O texto dá enfoque aos três momentos em que a psicologia se aproxima de
fato do social, a fim de entender o papel e funções dessa relação no novo modelo de economia capitalista. Essas três aproximações, que são na verdade não mais que três teorias distintas, vêm para dar sentido ao momento histórico em que se configuram, expressam uma verdade de um certo tempo, deixando evidente as relações entre a produção da subjetividade e a produção de um determinado conhecimento. Estas aproximações estão ligadas à transição da sociedade de um modelo disciplinar para um modelo de controle. Lembrando que o estudo do social se dá de forma “individualizada”, ou seja, estudar o social através do indivíduo. O primeiro momento se dá com o fenômeno das multidões, analisado e teorizado por Le Bon, visto que esse era uma ameaça ao sistema capitalista liberal da época. Para este autor, o modelo social em vigor deveria ser preservado, e essa grande massa, que poderia deixar evidentes as desigualdades trazidas pelo capitalismo, deveria ser governada por um líder. Para Moscovici, as multidões sempre existiram, mas antes eram consideradas “invisíveis e inaudíveis” e só saíram dessas condições devido à uma “aceleração da história”. Já para o autor do texto, essa “invisibilidade e inaudibilidade” seriam decorrentes de uma desterritorialização geográfica e que elas só abandonam essas condições porque mudam de uma desterritorialização geográfica para uma desterritorialização “sem sair do lugar”, desterritorialização de conceitos, problematizando novos problemas causados pela nova configuração do social. Devido aos fenômenos de massa, cria-se um vínculo entre a psicologia das multidões e a política em si, sendo que a primeira tem como objetivo, não só emitir sugestões sobre como “lidar” com esses fenômenos, mas também mudar o foco de “criminal” e “jurídico”, para uma explicação mais psicológica, devido à irracionalidade atribuída a essas massas. O segundo momento surge com o evento da Revolução Industrial em que a família tradicional perde muito de sua função, visto que antes não havia uma separação entre vida profissional e família, o ofício e a educação eram aprendidos no âmbito familiar. Após a revolução, quem tem o papel de educar é a escola e quem tem o papel de ensinar o ofício e regular a produção é o mercado. Aqui, o Estado toma para si a função de administrar não só os bens e riquezas familiares como antes, mas gerir e intervir em toda a economia vigente. Para Deleuze & Guattari, o que muda nas relações familiares são a aliança e a filiação, que se desterritorializam e a família acaba se tornando uma força de trabalho. No terceiro momento, o foco principal se dá no grupo (pequenos coletivos humanos) e o que ele significa dentro do social. Grupos, no geral, eram vistos como uma reunião de pessoas com um objetivo em comum e seu papel era mediar a relação entre o indivíduo e a sociedade. Fernandéz aponta que em certo momento foi necessária a criação da palavra “grupo” para tornar visível uma forma de sociabilidade que precisa ser vista como importante pois têm uma grande relevância nas práticas sociais.