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AVALIAÇÃO

PSICOLÓGICA
Conceitos, Métodos e Modalidades

Henrique Freire
O papel da Avaliação Psicológica é o de descrever e explicar
fenômenos ou processos psicológicos através da atribuição de
valor ou medida às suas propriedades. (ALCHIERI; CRUZ, 2012)

É Importante que o psicólogo que executa este processo esteja


sempre atualizado em relação a estudos da área dos fenômenos
psicológicos e processos cognitivos.

Esse processo depende da atitude orientada da compreensão do


que se quer avaliar, da habilidade do avaliador em escolher
estratégias e procedimentos específicos às necessidades
observadas das demandas por avaliação.
A Avaliação Psicológica é uma disciplina científica que se
caracteriza por quatro elementos básicos: Objeto, Objetivo,
Campo Teórico e Métodos.

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
O Objeto de estudo da Avaliação psicológica são os fenômenos e
processos psicológicos: Processos; Funções; Estrutura; Dinâmica; Conduta.

A diferença entre a Avaliação Psicológica e a Psicologia em si reside no


objetivo e nas orientações teórico-metodológicas, principalmente no
caso do uso de instrumentos psicológicos.

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
O Objetivo da Avaliação psicológica é estimar o valor ou qualidade dos
fenômenos psicológicos. Para isso, deve-se:

1 – Descrever e interpretar o percebido pelas pessoas, via autorrelato e descrição


dos processos subjetivos;
2 – Caracterizar as variações dos aspectos observados (ocorrência, frequência,
intensidade).
3 – Estimar Valores representativos dessas descrições e variações.

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
O Campo Teórico da Avaliação Psicológica são as teorias psicológicas,
construídas com base em construtos sistematizados na forma de
conceitos amplos ou específicos que servem para explicar os fenômenos
psicológicos não observáveis diretamente.

Exemplo: A Percepção e Atenção podem ser estudadas e avaliadas a


partir da base epistemológica na qual se sustenta a respectiva teoria:
Psicologia Cognitiva, da Personalidade, do Desenvolvimento, etc.

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
Os Métodos da Avaliação Psicológica são o Clínico e o Experimental.

O primeiro é muito mais visto na prática profissional, enquanto que o


segundo é mais associado à construção de novos instrumentos e também
à tentar explicar, por meio de correlações entre variáveis, o objeto
estudado.

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
São três os recursos metodológicos fundamentais da Avaliação Psicológica:

1 – A observação do comportamento (descrição física, autorrelato);


2 – O inquérito (estimular por meio de perguntas e proposições, como a anamnese e
entrevista psicológica);
3 – A mensuração (atribuir valores à propriedades psicológicas através de instrumentos
de medida construídos para esse fim).

Campo
Objetivo Teórico

Avaliação
Psicológica

Objeto Método
A Avaliação Psicológica é um processo científico, fundamentado teórica e
metodologicamente em teorias psicológicas, que busca estimar o valor ou
qualidades de fenômenos psicológicos nas condições de vida das pessoas.

Avaliação
Psicológica

Stricto Sensu Lato Sensu


Stricto Sensu

Geralmente ocorre em instituições universitárias através de pesquisas básicas ou


aplicadas com o objetivo de realizar uma investigação psicológico para produzir
conhecimentos sobre fenômenos ou construtos e aperfeiçoar métodos e instrumentos
psicológicos.

Seu principal produto técnico-científico é uma comunicação científica publicada em


periódico, anais ou livro.

As demandas que originam esses processos de avaliação psicológica surgem da


curiosidade científica ou de necessidades práticas de produzir conhecimentos ou
gerar novos recursos para os psicólogos.
Lato Sensu

Ocorre no âmbito da intervenção profissional e é definida como um conjunto de


procedimentos planejados orientados por demanda oriunda da sociedade
(indivíduos, grupos, instituições), conforme a atividade profissional do psicólogo
(neuropsicólogo, psicólogo do trabalho, trânsito, etc.) que tem como objetivo
examinar características psicológicas relevantes por meio de técnicas e instrumentos
psicológicos a fim de produzir um diagnóstico.

