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CÓDIGO DE ÉTICA
E DOCUMENTOS
PSICOLÓGICOS
APOSTILA
APOSTILA DIDÁTICA
DIDÁTICA
CONTEÚDO
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
PROGRAMÁTICO
- DECLARAÇÃO;
- ATESTADO PSICOLÓGICO;
- RELATÓRIO PSICOLÓGICO;
- RELATÓRIO MULTIPROFISSIONAL;
- LAUDO PSICOLÓGICO;
- PARECER PSICOLÓGICO.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
I- Apresentação
RESOLVE:
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 1.º Instituir as regras para a elaboração de documentos escritos
produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional.
Parágrafo único. A presente Resolução tem como objetivos orientar a(o)
psicóloga(o) na elaboração de documentos escritos produzidos no exercício
da sua profissão e fornecer os subsídios éticos e técnicos necessários para a
produção qualificada da comunicação escrita.
Art. 2.º As regras para a elaboração, guarda, destino e envio de documentos
escritos produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional, referido
no artigo anterior, encontram-se dispostas nos seguintes itens:
I - Princípios fundamentais na elaboração de documentos psicológicos;
II - Modalidades de documentos;
III - Conceito, finalidade e estrutura;
IV - Guarda dos documentos e condições de guarda;
V - Destino e envio de documentos;
VI - Prazo de validade do conteúdo dos documentos;
VII - Entrevista devolutiva.
Seção I
Princípios Fundamentais na Elaboração de Documentos Psicológicos
Documento Psicológico
Art. 4.º O documento psicológico constitui instrumento de comunicação
escrita resultante da prestação de serviço psicológico à pessoa, grupo ou
instituição.
Princípios Técnicos
Art. 5.º Os documentos psicológicos devem ser elaborados conforme os
princípios de qualidade técnica e científica presentes neste regulamento.
§ 1.º Os documentos emitidos pela(o) psicóloga(o) concretizam informações
fundamentais e devem conter dados fidedignos que validam a construção
do pensamento psicológico e a finalidade a que se destina.
§ 2.º A elaboração de documento decorrente do serviço prestado no
exercício da profissão deve considerar que este é o resultado de uma
avaliação e/ou intervenção psicológica, observando os condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos nos fenômenos psicológicos.
§ 3.º O documento escrito resultante da prestação de serviços psicológicos
deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do
fenômeno psicológico.
§ 4.º Ao produzir documentos escritos, a(o) psicóloga(o) deve se basear no
que dispõe o artigo 1.º, alínea "c", do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, prestando serviços psicológicos de qualidade, em condições de
trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando
princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na
ciência psicológica, na ética e na legislação profissional.
§ 5.º Na realização da Avaliação Psicológica, ao produzir documentos
escritos, a(o) psicóloga(o) deve se basear no que dispõe o artigo 2.º da
Resolução CFP n.º 09/2018, fundamentando sua decisão, obrigatoriamente,
em métodos, técnicas e instrumentos psicológicos reconhecidos
cientificamente para uso na prática profissional da(o) psicóloga(o) (fontes
fundamentais de informação), podendo, a depender do contexto, recorrer
a procedimentos e recursos auxiliares (fontes complementares de
informação).
§ 6.º A(O) psicóloga(o) deve resguardar os cuidados com o sigilo profissional,
conforme previsto nos artigos 9.º e 10 do Código de Ética Profissional do
Psicólogo.
§ 7.º Ao elaborar um documento em que seja necessário referenciar
material teórico técnico, as referências devem ser colocadas,
preferencialmente, em nota de rodapé, observando a especificidade do
documento produzido.
§ 8.º Toda e qualquer modalidade de documento deverá ter todas as laudas
numeradas, rubricadas da primeira até a penúltima lauda, e a assinatura
da(o) psicóloga(o) na última página.
Princípios Éticos
Art. 7.º Na elaboração de documento psicológico, a(o) psicóloga(o) baseará
suas informações na observância do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, além de outros dispositivos de Resoluções específicas.
§ 1.º De modo especial, deverão ser observados os Princípios Fundamentais
e os seguintes dispositivos normativos:
I - artigo 1.º, alíneas “b”, “c”, “f”, “g”, “h”, “i”, do Código de Ética Profissional
do Psicólogo;
II - artigo 2.º, alíneas “f”, “g”, “h”, “j", “k”, “q”, do Código de Ética Profissional
do Psicólogo;
III - artigo 11, do Código de Ética Profissional do Psicólogo;
IV - artigo 12, do Código de Ética Profissional do Psicólogo;
V - artigo 18, do Código de Ética Profissional do Psicólogo.
§ 2.º Devem ser observados, ainda, os deveres da(o) psicóloga(o) no que diz
respeito ao sigilo profissional em relação às equipes interdisciplinares, às
relações com a justiça e com as políticas públicas, e o alcance das
informações na garantia dos direitos humanos, identificando riscos e
compromissos do alcance social do documento elaborado.
§ 3.º À(Ao) psicóloga(o) é vedado, sob toda e qualquer condição, o uso dos
instrumentos, técnicas psicológicas e experiência profissional de forma a
sustentar modelo institucional e ideológico de segregação dos diferentes
modos de subjetivação.
§ 4.º Sempre que o trabalho exigir, poderá a(o) psicóloga(o), mediante
fundamentação, intervir sobre a demanda e construir um projeto de
trabalho que aponte para a reformulação dos condicionantes que provocam
o sofrimento psíquico, a violação dos direitos humanos e a manutenção ou
prática de preconceito, discriminação, violência e exploração como formas
de dominação e segregação.
§ 5.º A(O) psicóloga(o) deve prestar serviço responsável e de qualidade,
observando os princípios éticos e o compromisso social da Psicologia, de
modo que a demanda, tal como formulada, seja compreendida como efeito
de uma situação de grande complexidade.
§ 6.º É dever da(o) psicóloga(o) elaborar e fornecer documentos
psicológicos sempre que solicitada(o) ou quando finalizado um processo de
avaliação psicológica, conforme artigo 4.º desta Resolução.
§ 7.º A(O) psicóloga(o) fica responsável ética e disciplinarmente pelo
cumprimento das disposições deste artigo, sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal decorrentes das informações que fizerem
constar nos documentos psicológicos.
Seção II
Modalidades de Documentos
I - Declaração;
II - Atestado Psicológico;
III - Relatório:
a) Psicológico;
b) Multiprofissional;
IV - Laudo Psicológico;
V - Parecer Psicológico.
Seção III
Conceito, Finalidade E Estrutura
Estrutura
§ 2.º A declaração deve apresentar as informações da estrutura detalhada
abaixo, em forma de itens ou texto corrido:
I - Título: "Declaração"
II - Expor no texto:
a) Nome da pessoa atendida: identificação do nome completo ou nome
social completo;
b) Finalidade: descrição da razão ou motivo do documento;
c) Informações sobre local, dias, horários e duração do acompanhamento
psicológico.
III - O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de
emissão e carimbo, em que conste nome completo ou nome social completo
da(o) psicóloga(o), acrescido de sua inscrição profissional e assinatura.
Comentários e Fundamentação:
A Declaração é o documento psicológico mais objetivo e sucinto entre
todos. Responde a solicitações pontuais que visam a informar situações que
envolvem dia(s), horários e tempo de atendimento da(o) paciente/cliente
e/ou da pessoa que a(o) acompanha.
Diferente do Atestado Psicológico, a declaração NUNCA deve apresentar
registro de sintomas, estados psicológicos, ou qualquer outra informação
que diga respeito ao funcionamento psicológico da pessoa atendida.
A especificação da finalidade do documento é essencial e refere-se a um
item obrigatório. É por meio da identificação da finalidade ou motivo do
documento que a(o) psicóloga(o) se resguarda em relação ao uso dado ao
documento depois de sua entrega.
ATESTADO PSICOLÓGICO - Conceito e finalidade
Art. 10 Atestado psicólogo consiste em um documento que certifica, com
fundamento em um diagnóstico psicológico, uma determinada situação,
estado ou funcionamento psicológico, com a finalidade de afirmar as
condições psicológicas de quem, por requerimento, o solicita.
§ 1.º O atestado presta-se também a comunicar o diagnóstico de condições
mentais que incapacitem a pessoa atendida, com fins de:
I - Justificar faltas e impedimentos;
II - Justificar estar apto ou não para atividades específicas (manusear arma
de fogo, dirigir veículo motorizado no trânsito, assumir cargo público ou
privado, entre outros), após realização de um processo de avaliação
psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscrevem a Resolução CFP
n.º 09/2018 e a presente, ou outras que venham a alterá-las ou substituí-
las;
III - Solicitar afastamento e/ou dispensa, subsidiada na afirmação atestada
do fato.
§ 2.º Diferente da declaração, o atestado psicológico resulta de uma
avaliação psicológica. É responsabilidade da(o) psicóloga(o) atestar
somente o que foi verificado no processo de avaliação e que esteja dentro
do âmbito de sua competência profissional.
§ 3.º A emissão de atestado deve estar fundamentada no registro
documental, conforme dispõe a Resolução CFP n.º 01/2009 ou aquelas que
venham a alterá-la ou substituí-la, não isentando a(o) psicóloga(o) de
guardar os registros em seus arquivos profissionais, pelo prazo estipulado
nesta resolução.
§ 4.º Os Conselhos Regionais podem, no prazo de até cinco anos, solicitar
à(ao) psicóloga(o) a apresentação da fundamentação técnico-científica do
atestado.
Estrutura
Comentários e Fundamentação:
O atestado é oriundo de um processo de avaliação psicológica, realizado
para verificar determinada situação ou condição do estado psicológico
(diagnóstico psicológico). Ressalta-se que o diagnóstico psicológico a que se
refere o Art. 10 não corresponde a diagnóstico nosológico, mas sim a
descriçao de estado psicológico relativo aos construtos avaliados. Desta
forma, o atestado psicológico serve para informar sobre a saúde mental do
avaliando a partir de evidências científicas encontradas no âmbito da ciência
psicológica.
Nos processos de avaliação psicológica compulsória, o documento a ser
emitido pela(o) psicóloga(o) deverá ser o atestado psicológico. Contudo,
quando solicitado, a(o) psicóloga(o), além do atestado psicológico pode
emitir também um laudo psicológico.
Vale ressaltar que o documento atestado psicológico indica a necessidade
de afastamento e/ou dispensa da pessoa baseado na avaliação de aspectos
psicológicos. Contudo, cabe observar aspectos legais relativos a esse
afastamento e/ou dispensa. Por exemplo, nos casos em que a(o)
psicóloga(o) perceba a necessidade de afastamento laboral da pessoa
atendida por um período superior a quinze dias, a orientação, de acordo
com a legislação brasileira, é encaminhar a pessoa atendida ao INSS.
A(o) psicóloga(o) deve manter em seus arquivos uma cópia dos atestados
psicológicos emitidos, junto a todo o material resultante do processo
avaliativo, protocolado com data, local e assinatura de quem recebeu o
documento, para fins de comprovação e fiscalização.
Identificação
§ 2.º Neste item, a(o) psicóloga(o) deve fazer constar no documento:
I - Título: "Relatório Psicológico";
II - Nome da pessoa ou instituição atendida: identificação do nome completo
ou nome social completo e, quando necessário, outras informações sócio
demográficas;
III - Nome da(o) solicitante: identificação de quem solicitou o documento,
especificando se a solicitação foi realizada pelo Poder Judiciário, por
empresas, instituições públicas ou privadas, pela(o) própria(o) usuária(o) do
processo de trabalho prestado ou por outras(os) interessadas(os);
IV - Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido;
V - Nome da(o) autora(or): identificação do nome completo ou nome social
completo da(o) psicóloga(o) responsável pela construção do documento,
com a respectiva inscrição no Conselho Regional de Psicologia.
Descrição da demanda
§ 3.º Neste item, a(o) psicóloga(o), autora(or) do documento, deve
descrever as informações sobre o que motivou a busca pelo processo de
trabalho prestado, indicando quem forneceu as informações e as demandas
que levaram à solicitação do documento.
I - A descrição da demanda constitui requisito indispensável e deverá
apresentar o raciocínio técnico-científico que justificará procedimentos
utilizados, conforme o parágrafo 4.º deste artigo.
Procedimento
§ 4.º Neste item, a(o) psicóloga(o) autora(or) do relatório deve apresentar
o raciocínio técnico-científico que justifica o processo de trabalho utilizado
na prestação do serviço psicológico e os recursos técnico-científicos
utilizados, especificando o referencial teórico metodológico que
fundamentou suas análises, interpretações e conclusões.
I - Cumpre, à(ao) psicóloga(o) autora(or) do relatório, citar as pessoas
ouvidas no processo de trabalho desenvolvido, as informações objetivas, o
número de encontros e o tempo de duração do processo realizado.
II - Os procedimentos adotados devem ser pertinentes à complexidade do
que está sendo demandado.
