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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
LINGUAGEM E CONHECIMENTO EM ADMINISTRAÇÃO
PROF. DR. GUILHERME MOURA

DAIANA AMORIM FERREIRA

RESUMO CRÍTICO – TEXTO 1


MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna C. (org.). Introdução à linguística: domínios e
fronteiras. v. 2. São Paulo: Cortez, 2001. (cap. 4)

A Análise do Discurso (AD) é uma disciplina já há muito estabelecida como prática


metodológica em pesquisas, apesar de bastante difundida, e justamente por isso, gera confusões
sobre suas características próprias. Pode-se compreendê-la, de modo mais claro, quando conhecida
a gênese e os pressupostos de sua proposição inicial. Nesse ponto, citam-se três influências
principais; o marxismo, em sua compreensão do materialismo histórico (a ação da infraestrutura
sobre a superestrutura); o estruturalismo saussereano e a relação interna do sistema (a definição de
um elemento a partir do outro ou da negação do outro); e a psicanálise lacaniana e conceito de
sujeito.
A proposta da AD tem como estratégia o estudo das ideologias em sua materialidade, a
linguagem apresenta-se como espaço privilegiado onde a ideologia se materializa. A Linguística,
especficamente a estruturalista, oferece um núcleo rígido (material) para outras disciplinas como a
Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, entre outras. A especificidade da AD consiste em considerar o
que é dito (discurso) sob o ponto de vista sistêmico da língua, vindo a entrelaçar o mesmo ao sujeito
e suas conjunturas históricas e sociais. Desse modo, os analistas do discurso procuram estabelecer a
ligação entre um discurso e suas condições de produção, condições sociais e históricas que lhe
permitem a geração de determinados efeitos de sentido que não outros.
Dentro da AD, existem estudos que privilegiam a análise com ênfase em uma perspectiva
histórica, inserem-se portanto na AD francesa. Outros mantêm maior contato com a Sociologia,
denominada como AD anglo-saxã. Esclarecendo que atualmente essas divisões não estão tão
demarcadas, sabe-se que no Brasil, o viés sociológico é mais presente.
Os procedimentos de análise receberam contribuições de vários estudiosos ao longo do
tempo. O método Harris que se baseia na linearidade do discurso em que se observa a ligação entre
os enunciados a partir de conectivos com o objetivo de equacionar a linearidade em classes de
equivalência. Essa abordagem foi definida como um meio de fazer aparecer as regularidades
significativas dos discursos contrastados pelo corpus. Essa concepção de discurso como uma
sequência de enunciados mostrou-se insuficiente para os propósitos da AD que buscava reintegrar
uma teoria do sujeito e uma teoria da situação. O responsável por apontar um caminho nessa
direação foi Chomsky e seu postulado sobre a existência de um sistema de regras internalizadas
responsável pela geração de sentenças. Esse conceito de condições de produção é básico para AD
pois elas caracterizam o discurso, o constituem e são como tal objeto de análise.
A primeira fase da Análise do Discurso (AD1) explora a análise de discursos mais
estabilizados no sentido de serem pouco polêmicos e com menor carga polissêmica. Esse
procedimento de análise segundo uma máquina discursiva, ou seja, uma estrutura responsável pela
geração de um processo discursivo produzido a partir de um conjunto de argumentos e elementos
que o delimitam representa a fase AD-1. A fase AD-2 apresentou poucas mudanças em relação a
anterior, basicamente buscam discusos menos estabilizados e condições menos homogêneas de
produção. AD-3, por sua vez, adota-se a perspectiva segundo a qual os diversos discursos que
atravessam a formação discursiva não se constituem independemente uns dos outros, sendo a
relação interdiscursiva que estrutura a identidade da Formação Discursiva (conjunto de regras
anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço que definiram em um época dada
e para uma área social (...) as condições de exercício da função enunciativa – M.Foucault).
A interpretação analítica da AD considera o contexto histórico-social do texto, o que
envolve uma investigação das condições em que o mesmo foi produzido, partindo do princípio que
os significados são historicamente construídos. Uma FD é um campo onde onde se articulam
discurso e ideologia. Pode-se afirmar que toda FD é governanda por uma formação ideológica, a
mesma pode impor várias forças ideológicas, tendo sempre a FD a presença de vários discursos.
O poder histórico do discurso é reforçado pela noção de sujeito pela AD, seguindo as as três
fases (AD1, AD2, AD3) tem-se algumas mudanças na forma como ele é visto. Na primeira, o
sujeito não pode como fonte do próprio discurso, que na verdade, é produzido por uma máquina
discursiva (instituições, teorias, ideologias), no segundo, o sujeito perde a ideia de unidade e passa a
representar vários papéis no espaço interdiscursivo (atravessado por várias FD), na terceira,
considerada a mais atual, o sujeito é visto como dividido entre consciente e inconsciente, em que o
“eu” divide espaço e é definido pelo “outro”.

