney et al.15 encontra-
ram efeito positivo entre a alta ingestão de cálcio, expresso
em menor gordura ou peso corporal, e redução do ganho
de peso após a maturidade. E, ainda, a redução na preva-
lência da obesidade pode ser conseguida por meio de uma
melhor ingestão de cálcio. Já Massey, 24 encontrou que o
consumo de produtos lácteos pode estar relacionado à re-
dução da pressão arterial e de acidente vascular cerebral. O
leite contém quantidades significativas de cálcio, magnésio
e potássio e, provavelmente, a correlação entre estes mine-
rais pode contribuir para a redução da pressão arterial e do
acidente vascular cerebral.
Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
de 2002/2003 mostraram que o brasileiro vem reduzindo
o consumo de alguns alimentos tradicionais como o arroz,
feijão, batata, pão, açúcar e leite de vaca pasteurizado.
A pesquisa identificou, também, que a aquisição de leite
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.
caiu quase 40%, atingindo 38kg anuais/per capita, sendo o
maior consumo verificado na região Sul, com consumo de
42,1kg anuais/per capita. 17 A Organização das Nações Uni-
das para Agricultura e Alimentação (FAO) preconiza que
o consumo médio de leite seja de 215 litros/habitante/ano.
No Paraná, segundo a Secretaria do Estado de Agricultura
e do Abastecimento, a disponibilidade de produtos lácteos
no ano de 2000 situava-se em 206 litros/habitante/ano. 35 O
Paraná caracteriza-se como um estado de tradição agrope-
cuária, no qual a pecuária leiteira se encontra praticamente
consolidada nas bacias das regiões centro-sul e oeste, e em
crescimento nas demais regiões do estado. A região oeste é
a segunda maior produtora de leite, com 22,4% da produ-
ção. O rebanho dessa região apresenta maior produtivida-
de, com média de 2.087 litros/vaca/ano. 35
Devido à importância do consumo de leite na ali-
mentação diária do ser humano, o objetivo deste estudo
foi identificar o consumo de leite de vaca e derivados en-
tre agricultores residentes na região oeste do Paraná e sua
associação com gênero, faixa etária e dados socioeconô-
micos.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo, de caráter transversal descritivo,
foi realizado durante o 20º Show Rural Coopavel, no perí-
odo de 9 a 13 de fevereiro de 2009, em Cascavel, Paraná.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos da Faculdade Assis Gurgacz (FAG),
sob nº 441/2008, sendo este estudo realizado com dados
parciais do projeto “Vigilância Alimentar e Nutricional da
População Rural do Oeste Paranaense”.
O público alvo foram trabalhadores e proprietários
de terras rurais, moradores das áreas urbana e rural, com
economia baseada na produção agrícola, pertencentes à re-
gião oeste do Paraná. A coleta de dados foi realizada por
docentes e acadêmicos do Curso de Nutrição da Faculdade
Assis Gurgacz (FAG), e as variáveis coletadas foram: dados
de identificação, data de nascimento, gênero, nível socioe-
conômico e consumo de leite. O questionário foi aplicado a
372 adultos e idosos participantes do estudo, os quais assi-
naram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
O nível econômico foi determinado utilizando o
Critério de Classificação Econômica Brasil, descrito pela
Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP), 2
que estima o poder de compra das pessoas e famílias, não
tendo a pretensão de classificar a população em termos de
“classes sociais” e sim por níveis econômicos. A classifica-
ção da ANEP consiste em classificar sete diferentes níveis
econômicos: A1, A2 (renda de R$7.793,00 a R$ 4.648,00),
B1, B2 (R$ 2.804,00 a R$ 1.669,00) C (R$ 927,00), D + E
(R$ 424,00 e R$ 207,00). Para melhor discussão, no pre-
sente trabalho, esta classificação foi agrupada nos níveis: A
(corresponde às classes A1 + A2); B (classes B1 + B2); C;
e nível D (agruparam-se as classes D + E).