Análise
§ 5.º Neste item devem constar, de forma descritiva, narrativa e analítica,
as principais características e evolução do trabalho realizado, baseando-se
em um pensamento sistêmico sobre os dados colhidos e as situações
relacionadas à demanda que envolve o processo de atendimento ou
acolhimento, sem que isso corresponda a uma descrição literal das sessões,
atendimento ou acolhimento, salvo quando tal descrição se justificar
tecnicamente.
I - A análise deve apresentar fundamentação teórica e técnica.
II - Somente deve ser relatado o que for necessário para responder a
demanda, tal qual disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo.
III - É vedado à(ao) psicóloga(o) fazer constar no documento afirmações de
qualquer ordem sem identificação da fonte de informação ou sem a devida
sustentação em fatos e/ou teorias.
IV - A linguagem deve ser objetiva e precisa, especialmente quando se
referir a informações de natureza subjetiva.
Conclusão
Comentários e Fundamentação:
A presente Resolução inova na distinção entre Relatório e Laudo Psicológico,
visando a abarcar os diversos contextos, serviços e demandas em que a
comunicação escrita a ser elaborada por psicólogas(os) pode ocorrer. Desse
modo, a Resolução acolhe uma pluralidade de procedimentos, observações,
análises e referenciais de atuação que possam ser comunicadas com
finalidade informativa ou de intervenção pontual, resguardando-se a
autonomia profissional para definir métodos e técnicas a serem relatados e
o sigilo inerente à relação estabelecida com pessoas, grupos ou instituições
atendidas.
O Relatório Psicológico deverá atender aos objetivos dos serviços prestados;
portanto, poderá abranger finalidades diversas a depender do contexto de
solicitação. Podem ser elaborados Relatórios Psicológicos decorrentes de
visitas domiciliares, para fins de encaminhamento, sobre um único
atendimento — como em situações de orientação ou de acolhimento nos
serviços — para prestar informações de referência e de contra-referência;
para subsidiar atividades de outros profissionais, entre outras situações que
já ocorrem no exercício profissional, desde que constitua instrumento de
comunicação escrita resultante da prestação de serviço psicológico à
pessoa, grupo ou instituição, conforme artigo 4.º. Assim, deverá referir-se à
atuação da(o) psicóloga(o) e atender às Resoluções CFP n.º 01/2009 e
n.º 05/2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental
decorrente da prestação de serviços psicológicos bem como todas as
diretrizes éticas da profissão.
Importante distinguir o Relatório Psicológico de outros documentos
informativos que sejam de caráter administrativo ou protocolares, tais
como Relatórios de Atividades ou relatos em ofícios, que são documentos
frequentemente assinados por psicólogas(os), especialmente em serviços
públicos, mas que não são elaborados com fim de relatar o atendimento
psicológico realizado.
A estrutura descrita para o Relatório refere-se aos conteúdos que devem
constar no documento. O Relatório Psicológico refere-se a contextos e
solicitações diversas, entre os quais poderíamos mencionar
encaminhamentos, relatos de estudo de caso, relatórios de visita domiciliar,
relatórios para solicitação de ampliação de número de sessões para planos
de saúde. No item finalidade a(o) psicóloga(o) deverá apontar o contexto
e/ou solicitação que originou o documento.
O Relatório será elaborado a partir da demanda e/ou da solicitação, com
base no registro documental, ressaltando-se, porém, que não se trata de
transcrição ou de sistematização em texto desses registros. Os registros
abrangem todas as informações referentes aos serviços psicológicos ou, em
equipes multiprofissionais, também a outros atendimentos, providências e
decisões tomadas. A construção do Relatório deve tomar esses registros
como base, mas não se limita ao seu conteúdo. Portanto, se os registros são
a base do Relatório, então o trabalho desenvolvido, a demanda atendida e
a finalidade da solicitação do documento fazem parte de sua estrutura, e
devem direcionar a argumentação analítica e/ou a comunicação
informativa, a depender dos objetivos da solicitação e dos direitos das(os)
usuárias(os), salvo contextos previstos no Código de Ética Profissional do
Psicólogo e nas legislações vigentes.
Conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a solicitação de
documentos decorrentes de serviços psicológicos é condicionada ao acordo
de trabalho ou aos objetivos do serviço prestado, o que depende da relação
e contratualidade entre psicóloga(o) e pessoa(s) atendida(s) e de deveres
legais. Um apontamento importante é esse artigo parecer conflitar com as
disposições da Resolução CFP n.º 08/2010, quando diz que é vedado: “I -
Produzir documentos advindos do processo psicoterápico com a finalidade
de fornecer informações à instância judicial acerca das pessoas
atendidas, sem o consentimento formal destas últimas à exceção de
Declarações, conforme a Resolução CFP n.º 07/2003.”
Contudo, a Resolução define que se apresente a finalidade do documento e
a descrição da demanda de modo a propiciar a diferenciação necessária a
partir de cada contexto de solicitação. Isto é, a(o) psicóloga(o) tem
autonomia para decidir quais procedimentos, observações e análises serão
comunicados, a depender dos contextos de solicitação, o que estará
condicionado a resguardar as diretrizes, normativas e princípios éticos da
profissão, os quais são orientados pelo respeito e defesa dos direitos e
dignidade da pessoa humana e das coletividades, destacando-se,
especialmente, as alíneas de “e” a “h”, do artigo 1.º, bem como as alíneas
“a”, “b”, “c”, “f”, “g”, “j” e “k” do artigo 2.º do Código de Ética Profissional.
Os procedimentos a serem descritos no Relatório dizem respeito a descrição
de toda e qualquer atividade, técnica, argumentação técnico-científica e
considerações éticas utilizadas na prestação de serviço psicológico e devem
basear-se em evidências científicas.
O Relatório abrange descrições e narrativas que sejam referidas aos
procedimentos adotados, à demanda da solicitação e à evolução do
trabalho, quando houver. Pode referir-se a ações e a relatos pontuais, como
nos casos de encaminhamentos e de relatórios de visitas, ou pode referir-se
a uma exposição analítica maior, quando necessário. Ainda que contemple
análises ou considerações críticas, não cabe juízos de valor e opiniões
pessoais que não possuam respaldo na ciência psicológica. As descrições
literais apenas serão justificáveis quando forem necessárias à argumentação
desenvolvida no texto e para evidenciar o contexto de que se trata, e não
como resposta a solicitações que extrapolem a condição dos serviços
psicológicos e que prejudiquem o sigilo e outras prerrogativas éticas da
profissão.
Recomenda-se que, na conclusão, seja retomada a finalidade da emissão do
documento, registrado a entrevista devolutiva para a entrega do
documento, indicadas as possibilidades de encaminhamento ou de
continuidade dos serviços psicológicos, além de outras orientações. Essas
recomendações são fundamentais em contextos nos quais os Relatórios
Psicológicos possam subsidiar decisões pessoais e institucionais que tragam
impactos para a vida da(s) pessoa(s) atendidas, o que ocorre regularmente
nos serviços públicos e em contextos que envolvem processos judiciais.
Nesse sentido, além dos prazos definidos pelas normativas e manuais
referentes a métodos e técnicas de avaliação psicológica, que podem ser
considerados aqui por analogia, devem ser explicitados na conclusão
argumentos técnicos e éticos que delimitem não apenas a finalidade do
documento, mas também a validade temporal das informações prestadas
no documento, ressaltando-se a natureza dinâmica e não cristalizada do
objeto de estudo bem como das intervenções, ações ou análises realizadas.
RELATÓRIO MULTIPROFISSIONAL - Conceito e finalidade
Art. 12 O relatório multiprofissional é resultante da atuação da(o)
psicóloga(o) em contexto multiprofissional, podendo ser produzido em
conjunto com profissionais de outras áreas, preservando-se a autonomia e
a ética profissional dos envolvidos.
I - A(o) psicóloga(o) deve observar as mesmas características do relatório
psicológico nos termos do artigo 11.
II - As informações para o cumprimento dos objetivos da atuação
multiprofissional devem ser registradas no relatório, em conformidade com
o que institui o Código de Ética Profissional do Psicólogo em relação ao
sigilo.
Estrutura
§ 1.º O relatório multiprofissional deve apresentar, no que tange à atuação
da(o) psicóloga(o), as informações da estrutura detalhada abaixo, em forma
de itens ou texto corrido.
I - O Relatório Multiprofissional é composto de cinco itens:
a) Identificação;
b) Descrição da demanda;
c) Procedimento;
d) Análise;
e) Conclusão.
Identificação
Descrição da demanda
§ 3.º Neste item, a(o) psicóloga(o), autora(or) do documento, deve
descrever as informações sobre o que motivou a busca pelo processo de
trabalho multiprofissional, indicando quem forneceu as informações e as
demandas que levaram à solicitação do documento.
I - A descrição da demanda constitui requisito indispensável e deverá
apresentar o raciocínio técnico-científico que justificará procedimentos
utilizados pela(o) psicóloga(o) e/ou pela equipe multiprofissional, conforme
o parágrafo 4.º deste artigo.
Procedimento
Análise
§ 6.º Neste item orienta-se que cada profissional faça sua análise
separadamente, identificando, com subtítulo, o nome e a categoria
profissional.
Conclusão
§ 8.º A conclusão do relatório multiprofissional pode ser realizada em
conjunto, principalmente nos casos em que se trate de um processo de
trabalho interdisciplinar.
Comentários e Fundamentação:
Esta modalidade de documento contempla a atuação em equipes
multiprofissionais e permite a elaboração conjunta, a responsabilidade
compartilhada e referenciais interdisciplinares, resguardando-se a
autonomia das demais categorias profissionais e do contexto de cada
serviço/equipe multiprofissional.
Na atuação profissional, especialmente nas áreas da saúde, da assistência
social e do judiciário, tem se consolidado a nomenclatura “Relatório
Psicossocial”; porém, com a variedade de contextos e de composição das
equipes, a elaboração de relatórios com esta denominação abarca
organização textual e referenciais de intervenção e de argumentação
técnica muito variados. A Resolução acolhe essa diversidade e não define
qualquer impedimento para que seja utilizada essa denominação. Da
mesma forma, como define-se na modalidade de Relatório Psicológico, o
documento deve conter como título “Relatório Multiprofissional”. Contudo,
pode receber subtítulos diversos e variar em sua organização textual, a
depender do serviço, da demanda e da solicitação, resguardando a
necessidade de constar as informações especificadas na presente
Resolução. Desta forma, o Relatório Multiprofissional pode referir-se a
Relatório Informativo, Relatório de Encaminhamento, entre outras,
inclusive, podendo ser fruto de uma única intervenção/atendimento – nos
casos, por exemplo, de visitas domiciliares, atendimentos para orientação
ou de acolhimento, estudos de caso, mediação de conflitos, participação em
grupos, procedimentos de saúde realizados em equipe, entre outros.
Importante ressaltar o dever de assumir responsabilidades profissionais
somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e
tecnicamente (Código de Ética Profissional, artigo 1.º, b), considerando-se
que as demandas em equipes multiprofissionais possam gerar solicitações
que extrapolem as atribuições da psicologia ou que excedam a possibilidade
de observação e análise a partir dos procedimentos realizados, ou ainda,
que não sejam pertinentes aos referenciais técnicos da(o) profissional.
Reforça-se também a observância das alíneas de “e” a “h”, no artigo 1.º do
Código de Ética Profissional, que concernem aos direitos de usuárias(os) dos
serviços psicológicos, que devem ser inegociáveis nos diversos contextos de
solicitação desses Relatórios e de outros documentos psicológicos, ainda
que sejam solicitações feitas não pela(o) usuária(o), mas por outros
profissionais, serviços e agentes públicos, inclusive quando advindas de
demandas e determinações do judiciário. O Relatório Multiprofissional é
proveniente da atuação multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar.
Cabe observar, quanto à atuação em equipe multiprofissional, que diversos
procedimentos e referenciais são empregados e construídos de modo inter
ou transdisciplinar e, portanto, sua escrita pode ser em conjunto com outros
profissionais. Contudo, quando a atividade desenvolvida no atendimento a
pessoa/grupo/instituição consistir em métodos e técnicas privativos da
Psicologia, estes devem ser relatados em itens diferente dos demais
profissionais, destacando que foram utilizados apenas pela(o) psicóloga(o)
da equipe. Em todos os casos, a estrutura do Relatório Multiprofissional
deve contemplar o estabelecido Resolução, e conforme haja acordo com as
regulamentações das outras profissões envolvidas. A orientação para que a
análise seja destacada na organização textual também se direciona a
evidenciar argumentações, referenciais, observações, métodos e técnicas
específicos e privativos da Psicologia. Caso as informações relatadas não se
baseiem em métodos e técnicas privativas da Psicologia, a redação deste
item pode ser em conjunto com outros profissionais, nos casos em que se
trate de processos de trabalho interdisciplinares. Recomenda-se, porém,
que essa compreensão seja explicitada no texto, conforme regulamentação
das demais categorias profissionais envolvidas. Assim como na Análise, a
Conclusão pode ser redigida em conjunto com outros profissionais nos casos
em que se trate de processos de trabalho interdisciplinares. É importante o
profissional encerrar o documento com data, local e assinatura a fim de
atestar a veracidade das informações apresentadas no documento. Da
mesma forma, a rubrica em todas as páginas assim como a numeração das
mesmas é uma segurança ao profissional do conjunto do documento
elaborado.
