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Avaliação Psicológica na Atualidade

e Elaboração de Documentos
Psicológicos

Brasília-DF.
Elaboração

Ana Paula Corrêa e Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I

Avaliações psicológicas................................................................................................................. 9

Capítulo 1

Contexto conceitual e histórico...................................................................................... 9

Capítulo 2

Ética, possibilidades e desafios atuais............................................................................... 16

Capítulo 3

Diretrizes do Conselho Regional de Psicologia........................................................... 22

Unidade iI

A Ciência Das Medidas Psicológicas............................................................................................ 27

Capítulo 1

A medida............................................................................................................................... 27

Capítulo 2

Os instrumentos e suas características psicométricas................................................. 34

Capítulo 3

O processo de avaliação................................................................................................. 40

Unidade iII

Tipos de Avaliação Psicológica.................................................................................................... 45

Capítulo 1

Áreas de inserção no mercado....................................................................................... 45

Capítulo 2

Alguns dos instrumentos utilizados................................................................................. 53


Unidade iV
Elaboração de Documentos Psicológicos................................................................................ 59

Capítulo 1
Diferenciação dos tipos de documentos psicológicos............................................. 59

Capítulo 2
Aspectos técnicos para a elaboração dos documentos............................................ 65

Referência..................................................................................................................................... 83
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A avaliação psicológica é um procedimento composto por ferramentas consideradas
válidas cientificamente, que servem para avaliar os processos psicológicos, sendo o
psicólogo o único habilitado por lei a utilizar os instrumentos disponíveis no mercado.

É essencial que os profissionais entendam o delineamento histórico e conceitual,


bem como as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia, que instituíram a partir
de elementos norteadores, o que hoje representa o posicionamento ético e prático da
categoria diante dos instrumentos de medida psicológicos.

Os estudos sobre a medida em ciências humanas e sociais conduzem a fundamentação


científica e aos parâmetros psicométricos envolvidos nos procedimentos de validação
de tais instrumentos, sendo de extrema importância que os psicólogos entendam a
relevância da psicometria em trazer a cientificidade para a Psicologia.

A partir da natureza e da complexidade da ciência psicológica, vários tipos de avaliação


e também várias áreas de inserção no mercado são apontados, mas provavelmente, essa
discussão não se esgota naquilo que é referenciado atualmente. Esse é campo marcado
por características de dinamismo e de necessidade de contextualização frequente, exemplo
disso são as constantes atualizações das diretrizes que regulamentam a profissão.

No entanto, as normas para a elaboração dos documentos produzidos na avaliação são


padronizadas, independente do tipo ou da área em que está sendo aplicada e devem ser
respeitadas por todo profissional que faz uso de tais instrumentos.

Objetivos
»» Compreender o contexto histórico e conceitual.

»» Conhecer as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia e o


posicionamento ético atual da categoria em relação a utilização de
instrumentos de medida em Psicologia.

»» Entender a importância da cientificidade no conceito de medida, nos


parâmetros psicométricos e no processo de aplicação.

»» Apresentar os tipos de avaliação e as áreas de inserção no mercado.

»» Acessar as informações referentes as diretrizes que orientam a forma


correta de escrita dos documentos psicológicos.

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Avaliações Unidade I
psicológicas

Capítulo 1
Contexto conceitual e histórico

O contexto conceitual
A avaliação psicológica é um processo técnico e científico que visa avaliar os diversos
processos psicológicos que compõem o indivíduo, sendo o psicólogo o único profissional
habilitado por lei para exercer esta função. Pode ser realizado individualmente ou em
grupo e requer metodologia específica. Trata-se de um estudo de levantamento de dados
que tem como objetivo testar hipóteses em diferentes áreas de atuação do psicólogo, tais
como, clínica, trabalho, educação, entre outros, e produzir diagnósticos descrevendo o
funcionamento desses indivíduos ou grupos (e suas implicações) e fazendo predições
sobre comportamentos ou desempenhos em casos específicos (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 2007).

Segundo a Resolução CFP no 7/2003:

Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os


condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com
a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente
sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que
operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de
avaliação psicológica.

No entanto, é importante ressaltar que, em função do comportamento humano ser


complexo e composto de muitas dimensões relacionadas, é impossível entender e
considerar todos os fatores e relações e prevê-los de maneira objetiva. As avaliações
possuem um limite entre o que é possível entender e prever, mas ainda assim, por
serem compostas por métodos cientificamente fundamentados, constituem um modelo
muito mais confiável e podem assim minimizar a subjetividade no processo de análise
dos sujeitos.

9
UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

Para muitas pessoas a compreensão do processo de avaliação psicológica limita-se a


aplicação de testes psicológicos, porém, essa premissa não está correta, pois a avaliação
é um processo muito mais amplo, considerando outras possibilidades que vão além da
utilização de instrumentos tais como testes, escalas, questionários e inventários.

Teoricamente, qualquer psicólogo está habilitado para trabalhar com avaliação


psicológica, porém, é importante destacar que algumas competências específicas são
muito relevantes para que essa função seja realizada de maneira adequada. É esperado
que esse profissional tenha profundo conhecimento dos construtos e modelos teóricos
envolvidos na avaliação (exemplo: inteligência, atenção, memória, personalidade etc.),
bem como nos parâmetros psicométricos ligados na validação dos instrumentos. Além
disso, ele deve possuir domínio dos procedimentos para aplicação, levantamento e
interpretação das ferramentas utilizadas na avaliação psicológica.

Hoje em dia, quando o psicólogo faz uso de instrumentos de medida na área, é


imprescindível que ele consulte o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
(SATEPSI), que está disponível no site do Conselho Federal de Psicologia <www.pol.org.
br>. Ele precisa checar, antes de usar, se o teste é considerado favorável para utilização
no meio profissional. Caso o instrumento seja considerado válido, o profissional deve
consultar o manual do teste, para obter as informações referentes ao modelo teórico
que fundamenta o estudo, ao processo de aplicação, de levantamento e acessar todas
as informações referentes à pesquisa que foi desenvolvida em amostra brasileira e que
geraram os dados de referência e validação.

Figura 1. Página do Satepsi.

Fonte: <http://satepsi.cfp.org.br/>. Acesso em: 5/9/2017.

10
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

De onde vem essa segurança? Quais são os pressupostos dessa prática e dessa confiança?
Para a melhor compreensão do que nos leva a esse tipo de consulta ao site do conselho
da profissão é necessário percorrer a história e estruturação desse modelo proposto.

O contexto histórico

Desde os estudos de Wilhelm Wundt (1832-1920), considerado o fundador da Psicologia


enquanto ciência experimental, surgiram várias vertentes, uma delas é a psicologia
experimental que reconhece a causalidade psíquica e que utiliza a estatística aplicada
nas pesquisas, iniciando, assim, os primeiros passos da psicometria. O projeto dele foi
fundar uma psicologia científica, sua importância foi provar a validade da experiência,
trazendo-lhe o estatuto de ciência; a Psicologia deslocou-se do campo da metafísica ou
da filosofia (CARVALHO, 2011).

Figura 2. Wilhelm Wundt (1832-1920) à esquerda e o mesmo no laboratório de Psicologia da Universidade de

Leipzig na Alemanha em 1879 (a direita).

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Wundt#/media/File:Wundt-research-group.jpg>. Acesso em: 5/9/2017.

Segundo Silva (2011), os primeiros testes psicológicos entendidos como provas


destinadas a avaliação das capacidades psicossensoriais humanas, foram empreendidas
pelos psicofisiologistas do laboratório de Psicologia da Universidade de Leipzig na
Alemanha, no século XIX, liderados por Wundt. Paralelo a isso, Francis Galton (1822
– 1911), na Inglaterra, aplicava seus conhecimentos em psicometria para realização de
pesquisas. Ele foi discípulo e primo de Charles Darwin e tentou aplicar na Psicologia
os termos do evolucionismo, como seleção natural, aptidão, adaptação ao meio e
hereditariedade. Preocupado com estas questões, iniciou investigações que pretendiam
diferenciar os indivíduos (por exemplo: os aptos dos inaptos). Ele ajudou a desenvolver
a fórmula estatística para as análises de correlação e regressão, sendo professor do
conhecido Karl Pearson (1857 – 1936) que desenvolveu a correlação produto-momento
de Pearson (Correlação de Pearson).

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UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

Figura 3. Francis Galton (1822 – 1911).

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Galton>. Acesso em: 6/9/2017.

A Psicologia entra nos Estados Unidos por meio de James McKeenCattell (1860 – 1944),
que também foi aluno de Wundt e Galton no laboratório de Antropometria, estudioso
interessado nas diferenças individuais, ele publicou o artigo intitulado “Mental Tests
and Measurements” (1890), no qual inaugura o termo testes mentais. Graças a este
trabalho e de seus seguidores, o desenvolvimento de instrumentos psicológicos
converteu-se num importante aspecto da psicologia americana. Alguns trabalhos foram
desenvolvidos, dando visibilidade na área de educação e nos estudos dos processos
mentais, sua proposta científica era a medição das diferenças entre as pessoas.

Figura 4. James McKeen Cattell (1860 – 1944).

Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/James_McKeen_Cattell>. Acesso em: 6/9/2017.

Mesmo com todo o empenho de Galton, o primeiro teste de habilidade mental


considerado teste psicológico foi desenvolvido por Alfred Binet (1857 – 1911). Ele e
seu colega Theodore Simon (1872 – 1961) integraram uma comissão do Ministério da
Instrução francês que estudaria o problema das crianças anormais nas escolas da rede
oficial. Em resposta à demanda do governo, esses estudiosos criaram a famosa escala de
inteligência de Binet-Simon, a primeira escala psicométrica de inteligência. A avaliação
das funções cognitivas como a memória, a atenção, a imaginação e a compreensão, para
Binet, proporcionava medidas de inteligência mais adequadas.