O questionário foi aplicado aos adultos e idosos par-
ticipantes do estudo, considerando-se adultos os indivíduos
entre 20 e 59 anos e idosos com idade igual ou superior a
60 anos. 4
As informações sobre o consumo de leite foram co-
letadas por meio do teste “Como está a sua Alimentação?”
validado pelo Ministério da Saúde (MS), constituído por
13 questões objetivas para verificar o hábito alimentar da
população. 3 A classificação foi realizada de acordo com as
porções de cada alimento ingeridas diariamente, sendo que
para a ingestão de leite foi considerado adequado o con-
sumo maior ou igual a três porções de leite, e abaixo das
recomendações consumo inferior a três porções.32
A análise descritiva dos dados foi realizada com va-
lores de média, desvio padrão e percentuais das variáveis
consumo alimentar, idade, gênero, classe socioeconômica e
local de domicílio. Para comparar o nível socioeconômico
(com base na classe socioeconômica) e idade em relação à
variável consumo alimentar, utilizou-se a análise de variân-
cia Anova One way e Two way, seguida do teste de Tukey.
Em todas as análises o teste de qui-quadrado foi usado para
verificar associação entre as variáveis, com nível de signi-
ficância de 5% (p<0,05). O tratamento estatístico de todas
as informações foi efetuado por meio do Programa SPSS
versão 13.0.
RESULTADOS
Dos 372 agricultores que responderam ao teste
“Como está a sua Alimentação?”, 317 eram adultos (85%)
e 55 idosos (15%) e, de acordo com o gênero, 213 eram
do sexo feminino (57%) e 159 do sexo masculino (43%).
A prevalência de moradores na zona urbana foi de 15%
(n=56) e da zona rural 85% (n=316). E, ainda, 45% perten-
cem a minifúndios, 38% a pequenas propriedades, 15% a
médias propriedades e 2% a grandes propriedades rurais.
Em relação ao nível econômico dos agricultores,
dos 371 que responderam ao questionário de classifica-
ção econômica, 4% (n=13) pertenciam ao nível A; 27%
(n=101) ao nível B; 60% (n=223) ao nível C e 9% (n=34)
ao nível D, sendo este último o menor nível de rendimento
econômico.
Ao analisar o consumo de leite e derivados, dos
372 participantes deste estudo, 193 responderam sobre o
consumo de leite, e destes, 160 afirmaram consumir leite
e derivados, dos quais 132 (82,5%) apresentaram consumo
maior ou igual ao recomendado e 28 (17,5%) apresentaram
consumo menor que o recomendado. Do total, 33 indiví-
duos não responderam a esta questão, os quais, juntamente
com os que consomem abaixo da recomendação, mostram
que 1/3 dos agricultores não consomem leite e derivados
dentro das recomendações.
Dos indivíduos que responderam sobre o consumo
de leite e derivados, 151 responderam sobre o tipo de leite
consumido, dos quais 130 (86,1%) faziam uso de leite inte-
gral e 21 (13,9%) consumiam leite desnatado.
Ao comparar o consumo de leite e derivados de
acordo com o gênero, observou-se que 82,7% (n=72) das
mulheres e 82,2% (n=60) dos homens consumiam dentro
269
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.

das recomendações e o consumo abaixo das recomenda-
ções foi encontrado em 17,3% (n=15) e 17,8% (n=13), res-
pectivamente, não apresentando diferença estatisticamente
significativa entre os gêneros (p=0,93).
De acordo com a idade, a adequação no consumo
de leite e derivados na população adulta foi encontrada em
81,6% (n=141) do grupo estudado, enquanto que 18,4%
(n=26) ingerem abaixo das recomendações. No grupo dos
idosos, 89,5% (n=17) apresentaram consumo adequado e
10,5% (n=2) abaixo do recomendado. Entre os grupos, não
houve diferença estatisticamente significativa (p=0,39).
