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psíquica grave
Dentro dos compromissos do GIPSI, consideramos ainda que, por mais que
sejam identificados sinais e sintomas psicopatológicos próprios dos transtornos
psicóticos em uma primeira crise, este é um momento em que ações podem ser tomadas
e a crise não pode ser tratada como uma “pré-psicose” ou “esquizofrenia”, a priori.
Assim, a intervenção precoce proposta pelo GIPSI é multidisciplinar e abrange, para
além do indivíduo, sua família e rede de saúde. Para fazer isto, mais do que seguir o
paradigma da intervenção precoce, preconizado na III Conferência de Copenhagen
(McGorry, 2005), o GIPSI propõe constante revisão de nossas práticas, por meio da
articulação entre a clínica, a pesquisa e a atuação política na rede de saúde mental do
DF.
1 Encaminhamento
Uma pessoa em crise pode ser encaminhada para acolhimento no GIPSI por
dois principais meios:
1.2 Telefone de crise: trata-se de um celular cujo número está disponível para
moradores do DF que estejam em crise ou para seus familiares e profissionais
envolvidos. Dois membros do GIPSI plantonistas são responsáveis por atender às
emergências, direcionar para atendimentos possíveis, agendar acolhimentos no CAEP
ou em visitas domiciliares, a depender das condições da crise. Neste caso, a dupla de
terapeutas é quem preenche a ficha Critérios e Guia de Encaminhamento de Clientes,
pois este é o documento oficial para entrada de clientes para atendimento no GIPSI, o
qual é anexado ao prontuário do cliente no CAEP.
O GIPSI se reúne no CAEP duas vezes por semana, para reuniões de quatro
horas, cada. Estão presentes o coordenador e os outros membros do grupo: estagiários,
auxiliares de pesquisa, profissionais voluntários, estudantes de pós-graduação
(especializandos, mestrandos e doutorandos), entre psicólogos, terapeutas ocupacionais,
psiquiatras, dentre outros. Cada membro é distribuído em uma hierarquia que respeita
suas especificidades de conhecimento, em núcleos interligados das diferentes esferas de
atuação do grupo: clínica individual, clínica familiar, psiquiatria, psicossocial,
psicodiagnóstico e pesquisa.
Além dos encontros regulares das supervisões clínicas, o grupo ainda conta
com mais quatro momentos muito particulares:
3 Dimensões do Acolhimento
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Sentimentos ou manifestações intensas o suficiente para serem reportadas pela família ou indivíduo
como diferentes de seu próprio funcionamento usual, mas que não atingem a gravidade suficiente para
serem considerados sintomas no sentido mais psiquiátrico do termo.
No mais das vezes, a orientação médica é a primeira providência tomada
quando de uma crise do tipo psicótico (Carvalho & Costa, 2006) e um levantamento
sintomatológico provavelmente já foi feito, no sentido de uma anamnese psiquiátrica.
Nossa investigação, no entanto, pretende ir além de uma simples revisão da
sintomatologia na constituição de uma hipótese psicodiagnóstica. Para o GIPSI, a
investigação sindrômica é necessária para que, em supervisão, respondamos à seguinte
pergunta: “esse cliente é nosso?”.
Já foi dito acima que, de forma geral, o primeiro contato com o serviço de
saúde que uma família em crise psicótica estabelece é com um médico, geralmente um
psiquiatra. A formação do grupo de pessoas vinculadas ao GIPSI é algo flutuante.
Sempre há auxiliares de pesquisa, estagiários, profissionais e estudantes de pós-
graduação que são da Psicologia. No entanto, a presença de assistentes sociais,
terapeutas ocupacionais, enfermeiros, antropólogos e, particularmente, psiquiatras,
depende de uma série de fatores vinculados à prática acadêmica, já que o GIPSI também
comporta essa faceta.
Isto é importante, porque, na maior parte dos casos, como se trata de primeiras
crises, tanto o indivíduo como sua família se encontram em momento de intensa
mobilização e angústia. Perceber-se a si mesmo, aos familiares ou às condições sociais
de maneira estranha, como se algo estivesse “errado, estranho, confuso” é algo
extremamente perturbador e por isso, antes de qualquer coisa, propomos oferecer escuta
e apoio para que a “estranheza” não se sobreponha demasiado ao que se manteve de
“são” entre os membros da família.
Isto significa que, mais do que dizer a uma pessoa em crise e à sua família que
uma fala “não faz sentido”, que eles precisam “voltar para a realidade”, o acolhimento
do GIPSI propõe o holding do indivíduo sintomático e sua família, oferecer continência
e pertecimento à sua fala, dar crédito e merecimento ao seu sintoma, com sensibilidade
o suficiente para perceber, naquele momento, do que a família necessita. Isto é
necessário porque não faz sentido prescrever o mesmo procedimento para todas as
famílias, para todas as crises. Cada uma possui características diferentes, específicas
daquele momento e daquelas pessoas. O sintoma faz sentido dentro de um conjunto
complexo de interações entre os membros da família.
4.3 Esclarecimentos psicoeducativos sobre o que é uma crise e quais recursos para
enfrentá-la
Cabe aqui retomar algumas bases filosóficas que subsidiam o GIPSI em seu
questionamento dos conceitos tradicionais utilizados em saúde mental. Szasz (1960)
discute sobre a prática da psiquiátrica tradicional e aponta a confusão epistemológica
presente no dualismo simétrico entre sintomas mental e físico na metaforização do
cuidado médico ao sofrimento psíquico. Para esse autor, o “sintoma mental” é
intrinsecamente relacionado ao contexto social em que ele é fabricado, dado que nomear
a fala de uma pessoa como um sintoma mental, leia-se diagnosticar, é um ato complexo
que envolve várias dimensões: a atribuição do julgamento do médico, a comparação
entre as ideias e crenças do referido “paciente” e as do observador, a inserção de ambos
em uma cultura e numa história, além das decorrências do próprio diagnóstico para
interesses tanto do médico quanto da família.
Quando acolhemos um caso que não faz parte da nossa especificidade, nos
preparamos para encaminhá-lo ao serviço mais adequado. A partir da investigação da
dimensão de rede, esta decisão pode ser tomada com os critérios necessários.
“Reflexões Gipsianas”
Referências
Palazolli, M. S., Cirillo, S., Selvini, M. & Sorrentino, A. M. (1998). Os jogos psicóticos
na família. São Paulo: Summus.
Szasz, T. (1960). The myth of mental illness. The American Psychologist, 15, 113–118.
_______. (1979). The lying truths of psychiatry. Journal of Libertarian Studies, 3(2),
121-139.