Você está na página 1de 13

19

Avaliação psicológica no adulto

Manuela Ramos Caldas Líns


Carlos Manoel Lopes Rodrigues
Mírela Dantas Ricarte

No decorrer dos últimos anos observa-se que psicológicos, direcionado a pessoas ou grupos,
a saúde mental vem sendo tratada com cuidado feito exclusivamente pelo psicólogo, através de
não só pelos especialistas da área da saúde como instrumentos e técnicas que foram prévia e cui-
pelo público em geraL A ciência psicológica vem dadosamente desenvolvidas e validadas (C0nse.
ganhando espaço nas mídias e outros meios de lho Federal de Psicologia - CFP, 2013). Logo,
divulgação e cada vez mais pesquísas e discussões a AP parte de uma coleta de informações apro-
ampliam o debate acerca da importância do cui- fundada acerca do histórico dos sujeitos, buscan-
dado com as questões internas. Atrelado a isso, os do explicar como os fenômenos psicológicos se
consultórios psicológicos e psiquiátricos recebem constituem (Borsa 8c Muniz, 2016).
um público cada vez mais diversificado, tanto em Por intermédio da AP, os profissionais tentam
termos de características sociais e econômicas entender questões acerca do funcionamento psi-
quanto no que se refere as” demandas apresenta- cológico e as implicações que um determinado
das, o mesmo acontecendo com áreas como tra- modo de funcionar têm na vída das pessoas. Este
balho e educação, onde a demanda pela inserção processo, portanto, é capaz de fornecer informa-
da psicologia tem se intensificado. Tendo isso em ções relevantes para 0 desenvolvimento de hi-
vista, o presente texto visa contribuir com a área, póteses sobre as características psicológicas, que
apresentando algumas questões referentes à Ava- podem se referir a como determinadas pessoas
líação Psicológica (AP), especialmente direciona~ realizam atividades, à qualidade das relações in-
da para o público adulto. Essa discussão faz~se terpessoais que estabelecem, dentre outras.
importante, pois o processo de diagnóstico e
A AP pode ser realizada em qualquer con-
intervenção, nos mais variados contextos, é per-
texto de atuação do psicólogo (Lins, Muniz, &
meado pela avaliação, sendo condição sine qua
Uehara, 2018), demonstrando que os profissio-
non para uma atuaçâo profissional efetiva, ética
nais, independente da área de atuação, preci-
e respeitosa, uma vez que esta tem se mostrado
sam estar capacitados para realizá-la com proc-
uma área sensível da atuação profissional (Zaia,
minência, garantindo que sejam respeitados os
Oliveira, õc Nakano, 2018).
aspectos éticos e técnicos preconizados pelo
A AP consiste em um processo técnico e CF,P especificados principalmente na Resolu-
científico de levantamento de dados sobre ca- ção n° 9, de 25 de abril de 2018 (CFP, 2018)-
racterísticas psíquicas e o estado e/0u processos Dentre esses contextos, pode-se citar 0 clínico,
19 Avaliação psicológica no adulto