Como podemos relacionar essa visão do sujeito na AD em contraponto à força criativa do


falante vista na abordagem pragmática?

Não fica muito clara a ideia de que uma FD é atravessada por outras, pré-construídas, que
são a ela incorporadas, como entender essa relações?
RESUMO CRÍTICO – TEXTO 1
VAN DIJK, Teun A. Discurso e Poder. São Paulo: Contexto, 2010. (p. 113-132)

O texto apresenta um panorama sobre um tipo particular de AD, a Análise Crítica do


Discurso. É definida pelo autor não como uma escola ou abordagem, mas como perpectiva, que
enxerga os fenômenos de abuso de poder, de dominação e desigualdade presentes no contexto
social e político que se encontram representados e reproduzidos dentro dos textos orais ou escritos.
No texto de Mussalim (2001) já havia um tendência ligada a AD francesa que tinha maior
aproximação com a Sociologia. A ACD insere-se então numa perpectiva teórica em que se valoriza
o posicionamento crítico ante as condições de disparidades sociais, rejeitando a possibilidade de
uma ciência não valorativa. Essa postura leva a reflexão do próprio papel dos analistas e
acadêmicos que defendem uma atitude de opor-se à conformação, sendo as pesquisas científicas
uma forma de atuação social.
Algumas características fundamentam a ACD como a temática dos problemas sociais, a
compreensão de que as relações de poder são discursas, o entendimento de que a relação entre texto
e sociedade é mediada, isto é, existem alguns condicionantes dentro dessa relação como assimetria
de poder, e ainda, a visão do discurso como uma ação social. Dados seus fundamentos e suas
preocupações, o autor apresenta alguns conceitos básicos que permitem “delimitação” de seu
enquadre teórico.
Primeira ao unir os temas do discurso, do poder e da dominação, ela realiza uma conexão
entre as esferas micro (um pronunciamento) e macro (a ideologia de um partido) de análise. Outra
noção trabalhada é a de poder, basicamente, as formas de controle que determinados grupos
(membros) têm sobre outros. Essas bases de poder podem ser por força, dinheiro, persuasão, os
detentores de tais fatores exercem o poder sobre o discurso público e sobre a mente das pessoas. O
controle do discurso público dá-se sobre as estruturas dos textos orais e escritos (a forma como se
realiza o enunciado) e sobre o contexto, onde se restringem as situações, seus participantes e
também seu conhecimento e opiniões. O controle da mente é garantido pela reprodução da
dominação, seja pela passividade dos sujeitos, seja pelas condições de alienação e manipulação em
que são colocados. Estruturas discursivas como reportagens, pronunciamentos, livros, ajudam a
manipular o conteúdo de forma implícita, garantindo a preservação de situações de desigualdade.
As pesquisas em ACD tem abrangido diversos temas, em geral, os de natureza marginal,
assuntos que se situam fora dos debates públicos como desigualdade de gênero em que são
realizados trabalhos que denunciam o sexismo e suas consequências. O discurso da mídia também
tem sido alvo de enfoques analíticos que revelam a presença de mensagens preconceituosas, racistas
e estereotipadas. O discurso político faz parte dessas investigações pois consiste numa das
principais esferas em que se legitimam o poder e a dominação. A desigualdade é igualmente
abordada em estudos sobre diferenças étnicas e de raça, construtos que formam em oposição ao
exótico, ou “de fora”, e criam estereótipos depreciativos que se reproduzem na cultura, na mídia e
se incorporam muitas vezes implicitamente à opinião pública.

Nesse processo crítico de análise é discutido ou mesmo considerado a questão do viés do


pesquisador?

Ao centrar-se no discurso como instrumento de dominação e controle, entende-se que se


analisam mais adequadamente ao se considerar os significados construídos tendo como base a
intenção a que se propõem?

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