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educadores-precisam-conhecer
Saúde emocional
Vamos parar de repetir frases como "Quem pensa em suicídio é fraco e procura uma saída
fácil"? Para prevenir o suicídio é precisa abrir espaços para que a pessoa possa falar
abertamente sobre seus problemas Crédito: Getty Images
1.MITO: Aqueles que ameaçam se matar estão apenas querendo chamar a atenção.
A pessoa que tem a intenção de cometer suicídio costuma dar sinais sobre as formas como pensa em
fazer isso para pessoas próximas, para profissionais de saúde e até mesmo via mídias sociais. Portanto,
conteúdos – verbais ou escritos – que possam indicar ideação suicida devem ser levados a sério e não
vistos apenas como forma de "chamar a atenção".
2. MITO: Não é possível prevenir o suicídio. Quem quiser se matar, vai se matar.
O suicídio pode e deve ser prevenido. A melhor forma de fazê-lo é falando abertamente sobre o tema
em diferentes ambientes e nas mais diversas linguagens. A prevenção começa com educação sobre o
tema, com o trabalho contínuo das habilidades socioemocionais, com a existência de redes de apoio e
a quebra do estigma em falar sobre questões relacionadas à saúde mental.
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3. MITO: Se algum aluno ou aluna pensar ou tentar cometer suicídio estará em risco
de recaída para o resto da vida.
O risco de suicídio pode ser tratado de forma eficaz com auxílio de profissionais capacitados, como
psicólogos e psiquiatras que podem diagnosticar e acompanhar de perto aqueles que estão
enfrentando questões de saúde emocional e mental. O fato de alguém ter enfrentado um período de
fragilidade e vulnerabilidade emocional não significa que a pessoa estará sempre em risco de recaída,
da mesma forma que acontece com dependentes químicos. É possível se tratar e construir uma rede
de apoio para ficar bem. Entretanto, a tentativa prévia de suicídio é um dos principais sinais de risco e
pensamentos recorrentes sobre a morte são sinais de alerta que devem sempre ser levados a sério,
independentemente do histórico da pessoa.
4. MITO: Não devemos falar sobre suicídio na escola, pois falar sobre o assunto
aumenta os riscos de que alguém queira se matar.
Pelo contrário: falar abertamente sobre suicídio não aumenta as chances de ocorrência. O silêncio e a
negligência em relação às questões relacionadas à saúde mental é que aumentam os riscos e
enfraquecem as ações preventivas. Ter um local em que a pessoa se sinta segura para falar ou alguém
com quem possa tratar disso abertamente pode aliviar a tristeza, diminuir a angústia e até mesmo
mudar os pensamentos sobre a morte. Além disso, quando permitimos que a pessoa fale sobre
suicídio, podemos encaminhá-la para acompanhamento com profissionais de saúde e nos mantermos
próximos de quem necessita de apoio.
A ocorrência de um suicídio costuma ser antecedida por pensamentos, ideias, fantasias, planos e até
mesmo notas públicas nas mídias sociais. Uma criança ou adolescente pode, inclusive, comentar com
amigos da escola ou escrever de forma direta ou indireta em uma redação escolar. Há pessoas que
chegam a verbalizar a intenção e dão detalhes de como fariam para dar fim à própria vida. Tais
evidências indicam que a maioria dos casos de suicídio não indicam um ato impulsivo, e sim de uma
sucessão de fatores que podem resultar na decisão de tirar a própria vida. Fique atento aos sinais de
alerta mais comuns em crianças e adolescentes em idade escolar, como mudanças repentinas de
comportamento, isolamento, verbalização do desejo intenso de morrer, raiva, vontade de vingança e
sensação de estar sem saída.
Nem toda pessoa que cometeu suicídio ou chegou a tentar estava sofrendo de depressão. Embora a
depressão possa estar associada e possa ser um sinal de alerta, o suicídio é multifatorial e não possui
uma única causa. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% dos casos
registrados de suicídio estão vinculados à presença de transtornos mentais, logo se diagnosticados e
tratados corretamente, aumentam-se as chances de prevenção. Outros distúrbios emocionais como
transtorno bipolar, transtornos de personalidade, esquizofrenia e o abuso de álcool e outras drogas
podem estar associados ao suicídio. É importante destacar que a presença de um transtorno mental
limita a capacidade de escolha da pessoa e que muitas vezes não é feito um diagnóstico efetivo, por
isso muitos casos de suicídio podem ser decorrência de quadros não diagnosticados. Além de
questões vinculadas à saúde mental, o suicídio pode ser decorrência de outros estressores, como
doença grave ou debilitante, morte de alguém próximo, trauma, violência, rejeições recorrentes, ou
abuso sexual.
7. MITO: Pessoas que cometem suicídio são egoístas, fracas e querem achar uma
solução rápida para os seus problemas.
Tais ideias devem ser combatidas porque limitam as chances de que a pessoa que está pensando em
cometer suicídio fale abertamente sobre isso por medo de ser julgada. Frequentemente, aqueles que
cometem suicídio não o fazem porque não querem viver, e sim porque querem acabar com o
sofrimento intenso que estão sentindo. Tirar a própria vida indica, sobretudo, a sensação de
desamparo e de falta de esperança, e não "egoísmo" ou uma alternativa simples para resolver
problemas.
O suicídio de alguém próximo é extremamente doloroso e costuma deixar muito mais perguntas que
respostas. Cada caso de suicídio é único e envolve toda a complexidade da história de uma pessoa,
portanto buscar um culpado pelo o que aconteceu apenas trará mais sofrimento e não ajudará quem
sofreu a perda. Mesmo que tenhamos informações e tentemos diversas medidas de apoio, não existe
uma receita pronta e eficaz capaz de prevenir todos os casos de suicídio. O tratamento de alguém com
pensamentos suicidas envolve uma série de fatores, como remédios psiquiátricos, psicoterapia e
grupos de apoio, que podem ter diferentes efeitos em cada pessoa. Embora seja possível prevenir o
suicídio, não é possível prever que irá de fato ocorrer. Por isso é tão importante abrir espaços de
confiança para que as pessoas possam falar abertamente e encontrar apoio.
Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em
psicologia pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela
Columbia University. Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora
do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.