Estrutura
Identificação
Descrição da demanda
§ 3.º Neste item, a(o) psicóloga(o), autora(or) do documento, deve
descrever as informações sobre o que motivou a busca pelo processo de
trabalho prestado, indicando quem forneceu as informações e as demandas
que levaram à solicitação do documento.
I - A descrição da demanda constitui requisito indispensável e deverá
apresentar o raciocínio técnico-científico que justificará procedimentos
utilizados, conforme o parágrafo 4.º deste artigo.
Procedimento
Análise
§ 5.º Nessa parte do documento, a(o) psicóloga(o) deve fazer uma exposição
descritiva, metódica, objetiva e coerente com os dados colhidos e situações
relacionadas à demanda em sua complexidade considerando a natureza
dinâmica, não definitiva e não-cristalizada do seu objeto de estudo.
I - A análise não deve apresentar descrições literais das sessões ou
atendimentos realizados, salvo quando tais descrições se justifiquem
tecnicamente.
II - Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que
sustenta o instrumental técnico utilizado, bem como os princípios éticos e
as questões relativas ao sigilo das informações. Somente deve ser relatado
o que for necessário para responder a demanda, tal qual disposto no Código
de Ética Profissional do Psicólogo.
III - A(o) psicóloga(o) não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos
ou teorias, devendo ter linguagem objetiva e precisa, especialmente quando
se referir a dados de natureza subjetiva.
Conclusão
§ 6.º Neste item, a(o) psicóloga(o) autora(or) do laudo deve descrever suas
conclusões a partir do que foi relatado na análise, considerando a natureza
dinâmica e não cristalizada do seu objeto de estudo.
I - Na conclusão indicam-se os encaminhamentos e intervenções,
diagnóstico, prognóstico e hipótese diagnóstica, evolução do caso,
orientação ou sugestão de projeto terapêutico.
II - O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de
emissão, carimbo, em que conste nome completo ou nome social completo
da(o) psicóloga(o), acrescido de sua inscrição profissional, com todas as
laudas numeradas, rubricadas da primeira até a penúltima lauda, e a
assinatura da(o) psicóloga(o) na última página.
III - É facultado à(ao) psicóloga(o) destacar, ao final do laudo, que este não
poderá ser utilizado para fins diferentes do apontado no item de
identificação, que possui caráter sigiloso, que se trata de documento
extrajudicial e que não se responsabiliza pelo uso dado ao laudo por parte
da pessoa, grupo ou instituição, após a sua entrega em entrevista
devolutiva.
Referências
Comentários e Fundamentação:
Destaca-se o caráter específico do laudo psicológico, diferenciando-o do
relatório psicológico. O laudo é fruto de um processo de avaliação
psicológica diante de uma demanda específica e deve apresentar os itens
descritos no § 1.º, com destaque para o procedimento conduzido, a análise
realizada e a conclusão gerada a partir desse processo de avaliação. Em
contrapartida, o relatório não envolve um processo de avaliação psicológica.
O registro documental, em conformidade com a Resolução CFP n.º 01/2009
e a Resolução CFP n.º 005/2010, inclui os “documentos produzidos pela(o)
psicóloga(o) para o usuária(o)/instituição do serviço de psicologia prestado”
e os “documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação
psicológica”, a serem arquivados conforme determinado pelas resoluções
citadas.
O título "Laudo Psicológico" deve ser usado independentemente da
orientação ou especificidade teórico-metodológica do processo. Se quiser,
o(a) psicólogo(a) poderá colocar um subtítulo especificando o processo, por
exemplo, "Laudo Psicológico – Avaliação neuropsicológica”.
O laudo psicológico deve apresentar todos os itens da estrutura
identificados separadamente.
Em Procedimento, é necessário explicitar os recursos usados, as fontes
fundamentais e complementares usadas, segundo a Resolução CFP n.º
09/2018, com citação de sua base técnica-científica e uso de referências.
Conforme os incisos V, VI e VII, o laudo psicológico poderá compor um
documento único com a equipe multiprofissional, caso as conclusões
necessárias para responder à demanda inicial sejam derivadas da integração
das avaliações individuais dos profissionais da equipe, ou seja,
ultrapassando suas avaliações disciplinares e demandando a análise
conjunta. Nesse caso, deve-se resguardar as práticas privativas da(o)
psicóloga(o), assim como sigilo profissional, conforme o inciso VII, de forma
que apenas estejam descritos os resultados necessários para que a análise
integrada seja realizada. Todos os itens de Estrutura devem estar presentes.
Ainda que alguns itens possam ser apresentados de forma conjunta no
documento multiprofissional (tais como Identificação, Descrição da
demanda, Conclusão e Referências), deve-se garantir a apresentação dos
itens Procedimento e Análise com uma redação independente por parte
da(o) psicóloga(o), pois eles fazem referência a métodos, técnicas e
procedimentos específicos da(o) profissional psicóloga(o).
A conclusão deve estar em harmonia com os demais itens do Laudo
psicológico. Nem todos os itens descritos no inciso I precisam estar descritos
na Conclusão, porém, é necessário que seja apresentada uma conclusão a
partir dos resultados e análise realizados e que alguma orientação de
encaminhamento/intervenções ou diagnóstico/hipótese diagnóstica ou
orientação/sugestão de projeto terapêutico seja oferecida.
A hipótese diagnóstica ou o diagnóstico devem ter base técnica-científica. A
critério da(o) psicóloga(o), poderão ser usados documentos classificatórios
mundialmente reconhecidos na área da saúde mental, tais como a
Classificação Internacional das Doenças (CID) ou o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em suas edições mais atuais, bem
como outras teorias reconhecidas na psicologia, desde que devidamente
referenciadas. Deve-se consultar a legislação vigente a fim de garantir a
escrita apropriada a demanda.
A citação de referências é obrigatória no Laudo Psicológico. Orienta-se que
sejam colocadas em notas de rodapé a fim de que o documento seja
finalizado com a data e assinatura do profissional. Não deve ser colocada
em folha a parte, pois esta poderia ser destacada do conjunto do
documento, o que o tornaria incompleto. Destaca-se que as referências,
além de descritas em nota de rodapé, devem ser citadas ao longo do texto
como usual em materiais técnico-científicos. Por exemplo, ao nomear um
instrumento de avaliação usado, apresentar no texto a citação do manual
com sobrenomes e data e, no local apropriado (nota de rodapé), apresentar
a citação completa.
Estrutura
Identificação
§ 2.º Neste item, a(o) psicóloga(o) deve fazer constar no documento:
I - Título: "Parecer Psicológico";
II - Nome da pessoa ou instituição objeto do questionamento (ou do
parecer): identificação do nome completo ou nome social completo e,
quando necessário, outras informações sócio demográficas da pessoa ou
instituição cuja dúvida ou questionamento se refere;
III - Nome do solicitante: identificação de quem solicitou o documento,
especificando se a solicitação foi realizada pelo Poder Judiciário, por
empresas, instituições públicas ou privadas, pela(o) própria(o) usuária(o) do
processo de trabalho prestado ou outros interessados;
IV - Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido;
V - Nome da(o) autora(or): identificação do nome completo ou nome social
completo da(o) psicóloga(o) responsável pela construção do documento,
com a respectiva inscrição no Conselho Regional de Psicologia e titulação
que comprove o conhecimento específico e competência no assunto.
Descrição da Demanda
§ 3.º Destina-se à transcrição do objetivo da consulta ou demanda. Deve-se
apresentar as informações referentes à demanda e finalidades do parecer.
I - A descrição da demanda deve justificar a análise realizada.
Análise
§ 4.º A discussão da questão específica do Parecer Psicológico se constitui
na análise minuciosa da questão explanada e argumentada com base nos
fundamentos éticos, técnicos e/ou conceituais da Psicologia, bem como nas
normativas vigentes que regulam e orientam o exercício profissional.
Conclusão
§ 5.º Neste item, a(o) psicóloga(o) apresenta seu posicionamento sobre a
questão-problema ou documentos psicológicos questionados.
Referências
§ 6.º Na elaboração de pareceres psicológicos, é obrigatória a informação
das fontes científicas ou referências bibliográficas utilizadas, em nota de
rodapé, preferencialmente.
Comentários e Fundamentação:
De acordo com a definição, o Parecer Psicológico é um documento em que
a(o) parecerista emite o seu ponto de vista fundamentado cientificamente
sobre uma questão solicitada que está relacionada ao âmbito da Psicologia
e, portanto, não é decorrente de avaliação ou intervenção psicológica
realizada pela parecerista. O parecer pode ser unicamente teórico, fruto do
conhecimento científico da profissional acerca de um tema (questão
específica ou ampla). Exemplo de situações onde se aplica a emissão de um
parecer são: quando alguém solicita um parecer sobre se “o teste de
Rorschach é confiável e válido para o seu uso no contexto jurídico”. Neste
caso, o parecerista, especialista na área, irá emitir um parecer
demonstrando cientificamente como o teste Rorschach é adequado para
avaliação neste caso e contexto específico.
Quando há a solicitação de apreciação de um documento produzido por
outra(o) psicóloga(o). Por exemplo, em situações de perícias psicológicas
em que é solicitado à(ao) psicóloga(o) assistente técnica(o) de uma das
partes um parecer acerca do Laudo Psicológico elaborado pela perita
nomeada pelo juiz. Neste caso, a análise do documento é feita, avaliando se
o documento atende os preceitos científicos, técnicos e éticos da Psicologia.
Assim, a(o) assistente poderia, com base em estudos científicos, questionar
resultados de testes (ou de outras técnicas) aplicados pela(o) perita(o), fazer
objeções aos seus diagnósticos e conclusões, como também apoiá-los,
sempre fundamentando-se na ciência, na técnica e normativas da
Psicologia.
A construção do parecer precisa ser bem fundamentada, de forma que as
contestações ou ratificações apontadas no documento analisado fiquem
explícitas. Por isso, esse tipo de documento demanda uma expertise.
Como nos demais documentos produzidos pela(o) psicóloga(o), as
referências devem ser colocadas preferencialmente em nota de rodapé
pois, por se tratar de um documento, é aconselhável que este termine com
a data e assinatura de quem o emite.
Seção IV
Guarda dos Documentos e Condições de Guarda
Comentários e Fundamentação:
A necessidade de guarda do material se faz pelo zelo e segurança da(o)
psicóloga(o). Assim, em caso de fiscalização ou questionamentos, a(o)
profissional terá condição de apresentar o material que levou à sua
conclusão técnico científica.
O material, de fato, pertence à instituição em que foi realizado o serviço,
porém, cabe à(ao) psicóloga(o) adequar o local para garantir o sigilo
necessário, de acordo com as resoluções vigentes, a saber o Código de Ética
Profissional e a Resolução CFP n.º 01/2009.
Em caso de desligamento da(o) psicóloga(o), o material permanece na
instituição. O repasse deve seguir ao indicado no Código de Ética
Profissional, e inclui a entrega do material com termo de repasse à nova
profissional que venha a assumir o serviço ou lacre junto à fiscal do CRP da
jurisdição.
Destaca-se que cabe à(ao) psicóloga(o) que realizou o serviço ou
intervenção concluir o trabalho com a emissão do documento que atenda à
demanda realizada. Assim, não restarão pendências em sua atuação,
mesmo por ocasião do desligamento.
Seção V
Destino e Envio de Documentos
Comentários e Fundamentação:
O beneficiário do serviço prestado sempre tem direito ao documento final,
mesmo que este tenha sido solicitado por órgãos ou instituições. Neste
caso, cabe a entrevista devolutiva, que deve funcionar como uma
elucidação verbal daquilo que está escrito no documento. Sugere-se que,
quando se tratar de resultados pra CNH ou Polícia Federal, entre outros,
para o órgão seja liberado apenas aquilo que o beneficiário necessita para o
trâmite de suas ações, ficando a(o) psicóloga(o) com a cópia do documento
completo que foi repassado ao cliente, assinado por este, comprovando a
entrega.
Respeitando a Resolução CFP n.º 11/2018, que trata de atendimentos
realizados por TICs, em caso de entrega de documentos neste parâmetro, é
obrigatória a assinatura (certificação) digital da profissional e o protocolo de
entrega pode ser a resposta ao endereço de correio eletrônico de envio, em
que o cliente confirma o recebimento.
Sugere-se a emissão de uma cópia do documento produzido em que o
usuário assina que recebeu uma cópia idêntica e data; tal material deve ser
acrescentado ao registro documental do usuário e arquivado em conjunto.
Caso isso não seja possível por algum motivo como, por exemplo, pela
evasão da(o) paciente, sugere-se o registro do contato e tentativa de
devolutiva no prontuário do mesmo.
Ressalta-se que os documentos que podem ser entregues às(aos) pacientes
são os aqui apresentados nesta Resolução e não protocolos de testes
psicológicos.
