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Saúde mental e condições de trabalho no mundo capitalista contemporâneo

Abner Rodrigues Figueira


RA – 23205021
Tutor(a): Adriana Franzoi Wagner
Curitiba
12/2023
O desafio do trabalho sustentável no mundo capitalista contemporâneo
Vivemos em um mundo em que ano a pós ano as metas de trabalho em
grandes corporações sempre crescem, ao mesmo tempo em que as condições de
trabalho raramente acompanham tal ritmo, vivemos uma epidemia de transtornos de
humor, o que um dia foi lenda, hoje em dia é um problema real, a temida Síndrome de
Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional é cada vez mais recorrente, as
empresas têm grandes departamentos com o propósito de diminuir os custos de
produção e aumentar o lucro e raramente se importam com o impacto disso na
qualidade de vida e saúde do trabalhador que sacrifica o próprio tempo, um recurso
esgotável e que o dinheiro não paga, para manter o comprometimento com seu
empregador para garantir o sustento de sua família. O lucro de uma empresa precisa
necessariamente ser acompanhada pelo descaso com a Saúde do colaborador?

Aumento da competividade, condições de trabalho e saúde mental

É extremamente necessário que uma empresa para aumentar a competitividade no


segmento de seu produto ou serviço realize um planejamento financeiro, pois não
basta o sucesso do negócio se o gasto com as operações são semelhantes ou
excedem o lucro. A partir de tal necessidade, grandes empresas focam em criar
departamentos para a análise dos processos de uma empresa visando a excludência
de processos desnecessários, tal prática é fundamental para alavancar o negócio,
entretanto, muitas vezes é acompanhado de corte de funcionários que quando feito
de maneira desajustada, resulta num acúmulo de função, isso acompanhado do
crescimento continuo das metas de um ambiente corporativo facilmente culmina numa
síndrome do esgotamento profissional, que cresce ano a pós ano, algo extremamente
preocupante, nosso pais ocupa o segundo lugar do ranking mundial da OMS com
estimativas levantadas pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho
evidenciando que pelo menos 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com
Transtornos psiquiátricos advindos do excesso de trabalho, número que muito
possivelmente é mascarado pelo contexto de desemprego crescente que faz o
trabalhador aguentar o inadmissível para garantir seu sustento.

Existe uma expressão popular que diz assim: “O combinado não sai caro”. Quando há
uma relação empregatícia, todas as funções inerentes ao cargo são estabelecidas e
acordadas uma remuneração condizente com a função realizada, esse é o combinado
que não sai caro. Porém, é cada vez mais comum que esses acordos sejam ajustados
à revelia do trabalhador e mais funções sejam imputadas a ele durante seu vínculo
empregatício sem adição de bônus. Essa prática é chamada de acúmulo de função e
sai muito cara para o funcionário.

Porém, não é somente prejuízo financeiro que o trabalhador tem ao sofrer com
o acúmulo de função. Uma condição está bastante associada: A Síndrome de Burnout.
Essa condição é um transtorno de ansiedade com contexto exclusivamente laboral,
ou seja, a causa do estresse é a relação com o trabalho. Os sintomas passam a
interferir em todas as áreas da vida do trabalhador. É como uma sensação de cansaço
extremo, falta de energia e motivação para realizar tarefas diárias. A psicanalista Ana
Tomazeli, fundadora do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem),
questiona se as culturas corporativas realmente incentivam a expressão de ideias e a
verdade: “O medo de represálias, punições e situações vexatórias pode indicar que o
trabalhador está vivenciando relações vulneráveis em seu ambiente de trabalho”.

“Não apenas o Burnout, mas os Transtornos mentais relacionados ao trabalho no


geral têm se tornado uma epidemia. São hoje a segunda maior causa de afastamentos do
trabalho no Brasil e no mundo, algo que se acentuou com a pandemia. No caso, pelo fato de
o Burnout ser uma síndrome do esgotamento profissional, vê-se um aumento significativo de
casos de diagnósticos, uma vez que nossas formas de trabalhar estão cada vez mais
precarizadas e intensificadas” , explica o professor Bruno Chapadeiro sobre a
importância de estudos na área.

A constituição federal de 1988 e a CLT deixam claras que o acumulo e desvio


de função são uma afronta a dignidade humana como citado por Silvana Soares
Pereira: “pode-se perceber diante de todo estudo que o desvio de função afronta o princípio
da dignidade da pessoa humana, no momento em que fere alguns direitos dos empregados,
direitos de exercer o cargo compatível com aquele contratado e a receber o salário também
compatível, pois em tantas vezes nem o próprio empregado sabe que sua função foi
desviada e se submete às ordens do empregador, incorrendo em vários problemas físicos,
psicológicos, dentre outros decorrentes do desvio de função”.