O consumo adequado de leite e derivados foi veri-
ficado em 85,7% (n=6) no grupo pertencente à classe A;
90,2% (n=46) no grupo da classe B; 77,5% (n=69) na clas-
se C e 83,3% (n=10) na classe D, não tendo sido encontra-
das diferenças significativas entre o consumo e as classes
de renda.
Do total de indivíduos (n=160) que referiram con-
sumir leite e derivados, 20% (n=32) residia na zona urbana
e 80% (n=128) no meio rural. Dos residentes na cidade,
90,6% (n=29) referiram consumo adequado de leite e deri-
vados, e entre os moradores da área rural 80,5% (n=103) o

Tabela 1 – Número e prevalência do consumo diário de leite e derivados de acordo com gênero, idade,
composição familiar, nível econômico, moradia e área da propriedade, de trabalhadores rurais do oeste do
Paraná entrevistados no Show Rural COOPAVEL, 2009.
CONSUMO DE LEITE
< recomendado ≥ recomendado Sub-Total
GÊNERO 1
n % n % n %
Feminino 15 17,3 072 82,7 087 100,0
Masculino 13 17,8 060 82,2 073 100,0
Total 28 17,5 132 82,5 160 100,0
IDADE2
Adulto 26 18,4 115 81,6 141 100,0
Idoso 02 10,5 017 89,5 019 100,0
Total 28 17,5 132 82,5 160 100,0
COMPOSIÇÃO FAMILIAR3
Até 3 pessoas 12 15,6 065 84,4 077 100,0
Mais de 3 pessoas 16 19,3 067 80,7 083 100,0
Total 28 17,5 131 82,5 160 100,0
NIVEL ECONÔMICO4
Classe A 01 14,3 006 85,7 007 100,0
Classe B 05 09,8 046 90,2 051 100,0
Classe C 20 22,5 069 77,5 089 100,0
Classe D 02 16,7 010 83,3 012 100,0
Total 28 17,6 131 82,4 159 100,0
MORADIA5
Urbana 03 09,4 029 90,6 032 100,0
Rural 25 19,5 103 80,5 128 100,0
Total 28 17,5 132 82,5 160 100,0
ÁREA DA PROPRIEDADE6
Minifúndio 10 15,9 053 084,1 063 100,0
Pequena 16 26,2 045 073,8 061 100,0
Média 02 07,1 026 092,9 028 100,0
Grande 00 00,0 001 100,0 001 100,0
Total 28 18,3 125 081,7 153 100,0
1
X² = 0,00 e p-valor = 0,93
2
X² = 0,73 e p-valor = 0,39
3
X² = 0,38 e p-valor = 0,54
4
X² = 3,65 e p-valor = 0,30
5 2
X = 1,83 e p-valor = 0,18
6
X² = 5,37 e p-valor = 0,15

270
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.
fizeram. Também em relação à área de residência dos pro-
prietários, não houve diferença significativa entre os gru-
pos (urbano e rural).
DISCUSSÃO
Dados desta pesquisa sugerem que 1/3 dos agricul-
tores entrevistados consomem leite e derivados abaixo das
recomendações ou não consomem tais produtos, sendo este
resultado expressivo, por considerar que são trabalhadores
rurais e que teoricamente estariam mais próximos do local
de produção do leite, o que motivou a escolha do público
alvo desta pesquisa.
