Nome: Débora Muramoto Alves de Castilho DRE: 122065679
O pensamento psicossociológico existe, há muito, para compreender a complexidade
da vida em sociedade. No entanto, a Psicologia Social, ciência que estuda os saberes que pretendem compreender esse pensamento, apresenta uma curta história, cujos primórdios dividem-se em um período pré-institucional e institucional. No presente texto, faz-se uma tentativa de esboçar pontos importantes dessa trajetória, em seu período pré-institucional. Procura-se apontar as suas contradições por meio da ótica do materialismo histórico e dialético, principalmente acerca de questões relevantes que, até hoje, encontram eco. Para traçar esse caminho, parte-se da ciência localizada na História, diferenciando as suas perspectivas socialista e capitalista. A primeira aparece como uma força responsiva, que atende às demandas da sociedade; já a segunda, em oposição, serve ao capital. Essa última, porém, estabeleceu-se como hegemônica após o declínio da ordem socialista, marco que afetou diretamente a sociologia e a psicologia social desenvolvidas nos países que aderiram ao sistema capitalista. Dessa maneira, desde o século XIX, ápice do mundo capitalista, tais conhecimentos apresentaram-se como forças reacionárias, à serviço das necessidades de uma classe burguesa dominante. Por essa razão, suas questões foram, por vezes, mal postas e, suas soluções, apresentadas de maneira equivocada, sob uma perspectiva individualista. Essa visão, influenciada pela tradição cristã, distorce como se dá a organização da coletividade, pois coloca o indivíduo como precursor das sociedades e não o contrário quando, na realidade, é impossível vir ao mundo fora de uma ordem social prévia. Assim, esse contexto impacta uma nascente psicologia centrada no individual e distanciada, consequentemente da materialidade da vida. Neste momento, ascende o proletariado como um fenômeno de massas alienado do processo produtivo em expansão do qual fazia parte. Logo, as contradições desse sistema que produz desigualdades são expostas na forma de luta de classes mas, desse cenário, surgem teorizações da psicologia social burguesa que negam esse fato: a psicologia dos povos, a psicologia das massas e as teorias do comportamento social. De início, apresenta-se a Psicologia dos Povos, que trabalha com uma noção específica de coletivismo: há uma alma da totalidade, supra-individual, a qual a alma de cada um dos sujeitos está atrelada. Essa estrutura seria, portanto, composta pelas almas dos sujeitos, porém ela guardaria, em si, uma essência regida por leis a priori. Percebe-se que, apesar dessa concepção considerar a dimensão social da humanidade, ela está diretamente relacionada a uma visão determinista de comportamento, a qual considera o povo como um fato social posto. Dessa maneira, o homem age dentro da sociedade, porque é um ser social, e dentro dela as suas ações e modos de ser estarão pré-determinados. A título de exemplo, pode-se comparar a Psicologia dos Povos com os traços do nacionalismo neofascista do bolsonarismo e seu lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". O paralelismo da frase torna Brasil e Deus equivalentes, ambos uma totalidade espiritual, absoluta e supra-individual a qual a sociedade brasileira está subordinada, numa relação vertical e problemática, já que os desígnios divinos, estruturados pelas leis dessa autoridade máxima, não só ignoram a dinâmica material de constituição de uma sociedade - que é dialética -, como são propalados por um autocrata como Jair Bolsonaro e, certamente, chegam a seus seguidores recheados de violência. Tais leis configurariam a coesão do grupo que, na prática, percebe-se que é frágil, pois vemos como o bolsonarismo se fragmenta e se recompõe com certa frequência. Portanto, ao pensar uma estrutura coletiva, essa visão desconsidera a historicidade dos seres humanos, já que somos todos localizados no espaço e no tempo e, por isso, nossas relações dependem de laços baseados em construções dialógicas substanciais erigidas a longo prazo e não na verticalidade de uma estrutura supra-individual. Assim, essa perspectiva positivista ignora a dialética da existência, porque considera a unidade de um grupo como algo natural, evidente e unilateral. A Psicologia das Massas, ainda no século XIX e tendo Gustave Le Bon como principal expoente, por sua vez, pretende estudar a classe operária, sobretudo a revolucionária, a partir de uma lente liberal-burguesa. Seus teóricos, preconizavam que as interrelações humanas estão subordinadas à imitação instintiva e passageira mobilizada por afetos necessariamente irracionais, característicos do grupo. As massas causariam a perda da racionalidade e passariam a agir sob o efeito quase hipnótico da emoção irrefletida, em oposição ao comportamento das elites, contidas e racionais. Haveria a perda da individualidade no coletivo, a determinação das atitudes pelas emoções, a redução da inteligência e da responsabilidade pessoal, essa última, levando o sujeito a praticar atos que, muitas vezes, ele não faria fora do contexto das massas. Elas são caóticas e desordenadas, incapazes de coordenar qualquer projeto e, por isso, necessitam de um líder, o que lhes confere coesão. Partindo desses traços, pode-se pensar no bordão da famosa YouTuber Gabriela Prioli, figura pública completamente alinhada à ideologia da classe dominante, “menos emoção e mais razão”. Em vídeos que propagam os ideais individualistas do capitalismo contemporâneo, ela, costumeiramente, condena comportamentos seletivamente apontados como demasiadamente emotivos, não coincidentemente, os comportamentos em grupo, tais como a indignação política e de repúdio a opressões. Tal posicionamento, não raro, condena e diminui a validade do ódio da classe trabalhadora, como quando ela caracterizou como histeria coletiva posicionar-se contra a cobrança de mensalidades nas universidades públicas ou contra a opção política do regime de paridade de preços da Petrobrás, o qual favorece investidores e afeta bruscamente o preço da gasolina brasileira e as cadeias produtivas do país. Essa concepção, por consequência, prioriza o indivíduo, preferencialmente isolado e circunscrito por toda a sua racionalidade. Dentro da lógica dessa teoria, as massas necessitariam da razão iluminada e controlada da burguesia para manterem-se organizadas. Essa visão nega que seres humanos sejam capazes de coexistir em grupo e, principalmente, que há antagonismos de classe na sociedade capitalista, os quais desembocam em conflitos que não são resolvidos com a demonização das massas trabalhadoras e na sua consequente preleção ao indivíduo. Por fim, nas teorias do comportamento como instinto, do início do século XX, lançadas em Londres por William McDougall, há uma concepção biologizante do comportamento humano. O que os seus teóricos se propuseram a investigar é o instinto ou a propensão a determinadas posturas em sociedade, forças que estariam ligadas a características psicofísicas transmitidas hereditariamente. Esses instintos são, exclusivamente, as causas inatas do comportamento social, teoria que, igualmente às anteriores, provou-se materialmente equivocada. Fica claro, portanto, que as teorias iniciais do período pré-institucional da Psicologia Social, alinhadas à ordem dominante do capitalismo global, apresentam, todas, problemas. Tais questões se dão por desconsiderarem o funcionamento dialético das sociedades, em que os comportamentos não são nem pré-determinados por leis supostamente naturais, muito menos ditados por instintos e determinações biológicas, mas aprendidos na vida coletiva. No entanto, observar que até hoje reverberam os pressupostos epistemológicos dessas abordagens fundamentalmente reacionárias é importante para identificar a mobilização ideológica de forças dominantes interessadas em manter a sua hegemonia.
Os HOPI também acreditam na emergência e extinção cíclica dos Homens, que se renovam em raças cada vez mais evoluídas rumo a uma purificação espiritual que chegará ao termo ideal na Sétima Raça ou Sétimo Mund