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Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

Figura 5. Theodore Simon (1872 – 1961) e Alfred Binet (1857 – 1911).

Fonte: <https://www.braingymmer.com/en/blog/iq-eng/>.

Em seguida, Wilhelm Stern (1871 – 1938) propôs o termo “QI” (quociente de


inteligência) para representar o nível mental e sugeriu os termos idade mental e idade
cronológica, indicando que o “QI” fosse determinado pela divisão da idade mental
pela idade cronológica, multiplicado por 100. Lewis Madison Terman (1877 – 1956)
publicou a revisão do teste Binet-Simon, o “Stanford-Binet” servindo como um apoio
para a classificação de crianças deficientes.

No entanto, o que de fato marcou a expansão dos testes psicológicos foi a Primeira
Guerra Mundial, em especial nos Estados Unidos, em 1917. Foram aplicados inúmeros
testes nos soldados em meio da necessidade de formar rapidamente o quadro do exército
americano. O exército precisava recrutar mais de um milhão de soldados, da maneira
mais rápida possível. Foram então aplicados os primeiros testes coletivos da história,
testes de nível mental, os testes Army Alpha (para soldados alfabetizados) e Army Beta
(soldados analfabetos) (BUNCHAFT; CAVAS, 2001).

Terman foi designado a trabalhar, junto com outros psicólogos, na aplicação de testes
que tinham como objetivo categorizar recrutas do exército. Sendo assim, a história
revela que a primeira administração em massa de testes de QI foi feito com 1,7 milhões
de soldados durante a Primeira Guerra Mundial. O exército precisava de um teste mais
simples que o Stanford-Binet e que fosse aplicado coletivamente, optaram pelo teste
elaborado pelo laboratório chefiado por Robert Yerkes (1876- 1956). Esse teste tinha
como base as questões de múltipla escolha, contribuição de Arthur Otis (1886-1964). Os
recrutas com as melhores notas foram treinados como oficiais, enquanto aqueles com
menores notas não receberam treinamento oficial. O trabalho durante a guerra provou,
para os americanos, que os testes de inteligência poderiam ter utilidade mais ampla.
Depois da guerra, Terman e seus colaboradores usaram os testes de inteligência nas
escolas e indústrias para melhorar e aumentar a eficiência de crianças e trabalhadores.
(URBINA, 2009). O trabalho desses psicólogos durante a guerra também incentivou o
desenvolvimento e a aplicação dos testes em grupo para a avaliação das características

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UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

da personalidade. Em 1917 Robert Woodworth (1869 – 1962) desenvolveu o primeiro


teste de personalidade (Personal Data Sheet). E, em 1921, publicado o Teste de
Rorschach, um método que utiliza manchas de tinta, para entender, por meio da análise
da percepção, a organização subjacente dos indivíduos. (SILVA, 2002)

Fatos marcantes na história dos testes psicológicos

< ht t p : / / w w w. s c i e l o. b r / s c i e l o. p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t tex t & p i d = S 0 1 0 3 -


863X2002000200013>.

A história no Brasil

De acordo com Souza Filho, Belo e Gouveia (2006): “A história dos testes psicológicos
no Brasil confunde-se com a história da própria Psicologia enquanto ciência e profissão”.
Após os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, surgiram mais avanços na área de
Psicologia. Profissionais das mais diversas áreas buscaram, nesse novo conhecimento,
informações para fundamentarem as suas práticas. O Brasil sofre influência do
movimento europeu e também do movimento norte-americano e os testes ganharam
destaque no início do século XX. Com a modernização dos processos administrativos,
os instrumentos psicométricos passaram a ser usados nas organizações de trabalho, na
clínica e também na educação, em pouco tempo acabou sendo comum em diversas áreas.

No entanto, é a produção médico-científica que foi considerada o início dos estudos


da Psicologia no Brasil, principalmente em Salvador e no Rio de Janeiro. Os médicos
recorriam a Psicologia para fundamentar recursos para diagnóstico e programas
preventivos de saúde mental. Destaca-se na avaliação psiquiátrica e estudos dirigidos,
instituições de saúde tais como o Hospital Psiquiátrico São Pedro (em Porto Alegre,
no ano de 1884) e o Hospital do Juqueri (na cidade de São Paulo, em 1898). E, na
pediatria, Fernandes Figueira (1863 – 1928) utilizou, em 1913, a escala Binet-Simon
que foi considerado o primeiro instrumento estruturado de avaliação a ser usado no
país. Em seguida, Isais Alves, em 1914 fez uma adaptação da escala e inaugurou o
Laboratório de Pedagogia Experimental na Escola Normal, cujo foco eram os estudos
de memória, inteligência infantil e psicomotricidade (SILVA, 2011).

Segundo Zanelli (2002), a década de 1950 foi marcada pelo surgimento da Psicologia
Industrial, mas desde 1924 o engenheiro suíço Roberto Mange (1885 – 1955) orientava
projetos pioneiros na área. Ele fundou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e orientou
o trabalho de Seleção e Orientação dos alunos matriculados no curso de Mecânica. Em
1931 também fundou o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), com a
implantação de serviços de Psicologia Aplicada ao Trabalho e participou da elaboração

14
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

e direção do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo (CFESP).


Outro estudioso a contribuir nessa fase foi o Emilio Mira y Lopez (1896-1964) que em
1947 foi nomeado diretor do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP)
e em 1949 criou o periódico Arquivos Brasileiros de Psicotécnica (ABP) um dos
principais veículos de fomentação e divulgação da psicologia aplicada e da formação de
psicotécnicos no Brasil.

Uma história da psicologia em revista: retomando Mira y López, disponível em:

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ar ttex t&pid


=S1809-52672014000300002>.

Figura 6. Mira y Lopes.

Fonte: <https://ripehp.com/2014/07/07/arquivos-brasileiros-de-psicologia-prorroga-submissao-de-trabalhos-sobre-mira-y-
lopez/>. Acesso em: 6/9/2017.

Com a evolução desses estudos, surgiram várias disciplinas de Psicologia em diferentes


cursos (por exemplo: Medicina, Filosofia, Direito, Administração e Sociologia). As
demandas educacionais constituíram o que depois viria se tornar a necessidade de
se regulamentar o campo de atuação do profissional de Psicologia. Então, em 1962,
houve a regulamentação da Psicologia como disciplina e como profissão, conforme a
Lei no 4.119, de 1962, resultando na criação do Conselho Federal de Psicologia (CFP)
e os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP), Lei no 5.766, de 1974. A profissão de
psicólogo passa a ser reconhecida no Brasil e a utilização de métodos e técnicas de
avaliação psicológicas passam a ser privativos desse profissional.

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Capítulo 2
Ética, possibilidades e desafios atuais

A avaliação psicológica é uma das principais funções do profissional de Psicologia.


É, por lei, uma prática exclusiva deste profissional. É importante que a avaliação seja
realizada apenas por profissionais que tenham competência para exercer essa atividade,
mesmo que todos os profissionais da área possuam habilitação para avaliar, não quer
dizer que qualquer psicólogo tenha conhecimento específico para tal tarefa. A testagem,
no campo da Psicologia, foi uma das atividades mais comuns no século XX e a imagem
que se tinha do psicólogo era de um profissional que se utilizava de testes para avaliar
se uma pessoa era normal ou não, ou se ela estava apta ou não a executar determinada
função em um contexto de trabalho. Porém, a prática psicológica tem evoluído cada
vez mais, e neste movimento, a avaliação psicológica passou a ser bem mais ampla,
considerando diversos fatores em seu processo de estudo e análise dos indivíduos. Sob
o ponto de vista ético, ligado a este assunto, vale ressaltar alguns pontos importantes do
código de ética da profissão (CFP, 2014, p.8):

“Art. 1o – São deveres fundamentais dos psicólogos: b) Assumir


responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais
esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente”

Art. 1o – São deveres fundamentais dos psicólogos:

[...]

i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo,


guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam
feitas conforme os princípios deste Código;Art. 2o – Ao psicólogo é
vedado:

[...]

g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade


técnico-científica;

h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas


psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas;Art.
18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá
a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem
o exercício ilegal da profissão.

16
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

É claro que todos os artigos do código de ética servem como pano de fundo da
atuação do psicólogo no processo de avaliação psicológica e todas as suas ações
devem estar pautadas nessas diretrizes que regulamentam a profissão. O objetivo
de trazer esses trechos é apenas ponderar de forma mais direcionada sobre pontos
específicos dessa prática. O Código de Ética da Psicologia indica, em seu princípio
fundamental, que a prática deve estar embasada na Declaração Universal dos
Direitos Humanos visando à “promoção da liberdade, da igualdade e da integridade
do ser humano” (CFP, 2014, p.7)

Leia na íntegra o Código de Ética da Psicologi, disponível em:

<http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-
psicologia.pdf>.

