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SAÚDE, TRABALHO E
ADOECIMENTO NAS
ORGANIZAÇÕES
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saúde em vez de apenas o tratamento da doença. Este conceito acompanha a
ideia de que saúde não é apenas ausência de doença, mas o completo bem-estar
biológico, psicológico e social (Fleck, 1999).
O que se passou a entender é que não há um adoecimento repentino e
sem causa, mas que este se dá na relação com o outro e com o ambiente em que
se encontra. Para Fleck (1999), as manifestações de caráter relacional de vida,
morte e sobrevivência começam a ser olhadas de forma científica, assim como os
fatores biopsicossociais passam a ser relevantes a partir das referidas décadas.
Já na década de 1990, a globalização traz novas demandas e a
necessidade da gestão por qualidade competitiva. Neste ínterim, as ferramentas
de competitividade, inspiradas pela engenharia de produção e logística passam a
influenciar um novo olhar ao trabalhador, uma vez que se entende que a qualidade
não deve ser apenas do produto, mas também do serviço oferecido, o que
perpassa necessariamente pela qualidade daqueles que o executam. Assim, o
olhar sobre o trabalhador é ampliado e passa-se a buscar a qualidade de vida das
pessoas de forma mais abrangente.
Contribuições importantes surgem, criando-se escolas de pensamento de
QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) com foco na saúde, benefícios, gestão de
pessoas, engenharia de produção, ergonomia, sistemas de gestão de qualidade,
pesquisa, inovação tecnológica, balanço social, marketing e atividades de
responsabilidade social. A ideia central seria “melhorar a saúde por meio de novas
formas de organizar o trabalho, visando a satisfação do empregado e a
produtividade empresarial” (Chiavenato, 1983).
Depois dos anos 2000, iniciou-se discussão acerca da influência mundial
das questões de equidade e justiça social. Foi criado um índice para medir a
felicidade interna bruta, o FIB, trazendo ênfase às questões comunitárias e
impactos do meio ambiente. Yones (2006, p. 1) traz este comentário:
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sujeito. Ela ainda cita aspectos fundamentais para o surgimento do sofrimento nas
pessoas, sendo eles: a forte pressão para a constante superação ou a
continuidade do ritmo acelerado durante aproximadamente seis horas de trabalho;
a falta de pausas e/ou intervalos para a recuperação do funcionário; a limitação
do diálogo com os clientes devido aos scripts previamente determinados; a
limitação à movimentação livre devido à necessidade de concentração no
trabalho; a manutenção da atenção e solicitação da memória por longos períodos;
a estimulação de competitividade em razão da produtividade; a existência
constante de conflitos com os superiores; e a ausência de espaço para expressar,
discutir e solucionar problemas.
Para Dejours (1994, 1998), o agente causal das psicopatologias do trabalho
tem a ver com as pressões deste ambiente, uma vez que ao alienar o sujeito à
sua produção, despoja-o de sua subjetividade. Não raro, temos pessoas sofrendo
frustrações de suas expectativas e sonhos relacionados ao trabalho, por
depararem-se com uma realidade diferente da idealizada ao planejar sua entrada
no mundo laborativo.
Dejours (1998) acredita que o sofrimento no trabalho é uma consequência
de um ambiente hostil para o sujeito, ambiente este constituído pela pressão da
aceleração trazida pela globalização e a consequente aceleração do
desenvolvimento tecnológico e demanda de produção, bem como de pacotes de
serviços cada vez mais especializados e personalizados a determinados públicos.
Tais questões, adicionadas às questões do ambiente físico, químico, biológico,
das questões de higiene e segurança facilitaram o aparecimento do sofrimento no
trabalho.
“Para Dejours (1998), a primeira vítima do sistema não é o aparelho
psíquico; mas, sim, o corpo dócil e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes
à atividade laborativa; e, dessa forma, projeta-se um corpo sem defesa, explorado
e fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental”
(Alvaro; Rodrigues; Rondina, 2006, p. 3).
