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INSTITUTO FRATELLI – PSICOLOGIA E SAÚDE

LAÍS RIBEIRO

FORMAÇÃO EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA


ESTUDO DE CASO: CASO JL.

SALVADOR
2023
1. Introdução

A avaliação psicológica pode ser definida como um processo sistemático de


investigação sobre aspectos subjetivos de um indivíduo, grupo ou instituição. Esta ocorre de
forma estruturada, em contextos e objetivos delimitados, sendo composta por métodos,
técnicas e instrumentos. Seus objetivos variam de acordo com a demanda, cliente e contexto
do serviço. A exemplo, pode ter como objetivo, no contexto clínico, a classificação
diagnóstica e o planejamento de intervenções; no âmbito organizacional, por outro lado, pode
ser utilizado em processos de recrutamento para selecionar os candidatos mais aptos no
momento, de acordo com a vaga (PRIMI, & NUNES, 2010).
Ademais, a avaliação psicológica pode ser compreendida como uma área bastante
ampla dentro da psicologia, sendo esta muito importante no que tange o processo histórico de
desenvolvimento da psicologia com ciência e profissão tanto no contexto nacional como
internacional (PRIMI, 2018). Um exemplo disso é a Lei Federal nº 4.119 de 1962, que
regulamentou a profissão da psicologia no Brasil, visto que a avaliação psicológica foi
reconhecida como uma das funções privativas do psicólogo (PRIMI, 2018).

2. Definição do tema específico

A avaliação neuropsicológica pode ser compreendida como um processo de


investigação no qual busca-se utilizar de técnicas, como entrevistas, observações, provas de
rastreio e testes psicométricos com o intuito de identificar o nível de integridade ou de
comprometimento de determinadas funções cognitivas (RAMOS & HAMDAM, 2016). De
acordo com Ramos e Hamdam (2016), tal processo tem como objetivos: a identificação e
descrição de prejuízos ou alterações no funcionamento psicológico, diagnóstico diferencial
em casos de alterações não detectadas por instrumentos de neuroimagem, dentre outros. Além
disso, segundo a literatura, a avaliação neuropsicológica também auxiliar na elaboração de
um diagnóstico clínico, no entendimento do perfil cognitivo do cliente, no estabelecimento de
prognóstico e de programas que visem o tratamento do sujeito (Harvey, 2012;
Tirapu-Ustárroz, 2011).
Harvey (2012) ainda aponta que a avaliação neuropsicológica surgiu com o propósito
de avaliar indivíduos que sofreram algum dano cerebral durante os períodos de guerra. Até os
anos 50 do século XX, tal serviço estava sendo ofertado de forma centralizada para o
diagnóstico diferencial (VAKIL, 2012), tendo o período da Segunda Guerra Mundial como
imprescindível para o desenvolvimento da área, a partir dos cuidados realizados com
soldados vítimas de lesões cerebrais. Hoje, tal área pode ser considerada bastante
desenvolvida, possuindo uma gama de possibilidades de atuação e intervenção. Em
conformidade a isso, a literatura traz que, com o desenvolvimento de técnicas de
neuroimagem, a neuropsicologia clínica passa a se preocupar com a identificação de forças e
fraquezas cognitivas, de mecanismos compensatórios (BILDER, 2011), além de auxiliar na
investigação de substratos neurais relacionados a fenômenos psicológicos complexos
(MORAN & ZAKI, 2013).

Contextualização dos atendimentos

O caso a ser apresentado é referente ao estudo de caso realizado por STEIBEL E


ALMEIDA (2010). Tal produção diz respeito ao paciente, nome fictício JL, sexo masculino,
67 anos, casado, com curso superior em Engenharia Civil. Quando chegou à clínica, JL
trouxe como queixa não se lembrar onde colocava os objetos, além de ter dificuldades para
manter atenção. Além disso, JL referia se sentir mais cansado, sem vontade de fazer suas
atividades como antes, queixando-se bastante de sua memória. Expressou também histórico
de esquecimento há um ano, além de que sua esposa tem percebido que ele estava mais
irritado e sem paciência. JL preencheu um questionário relacionado a declínio cognitivo,
contudo seu resultado indicou a não presença de tal aspecto. Com isso, tendo em vista a
queixa cognitiva e os sintomas depressivos, levantou-se a hipótese de quadro demencial,
sendo encaminhado, com isso, para a realização de avaliação neuropsicológica.