da saúde e hospitalar, escolar e educacional, fo- devem ser utilizados de forma isolada, tendo em
rense, do trabalho e organizações, esporte, so- vista que fornecem informações parciais. Quanto
cial/comunitário, trânsito, orientação e aconse- mais fontes de informaçào o psicólogo utilizar,
lhamento vocacional e/0u profissional e outros maior será a segurança de que suas conclusões
(Noronha 8C Reppold, 2010). se aproximam da realidade. Para Nunes, Lou-
A AP também pode ser desenvolvida junto renço e Teixeira (2017) a escolha dos instrumen-
aos mais variados públicos, desde crianças e ado- tos a serem utilizados depende do objetiv0, do
lescentes, até adultos e idosos. No que concerne referencial teórico e da finalidade da avaliaçãa
especificamente aos adultos, foco do presente Dentre as ferramentas/instrumentos mais comu-
capítulo, Oliveira e Silva (2017) afirmam que mente utilizados, pode-se citar a observação, a
os motivos que levam esse público a buscar uma entrevista e 0 teste psicológic0.
avaliação são diversos como, por exemplo, “se- No que concerne a observação, pode-se di-
leção para um emprego, candidatura para obter zer que se trata de um monítoramento de ações
a carteira nacional de habilitação para dirigir os por meios visuais ou eletrônicos (C0hen, Swer-
mais variados tipos de automóveis, obtenção de dlik, 8C Sturman, 2014). Esse monitoramento no
permissão para porte de armas, para auxílio em âmbito científico, contudo, difere do realizado
processos judiciais, para diagnóstico de quadros cotidianamente por todas as pessoas. Precisa ser
clínicos etc.” (p. 319). realizado de maneira sistemática e objetiva, com
Independente do público-alvo, para atender registros detalhados e cuidadosos dos compor-
as mais Variadas demandas, esse processo contém tamentos tais como se apresentam (Nunes, Lou-
determinados passos fundamentaís para sua efeti- renço, 8C Teixeira, 2017). Para tanto, podem ser
vidade, tais como levantar os objetivos da avalia- utilizados roteiros ou protocolos de avaliaçã0, os
ção, estabelecer os instrumentos e estratégias mais quais podem ser estruturados e rígidos ou mais
adequadas para o caso, coletar informações com flexíveis. O uso desse materíal de registro ajuda
o auxílio das ferramentas selecionadas, integrar a minimizar a tendenciosidade do observador,
os dados coletados e comunicar os resultados de segundo essas últimas autoras.
forma cuidadosa e eticamente determinada (CFP, Essa técnica, em geral, é utilizada em conjun-
2013; Cunha, 2003; Rigoni &', Sá, 2016). to com outros instrumentos (entrevistas, testes,
Visando cumprir esses passos de forma ética dinâmicas), mostrando-se relevante por permi-
e responsável, 0 psicólogo deve utilizar as técni- tir 0 acesso direto a comportamentos observá-
cas e ferramentas disponíveis considerando não veis. Isso significa, de acordo com Lins e Barros
apenas que sejam pautadas em critérios científi- (no prelo), que é possível avaliar como o sujeito
cos, com dados empíricos que comprovem sua se comporta em uma determinada situação no
efica'cia, mas os contextos em que cada uma momento em que ela ocorre ao invés de avaliar
pode ser usada (CFP, 2013; 2018). Lins, Muniz seu relato posteri0r, o qual pode vir deturpado
e Uehara (2018) afirmam que os instrumentos por diversos fatores (percepção, tempo trans-
psicológicos são fundamentais para o trabalho corrid0, esquecimento, dentre 0utros). Sendo
avaliativo e que cabe ao profissional conhecê-los assim, a observação fornece dados ao psicólogo
e utilizá~los de forma adequada. Ademais, não acerca dos comportamentos observados e como
Manuela Ramos Caldas Lins. Carlos Manoel Lopes Rodrigues e Mirela Dantas Ricarte

eles ocorrcm, além de informações sobre as in- Nas entrevistas clínicas, especifícamente, d¡.
terações estabelecidas e as variáveis individuais e versas informações devem ser coletadas para que
situacionais (Souza õc Aiello, 2018). o profissional possa não apenas compreender
0 motivo da procura pelo atendimento, mas as
Já no que se refere a entrevista, pode-se dizer
condições históricas, sociais, culturais, físicas e
que se trata de “um conjunto de técnicas de in-
emocionais que permeiam essa busca. Logo, du-
vestigação, de tempo delimitado, dirigido por um
entrevistador treinado, que utiliza conhecimen- rante as primeiras entrevistas deve buscar com-
tos psicológicos em uma relação profissional...” preender a história de vida do cliente, bem como
(Tavares, 2000, p. 45). Entrevista psicológica não a história de sua sintomatologia. No caso especí-
deve ser confundida com uma mera conversação fico do adulto, devem ser investigados aspectos
entre duas ou mais pessoas, pois envolve objetivos reIacionados aos relacionamentos românticos, a
a serem alcançados. Sendo assim, 0 psicólogo pre- vida familiar, profissional, social e alteraçóes físi-
cisa saber o que investigar para poder conduzir o cas (Hutteman et al., 2014). Na Tabela 1 épossí~
processo, permitindo obviamente que o cliente se vel identificar algumas informações importantes
posicione e tenha espaço para expressão. de serem aprofundadas.

