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MARIA DAS GRAÇAS DE SOUZA NOGUEIRA

CLÍNICA AMPLIADA E SAÚDE MENTAL

SÃO BERNARDO DO CAMPO


2023
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INTRODUÇÃO

1. CLINICA AMPLIADA
A Clínica Ampliada em Saúde Mental é um modelo de atendimento que busca
ampliar o olhar do profissional de saúde para além das condições orgânicas e
biológicas relacionadas aos problemas de saúde mental do paciente. Este modelo
valoriza a escuta ativa e a compreensão da história de vida do indivíduo, levando em
consideração todos os aspectos que envolvem sua vida como a sua rede de
relacionamentos, trabalho, moradia, lazer, etc. Esta abordagem coloca o paciente
como sujeito ativo e participante do processo de cuidado, enfatizando a importância
da promoção da autonomia e do empoderamento do indivíduo para a construção de
um projeto terapêutico singular e de maior adesão ao tratamento. Além disso, a
Clínica Ampliada em Saúde Mental propõe uma atuação interdisciplinar, envolvendo
diferentes profissionais de saúde, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais, entre outros.

1.2. Modelos de CAPS existente atualmente


Existem diversos modelos de Caps (Centros de Atenção Psicossocial)
existentes atualmente que visam oferecer tratamento humanizado e integrado a
pessoas com transtornos mentais. Alguns dos modelos de Caps mais comuns
incluem:
1. Caps I: são unidades que oferecem atendimento diurno e integram atividades
terapêuticas, como consultas médicas, grupos terapêuticos e oficinas de trabalho.
2. Caps II: esses centros de atenção ampliada oferecem serviços 24 horas por dia,
incluindo reabilitação psicossocial e reabilitação física.
3. Caps AD (Álcool e Drogas): unidades especializadas em atendimento a pessoas
com transtornos relacionados ao uso de álcool e drogas. Oferecem tratamento
ambulatorial ou internação.
4. Caps Infantil: unidades especializadas no atendimento a crianças e adolescentes
de até 18 anos, com equipes multidisciplinares compostas por psicólogos,
psiquiatras, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.
5. Caps III: unidades destinadas a oferecer atendimento a pacientes em situação de
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vulnerabilidade social, como pessoas em situação de rua, ex-presidiários, entre


outros.
Cada modelo de Caps possui uma equipe multiprofissional com diferentes
especialidades, para oferecer atendimento personalizado e abrangente a cada
paciente.

1.3. O que é CAPS AD.


O CAPS AD é um Centro de Atenção Psicossocial especializado no
tratamento de pacientes com dependência química, em especial de álcool e drogas.
É composto por uma equipe multidisciplinar, que inclui psiquiatras, psicólogos,
assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e outros profissionais da
saúde. O objetivo principal do CAPS AD é oferecer atendimento personalizado e
integrado aos pacientes, visando a sua recuperação e reintegração na sociedade. O
CAPS AD oferece diversos serviços para os pacientes, como atendimento
psiquiátrico, psicológico e social, além de atividades terapêuticas como oficinas de
arte, música, teatro, entre outras. Também podem ser realizadas orientações aos
familiares e atividades em grupo para troca de experiências e apoio mútuo. O
tratamento oferecido pelo CAPS AD é gratuito e realizado no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Para ser atendido, o paciente deve realizar o primeiro
contato com o centro de saúde básica do município, onde será avaliado pela equipe
médica para receber encaminhamento ao CAPS AD. O CAPS AD é uma importante
ferramenta no combate à dependência química, oferecendo suporte e tratamento
efetivo para os pacientes que buscam se recuperar e retomar a sua qualidade de
vida.

