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A MENINA ENTERRADA VIVA acordou os passarinhos tinham picado todos os figos.

A
Luís da Câmara Cascudo madrasta veio ver e ficou doida de raiva. Achou que aquilo era
um crime e no ímpeto do gênio matou a menina e enterrou-a no
Era um dia um viúvo que tinha uma filha muito boa e
fundo do quintal. Quando o pai voltou da viagem a madrasta
bonita. Vizinha ao viúvo residia uma viúva, com outra filha, feia e
disse que a menina fugira de casa e andava pelo mundo, sem
má. A viúva vivia agradando a menina, dando presentes e bolos
juízo. O pai ficou muito triste.
de mel. A menina ia simpatizando com a viúva, embora não se
Em cima da sepultura da órfã nasceu um capinzal bonito.
esquecesse de sua defunta mãe que a acariciava e penteava
O dono da casa mandou que o empregado fosse cortar o capim.
carinhosamente. A viúva tanto adulou, tanto adulou a menina que
O capineiro foi pela manhã e quando começou a cortar o capim,
esta acabou pedindo que seu pai casasse com ela.
saiu uma voz do chão, cantando:
- Case com ela, papai. Ela é muito boa e me dá mel!
- Agora ela lhe dá mel, minha filha, amanhã lhe dará fel! -
Capineiro de meu pai!
respondia o viúvo.
Não me cortes os cabelos...
A menina insistiu e o pai, para satisfazê-la, casou com a
Minha mãe me penteou,
vizinha. Obrigado por seus negócios, o homem viajava muito e a
Minha madrasta me enterrou,
madrasta aproveitou essas ausências para mostrar o que era.
Pelo figo da figueira
Ficou arrebatada, muito bruta e malvada, tratando a menina
Que o passarinho picou...
como se fosse a um cachorro. Dava muito pouco de comer e a
Chô! passarinho!
fazia dormir no chão em cima de uma esteira velha. Depois
mandou que a menina se encarregasse dos trabalhos mais
O capineiro deu uma carreira, assombrado, e foi contar o
pesados da casa. Quando não havia coisa alguma que fazer, a
que ouvira. O pai veio logo e ouviu as vozes cantando aquela
madrasta não deixava a menina brincar. Mandava que fosse
cantiga tocante. Cavou a terra e encontrou uma laje. Por baixo
vigiar um pé de figos que estava carregadinho, para os
estava vivinha, a menina. O pai chorando de alegria abraçou-a e
passarinhos não bicarem as frutas.
levou-a para casa. Quando a madrasta avistou de longe a
A pobre da menina passava horas e horas guardando os
enteada, saiu pela porta afora, e nunca mais deu notícias se era
figos e gritando – chô! passarinho! quando algum voava por
viva ou morta.
perto. Uma tarde estava tão cansada que adormeceu e quando
O pai ficou vivendo muito bem com sua filhinha.

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