Alvaro, Rodrigues e Rondina (2006, p. 5) descrevem as dimensões do
sofrimento, de acordo com Dejours:
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sofrimento criativo: quando o sujeito produz soluções favoráveis para sua
vida, especialmente para sua saúde;
sofrimento patogênico: é ao contrário do sofrimento criativo, ou seja,
quando o indivíduo produz soluções desfavoráveis para sua vida e que
estão relacionados à sua saúde.
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b) investigação dos diversos aparelhos, os quais a pessoa faz uso
durante a atividade laborativa;
c) comportamentos e hábitos relevantes que possam de alguma forma
influenciar no desenvolvimento da doença ou causar o acidente, seja
dentro ou fora do ambiente de trabalho;
d) antecedentes pessoais, incluindo histórico e acidentes e doenças
ocupacionais que venham a ter sido acometidos, durante a atividade
laborativa ou não;
e) antecedentes familiares;
f) anamnese ocupacional;
g) exame físico detalhado;
h) exames complementares, se necessários.
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Para ser significativo como causa, o fator não-ocupacional precisa ter
intensidade e frequência similar àquela dos fatores ocupacionais
conhecidos. O achado de uma patologia não-ocupacional não descarta
de forma alguma a existência concomitante de LER/DORT. (...)
Do ponto de vista da legislação previdenciária, havendo relação com o
trabalho, a doença é considerada ocupacional, mesmo que haja fatores
concomitantes não relacionados à atividade laboral. (...)
c) Comportamentos e hábitos relevantes
Hábitos que possam causar ou agravar sintomas do sistema
musculoesquelético devem ser objeto de investigação (...), mas
dificilmente podem ser consideradas causas determinantes. (...)
d) Antecedentes pessoais:
História de traumas, fraturas e outros quadros mórbidos que possam ter
desencadeado e/ou agravado processos de dor crônica, entrando como
fator de confusão, devem ser investigados.
e) Antecedentes familiares:
Existência de familiares consanguíneos com história de diabetes e
outros distúrbios hormonais, “reumatismos”, deve merecer especial
atenção.
f) História ocupacional:
(...) Perguntar detalhadamente como e onde o paciente trabalha: (...)
duração de jornada, existência de tempo de pausas, forças exercidas e
frequência de movimentos repetitivos. (...)
Não se deve esquecer de empregos anteriores e suas características
(...).
g) Exame físico:
(...) Importante lembrar que nas LER/DORT, o exame físico pode ser
pobre, não sendo frequente o encontro de sinais flogísticos. (...)
h) Exames complementares
Não se deve solicitar exames complementares indiscriminadamente. (...)
são complementares a uma análise prévia do caso. (...)
5.2 PAIR
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outros fatores que possam estar causando dano auditivo para possibilitar
o diagnóstico diferencial.
Na anamnese devem ser investigados os seguintes itens:
• o tipo de profissão
• a função exercida
• exposição a níveis elevados de pressão sonora atual e pregressa
• exposição a produtos químicos potencialmente ototóxicos tais como
solventes, metais, asfixiantes e outros
• exposição a vibração
• uso de medicação ototóxica
• história familiar de perda auditiva
• exposição extralaborativa a níveis elevados de pressão sonora
• dificuldade em reconhecer palavras
• queixa de zumbido.
Exame físico e otoscopia
Deve ser realizada otoscopia para avaliação da orelha média e outros
achados por intermédio do exame físico que possam ter correlação com
a perda auditiva. (...)