Recentes estudos têm mostrado benefícios associa-
dos ao consumo de leite e derivados. Entre eles, destaca-se
que a adoção de dieta com quantidades adequadas de leite
diminuem o acúmulo de tecido adiposo derivado de alta
ingestão calórica, por meio da modulação do cálcio intra-
celular nos adipócitos, 38 podendo reduzir em até 70% o
risco de sobrepeso. 15 E ainda, agem na formação do tecido
ósseo, colaborando na redução da incidência de câncer co-
lorretal, diminuindo a ocorrência de resistência a insulina e
da pressão arterial. 9,15, 19, 24, 30
Nesta pesquisa foi observado que a maioria da po-
pulação estudada consumia leite integral, resultados seme-
lhantes aos encontrados em outros estudos. Eckert et al.11
em pesquisa realizada no ano de 2008 em um município
da região oeste do Paraná, com objetivo de identificar o
perfil dos consumidores de leite nesta região, constatou que
a maioria dos entrevistados (88,8%) consumia leite. Dos
que consumiam leite, 86,5% também utilizavam leite in-
tegral. Outro estudo realizado com moradores da cidade
de Colatina, no Espírito Santo, durante os anos de 2007
e 2008, verificou que 94,7% dos entrevistados consumiam
produtos lácteos, 26 mostrando resultados semelhantes ao
presente estudo.
Caroba, 6 analisando a disponibilidade de energia e
nutrientes nos domicílios rurais e urbanos das regiões nor-
deste e sudeste do Brasil, identificou baixa participação do
grupo do leite e derivados no Valor Energético Total (VET)
dos entrevistados, tanto em famílias residentes nas zonas
rurais quanto residentes nas áreas urbanas. Tais resultados
apresentaram-se diferentes em relação a presente pesquisa,
uma vez que não foram encontradas diferenças significati-
vas de consumo em relação ao local de moradia.
Na presente pesquisa a maioria dos homens e mu-
lheres consumiam leite e derivados dentro das recomen-
dações propostas pela Pirâmide Alimentar adaptada para a
População Brasileira. Já na pesquisa realizada por Silva,
36
em Inhaúmas, Bahia, a ingestão de leite e derivados foi
semelhante entre homens e mulheres, porém, ambos os
resultados estavam abaixo das recomendações propostas.
Também Fietz, 13 em pesquisa realizada em um assenta-
mento rural no Mato Grosso, constatou que aproximada-
mente metade da população (51,8% das mulheres e 49,3%
dos homens) consumia leite diariamente. E, ainda, estudo
conduzido em Campinas com jovens universitárias, entre
17 e 25 anos, constatou baixo consumo de leite no grupo,
pois somente 20% da população estudada consumia uma
porção de leite de duas a três vezes ao dia. Já 52% das jo-
vens consumiam uma porção de leite apenas uma vez ao
dia e 27% consumiam uma porção de leite com frequência
menor a quatro vezes por semana. 34
Ainda de acordo com Eckert et al.,11 em relação à
faixa etária, o consumo de leite dos adultos e dos idosos
não atendia as recomendações de ingestão diária desse ali-
mento, tendo em vista que somente 6,8% e 6,1%, respec-
tivamente, apresentavam consumo adequado. Tal estudo
mostrou resultados muito diferentes da presente pesquisa,
pois mesmo sem diferença significativa encontrou-se que
tanto adultos quanto idosos apresentaram um alto consumo
de leite e derivados.
Outra pesquisa realizada com idosos em Cascavel,
Paraná, identificou que 86,3% deles consumiam leite diaria-
mente, 20,4% consumiam iogurte e o queijo era consumido
por 61,3% dos idosos. 21 Já Passos & Ferreira29 realizaram
uma pesquisa com o objetivo de caracterizar a alimentação
de idosos, moradores de uma instituição de longa perma-
nência no Rio de Janeiro e identificaram que a população
estudada consumia de três a quatro porções diárias de leite,
dados semelhantes ao encontrado no presente estudo, ou
seja, consumo adequado do grupo do leite e derivados.
Em relação às variáveis socioeconômicas, os resul-
tados encontrados no estudo mostraram que a classe que
mais consome leite e derivados é a classe B. Tal resultado
diverge do estudo realizado por Caroba, 6 o qual comparou
a participação dos grupos alimentares nos domicílios rurais
e urbanos das regiões norte e sudeste do Brasil e concluiu
que no nordeste a participação do grupo do leite revela-se
maior (10,16%) entre as famílias pertencentes aos maiores
estratos de renda (classe A), enquanto que na região sudeste
a menor contribuição (4,26%) foi encontrada nas famílias
mais pobres.