1.4. Equipe de referência


Uma equipe de referência é composta por um grupo de profissionais que
possuem habilidades e experiências específicas na área de atuação de um
determinado projeto ou organização. Essa equipe é responsável por liderar e
orientar as demais equipes, garantindo que as atividades sejam desenvolvidas de
forma eficiente e de acordo com os objetivos estabelecidos. A equipe de referência
pode ser formada por especialistas em diversas áreas, como marketing, finanças,
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recursos humanos, tecnologia da informação, entre outras, e geralmente são


lideradas por um gestor ou coordenador.
1.5. O Projeto Terapêutico Singular (PTS)
O PTS é um plano de cuidado individualizado para pacientes que necessitam de
atenção e tratamento específicos. O objetivo do PTS é personalizar o atendimento
de acordo com as particularidades do paciente e da sua condição de saúde e vida,
levando em consideração suas necessidades, desejos e histórico de vida. O PTS
envolve uma equipe interdisciplinar (médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, assistentes sociais, entre outros) que avalia as necessidades e
potencialidades do paciente e utiliza um conjunto de técnicas e abordagens
terapêuticas específicas e adequadas à sua situação. O PTS propõe que o paciente
seja um agente ativo na definição do seu projeto terapêutico, promovendo assim sua
autonomia e responsabilidade sobre sua própria saúde. Dessa forma, o PTS busca
promover um cuidado centrado no paciente e que considere a complexidade e
singularidade de cada indivíduo, suas relações e contextos sociais, culturais e
familiares.

1.6. Rede de apoio

Rede de apoio é um conjunto de pessoas, grupos ou instituições que oferecem


suporte emocional, psicológico, social ou financeiro para uma pessoa em situação
de dificuldade ou vulnerabilidade. Essa rede pode ser formada por familiares,
amigos, instituições religiosas, grupos de apoio, profissionais de saúde, entre outros.
O objetivo é oferecer recursos para que a pessoa possa superar as dificuldades e
alcançar uma vida mais saudável e plena.
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2. ESTUDO DE CASO JR. JOÃO


Caso: Sr. João*, 44 anos, divorciado, 4 filhos, natural de Ilhéus-Ba, estudou
até a quarta série e atualmente trabalha com ajudante de pedreiro em uma obra de
um bairro distante da sua residência.
Ele procura o serviço após ser orientado pelo empreiteiro da obra, o qual também
teve problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas, para que
procurasse a Unidade Básica de Saúde (UBS) para fazer algum tipo de tratamento
para tratar o seu alcoolismo. O empreiteiro identificou que o Sr. João chegou
algumas vezes atrasado ao serviço, bem como já apresentou alterações de
comportamento no ambiente do trabalho após ter consumido álcool, levando a
quedas e a presença de hálito elítico. Ele conhece o potencial do seu funcionário e o
quanto é comprometido com o seu trabalho, porém devido ao risco de queda e
outros problemas no ambiente do trabalho, considerou ser melhor essa orientação
para um serviço de saúde.
Ao chegar à UBS, o usuário é acolhido pela enfermeira, a qual sugere passar
por avaliação com o médico generalista, faz a aferição dos sinais vitais como PA,
glicemia e identifica alterações. Ao mesmo tempo sugere que o paciente procure o
CAPS ad da região para iniciar um tratamento concomitante ao acompanhamento na
UBS.
Na semana seguinte, o Sr. João procura pelo CAPS do território para passar
por acolhimento. É acolhido por uma técnica de enfermagem e um psicólogo que
escutam a demanda do paciente, busca entender qual é a sua rede, sua história de
uso de álcool e outras drogas, seu contexto familiar, seu meio social e quais motivos
o levaram a procurar aquele serviço.
Inicialmente o Sr. João relata que veio a pedido do chefe, mas que não
identifica um prejuízo frente ao uso de álcool, entretanto verbaliza que perdeu a
esposa por conta do uso de álcool “ela reclamava do uso” (sic). Lembra-se de ter
iniciado a ingestão de álcool com o pai na roça quando morava em Ilhéus-Ba,
porque “homem tem que beber desde cedo para provar que era macho” (sic).
Começou com uso de fermentado, e depois na adolescência passou a fazer uso de
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destilado, aumentando gradualmente o consumo de álcool que mantinha aos finais


