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RESENHA – DOI: 10.15689/ap.2016.1501.

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Psicometria
Adriana Satico Ferraz1
Universidade São Francisco, Itatiba-SP, Brasil

Objetivando introduzir conceitos e fomentar dis- No segundo capítulo “Questões básicas sobre men-
cussões acerca da importância da Avaliação Psicológica, suração”, os psicólogos Nelson Hauck Filho e Cristian
o livro “Psicometria”, primeiro título da coleção Zanon destacam os motivos que apóiam a mensuração de
“Avaliação Psicológica”, tem como público-alvo os psi- fenômenos psicológicos com o auxílio da quantificação
cólogos em formação e aqueles que já atuam na área, e da psicometria. Os sistemas de medida em Psicologia
mas que queiram aprimorar seus conhecimentos. permitem o teste da correspondência entre o que é pre-
Dividida em 11 capítulos, a obra engloba a utilização de visto pelos modelos teóricos e os dados empíricos. Tais
métodos, técnicas e testes, além do desenvolvimento e meios também permitem avaliar a eficácia das práticas
da adaptação de instrumentos. Também são abordadas interventivas, funcionam como um canal de comunica-
questões referentes aos modelos de medida, a busca por ção entre os profissionais e viabilizam a possibilidade de
evidências de validade e fidedignidade, os aspectos éti- replicar um estudo a partir do seu método. São descritas
cos envolvidos no processo da Avaliação Psicológica e as propostas de quatro abordagens de medida psicológi-
o sistema responsável por avaliar os testes em contexto ca e, ao final de cada definição, são apresentadas as suas
nacional (SATEPSI). vantagens e desvantagens: Teoria Clássica dos Testes,
No primeiro capítulo, intitulado “O que é avalia- como uma medida de fidedignidade; Escala de Medidas,
ção psicológica – métodos, técnicas e testes”, o psicólogo como uma proposta de agregar ao conceito de medida
e um dos organizadores do livro, Claudio Simon Hutz, em psicologia conhecimentos de outras áreas, compos-
apresenta um breve panorama da Avaliação Psicológica ta por quatro níveis de mensuração (nominal, ordinário,
em seu contexto histórico internacional e nacional. Nele, intervalar e de razão); Teoria da Medida Conjunta: pre-
são apontados aspectos relevantes à sua aplicação para a vê a elaboração de escalas intervalares para a mensura-
elaboração de hipóteses diagnósticas nas diferentes áreas ção quantitativa de variáveis psicológicas; e Modelos de
de atuação do psicólogo; o seu papel para a construção e Variáveis Latentes: baseados em elementos não direta-
reconhecimento da Psicologia como uma ciência, no que mente observáveis que orientam as respostas do exami-
se refere à revisão e à construção de práticas que aludem à nando aos itens de um teste psicológico.
prevenção e intervenções em diferentes contextos. O ca- No capítulo “Normas”, Juliana Cerentini Pacico
pítulo aborda, ainda, a necessidade de uma boa formação destaca a importância em seguir o referencial normativo
do profissional da área, o que abarca a graduação, os cur- dos testes para a interpretação dos escores obtidos, tanto
sos de especialização e os programas de pós-graduação. A no que se refere à validade do instrumento, como tam-
Avaliação Psicológica é definida como um processo que bém à conduta ética profissional. As normas pressupõem
objetiva a elaboração de hipóteses diagnósticas sobre um um padrão de interpretação da pontuação do sujeito pre-
indivíduo ou um grupo por meio do uso de testes psi- estabelecida pela amostra representativa da população
cológicos, entrevistas e observações. Tais instrumentos e para o seu nível de desempenho em relação ao constru-
técnicas de avaliação visam a avaliar os construtos psico- to avaliado. São apresentadas duas fontes de normas: (a)
lógicos, tais como personalidade, habilidades cognitivas, a amostra normativa, na qual a interpretação do escore
entre outros. Segundo o autor, a Avaliação Psicológica é bruto obtido na aplicação do instrumento demanda a sua
compreendida como uma prática que ultrapassa o limiar transformação em percentis ou escore padrão, como os
da testagem ao fomentar, a partir de seus resultados, di- escores z e T, localizados nas tabelas normativas que com-
versas estratégias de atuação aplicadas em todas as áreas põe o manual do teste; (b) normas de desenvolvimento
da Psicologia. ou intragrupos, delineadas com base na progressão do

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Endereço para correspondência: Rua José Franco de Oliveira, 99, Bairro do Arraial, 12930-000, Tuiuti-SP. E-mail: adrianasatico@hotmail.com

