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Capítulo VIII - PAPAI OGRO, FILHO LADRÃO

João e o Pé de Feijão

A história de João e o Pé de Feijão apresenta um pequeno diferencial da maioria das


outras histórias infantis: aqui, a maldade não é provinda de bruxas ou mulheres
malvadas, mas sim de um monstro masculino, um ogro (ou gigante, como é abordado
em algumas versões). Os ogros e os gigantes são de aspectos similares nas histórias
infantis, por isso, não serão diferenciados. Essas personagens costumam ser muito
grandes, cruéis e ferozes, possuem bens preciosos que foram furtados e suas principais
refeições são compostas por crianças.

João e o Pé de Feijão é o conto infantil mais popular onde aparece a figura do ogro, que
nos permite entender a construção da identidade masculina por meio da apropriação e
herança da identidade paterna. Esse conto provém da tradição inglesa e possui duas
versões tradicionais, uma mais conhecida e utilizada que a outra.

1) Versão de Jackobs:
João e sua mãe obtinham seu sustento através da produção de leite de sua vaca. Em um
momento o leite da vaca acabou, consequentemente eles ficaram à mercê da fome e
tiveram como sua única opção, vender a vaca. João ainda propôs a sua mãe que poderia
trabalhar, mas ela acabou não concordando porque no passado ele ja nao tinha sido
contratado por ninguém. No caminho para vender a vaca, João encontra um homem que
lhe propôs trocar seu animal por alguns feijões mágicos. João troca a vaca pelos feijões
e o homem lhe promete que se planta-los de noite, de manha eles terá o crescido até o
céu. Quando chegou em casa e contou à mãe o que havia feito, a mesma ficou
desesperada pela inocência do menino ao pensar que ele havia sido enganado pelo
homem dos feijões. Em consequência disso, ela jogou os feijõescpela janela e deixou
João de castigo, mandando-o dormir sem jantar. Quando João acorda, ve qie os feijoes
jigados pela janela cresceram mesmo até o céu,

de tal forma que seus galhos entrelaçados se perdiam entre as nuvens como uma escada. o
menino subiu até chegar a uma terra encantada, Saindo do pé de feijão, uma estrada o
conduziu até a porta de uma casa gigantesca, em cuja soleira estava uma mulher grande, a
quem João pediu para comer algo de café da manhã, já que não havia jantado. O detalhe é
que ele chamou a enorme mulher de mãezinha e não parece tê-la considerado ameaçadora.
Mas a giganta lhe avisou que devia partir, pois se entrasse na casa poderia virar café da
manhã de seu marido, o ogro, que já estava para chegar. Pensando mais na fome que no
risco João implorou que o deixasse entrar mesmo assim, ao que a mulher terminou cedendo.
Em seguida, com grande estrondo, um gigante de péssima aparência entrou, mal tendo dado
tempo de o menino engolir um pouco de pão e leite e ser ocultado dentro do forno. O
monstro sentiu cheiro de carne humana, mas a mulher o enganou, dizendo que ele estava
era sentindo o cheiro dos restos do menino que havia degustado na noite anterior. Fia o
distraiu servindo-lhe uma lauta refeição, que o ogro engoliu com a voracidade própria da
espécie. Apavorado em seu esconderijo, o menino fez menção de fugir, mas a mulher lhe
assegurou que devia aguardar, pois ele sempre tirava um cochilo depois das refeições.
Depois de comer, o ogro ordenou à mulher que lhe trouxesse suas riquezas, e ela pôs sobre a
mesa sacos de moedas de ouro que ele começou a contar. De barriga cheia, terminou
realmente pegando no sono. Essa foi a oportunidade para a fuga de João, mas não sem antes
se apossar de um saco de moedas, que jogou para dentro do seu jardim antes de descer pelo
pé de feijão. Graças a essas riquezas, mãe e filho viveram bem por um tempo, mas quando
terminaram as moedas, foi necessário subir novamente em busca de mais. Na segunda
visita, a história toda se repetiu de forma similar, embora tenha sido um pouco mais difícil
de convencer a mulher. O souvenir dessa ocasião era ainda mais valioso que as moedas
trazidas da primeira vez: era uma galinha que punha ovos de ouro sempre que lhe
ordenavam. Embora a galinha lhes garantisse o provento necessário, João sentiu vontade de
voltar lá, já que suas visitas vinham sendo tão rentáveis. Na terceira visita nem tentou
enganar a mulher, entrou aproveitando uma distração dela e escondeu-se num caldeirão de
cobre. O ogro mais uma vez o farejou e junto com a esposa procuraram no forno, mas
novamente julgaram ser o cheiro do menino do jantar da véspera. O tesouro da vez era uma
harpa dourada que tocava e cantava divinamente. Ao seu som, o gigante costumava
adormecer como um bebê. João aproveitou para fugir com a harpa mágica depois que o ogro
pegou no sono, mas ela não colaborou. Como falava, gritou assustada quando o menino a
pegou, acordando seu patrão. Desperto, o ogro iniciou a caçada ao ladrãozinho, seguiu-o até
o pé de feijão e o perseguiu na descida. Graças à sua agilidade juvenil, João chegou antes,
gritou para a mãe lhe alcançar um machado e cortou o grande caule, fazendo o ogro cair e
morrer. Com os ovos da galinha e as apresentações da harpa mágica, eles enriqueceram e
João pôde se casar com uma princesa.