Sugere-se a guarda física deste material; porém, em caso de registros ou
prontuários eletrônicos, todo material adicional à intervenção que tenha
sido utilizado precisa estar salvaguardado, por exemplo, em caso de uso de
testes psicológicos, a folha de protocolo deve ser escaneada e anexada ao
registro digital.
Seção VI
Prazo de Validade do Conteúdo dos Documentos
Comentários e Fundamentação:
Este item deve ser considerado para os seguintes documentos: Atestado
Psicológico, Laudo Psicológico e Relatório Psicológico. A permanência deste
item na Resolução foi considerada com o objetivo de assegurar a informação
do caráter dinâmico e não determinista do funcionamento dos fenômenos
psicológicos envolvidos em processos avaliativos e de intervenção dos quais
decorrem os documentos emitidos pela(o) profissional da Psicologia.
Desta forma, é essencial que a(o) psicóloga(o) se aproprie com fundamentos
teóricos, técnicos e éticos para se valer da natureza da finalidade de seu
processo de trabalho no que diz respeito a decisão sobre a validade a ser
indicada. Em cada situação a(o) psicóloga(o) deve ter autonomia para
decidir se este item será exposto por meio de informação cronológica, que
pode estar relacionada as normativas que dizem respeito aos
procedimentos utilizados, ou a outras normativas inerentes ao próprio
processo de avaliação psicológica (por exemplo, em um concurso público a
avaliação realizada terá validade somente para aquele fim). De outra forma
a validade pode estar relacionada aos aspectos qualitativos de uma
determinada fase do desenvolvimento do sujeito envolvido no processo de
trabalho da(o) psicóloga(o) como, por exemplo, em um processo de
psicoterapia de um adolescente, fase esta onde muitas mudanças são
esperadas e que o funcionamento dos fenômenos psicológicos podem
alterar-se e, portanto, há necessidade de um acompanhamento frequente
e sistemático.
Neste item a(o) psicóloga(o)também pode considerar uma validade a partir
de um prognóstico favorável levando em consideração a efetivação do
encaminhamento sugerido. Da mesma forma com um prognóstico
desfavorável caso não haja intervenção sugerida, podendo assim
recomendar nova avaliação em um tempo cronológico determinado pelo
resultado do raciocínio psicológico do profissional que resultou no
prognóstico.
Assim, é importante que a(o) psicóloga(o) compreenda que não há um
modelo de prazo de validade para todos os casos. O que vai prevalecer para
esta determinação é o entendimento da natureza do que está sendo
avaliado e da finalidade do documento que está sendo produzido. É
importante que seu documento expresse a dinamicidade dos fenômenos
psicológicos assim como os condicionantes históricos e sociais que atuam
sobre eles.
Seção VII
Entrevista Devolutiva
Rogério Giannini
Conselheiro Presidente
Conselho Federal de Psicologia
DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS: OS LAUDOS E OS
PROBLEMAS EM TORNO DE SUA ELABORAÇÃO
Psicologia
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
Throughout his practice, the psychologist has been asked in various contexts to de-
velop psychological documents, which are divided into: declaration, certificate, psy-
chological report and opinion. This article aims to investigate the psychological doc-
uments and issues around its development. Therefore, the methodology used was
literature, and the clipping of this study the psychological report, an instrument used
to systematically communicate the results of an evaluation process, meeting the de-
mand from various fields. However, this task is often the most avoided by psychologist
because much of the elaborate reports have been criticized for their poor validity.
In response, the category mobilized around the issues arising from the writing and
constant technical failures, inconsistencies and inaccuracies, instituting the Docu-
ment Preparation Manual produced by psychologists arising from Psychological As-
sessment. However, despite the Manual contribute to the psychologist does not incur
basic flaws, it is not enough to prevent errors. It is therefore necessary to deconstruct
the illusory character attributed to psychology, as if it offered tools for a complete
understanding of the subject or magic.
KEYWORDS
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
Segundo Noronha e outros autores (2010) a formação profissional deve ser eficien-
te para garantir uma preparação adequada aos futuros psicólogos, pois se espera que os
testes sejam utilizados por profissionais capacitados a aplicá-lo e interpretá-lo de forma
adequada, já que a maioria das críticas aos testes, além de suas características intrínsecas,
se referem, também, ao uso inadequado dos resultados por profissionais não qualificados.
Pouco depois do início desse tipo de trabalho, a Psicologia foi regulamentada como
profissão no Brasil em 1962, e com ela se iniciam, também, as exigências do laudo
psicológico para admissões, promoções e deslocamento de pessoal nas empresas
brasileiras (SATHER, 2008).
Esse processo teve ampla e rápida expansão nas escolas, onde os psicólogos fo-
ram sendo incorporado, também, com a função de avaliar crianças, montar classes e
fazer encaminhamentos, por meio de laudos, para escolas especializadas, que pudes-
sem corroborar para a devida assistência a crianças com problemas de aprendizagem
ou desenvolvimento (SATHER, 2008); processo que contribuiu para a rotulação dos
psicólogos como “máquinas de fazer laudos” (BARRETO; SILVA, 2011).
A partir de 1994, o laudo foi reconhecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
como atestado que justifica a permissão de licença de saúde ou afastamento junto à
previdência social. Após a instituição da regulamentação das condições para a con-
cessão de atestados psicológicos com o propósito de anuir à licença saúde – realiza-
da nesse mesmo ano – em 1996, dois anos depois, o CFP regulamenta a concessão
de atestados para tratamento de saúde por problemas psicológicos- Resolução CFP
n° 015/96 (SATHER, 2008).
Sather (2008) corroborando com a autora Shine (2009), afirma que aparente-
mente as promulgações foram feitas emergencialmente, já que foram publicadas três
resoluções uma após a outra, sinalizando o anseio de resolver problemas, mesmo que
com a perpetração de erros e correções. Assim, é questionável por que após tantos
anos só nesse momento ser normatizada uma atividade tão corriqueira como essa,
uma vez que as atribuições legais datam de 1971.
Shine (2009) observa que o grande desafio colocado é apresentar uma lingua-
gem precisa, principalmente quando se refere os dados de natureza subjetiva. Na opi-
nião dela, é muito mais fácil “falar” do que “fazer”, principalmente porque não existe
um momento específico de treino na própria formação do psicólogo. Na opinião dela,
seria necessária uma disciplina de especialização em Psicologia Jurídica nas grades
do curso de Psicologia no Brasil. Todavia, sabe-se que esse é um processo difícil, ten-
do em vista que a ênfase na formação generalista do psicólogo em território brasileiro
ser contrária a inserção de disciplinas de especialização.
Padilha, Noronha e Fagan (2007) sugerem que é necessário que os psicólogos rea-
lizem cursos de atualização e se insiram em programas de pós-graduação para aprimorar
o conhecimento necessário para a construção e o uso dos instrumentos de avaliação.
Além disso, a discussão dos problemas éticos que ocorre na disciplina de ética
profissional não dá conta das nuances e especificidades de uma atuação particular.
No que se refere à Resolução do CFP de n° 007/2003, sem dúvida alguma é uma con-
tribuição válida para os psicólogos que elaboram documentos decorrentes de uma
avaliação psicológica, uma vez que permite uma distinção entre os diversos tipos de
documentos, dando uma diretriz mínima para a sua construção (SHINE, 2009).
Dessa forma, fica claro que a formação do psicólogo ainda não se voltou para
um melhor treino para a apresentação de dados obtidos no processo de avaliação
psicológica. Isso se justifica porque durante a formação dos graduandos em Psicolo-
gia, é comum que o ensino e o tratamento em Psicodiagnóstico são finalizados no
exato momento de se redigir um relatório psicológico; implicitamente dizendo que
após se recolher os dados necessários, de qual forma for, bem como os resultados,
não fosse tão importante o processo de transmiti-los (SHINE, 2009.
Assim, os registros devem estar separados apenas pela pontuação, sem parágrafos,
evitando, com isso, riscos de adulterações. Na necessidade de usar parágrafos, o psicó-
logo deverá fazer o preenchimento dos espaços com traços. O atestado emitido com
a finalidade expressa no item 2.1Alínea b, da resolução citada, deverá guardar relatório
correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado, nos arquivos profissio-
nais do psicólogo, pelo prazo estipulado nessa resolução, no item V (CONSELHO..., 2003).
Então, o relatório ou laudo psicológico como todo documento, deve ser sub-
sidiado em dados obtidos e analisados, à luz de um instrumental técnico, como por
exemplo: entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico e
intervenção verbal, consubstanciando em referencial técnico-filosófico e científico
adotado pelo psicólogo (CONSELHO..., 2003).
Por ser uma peça de natureza e valor científicos, o laudo psicológico precisa con-
ter narrativa detalhada e didática, apresentando clareza, precisão e harmonia, tornan-
do-se acessível e compreensível ao destinatário. Para que isso seja possível, os termos
técnicos precisam estar acompanhados de explicações e/ou conceituação retiradas dos
fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam (CONSELHO..., 2003). Além disso, o
laudo psicológico apresenta em sua estruturação cinco itens obrigatórios:
Para finalizar esse item, o psicólogo não deve fazer afirmações sem susten-
tação em fatos e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, principalmente
quando se referir a dados de natureza subjetiva, expressando-se de maneira
clara e exata (CONSELHO..., 2003).
Portanto, o laudo uma vez escrito, constitui-se num ótimo objeto de pesquisa.
Isso se justifica porque ele é algo relativamente identificável e sua leitura permite
determinar os elementos essenciais de um caso, ou seja, as informações básicas; de-
vendo ser de fácil leitura (SHINE, 2009).
5.3 DECLARAÇÃO
mais primitivas, de suas defesas mais regressivas e das mais maduras (ARZENO,
1995); podendo fazer uso, dentre outras ferramentas, das técnicas projetivas
(VERTHELYI, 2009).
Arzeno (1995) acrescenta que é muito difícil que o sujeito acredite na parciali-
dade desse informe, sendo inclusive comum ele lançar sobre o psicólogo um olhar
acusador ou então tentar seduzi-lo com uma atitude cúmplice. Além disso, esse
informe deve ser expresso sem termos inequívocos e apresentar afirmações que
não deixem margem para que sejam usadas conforme convier à causa. Uma vez
elaborada a conclusão a respeito da dúvida que levou à solicitação da investigação,
é conveniente que se justifique essa conclusão, utilizando como apoio alguns pon-
tos do material, não se esquecendo de sempre comunicar-se em termos claros de
uso corriqueiro no âmbito forense.
6) Aos pais: Apesar de raros, podem ser solicitados informes por esses sujeitos. Nes-
se caso, deve-se primeiramente saber o motivo da solicitação do informe, para que
a partir disso o psicólogo possa saber a chave da forma como deverá fazê-lo. Nor-
malmente decorre do desejo de conservar algo escrito para que lhes sirva como
um auxílio para a memória sobre tudo o que foi falado (ARZENO, 1995).
7 CONCLUSÃO
Ao longo de sua prática o psicólogo tem sido solicitado em vários contextos a ela-
borar algum tipo de documento psicológico, que se divide em: Declaração, Atestado Psi-
cológico, Relatório/Laudo Psicológico e Parecer Psicológico. Dentre estes, destaca-se o
laudo psicológico, que é um instrumento usado como forma sistemática de comunicar
os resultados de um processo avaliativo, atendendo a demanda das mais diversas áreas.
REFERÊNCIAS
RODRIGUES, A. J. et al. Metodologia científica. 4.ed., rev., ampl. Aracaju: UNIT, 2011.
p.77-87. (Série bibliográfica).
Resumo
exigiram adaptações dos psicólogos a uma nova realidade de trabalho que privilegia atividades
remotas. O ensino e a prática em Avaliação Psicológica foram algumas das áreas afetadas,
para o contexto da pandemia. Também, ainda que exista um aumento de cursos à distância, são
mudanças no cenário de trabalho e a necessidade de adaptação à situação atual, este estudo busca
1
Manuscrito submetido à Revista Estudos em Psicologia (Campinas), na Seção Temática “Contribuições da Psicologia no contexto d a pandemia da Covid-19”
2
Doutoranda em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Contato:
aline.marasca@gmail.com
3
Doutora em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de Avaliação Psicológica, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
4
Doutora em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
5
Doutorando em Psicologia. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.
6
Professora Doutora em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
discutir a viabilidade de processos de Avaliação Psicológica on-line e apontar direções para seu
embasam essas práticas. Por fim, reforça-se a necessidade do desenvolvimento de tecnologias que
Abstract
With the restrictions imposed by the social distancing resulting from the new coronavirus
pandemic, psychologists deal with a new reality of work that privileges remote activities. Teaching
and practice in psychological assessment were some of the affected areas, requiring psychologists,
professional councils and scientific societies to discuss guidelines for the pandemic context.