Seu principal produto técnico-científico é um informe psicológico, ou seja, um


documento escrito que tem por finalidade comunicar os resultados e conclusões da
avaliação psicológica realizada, como, por exemplo, um Laudo ou Relatório.

As demandas que originam essas avaliações ocorrem, geralmente, a partir de


empresas, instituições, escolas e outros profissionais, tais como Médicos psiquiatras,
neurologistas e outros colegas Psicólogos.
Lato Sensu

Há demandas e procedimentos específicos para cada avaliação


psicológica.

Desta forma, podemos conceituar a avaliação psicológica Lato Sensu


com base no uso de alguns termos a ela associados:

• Exame psicológico;
• Exame psicotécnico;
• Psicodiagnóstico;
• Diagnóstico Psicológico;
• Perícia Psicológica.
Define pontualmente um procedimento para verificar as condições
psicológicas das pessoas por meio de instrumentos psicológicos.

Intenção de verificar determinadas características psicológicas para


uma demanda já especificada (perfil), com data, local e horário
previamente marcados.

Exemplo: Procedimentos de seleção de profissionais nas empresas e


exames periódicos em saúde ocupacional.
Utilizado, historicamente, para designar a atividade de avaliação
realizada pelos psicólogos que atuam no sistema de trânsito, com o
objetivo de verificar as condições psicológicas mínimas para dirigir, ou
seja, para obter a CNH.

Esses exames são chamados de Psicotécnicos pois essa era o nome


dado aos profissionais que realizavam exames psicológicos para o
sistema de trânsito (legalmente, desde 1950).

Também por uso histórico, esse termo é utilizado em concursos


públicos, especialmente na área de segurança pública.
Psicodiagnóstico é um termo utilizado para designar avaliações
psicológicas realizadas em contexto clínico (consultórios, serviços de
atenção psicológica, etc.).

Normalmente há início e fim previstos a curto e médio prazo, e tem


como objetivo realizar um diagnóstico psicológico em face de
hipóteses clínicas de morbidez ou sofrimento psíquico.

Também pode ser utilizado para iniciar ou encaminhar processos


psicoterapêuticos.
Muitas vezes utilizado como sinônimo do Psicodiagnóstico, embora
este último o inclua.

O Diagnóstico Psicológico é o resultado de um processo de avaliação


psicológica que tem por finalidade extrair um juízo crítico por parte do
psicólogo das condições psicológicas das pessoas sob avaliação.

A partir dele, pode-se inferir um prognóstico.

Não é exclusivo do Psicodiagnóstico pois também pode ser obtido


através da Perícia Psicológica, por meio dos laudos psicológicos.
É uma modalidade de avaliação cujas características principais são o
fato de ser demandada judicialmente e de necessariamente fornecer
um laudo psicológico.

Exige um juízo crítico por parte de psicólogos que atuam como peritos.

Tem como objetivo fornecer subsídios (provas técnicas) que


contribuam na decisão judicial a partir de solicitações do judiciário.
CRITÉRIOS CIENTÍFICOS DA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Henrique Freire
A avaliação psicológica, do ponto de vista da produção do
conhecimento, pode ser representada como a resultante de três critérios
científicos, que se articulam conceitualmente de forma interdependentes.
(ALCHIERI; CRUZ, 2012)

O Processo de
A Medida O Instrumento
Avaliação

Cada um deles representa, teórica e metodologicamente, os aspectos


constituintes da avaliação psicológica, que os diferenciam de outras
perspectivas de investigação de fenômenos psicológicos, assim como
outras modalidades de intervenção do psicólogo no âmbito clínico.
A Medida

Avaliar um fenômeno é comparar suas características com a de outro


objeto de conhecimento, e, como tal, a mensuração (ou medida) é o
meio de representação dessa comparação.

Um mesmo objeto pode ser medido sob vários aspectos.

Exemplo: Uma garrafa d’água.

Você pode medir, por exemplo, a sua altura, peso, e quanto líquido ela
pode comportar.

Cada um desses aspectos (comprimento, massa, volume) indica uma


grandeza física diferente.

Mas não é apenas isso que nos interessa...