Metodologia de pesquisa

Foi abordado nesta pesquisa a relação do impacto da sobrecarga de trabalho


e do acúmulo de função na saúde mental dos colaboradores através do estudo dos
artigos produzidos por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da UFRN em
“As metas abusivas e seus impactos na saúde mental dos trabalhadores” e de “O
desvio de função e o princípio da dignidade da pessoa humana” realizada por
Silvana soares pereira, pós-graduanda do Curso de Novas Perspectivas do Direito
Público do Centro Universitário Icesp; acompanhado de um levantamento estatístico
feito pela Associação nacional de medicina no trabalho; assim visando o
entendimento de tal problema para a busca de possíveis soluções dentro do
pragmatismo necessário.

Conclusão e Proposta de intervenção

A Organização mundial das nações unidas tem seus objetivos de desenvolvimento


sustentável (ODS) bem definidos e com metas ambiciosas para o ano de 2030, dentre
seus objetivos é notável a importância do objetivo 8, que seria o “Emprego digno e
crescimento econômico” e mais específico ainda que seria o 8.8, “Proteger os direitos
trabalhistas e promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os
trabalhadores, incluindo trabalhadores migrantes, em particular as mulheres
migrantes, e pessoas em empregos precários”.

Tal objetivo é desafiador uma vez que evidenciado por essa pesquisa a tendencia do
mercado e das grandes corporações ao corte de custos visando um maior lucro, tendo
como consequência o acúmulo de função, em que o funcionário acaba pagando a
parte mais cara da conta, com seu tempo, saúde física e mental.

Grandes empresas do ramo de tecnologia como o caso da Google e Microsoft


contratam funcionários planejando como o ambiente, remuneração e estilo de vida
podem fazer o funcionário tem um melhor desempenho e produtividade, sendo assim,
notável que tal prática funciona quando se vê no macro a grandeza de tais empresas,
um funcionário feliz, que não está sobrecarregado e é bem remunerado produz entre
20% e 30% como evidenciado em pesquisas feitas pelas próprias empresas citadas,
mostrando a efetividade de tal modelo de negócio, empresas que querer melhores
funcionários precisam estar dispostas a entender que o corte absoluto de qualquer
custo influencia na motivação e saúde do funcionário, que é a linha de frente da
produção de uma empresa.

Importantissimo ressaltar que o poder público se mostra a princípio incapaz de garantir


os direitos constitucionais e as Consolidações das Leis do Trabalho no contexto que
vivemos, com o desemprego crescente e sem margem para melhora, o trabalhador
se mostra vulnerável a aceitar vínculos empregatícios abusivos para sua
sobrevivência, é necessário trazer para o debate público e acadêmico a importância
de priorizar a saúde mental como necessidade primaria num ambiente laboral,
garantindo assim, a dignidade humana.

Referências

AILOS - Sistemas de cooperativas. Redução de custos nas empresas: entenda a


importância e como fazer. 2022. Disponível em:
https://blog.ailos.coop.br/empreendedorismo/reducao-de-custos-nas-empresas.

ANAMT - Associação nacional de medicina do trabalho. 30% dos trabalhadores


brasileiros sofrem com a síndrome de Burnout. 2018. Disponível em:
https://www.anamt.org.br/portal/2018/12/12/30-dos-trabalhadores-brasileiros-sofrem-
com-a-sindrome-de-burnout/

Estado de Minas. Síndrome de Burnout: Brasil é o segundo país com mais


casos diagnosticados. 2023. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-
viver/2023/05/26/interna_bem_viver,1498977/sindrome-de-burnout-brasil-e-o-
segundo-pais-com-mais-casos-diagnosticados.shtml

FELIPPINI, Beatriz Costa, et al. As metas abusivas e seus impactos na saúde


mental dos trabalhadores. 2018, Anais. Franca, SP: FCHS/UNESP, 2018.
Disponível em:
https://www.franca.unesp.br/Home/Departamentos31/direitoprivado/anaisdeeventos/
anais-finaliii-repensando-trabalho.pdf.

Sandro Torres – Sociedade de advogados. Acúmulo de função e sua relação com


a Síndrome de Burnout. 2022. Disponível em: https://storres.adv.br/acumulo-de-
função-e-a-sindrome-de-burnout.

Silvana Soares Pereira. O desvio de função e o princípio da dignidade da


pessoa humana. In: Centro Universitário ICESP, 2020. Disponível em:
https://www.revistas.icesp.br/index.php/virtu/article/view/1159/994.

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