Although there is an increase in distance learning courses, restrictions are indicated for teaching
psychological assessment techniques in the on-line environment. Given the changes in the work
scenario and the need of adaptation to the context, this study intends to discuss the viability of on-
line psychological assessment processes and point out guidelines for their improvement. It also
seeks to present possibilities for distance education and supervision. Scientific tests and national
and international regulations that support these practices are discussed. The need to develop
technologies that will allow the process to be conducted in an ethical and safe manner is reinforced.
comunicação (TICs) foi uma das atividades regulamentadas como possibilidade de atuação do
psicólogo a partir da Resolução nº 11/2018 (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2018a). Nela
está prevista a AP, considerando o uso de testes psicológicos com padronização e normatização
específicas para a modalidade on-line, e a supervisão entre profissionais, desde que para ambos os
serviços os psicólogos tenham registro ativo no respectivo Conselho Regional. A partir do que é
descrito no documento, entende-se que a AP on-line pode ser conduzida em diferentes contextos,
desde que atenda às premissas e restrições regulamentadas pelas resoluções vigentes. Entre as
mediante o consentimento de um dos responsáveis legais, desde que ponderada sua viabilidade
técnica (CFP, 2018a). Em decorrência das medidas de distanciamento social impostas pela Covid-
19, a Resolução CFP nº 04/2020 também buscou facilitar o cadastramento de psicólogos para a
avaliação das funções cognitivas, na época, realizada por telefone (Desmond, Tatemichi, &
Hanzawa, 1994). Nos Estados Unidos, diretrizes que incluem AP e testagem estão vigentes desde
orientações que abrangem a segurança dos instrumentos, a qualidade dos dados obtidos, os
intervalos de confiança a serem utilizados e os padrões éticos e técnicos foram divulgadas, (APA,
e a redução de custos, como de deslocamento e de espaço físico (Martin, Millan, & Campbell,
2020; McCord, Bernhard, Walsh, Rosner & Console, 2020). Além disso, pode ser uma solução
quando o atendimento presencial não é viável, como, por exemplo, a vigência da determinação de
No entanto, no Brasil, a utilização das TICs nas distintas áreas da psicologia é incipiente
dos profissionais brasileiros para utilização das TICs na prática clínica (Feijó, Silva, & Benetti,
2018; Hallberg & Lisboa, 2016). Considera-se que, na área de AP, devido à recência da Resolução,
Para se ter uma ideia da carência, são apresentadas duas histórias reais relatadas aos
para uma atividade acadêmica, ele relatou que, em razão da possibilidade de AP online, adaptou
presencial, para um formulário online e gratuito, a fim de utiliza-lo com seus pacientes. A segunda
história é de uma psicóloga, que atua em vara de família em uma cidade do interior do Mato
Grosso, a 750 km de distância de Cuiabá, sendo esta a cidade de referência para que a profissional
pudesse adquirir testes psicológicos, realizar cursos e supervisão. Durante um congresso em Porto
Alegre, afirmou que, assim como ela, suas colegas se sentem desamparadas nas avaliações
relacionadas a disputa de guarda, sem material adequado, sem orientação e supervisão na cidade
que utiliza um teste psicológico de aplicação presencial de maneira on-line, o que pode
CFP nº 11/2018 e os direitos autorais da publicação. No segundo caso, é possível notar que a
produção do conhecimento científico, muitas vezes vinculada aos grandes centros urbanos, poderia
ser disseminada em cidades do interior por meio de atividades remotas. Além disso, a construção
de plataformas para cursos, material de apoio e supervisão à distância conseguiriam alcançar esses
& Benetti, 2018). No entanto, diferentemente do volume de estudos sobre processos psicoterápicos
Por consequência, diante das abruptas medidas de distanciamento social impostas pela Covid-19,
os profissionais que atuam com AP se viram com processos presenciais interrompidos e pouca
qualificação para atender a essas e a novas demandas de maneira remota. Com o intuito de
contribuir para boas práticas na área, o presente estudo pretende discutir a viabilidade de processos
de AP on-line e apontar direções para seu aperfeiçoamento, tomando como base a literatura
deve seguir as especificações técnicas e éticas próprias da AP (CFP, 2018b). Contudo, sua
viabilização requer a adição de cuidados específicos para que ocorra de maneira segura, eficaz e
ética no ambiente virtual (McCord et al., 2020). Com base nas diretrizes do CFP, orientações de
alguns apontamentos e reflexões são necessários a fim de criar possibilidades para sua efetivação
no território nacional.
restrições para que ela ocorra. Porém, além do exposto pela Resolução, outras situações são
características da pessoa a ser atendida, como idade, condições físicas e cognitivas, fatores
culturais e outros dados como familiaridade com o uso de tecnologia, disponibilidade de acesso a
aparelhos eletrônicos e qualidade da conexão à internet (Luxton, Pruitt, & Osenbach, 2014).
Por exemplo, uma pessoa poderia apresentar algumas limitações para o processo avaliativo
on-line, como ter dificuldade em manejar as TICs, apresentar fadiga ou desconforto físico causado
pelo uso da tecnologia, evidenciar alguma restrição que a impossibilite de uma total compreensão
auditiva, visual ou de agilidade motora. Ainda, a ansiedade para lidar com computadores e outros
recursos pode afetar as respostas emitidas em um teste psicológico nesse ambiente (Eckford &
Barnett, 2016). Pondera-se que algumas restrições físicas e cognitivas não necessariamente irão
impossibilitar a realização da avaliação. Contudo, essas devem ser conhecidas a fim de que sejam
empregadas técnicas mais adequadas ou que contem com o suporte eventual de uma terceira pessoa
no processo (Luxton, Pruitt, & Osenbach, 2014), o que no Brasil ainda carece de pesquisas.
Outras características do caso poderão ser determinantes para não adotar a opção on-line.
apresentado pelo paciente (como sintomas psicóticos) e o uso de substâncias, podem ser
indicadores de risco para processos conduzidos nessa modalidade (APA, 2013). No contexto
a realização do procedimento é uma condição que pode apresentar implicações para o resultado
com o avaliando. De modo geral, em um processo de AP, é desejável que seja esclarecido o que é
AP, quais os benefícios para o avaliado, como ela será conduzida (em relação à duração, o contato
e honorários, se aplicável. No contexto virtual, deve ser reforçada a ênfase no sigilo, alertando para
a não autorização de gravações de áudio ou vídeo, além de inteirar quais informações serão
repassadas e quem terá acesso a elas, o psicólogo deverá ter clareza sobre a segurança do ambiente
O psicólogo também necessita atentar para outros aspectos do setting que tendem a ser
avaliando esteja em um ambiente confortável, com privacidade, sem distrações e seguro de que
não será interrompido (APA, 2013). Esse aspecto é relevante não só para maior garantia do sigilo
das informações, mas também para assegurar maior precisão na condução dos testes psicológicos.
Para tanto, sugere-se o uso de um contrato por escrito, em que essas orientações, além de
explicadas, sejam formalmente aceitas pelo avaliando, a fim de resguardar o psicólogo que conduz
o processo e a validade das informações resultantes da avaliação (Lustgarten & Elhai, 2018)
testes psicológicos em ambiente virtual e suas diferenças em relação à versão de lápis e papel é
envolve um rigoroso trabalho de pesquisa e reunião de evidências que embasam a utilidade de seus
Valentini, 2018). Dessa forma, apenas exportar os estímulos de um instrumento para ferramentas
on-line não garante que eles sejam visualizados pelo avaliado da mesma forma como seriam em
características que o definem. Sendo assim, como estabelecer se as respostas do paciente são
Por sua vez, escalas e inventários administrados pela internet tendem a ter alta correlação
com suas versões em lápis e papel, mas não é possível assumir em todas as situações que suas
propriedades psicométricas serão idênticas (Pritchard, Stephan, Zabel, & Jacobson, 2017). Alguns
argumentos para isso são possíveis efeitos de desinibição e mudanças na motivação dos
aplicação presencial (Reips, Buchanan, Krantz, & McGraw, 2016). Também é importante reiterar
psicológicas (CFP, 2005), o que seria o caso de usar em modo on-line um teste que não possui
Diretrizes estabelecidas pela International Test Comission (ITC, 2005; 2017) e nas
adaptação de instrumentos mediados por TICs no que diz respeito à padronização, à normatização
e às evidências de validade dos resultados extraídos neste contexto. Esses cuidados também são
Até maio de 2020, a lista de testes favoráveis do SATEPSI para aplicação on-line/remota
contava com quatro instrumentos, sendo que esses avaliam atenção, personalidade e interesses
pessoais. Além desses, outros 17 atualmente são listados no SATEPSI como instrumentos que
com o avaliando. A Nota Técnica nº 07/2019 (CFP, 2019a) pontua que o formato de aplicação
teste. Desse modo, entende-se que cabe ao psicólogo a análise e o estudo do manual do teste
Outros aspectos são pontuados como limitações em relação à utilização dos testes
psicológicos na modalidade on-line. Entre eles, o baixo controle do psicólogo acerca do ambiente
de testagem e as possíveis interrupções devido à qualidade da conexão à internet (APA, AERA, &
NCME, 2014). Em tarefas dependentes de tempo, por exemplo, uma falha na rede de internet pode
comprometer a utilização do resultado. Apesar de orientações para o avaliando sobre tais questões,
mediados por TICs. A tecnologia pode auxiliar na precisão de algumas medidas, como o tempo de
reação ou o rastreio do movimento ocular (Poletti et al., 2017; Schmand, 2019). Em determinados
contextos, o uso de testes em versão informatizada pode aumentar a interação com o examinando,
apresentar maior riqueza dos estímulos, fornecer maior segurança e rapidez para o armazenamento
dos protocolos respondidos, assim como facilitar a pontuação e interpretação dos resultados
(Oliveira, Bandeira, & Giacomoni, 2019). Assim, é reforçada a importância da pesquisa para o
e ampliar suas possibilidades de atuação. No contexto nacional, algumas iniciativas nesse sentido
estão sendo delineadas por editoras de testes psicológicos e outras empresas já oferecem
plataformas para facilitar a integração dos dados dos instrumentos aplicados e a elaboração de
até o momento, não são fornecidas diretrizes particulares para a produção de documentos
indicando que estes sejam datados e devam situar que foram produzidos no período de pandemia
documentos (CFP, 2019b), bem como o Código de Ética Profissional (CFP, 2005), enfatizam o
cuidado acerca do conteúdo confidencial do material. Assim, é importante que o psicólogo possa
no documento. Entre as considerações possíveis para a prática, estão o uso de arquivos em formato
protegido e a utilização de certificação digital de assinaturas. No futuro, com a popularização da
documentos a partir de usuário registrado e senha fornecidos pelo profissional para o solicitante.
Assim como as plataformas para videoconferência, recomenda-se que esses aplicativos utilizem
criptografia de ponta a ponta ou sejam certificadas pela Health Insurance Portability and
informações de saúde, ou pela Health Information Technology for Economic and Clinical Health
Act, a qual expandiu o escopo da HIPAA (Twist, Hertlein, & Haider, 2016).
Por fim, torna-se importante realizar algumas ponderações acerca do estabelecimento dos
psicológicos on-line é a redução dos custos para sua viabilização. Por um lado, para o psicólogo,
é abonada a onerosa manutenção de uma sala de consultório, seja de um imóvel próprio ou locado,
assim como os gastos com transporte, estacionamento privado, entre outros. Por outro lado, é
possível notar que outros custos acabam se somando para dar condições ao trabalho remoto. Entre
eles, podemos citar a mensalidade para o uso de plataformas que garantam a segurança das
informações, possíveis taxas transacionais que incidem sobre o valor de cada consulta, uma boa
rede de internet e um computador com qualidade de áudio e vídeo. Da mesma forma, para
assegurar a validade dos documentos emitidos em formato on-line, pode-se somar o custo de
confecção e atualização da assinatura digital certificada. Além disso, são mantidos os custos da
aquisição de manuais de testes psicológicos e seus protocolos on-line. Assim, tais valores devem
ser examinados no momento da fixação dos honorários e talvez sugiram que é ilusória a
expectativa de que o trabalho remoto gere uma redução de custos para o avaliador.