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desenvolvimento humano, considerando-se a idade, sé- Alternadas: mede a relação entre os resultados dos exa-
rie escolar e/ou o estágio do desenvolvimento. minandos em um período de tempo; Duas metades: bus-
O quarto capítulo “Como é feito um teste? ca por correlações por meio da divisão do teste em duas
Produção de Itens”, Juliana Cerentini Pacico aborda os partes; Coeficiente Alpha: aponta o valor esperado para
procedimentos inerentes à construção e adaptação de tes- uma divisão aleatória do conjunto dos itens de um teste;
tes psicológicos quanto às especificidades da amostra, do Fidedignidade do Avaliador: participação de avaliadores
construto avaliado, evidências de validade e fidedignida- para avaliar o escore de testes projetivos em decorrên-
de, discorrendo sobre as suas vantagens e desvantagens e cia da sua subjetividade. Quanto às limitações dos mé-
o cuidado na elaboração dos itens. Na construção de um todos clássicos de avaliação da fidedignidade, os autores
teste, consideram-se o contexto sociocultural do grupo apresentam uma breve descrição sobre os novos modelos
avaliado; os procedimentos teóricos, referentes à revisão estatísticos como uma forma de superá-las, referindo-se
da literatura e consulta a pesquisadores da área sobre o especialmente à Teoria de Resposta ao Item.
construto que se pretende avaliar; os procedimentos em- No sétimo capítulo, “Análise de itens e Teoria de
píricos e analíticos, o que requer o envio dos itens aos Resposta ao Item (TRI)”, Tatiana de Cassia Nakano,
avaliadores (juízes), sua aplicação em uma amostra pi- Ricardo Primi e Carlos Henrique Sancineto da Silva
loto, realização de análises estatísticas e revisão do teste. Nunes esclarecem sobre o uso da Teoria de Resposta ao
Os critérios para a construção dos itens envolvem a sua Item como recurso complementar às limitações da Teoria
clareza, homogeneidade, abordagem ampla do construto Clássica dos Testes. Em linhas gerais, o modelo da TRI é
e linguagem clara. A autora esclarece que a adaptação de utilizado em estudos exploratórios, na estimativa de habi-
instrumentos é norteada por diretrizes divididas em qua- lidades e acertos para os examinandos em itens específicos
tro categorias: contexto, desenvolvimento e adaptação do e a redução da quantidade de itens de um teste. São con-
teste, administração e interpretação dos escores, os quais ceituados os modelos para as escalas em forma de curvas
englobam a tradução e adequação cultural. para itens politômicos, sua diferenciação em relação aos
Juliana Cerentini Pacico e Claudio Simon Hutz, itens dicotômicos e a ilustração desses conceitos a fim de
no quinto capítulo, descrevem diferentes definições do exemplificá-los. É explicado, ainda, o Mapa do Construto
conceito de validade, sendo a sua acepção atual definida (de Itens), que engloba a representação gráfica dos escores
como o quanto as evidências teóricas e práticas corro- relativos dos itens e os limites de transição entre eles, e
boram com a interpretação dos resultados de um teste, o Funcionamento Diferencial dos Itens (DIF) como uma
elaborado para mensurar determinado construto psicoló- forma de verificação da ocorrência de viés nos itens.
gico. São descritas três categorias clássicas de validade: (a) No oitavo capítulo, os psicólogos Wagner de Lara
validade de conteúdo: capacidade dos itens que compõe Machado, João Vissoci e Sacha Epskamp discutem os
um teste de representar os traços latentes que constituem impactos da aplicação da análise de rede na psicometria,
o construto avaliado; (b) validade de critério: aplicação de na Avaliação Psicológica e nas demais áreas da Psicologia.
dois (preditiva ou concorrente) ou mais testes (validade São apresentados os princípios da análise de rede, sua
incremental) para predizer a performance do examinando relação com outros modelos psicométricos e a aplica-
nas tarefas estabelecidas de forma simultânea (um após o bilidade prevista pelo auxílio ao pesquisador no exame
outro) ou em momentos distintos; c) validade de cons- conjunto de itens viabilizado pela representação gráfica
truto: verifica a homogeneidade do teste, a variação dos de suas relações. Também é referida a avaliação da carga
escores, a correlação do construto com outras variáveis e do conteúdo de cada item e sua relação com os demais
por meio das técnicas de análise fatorial (exploratória e itens, bem como o acréscimo de outros indicadores. Por
confirmatória) e análise da consistência interna. fim, os autores expõem os cinco tipos de redes e exem-
No capítulo seguinte, Cristian Zanon e Nelson plos de aplicação: Estrutura-covariância (associação entre
Hauck Filho delineiam aspectos relativos à fidedignidade. duas variáveis); Correlações Parciais (verificação de uma
A fidedignidade é entendida como uma propriedade psi- rede com conexões relevantes pelo condicionamento das
cométrica que denota a estabilidade dos itens que com- demais variáveis); Rede Adaptativa LASSO (obtenção de
põem o teste, viabiliza sua replicabilidade e compreende uma rede mais informativa sobre a estrutura emergente
a capacidade do instrumento para diferenciar os exami- dos dados); Rede eLASSO (estimativa de parâmetros de
nandos quanto aos diversos níveis de desempenho que interação e magnitude das variáveis relacionadas à rede);
ele se propõe a avaliar. Os erros de medida presentes no Causalidade indutiva (identificação de relações causais
processo de testagem são definidos em dois tipos: erros entre as variáveis).
aleatórios, ligados às condições do momento da aplicação No capítulo “O papel do teste na avaliação psicoló-
do teste e erros sistemáticos, atrelados às diferenças indi- gica”, a psicóloga Caroline Tozzi Reppold e a fonoaudi-
viduais dos examinandos. Os procedimentos para avaliar óloga Léia Gonçalves Gurgel discorrem sobre as etapas
a fidedignidade (consistência interna) do teste se referem que constituem a Avaliação Psicológica, sendo a identi-
à Fidedignidade Teste-Reteste: avalia a estabilidade dos ficação do problema, integração dos dados coletados, in-
escores e o nível de flutuação; Fidedignidade de Formas ferência de hipóteses e a intervenção. As autoras alertam