Vale destacar que a discussão ética proporciona um processo de reflexão sobre as


próprias práticas, para que estas revertam em benefício do indivíduo avaliado e da
sociedade. Nunes, Muniz, Reppold, Faiad, Bueno e Noronha (2012, p.1) apontam que
as disciplinas de avaliação psicológica cumprem um papel fundamental na formação do
aluno de Psicologia:

Nesse sentido, o exercício da atividade de avaliação psicológica


possibilita que, de uma forma teórico-prática (integrando resultados
de técnicas e testes com conteúdo de diversas disciplinas, como, por
exemplo, psicologia do desenvolvimento, psicopatologia, entre outros),
o aluno realize uma compreensão dinâmica de casos individuais ou de
grupos, desenvolvendo a capacidade de entendimento do ser humano
da forma mais global possível. Assim, o ensino de avaliação psicológica
não deve se resumir ao ensino de técnicas isoladas de outros contextos da
psicologia. Ao contrário, deve proporcionar ao estudante experiências
teórico-práticas que resultem no desenvolvimento de competências
para uma atuação autônoma e responsável.

Os autores trazem uma proposta de diretrizes para o ensino de avaliação psicológica no


Brasil, respeitando e indicando todas as resoluções do Conselho Federal de Psicologia e
do Código de Ética Profissional do Psicólogo. As orientações descritas foram realizadas
com base em referências difundidas e aceitas pela comunidade científica e o documento
foi escrito trazendo conteúdos para as disciplinas de avaliação psicológica ao longo do
curso. Além de descrever 27 competências básicas listadas a seguir, os autores indicam
o conteúdo programático ideal, bem como orientam sobre a estrutura (testoteca,
biblioteca e laboratório), método de ensino e a formação do docente. Finalizam com
informações importantes sobre a guarda dos instrumentos, controle e estágios.

17
UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

Competências em avaliação psicológica

Espera-se que, ao longo do processo de formação do aluno no curso de


graduação em Psicologia, o mesmo possa desenvolver 27 competências
básicas, listadas a seguir.

1. Conhecer os aspectos históricos da avaliação psicológica em


âmbito nacional e internacional; 2. Conhecer a legislação pertinente
à avaliação psicológica (Resoluções do CFP, Código de Ética
Profissional do Psicólogo, histórico do Sistema de Avaliação dos Testes
Psicológicos- SATEPSI - e as políticas do Conselho Federal de Psicologia
para a Avaliação Psicológica); 3. Considerar os aspectos éticos na
realização da avaliação psicológica; 4. Analisar se há condições de
espaço físico adequadas para a avaliação e estabelecer condições
suficientes para tal; 5. Ser capaz de compreender a Avaliação Psicológica
enquanto processo, aliando seus conceitos às técnicas de avaliação; 6.
Ter conhecimento sobre funções, origem, natureza e uso dos testes
na avaliação psicológica; 7. Ter conhecimento sobre o processo de
construção de instrumentos psicológicos; 8. Ter conhecimento sobre
validade, precisão, normatização e padronização de instrumentos
psicológicos; 9. Escolher e interpretar tabelas normativas dos manuais
de testes psicológicos; 10. Ter capacidade crítica para refletir sobre
as consequências sociais da avaliação psicológica; 11. Saber avaliar
fenômenos humanos de ordem cognitiva, afetiva e comportamental
em diferentes contextos; 12. Ter conhecimento sobre a fundamentação
teórica de testes psicométricos e do fenômeno avaliado; 13. Saber
administrar, corrigir, interpretar e redigir os resultados de testes
psicológicos e outras técnicas de avaliação; 14. Selecionar instrumentos
e técnicas de avaliação de acordo com objetivos, público alvo e
contexto; 15. Ter conhecimento sobre a fundamentação teórica de
testes projetivos e/ou expressivos e do fenômeno avaliado; 16. Saber
planejar uma avaliação psicológica de acordo com objetivo, público alvo
e contexto; 17. Planejar processos avaliativos e agir de forma coerente
com os referenciais teóricos adotados; 18. Identificar e conhecer
peculiaridades de diferentes contextos de aplicação da avaliação
psicológica; 19. Saber estabelecer rapport no momento da avaliação;
20. Conhecer teorias sobre entrevista psicológica e conduzi-las com
propriedade; 21. Conhecer teorias sobre observação do comportamento
e conduzi-las adequadamente; 22. Identificar as possibilidades de
uso e limitações de diferentes técnicas de avaliação psicológica,

18
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

analisando-as de forma crítica; 23. Comparar e integrar informações


de diferentes fontes obtidas na avaliação psicológica; 24. Fundamentar
teoricamente os resultados decorrentes da avaliação psicológica;
25. Elaborar laudos e documentos psicológicos, bem como ajustar
sua linguagem e conteúdo de acordo com destinatário e contexto;
26. Comunicar resultados decorrentes da avaliação psicológica aos
envolvidos no processo, por meio de devolutiva verbal; 27. Realizar
encaminhamentos ou sugerir intervenções de acordo com os resultados
obtidos no processo de avaliação psicológica.
(NUNES et al., 2012, p.12)

A avaliação psicológica é uma atividade bastante polêmica e controversa na Psicologia,


na verdade existem duas posições claras em relação a ela: um grupo que entende
que a avaliação é baseada em testes que representam um conhecimento legítimo,
embasado cientificamente e outro que critica os testes psicológicos, entendendo que são
instrumentos que justificariam os processos de exclusão social. Atualmente, os estudos
na área revelam um maior rigor na investigação psicológica e no uso de instrumentos
padronizados e procuram destacar uma melhora em sua qualidade, trazendo mais
fundamento para aqueles que defendem a sua utilização. (NORONHA, 2002).

Em relação às críticas, Flores-Mendonza, Nascimento e Castilho (2002) apontam os


principais argumentos no campo da crítica: “os testes reforçam a inferioridade dos
segmentos sociais desfavorecidos e das minorias étnicas”, “houve prática fraudulenta
na produção psicométrica”, “os testes não medem aquilo que pretendem medir” e
“interessa mais a Inteligência Emocional do que a Inteligência Acadêmica”. No entanto,
tal posicionamento crítico, que deveria servir para uma reflexão a respeito da medição
psicológica, apresenta-se, portanto, como um conjunto de afirmações baseadas no
terreno político-ideológico e não na análise do conhecimento teórico e técnico, que
são as fontes da construção dos testes. Alguns profissionais, alunos e leigos na área
de avaliação psicológica muitas vezes representam posições contrárias à medição de
aspectos psicológicos motivados por essa discussão essencialmente política.

Para rebater as críticas, os estudiosos que se posicionam a favor da utilização dos


testes apontam que os modelos estatísticos aplicados à medição psicológica foram
aperfeiçoados (aliados a era da informação) e a psicometria vem utilizando a técnica
correlacional que sustenta validações mais confiáveis e fundamentadas em metodologia
científica.

Noronha (2002) postula que no Brasil, nos últimos quinze anos, os testes passaram
por um descrédito e foram criticados por não serem adequados à realidade brasileira.

19
UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

Os principais problemas apresentados foram: a complexidade do modelo teórico que


fundamenta a construção do instrumento e a dificuldade do psicólogo para compreender
os dados e para fazer relações entre os diversos resultados encontrados.

É claro que o fator técnico presente no processo de avaliação não representa a sua
totalidade. É importante apontar os aspectos relacionados à cientificidade, mas em
seu desenvolvimento o aspecto avaliativo deve ser compreendido de forma ampliada
e atrelada ao compromisso social e político. No entanto, isso não pode restringir a
argumentação, da crítica, de que os testes psicológicos estão a serviço de um poder
hegemônico. Além disso, nenhuma prática é mais importante em Psicologia que o
pressuposto do cuidado humano, pois em qualquer forma de avaliação, o foco está na
relação que se estabelece. Seria empobrecido explicar a avaliação apenas em relação a
interação entre características do sujeito e características técnicas dos procedimentos.
Essa forma de compreensão seria a exclusão de outros fatores que indicam a
complexidade da tarefa.

Avaliar contém julgamento, mas é essencial que o psicólogo tenha plena consciência da
responsabilidade e importância de se fazer um uso benéfico dos resultados obtidos no
processo de avaliação, tendo como imperativo o posicionamento ético e coerência em
seu exercício profissional. Se for diferente, será evidenciado que as lacunas do saber, das
habilidades e competências de avaliar farão com que apareçam os erros profissionais, a
falta ética e a classe profissional caia em descrédito perante a sociedade.

Alguns fatos marcam a história recente da avaliação no Brasil, na década de 1990,


observa-se a movimentação da área por meio da organização de eventos dedicados
à avaliação psicológica, com mais de uma edição anual, tais eventos fomentaram a
reunião, intercâmbio e organização de pesquisadores e profissionais da área, o que
culminou na criação e consolidação das duas sociedades científicas mais representativas
da área atualmente: a já mencionada ASBR, fundada em 1993, e o Instituto Brasileiro
de Avaliação Psicológica.

Tais eventos fomentaram a reunião, intercâmbio e organização de


pesquisadores e profissionais da área, o que culminou na criação e
consolidação das duas sociedades científicas mais representativas da
área atualmente: a já mencionada ASBR, fundada em 1993, e o Instituto
Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), fundado em 1997. Ambas
integram o Fórum Nacional das Entidades Brasileiras de Psicologia.
Posteriormente à criação do IBAP; (PRIMI, 2010, p, 30)

A área de avaliação cresceu muito com isso, grupos ligados à área se organizaram em
reuniões na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP),

20
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

nota-se um aumento na quantidade de publicações e de cursos de pós-graduação.


Vários movimentos tomam força; foi criada, no ano 2000, uma lista de discussão de
profissionais e estudantes interessados na área <avalpsi@yahoogrupos.com.br>. No
entanto, em termos de impacto na prática profissional, o marco histórico desse período
foi a criação do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI), já descrito no
capítulo 1, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), ao final de 2001.

