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1.

Caracterização e Especificidades da População/Demanda Atendida

O Pronto Socorro e demais serviços que prestam atendimento à urgência e


emergência no ambiente hospitalar têm, como todos os outros locais que trabalham
para o cuidado e promoção da saúde, suas especificidades de público e de
demandas a serem atendidas, principalmente no que diz respeito à área relacionada
à saúde mental. Esses ambientes são considerados imprevisíveis devido ao fato de
não terem rotina e planejamentos (SASSI & OLIVEIRA, 2014).
Antes de pontuar as especificidades da população e das demandas do
Pronto Socorro e serviços de urgência e emergência dentro do ambiente hospitalar,
cabe ressaltar a atual descaracterização destes locais, que funcionam como
ambulatórios com pronto-atendimento, absorvendo todos os problemas físicos e
sociais da população, extrapolando o seu real objetivo que é prestar atendimento de
diagnóstico e tratamento de paciente acidentados ou acometidos de mal súbito
(ROMANO, 1999 apud ROSSI et al., 2004).
Convém também diferenciar os termos abordados: urgência e emergência.
Para Giglio-Jacquemot (2005 apud COSTA et al., 2014), a urgência se refere aos
casos em que é necessário um procedimento clínico ou cirúrgico, em que o paciente
não corre risco de morte iminente, mas em que a doença pode evoluir para
complicações mais graves ou até mesmo fatais. A emergência refere-se aos casos
em que o risco iminente de morte já existe e em que o paciente necessita ser
atendido, diagnosticado e tratado logo que chega ao serviço de saúde, sendo
necessária a manutenção de suas funções vitais.
Nestes ambientes se dá a entrada de pacientes que sofreram algum tipo de
acidentes ou enfermidades imprevistas, em situação de emergência, seja ela com
ou sem risco de morte (COPPE & MIRANDA, 2002 apud ROSSI et al., 2004),
podendo levar assim à demandas emocionais específicas decorrentes destes casos,
que precisam ser assistidas pelos profissionais, sejam eles crianças, adolescentes,
adultos ou idosos (SASSI & OLIVEIRA, 2014).
Cabe ressaltar também a grande rotatividade de pacientes neste serviço,
mesmo aqueles em situação de internação, que se dá em períodos breves, sendo
eles de 2 a 7 dias (SASSI & OLIVEIRA, 2014).
Quando chega ao Pronto Socorro, o paciente se encontra em uma situação
em que já não é mais o sujeito, mas sim o objeto de intervenção, e se vê a frente de
uma dicotomia: a busca pela melhora diante de procedimentos médicos, e o caráter
invasivo e ameaçador dos mesmos, que provocam medo e ansiedade (MOURA,
1996 apud ROSSI et al., 2004).
A demanda psicológica a ser atendida nesses casos geralmente surge a
partir de queixas, e define-se por aquilo que se mostra urgente e precisa de atenção
e cuidado. Ela é trabalhada a partir da confiança e entrega, e esse trabalho tem a
finalidade de buscar e caminhar para algum lugar que esteja além do problema em
questão (MORATO, 2008 apud SILVA, 2014).
As experiências que ocorrem dentro do Pronto Socorro, em geral, são
permeadas por muitos afetos, relacionados à espera pelo atendimento, a
expectativa do diagnóstico e prognóstico, indisponibilidade da equipe, podendo
gerar angústia, ansiedade e apreensão (SANT’ANNA, 2000 apud LEITE et al.,
2018). Outra especificidade dentro deste serviço é a imprevisibilidade, a perda da
independência por parte do paciente, bem como a sensação de impotência e perda
da autonomia (LEITE et al., 2018).
Coppe e Miranda (2002 apud ROSSI et al., 2004) incluem também que a
imprevisibilidade dos acontecimentos provocam reações de medo, ressentimento,
perda do autodomínio, sensações de estranheza, resultando em alterações da
auto-estima e imagem corporal.
Existem os casos de psicossomatização, citados por Vieira (2010 apud LEITE
et al., 2018), que se dão quando o aparelho psíquico não consegue assimilar um
trauma, por inúmeras razões, e que desta forma o excesso de excitação pulsional
transborda para o corpo físico, resultando na somatização. Cabe ressaltar, ainda,
que os pacientes que procuram o atendimento destes serviços geralmente estão
acometidos à alguma perda, seja ela relacionada à uma outra pessoa, ao corpo
saudável, ou ao corpo inteiro, no caso de fraturas, mutilações ou procedimentos
cirúrgicos (MOURA, 1996 apud ROSSI et al., 2004). Há também grande quantidade
de pacientes em que a demanda é relacionada ao Transtorno de Estresse
Pós-Traumático, onde eles precisam ser observados por um período de tempo, a fim
de verificar as alterações e a dinâmica dos sintomas (NICOLAU et al., 2018).
2. Levantamento das Necessidades