Tabela 1 Exemplo de itens que podem ser investigados durante as entrevistas clínicas
Tópicos Exemplos

Nome, sexo, data de nascimento, idade, estado civil, naturalidade. número de fIIhos (nome e idade),
Dados pessoais
com quem reside, nome dos pais e irmãos (genograma)
Descrição dos sintomas, considerando a evolução ao Iongo do tempo, efeitos da queixa (incluir
Queixa
efeitos fIsiológicos), tratamentos anteriores, sentimentos despertados

História de vida: Eventos marcantes reIacionados ao desenvolvimento psicomotor e Iinguagem, socialização,


infância aspectos escolares. condições de saúde. características emocionais

História de vida: Eventos marcantes reIacionados à socialização, aspectos escolares. condições de saúde e
adolescéncia características emocionais

Ocupação atuaI, relação com colegas, número de empregos e duração. satisfação com o trabalho
EstudolTrabtho atual
atua|. situação ñnanceira

Relacionamentos românticos anteriores e atuais (quantidade e qualidade das relações, incluindo


Relações sociais
aspecto sexual), círculo de amizades, capacidade de se reIacionar, interesses sociais
Dia a dia Rotina dia'ria. hobbies, Iazer, vícios. estressores

Fontez Adaptada pelos autores de Silva e Bandeira (2016).

Em geraL 0 adulto é capaz de fornecer in- processo avaliativo, fornecendo informaçóes rele-
formaçóes sobre si, exceto em casos de acidente, vantes para o entendimento do psicólogo. Em si-
intoxicações ou transtornos que afetam suas fun~ tuações clínicas, caso existam outros profissionais
çóes cognitivas. Apesar disso, recomenda-se cau- (psiquiatras, neurologistas, dentre outros) atuan-
tela na coleta de dados e na verificação de sua ve- do junto ao caso, também podem ser ouvidos.
racidade. Sendo assim, quando necessário, outros A forma e estrutura das entrevistas deve ser
informantes (cônjuges, irmãos, amigos, dentre analisada em função dos objetivos da A,P d35
outros) podem ser convidados a participarem do características dos avaliandos e do contexw
19 Avaliação psicológica no adulto -