1) Versão de Tabart
O início da história é similar, embora haja uma ressalva de que o menino é um inútil, mas de
bom coração. Quando partiu para vender a vaca, ele encontrou um açougueiro, que é quem
lhe fez a proposta. O detalhe interessante aqui é que ele realizou a troca pelos feijões sem
que sequer o açougueiro tenha lhe explicitado bem qual seria a mágica da qual as sementes
eram capazes. Como na outra história, ele é repreendido pela mãe, que atira os feijões pela
janela e o julga um tolo sem conserto. A diferença entre as versões começa quando João
chega ao alto do pé de feijão e é recebido por uma fada, que lhe conta uma história: Era uma
vez um nobre cavalheiro que, junto com sua amável esposa, vivia em seu castelo, na
fronteira da Terra das Fadas. Seus vizinhos, a gente pequena, havia lhe dado muitos e
preciosos presentes. A fama desses tesouros espalhou-se, e um monstruoso gigante, muito
mau, resolveu se apossar deles. Para isso, ele subornou um serviçal. que o deixou entrar no
castelo e matar seu dono durante o sono. Por sorte, a dama não foi encontrada pelo gigante,
pois lhe era reservado o mesmo destino. Ela havia saído com o filho para visitar sua antiga
babá. Na manhã seguinte, um dos serviçais do castelo, que havia conseguido fugir, contou á
mulher o terrível destino de seu marido, assim como a intenção do gigante, que jurara matar
mãe e filho quando os encontrasse. Em função disso, a senhora ficou trabalhando como
camponesa, escondida na casa de sua velha ama, até que esta morreu, deixando-lhe o pouco
que tinha. Essa pobre mulher é sua mãe, este castelo era de seu pai e deve agora ser seu.
Como João crescera sem saber da tragédia paterna, a fada disse ter enviado os feijões
mágicos para atraí-lo para aquele lugar, a fim de que ele recuperasse sua legítima herança. A
partir dessa revelação, o menino parte para enfrentar o assassino de seu pai. Vai armado
apenas com a coragem e a esperteza com a qual os pequenos vencem os grandes. Para
incentivá-lo, a fada afirma: "Você é daqueles que matam gigantes. Lembrese: tudo o que ele
possui na verdade é seu". Quando ele bateu á porta do ogro, foi recebido por uma terrível
giganta de um olho só. Apavorado, João tentou fugir, mas ela o pegou e o colocou para
dentro de casa, tencionando transformá-lo em seu pajem, queixando-se de que o marido
devorava todos seus ajudantes e a deixava com todo o trabalho. O ogro voltou, sentiu cheiro
de carne humana, mas ela o enganou, dizendo tratar-se de uma carne assada que havia
preparado para o café da manhã. O gigante comeu, saiu e deixou a mulher com seu novo
pajem, que a ajudou o dia todo. Após o jantar, através da fechadura do armário, ele pôde
ver quando o ogro mandou vir a galinha dos ovos de ouro. O resto da história transcorre de
forma similar á versão anterior. Nas próximas visitas, disfarçado, ele volta para trabalhar
como pajem e rouba, uma vez o saco de ouro e, em outro momento, a harpa. Encontramos
apenas uma variação no final, pois é dito que João vive feliz para sempre com sua mãe.

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