A necessidade básica e prioritária a ser atendida nos serviços de Pronto


Socorro e urgência e emergência é o acolhimento (BRASIL, 2010 apud LEITE et
al., 2018). Ele possibilita o conhecimento das demandas dos pacientes,
proporcionando o encontro do indivíduo que deve ser cuidado com o trabalhador da
saúde e pode ser considerado uma estratégia utilizada para minimizar a
negatividade do ambiente hospitalar.
Através de uma escuta ativa, centrada no indivíduo que busca auxílio, o
profissional de psicologia pode ajudar a ressignificar e elaborar a experiência gerada
pela hospitalização emergencial. Cabe ao psicólogo, desta forma, olhar para a
subjetividade do paciente, oferecendo uma escuta singular (ROSSI 2008 apud
LEITE et al., 2018). A necessidade da escuta está voltada à urgência subjetiva, que
significa aquele sofrimento que é considerado urgente para o paciente naquele
momento (SASSI & OLIVEIRA, 2014).
A necessidade que deve ser suprida neste ambiente, em paralelo ao objetivo
do trabalho do psicólogo, é a compreensão, a minimização e o alívio do sofrimento
psíquico do paciente, relacionado à doença e à hospitalização, resgatando sua
subjetividade, por meio de atendimentos breves e focais (ROSSI et al., 2004;
VIEIRA, 2010 apud LEITE et al., 2018). Vieira (2010 apud LEITE et al., 2018)
salienta também que os profissionais podem ajudar os pacientes no processo de
adaptação e enfrentamento do sofrimento causado pela situação emergencial,
buscando o acolhimento da demanda e a humanização do serviço.
Referente à necessidade de atendimento aos indivíduos que apresentam a
psicossomatização, Volich (2010 apud LEITE et al., 2018) afirma que o psicólogo
deve auxiliar o paciente a perceber e comunicar o seu sofrimento, reconhecendo
que a causa da dor corporal está no plano psíquico, expressando o que está sendo
vivido por outros meios.
Já com relação ao atendimento de pacientes que apresentam a demanda
referente ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Mohta et al. (2003 apud
ROSSI et al., 2004) caracterizam a atuação multiprofissional e multidisciplinar,
considerando as manifestações clínicas e psicológicas que são expressadas.
Quando essas manifestações são ignoradas, podem evoluir para distúrbios
psiquiátricos, originados pelo evento súbito e inesperado que ocorreu. Essas
manifestações geralmente se dão por meio de sentimentos específicos, como
desamparo, alteração da imagem corporal, raiva, negação, entre outros.
Outra necessidade a ser atendida é a intervenção do psicólogo no tratamento
médico na medida em que possibilita um diálogo mais eficiente do médico com o
paciente, oferecendo em paralelo um atendimento para a família (ROMANO, 1999
apud ROSSI et al., 2004).
Seguindo neste raciocínio, o profissional de psicologia oferece uma escuta
singular, amparando e compreendendo não só as demandas do paciente, mas de
sua família e de toda a equipe em geral, melhorando sua qualidade de trabalho e
sua rotina (ROSSI et al., 2004; LEITE et al., 2018). As possibilidades de atuação do
psicólogo, tanto com o paciente, quanto com a equipe e com a família serão
discutidas mais detalhadamente no item que segue.
Finalizando os tópicos que abordam as necessidades a serem atendidas no
ambiente do Pronto Socorro e serviços que realizam o atendimento de urgência e
emergência em saúde, conclui-se o reconhecimento da importância da inserção do
psicólogo não só no âmbito hospitalar, mas especificamente nos serviços
abordados, nos quais promove a humanização e o acolhimento, auxiliando no
trabalho da equipe através da interdisciplinaridade e buscando compreender o
indivíduo como ser integral, seja ele paciente, familiar ou prestador de serviço
(VIEIRA, 2010 apud LEITE et al., 2018).

Referências:
Costa, E. P., Ribeiro, A. C. P., & do Nascimento André, M. I. (2014). A Psicologia na
Urgência e Emergência: Uma experiência no Corpo de Bombeiros. Revista
Interdisciplinar de Estudos em Saúde, 3(2), 68-78.
Leite, K. L., Yoshii, T. P., & Langaro, F. (2018). O olhar da psicologia sobre
demandas emocionais de pacientes em pronto atendimento de hospital geral.
Revista da SBPH, 21(2), 145-166.
Nicolau, I. F., Prado, J. A., Gonçalves, L. D. P. P., Pacheco, R. F., & das Dores
Souza, S. (2018). Considerações acerca da atuação da psicologia frente a situações
de violência em um hospital de urgência e emergência. Rev Med Minas Gerais,
28(Supl 5), S280512.
Rossi, L. D., Gavião, A. C. D., Lucia, M. C. S. D., & Awada, S. B. (2004). Psicologia
e emergências médicas: uma aproximação possível. Psicologia hospitalar, 2(2), 0-0.
Sassi, A., & Oliveira, S. (2014). Os desafios do psicólogo no atendimento a
pacientes internados no pronto socorro. Psicologia Revista, 23(1), 97-107.
Silva, S. C. (2014). O LUGAR DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA. Blucher Medical Proceedings, 1(6), 26-30.

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