Esse sistema é resultado de uma série de ações anteriores do CFP, na


tentativa de responder a uma grande demanda de processos éticos
envolvendo a avaliação psicológica. O SATEPSI consiste em uma norma
de certificação de instrumentos de avaliação psicológica que avalia e
qualifica os instrumentos em apto ou inapto para uso profissional, a
partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos
mínimos (fundamentação teórica, precisão, validade e normatização),
definidos pela área. (PRIMI, 2010, p, 30)

Justificativas e concepções de psicólogos que não utilizam avaliação psicológica.


Disponível em:

<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v12n3/v12n3a11.pdf>.

As diretrizes do Conselho Federal de Psicologia em relação ao processo de avaliação


serão abordadas no próximo capítulo.

21
Capítulo 3
Diretrizes do Conselho Regional de
Psicologia

Em função de processos éticos envolvendo as avaliações psicológicas, principalmente


a utilização dos testes, profissionais da área perceberam a necessidade de instituir
ações que qualificassem os métodos e as técnicas usadas no processo. Era comum
que as pessoas questionassem a confiabilidade dos instrumentos, já que não existia
um rigor científico e documental em relação à produção dos mesmos. Alguns testes
eram submetidos à validação fora do país e não passava por pesquisas com a população
brasileira, o que fez, por exemplo, que alguns juízes concedessem liminares a
candidatos em concursos públicos, pois os psicólogos não conseguiam afirmar o nível
de fidedignidade de suas técnicas. Em consequência dessa demanda, profissionais
da área que contribuíam com produções teóricas e metodológicas sobre essa prática,
junto ao Conselho Federal de Psicologia, instituíram, em 2003, o Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi), já ilustrado no capítulo 1. Nesse processo
publicou-se a Resolução CFP no 2/2003. Esta resolução representa um marco no
progresso da qualidade dos instrumentos, bem como na construção de políticas
alinhadas ao rigor científico e ético.

Leia na íntegra a Resolução no 2/2003, disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-


content/uploads/2003/03/resolucao2003_02_Anexo.pdf>.

Para esse trabalho foi instaurada uma Comissão, no período de 2002 a 2004, e esta
orientou as ações desenvolvidas na gestão de 2005 a 2007 e 2008 a 2010. Ao longo dos
anos, os profissionais da área que fazem parte desta “Comissão Consultiva em Avaliação
Psicológica do Conselho Federal de Psicologia” estudaram a avaliação psicológica em
diversos contextos, acessando material e publicações de diversos autores renomados e
que muitas vezes prestaram consultoria para agregar valor e acumular conhecimentos
sobre os instrumentos, em especial os testes psicológicos.

Em 2010, a publicação do documento “Avaliações Psicológicas: Diretrizes na


Regulamentação da Profissão” (ilustração e endereço na figura 7) expressou mais
um dos investimentos assumidos pela categoria e reafirmou o compromisso da
Psicologia em garantir que o seu material seja fundamentado em procedimentos
éticos e científicos.

22
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

Figura 7. Capa do livro Avaliação Psicológica.

Fonte: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2010/09/avaliacao_psicologica_web_30-08-10.pdf>. Acesso em: 6/9/2017.

A qualificação dos testes psicológicos, contemplando os critérios mínimos para


considerá-los indicados para a população brasileira, além de preconizar sobre as
dimensões éticas da avaliação, relaciona os princípios recomendados pela Associação
Americana de Psicologia (APA) de 1992 revisado em 2002, a saber: “competência,
integridade, responsabilidade científica e profissional, respeito pela dignidade e pelos
direitos das pessoas, preocupação com o bem-estar do outro e responsabilidade social”
(CFP, 2010).

É importante ressaltar que, independente desse movimento, a avaliação psicológica


sempre foi considerada cientificamente fundamentada, o que essas diretrizes vêm trazer
é uma forma estruturada e documentada dos critérios que servem para considerar se
um teste é válido ou não, sendo ele objetivo ou projetivo.

O livro publicado em 2010 é composto por 196 páginas e foi organizado em dez partes,
sendo uma apresentação e nove capítulos. Ele foi impresso em setembro e apresentado
pela primeira vez no 3o Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão. Ele
relata, em detalhes, o processo histórico, que compõe a elaboração e instituição do
sistema, bem como as políticas que permeiam as definições relacionadas às diretrizes.

A estrutura da obra se apresenta da seguinte forma (CFP, 2010):

1. Introdução

2. As políticas do Conselho Federal de Psicologia para a Avaliação


Psicológica

3. Da ordem social da regulamentação da Avaliação Psicológica e do uso


dos testes

4. Avaliação Psicológica: implicações éticas

5. Avaliação psicológica, testes e possibilidades de uso

23
UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

6. Aspectos técnicos e conceituais da ficha de avaliação dos testes


psicológicos

7. O Satepsi: desafios e propostas de aprimoramento

8. A avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho

9. Avaliação psicológica para concessão de registro e/ou porte de arma


de fogo.O material foi elaborado por pesquisadores respeitados em
suas áreas e aborda os diferentes aspectos políticos, éticos, técnicos
e conceituais incluindo a descrição da ficha de avaliação dos testes
psicológicos atualizada em 2009 e usada pelo Satepsi. A ficha é
preenchida com base nas informações que constam nos manuais dos
instrumentos e devem conter a descrição geral do teste, análise de seus
requisitos mínimos e requisitos técnicos em que se avaliam:

»» Construto.

»» Área de aplicação.

»» Propósitos do teste.

»» Procedimento de adaptação.

»» Fundamentação teórica.

»» Análise dos itens.

»» Fidedignidade.

»» Validade.

»» Sistema de correção.

»» Normas de interpretação com base em estudos brasileiros.

Nos próximos capítulos, trataremos com mais detalhes os assuntos listados


anteriormente, no que se refere aos conceitos de validade, fidedignidade, padronização
e normatização. São elementos essências para a avaliação que determina o parecer de
um instrumento.

24
Avaliações psicológicas │ UNIDADE I

Tem-se registro que até fevereiro de 2017, 295 testes foram submetidos à análise, sendo
que 110 testes receberam parecer desfavorável e 164 foram considerados favoráveis,
ou seja, possuem condições de uso profissional pelo psicólogo, os demais estão em
processo de análise.

Além do trabalho de avaliação dos testes realizado pelo CFP, ele tem oferecido
esclarecimentos e orientações aos órgãos públicos e privados sobre a prática da avaliação
psicológica, incluindo o uso dos testes nos diferentes contextos, como por exemplo, em
concursos públicos e nos processos judiciais em que esse objeto está em pauta.

Outro foco de atuação da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do CFP é a


orientação às editoras que comercializam os testes psicológicos. Esse trabalho visa a
garantir que o acesso aos instrumentos seja restrito ao psicólogo, conforme previsto na
legislação brasileira.

Desde então, o CFP tem mantido a interlocução com a academia e com instituições
de pesquisadores que constituem espaços importantes de produção de conhecimentos,
fortalecendo a relação entre a ciência e a profissão.

O investimento do CFP e de entidades parceiras resultou na ampliação da literatura


brasileira sobre medidas psicológicas, bem como na intensificação de pesquisas que
visam ao estabelecimento de evidências de validade para os testes no Brasil (CFP, 2010).

É claro que a produção do material não esgota todos os assuntos que deveriam ser
tratados diante de um tema tão relevante dentro da atuação profissional do psicólogo.
Está posto que muitos desafios foram lançados e a cada dia a comissão evolui para
contemplar as lacunas que ainda existem sobre o tema em questão. Ainda existem
diferentes contextos pouco explorados e que envolvem a subjetividade humana, isso,
de fato exige mais construções teóricas e metodológicas sobre o fenômeno psicológico,
bem como sobre o desenvolvimento de métodos e técnicas de diagnósticos referentes a
tais fenômenos.

Em 2013, o CFP lançou uma cartilha com destaque para informações importantes e
que tratam de maneira mais reduzida sobre as diretrizes divulgadas anteriormente.
Esse material foi amplamente divulgado entre os psicólogos, nas universidades e para
a sociedade em geral. Para que todos tenham conhecimento de aspectos fundamentais
dessa prática tão importante dentro da Psicologia.

25
UNIDADE I │ Avaliações psicológicas

Leia a Cartilha Avaliação Psicológica:

<http://site.cfp.org.br/wp - content/uploads/2013/05/Car tilha-


Avalia%C3%A7%C3%A3o-Psicol%C3%B3gica.pdf>.

Figura 8. Capa da cartilha Avaliação Psicológica.

Fonte: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Cartilha-Avalia%C3%A7%C3%A3o-Psicol%C3%B3gica.pdf>. Acesso


em: 6/9/2017.

26
A Ciência
Das Medidas Unidade iI
Psicológicas

Capítulo 1
A medida

A medição é uma das condições fundamentais para que um ramo de estudo seja
considerado ciência, as vantagens do estudo das medidas nas ciências humanas nos
remetem a maior objetividade e a facilidade da comunicação dos resultados de pesquisas.

Em Psicologia, os atributos são medidos por meio de teorias, o que quer dizer que
não existem instrumentos objetivos que permitem fazer as relações diretas entre as
variáveis, tais como balanças, fita métrica, régua etc. Por isso, será necessário recorrer
a uma teoria que indica as relações entre os atributos e a realidade que poderá ser
comprovada empiricamente. Assim, ocorrerá uma medida indireta por meio de seus
indicadores, ou seja, é por meio da teoria que será possível fazer inferências sobre os
construtos e a realidade a eles relacionada.