de atuação. A utilização de roteiros de entre- Destaca-se que não se deve aplicar apenas um
vistas estruturadas ou semiestruturadas podem único teste e que o número de testes pode ser al-
ser úteis em vários contextos como, por exem- terado conforme a demanda para corroborar ou
plo, a Entrevista de Formulação Cultural (EFC) descartar alguma conjectura. Além disso, devem
sugerida no Manual Diagnóstico e Estatístico ser contextualizados com os demais instrumen-
de Transtomos Mentais - DSM-5 (American tos da A,P observando e investigando a singulari-
Psychiatric Association, 2014) que tem por fi- dade do sujeito diante do cenário sócio-histórico
nalidade contextualizar os comportamentos que está inserido, para compor os resultados de
observados na vivência dos indivíduos dentro forma global, compreendendo os fenômenos so-
de sua realidade socioculturaL Já a Composite ciais, cognitivos e emocionais (Muniz, 2017).
International Diagnostic Interuiew (Cidi) tem Para garantir a qualidade e eficácia de um
sc mostrado aplicável em serviços de tríagem teste é preciso se ater às condições de elabora-
em saúde mental (Viana, 2016), sendo uma en- ção e análise de itens, validade, precisão e pa-
trevista estruturada com finalidade de identifí- dronização, como quais as questões 0 teste se
cação de sintomas e comportamentos caracte- propõe a avaliar, se são eficazes em identificar os
rísticos de transtornos mentaís. fenômenos investigados de forma consistente, se
A decisão de uso de roteiros de entrevistas es- possuem normas para a aplicação com o manual
truturadas ou semiestruturadas, entrevistas livres de instrução, que deve conter todos os requisi-
ou mesmo a combínação das estratégias depende tos para a utilização (Alchieri, 2003). Ademais,
também da familiaridade e habilidade do pr0- Rígoni e Sá (2016) afirmam que 0 psicólogo, na
fissional em empregar essas técnicas e conduzi- escolha dos testes psicológicos, deve se atentar
-las de forma a obter as informações necessárias às características do cliente (idade, sexo, esco-
para o processo da AP (Silva õc Bandeira, 2016). laridade, 0cupação/pr0fissão, condições físicas
Questões teórico-metodológicas perpassam o etc.), à ordem de aplicação dos instrumentos e
status que as entrevistas assumem no processo ao ritmo empregado.
de AP e a forma que serão utilizadas e devem ser Visando melhorar a qualidade da prátíca pro-
consideradas a fim de se manter a coerência de fissional, 0 CFP criou o Sistema de Avaliação de
todo processo (Barbieri, 2010). Testes Psicológicos (Satepsi), no qual é possível
Por fim, tem-se os testes psicológicos. Estes consultar uma lista com os instrumentos que es-
podem ser definidos como instrumentos padro- tão aprovados para uso profissional, isto é, que
nizados que buscam fornecer amostras do com- apresentam critérios mínimos de qualidade téc-
portamento, com 0 objetivo de descrever e/ou nica e científica. Para Serafini, Budzyn e Fonseca
mensurar processos psicológicos (CF,P 2012). (2017), por mais que essa lista represente um guia
Eles são administrados em função do que se de orientação, apenas a aprovação do instrumento
pretende avaliar no comportamento humano, não indica que ele possa ser utilizado com qual-
através de procedimentos técnicos e metodolo- quer propósito ou contexto. É necessar'io, segun-
gias específicas, a fim de descartar variáveis que do as referidas autoras, que o profissional leia o
possam eventualmente interferir nos resultados manual e se atente às pesquisas realizadas duran-
(Bueno õc Ricarte, 2017). te a construção do instrumento para decidir se
_ Manuela Ramos Caldas Lins, Carlos Manoel Lopes Rodrígues e erela Dantas Ricane

pode ou não utilizá-lo em determinada situação. psicométricas fundamentaig 0 uso das tabelas
lsso indica que cabe ao psicólogo a responsabili- normativas e sua interpretação e a capacidade de
dade pelo uso do instrumento (CFP, 2018; Hutz, avaliar a adequação da fundamentação teórica
2011), inclusive no que concerne à avaliação do dos instrumentos para atendimento das diversas
potencial de uso, selecionando testes tecnicamente demandas da AP, são cruciais para a escolha e 0
confiáveis e considerando os vieses culturais (ITC, uso adequado por parte dos profissiona1'sdaps¡.
2003), bem como avaliando as Consequências po~ cologia. A seguir (Tabela 2) serão apresentados
tenciais de seu uso (Aera, APA, 8c NCME, 2014). alguns testes psicológicos que podem ser utiliza.

Desta forma, conhecimentos básicos sobre dos na avaliação de adultos.


validade, fidedignidade e demais características

Tabela 2 Principais testes psicológicos aprovados para uso junto a adultos pelo CFP
Construto Nome Editora Faixa etária

Escala Wechsler Abreviada de Inteligência


Casa do Psícólogo 6 a 89 anos
(Wasi)
Escala de Inteligência Wechsler para Adultos
Casa do Psicólogo 16 a 89 anos
(Wais-III)
Escala Geral (MPR) Casa do Psicólogo 10 a 69 anos

G-36 - Teste Não Verbal de Inteligência Vetor 18 a 66 anos

G-38 - Teste Não Verbal de Inteligência Vetor 18 a 66 anos

Matrizes Avançadas de Raven Casa do Psicólogo 18 a 63 anos


Inteligência
R-1 Forma B - Teste Não Verbal de Inteligência Vetor 16 a 67 anos

R-1 - Teste Não Verbal de Inteligência Vetor 16 a 67 anos

Teste Conciso de Raciocínio (TCR) Casa do Psicólogo 18 a 65 anos

Teste de Inteligência (TI) Vetor 18 a 67 anos

Teste de Inteligência Geral Não Verbal (TIG-NV) Casa do Psicólogo 10 a 79 anos

Teste de Inteligência Verbal (TIV) Vetor 17 a 50 anos

Teste Não Verbal de Inteligência Geral Beta III Casa do Psicólogo 14 a 83 anos
Bateria de Funções Mentais para Motorista -
Vetor A partir de 18 anos
Teste de Memória (BFM-2)