O ensino da Avaliação Psicológica em contexto de educação a distância
formação sólida se percebe de modo concreto quando mais de 60% dos processos éticos
desse processo (Zaia, Oliveira, & Nakano, 2018). Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais
para os cursos de graduação em Psicologia, o curso deve seguir sendo generalista (Ministério da
Educação [MEC], 2019). Isso reforça a necessidade de que aqueles que desejam atuar na área de
pois é uma especialidade do psicólogo que requer ampla fundamentação em teorias psicológicas,
domínio no uso de testes psicológicos, instrumentos e técnicas, cuidados éticos e habilidade para
contextualização dos resultados e integração dos dados coletados durante o processo (Bueno &
Peixoto, 2018; Gouveia, 2018; Muniz, 2018; Schneider, Marasca, Dobrovolski, Muller, &
Bandeira, no prelo).
extensão e aulas em cursos de graduação e pós-graduação vêm mudando com o uso das TICs. Já
Gonsalvez, Blackman, Saffioti, & Andresen, 2015), mas com o surgimento da necessidade do
distanciamento social imposta pela Covid-19, o ensino on-line da AP é uma prática que vem se
PowerPoint ou PDF, por exemplo, em ambientes de ensino como o Moodle ou e-mail, com
conteúdos restritos a psicólogos e estudantes de psicologia, que permitam que o aluno baixe a
em que os professores precisaram adaptar suas aulas para um formato totalmente on-line, aulas,
mesmo que transmitidas ao vivo, podem ser gravadas para revisão do conteúdo, fazendo com que
o professor não tenha controle dos rumos que essa gravação pode tomar, o que acaba por ferir o
Art. 18 mencionado. Embora essas situações possam acontecer também no contexto presencial,
quando apresentados na prática remota, a disseminação deste conteúdo pode ser ainda maior, tendo
ensino presencial, pois os alunos podem gravar em áudio ou vídeo as aulas, ou ainda fotografar as
projeções sem que o professor perceba. Dessa forma, sugerem-se algumas estratégias de cuidado
específicas para essas questões. Inicialmente, antes de ministrar aulas com conteúdos exclusivos
(presencial ou remotamente), é importante discutir com os alunos os danos que podem advir da
não observância do Art. 18 do Código de Ética Profissional (CFP, 2005). Depois, solicitar a
assinatura (ou concordância por alguma forma digital legalmente válida) de um Termo de
Compromisso estabelecendo que o aluno se comprometa a não divulgar imagens, áudios ou vídeos
das aulas sob quaisquer formas. Outra estratégia simples indicada aos professores de AP é inserir
nos slides e materiais impressos uma marca d’água indicando que o material foi elaborado somente
para fins didáticos e não pode ser distribuído. Essas sugestões, individualmente, podem não
garantir efetivamente que os alunos não compartilhem as informações de trato exclusivo dos
criptografadas, além de senha com validade por um período restrito (ex.: 60 dias). Tal limitação
reduz a chance de compartilhamento de dados, bem como garante a atualidade das informações.
Cursos com acesso “vitalício” correm o risco de se tornarem obsoletos em uma área em que
de validade, além de revisões nas Resoluções CFP, gerando o risco de o aluno acessar materiais
obsoletos.
A supervisão pode ser definida como uma formação intensiva ou treinamento, focada em
casos clínicos representativos da realidade profissional e que provê apoio, dirige e orienta o
experiência comprovada (Wright, Brabender, & Pade, 2019). No caso da supervisão em AP, esta
deve ser administrada por psicólogo com experiência na área (Wright, Brabender, & Pade, 2019),
podendo ser complementada por discussões e treinamento com profissionais de outras áreas da
saúde.
2017).
em sala de espelhos, gravação em áudio e/ou vídeo das avaliações (Yates, 2016). As formas de
supervisão on-line em psicologia, por sua vez, permitem o uso de recursos como videoconferência
de softwares de seguimento dos resultados clínicos (Hagstrom, & Maranzan, 2019). Tais recursos
sem maiores dificuldades. Contudo, alguns cuidados devem ser tomados para a garantia do sigilo
e segurança dos dados compartilhados pela internet, bem como para a manutenção de um processo
vir a ser útil para os profissionais da área da AP. Além de períodos de distanciamento social, a
supervisão on-line permite aproximar profissionais e supervisores de regiões distantes, bem como
garantir a manutenção da supervisão em momentos em que o contato presencial não possa ocorrer.
Pode-se discutir se haveria um custo menor para a oferta de supervisão on-line, em virtude desta
poder ser oferecida a partir da residência do supervisor, sem exigir um consultório ou outro local
de trabalho. Entretanto, assim como destacado na seção da prática da AP deste artigo, outros custos
podem se somar quando se ministra a supervisão remota como, por exemplo, a adoção de
plataformas criptografadas para evitar que as informações discutidas entre os profissionais sejam
É importante considerar que a supervisão à distância também gera alguns desafios para o
supervisor, como a aparente redução do controle do processo, ao não poder manusear os protocolos
aplicados pelo supervisionando (que geralmente coloca uma “pilha” de materiais sobre a mesa, ao
quais o supervisor vai visualizando e selecionando). Tal dificuldade exige clareza no contrato de
trabalho entre o supervisor e o supervisionando: como esta ocorrerá? A supervisão é voltada para
Caso seja voltada para todo o processo de avaliação, o supervisionando deverá enviar todos os
protocolos aplicados. Isso será virtualmente ou fisicamente? Tais decisões irão influenciar na
distância, como a familiaridade dos usuários com o ambiente virtual, a necessidade de uma boa
pacientes. É importante lembrar que esse cuidado não deveria ser restrito aos casos de supervisão
on-line, mas também a casos de revisão de documentos feitos por supervisores que atendem seus
estudantes de psicologia).
presencial (Vannucci et al., 2017), sendo mais comuns estudos e diretrizes sobre supervisão e
estratégias são mais efetivas na transmissão de conhecimento prático aos alunos, que
Considerações Finais
ao novo cenário de trabalho imposto pelas restrições da pandemia da Covid-19, indicando que esse
reflexões para a prática e o ensino de maneira ética e segura, em especial em uma área delicada
como a AP.
demonstrem evidências de validade e confiabilidade dos escores de uma maior variedade de testes
para aplicação on-line ou remota, assim como o desenvolvimento de outras tecnologias que
favoreçam e tornem segura a condução da AP on-line. Ainda, pondera-se que o psicólogo, antes
de assumir a realização de um processo de AP on-line, considere sua capacitação teórica e técnica
consciência ética entre estudantes e profissionais da Psicologia. Além do cuidado com o não
vir a ser útil para os profissionais da área da AP. Recomenda-se na supervisão as mesmas
são necessários para a análise da eficácia da supervisão em AP tanto presencial como on-line.
psicológica, é uma medida que tende a contribuir com a expansão e a especialização da área. É
relevante ressaltar o papel dos professores e dos supervisores como guardiões da qualidade e da
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518 518
Laudo Psicológico:
Operacionalização e Avaliação
dos Indicadores de Qualidade
Psychological Report: Operationalization
and Evaluation of Quality Indicators
Fábio Henrique
Vieira de Cristo e Silva
Universidade de Brasília
Resumo: A falta de cuidado na elaboração do laudo tem gerado denúncias contra psicólogos, e necessita
de estudos para aprimorar tal atividade. Este trabalho avaliou a guarda, a estrutura e o preenchimento dos
documentos produzidos por sete psicólogos peritos em trânsito. Selecionaram-se os laudos dos motoristas
profissionais que se submeteram à avaliação psicológica em uma clínica credenciada em dois momentos:
aquisição da permissão (2002) e renovação/mudança de habilitação cinco anos depois (2007). Os critérios de
qualidade foram definidos e operacionalizados com base nas resoluções do Conselho Profissional. Dos 839
motoristas selecionados para participar do estudo tendo seus laudos avaliados, esperava-se encontrar igual
quantidade de laudos. Foram encontrados 67 laudos, tanto em 2002 quanto em 2007, o que evidenciou
problemas na guarda. Analisaram-se os 67 laudos de 2007, sendo indicados vários problemas na estrutura
(inexistência de identificação do psicólogo; em vez da conclusão, foi identificado parecer final; não foi
expresso o local de realização dos exames) e no preenchimento dos laudos (uso excessivo de abreviações
na escrita; incorreções na denominação dos instrumentos; ausência dos resultados e não integração dos
dados obtidos no processo avaliativo). São sugeridas avaliações sistemáticas na elaboração e na guarda dos
laudos como indicadores de qualidade da avaliação psicológica, o que possibilitará intervenção eficiente/
eficaz com base em critérios precisos.
Palavras-chave: Laudos psicológicos. Psicologia do Trânsito. Controle de qualidade. Atuação do psicólogo
Abstract: The lack of care in the preparation of the psychological report has generated complaints against
psychologists, requiring studies to improve this professional practice. This study evaluated the storage, the
structure and the completion of the documents produced by seven traffic psychologists. The psychological
Este trabalho foi reports of professional drivers who were submitted to a psychological evaluation at an accredited clinic
parcialmente were selected in two phases: upon acquisition of permission (2002) and upon renewal/change of the license
derivado da five years later (2007). The criteria of quality were defined and operationalized based on the resolutions
dissertação
defendida pelo of the Professional Council. Out of the 839 drivers selected to participate in the study whose reports were
primeiro autor evaluated, it was expected an equal amount of psychological reports to be found. Sixty-seven reports were
(Silva, 2008), que found, both in 2002 and 2007, highlighting problems at storage. The 67 reports elaborated in 2007 were
contou com o
apoio financeiro analyzed, and several problems were indicated in the structure (no identification of the psychologist; a final
do CNPq. Uma statement was identified, rather than the conclusion; the location of the examinations was not expressed) and
versão preliminar completion of the reports (overuse of abbreviations in writing; mistakes while naming the instruments; lack
deste artigo foi
apresentada of results and non-integration of data obtained in the evaluation process). A systematic assessment of both
no V Encontro the elaboration process and storage conditions of the reports are suggested as indicators of the psychological
da Associação assessment quality, enabling efficient/effective intervention based on precise criteria.
Brasileira de
Rorschach e Keywords: Psychological report. Traffic psychology. Quality control. Psychologist performance.
Métodos Projetivos.
Agradecemos ao Resumen: La falta de cuidad en la elaboración del laudo ha generado denuncias contra psicólogos, y necesita
CNPq pela bolsa
de doutorado estudios para el perfeccionamiento de dicha actividad. Ese trabajo ha evaluado la guardia, la estructura y
concedida ao el relleno de los documentos producidos por siete psicólogos especialistas en tránsito. Se han seleccionado
primeiro autor e los laudos de los conductores profesionales que se han sometido a la evaluación psicológica en una clínica
de produtividade
ao segundo. acreditada en dos momentos: adquisición de la permisión (2002) y renovación/cambio del permiso para
Agradecemos a conducir cinco años después (2007). Los criterios de cualidad se han definido y puestos en marcha basados
Lílian de Oliveira, en las resoluciones del Consejo Profesional. De los 389 conductores seleccionados para participar del estudio
Célia Cristina
Aragão, Thiago con sus laudos evaluados, se esperaba encontrar igual cantidad de laudos. Se han encontrado 67 laudos,
Paulinho, Maria tanto en el 2002 como en el 2007, lo cual ha evidenciado problemas en la guardia. Se han analizado los
Cristina de Cristo e 67 laudos del 2007, y se han identificado varios problemas en la estructura (inexistencia de identificación
Marcelo de Cristo
pelo apoio recebido del psicólogo; en el lugar de la conclusión, se ha identificado un dictamen final; no ha sido mencionado
no desenvolvimento el sitio de la realización de los exámenes); y en el relleno de los laudos ha habido uso excesivo de abrevia-
deste trabalho, e ciones en la escrita, incorrecciones en la denominación de los instrumentos, ausencia de los resultados y
aos pareceristas
anônimos pelos una no integración de los datos obtenidos en el proceso evaluativo). Se sugieren evaluaciones médicas en
comentários la elaboración y en la guardia de los laudos como indicadores de cualidad en la evaluación psicológica, lo
úteis na versão cual posibilitará una intervención eficiente/eficaz con base en criterios precisos.
preliminar deste
artigo. Palabras clave: Laudo psicológico. Psicologia del transito. Control de calidad. Actuación Del psicólogo.
Uma população de 839 laudos foi definida procedimento, análise e conclusão) e 3) para
com base nesses critérios, sendo encontrados, avaliar o preenchimento dos laudos – verificar
efetivamente, os laudos de 127 motoristas que se os subitens dos itens obrigatórios foram
se submeteram à avaliação psicológica em preenchidos ou não, e de maneira correta e
2002. Desses, foram encontrados, pela clínica clara, isto é, se expressaram as informações
credenciada, 67 laudos elaborados em 2007, adequadas em cada item, sendo usados e
que constituem a amostra pesquisada. São explicitados os termos técnicos/conceitos
apresentados aqui os resultados das análises corretamente.
descritivas efetuadas nos laudos de 2007,
cujo formato é padronizado, composto por Como subitens, tem-se definidos: 3.1)
20 subitens com respostas abertas e fechadas. identificação (deve constar o nome do
Esses laudos, além de mais recentes, foram psicólogo, o número do CRP, o nome do
produzidos no período da atual resolução que interessado e o assunto/finalidade), 3.2)
rege a elaboração de documentos psicológicos descrição da demanda (informações sobre
(CFP, 2003). a problemática e os motivos para elaborar
o documento, além de justificativa para os
Na época do estudo, 15 profissionais procedimentos), 3.3) procedimento (recursos
trabalhavam com avaliação psicológica e instrumentos), 3.4) análise (exposição
descritiva e objetiva dos dados/situações
de condutores no Estado. O material
relacionadas à demanda) e 3.5) conclusão
encontrado/recebido e analisado no estudo
(resultado da demanda e do processo em sua
foi elaborado por sete profissionais (laudos
complexidade). Os demais subitens exigidos
que apresentaram identificação): o psicólogo
pelo CFP são designados aqui como: 3.6)
A elaborou 13 laudos (19%), o psicólogo
outros requisitos obrigatórios (local, data de
B elaborou sete laudos (10%), o psicólogo
emissão, assinatura, número do CRP e rubrica
C, quatro laudos (6%), o psicólogo D, três
em todas as laudas, com assinatura na última).