Considerando a importância do estudo das medidas para a área de Avaliação


Psicológica e para as pesquisas em geral, recorremos à definição de Campbell (apud
BUNCHAFT; CAVAS, 2002) apoiada no princípio do isomorfismo que postula que
existe uma equivalência entre os números e os objetos, isto é, os números devem ser
atribuídos entre o processo de mensuração e a realidade. O mesmo autor propõe as
seguintes propriedades dos números: identidade, ordem e aditividade. Na propriedade
identidade, o número serve apenas para identificar, ele é igual a ele mesmo e não pode
ser outro. Na propriedade de ordem, os números podem ser colocados em ordem de
maneira crescente ou decrescente e na aditividade, os números possuem uma constância
intervalar.

A partir dessa compreensão, é possível entender os níveis da medida em ciências


humanas. As variáveis possuem níveis de mensuração que contemplam o maior número
de postulados e de operações estatísticas e aritméticas, desde a mais simples as mais
complexas. Os níveis de medidas são:

27
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

»» Nominal.

»» Ordinal.

»» Intervalar.

»» Razão ou proporcional.

No nível de medida nominal (também chamados de categóricos ou qualitativos), os


números apresentam o princípio da identidade, eles funcionam somente para identificar
a variável. A única operação possível é a contagem as operações estatísticas geralmente
utilizadas para representar esses dados, são moda, frequência e porcentagem.

Por exemplo, em uma pesquisa sócio-demográfica, as variáveis escolaridade e gênero


são variáveis nominais. Os números estão representando arbitrariamente a variável e
não possuem outra função senão nominar, identificar.

Ex.: Nominal

Masculino = 1

Feminino = 2

O nível de medida ordinal é característico por sua relação de ordem, possibilitando


estabelecer comparações, como A é maior que B. Nenhuma operação aritmética é
possível, a não ser a contagem e a comparação. Por exemplo, o nível hierárquico dentro
de uma empresa pode ser representado dessa forma:

Ex.: Ordinal

1– Gerente

2 – Analista

3 – Assistente

O nível de medida intervalar é aquele em que os intervalos entre os números nos dizem
a posição e a distância em relação a alguma característica. Nesse nível de medida,
admite-se a soma e a subtração dos valores numéricos. Em termos de estatística
descritiva, é possível extrair média aritmética, mediana e desvio padrão. Esse é um nível
de medida muito utilizado em Psicologia, nas escalas de inteligência, atenção, entre
outras. Vale notar que na Psicologia não se trabalha com a ausência total do construto,
sendo, portanto, nessa escala, o zero arbitrário. Por exemplo, se a pessoa A tirou 1 na
prova e a pessoa B tirou 3 podemos concluir que a pessoa A está a 2 pontos da pessoa B.

28
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

Ex.: Intervalar

Pessoa Pessoa

A B

I___I___I___I___I

0 1 2 3 4

O nível de medida de razão ou proporcional também informa sobre a ordem relativa dos
objetos e o tamanho da diferença, no entanto, o zero é absoluto (real). Em Psicologia,
são raras as escalas de razão, pois não existe, por exemplo, alguém com um resultado -5
em protocolos que avaliam a inteligência.

Ex.: Razão

I___I___I___I___I

-2 -1 0 1 2

O que se pode concluir é que as variáveis psicológicas podem ser quantificadas utilizando
diferentes níveis de mensuração que vão do mais simples (nominal) ao mais complexo
(intervalar e razão), e uma vez identificada a natureza da medida é possível designar
qual a estatística ou operação aritmética apropriada para a análise dos dados medidos.

Escalas de avaliação

As escalas de avaliação são instrumentos de medida que propiciam a ordenação de


aspectos qualitativos de pessoas ou objetos, sendo possível uma correspondência
numérica (BUNCHAFT; CAVAS, 2002). Nelas são disponibilizadas uma série de
questões ou afirmações padronizadas, com respostas possíveis e quantificáveis, e
podem investigar comportamentos. Um exemplo muito comum de utilização de escalas
em avaliação e pesquisa são as escalas de atitude.

A atitude é entendida como uma organização duradoura de crenças e cognições que


carregam uma carga afetiva pró ou contra um objeto social, como por exemplo: uma
pessoa, uma ideia, um grupo ou uma instituição. Isto é, em função dos componentes
cognitivos, afetivos e comportamentais da atitude, existe uma predisposição à ação
coerente com a cognição e o afeto diante de tais objetos (ROGRIGUES, 1978).

29
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

Exemplo de item de escala de atitude:

Eu indicaria o meu trabalho para um amigo.

Alternativa Valor
Concordo (ou aprovo) totalmente 5
Concordo (ou aprovo) parcialmente 4
Indeciso 3
Discordo (ou desaprovo) parcialmente 2
Discordo (ou desaprovo) totalmente 1
Fonte: Própria autora.

Existem vários tipos de escalas, entre as mais utilizadas estão: as escalas numéricas, escalas
gráficas, escalas de escolha forçada, escalas baseadas em padrões, escalas de diferencial
semântico, escalas do tipo likert e escala de pontos acumulados (exemplos a seguir).

Para a escolha da escala ideal, o pesquisador deve estar atento aos pressupostos que
se relacionam a essa mensuração, a natureza de sua pesquisa e também ao nível de
medida. Por exemplo, tradicionalmente, as escalas de atitude permitem a mensuração
por nível de intervalo. Na construção do exemplo anterior, o método denominado foi o
de “avaliações somadas” ou mais conhecida como escala do tipo Likert que pressupõe
uma mensuração intervalar.

Nesse tipo de escala são apresentadas afirmações buscando medir o grau de concordância
ou discordância com a afirmação. Para cada resposta é atribuída uma pontuação. As
alternativas marcadas ajudam o pesquisador a entender o grau de favorabilidade ou não
frente ao objeto estudado. Se a pessoa tende a marcar concordo na maioria das questões,
mesmo não concordando totalmente, está clara a sua tendência perante o objeto.

Essa escala somatória parte da premissa de que as crenças sobre o objeto da atitude são
oriundas de uma atitude geral, nela são elaboradas diversas afirmações relacionadas ao
objeto pesquisado, depois atribuído uma relação com o grau de concordância, na qual
o respondente informa a direção de concordância ou discordância em relação a cada
informação. O somatório das pontuações para cada afirmação é obtida pelo total da
resposta de cada respondente (PASQUALI, 1996).

Exemplos de outros tipos de escalas

Escalas numéricas

Em uma escala de 1 a 10, marque o quanto você está satisfeito com os itens a seguir,
sendo 1 para completamente insatisfeito e o 10 completamente satisfeito.

30
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

Trabalho 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Saúde 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Família 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Escalas gráficas

Marque a alternativa que representa o seu grau de satisfação com os seus colegas de
trabalho:

Escalas de escolha forçada

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Nome Avaliador
Cargo Departamento
Desempenho + _
Apresenta produção elevada

Apresenta bom relacionamento interpessoal

Aceita críticas

Fonte: Própria autora.

Escala baseada em padrões

Capacidade de liderança – motivar equipe, influenciar pessoas, cooperação.

Superior Maria
Alta João
Média Pedro
Baixa Manoel
Inferior José

Escala de diferencial semântico

Em relação ao seu chefe direto, qual sua opinião sobre os seguintes atributos:

SIMPÁTICO x ANTIPÁTICO

31
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

Procedimento para a elaboração de uma escala


de avaliação

A partir do delineamento da investigação, na fase inicial da elaboração da escala, é


essencial que o pesquisador faça uma revisão bibliográfica do construto estudado, com o
propósito de extrair desse levantamento as questões ou itens que irão compor a escala. A
segunda fase consiste na elaboração das afirmações, neste momento, o pesquisador deve
ter a preocupação de formular frases claras, não cometer ambivalência, não formular
frases confusas ou exageradas e deve alternar frases concordantes e discordantes com
a atitude em referência. Depois da elaboração das frases, são definidos os graus de
concordância/discordância com os números correspondentes, normalmente de 1 a 5
ou 1 a 7, por exemplo. Este conjunto de números não faz diferença: o importante é que
se atribua os graus indicando os lados positivos e negativos na escala.

Depois da elaboração das afirmações, os itens devem ser apresentados a juízes que vão
indicar se as questões estão bem formuladas, se houve boa compreensão e possíveis
melhorias, para que seja iniciada a primeira aplicação experimental para compor a
forma final da escala.

Após a primeira aplicação experimental e inserção correta dos dados numa planilha
eletrônica serão permitidas várias análises, inclusive as validações (veremos no
próximo capítulo). Existem muitas técnicas estatísticas para analisar dados coletados
em pesquisa, muitas delas envolvem fórmulas e raciocínios complexos, porém, o nosso
objetivo é apenas ilustrar os procedimentos mais comuns em linhas gerais.

Segundo Pasquali (1996), deve-se considerar, também, que a observação dos fenômenos
empíricos é sujeita a erros devido ao instrumental de observação e as diferenças do
observador, além de outros erros comuns ao processo de avaliação. Sendo assim,
devemos considerar que qualquer medida venha acompanhada de indicadores do erro
provável, e este será analisado sob a ótica da estatística verificando se o valor encontrado
está dentro dos limites aceitáveis da medida.

Alguns tipos de erro devem ser levados em consideração no momento da elaboração da


escala (BUNCHAFT; CAVAS, 2002):

»» Erro de benevolência (existe a tendência a avaliar muito melhor do que


aquilo que é merecido).

»» Erro de halo (Avaliação com base em uma impressão geral).

»» Erro de severidade (existe a tendência a avaliar muito pior do que aquilo


que é merecido).

32
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

»» Erro de tendência central (predomínio de cotações em torno do ponto


médio da escala, evitando avaliações positivas ou negativas).