Bateria Geral de Funções Mentais - Teste de


Vetor A partir dos 15 anos
Memória de Reconhecimento (BGFM-4)
Figuras Complexas de Rey - Figura A Casa do Psicólogo A partir dos 5 anos

Memória Memóría de Reconhecimento de Faces


Edites 18 a 89 anos
(Memória F)
Teste de Memória de Reconhecimento (TEM-R) Casa do Psicólogo 17 a 53 anos
Teste de Memória Visual de Rostos (MVR) Casa do Psicólogo 18 a 80 anos
Teste de Memória Visual para o Trânsito (MVT) Casa do Psicólogo 16 a 67 anos
Teste Pictórico de Memória (Tepic-M) Vetor 17 a 97 anos
19 Avaliação psicológica no adulto -

Bateria de Funções Mentais para Motorista -


Vetor A partir dos 18 anos
Teste de Atenção Concentrada (BFM-4)
Bateria de Funções Mentais para Motorista -
Vetor 18 a 59 anos
Testes de Atenção (BFM-1)
Bateria Geral de Funções Mentais - Testes de
Vetor 15 a 59 anos
Atenção Concentrada (BGFM-2)

Bateria Geral de Funções Mentais - Testes de


Vetor 18 a 59 anos
Atenção Difusa (BGFM-1)

Bateria Psicológica para Avaiiação da Atenção


Atenção Vetor 6 a 82 anos
(BPA)
Escala de Atenção Seletiva Visual (Easv) Casa do Psicólogo 18 a 70 anos

Teste de Atenção Concentrada (Teaco-FF) Casa do Psicólogo 18 a 61 anos

Teste de Atenção Concentrada (AC15) Vetor 16 a 60 anos


Teste de Atenção Dividida (Teadi) Casa do Psicólogo 18 a 72 anos

Teste de Atenção AIternada (Tea|t) Casa do Psicólogo 18 a 72 anos

Teste de Atenção Seletiva (TAS) Vetor 15 a 60 anos


Teste de Atenção Dividida e Sustentada Vetor 18 a 72 anos

As Pirâmides Coloridas de Pflster (TPC) Casa do Psicólogo 18 a 66 anos

Bateria Fatoria| da Personalidade (BFP) Casa do Psicólogo 10 a 75 anos

Casa - Árvore - Pessoa (HTP) Vetor A partir de 8 anos


Escala Fatoria| de Extroversão (EFEx) Casa do Psicólogo 17 a 45 anos

Escala Fatoria| de Socialização (EFS) Casa do Psicólogo 14 a 64 anos

lnventário de Cinco Fatores NEO Revisado -


Vetor 18 a 74 anos
versão curta (NEO-FFI-R)

Personalidade lnventário Fatoria| de Personalidade (IFP-II) Casa do Psicólogo 14 a 86 anos

Palográflco Vetor 16 a 52 anos

Psicodiagnóstico Miocinético (PMK) Vetor 18 a 66 anos

Questionário de AvaIiação Tipológica (Quati) Vetor 18 a 34 anos

Rorschach - Escola Francesa Casa do Psicólogo 29 a 59 anos

Rorschach - Sistema Compreensivo Casa do Psicólogo 17 a 47 anos

Zulliger - Escola de Paris Hogrefe 18 a 70 anos

Z-teste Coletivo e Individual Hogrefe 16 a 78 anos

Fonte: Elaborada pelos autores com base nas informações disponíveis no Satepsi (busca realizada em
janeiro de 2019).