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quanto às diretrizes estipuladas pelos órgãos de regula- Por fim, no décimo primeiro capítulo, Caroline
mentação brasileiros, formuladas com base em parâ- Tozzi Reppold e Léia Gonçalves Gurgel relatam a cria-
metros internacionais e, também, quanto ao cuidado na ção e os aspectos técnicos que envolvem o Sistema de
escolha e manejo dos testes psicométricos e expressivos, Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI. Por meio
a fim de compor as estratégias para a avaliação diagnós- de uma comissão avaliadora composta de psicólogos
tica em diversas áreas da Psicologia. As autoras destacam doutores com especialização em Avaliação Psicológica
aspectos pertinentes à formação do psicólogo, conduta em diversas áreas, o sistema visa avaliar e divulgar, em
ética exigida ao profissional da área e as novas tendências página eletrônica, tanto os instrumentos brasileiros
desenvolvidas como recurso para a Avaliação Psicológica, como os adaptados de outros países quanto às condições
como as dinâmicas de grupo e os questionários. mínimas de seus parâmetros psicométricos para uso
Em “Questões éticas na avaliação psicológica”, (validade e normatização), classificados como favorá-
Claudio Simon Hutz arrola sobre os reflexos oriundos veis ou desfavoráveis. A despeito de algumas limitações
dos resultados da Avaliação Psicológica no cotidiano dos do sistema, as autoras retratam que as exigências pre-
sujeitos avaliados nas diversas áreas onde há a atuação do vistas pelo SATEPSI contribuem para que haja maior
psicólogo, como a saúde, educação e organizacional. O investimento em pesquisas e para a melhoria dos ins-
autor realça a necessidade do preparo técnico e o conhe- trumentos psicológicos.
cimento dos princípios éticos previstos pelo Conselho Em síntese, o livro visa divulgar conceitos básicos
Federal de Psicologia – CFP, que regem as atividades relativos à psicometria por meio de uma linguagem clara,
exercidas pelo psicólogo. São discutidas questões éticas que conta com o auxílio da exposição de exemplos e pro-
no campo da pesquisa em Avaliação Psicológica, con- postas de exercícios, como recursos para ilustrar e fixar
forme o Código de Ética em pesquisa, baseada em três os inúmeros aspectos subjacentes à Avaliação Psicológica.
princípios: respeito pelas pessoas (compreendidas como Desse modo, o livro é recomendado aos profissionais em
sujeitos autônomos), beneficência (menores riscos pos- formação e para o aprimoramento dos psicólogos, o que
síveis) e justiça (tratamento igualitário). O autor traz o torna uma ferramenta didática, de fácil compreensão
exemplos de situações, envolvendo dilemas éticos na área e acessível a todos os que atuam nas diversas áreas da
da Avaliação Psicológica e a importância do cuidado na Psicologia e que se utilizam da Avaliação Psicológica em
elaboração de laudos psicológicos. suas práticas.

Referência

Hutz, C. S., Bandeira, D. R., & Trentini, C. M. (Eds.). (2015). Psicometria. Porto Alegre: Artmed.

recebida em outubro de 2015


aprovada em dezembro de 2015

Sobre a autora

Adriana Satico Ferraz é graduanda do curso de Psicologia pela Universidade São Francisco e aluna do programa de iniciação
científica pelo PIBIC/CNPq.

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