»» Erro de proximidade (tendência em avaliar de forma semelhante traços


similares).

»» Erro lógico (tendência a avaliar de maneira semelhante traços que


parecem logicamente semelhantes).

A forma apropriada de elaboração das medidas em Psicologia refere-se essencialmente


ao respeito às exigências técnicas que se apresentam. Sendo assim, a teoria da medida
enfatiza o uso dos procedimentos corretos de mensuração nas ciências humanas e
fornece as bases para a quantificação em Psicologia. Tendo em vista a complexidade
de seu desdobramento, os autores não são unânimes quanto às suas premissas básicas,
mas mesmo assim, é de extrema importância que os profissionais da área tenham em
mente algumas questões referentes ao que significa medir, qual a principal diferença
entre medir e avaliar, quais os atributos da realidade empírica admitem medida, entre
outros questionamentos.

A elaboração dos instrumentos de medida psicológica deve iniciar pela


identificação e definição do objetivo da avaliação, explicitando o quadro
teórico que inclui o conceito a ser avaliado, a definição clara do construto e a
sua aplicabilidade à população referente. Em seguida, analisem-se as dimensões
que compõem o construto e os itens que as integram e a escolha da forma
de responder. Devem ser consideradas todas as possibilidades de erro. A
próxima etapa consiste na validação do instrumento propriamente dito, esse
procedimento será descrito no próximo capítulo.

33
Capítulo 2
Os instrumentos e suas características
psicométricas

Os conceitos fundamentais na perspectiva dos parâmetros psicométricos para a


elaboração dos instrumentos de medidas são os conceitos de validade e fidedignidade.
A validade demonstra se o instrumento avalia realmente aquilo que ele se propõe a
medir e a fidedignidade evidencia se o resultado é confiável, ou seja, se ele é preciso
(ANASTASI, 1973). Esse processo requer intensa pesquisa e o cumprimento de diversas
etapas que passam pela análise dos itens que compõem os instrumentos e a compreensão
das teorias que fundamentam tais técnicas.

Teoria Clássica dos Testes (TCT) e Teoria da


Resposta ao Item (TRI)
Ultimamente a avaliação psicométrica vem sofrendo modificações relacionadas às
técnicas inerentes ao processo de validação, que vão da Teoria Clássica dos Testes
(TCT) a mais recente Teoria da Resposta ao Item (TRI). Nos dois modelos encontramos
formas diferentes de tentar explicar o sentido que tem as respostas dadas pelos sujeitos
a uma série de tarefas, ou seja, as respostas aos itens.

A TCT compreende uma metodologia que procura o resultado total, isto é, ela foca no
resultado final e sua compreensão. Por exemplo, se num teste de aptidão de 40 itens
atribuindo-se 1(um) para o acerto e 0 (zero) para o erro, o sujeito acertou 30 itens e errou
10, a TCT se pergunta o que significa 30 para esse sujeito. A avaliação é global e focada
no comportamento e não no traço latente. Este modelo considera três componentes
básicos nessa avaliação: o escore bruto (empírico) ou soma dos pontos obtidos no teste
(T), o escore verdadeiro (V) e o erro cometido nessa medida(V) (PASQUALI, 2003).

De acordo com Bunchaft e Cavas (2001), na análise dos itens, seguindo a TCT, algumas
estratégias são mais comuns para definir quais os itens irão compor a forma final dos
testes: O IPD (Índice de poder discriminante) que discrimina sujeitos com escores altos
e baixos, o índice de facilidade que faz referência ao índice de dificuldade de cada item
e o Índice de efetividade dos distraidores.

A TRI também é conhecida como a Teoria do Traço Latente, pois leva em consideração
que as respostas observadas no testes, estão sempre relacionadas aos traços latentes
ou as habilidades que não são observadas. Nesse modelo, procura-se representar

34
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

a probabilidade de uma pessoa apresentar uma resposta a um determinado item,


partindo dos parâmetros do item e do nível de habilidade geral da pessoa avaliada.
Nele é possível estimar os parâmetros do item e das habilidades dos participantes de
maneira independente do grupo.

Embora a TRI apresente uma crescente utilização e avanços na ciência psicométrica,


a TCT ainda mostra a sua utilidade em contextos específicos. Para entender melhor
sobre as vantagens e limitações de cada uma das teorias, leia o artigo abaixo e entenda
o cenário atual no que se refere a utilização das duas metodologias.

Maiores detalhes sobre a TCT e a TRI.

Avanços na psicometria: da Teoria Clássica dos Testes à Teoria de Resposta ao


Item.

<http://w w w.scielo.br/scielo.php?scr ipt=sci_ar ttex t&pid


=S0102-79722013000200004>.

Validade

Independente da teoria que se utilize para analisar os itens de um instrumento de


medida psicológica, o que os pesquisadores dessa área buscam são as evidências
do cumprimento da tarefa de medir o que o teste se propõe a medir. Na verdade, é
importante ressaltar que o que nos traz evidências de validade não são os testes, são as
interpretações feitas a partir dos resultados encontrados numa pesquisa sobre o teste
em questão.

Numa abordagem clássica, a validade foi dividida em três tipos:

»» Validade de conteúdo.

»» Validade de construto.

»» Validade relativa a um critério.

A validade de conteúdo não requer qualquer tipo de análise estatística, como o


próprio nome diz, nesse momento é feita uma análise do conteúdo do instrumento que
consiste em um exame sistemático do modelo teórico utilizado para fundamentar o
teste, sua compreensão e verificação de uma definição clara e objetiva que se ajuste ao
que foi proposto. As perguntas a serem feitas nessa fase: “Os itens do teste representam
adequadamente a característica que se quer avaliar?”, “Os itens estão claros?”, “Os itens
estão representando o construto de forma objetiva?”.

35
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

A validade de construto demonstra com base estatística, que o teste avalia


determinado construto. Ela pode trabalhar sob vários ângulos, sobre a representação
comportamental do construto (análise da consistência interna ou análise fatorial), sobre
a análise da hipótese, sobre a curva de informação da TRI ou sobre o erro de estimação
da TCT. A pergunta que ele responde é “Quanto os itens do teste realmente medem uma
determinada característica?”. Por exemplo, de acordo com a análise estatística (análise
fatorial), foi possível confirmar as teorias da inteligência e da personalidade, bem como
formatar as dimensões dos instrumentos que avaliam esses construtos.

A validade relativa a um critério tem como função predizer outros comportamentos


(validade simultânea) ou comportamentos futuros (Validade Preditiva). Nessa situação,
trabalha-se com a correlação entre os resultados obtidos no teste e os resultados
dos mesmos indivíduos em um critério. A resposta que ela responde é: “Os itens do
teste conseguem fazer uma previsão de uma variável externa ao teste no futuro ou no
presente?” Por exemplo: na orientação profissional ou na seleção de pessoal, o objetivo
dos instrumentos inclui a necessidade de avaliar se o sujeito possui aptidões para exercer
determinada profissão. Os levantamentos são realizados no momento da avaliação
e na validação preditiva, espera-se um tempo para que os resultados da avaliação de
desempenho sejam correlacionados com o primeiro resultado.

Esse tipo de avaliação chamada tripartite tem sido questionada e aprimorada, por
isso, contemporaneamente, a validade não está mais distinguida em tipos, mas sim
em fontes pelas quais se torna possível encontrar evidências dessa validade, a nova
nomenclatura inclui:

»» Evidências de validade baseadas no conteúdo.

»» Evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis.

»» Evidências de validade baseadas na estrutura interna.

»» Evidências de validade baseadas no processo de resposta.

»» Evidências de validade baseadas nas consequências da testagem.

Para avaliar as evidências de validade baseadas no conteúdo são chamados


especialistas na área (juízes) que avaliam se a descrição do conteúdo foi feita de
maneira correta. Assim como na validade de conteúdo, levantam-se dados sobre a
representatividade dos itens do teste, investigando se eles são abrangentes em relação
ao que pretende avaliar.

Em evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis


verificam-se as relações entre os resultados dos testes e outras variáveis que medem
as mesmas características ou que são relacionados ao construto. É possível avaliar por

36
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

meio de correlações entre os construtos que convergem ou divergem e é capaz de trazer


dados que avaliam a capacidade preditiva do teste. Essa fonte equivale, no modelo
tripartite, a validade relativa a um critério (simultânea ou preditiva).

Evidências de validade baseadas na estrutura interna equivale a validade de


construto e busca relação entre o teste e seus itens, por meio de análises estatísticas
indicando a estrutura das correlações ou utilizando, por exemplo, a análise fatorial.

Evidências de validade baseadas no processo de resposta, nessa fonte, os


dados são levantados sobre os processos mentais que estão envolvidos na realização
da tarefa. São criados modelos que tentam explicar o processo mental que ocorre no
momento em que a tarefa está sendo realizada pelo sujeito, podendo ser perguntado
diretamente ou observado. O importante é a comparação desses dados ao modelo
teórico que fundamenta a medida. Este processo permite, entre outras coisas, fazer
previsões de comportamentos de acerto e estimar tempo de reação.

Evidências de validade baseadas nas consequências da testagem, nessa fonte,


são examinadas as consequências sociais intencionais e não intencionais sobre o uso do
teste. O objetivo é verificar se as implicações coincidem com a finalidade do teste, ou
seja, ter uma visão mais ampla e não específica do teste.

