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1 Muito se fala a respeito da saúde do trabalhador, porém na maioria das

vezes é levando-se em conta apenas a saúde do corpo físico, em questões de


acidente de trabalho, mapa de risco, segurança do trabalho, entre outros. A partir do
documentário “Carne e Osso” e dos relatos dos funcionários de um frigorífico,
pode-se perceber que a saúde do trabalhador é muito mais ampla do que
imaginamos.
Através dos relatos do documentário, verifica-se uma série de abusos contra
a saúde mental do trabalhador. O primeiro a ser discutido é a noção de
produtividade e lucro das empresas, não só de frigoríficos, mas em geral. A lógica
de funcionamento das empresas pautada em aumento da produção e geração de
lucro acarreta uma série de condutas para com os funcionários, que podem
prejudicar-lhes em sua saúde, tanto física, quanto mental.
A pressão, jornada de trabalho intensa, cobranças excessivas, vigilância,
ritmo de trabalho acelerado, geração de competitividade entre os funcionários, entre
outros, são exemplos de condutas que acabam por afetar a saúde mental do
trabalhador, bem como muitas vezes as próprias funções desempenhadas pelo
empregado, como é bem representado no documentário.
O trabalho repetitivo, além de ser um agravo físico, visto que pode acarretar
no desenvolvimento de doenças como LER/DORT, pode também prejudicar a saúde
mental, na medida em que o trabalhador tende a se sentir incapaz, fraco, frágil e
inútil por não conseguir “dar conta” da demanda pretendida e cobrada pela chefia.
Cabe também ressaltar o assédio moral sofrido pelos portadores destas
doenças, bem como por aqueles que não conseguem desempenhar efetivamente as
suas funções, o que também prejudica na saúde mental. A partir destes relatos,
vê-se a necessidade da inserção do psicólogo nestes locais, considerando que a
demanda vem aumentando juntamente com a lógica de produtividade e com o
desejo de sempre querer mais, para atuar não só no tratamento, mas principalmente
na prevenção e promoção de saúde mental no ambiente de trabalho.
2 Como já foi abordado, os riscos à saúde no ambiente de trabalho retratado
no documentário são vários: jornadas longas e abusivas, metas de trabalho ilusórias
e grandíssimas, difíceis de serem batidas, número de funcionários reduzido perante
a demanda exigida, funções de esforço repetitivo, ritmo de trabalho acelerado,
descumprimento de leis a respeito de jornadas e direito do trabalhador, entre outros.
Uma investigação na rotina e procedimentos da empresa deveria ser realizada,
principalmente pautada nos relatos obtidos pelos próprios trabalhadores que já
sentiram na pele o que é trabalhar em um lugar totalmente insalubre.
Seria necessário aplicar a noção de direito do trabalhador, extinguir o foco
único na produtividade e pensar para além disso, considerando a saúde física e
mental dos funcionários. É necessário também inserir uma equipe para fiscalizar e
colocar em prática as questões de prevenção e promoção à saúde, em geral, como
medicina ocupacional e psicólogos, e fazer valer as mudanças necessárias para
zelar pelos funcionários.

Referências
Jacques, M. D. G. C. (2007). O nexo causal em saúde/doença mental no trabalho:
uma demanda para a psicologia. Psicologia & sociedade. São Paulo, SP. Vol. 19,
ed. esp. 1 (2007), p. 112-119.
da Silva, E. F., de Oliveira, K. K. M., & Zambroni-de-Souza, P. C. (2011). Saúde
mental do trabalhador: o assédio moral praticado contra trabalhadores com
LER/DORT. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 36(123), 56-70.

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