laudos (4,5%), o psicólogo E elaborou dois
A coleta se iniciou em maio de 2007 e
laudos (3%), o psicólogo F elaborou dois
terminou em maio de 2008, sendo realizadas
laudos (3%) e o psicólogo G, um laudo (1,5%).
buscas nos arquivos de duas instituições: três
Em 35 casos restantes (53%), foi impossível
buscas no departamento de trânsito do Estado
identificar o profissional a partir do laudo, o
(laudos de 2002), e duas buscas na clínica
que significa que a amostra selecionada pode credenciada (laudos de 2007). Mediante
não representar a população-alvo. autorização, os pesquisadores e colaboradores
coletaram os laudos de 2002, armazenados em
Procedimentos todas as caixas-arquivo (89) no departamento
de trânsito, onde se encontravam os arquivos
Os critérios de avaliação adotados para da clínica anteriormente credenciada.
verificar o material foram definidos com As buscas foram realizadas com base em
base na resolução CFP n° 007/2003: 1) listagens que continham informações sobre
para verificar a guarda do material – os a população de motoristas escolhida a partir
pesquisadores deveriam encontrar o material dos critérios da pesquisa. As listagens foram
dos motoristas selecionados nos arquivos de disponibilizadas pela empresa terceirizada
2002 e 2007, sendo que as buscas em 2007 junto ao departamento de trânsito para
só ocorreram nos casos em que os laudos produzir as carteiras de habilitação.
de 2002 haviam sido encontrados, 2) para
avaliar a estrutura do laudo – identificar os Em meados de 2003, a clínica que auxiliou
cinco conjuntos de itens básicos e obrigatórios a pesquisa foi conveniada, razão pela qual
(identificação, descrição da demanda, lhe foram solicitados somente os exames de
essas informações nesse item, esperava-se submetido aos exames psicológicos a pedido
que elas estivessem contempladas ao final da autoridade executiva estadual de trânsito
do laudo, como a assinatura, o carimbo e o (Brasil, 2002).
número do CRP, contudo, vários documentos
não apresentaram essas informações, 52%, 2.3. Procedimentos: deveriam estar descritos
52% e 46%, respectivamente, conforme será os recursos e os instrumentos; verificou-se o
exposto na subseção 3.6. Ressalta-se que, ao registro de observações e dos instrumentos
realizar a avaliação, o psicólogo deve fornecer usados para avaliar a área percepto-motora
essas informações aos respectivos DETRANs e a reacional, o equilíbrio psíquico e as
por meio de um sistema de informação, habilidades específicas. Considera-se que os
sendo possível, dessa maneira, identificar o subitens obrigatórios foram contemplados na
profissional. Isso, entretanto, não justifica a estrutura do laudo.
sua ausência no próprio laudo, o que é uma
obrigação do psicólogo (CFP, 2003, 2009a). 2.4. Análise: nesse item, deveria constar a
Sem elas, seria bastante difícil e moroso o exposição descritiva e objetiva dos dados ou
processo de buscar nos arquivos os laudos das situações relacionadas à demanda. Nos
informados pelo sistema, como, de fato, laudos pesquisados, constam os resultados
esta pesquisa demonstra, dedicando um ano obtidos pelos candidatos nos instrumentos,
contudo, os campos disponíveis no
inteiro para a coleta dos dados.
documento (padronizados) são insuficientes
para uma exposição descritiva e objetiva
2.2. Descrição da demanda: deveriam constar
dos dados ou das situações relacionadas
as informações sobre a problemática, os
à demanda, conforme exigido pelo CFP
motivos para elaborar o documento e a
(2003), e constituem, portanto, uma limitação
justificativa dos procedimentos. Na estrutura
da estrutura dos laudos que devem ser
do laudo, todavia, consta, relacionado a esse
preenchidos pelos psicólogos.
item, o motivo de mudança da categoria; não
existem subitens relacionados à problemática
2.5. Conclusão: deveriam, obrigatoriamente,
e à justificativa dos procedimentos. Por um
constar os resultados da demanda e do
lado, considerando a avaliação psicológica
processo em sua complexidade. Em vez dessa
de candidatos à CNH um processo rotineiro,
denominação, identificou-se parecer final,
alguns psicólogos podem argumentar que
caracterizando não conformidade com a
não existe problemática/justificativa nesse
resolução do CFP (2003), que pode evidenciar
caso, por ser obrigatório. Por outro, convém
confusão entre o conceito de laudo e parecer,
destacar que compreender e expressar, também encontrada na literatura (Salazar,
minimamente, os aspectos contextuais do 1996), ou uma interpretação equivocada das
indivíduo auxiliará o psicólogo na escolha orientações do Conselho Federal de Psicologia.
dos procedimentos mais adequados junto ao A Resolução em vigor à época do estudo, n°
candidato (CFP, 2009b). Além disso, alguns 012/2000, indicava a elaboração de um parecer
casos requerem procedimentos específicos final em documento próprio após a finalização
que devem ser descritos e justificados, como do laudo. Nesse sentido, o laudo analisado
na avaliação de candidatos com limitações parece contemplar os dois documentos em um.
físicas e quando houver indícios de deficiência Na nova resolução, a produção do parecer não
física, mental ou de progressividade de foi contemplada (CFP, 2009b).
doença que possa diminuir a capacidade
para conduzir o veículo. Em caso de acidente 2.6. Outros requisitos obrigatórios: nesse
grave, o condutor nele envolvido poderá ser item, deveriam constar, por sua vez, o local,
Escolaridade N % Escolaridade N %
Total 67 100
Nota: Os conteúdos desta e das tabelas posteriores foram retirados, na íntegra, dos laudos pesquisados.
O subitem 5, profissão, não foi preenchido em dois laudos; não foi verificada padronização nas
respostas, que variaram entre o trabalho realizado, a profissão atual e a profissão pretendida
pelo candidato quando adquirisse a habilitação. A maioria (32 - 47,5%) foi categorizada como
motorista (seja de caminhão, de carro particular, de carro pequeno, de ônibus, de Kombi ou
taxista), moto táxi, motoboy ou motoqueiro. Os demais registros não tiveram relação direta com
a profissão de motorista (p. ex., desempregado, estudante, autônomo, dedetização) ou não
foram preenchidos. A amostra pesquisada foi de motoristas profissionais, sendo esperado nesse
item um detalhamento maior sobre a atividade do indivíduo, de modo que o psicólogo pudesse
realizar a sua intervenção de maneira focada. Esses resultados indicam falta de padronização no
registro do dado para torná-lo útil, pois essa informação deveria ter sido colhida e esclarecida na
entrevista inicial para ser registrada objetivamente no laudo, que é a última etapa do processo
avaliativo. Sabendo qual o tipo de veículo que o motorista dirige/pretende dirigir e sua profissão, o
psicólogo pode: avaliar o candidato de acordo com o tipo de veículo a ser conduzido, considerar
essa informação na análise abrangente dos resultados dos testes e no direcionamento de sua
intervenção na entrevista devolutiva. Na prática profissional, essa informação parece irrelevante,
pois motoristas que exercem atividade remunerada (profissionais) e não remunerada (não
profissionais) são avaliados da mesma forma, com os mesmos testes. Entretanto, é reconhecida a
necessidade de uma sistematização mais objetiva das habilidades mínimas desses diferentes tipos
de motoristas (CFP, 2009b). O uso em pesquisa dos resultados das inúmeras avaliações feitas nas
clínicas credenciadas poderia colaborar com essa sistematização.
O subitem 6, categoria de habilitação (ver Tabela 4), não foi preenchido em três laudos e, em
outros dois, não foi identificado o tipo de habilitação, mas a palavra carro. Ressalta-se que o
Código de Trânsito Brasileiro (Brasil, 2002) define que os candidatos poderão habilitar-se em
categorias que variam de A a E, sendo que o automóvel corresponde à categoria B. Assim,
3.2. Descrição da demanda. O subitem 7, motivo de mudança de categoria (ver Tabela 2), foi
preenchido inadequadamente em quatro casos, indicando, em vez do motivo, o tipo de serviço
(mudança ou renovação), não tendo sido preenchido em 25 casos (37%). Isso pode evidenciar
que o item não se aplica a alguns candidatos, como nos casos de renovação da CNH, o que não
implicaria, necessariamente, mudança de categoria. Ressalta-se a presença da seguinte resposta:
“Pretendo dirigir carro de porte grande”, o que pode indicar que o próprio candidato preencheu
esse item do laudo. É oportuno ressaltar que o laudo psicológico é um documento científico,
razão pela qual deve ser preenchido pelo psicólogo que possui a capacitação necessária (CFP,
2003). Talvez algumas das falhas no preenchimento desse laudo possam ser explicadas pelo fato
de o preenchimento ter sido feito pelo próprio candidato à revelia da lei. Nos demais laudos,
não se teve evidência semelhante. Em vários laudos, os psicólogos usaram abreviações.
Motivo N % Motivo N %
Renovação 5 7,5
renov. 4 6 A-D 1 1,5
renovação de exames 2 3 AB-AD 1 1,5
renov CNH vencida 1 1,5
validade renov. 1 1,5 colocado atividade remunerada 1 1,5
Ren. + mud. – p/ profissionalizar-se 1 1,5
renovação + mudança. 1 1,5 para se algum dia eu vier a precisar 1 1,5
por causa de trabalho
vai dirigir caminhão
renovação + mud. cat (ativ. 1 1,5 Sem resposta 25 37
remunerada)
Total 67 100
3.3. Procedimento. No subitem 8, observações, a maioria dos laudos (55 - 82%) não teve qualquer
registro. Nos casos em que isso foi feito (12 - 18%), verificaram-se abreviações e alguns registros
que se relacionavam aos itens já contemplados no laudo, como: local de residência do candidato
([...] desde criança e reside em [...]), situação emocional ou problemas do candidato (apresenta
tartamudez e tio doente no hospital), identificação do candidato ([...], solt., mora c/ pais e “[...],
solt., mora c/ pais e 01 irmão), testes aplicados anteriores, abreviações: AC (41 - 61,2%),
(PLG/TD e TCA, abreviações de palográfico, TC-B (4 - 6%) e TC-A (2 - 3%).
TADIM e TACOM-A), escolaridade (cursando
2° ano do EM) e informações gerais dos No caso da atenção difusa, foram aplicados
resultados e da retestagem (resultado de três testes (Teste de Atenção Difusa 1 –
05.06 lançado em 12.06.07, pois apareceu TEDIF-1, Teste de Atenção Difusa para
8 dias antes; reteste c/ 10 dias por iminência Motorista – TADIM, e sua segunda versão, o
de perder emprego). Conforme se verifica, TADIM-2), sendo que 21 laudos (31%) não
esse subitem não foi destinado ao registro de explicitaram os testes usados; também foram
observações sistemáticas do comportamento identificadas abreviações: TD para TADIM (34
do candidato, especialmente durante a - 51%), TD-2 ou TD2 para TADIM-2 (2 - 3%
testagem; algumas informações já estavam e 1 - 1,5%, respectivamente) e TF1 ou TDF-
contempladas em outros subitens. 1 para TEDIF-1 (2 - 3%, 4 - 6%, e 3 - 4,5%,
respectivamente).
O subitem 9, testes da área percepto-reacional
e motora, não foi preenchido em 20 laudos Os resultados dos subitens 9 a 11 indicam
(30%). Nos documentos que apresentaram que todos os testes possuem o parecer
essa informação, identificou-se a aplicação favorável; entretanto, também indicam falta
de testes de inteligência (Teste não Verbal de informação e clareza na expressão dos
de Inteligência – R-1, e Teste de Raciocínio testes usados, contrariando as normas do
Lógico – TRAP-1). Alguns psicólogos usaram CFP (2003).
abreviações não padronizadas para identificá-
los: R-1 (25 - 37%), R1 (15 - 22%), TRAP-1 3.4. Análise. No subitem 12, resultados
(4 - 6%) e TRAP (3 - 4,5%). Em 11 laudos das áreas percepto-reacional e motora, 20
(16,5%), o teste Atenção Concentrada (AC) laudos (30%) não apresentaram os resultados
foi colocado nesse subitem incorretamente, obtidos pelos candidatos (ver Tabela 3). Nos
uma vez que se caracteriza como um teste laudos que apresentaram essa informação,
de habilidade específica, subitem 11. observaram-se variadas formas de expressá-la
(p.ex., MS para médio superior, MI para médio
O subitem 10, testes do equilíbrio psíquico, inferior, S para superior, e + e - para indicar
não foi preenchido em 22 laudos (33%). bom ou mau desempenho no teste).