Fidedignidade

A fidedignidade também conhecida como precisão ou confiabilidade refere-se a


estabilidade do teste, ou seja, quanto mais próximos forem os resultados obtidos em
métodos ou em situações diferentes ele será mais confiável a utilização (ANASTASI,
1973). Outros nomes resultam diretamente do tipo de técnica utilizada na coleta
empírica dos dados, estabilidade, constância, equivalência e consistência interna.
Quanto menor o erro na medida, maior a confiabilidade do teste. Por exemplo, se no
momento da validação de um instrumento de medida psicológica recorremos a um
grupo de sujeitos para responder itens relacionados a características de personalidade,
espera-se ao voltar usar a medida no mesmo grupo os resultados sejam os mesmos ou
muito próximos. Na TCT, o coeficiente de fidedignidade é definido pela correlação entre
esses escores.

Existem diferentes métodos para estimarem os coeficientes de precisão, quais sejam:

»» Métodos das formas alternadas.

»» Método de teste-reteste.

»» Método das duas metades.


37
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

»» Métodos de coeficientes de Alfa de Cronbach e Kuder-Richardson.

»» Método de precisão entre avaliadores.

No Método das formas alternadas ou método das formas paralelas, aplica-se duas
formas de testes equivalentes ao mesmo grupo calculando a correlação entre elas. É
necessário controlar algumas fontes de variância de erro, para que os resultados avaliem
de forma eficaz e assegurem um real paralelismo.

No Método de teste-reteste, o mesmo teste é aplicado no mesmo grupo em tempos


diferentes, o coeficiente de fidedignidade é obtido pela correlação entre os resultados
das duas aplicações. O importante é considerar a estabilidade temporal para que o
tempo não seja uma fonte de erro na avaliação da confiabilidade.

No Método das duas metades, a aplicação é realizada em apenas um grupo com


um número de sujeitos suficiente para que a amostra seja dividida em duas partes, o
coeficiente de fidedignidade é obtido pela correlação entre elas. É importante que as
duas metades sejam equivalentes em relação a dificuldade e conteúdo.

No Método de coeficientes de Alfa de Crombach e Kuder-Richardson, a


aplicação do teste é realizada uma única vez e os resultados são consistidos internamente
entre as respostas individuais nos itens com o escore total do teste. A fonte de erro,
neste caso, está relacionada a homogeneidade dos itens, quanto mais homogêneo os
itens, maior será a confiabilidade. O Kuder-Richardson é aplicado quando a correção é
binária ou dicotômica, já o alfa de Cronbach é o mais utilizado ultimamente e aplica-se
aos demais casos.

No método de precisão entre avaliadores, é solicitado a dois ou mais avaliadores que eles
avaliem os protocolos dos mesmos sujeitos depois os resultados são correlacionados.
As fontes de erro, neste caso, podem estar ligadas à subjetividade dos avaliadores.

De acordo com Bunchaft e Cavas (2001), além da metodologia descrita anteriormente,


vale ressaltar, que vários fatores afetam a fidedignidade dos testes e devem ser
controlados. Tais fatores incluem característica do próprio teste, relacionadas à sua
elaboração, ao número de itens, a dificuldade na correção, a interdependência dos
itens (quando a resposta de um item sugere a de outro item), ao nível de dificuldade
e homogeneidade. Referente a elaboração, também, é possível encontrar defeitos
técnicos nas cópias, na produção do material, ou palavras com uso indevido que geram
interpretação inadequada.

O pesquisador deve estar atento a possibilidade do acerto casual (chute) ou consulta


ao outro sujeito de pesquisa (cola) e aos fatores relacionados ao aplicador. O aplicador

38
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

deve seguir as regras da aplicação, estabelecer um bom ambiente e tentar controlar


ao máximo os fatores dispersivos durante o teste (barulho, perguntas, cheiros, calor
demais, frio demais, luminosidade ou qualquer outro fator que afete a atenção do
sujeito durante a realização da tarefa).

De acordo com as normas do Conselho Federal de Psicologia, descritas anteriormente,


toda essa informação deve ser documentada e disponibilizada no manual do teste
para que os psicólogos tenham informações suficientes relacionadas a toda a pesquisa
realizada e a confiabilidade do instrumento que deseja utilizar. Esta regra aplica-se
também aos instrumentos estrangeiros que são validados e adaptados a população
brasileira.

Além das informações sobre validade e fidedignidade o manual do teste deve conter
um capítulo que descreve o modelo teórico que fundamento o construto trabalhado e
os dados referentes ao processo de avaliação, ou seja, informações sobre os padrões de
aplicação (padronização) e normatização que serão tratados no próximo capítulo.

39
Capítulo 3
O processo de avaliação

O processo de avaliação deve obedecer aos princípios de uniformidade, deve respeitar


um padrão que vai desde as precauções que antecedem a aplicação de testes válidos
até a interpretação dos resultados dos mesmos. Na literatura relacionada ao tema
encontramos autores que fazem distinção entre os conceitos de Padronização e
Normatização, sendo:

»» Padronização – uniformidade relacionada à aplicação do teste.

»» Normatização – uniformidade relacionada à interpretação dos resultados


do teste.

É importante ressaltar que tais informações são encontradas nos manuais de qualquer
teste psicológico válido e garantir essa uniformidade é responsabilidade do psicólogo.
Quando um pesquisador submete o material produzido sobre o teste ao conselho federal
de psicologia, é essencial que ele disponibilize toda a informação referente a forma
correta e esperada de aplicação, bem como a forma de interpretação dos resultados.

O conceito de padronização, em seu sentido mais geral, inclui o controle de variáveis


relacionados ao ambiente de administração dos testes e um rigoroso controle de
variáveis externas que viabilizam esse processo de aplicação, pois uma má condução
dessa aplicação torna os resultados do teste inválidos (não os testes e sim os resultados
levantados). Antes de iniciar a aplicação o psicólogo deve considerar algumas questões,
tais como:

»» Material de Testagem (observar a qualidade do material, se o teste é


válido e preciso, se ele tem relevância no problema apresentado etc.).

Obs.: Em nenhuma circunstância, o avaliador poderá usar cópia do


material ou parte dele, além de estar infringindo as leis de direitos
autorais o psicólogo estaria cometendo uma falta ética e com isso pode
responder administrativamente.

»» Ambiente de Testagem (espaço físico, mesa, cadeira, iluminação,


temperatura, ventilação, higiene, condições de silêncio, ausência de
interrupções etc.).

40
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

»» Condições psicológicas do avaliado (observar se o sujeito está em condições


normais de saúde física e psicológica, se ele entendeu claramente a tarefa
a executar, se ele não está muito ansioso etc.).

Obs.: É nesse momento que o psicólogo deve estabelecer o Rapport,


ou seja, preparar o ambiente psicológico, estabelecendo um clima de
tranquilidade, um clima amigável para que o avaliado perceba confiança
e produza um material de boa qualidade para a avaliação.

»» Comportamento e vieses do aplicador (as palavras utilizadas pelo aplicador


devem ser claras, ele deve estar seguro e demonstrar conhecimento, deve
evitar exageros na aparência para não distrair a atenção do avaliado,
deve manter a ordem e respeito no local, deve adotar comportamentos
que garantam a equidade no processo de avaliação, ou seja, os avaliados
precisam perceber que o processo é justo, todos são avaliados da mesma
maneira, não existindo informação privilegiada para ninguém etc.).

No código de ética da profissão encontraremos várias referências a administração dos


testes, ao direito dos testandos, ao sigilo profissional e a divulgação dos resultados.

Infelizmente, a maioria das denúncias por procedimentos éticos, encaminhados ao


CFP, está relacionada aos processos de avaliação psicológica, tais como uso inadequado
de testes, encaminhamentos inadequados e inconsistentes e falta de habilidade do
psicólogo no processo de aplicação. Isso indica que existe uma falta de preparo e de
informação por parte dos psicólogos. Neste sentido, o conselho vem pensando várias
medidas, visando dar suporte a uma prática ajustada, garantindo, assim, os preceitos
éticos e o respeito ao ser humano.

A padronização contempla a forma como o teste deve ser aplicado, ou seja, a


administração e as instruções de aplicação. De maneira nenhuma essa forma pode
ser alterada, essa forma de proceder garante que todos os candidatos tenham a
mesma informação e respondam de acordo com os preceitos que foram testados no
momento de validação do instrumento. O texto exato da aplicação vem descrito no
manual do teste.

Exemplo de parte da instrução de aplicação do subteste raciocínio


matricial do teste BETA III

“Nos exercícios das próximas páginas, há pontos de interrogação em


um dos quadrantes acima da linha das respostas numeradas. Eles
significam que está faltando uma figura. A tarefa consiste em escolher,
na fileira de respostas numeradas, (abaixo de cada quadrado, que

41
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

contém cinco figuras), aquela que substitui o ponto de interrogação.


Observe o número da resposta correta para cada problema e anote na
folha de respostas o número correspondente ao lado direito do número
do exercício, e então continue no problema seguinte.”

Exemplo de parte da instrução de aplicação do subteste Códigos do


teste BETA III

“Olhe para a fileira de caixas com símbolos na parte inferior da página.


