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Grafitos em banheiros
As escritas ou Grafitos de banheiro, também conhecidos como escritas
latrinárias, correspondem a palavras, frases ou desenhos feitos por indivíduos de
ambos os sexos em banheiros públicos. Majoritariamente, as mencionadas
inscrições são produzidas nas portas e paredes das cabines dos banheiros, como
também, eventualmente, em outras superfícies que permitam a escrita. (TEIXEIRA,
2004).
Um dos locais mais utilizados para essas manifestações comunicativas são
os banheiros coletivos ou públicos. Segundo (DAMIÃO; TEIXEIRA, 2009) a
existência de normas e a repressão sobre a manipulação do corpo fazem do
banheiro público um local de transgressão, de ruptura e de liberdade. A ausência de
limites impostos por uma censura externa torna esse local um painel anônimo de
confidências sobre a cultura, a sociedade e, inclusive, o próprio indivíduo.
Os banheiros são locais que as pessoas se sentem sozinhas e livres para
expressar suas opiniões de forma anônima, sem receio de censura por parte das
outras pessoas, isso justifica a tão recorrente presença desses grafitos nesses
ambientes.
Desse modo, os grafitos de banheiro permitem que os
comportamentos, crenças e atitudes sejam medidos de forma não
intrusiva, visto que são produções livremente emitidas, oferecendo,
portanto, a vantagem de estarem menos sujeitos a vieses e censuras
de um observador e, consequentemente, proporcionando resultados
mais precisos (SCHREER; STRICHARTZ, 1997).
Gênero
Como consta em várias pesquisas (FILHO et al, 2015; VILAR et al, s/d;
TEIXEIRA & OTTA, 1998; ABUD & ROSA, 2015), grande parte dos temas vistos em
grafitos de banheiros referem-se ao de relações de gênero. O grande interesse por
esse assunto se deu a partir do momento em que o paradigma emergente foi
tomando espaço do dominante (SANTOS, 1989 apud ARRUDA, 2002), trazendo
consigo algumas teorias, como a das Representações Sociais, de Moscovici e as
teorias chamadas feministas, que rejeitavam as noções de dicotomia da época, bem
como valorizava a subjetividade, a esfera cultural e o senso comum (ARRUDA,
2002). Desde então, o assunto de relações de gênero tem sido abordado em
diversas áreas, como a Antropologia, Sociologia, Educação e também na Psicologia
Social.
O termo “gênero” foi sendo modificado e aprimorado ao longo do tempo.
Segundo Nogueira (2001), gênero foi definido, primeiramente de uma forma
essencialista, na primeira metade do século XX, que compreende um certo
determinismo biológico e diferenças de personalidade de homens e mulheres, como
também
sugere a existência de diferenças inatas e estáveis entre os sexos,
conceituando o gênero (ou sexo, que, nessa perspectiva, são
praticamente equivalentes) como uma propriedade estável, inata e
bipolar de diferenciação sexual, tendo um caráter eminentemente
determinista. (NOGUEIRA, 2001)
A segunda definição de gênero é denominada como “abordagem da
socialização”, que vigorou durante os anos 60 e 70, e compreende gênero como um
aspecto de socialização e não mais como um aspecto biológico (NOGUEIRA, 2001).
“O gênero passa a ser concebido, não como inato, mas como o resultado de forças
sociais e culturais, aprendido por intermédio dos processos de modelagem e
imitação” (BANDURA, 1977 apud NOGUEIRA, 2001).
Posteriormente, o terceiro conceito, que corresponde a base teórica da
presente intervenção, desenvolve o termo “gênero” como uma dicotomia homem
versus mulher, mas
desenvolve-se mediante peças de discurso, organizadas num
sistema de significados disponíveis aos indivíduos de forma a darem
sentido às suas posições, o que historicamente é reconhecido como
respostas femininas e masculinas. (WETHERELL, 1997 apud
NOGUEIRA, 2001)
Portanto, quem faz o gênero é o próprio indivíduo, que por suas ações,
comportamentos e interações, se identificam na sociedade (NOGUEIRA, 2001).
O gênero assumido pelo indivíduo deve superar os papéis de gênero que se
configuram pelos comportamentos considerados “apropriados” pela sociedade em
relação ao sexo biológico da pessoa (NOGUEIRA, 2001).
Análise de Conteúdo
Este trabalho se fundamentará no método científico da Análise de Conteúdo
descrita por Laurence Bardin, professora de Psicologia na Universidade de Paris V.
Como apresentado por Caregnato (2006), a Análise de Conteúdo (AC) surgiu no
início do século XX nos Estados Unidos para analisar o material jornalístico da
época, pois os cientistas estavam interessados pelos símbolos políticos, depois
disso a AC estendeu-se para várias áreas.
No livro “Análise de Conteúdo”, Bardin faz um breve percurso histórico do uso
desta técnica, apresentando que essa antes de ser sistematizada já foi utilizada,
como por exemplo pela hermenêutica. Tarefa relevante é definir esse método,
portanto: “Para Bardin (2009), a análise de conteúdo, enquanto método torna-se um
conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (FARAGO;
FOFONCA, p.2); que se adequa a perspectiva quantitativa e qualitativa.
Na abordagem qualitativa, no caso deste trabalho, irá se considerar a
presença ou ausência de uma dada característica ou conjunto de característica –
conteúdos que remetem a gênero. A escolha desse método se deu porque
pretendemos analisar os grafitos de forma não individualizada, considerando que
não se tem o controle de quem escreveu, temos conhecimento apenas do grupo
controle (estudantes), identificar os estereótipos e crenças presentes nos mesmos
sobre o tema gênero.
Metodologia de análise
Para a análise dos grafitos dos banheiros, pretendemos usar o método de
Análise de Conteúdo (AC) já citado anteriormente, o qual Bardin esquematiza em:
pré-análise; exploração do material; e, o tratamento dos resultados: a inferência e a
interpretação (2009, p.121). A pré-análise prevê uma organização do material por
categorias temáticas, onde iremos agrupar os conteúdos coletados a partir das suas
significações com os semelhantes.
Como nossa intervenção também prevê a apresentação de um estímulo,
acreditamos que se dará de forma semelhante à aplicação do teste de associações
espontâneas, em que “recomenda-se que os sujeitos associem, livre e rapidamente,
a partir da audição das palavras indutoras (estímulos), outras palavras (respostas)
ou palavras induzidas” (FARAGO; FOFONCA, p.3).
Referências:
CAREGNATO, Aquino; CATALINA, Rita; MUTTI, Regina. Pesquisa qualitativa:
análise de discurso versus análise de conteúdo. Florianópolis: Texto Contexto
Enfermagem ,2006 Out-Dez; 15(4): 679-84.