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Neoliberalismo é assédio moral

A psicologia do trabalho tem difíceis desafios nas empresas do capitalismo tardio

Magno Loschiavo

Trabalhar em uma empresa neoliberal pode apresentar diversos riscos para a saúde

mental dos trabalhadores. O ambiente competitivo, a pressão por resultados, a

instabilidade no emprego e a falta de suporte emocional são alguns dos fatores que

podem contribuir para problemas de saúde mental.

A psicologia do trabalho enfrenta hoje desafios devido ao avanço da tecnologia, a

globalização e as mudanças nas relações de trabalho. Seus profissionais estão cada vez

mais envolvidos em questões como equilíbrio entre vida pessoal e profissional, bem-

estar no trabalho e gestão do estresse. A pandemia do COVID-19 trouxe ainda novos

desafios como o trabalho remoto e a necessidade de adaptação às mudanças rápidas.

Um dos principais riscos é o estresse crônico. Em uma empresa neoliberal, o foco

muitas vezes está na maximização dos lucros e na competitividade, o que pode resultar

em metas irrealistas, prazos apertados e uma carga de trabalho excessiva. Essa pressão

constante pode levar a altos níveis de estresse, ansiedade, depressão e esgotamento.

Além disso, a insegurança no emprego é uma característica comum dessas companhias.

Com a ênfase na flexibilidade e na redução de custos, os trabalhadores podem enfrentar

contratos temporários, terceirização e demissões frequentes. A instabilidade no emprego

pode causar ansiedade e medo constante, afetando negativamente a saúde mental.

A falta de suporte emocional também é uma preocupação em empresas neoliberais.

Com o foco no individualismo e na competição, pode haver pouca ou nenhuma ênfase

no bem-estar dos funcionários. A falta de um ambiente de trabalho solidário e apoio

emocional pode levar à sensação de isolamento, baixa autoestima e dificuldade em lidar

com desafios profissionais.

A cultura do trabalho excessivo é comum em empresas neoliberais. Os trabalhadores

podem sentir a pressão para estar sempre disponíveis, responder a e-mails fora do

horário de serviço e sacrificar seu tempo pessoal em prol do trabalho. Essa falta de

equilíbrio entre vida profissional e pessoal pode levar à exaustão, negligência de

cuidados pessoais e problemas nas relações interpessoais.

A falta de autonomia e controle sobre o trabalho é outro risco para a saúde mental. Em
empresas neoliberais, os trabalhadores podem ser submetidos a uma hierarquia rígida,

com poucas oportunidades de participação nas decisões ou de influenciar as condições

de trabalho, o que pode levar à frustração, desmotivação e sentimentos de impotência.

A constante busca por produtividade e eficiência pode levar à intensificação do trabalho

e sentimento de pressão para realizar tarefas cada vez mais rapidamente, sem tempo

para descanso ou recuperação. Essa intensificação pode levar ao aumento do estresse,

esgotamento e problemas de saúde mental como ansiedade e depressão.

A constante comparação com os colegas e a sensação de que seu valor é baseado apenas em
resultados podem levar a sentimentos de inadequação, baixa autoestima e ansiedade.

Os riscos para a saúde mental podem variar de acordo com a cultura organizacional

específica de cada empresa neoliberal. No entanto, é essencial reconhecer esses riscos e

buscar estratégias para proteger sua saúde mental, como estabelecer limites saudáveis,

buscar apoio emocional fora do trabalho, praticar autocuidado e buscar equilíbrio entre

vida profissional e pessoal.

No âmbito pessoal, a psicologia do trabalho desempenha um papel fundamental na

promoção da saúde mental, no desenvolvimento de habilidades de resiliência e na

criação de ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. Trabalhar em uma empresa

neoliberal apresenta diversos riscos para a saúde mental, incluindo estresse crônico,

insegurança no emprego, falta de suporte emocional, cultura do trabalho excessivo, falta

de autonomia e intensificação do trabalho. É fundamental estar ciente desses riscos e

adotar medidas proativas para proteger a saúde mental no ambiente de trabalho.

Dentro de uma empresa neoliberal, a psicologia e seus profissionais desempenham um

papel fundamental na promoção do bem-estar e saúde mental dos trabalhadores. No

caso de um trabalhador que vive sendo assediado moralmente, o psicólogo pode

oferecer suporte emocional, orientação e estratégias para lidar com a situação.