Nos documentos que apresentaram essa
informação, identificou-se a aplicação do No subitem 13, resultados do equilíbrio
Teste de Personalidade Palográfico, assim psíquico, 21 laudos (31%) não apresentaram
como o uso das seguintes abreviações: PLG os resultados, sendo identificado o uso de
(44 - 66%) e PG (1 - 1,5%). abreviações (p.ex.: ok!, I, +/-, -, apto, - e MI,
ver Tabela 3). Destaca-se que ok foi usado
No subitem 11, testes das habilidades na maioria dos casos. Abreviações como: ok,
específicas, foram usados testes para ok!, apto e + foram usadas para indicar bom
avaliar a atenção concentrada e a atenção desempenho. Inversamente, as abreviações
difusa. No caso da avaliação da atenção +/-, Reg. ou I foram usadas para indicar que
concentrada, foram usados três testes o candidato se saiu mal no exame, de maneira
(Atenção Concentrada Suzy Cambraia – AC e regular ou inferior; o resultado, porém, não
Teste de Atenção Concentrada para Motorista fica claro.
formas A e B – TACOM-A e TACOM-B).
Esse item não foi preenchido em 20 laudos No subitem 14, resultados das habilidades
(30%), identificando-se, conforme os subitens específicas (ver Tabela 3), consta a avaliação
da atenção concentrada, mas 20 laudos (30%) não explicitaram os resultados. No caso da atenção
difusa, 21 laudos (31%) também não o fizeram, e foi verificado, também, conforme os itens
anteriores, o uso de abreviações. Em geral, não constam os escores brutos nos resultados, nem
os percentis. Em vários casos, os profissionais usaram as conclusões, isto é, apto/inapto, o que só
deve ser atribuído ao final do laudo no item conclusão (CFP, 2003). Os resultados são expressos
por meio de abreviações, o que os torna pouco claros e precisos. Guzzo e Pasquali (2001)
afirmam que um laudo com qualidade técnico-científica deve não só expressar os instrumentos
utilizados, o objetivo e o nome de cada uma deles, como também especificar os resultados brutos
e padronizados de cada teste, evitando o excesso de sentenças abreviadas.
Os resultados dos testes não foram discutidos à luz do entendimento dinâmico das condições
do analisando, tampouco foram relacionados com as informações obtidas por meio da
entrevista, das observações ou da teoria. Aspectos semelhantes foram evidenciados no contexto
organizacional. O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo - CRPSP (2006) identificou que,
sobre a fundamentação teórica envolvida no processo, pouco mais de 50% apresentaram alguma
referência teórica, além de manuais e testes psicológicos. Apesar disso, Wechsler (2001) considera
que o psicólogo deve usar linguagem adequada aos destinatários que inclua os diversos aspectos
do sujeito, especialmente a natureza dinâmica e circunstancial dos resultados. Cunha (2000),
por sua vez, sugere que, para que a comunicação seja cientificamente adequada, é necessária
a realização da seleção, da organização e da integração dos dados no processo de comunicar.
Tabela 3. Exemplos de preenchimentos dos itens relativos aos resultados dos testes
MS 10 15 Ok 15 22 MS 10 15 MS 11 16
MI 8 12 MI 10 15 S 9 13 M 10 15
S 8 12 +/- 7 10 M 9 13 Apto 7 10
Apto 7 10 Apto 6 9 Apto 7 10 MI 7 10
M 3 4,5 ok! 4 6 MI 3 4,5 I 3 4,5
MI (g) 3 4,5 + 2 3 I 3 4,5 apto – S 2 3
apto – S 2 3,0 I 1 1,5 apto – S 1 1,5 S 2 3
I 2 3,0 Reg. 1 1,5 apto – MI 1 1,5 apto – MI 1 1,5
apto – MI 1 1,5 apto – M 1 1,5 MI (g) 1 1,5
+ 1 1,5 + 1 1,5 + 1 1,5
M/Sup. (apto) 1 1,5 - 1 1,5 M/Inf. (apto) 1 1,5
- 1 1,5 M/Inf. (apto) 1 1,5
sem resposta 20 30 sem resposta 21 31 sem resposta 20 30 sem resposta 21 31
Total 67 100
3.5. Conclusão. O subitem 15, parecer final (ver Tabela 4), não foi preenchido em dois laudos
(3%). Dezesseis laudos (24%) apresentaram essa informação usando abreviações na escrita, tais
como, está apto p/ con (AD) e no momento apto p/ CNH D, para expressar que o candidato está
apto para conduzir ou para adquirir a carteira de habilitação do tipo AD ou D. Quatro candidatos
foram considerados inaptos. Alguns laudos não têm conclusão; em outros, falta clareza devido
ao uso de abreviações. Apesar disso, a conclusão do laudo deve descrever a tomada de decisão
técnica do profissional, deve concluir sobre algo, sem margem de dúvidas, de forma que se
tenha certeza do resultado da avaliação (CFP, 2003). Deve-se, ainda, evitar impropriedade na
escrita e no uso de termos (Anastasi & Urbina, 2000; Cruz, 2002; Santos & Silva Neto, 2000).
Considerando conjuntamente a avaliação dos itens procedimentos e análise, apresentados nas
subseções anteriores, assim como a existência de poucos candidatos inaptos, parecem existir
evidências de que alguns peritos chegaram às suas conclusões sem que os indivíduos tenham sido
plenamente avaliados. Não foi verificada nenhuma recomendação aos candidatos, especialmente
àqueles considerados inaptos. Entretanto, o CFP (2003) e Wechsler (2001) indicam que se devem
constar no laudo recomendações específicas, que incluam os diversos aspectos do sujeito. Guzzo
e Pasquali (2001), por sua vez, reivindicam maior atenção à produção de laudos na formação
dos psicólogos, pois muitos profissionais têm reproduzido nos documentos apenas os resultados
dos testes, sem considerar os aspectos contextuais de desenvolvimento dos indivíduos. Segundo
os autores, laudos com essas características contribuem apenas com os requisitos legais, mas são
ineficazes do ponto de vista da tomada de decisão.
3.6. Outros requisitos obrigatórios. Verificou-se o devido preenchimento do subitem 16, data,
em todos os laudos. No subitem 17, assinatura do usuário, observou-se que dois laudos (3%) não
estavam assinados. Dos laudos assinados, 20 (30%) foram assinados com caneta e 45 (67%) com
lápis grafite, o que possibilita a ocorrência de fraudes. No subitem 18, assinatura do psicólogo,
35 laudos (52%) possuíam apenas a rubrica, não sendo possível identificar quem elaborou o
documento.
No subitem 19, o carimbo não foi usado em 35 laudos (52%). No caso dos que apresentaram
o carimbo, isto é, 32 laudos, analisou-se a legibilidade do nome do profissional com base na
nitidez (legível; moderadamente legível, quando era possível observar o nome do profissional,
porém com dificuldade, devido à pouca nitidez da tinta, e ilegível, quando o nome ou parte
dele estava completamente apagado). Quatro carimbos foram considerados ilegíveis, e três,
moderadamente legíveis.
O subitem 20, número do registro profissional (CRP), não foi preenchido em 31 laudos (46%).
No caso dos que apresentaram o registro no carimbo, foi analisada a legibilidade do CRP de
maneira semelhante ao item 19 (legível, moderadamente legível e ilegível). Dos 36 laudos
com CRP no carimbo, três foram considerados moderadamente legíveis e um foi considerado
ilegível. Em relação aos subitens obrigatórios dessa seção, outro estudo encontrou problemas
semelhantes, dentre eles: ausência do nome completo do profissional, ausência da expressão
psicólogo e do número de registro do Conselho no carimbo e folhas dos laudos sem rubricas e/
ou não assinadas (CRPSP, 2006).
1. Nome do usuário Registrado em todos os documentos. Todos os laudos foram preenchidos à mão. Uso de
abreviações e caligrafia de difícil leitura em muitos laudos.
2. Idade Registrada em todos os laudos, todavia, identificou-se uma variação no modo de registro.
Alguns registraram a idade (n=38 - 57%), outros apenas a data de nascimento (13 - 19%)
e outros, ainda, ambas as informações (16 – 24%).
3. Número da identidade e Registradas em todos os casos, porém, em 16 (24%) laudos, não foi registrada a UF.
unidade federativa (UF)
4. Escolaridade Registrada em todos os laudos, entretanto, com o uso de terminologias diferentes, p. ex.,
2° ou 1° grau e ensino médio, ensino superior. Demais problemas: em alguns casos, foi
colocada a última série concluída; em outros, a série em andamento, em outros, ainda,
o nível de escolaridade completa, incompleta ou não divulgada.
5. Profissão Registrada em todos os laudos, contudo, sem uma padronização em grupos de motoristas;
em alguns casos, foi registrada a profissão atual e, em outros, a profissão pretendida do
candidato depois da aquisição da habilitação. Os demais registros não tiveram relação
direta com a profissão de motorista (p. ex., desempregado, estudante, autônomo,
dedetização) ou não tiveram resposta.
6. Categoria de habilitação Em três laudos, não houve preenchimento; em outros dois, não foi identificado o tipo de
pretendida habilitação, mas a palavra carro. Apesar de não solicitado, 22 (33%) laudos informaram,
em acréscimo, o tipo de serviço solicitado, isto é, mudança e/ou renovação da habilitação:
AD – renovação, AD – mudança, D – renov., Ren. AB, Ren. + Mud. – AD, D – mud.,
A – Renovação, B renov.
7. Motivo de mudança da Em 25 (37%) casos, não aparecem os motivos, e, em quatro (6%) casos, o item foi
categoria preenchido indicando o tipo de serviço solicitado.
8. Testes e Área percepto- Vinte laudos (30%) não apresentaram os testes usados, nem os resultados. Uso de siglas
resultados motora e não padronizadas (R1 e TRAP). Os resultados apresentam diferentes designações ou a
reacional* classificação abreviada (apto, MI, I, apto – MI, +).
Equilíbrio Vinte e dois laudos (33%) não apresentaram os testes usados, nem os resultados. Uso de
Psíquico* siglas não padronizadas (“PLG” ou “PG” para o palográfico). Os resultados apresentaram
diferentes designações (ok!, i, +/-, -, apto, -).
Habilidades Quarenta e um laudos (61%) não apresentaram os testes usados, nem os resultados. Uso
específicas* de siglas não padronizadas (TC-B para o teste TACOM-B). Os resultados apresentaram
diferentes designações ou com abreviação da classificação (apto, M,, I, +, -).
9. Parecer final Deveria ser denominada conclusão, em vez de parecer final. Não foi expresso em dois
(3%) laudos e 16 (24%) laudos apresentam abreviações na escrita (está apto p/ con (AD),
no momento apto p/ CNH AD, no momento apto p/ CNH D, Está apto p/ con (AE), cond
apto, cond apto p/ CNH (AD), Inapto T). Quatro candidatos foram considerados inaptos.
As conclusões apresentadas não transmitem a análise da demanda em sua complexidade
e do processo de avaliação psicológica como um todo.
10. Data Registrada em todos os laudos.
11. Assinatura do usuário Dois (3%) laudos não estavam assinados; 45 (67%) estavam assinados com lápis grafite.
12. Assinatura do psicólogo Todos assinaram, todavia, em 35 (52%) laudos constavam apenas a rubrica, sem o carimbo
e carimbo exigido, não sendo possível identificar quem realizou a avaliação psicológica, e 35 (52%)
laudos não apresentaram o carimbo com as informações profissionais.
13. N° do CRP Não constaram em 31 (46%) laudos, apesar de ser obrigatório.
* O presente estudo ocorreu durante a vigência da resolução CONTRAN n° 080/1998, que apresentava essas denominações. A resolução
CONTRAN n° 267, de 15 de fevereiro de 2008, atualmente em vigor, estabelece: tomada de informação, processamento de informação,
tomada de decisão, comportamento e traços de personalidade (www.denatran.gov.br).
É possível concluir que a maior parte dos Estudos futuros deverão pesquisar as
laudos psicológicos analisados não possui a possíveis implicações (emocionais, p. ex.) de
qualidade técnico-científica recomendada laudos sem qualidade para os candidatos –
pelo Conselho Federal de Psicologia. Deve- especialmente os considerados inaptos –, para
se ter cautela, no entanto, com qualquer outros profissionais (tomada de decisão) ou
generalização, visto que os resultados mesmo para a sociedade. Deverão investigar,
podem não refletir as características típicas igualmente, o que provoca tais falhas, seja no
tanto da população de psicólogos do trânsito, seja nas outras áreas da Psicologia,
Estado (53% dos documentos não tinham a considerando a realidade desses profissionais
identificação) quanto dos laudos produzidos e o perfil da população que procura os
por eles junto aos motoristas profissionais em serviços psicológicos. Alguns elementos
2007, devido à baixa frequência de laudos podem ser destacados além daqueles
encontrados. É possível que laudos mal apontados pelo CFP (2006), tais como: a
elaborados tenham aparecido mais vezes falta de tempo realizar todo o processo de
na amostra, seja porque foram avaliados avaliação psicológica, a pouca experiência
os documentos de alguns profissionais mais e/ou a falta de conhecimento sobre a
do que de outros, seja porque os laudos elaboração de documentos psicológicos, os
bem elaborados não foram cobertos na baixos valores pagos pelas clínicas de alguns
amostra selecionada a partir do método Estados para avaliar um candidato ou, ainda,
usado. O ato de avaliar dos pesquisadores o pouco interesse que parece ser dado, talvez,
também pode ter introduzido erros de a esses profissionais, inclusive por parcela da
julgamento, que devem ser minimizados categoria profissional.
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