Esses testes avaliam características psicoló- resultados (índices estatísticos mais robustos)
gicas em adultos pertencentes a diferentes fases para um público e não 0utr0. Ademais, os pró-
do ciclo vital (j0vens adultos, médios adultos e prios construtos podem configurar-se diferente
velhos adultos) e é preciso cautela na escolha dependendo da idade e características sociais e
do instrumento e interpretação de seus resulta~ culturais apresentadas. Por exemplo, pode ser
dos. Pode ser que um deles apresente melhores identificado um decréscimo na atenção e me-
19 Avaliação psicológica no adulto -

Análisc da dcmanda Planejamento da AP

7
EntreVIStas
l

4
L
Reccbimenlo e análisc da dcmanda, . Escolha dasfontesfundamentaise com_ . Estabelecmento de rappomapresema_

“«
'
Ídentíñcação dos OleeÚVOS da AR idcn- plemenlares de informação (Res. CFP ção do trabalho e aprofundamento da

1
tiñcação d° conteXtO (Cl¡niC0› 0rb'an1" _›.\ 09/2018). Levantamento de hipóteses __›: demanda. Anamnese, descrição e ana-'
zacíonaL educacionaL forense etc.), diagnósticas. Previsão de número de lise dos aspectos pessoais,re1acionals'c“.;

j
identificação dos interessados e demais sessões, recursos materíais e de mfta'. s¡-stêm¡cos.
questões pertínentes. estrutura para AP. _ ,..:«_'3.°

-
À____:JÍ
W
Wm› 'V

Testagem ' Anal'ise e síntese de resultados Í Elaboração de documentos


(
° Aplicação dos instrumentos propostos. 5 ° Integração das informações proveni~ " - Elaboração dos documentos decorren~
í Identíñcação de possíveis fontes de vie- ' entes das fontes utilizadas. Articulação tes da AP em consonan^cia com a

.
ses. Correção e sm'tese dos resultados _._›$ teórico-metodológica entre resultados _› CFP 07/2003.
relevante para o atendimento da econfrontaçãocomhipo'tesesd1a'gn,os-'lr
x

demanda. ticas deñnidas.

'
4 ;'._.

Encerramento do Processo
' Entrevísta devolutíva, relato dos resul-
tados, diagnóstico e progno'stico.
Arquivamento e guarda da documen~
tação (Res. CFP o7/2003, 01/2oo9).

Figura 1 Esquema de AP para população adulta


Fonte: Elaborada pelos autores.

Estudo de caso Visando avaliar a demanda trazida pelo


Cliente, foram efetuados dez encontros, com
N.N., 27 anos, sexo masculino, está cursan-
duração de 50 minutos cada. Nestes, reahz'ou-se
do o quarto período de Arqueologia em uma uni-
observações, entrevistas e a administração de
versidade pública e trabalha em um laboratório
testes psicológicos, selecionados em função dos
vinculado ao próprio curso. Buscou atendimen-
sintomas indicados na demanda e consequente
to psicológico em decorrência de sua mudança
hipótese diagnóstica, utilizando-se a Bateria Fa-
comportamental recente. Relatou que não tem
torial de Personalidade - BFP (Nunes, Hutz, õc
tido vontade de levantar da cama, fazer as tare-
Nunes, 2013) e o Inventário de Depressão de
fas~d1ar1as ou at1v1daides que antes,tra21am sen- Beck _ BDLH (Goren5tein, Panà Werlang & Ar_
saçao de prazer. Que1x0u-se tambem de alguns
- ^ . , . gimon,2012).
smtomas latentes como: desan1mo, choro fac11,
apatia, tristeza profunda e permanente. Todos Durante 35 entreVISÍaSa N-N- mformou que
esses síntomas se intensificaram gradativamente seus Pals 0 Presswnaram Paral que flzesse uma
há um ano. graduação e, ao ser aprovado em cursos de três
Manuela Ramos Caldas Lins, Carlos Manoel Lopes Rodrigues e Mirela Dantas Ricarte

universidades diferentes, escolheu o que cursar comportamentos explosivos diante de qualquer


