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Levando em conta os atestados médicos, por vezes exigidos nas empresas

em casos de doenças por parte dos trabalhadores, cabe interpretá-los como um tipo
de pressão psicológica, visto que a produtividade e qualidade dos funcionários estão
diretamente atreladas com a sua frequência ao trabalho e com o número de vezes
que falta e adoece, sendo assim, são indiretamente atrelada com a saúde. Desta
forma, percebe-se que o que mais importa dentro do ambiente de trabalho não é
necessariamente a saúde do trabalhador, mas sim a produção e geração de lucro.
Considerando então a necessidade que o trabalhador tem de manter-se no
emprego, ele vai fazer o que for possível para suportar o que for preciso nesse
âmbito, sendo assim, muitos mascaram e negam a sua doença a fim de não deixar
que esta interfira no ambiente de trabalho, mesmo que ela possa ser atestada por
um médico. Juntamente com o medo do desemprego, tem-se o medo de não
conseguir encontrar um novo trabalho, o que também gera sofrimento.
Outra razão pela qual os funcionários não pedem ou até mesmo negam o
atestado, além de não prejudicar sua imagem de “produtividade”, é evitar certos
constrangimentos trazidos por ideias que os rotulam de “fracos”, ou que estão
fazendo “manha” e “corpo mole”.
Nestas situações, podemos identificar posturas discriminatórias que estão
ligadas à prática do assédio moral, muitas vezes para com pessoas que sofrem com
doenças crônicas e degenerativas, que é o caso do portador de LER/DORT. Além
disso, o assédio moral pode se dar para com aqueles que necessitam mudar de
função por conta de sua doença, visto que podem ser colocados em posições
consideradas desconfortáveis, ou que então são incompatíveis com suas
competências físicas, principalmente por estarem “dependendo” de seus superiores.
Cabe falar também sobre assédio misto, que se caracteriza por assédio
moral vertical descendente, juntamente com o horizontal, ou seja, além de ser
praticado por um supervisor, ou superior hierárquico, também é praticado por
colegas de trabalho que estão na mesma posição, que ao invés amparar uns aos
outros, competem cada vez mais. Geralmente, a discriminação de intensifica pelos
colegas, quando a pessoa portadora da doença retorna de algum afastamento,
sofrendo rejeição e muitas vezes, acaba pedindo demissão.
Pesquisas apontam que as pessoas que sofrem de assédio moral tendem a
desenvolver um comportamento de fuga e esquiva, baseado principalmente em três
mecanismos que podem ser utilizados para obter afastamento temporário do
ambiente de trabalho que promove o sofrimento:
1) Atestado médico: fuga do ambiente como um alívio de tensão mas, por outro
lado, tende a despertar um sentimento de inutilidade e incapacidade.
2) Férias: considerado como um momento para cuidado com a saúde e
recuperação para enfrentar outro período de trabalho.
3) Isolamento: medo, isolamento, coação, humilhação e individualização do
sofrimento.

Considerações finais
O artigo mostra o assédio moral organizacional como um produto resultado
de práticas de gestão focadas em produtividade, desempenho, lucro, cobranças
excessivas e vigilância, que geram o comportamento de competitividade e ritmo
acelerado, fazendo com que os trabalhadores procurem sempre dar o máximo de si
ao desempenhar suas funções, podendo resultar em segurança, quando bem
sucedidos, e fragilidade, quando não.
Este cenário retrata a realidade das empresas em que os trabalhadores
mesmo adoecidos, seja física ou psiquicamente, continuam exercendo suas
funções, podendo ter seu quadro clínico agravado, trazendo prejuízos para sua vida
profissional e pessoal.
O assédio moral interpessoal reflete uma prática calcada na humilhação e
coação daqueles que não conseguem mais acompanhar o que é exigido pela chefia,
visto que evitam e hesitam de procurar auxílio médico por medo de exclusão e
pressão no ambiente de trabalho.
Considera-se esses dois tipos de assédio moral um obstáculo para a saúde
mental do trabalhador, pois reflete aquele assédio praticado por trabalhadores
portadores de doenças já relacionadas ao trabalho, tornando-se algo cotidiano,
atingindo a vida pessoal, fora do ambiente de trabalho.

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