3. Descrição dos Atendimentos

A avaliação ocorreu em duas sessões, sendo aplicados uma bateria de testes, além de
um questionário sociodemográfico e de condições de saúde, as quais poderiam influenciar
nos resultados da avaliação. Na primeira sessão, foi utilizada a versão reduzida da escala
CDR (Clinical Dementia Rating), que foi validada por Macedo-Montaño e Ramos (2005),
além dos testes de rastreamento: Mini Exame do Estado Mental (MEEM), o Rey Auditory –
Verbal Learning Test (RAVLT), o teste de Fluência Verbal (FAS), o teste de trilhas e o
Rivermead Behavioral Memory Test (RBMT). Ademais, também foi aplicada a escala
geriátrica para depressão com a finalidade de identificar a presença de sintomas depressivos.
Já na segunda sessão, foi aplicado o teste RBMT (Rivermead Behavioral Memory Test), o
qual objetiva avaliar funções da memória voltadas a atividades cotidianas – este foi dividido
em 12 subtestes. Ainda, foram aplicadas a Escala de Depressão Geriátrica e o Desenho do
relógio, o qual buscou avaliar a habilidade visuoconstrutiva, de planejamento e negligência
visual. De modo geral, os resultados indicaram um prejuízo das funções cognitivas do
paciente. JL apresentou um desempenho inferior nas habilidades associadas à velocidade de
processamento de informações e à memória recente. Percebeu-se também que os tipos de
erros cometidos por JL nas tarefas indicadas eram encontrados em protocolos de pacientes
com sintomas depressivos. Ainda, destacou-se que no teste verbal de REY, JL apresentou
falha durante o processo de evocação da lista, conseguindo, contudo, recuperar as
informações após receber auxílio do reconhecimento da lista de palavras. Para mais, foi
observada outra relação entre os sintomas depressivos e a velocidade de execução de tarefas
tempo-dependentes, sendo os pacientes com sintomas depressivos mais lentos nessas
atividades. Ao fim da avaliação, verificou-se que JL apresentou uma lentificação na
velocidade de processamento das informações.

4. Conclusão
De acordo com Alexopoulos e colaboradores (2002), há uma relação entre perdas
cognitivas e depressão, sendo que a prevalência da ocorrência de ambos os quadros tem
dobrado a cada cinco anos após os 70 anos. Os mesmos autores destacam também que
aproximadamente 25% dos idosos acima dos 85 anos apresentam, concomitantemente,
depressão e prejuízos cognitivos. Tais dados têm mostrado a importância da avaliação
psicológica e, mais especificamente, da avaliação neuropsicológica para este público neste
contexto.
Para tal, é importante enfatizar a necessidade de testes validados pelo SATEPSI,
quando dentro do contexto brasileiro, e que tenham em seus estudos públicos cujos dados
demográficos se adequem aos do paciente idoso. Por fim, tendo em vista a pouca ênfase em
outras técnicas psicológicas no estudo de caso apresentado, destaca-se também que, apesar
dos testes psicológicos serem imprescindíveis para o processo avaliativo nesse contexto, o
uso de outras técnicas psicológicas, como a entrevista, também são importantes para o
aprofundamento e checagem de determinadas questões relacionadas aos construtos a serem
investigados.
5. Referências

ALEXOPOULOS, G. S., KIOSSES, D., KLIMSTRA, S., KALAYAM, B., BRUCE, M. L.


Clinical presentation of the depression executive dysfunction syndrome of late life.
American Journal of Geriatric Psychiatry, v.10 n. 1, p. 98-106. 2002.

BILDER, R. M. Neuropsychology 3.0: evidence-based science and practice. Journal of the


International Neuropsychological Society, v. 17, n. 1, p. 7-13. 2011.

HARVEY, P. D. Clinical applications of neuropsychological assessment. Dialogues in


Clinical Neuroscience, v. 14, n. 1, p. 91-99. 2012.

MORAN, J. M., ZAKI, J. Functional neuroimaging and psychology: What have you done
for me lately? Journal of Cognitive Neuroscience, v. 25, n. 6, p. 834-842. 2013.

PRIMI, R. Avaliação Psicológica no Século XXI: de Onde Viemos e para Onde Vamos.
Psicol. cienc. prof. v. 38. 2018.

PRIMI, R., NUNES, C. H. S. S. O SATEPSI: propostas de aprimoramento. In: Conselho


Federal de Psicologia – CFP. (Org.), Avaliação psicológica: Diretrizes na regulamentação da
profissão v. 1. p. 129-148. Brasília. 2010.

RAMOS, A. A., HAMDAM, A. C. O crescimento da avaliação neuropsicológica no


Brasil: uma revisão sistemática. Psicol., Ciênc. Prof. (Impr.) v. 36, n.2. 2016.

STEIBEL, N. M., ALMEIDA, R. M. M. Estudo de caso – avaliação psicológica: depressão


x neurológica. Aletheia. v. 31, jan. 2010.

TIRAPU-USTÁRROZ, J. Neuropsicología: neurociencia y las ciencias “Psi”. Cuadernos de


Neuropsicología, v. 5, n. 1, p. 11-24. 2011.

VAKIL, E. Neuropsychological assessment: principles, rationale, and challenges. Journal of


Clinical and Experimental Neuropsychology, v. 34, n. 2, p. 135-250. 2012.

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