de semana para o meio da semana, por isso o chefe havia o mandado procurar por
tratamento. Refere medo de perder o emprego, portanto veio procurar ajuda, mas
que não “vê” tanto problema como as pessoas relatam.
Inclusive, no momento do acolhimento a equipe nota que ele está com hálito etílico.
Desta forma a equipe do CAPS ad propõe a participação dele em um “grupo de
homens” para discutir as questões relacionadas ao cotidiano do homem e no grupo
de acolhida para alcoolistas. Esse grupo reflete quais são as motivações do usuário
para o tratamento e a partir da avaliação se ele será matriculado na unidade. É
também ofertado o agendamento com o psiquiatra do CAPS e sugestão de convidar
alguns familiares para estarem na unidade.
Em reunião de equipe é proposto que o paciente seja referência dos
profissionais que o atenderam no acolhimento, uma vez que houve uma formação
de vínculo. A equipe de referencia articula uma visita a UBS de referência do Sr.
João e em conjunto realizar o acompanhamento e tratamento dele nos dois serviços.
A UBS propõe uma visita compartilhada a casa dele para conhecer o
ambiente familiar e caso seja necessário convidar o chefe dele para discutir a
permanência no ambiente de trabalho, quais os recursos disponíveis para o cuidado
dele e que estratégias podem propor para evitar o consumo de álcool no ambiente
de trabalho e/ou em situações de que ele chegue alcoolizado como eles podem
proceder. *Nome fictício. (MERCES, Neuri Pires das. Discussão de Caso – Um caso
apresentado a partir do atendimento em um CAPS ad. São Paulo: maio, 2023.)

2.1. Rede de apoio no caso do Jr. João


A rede de apoio no caso do Sr. João inclui a equipe da Unidade Básica de
Saúde (UBS), o empreiteiro da obra e a equipe do CAPS ad. A enfermeira da UBS
acolhe o paciente e sugere um tratamento concomitante com o acompanhamento
médico na UBS e no CAPS ad. No CAPS ad, uma técnica de enfermagem e um
psicólogo fazem o acolhimento e propõem a participação em grupos de homens e
alcoolistas, além do agendamento com o psiquiatra. Em reunião de equipe, é
proposto que o paciente seja referência dos profissionais que o atenderam no
acolhimento. A equipe de referência realiza uma visita compartilhada à casa do Sr.
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João para conhecer o ambiente familiar, e convida o chefe dele para discutir a
permanência no ambiente de trabalho e estratégias para evitar o consumo de álcool
no trabalho. Nesse caso, a rede de apoio é essencial para o tratamento do
alcoolismo, envolvendo profissionais de diferentes serviços e também o empregador
do paciente. A abordagem multiprofissional é fundamental para o sucesso do
tratamento e a inclusão do paciente em grupos de apoio é uma estratégia muito
importante para a sua recuperação.

