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POR:
Pedro Annunciato
Convivemos com a ideia – parcialmente correta – de que falar disso põe em risco
pessoas fragilizadas, que têm considerado essa saída e… Você sabe. Por outro lado, o
silêncio não tem impedido que ele aconteça. As estatísticas do Sistema Único de
Saúde (SUS) mostram que os casos subiram 12% em cinco anos no Brasil. Entre os
adolescentes de 10 a 19 anos, o aumento foi de 18%. Nessa idade, eles estão
enfrentando as primeiras frustrações. Se o pior acontece, o ambiente escolar sofre. E
com círculos familiares e sociais cada vez menores, a escola é praticamente o único
lugar de socialização dos jovens. Por isso, coragem: entender esse fenômeno e como
ele afeta os adolescentes pode prevenir mortes e provocar discussões saudáveis.
NEGAÇÃO DO MUNDO
São muitos os fatores que podem explicar por que os suicídios estão aumentando
entre os adolescentes. Mas, para o psiquiatra Gustavo Estanislau, uma palavra é capaz
de definir o fator de risco mais importante: “Desesperança em relação ao futuro. O
adolescente olha ao redor e vê desemprego, violência… E quando olha para a própria
vida e não enxerga saída para os seus dramas pessoais, o risco aparece”.
Não se sabe exatamente o porquê, mas, a partir dos anos 1960 para cá, surge a
adolescência. Nas palavras do psicólogo americano Erik Erikson (1902-1994), ela é
definida como uma moratória psicossocial: uma fase em que o indivíduo tem as
“dívidas” ou obrigações com a vida adulta temporariamente suspensas para que ele
possa fazer essas escolhas. Por um lado, ela abre possibilidades de escolha livre do
que se quer fazer no futuro. Por outro, pode se tornar um espaço vazio, no qual o
indivíduo não sabe para onde caminhar.
Uma pergunta que os psicólogos sempre dizem ouvir de adolescentes é: “Pra que
eu existo?’, além de serem em grande maioria, intolerantes a frustrações.
Outro aspecto que pode estar por trás do aumento é a mudança das relações
sociais, tanto na família quanto em outros círculos de convivência social. Os
especialistas são unânimes em afirmar que pessoas com mais proximidade com
familiares e amigos têm menos propensão ao suicídio. Essa tendência já havia sido
identificada pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) em seu famoso livro O
Suicídio, publicado em 1897. Na obra, Durkheim nota, por meio de dados estatísticos
da época, que os “vínculos sociais fortes”, especialmente com a família, são um fator
de proteção importante. Muitos adolescentes com ideação suicida (ato de pensar e até
planejar o suicídio) recuam pelo medo de magoar pais, avós, irmãos etc.
O sentido de vida e os vínculos sociais dão força aos indivíduos mesmo nas
situações mais extremas.
REDE DE PROTEÇÃO
Fechados em cículos sociais cada vez menores, a escola é o pouco que sobra.
Com famílias cada vez menores e falta de outros círculos sociais com vínculos
fortes, a solidão dos adolescentes só se rompe em um lugar: a escola.
Veja caminhos para identificar sinais de risco de suicídio entre alunos e ações
que a escola pode tomar