Proteção individual
Prioritariamente as medidas de proteção devem ter caráter coletivo. Os
equipamentos de proteção individual - EPI serão indicados nas
seguintes circunstâncias:
a) por intervalos de tempos restritos à execução de determinadas
tarefas durante a jornada de trabalho, ou seja, em situações
específicas onde o trabalhador ficará exposto a níveis elevados de
pressão sonora por curto período estando o restante do tempo em
ambiente que não ofereça risco à saúde.
b) por período de tempo definido em caráter temporário, mediante
acordo entre empregadores, sindicatos, comissões de fábrica e
CIPAS, enquanto medidas de redução dos níveis elevados de
pressão sonora estão sendo adotadas;
c) quando houver indicação para o uso de EPI, como única opção viável
para a redução do nível de pressão sonora elevada, devem ser
observados os seguintes aspectos:
c.1. A adequação do EPI ao trabalhador no que se refere às
características do nível de pressão sonora, do conforto, e do tipo de
função exercida, permitindo ao trabalhador a escolha, quando
possível, do tipo de EPI adequado;
c. 2. O período de utilização, que deve ser durante todo tempo de
exposição à pressão sonora elevada;
c. 3. O trabalhador deve receber informações sobre o uso adequado
e a conservação dos EPIs;
c. 4. O uso dos descartáveis devem obedecer às recomendações
técnicas do fabricante;
d) o ambiente de trabalho e a exposição a níveis elevados de pressão
sonora devem ser controlados de modo que o trabalhador possa dar
continuidade às suas funções sem prejuízo adicional à sua saúde, na
impossibilidade impõe-se o remanejamento (ambiental e/ou
funcional).
Além das medidas preventivas, já descritas, recomenda-se que:
• os trabalhadores e seus representantes (sindicatos, comissões de
fábrica e CIPAS) devem participar ativamente da vigilância dos riscos
à saúde ocasionados pelo nível elevado de pressão sonora. Essa
participação é imprescindível não apenas por razões de natureza
democrática, mas também porque o seu conhecimento é
determinante no monitoramento ambiental e na identificação de
problemas e soluções em suas atividades diárias;
• os trabalhadores e seus representantes legais devem conhecer os
efeitos nocivos dos níveis elevados de pressão sonora e as medidas
necessárias para a eliminação desses riscos, bem como obedecer às
orientações do programa de conservação auditiva - PCA;
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• os trabalhadores devem ter acesso a participar dos levantamentos
ambientais, inquéritos epidemiológicos e quaisquer outras
investigações do ambiente de trabalho e seus efeitos sobre a saúde.
Da notificação
A notificação tem por objetivo o registro e a vigilância das perdas
auditivas induzidas por nível de pressão sonora elevado.
Sendo confirmado diagnóstico de PAIR ocupacional, deve ser emitida a
comunicação de acidente de trabalho - CAT.
Sendo detectada a PAIR, o trabalhador deve ser necessariamente
reavaliado pelo programa de conservação auditiva. Caso este não
exista, deve ser implantado.
A PAIR, na grande maioria dos casos, não acarreta incapacidade para o
trabalho. O trabalhador deve ter sua PAIR ocupacional notificada para
fins de registro e vigilância e não necessariamente para o afastamento
de suas funções laborativas.
A presença de PAIR no exame audiométrico admissional não deve
desclassificar o trabalhador para o exercício profissional, pois
geralmente não interfere com sua capacidade laborativa. Porém, não
elimina a necessidade de emissão da CAT, desde que ocupacional, com
a finalidade de notificação para fins epidemiológicos em resguardo da
empresa. (Brasil, 1997)
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laborativa, desemprego ou mesmo a MORTE, constituindo um risco
invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho.
Estratégias do agressor
Escolher a vítima e isolar do grupo.
Impedir de se expressar e não explicar o porquê.
Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares.
Culpabilizar/responsabilizar publicamente, podendo os comentários de
sua incapacidade invadir, inclusive, o espaço familiar.
Desestabilizar emocional e profissionalmente
A vítima gradativamente vai perdendo simultaneamente sua
autoconfiança e o interesse pelo trabalho.
Destruir a vítima (desencadeamento ou agravamento de doenças pré-
existentes)
A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e constante. A
vítima se isola da família e amigos, passando muitas vezes a usar
drogas, principalmente o álcool.