Os dados da POF (2002/2003) confirmam que o
consumo de leite e derivados aumenta de forma gradativa
de acordo com o nível de rendimentos familiares. 16 Ou-
tros estudos revelam que conforme cresce o Produto Inter-
no Bruto (PIB) e melhora a distribuição de renda no país,
aumenta o consumo de leite e derivados pela população. 39
No Brasil rural, a aquisição não monetária é muito comum
e o leite tem uma representação de 78% dessa forma de
aquisição. Na população rural residente no sul do país, a
aquisição alimentar domiciliar anual per capita de laticínios
entre os anos de 2002 e 2003 foi de 104kg, sendo 16kg na
forma monetária e 88kg na forma não monetária.18
Em relação ao local de moradia, Enes et al.12 en-
contraram maior participação do grupo de leite e deriva-
dos na alimentação das famílias residentes em áreas rurais,
possivelmente pela expressiva contribuição do leite nesse
grupo, considerado um alimento de fácil acesso pela popu-
lação rural, principalmente pelas maiores possibilidades de
autoprodução em seus domicílios. Já no presente estudo, o
consumo adequado foi maior na área urbana.
271
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.
Também na pesquisa realizada nas regiões urbana e
rural do município de Piracicaba, São Paulo, Nascimento
27
encontrou 55,47% da população urbana com consumo
adequado de leite de vaca. Além deste, outros produtos lác-
teos foram citados como queijo (5,84%), iogurte (2,92%)
e requeijão (2,92%). De maneira similar, na área rural, o
consumo de produtos lácteos foi próximo ao da cidade
(consumo de leite de 52,94%, iogurte 1,96%, queijo 7,94%
e requeijão 1,96%).
A POF (2002/2003) verificou proporção de gastos
no grupo do leite e derivados 37,37% maior na área urba-
na do que na área rural. E ainda, a participação de leite e
derivados foi maior no meio urbano do que no meio rural,
atingindo 6,7% das calorias totais na população urbana e
5% das calorias totais na população do campo. 18
Analisando o tamanho da propriedade rural e o con-
sumo de leite e derivados, ainda que o consumo seja maior
nas grandes propriedades, a presente pesquisa não verificou
significância estatística no consumo deste grupo em rela-
ção ao tamanho da propriedade. Por outro lado, Romani &
Amigo, 33 em pesquisa para identificar o perfil alimentar da
população rural de acordo com a quantidade de terra possu-
ída no estado do Pernambuco, encontraram que o consumo
médio diário per capita de leite para as famílias rurais que
não possuíam terra, era de 179,65mL/dia. As famílias que
possuíam de 1 a 10 hectares de terra (minifúndio) ingeriam
224,96mL/dia. As famílias moradoras em terras com 10 a
50 hectares (pequena propriedade) consumiam 281,99mL/
dia, sendo todas essas quantidades ingeridas inferiores ao
recomendado. As famílias com grandes posses de terras,
correspondendo a 50 hectares ou mais (média e grande
propriedade) ingeriam 401,93mL/dia de leite, atingindo a
quantidade diária recomendada. O consumo de queijo foi
referido somente pelas famílias com mais de 50 hectares
de terra.
