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https://novaescola.org.br/conteudo/18159/meu-aluno-esta-se-cortando-e-agora
Saúde emocional
A automutilação – ou cutting, do verbo cortar em inglês – é uma prática que consiste em ferir
intencionalmente o próprio corpo por meio de cortes na pele. Embora possa ocorrer em qualquer
idade, é mais comum que essas agressões se iniciem na adolescência, mais especificamente entre os
13 e 17 anos de idade. Os cortes são geralmente feitos em regiões do corpo que podemm ser
facilmente escondidas pela roupa, como a barriga, as coxas e os braços.
A automutilação não é algo simples de se entender. Dizer que essa é apenas uma forma de "chamar a
atenção" é uma simplificação de um pedido de socorro que não está encontrando outras formas de se
manifestar. Se machucar e criar cicatrizes pode ser uma forma de falar – ou de gritar – sobre o que se
está sentindo. Para um adolescente, se cortar, muitas vezes é a única forma encontrada para lidar e
amenizar uma dor emocional intensa que pode, inclusive, apontar para quadros de depressão,
ansiedade ou sofrimento por uma situação de violência recorrente. O bullying ou o cyberbullying, por
exemplo, são fatores de risco para comportamentos autodestrutivos.
Embora muitos adolescentes justifiquem a prática da automutilação como algo que ao provocar a dor
física ameniza-se a dor psíquica, é importante que eles entendam que essa não é uma alternativa
eficaz, pois traz um alívio temporário que leva a um círculo vicioso e que coloca a própria saúde e a
vida em perigo.
Um fator de risco importante para a automutilação é o incentivo. Há diversas páginas nas mídias
sociais e sites focados no estímulo a práticas como essa, no qual os seguidores compartilham dicas de
como fazer os cortes e postam fotos das feridas. Fazer parte de comunidades como essas provoca o
encorajamento e aumenta as chances desse comportamento ocorrer, além de trazer o senso de
pertencimento a um grupo, elemento importantíssimo na adolescência. Segundo texto publicado pelo
Centro de Valorização da Vida (CVV), cerca de 18% das pessoas que adotaram o comportamento
autolesivo começaram por causa do efeito de contágio.
Em maio deste ano, o presidente da República sancionou a lei que cria a Política Nacional de Prevenção
da Automutilação e do Suicídio. A lei propõe um sistema nacional de prevenção do suicídio e da
automutilação, oferecendo serviço telefônico gratuito para atendimento ao público. Além disso, o
Governo Federal, via Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), lançou, em
abril, a campanha Acolha a Vida, com foco na prevenção dessas questões.
Hoje, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que a segunda maior
causa de morte entre os jovens no Brasil seja o suicídio. A automutilação, embora não
necessariamente seja uma tentativa de suicídio, pode causar ferimentos graves e até mesmo a morte.
Fora os riscos mencionados, pode ser um sinal de depressão, indicar a presença de pensamentos
suicidas e/ou um alerta para a presença de estresse emocional intenso.
O uso de roupas de manga comprida até mesmo no calor pode ser uma forma de
esconder as lesões;
Mudanças de humor e de comportamento, como o isolamento social;
Recusa em participar de atividades esportivas nas quais o jovem teria que usar bermuda
e camiseta;
Atente-se aos jovens com autoestima baixa e que trazem falas com vazio emocional,
como que são um peso, que não enxergam outras perspectivas para a própria vida ou
que não merecem aquilo de bom que tem acontecido a eles;
As vítimas de bullying ou o cyberbullying apresentam maior risco de autolesão.
Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em
psicologia pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela
Columbia University. Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora
do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.