Livrar-se da vítima que são forçados/as a pedir demissão ou são
demitidos/as, frequentemente, por insubordinação.
Impor ao coletivo sua autoridade para aumentar a produtividade.
As manifestações do assédio segundo o sexo:
Com as mulheres: os controles são diversificados e visam intimidar,
submeter, proibir a fala, interditar a fisiologia, controlando tempo e
frequência de permanência nos banheiros. Relaciona atestados médicos
e faltas a suspensão de cestas básicas ou promoções.
Com os homens: atingem a virilidade, preferencialmente.
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memória, irritação frequente, comportamento agressivo e desinteresse pelo
trabalho. O que diferencia esta síndrome do diagnóstico de depressão é que
todos os sintomas devem estar necessariamente ligados ao trabalho. Ou seja, o
desenvolvimento da doença se dá a partir da exposição prolongada a pressões
emocionais estressantes e ligadas à atividade laboral. A SB se desenvolve
geralmente como resposta à exposição crônica do estresse ocupacional,
percebida quando os mecanismos de defesa do sujeito falham.
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Para Freudenberger (1974), a SB é resultado do esgotamento,
decepções, frustrações e perda de interesse pelas atividades laborativas. Alguns
sintomas que podem estar ligados à SB são: alterações psicossomáticas, que
apresentam fadiga emocional, física e mental, gerando insônia, hipertensão,
cardiopatias, entre outros sintomas físicos); e alterações emocionais, como
sentimentos de impotência e inutilidade, falta de entusiasmo pelo trabalho, pela
vida em geral e baixa autoestima, que podem levar a quadros de ansiedade,
depressão com ideação suicida, abuso de drogas etc.
Quando o sujeito já não tem mais nível de resistência e mecanismos de
defesa para lidar com a situação que se apresenta, outros comportamentos
podem se apresentar, tais como irritação, agressividade, negação, isolamento,
impulsividade, cinismo, entre outros. De acordo com Rainho (2006), estes
podem ter implicações na rotina e no ambiente de trabalho, como insatisfação e
degradação do ambiente de trabalho, diminuição da qualidade de trabalho,
absentismo e abandono da profissão e, ainda, consequências pessoais e
familiares, como dificuldade na comunicação, hostilidade, ruptura familiar,
isolamento social etc.
Malasch e Jackson (1981) desenvolveram o conceito de burnout,
descrevendo três dimensões distintas, porém relacionadas:
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5.4.3 Prevenção à síndrome de burnout
5.5 Depressão
De acordo com Del Porto (1999), a depressão pode ser definida como
sintoma ou síndrome. Enquanto sintoma ela aparece frente a circunstâncias
sociais e/ou econômicas estressantes ou ainda em diferentes quadros clínicos,
tais como transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia,
alcoolismo, doenças clínicas etc.
Enquanto síndrome, o autor afirma que a depressão inclui alterações do
humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia) e
também pode incluir alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono,
apetite).
O desenvolvimento de quadros depressivos se dá por múltiplas causas:
fatores biológicos (podendo incluir a hereditariedade), psicológicos ou sociais,
aparecendo geralmente logo após um episódio estressor e persistente, mesmo ao
fim da situação estressante.
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5.5.1 Impactos sociais
5.5.2 Sintomas
Psíquicos:
humor depressivo;
redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das
atividades, antes consideradas agradáveis;
fadiga ou sensação de perda de energia;
diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar
decisões.
Fisiológicos:
• alterações do sono;
• alterações do apetite;
• redução do interesse sexual.
Evidências comportamentais:
• retraimento social;
• crises de choro;
• comportamentos suicidas;
• retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora
(Del Porto, 1999).
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5.5.3 A depressão e o trabalho
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REFERÊNCIAS
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RAINHO, C. Adaptação cultural do questionário de desgaste profissional em
enfermeiros. Revista Investigação em Enfermagem. n. 13, p. 27-36. 2006.
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