A Medida

Quando verificamos, num exame laboratorial, a quantidade de leucócitos


de uma pessoa, comparando-a com valores de referência de outras
pessoas, presume-se que esses valores de referências só existem porque foi
definida uma medida padrão para a ocorrência de casos dessa natureza,
segundo algumas características de pessoas possíveis de serem
comparadas.

Deste modo, medir é comparar uma grandeza com uma outra, de mesma
natureza, tomando-a como padrão.

Psicometria é a subárea da psicologia que se encarrega de construir


modelos teóricos sobre fenômenos psicológicos com base na possibilidade
de comparação entre esses atributos ou propriedades com outras possíveis.
A Medida

As medidas psicológicas são consideradas formas de acesso indireto aos


fenômenos psicológicos, por meio de seus atributos e variações.

Por exemplo:

Medir ansiedade é, antes de tudo, identificar o que define ansiedade, quais


são os elementos constituintes (atributos) que a difere de outros fenômenos
fisiológicos e psicológicos. O que se mede portanto, são variações desses
atributos, com base em um nível de mensuração (escala) previamente
definido. (ALCHIERI; CRUZ, 2012, p.36)

A ciência utiliza as medidas para representar, em linguagem matemática,


características de seus modelos teóricos ou da validade das observações.
A Medida

AXIOMAS DA MEDIDA:

1 – Axioma da Identidade;
2 – Axioma da Ordem;
3 – Axioma da Aditividade.

Um axioma é uma premissa considerada evidente e verdadeira,


mesmo que não seja passível de provas.
A Medida

Axioma da Identidade
Uma coisa é igual a si e somente a si; ela se diferencia das demais:

•se a = a, então b ≠ a. Os números ou são idênticos ou são ≠;


•se a = b então b = a;
•se a = b e c = b então a = c: duas coisas iguais a uma terceira são
idênticas entre si.

Na natureza, um fenômeno pode ser parecido com outro, mas é idêntico


apenas a ele mesmo.
Axioma da Identidade
A Medida

Axioma da Ordem
As diferenças entre os números (ou coisas) são quantitativas, há uma
noção de grandeza e magnitude.

Podem ser organizados numa sequência invariável numa escala linear e


crescente, exemplo: 1 < 2 < 3.

Dessa forma, determinadas observações ou fenômenos podem ser


aferidos seguindo certa ordem:

Mínimo ou Máximo
Baixo ou alto
Pouco Frequente ou Muito frequente

Podem ser usados com aspectos qualitativos (Nível social, nível salarial,
etc.) e quantitativos (Desempenho de alunos num teste de 30 itens).
A Medida

Axioma da Aditividade
Os números podem ser somados e produzem um terceiro valor exato que
é justamente a soma das grandezas dos dois ou mais números anteriores
somados.

Na medida psicológica, esse axioma possibilita a definição de escalas de


mensuração intervalares, ou seja, poder aferir propriedades de fenômenos
psicológicos em termos da sua frequência ou intensidade.

Por exemplo: Podemos afirmar que um aluno que acertou 30 questões,


acertou e foi melhor em um grau de 2x do que o aluno que acertou 15
questões.
A Medida

Quanto mais axiomas forem representados no processo da medida, mais


úteis se tornam para a representação e a descrição da realidade
empírica.
O Instrumento

Instrumento é o nome dado a qualquer artefato que tem a função de


estender a ação humana ao meio.

No âmbito da pesquisa, os instrumentos são meios de observação, com a


finalidade de maximizar e tornar mais eficaz a obtenção de dados sobre
o que se quer conhecer.

Já na avaliação psicológica, os instrumentos são recursos materiais de


coleta de dados sobre o que se quer avaliar.

Historicamente, os instrumentos utilizados pelos psicólogos são os testes


psicológicos.
O Instrumento

Os Testes psicológicos visam avaliar e quantificar comportamentos


observáveis através de técnicas e metodologias específicas, embasadas
cientificamente em construtos teóricos que norteiam a análise de seus
resultados.

Para que esses instrumentos ou testes possam ser utilizados devem ter a
qualidade de sua ação verificada através de procedimentos
metodológicos, que assegurem sua eficácia e eficiência.