O assédio moral no ambiente de trabalho é uma questão séria que pode ter

consequências devastadoras para a saúde mental e emocional do indivíduo afetado e de toda


sua família, em casos mais graves até mesmo suicídio.
Em uma empresa, onde o foco muitas vezes está nos resultados financeiros e na competição,

é ainda mais importante que os profissionais de saúde mental estejam presentes para

apoiar os trabalhadores.

Inicialmente, o psicólogo pode fornecer um espaço seguro para o trabalhador expressar

suas emoções e experiências relacionadas ao assédio ou condições precarizadas de

trabalho. Ouvir atentamente e validar suas experiências pode ajudar a reduzir

sentimentos de isolamento e culpa, além de fortalecer a autoestima do trabalhador.

O psicólogo pode ajudar o trabalhador a desenvolver habilidades de enfrentamento

eficazes. Isso inclui ensinar estratégias para lidar com o estresse, como técnicas de

relaxamento, respiração profunda e visualização criativa. Essas técnicas podem ajudar o

trabalhador a controlar sua ansiedade e manter a calma diante das situações

constrangedoras que surgirem.

Também podemos auxiliar na identificação e reforço dos limites pessoais do

trabalhador. Muitas vezes, vítimas de assédio moral têm dificuldade em estabelecer

limites claros com o agressor. O psicólogo pode ajudar o trabalhador a reconhecer seus

direitos e a estabelecer limites saudáveis em suas interações com o chefe.

O psicólogo pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias de comunicação

assertivas. Isso envolve ajudar o trabalhador a expressar seus sentimentos e

preocupações de maneira clara e respeitosa, sem se submeter ao assédio. Através do

treinamento em habilidades de comunicação assertiva, o trabalhador pode aprender a se

posicionar de forma eficaz, estabelecendo limites e exigindo respeito.

Outro aspecto importante é o apoio emocional contínuo. O psicólogo pode fornecer

suporte ao trabalhador durante todo o processo de enfrentamento ou durante o tempo

que permanecer na empresa. Isso inclui sessões regulares para monitorar o progresso,

oferecer suporte emocional e ajustar as estratégias conforme necessário.

A psicologia pode, ainda, encorajar o trabalhador a buscar apoio externo, como recursos

legais ou sindicais, caso seja necessário. Eles podem fornecer informações sobre os

direitos do trabalhador e orientá-lo sobre os possíveis caminhos legais para lidar com o

assédio.
Antes de entrarmos na abordagem que um psicólogo pode fornecer aos trabalhadores em
empresas neoliberais, precisamos compreender que o modelo econômico e político são os
grandes causadores desse contexto nefasto e cruel em que se encontra, nesse momento, a
maioria da classe trabalhadora brasileira.

Embora a psicologia do trabalho desempenhe um papel crucial na identificação e no


tratamento dos efeitos do assédio moral e outras condições adversas dentro do ambiente de
trabalho, é fundamental reconhecer que esses problemas não surgem no vácuo. De fato, o
próprio modelo neoliberal de organização econômica, social e política muitas vezes cria as
condições propícias para o surgimento e a perpetuação do assédio moral.

O neoliberalismo, com sua ênfase na competição desenfreada, na maximização dos lucros e na


minimização da intervenção estatal, frequentemente resulta em ambientes de trabalho
altamente estressantes e desumanizantes. Nesse contexto, o assédio moral pode ser visto
como uma manifestação extrema dessa dinâmica, onde os trabalhadores são tratados como
meros recursos a serem explorados em busca do lucro máximo, sem consideração por seu
bem-estar físico, emocional ou psicológico.

Portanto, enquanto os profissionais de psicologia do trabalho desempenham um papel crucial


na mitigação dos danos causados pelo assédio moral, é igualmente importante reconhecer a
necessidade de abordar as raízes estruturais desse problema. Isso envolve não apenas a
implementação de políticas e práticas organizacionais mais humanizadas e inclusivas, mas
também uma crítica profunda ao modelo neoliberal em si e suas consequências para os
trabalhadores e a sociedade como um todo.

Assim, além de oferecer apoio individual aos trabalhadores afetados pelo assédio moral, os
profissionais de psicologia do trabalho também têm um papel vital a desempenhar na
advocacia e política por mudanças sistêmicas que abordem as causas subjacentes desses
problemas. Somente através de uma abordagem holística, plural e transformadora, que
reconheça e confronte as injustiças estruturais do sistema neoliberal, podemos esperar criar
ambientes de trabalho verdadeiramente saudáveis, equitativos e humanizados para todos os
trabalhadores.

Magno Loschiavo é neuropsicólogo, escritor, radialista e membro do Movimento

Sindical do PDT; participa do PsycoCast.

@magnoguerraftw

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