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» Avaliação em Foco - Ferramentas em Foco

18/03/2012

Por Fernanda Ottati

Entendida como um construto psicológico, a personalidade pode ser definida como um


conjunto de características dos indivíduos que o difere dos demais no que se refere à padrões
de sentimentos, pensamentos e comportamentos. Destaca-se que há variações na definição
do construto, portanto, a sua avaliação vai depender do enfoque teórico que o profissional
está considerando e qual o tipo de instrumento que irá utilizar.

A avaliação da personalidade está fortemente presente na prática dos psicólogos, porém, a


diversidade de instrumentos padronizados, normatizados e validados para a população
brasileira ainda não é tão grande, o que limita o processo de escolha do profissional. O
número de instrumentos disponíveis em outros países (como nos EUA) é maior do que no Brasil
e, além disso, muitos destes testes não possuem versões nacionais aprovadas pelo SATEPSI.

O instrumento apresentado nesta seção é o Teste Palográfico, bastante conhecido e utilizado


por psicólogos das mais diferentes áreas no país. A versão que possui parecer favorável pelo
SATEPSI é a de 2004, elaborada pelos pesquisadores Iraí Cristina Boccato Alves e Cristiano
Esteves.

O teste palográfico foi desenvolvido na Espanha e trazido para o Brasil por Agostinho
Minicucci na década de 1970. O instrumento é considerado um teste expressivo de
personalidade, cuja fundamentação teórica foi baseada nas questões relativas ao
comportamento expressivo e técnicas gráficas para avaliação da personalidade.

O manual faz um resgate teórico a respeito de conceitos como comportamento expressivo e


aspectos grafológicos que sustentam a proposta do instrumento. Além disso, outros aspectos
mais específicos também são destacados por serem partes importantes na avaliação
qualitativa do palográfico, quais sejam, simbolismo do espaço, inclinação, margens, distância
entre as linhas, direção das linhas, tamanho, distância entre os palos, pressão e qualidade do
traçado, organização, velocidade, ritmo e arpões ou ganchos. Para cada um desses itens há
interpretação para os ‘palos’. Três outros aspectos também possuem dados para
interpretação: emotividade, depressão e impulsividade.

Embora a avaliação desses aspectos seja qualitativa, para a maioria deles há tabela
normativa, mas sem que haja a especificação das características da amostra, ou seja, não há
divisão por sexo e escolaridade, por exemplo, e não há explicação para a ausência dessa
informação. Alguns aspectos são avaliados somente pela interpretação do psicólogo, que tem
como auxílio alguns exemplos. A avaliação quantitativa é realizada para dois aspectos,
produtividade e nível de oscilação rítmica (NOR), que se referem ao número de palos e a
variação da produção. Para esses dois itens há tabelas normativas considerando as variáveis
sexo e escolaridade.

No que se refere aos dados psicométricos, o manual informa que a fidedignidade foi estimada
por meio do método das metades e teste-reteste. Para isso, foi utilizada uma amostra de 52
pessoas e os dados indicam que para o nível de oscilação rítmica e margens o coeficiente de
correlação entre teste e reteste não foi estatisticamente significativo, mostrando que essas
características não apresentam boa estabilidade temporal.

A validade foi obtida por meio da consistência interna e grupos contrastantes, em que foram
sujeitos motoristas envolvidos em acidentes e sem acidentes e também presidiários. A
consistência interna foi verificada para o item produtividade e as correlações encontradas
foram satisfatórias (coeficientes variaram entre 0,86 e 0,96). Para a comparação entre os
grupos houve uma divisão, sendo que um grupo era de motoristas com histórico de acidentes
no trânsito, outro de motorista com histórico de acidentes com vítimas e, um terceiro, de
motoristas sem relatos de acidentes. De forma geral, houve diferenças significativas entre os
grupos, indicando que os motoristas com históricos de acidentes apresentam características
diferentes dos demais motoristas. Por fim, o grupo de presidiários foi comparado a um grupo
controle, formado por participantes de processos seletivos, e os resultados também indicam
diferenças significativas entre os aspectos avaliados pelo instrumento.

Ressalta-se que há um aspecto importante a ser considerado na aplicação do instrumento,


que é o tamanho da folha de resposta. Há dois tamanhos disponíveis, e não há estudos
específicos para verificar se há diferenças na avaliação. Os autores chegam a mencionar essa
questão no manual, mas de forma superficial, apenas indicando a necessidade de estudos.

As informações importantes referentes à avaliação dos palos poderiam estar melhor


organizadas. As tabelas estão dispostas em vários locais do manual, o que pode dificultar a
compreensão do psicólogo sobre qual delas utilizar. Além disso, faltam informações
referentes à padronização e normatização para alguns dos aspectos avaliados pelo
instrumento, e o mais importante, não há nenhuma informação clara sobre qual a faixa etária
e escolaridade o instrumento é destinado.

Referência:

Alves, I. C. B. & Esteves, C. (2004). O teste palográfico na avaliação da personalidade. Manual


técnico. São Paulo: Vetor Editora.
Retirado de Sistema de Correção Informatizado do Palográfico – SKIP (2015).

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