2.2. Como o projeto terapêutico singular pode ajudar Sr.João


No caso do Sr. João, podemos observar como o Projeto Terapêutico Singular
(PTS) pode ajudá-lo a lidar com o seu alcoolismo e desenvolver habilidades para
lidar com situações de estresse e pressão no ambiente de trabalho. O PTS é uma
ferramenta importante para desenvolver um plano de cuidado conjunto entre o
paciente, a família e a equipe de profissionais envolvida em seu tratamento. É por
meio do PTS que o paciente é colocado como protagonista do seu próprio
tratamento e tem acesso à rede de suporte social e profissional que o ajudará a
superar as dificuldades enfrentadas na sua vida. Na equipe do CAPS ad, a partir da
escuta ativa e da análise do contexto do paciente, foi possível estabelecer um plano
de cuidado que levaram em consideração as suas necessidades individuais e a sua
rede de suporte social e profissional. O grupo de homens e o grupo de acolhida
oferecidos pelo CAPS ad são exemplos de estratégias que permitem que o Sr. João
se conecte com outras pessoas que também enfrentam problemas com o álcool,
desenvolvendo habilidades para lidar com situações adversas. A visita
compartilhada à UBS e a possibilidade de incluir o chefe e a família do Sr. João no
processo de tratamento demonstram como a abordagem do PTS é integrada e
busca construir soluções a partir da rede de apoio disponível. A equipe de referência
também possibilita uma maior integração entre os serviços de saúde, possibilitando
um acompanhamento mais eficaz do paciente. Em síntese, o PTS é uma estratégia
importante para a construção de um plano de cuidado individualizado e que leve em
consideração a singularidade de cada paciente. No caso do Sr. João, o PTS permitiu
que ele tivesse acesso a uma rede de suporte social e profissional que o ajudou a
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lidar com o seu alcoolismo e construir alternativas para um ambiente de trabalho


mais saudável e seguro.

2.3. Algumas propostas e intervenções para o caso do Sr. João:

1. Avaliação médica e monitoramento de sinais vitais na UBS para identificar


possíveis danos à saúde do paciente decorrentes do consumo de álcool e outras
drogas.
2. Acolhimento terapêutico no CAPS ad para investigar as motivações do paciente e
explorar possíveis soluções para o manejo do consumo de álcool, além de
encaminhamento para o psiquiatra, caso necessário.
3. Inclusão em grupo terapêutico para homens e grupo de acolhida para alcoolistas,
com o objetivo de compartilhar experiências, adquirir conhecimento sobre o tema e
desenvolver habilidades para lidar com a dependência química.
4. Articulação entre a equipe do CAPS ad e da UBS para oferecer um atendimento
integrado, com visitas compartilhadas ao paciente e à família, garantindo assim um
cuidado holístico e uma escuta especializada.
5. Convite para a participação de familiares e do chefe do Sr. João nas atividades
terapêuticas e nas visitas à UBS e ao CAPS ad, favorecendo a compreensão e o
apoio dos entes queridos em relação ao processo de recuperação do paciente.
6. Desenvolvimento de estratégias de prevenção de recaídas no ambiente de
trabalho, com a identificação de situações de risco no ambiente e a adoção de
medidas protetivas, como a supervisão de atividades e o registro de ocorrências.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerações finais sobre o caso do Sr. João sugerem que um tratamento


terapêutico singular pode ser benéfico para ajudar o Sr. João a lidar com seu
problema de alcoolismo. O tratamento deve envolver uma abordagem interdisciplinar
que inclua a equipe de referência do CAPS ad, o serviço de saúde local, a família e
o empreiteiro, além de outros serviços comunitários que possam fornecer apoio para
o Sr. João. O tratamento deve ser individualizado e deve levar em conta fatores
como a história de uso de álcool do Sr. João, sua rede social, seu contexto familiar e
seu meio social. É importante que seja incluída uma abordagem que permita ao Sr.
João trabalhar em direção ao seu objetivo de manter-se longe do
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REFERÊNCIA

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa, A clínica ampliada e compartilhada, a gestão


democrática e redes de atenção como referenciais teórico-operacionais para a
reforma do hospital, disponível em
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielosp.org/
article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csc/v12n4/04.pdf,
acesso em 18 de maio de 2023

CLÍNICA AMPLIADA E COMPARTILHADA. Disponível


em: https://redehumanizasus.net/85422-clinica-ampliada-e-compartilhada/. Acesso
em: 19 maio 2023.

CLÍNICA ampliada na atenção básica e processos de subjetivação: relato de uma


experiência. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/physis/a/rdjTTCjbFdzqpWT3bYxjkbP/. Acesso em:
24 maio 2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, clinica ampliada e compartilhada. Disponível em


efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
clinica_ampliada_compartilhada.pdf, acesso em 20 de maio de 2023

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