Recentes estudos têm mostrado benefícios associa-
dos ao consumo de leite e seus derivados; entre eles, desta-
ca-se que a adoção de dieta com altas quantidades de leite e
derivados diminuem o acúmulo de tecido adiposo derivado
de alta ingestão calórica, por meio da modulação do cálcio
intracelular nos adipócitos, 38 podendo reduzir em até 70%
o risco de sobrepeso. 15
É importante destacar que o leite, por ser um ali-
mento fonte de gordura saturada, 28 pode influenciar no
aumento do risco de doenças cardiovasculares. 8 Por esse
motivo, adultos devem consumir leite e derivados com bai-
xos teores de gordura, assim terão o benefício do consumo
de leite sem prejuízos cardiovasculares. Além disso, o leite
e seus derivados são as melhores fontes de cálcio da dieta
de humanos e, quando o consumo desses alimentos não é
adequado, poderá atingir de forma negativa a saúde óssea,
comprometendo o crescimento, além de poder ocasionar
osteoporose futura. 5
CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos, em que parte expres-
siva dos agricultores entrevistados consomem abaixo das
272
recomendações ou não consomem leite e derivados e, com
base nos inúmeros benefícios que o consumo deste grupo
de alimentos traz a saúde, torna-se evidente a necessidade
da adoção de medidas efetivas de conscientização e estímu-
lo ao consumo. Tais medidas têm como objetivo orientar a
população quanto à importância da participação diária deste
grupo da pirâmide alimentar na alimentação diária de todos
os brasileiros. Cabe também ressaltar que a região oeste
do Paraná é considerada a maior bacia leiteira do estado,
e assim o sendo, apresenta oferta suficiente deste alimento
para o consumo da população.
Desta forma, espera-se que os resultados obtidos na
presente pesquisa possam servir de subsídios para novos
inquéritos sobre o consumo de leite pela população, tan-
to rural quanto urbana, possibilitando a implementação de
ações públicas de educação nutricional, visando o aumento
do consumo deste alimento imprescindível na alimentação
humana.
AGRADECIMENTOS
À Cooperativa Agroindustrial de Cascavel, Paraná,
e a todos os alunos e professores da Faculdade Assis Gur-
gacz que tornaram possível a realização deste trabalho.
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.;
ROMAN, J.A. Consumption of cow’s milk and derivatives
among farmers of western Paraná. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun. 2012.
ABSTRACT: Milk is the main source of calcium in
food whose importance is related to their functions in the
human body, once it contributes to the formation of the
bone tissue, provides growth, regulates the nervous system
and increases resistance to infections. Its main nutrients
are: high quality proteins, fats, carbohydrates, and it is also
rich in vitamins and minerals. The aim of this study was
to identify the consumption of cow’s milk and derivatives
in the rural population living in the western Paraná. The
cross sectional study was conducted during the 20th
Coopavel Rural Show, in 2009, in Cascavel, Parana with
resident farmers of urban and rural areas of this region. To
verify the food habits, the “How are your food habits?”
test was applied and it was Validated by the Department of
Health, which classification follows the daily servings of
milk recommended by food pyramid for adults. From the
372 farmers who participated in the test, 193 answered
about the consumption of milk, and from these, 160 reported
they consume dairy products, from which 82.5% presented
higher or equal consumption to the recommendation
and 17.5% presented less than the recommended intake.
Regarding the adequacy of consumption, 82.7% from the
women who participated and 82.2% from the men consume
dairy products within the recommendations established by
the food pyramid, as well as 81.6% from the adults and
TOMBINI, H.; DALLACOSTA, M. C.; BLEIL, R. A. T.; ROMAN, J. A. Consumo de leite de vaca entre agricultores. Alim. Nutr., Araraquara,
v. 23, n. 2, p. 267-274, abr./jun 2012.
89.5% from the elderly. According to economic classes, the
adequate consumption of dairy products and its derivate
was observed in 85.7% in class A, 90.2% in class B, 77.5%
in Class C and 83.3% in Class D + E, not having significant
difference between these variables. The type of milk most
consumed by farmers was the whole milk (86.1%) and only
13.9% reported drinking skimmed milk. According to their
place of residence, 20% lived in urban areas and 80% in
rural areas. However, from those who are residents in the
city, 90.6% reported adequate consumption and among
residents in rural areas 80.5%. Thus, it is expected that
the results obtained in this study may serve as support for
new surveys on milk consumption by the population, both
rural and urban, allowing the implementation of public
actions of nutritional education aiming the increase of milk
consumption from the population.
KEYWORDS: Farmer; milk; food pyramid.
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