considerando 0 mercado de trabalho e as disci- situação estressora ou aversiva.
plinas previstas. Disse que desde o seu primeiro Durante as entrevistas ele mostrou-se inqu¡e.
período teve dúvidas quanto à escolha por tri- tO e ansioso, sempre mexendo na cadeira ou em
lhar um percurso acadêmico, tendo tido apenas objetos aleatórios c0m0, por exemplo, caneta e
experiências desagradáveis, junto a professores relógi0. Manteve a mesma postura de seu corpo
que considera “dificultadores da aprendizagem” em praticamente toda a entrevista, com os bra-
(sic). Quanto ao apoio da família em relação ao ços apoiados sobre a mesa e os ombros levemcn-
curso, disse que preferiam que a escolha tivesse te erguidos; gesticulou poucas vezes. Quanto ao
sido um curso mais rentável e reconhecido como, que foi perguntado, deteve-se a responder de
por excmplo, direito ou engenharia. Disse que forma simples e curta.
seus pais nunca referiram medicina por saber que
No que concerne aos testes, os resultados
“não tinha competência para tanto” (sic).
do BFP indicaram, de maneira geral, que N.N.
Em seu tempo livre, o cliente relatou que am- possui padrões relacionados à instabilidade
tes de iniciar a graduação, saía com alguns ami- emocional e passividade diante das situaçóes
gos esporadicamente, mas que passava bastante da vida. Mostra-se um indivíduo pouco falante,
tempo no computador jogando on-line. Disse que não busca o contato com outras pessoas.
nunca ter gostado de praticar esportes ou se en- Não possui traços de comportamentos explo-
volver em atividades coletivas. Contudo, atual- ratórios, demonstrando pouca flexibilidade e
mente não consegue mais “fazer nada” (sic) com abertura a novas ideias ou costumes, com prefe-
os amigos. Inicialmente restringiu suas ativida- rência a executar as tarefas diárias de maneira já
des por não ter tempo e aos poucos foi simples- conhecida. Apesar disso, os resultados indicam
mente perdendo o interesse. No âmbito profís- motivação para o sucesso, perseverança, capa-
sional, relata que faz apenas o necessário e que cidade de planejamento de açóes em funçào
só trabalha porque precisa do dinheiro, apesar de uma meta, bem como nívcl de organização
de julgar que recebe pouco, o que não permite a e pontualidade. Os escores obtidos no BDI-II
independência financeira. apontam para sintomas depressivos com inten-
Ainda na entrevista, N.N. informou que sidade significativa.
apresenta sono desregulado, além de sentimen- A integração dos dados das entrevistas e dos
to de inferioridade por não conseguir ter 0 de~ instrumentos psicológicos indicaram um estado
sempenho acadêmico que julga ser esperad0. de humor depressivo e apatia, acompanhado
Segundo ele, há aproximadamente 1 ano, com de irrítabilidade. Além disso, foram percebídas
0 aumento das exigências na graduação e no tra- configurações afetivas instáveis relacionadasà
balho, “a tristeza invadiu sua vida” (sic) e tirou impotência, infelicidade, desesperança, desam-
paulatinamente sua vontade de viver e realizar paro, rejeição e raiva. Esses resultados sugerem
tarefas. Nos últimos 3 meses ele disse não ter a presença de um quadro depressivo reativo re-
ânimo, com dificuldades para levantar da cama, lacionaclo com a dificuldade de escolha e vivên-
o fazendo apenas mediante “os berros” (sic) da cia acadêmico/profissionaL Recomendou-se que
genitora. Essa situação 0 cleixa mais reativo, com o cliente realize psicoterapia individual com 0
_\ Manuela Ramos Caldas Lins, Carlos Manoel Lopes Rodrigues e Mirela Dantas Ricarte

leiros. Psico, 45(1), 83-89 [doi: 10.15448/1980- (Orgs.). Aualiaçâo psicológica: aspectos teóricos e
8623.2014.1.13173]. práticos (pp. 303-320). Petrópolis: Vozcs.
Hutz, C. (2011). Manuais especificando seus con- Rigoni, M.S. õc Sá, S.D. (2016). O processo ps¡_
textos de aplicação e âmbitos de ação. In Conselho codiagnóstico. In C.S. Hutz, D.R. Bandeira, CM
Federal de Psicologia (Org.). Ano da avaliação psico- Trentini, õc ].S. Krug (Orgs.). Psicodiagnóstico (pp_
lógica: textos geradores, 49-52. 27-34). Porto Alegrez Artmed.