São quatro as condições necessárias para garantir sua qualidade e


possibilidade de uso seguro:

• A Elaboração e análise dos itens.


• Estudos de Validade
• Estudos de Precisão
• Padronização e Normatização
O Instrumento

Na Elaboração dos itens é importante poder representar todas as possíveis


variações que o atributo médio possa assumir, para poder contemplar a
diversidade das respostas.

Na Análise dos itens, a compreensão de leitura e resposta do item, sua


capacidade de avaliar um determinado atributo, a eficácia da avaliação
das questões e a capacidade dos itens em abarcarem todas as possíveis
manifestações comportamentais do fenômeno em questão, são
investigadas.

Exemplo: Escalas de Ansiedade e Depressão de Beck


O Instrumento

A validade de um teste é seu poder de avaliar um comportamento de


modo a garantir que realmente se possa medir aquilo que se propõe.

Esta etapa tem dois grandes momentos: a validade lógica e empírica.

A validade lógica diz respeito ao estudo e construção teórica do


instrumento, a empírica diz respeito à avaliação das respostas dos sujeitos.

- Conceito do fenômeno psicológico;


- As diversas manifestações comportamentais que ele pode expressar;
- Equivalência de sua medida com outras formas similares de avaliação;
- Possibilidade desta mensuração ter um caráter preditivo na avaliação da
confuta das pessoas.
O Instrumento

A Precisão tem como objetivo verificar a consistência das respostas obtidas


pelos sujeitos no teste. Serve como uma calibração do instrumento, ajustá-lo
especificamente à forma da avaliação.

É procurar saber o quão bem esse instrumento mede aquele fenômeno


psicológico através de análises estatísticas e comparações com testes
similares.
O Instrumento
A Padronização e Normatização de um teste diz respeito, consequentemente, ao
estabelecimento de normas para a aplicação e correção do teste. É necessário
contemplar algumas normas:

A primeira norma diz respeito a constituição do teste: Como ele deve ser
apresentado; qual o tipo de papel a ser usado; qual a disposição dos itens; etc.

A segunda norma se refere à forma de aplicação do teste: Para que idade ele é
indicado; se é passível de ser aplicado de forma grupal ou individual; etc.

A terceira norma contempla à forma de interpretar a classificação dos resultados


obtidos pelos respondentes: Escores padronizados, percentis, etc.
ATENÇÃO!
Padronização e Normatização são semelhantes e muitas vezes tidos como
sinônimos, mas não são a mesma coisa.

A Padronização está ligada à aplicação do teste, já a Normatização está


ligada à correção do mesmo.
Vocês terão uma aula especial apenas sobre isso!
O Processo de Avaliação

Podemos caracterizar o processo de avaliação em três dimensões:

Dimensão Observacional Observação do


comportamento
infantil na atividade
Foco no registro e categorização lúdica
Utilização de do comportamento
instrumentos validados e
padronizados com a
intenção de expressar a Verificar processo
atividade psicológica subjetivo através de
antes mesmo de sua questionários e
aparição. entrevistas
Dimensão Inquiridora
Dimensão Representativa

Foco na interação Verbal e não


Foco na ação representada
verbal
O Processo de Avaliação
Demanda Aplicada (Fins da avaliação psicológica, o que se quer investigar).

Especificação da demanda, esclarecimentos sobre o problema,


Instrução
compreensão teórica.

Definição dos procedimentos de investigação, uso de técnicas e


Método
instrumentos para investigar o que se deseja.

Diagnóstico Formulação de Hipótese diagnóstica, indicação clínica, evidências.

Prognóstico Futuro Provável do curso dos acontecimentos.

• Atestados
Comunicação de • Pareceres
resultados • Laudos
• Relatórios
Referências
ALCHIERI, J. C.; Cruz, R. M. Avaliação psicológica: conceito, métodos e instrumentos.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.

AMBIEL, R. A. M. et al. Avaliação psicológica: guia de consulta para estudantes e


profissionais de psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

Para a próxima aula:

PASQUALI, Luiz (Org.) Técnicas de exame psicológico – TEP. 2 ed. São Paulo: Casa do
Psicológico, 2006. Capítulo 1.

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