Hutteman, R., Hennecke, M., Orth, U., Reitz, A., õc Rodrigues, C.M.L. õc Faiad, C. Avaliação psicossocial
Specht, ]. (2014). Developmental tasks as a frame- no contexto das normas regulamentadoras do traba-
work to study personality development in adulthood lho: desafios e práticas profissionais. Psicologz'aRez/ista,
and old age. European journal of Personality, 28, 27(2), 287-310 [doi: 10.23925/2594-3871.2018v27
267-278. i2p287-310].

Lins, M.R.C. ôc Barros, L.O. (no prelo). Avaliação de Serafini, A.J., Budzyn, C.S., ôc Fonseca, T_L_R_
pessoas com deficiência visuaL In J.C. Borsa (Org.). (2017). Tipos de testez características e aplicabilida-
Avaliaçâo psicológica com indiuíduos em condição de de. In M.R.C. Lins õc J.C. Borsa (Orgs.). Avaliaçâo
vulnerabilidade psicossociaL São Paulo: Vetor. psicológica: aspectos teóricos e práticos (pp. 58-77)_
Petrópolisz Vozes.
Lins, M.R.C., Muniz, M., 8C Uehara, E. (2018). A
Silva, M.A. 8c Bandeira, D.R. (2016). A entrcvis~
importância da entrevista inicial no processo ava-
ta de anamnese. In C.S. Hutz, D.R. Bandeira, C.M.
liativo infantil. In M.R.C. Lins, M. Muniz, 8C L.M.
Trentini, 8c J.S. Krug (Orgs.). Psicodiagnóstico (pp.
Cardoso (Orgs.). Avaliação psicológica infantiL São
51-67). Porto Alegre: ArtMed.
Paulo: Hogrefe.
Souza, D.H. õc Aiello, A.L.R. (2018). Técnicas de
Muniz, M. (2017). Competências e cuidados para a
observação no contexto clínico infantiL In M.R.C.
administração da avaliação psicológica e dos testes
Lins, M. Muniz, õc L.M. Cardoso (Orgs.). Avaliaçâo
psicológicos. In M.R.C. Lins 8C ].C. Borsa (Orgs.). psicológica infantíL São Paulo: Hogrefe.
Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos
(pp. 38-55). Petrópolis: Vozes. Tavares, M. (2000). A entrevista clínica. In ].A.
Cunha. Psicodiagnóstico - V (pp. 45 -5 6). Porto Alegrez
Noronha,A.P.P. õc Reppold, C.T. (2010). Considerações Artmed.
sobre a avaliação psicológica no BrasiL Psicologia:
Ciência e Profissão, 30, 192-201. Viana, M.C. (2016). Composite International
Diagnostic Interview (Cidi). In C. Gorenstcin, Y.P.
Nunes, M.C.T., Lourenç0, L.J., õc Teixeira, R.C.P. Wang, õc I. Hungerhühler (Orgs.). Instrumentosde
(2017). Avaliação psicológica: 0 papel da observação avaliação em saúde mental (pp. 64-71). Porto Alegrez
e da entrev1'sta. In M.R.C. Lins õc J.C. Borsa (Orgs.). Artmed.
Avaliação psicológicm aspectos teóricos e práticos
Zaia, P., Oliveira, K.D.S., õc Nakan0, T.D.C. (2018).
(pp. 23-37). Petrópolisz Vozes.
Análise dos processos éticos publicados no Jornal
Oliveira, S.E.S. õc Silva, M.A. (2017). Avaliação psi- do Conselho Federal de Psicologia. Psicologia:
cológica de adultos: especificidades, técnicas e C0n- Ciência e Profissão, 38(1), 8-21 [doi: 10.1590/
textos de aplicação. In M.R.C. Lins õc J.C. Borsa 1982-3703003532016].
~_1,à'gmpêndio de

Makílim Nunes Baptista / Monalisa Mun12'

Carolm'e Tozzi Reppold / Carlos Henrique Sancineto da Süva Nunes


Lucas de Francisco Carvalho / Ricardo Pr1m°i / Ana Paula Porto Noronha

Alessandra Gotuzo Seabra / Solange Muglia Wechsler


Cláudío Slm'on Hutz / Lmz' Pasquali
(Orgamza'dores)

EDITORA

Você também pode gostar