Dentro de cada caixa está um símbolo. Debaixo de cada símbolo está
um número diferente. Sua tarefa será colocar o número correto debaixo
de cada símbolo. Olhe primeiro para a fileira de caixas que está no meio
da página. As primeiras quatro caixas já estão preenchidas, note que
o número 5 foi colocado debaixo do sinal de mais (+), o número 1 de
baixo do quadrado, o 2 debaixo do círculo, e outro número 5 debaixo do
segundo sinal de mais (+). Agora prossiga e complete o número certo
debaixo de cada símbolo. Faça em ordem por fila depois prossiga para o
começo da próxima fileira, sempre da esquerda para a direita; não pule
nenhum item, trabalhe rapidamente.”
(BETA III, 2011 Trecho retirado do manual técnico)

Após o controle do ambiente e a devida aplicação, o psicólogo irá obter o escore bruto
do sujeito no teste. O escore bruto ou resultado obtido não tem em si um significado, o
profissional deverá recorrer à determinação de normas que foram geradas na fase final
de validação do instrumento com o objetivo de contextualizar e apurar o significado
dessas respostas de acordo com um grupo normativo (amostra usada na padronização).
O critério de referência ou a norma de interpretação é formado por três padrões:

1. Normas de desenvolvimento – o nível de desenvolvimento do indivíduo:

›› Idade mental.

›› Normas educacionais (Série Escolar).

›› Estágio do desenvolvimento (Ex.: Estágios de Piaget).

2. Normas intragrupo – um grupo padrão constituído pela população típica


para qual o teste foi construído:

›› Posto percentílico – o escore do sujeito é expresso em termos de


percentil. Este posto indica quanto por cento de todos os sujeitos da
população (amostra) estão abaixo do escore do avaliado. Por exemplo,
se 40% dos sujeitos obtiveram um escore bruto menor que 20, este
42
A Ciência Das Medidas Psicológicas │ UNIDADE II

escore será expresso como percentil 40, o que indica que 40% tem
escore menor que 20 e 60% tem escore maior (PASQUALI, 2001)

›› Escore Padrão (escore z) – o escore z pode ser calculado a partir


do escore padrão linear ou pelo escore padrão normatizado. Não
modificam a forma da distribuição, a transformação de notas brutas
em notas elaboradas pode ser feita de maneira que cada indivíduo
conserve exatamente sua posição na distribuição.

Figura 9. Curva Normal ou Gaussiana.

Fonte Silva (2017).

3. Normas referentes a critério – um critério externo (particular dos testes


de aprendizagem):

›› Normas elaboradas a partir da definição de um ponto de corte, em


que o interesse está em saber se um determinado indivíduo conseguiu
ou não um nível de habilidade, de aprendizagem ou de traço de
personalidade.

Não é o nosso objetivo delinear toda a parte estatística dos procedimentos de


normatização, tal explicação é apenas para criar uma referência que sustenta a
compreensão de como os resultados são interpretados. Na fase de pesquisa e elaboração
dos instrumentos, os estudiosos se empenham em suas pesquisas quantitativas a
gerarem toda essa informação que necessariamente devem estar documentadas no
manual técnico.

Retirado de Ano da Avaliação Psicológica – textos gerados 2011.

<http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/04/
anodaavaliacaopsicologica_prop8.pdf>.

“Quais os componentes necessários que devem integrar qualquer manual de


teste psicológico?

43
UNIDADE II │ A Ciência Das Medidas Psicológicas

O CFP Sugere que todos os manuais sejam elaborados com os seguintes


componentes:

1.1. Apresentação do instrumento

1.1.1. Descrever a origem do instrumento, os objetivos ou o objeto


que ele pretende aferir.

1.1.2. Descrever como foi construído.

1.1.3. Descrever como deve ser corrigido e apurado. Materiais


necessários, tais como gabaritos, devem acompanhar o manual.

1.2. Aplicações práticas possíveis e recomendáveis para o


instrumento

1.2.1. Exemplificar seu uso nos contextos educacional,


organizacional e clínico, com apresentação sumarizada de dados
disponíveis, bem como possíveis dificuldades (p. ex., extensão
do teste, nível de escolaridade necessário). Exemplos extraídos
de situações de uso real são altamente recomendáveis, uma vez
que esta é uma das principais dificuldades encontradas pelos
psicólogos quando recorrem aos testes psicológicos.

1.3. Status científico do instrumento

1.3.1. Normas: apresentar os parâmetros de normatização e,


no caso de instrumentos adaptados ao Brasil, comparar com as
normas locais.

1.3.2. Precisão: apresentar as técnicas utilizadas na verificação


da precisão do teste (p. ex., consistência interna, estabilidade
temporal).

1.3.3. Validade: apresentar dados relativos aos tipos de validade


obtidos (p. ex., validade de conteúdo, validade de critério e
validade de construto).

1.3.4. Fazer uma avaliação crítica do estado atual do instrumento.


Todos os instrumentos apresentam pontos fortes e fracos.
Descrevê-los de forma direta e transparente é uma contribuição
fundamental para a qualidade científica e profissional do seu uso.

1.4. Bibliografia: citar não só as publicações nas quais o teste foi


apresentado e validado, mas também as principais referências
sobre o objeto do teste (aptidão, inteligência, personalidade etc.).”

44
Tipos de
Avaliação Unidade iII
Psicológica

Capítulo 1
Áreas de inserção no mercado

Figura 10.

Fonte: <http://i2.wp.com/www.psicologiamsn.com/wp-content/uploads/2015/02/noticia_30012013_110405curso1.
png?resize=350%2C200>. Acesso em: 6/9/2017.

A avaliação psicológica propõe um diagnóstico que possa elucidar questões psicológicas


dos sujeitos. É fundamental para a tomada de decisões criteriosas nos diversos campos
nos quais as informações acerca do conteúdo psicológico se façam importantes, como
por exemplo, tratamentos terapêuticos, circunstâncias jurídicas, dentre outros. Assim
como pode, também, precisar as capacidades psicológicas, como por exemplo: nível de
atenção, memória etc., e como estas capacidades podem influenciar no desempenho
profissional, escolar e social das pessoas. Com isso, são diversas as áreas de inserção no
mercado para o Psicólogo especializado em avaliação psicológica.

Área clínica

Figura 11.

Fonte: <https://terapiando.com.br/wp-content/uploads/2013/02/avalicao-psicologica.jpg>. Acesso em: 6/9/2017.

45
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

Na área clínica, a avaliação psicológica contribui no processo terapêutico para o


diagnóstico inicial e também para o autoconhecimento do paciente. Para o diagnóstico
inicial, é utilizada a entrevista de anamnese para entender os motivos pelos quais o
paciente buscou o processo terapêutico. Perguntas relativas à sua história de vida
e sua trajetória acadêmica, profissional etc. são importantes para este rapport e
vínculo terapêutico. Para aprofundar o conhecimento relacionado ao paciente, o
profissional pode fazer uso de inventários e testes psicológicos específicos para cada
situação. Estes instrumentos podem ser utilizados no decorrer no processo terapêutico
conforme a necessidade. Alguns exemplos de instrumentos utilizados são os testes de
personalidade, habilidades relacionais, dentre outros. Essa avaliação proporciona um
melhor delineamento sobre o real objetivo da busca pela terapia, alinhando expectativas
e aumentando o comprometimento com o processo clínico.

O tempo destinado para a avaliação psicologia é variado, pois depende de fatores como a
situação apresentada, a necessidade ou não do uso de instrumentos específicos e também
a maior ou menor contribuição do paciente. Um exemplo mais explícito relacionado
a esta questão é o caso de pacientes menores de idade (crianças e adolescentes) que
incluem os responsáveis no processo da avaliação.

Entre algumas práticas, podem-se citar como exemplos no campo da clínica as


avaliações e os acompanhamentos realizados para realização da cirurgia bariátrica. Essa
avaliação psicológica tem o objetivo de levantar dados referentes ao quanto o paciente
está preparado para o procedimento e também para o processo pós-cirurgia, pois as
questões emocionais e a compulsão pela comida podem estar associadas a vivencias
que precisam ser identificadas visando a melhor compreensão desse indivíduo e a
orientação adequada.

Avaliação psicológica no contexto da cirurgia bariátrica – Orientações aos


profissionais. Disponível em: <http://www.portal.crppr.org.br/download/256.pdf>.

Área neuropsicológica

Figura 12.

Fonte: <http://www.emergenciapsicologica.com.br/2014/12/avaliacao-neuropsicologica-emergencia.html >. Acesso em:


6/9/2017.

46
Tipos de Avaliação Psicológica │ UNIDADE III

A Neuropsicologia faz um mergulho profundo nas relações existentes entre o cérebro


e o comportamento humano. A avaliação neuropsicológica se propõe a investigar as
atividades mentais, sendo elas cognitivas, sensoriais, emocionais e/ou sociais. Apoia
à investigação sobre o início ou a evolução de problemas neurológicos, verificando
funções cognitivas preservadas ou não e esclarecendo a extensão de danos, perdas
e/ou áreas intactas do sistema nervoso central do paciente. Para este diagnóstico
ou acompanhamento, podem ser utilizados testes cognitivos, o que levará a melhor
intervenção clínica para cada caso. Os testes utilizados irão verificar funções psicológicas
como atenção, concentração, memória, linguagem, dentre outras.

A utilização da investigação Neuropsicológica pode ser necessária em qualquer idade e


está relacionada a questões como traumas, epilepsia, demências, depressão, Parkinson,
esquizofrenia, déficits dos mais diversos, dentre outros distúrbios neurodegenerativos.
Sua contribuição é grande e vai desde a identificação precoce dos problemas e de sua
evolução para o tratamento mais adequando, como também para proposta de ações
para a reinserção dos pacientes na sociedade.

Área orientação profissional


A avaliação psicológica na orientação profissional é feita por meio de entrevistas e testes,
e oferece possibilidade de verificar aptidões, habilidades, interesses e motivações para
o reconhecimento da identidade profissional do sujeito, auxiliando na escolha de futura
profissão ou mudança de carreira de maneira consciente e consistente, pois, com isso,
pode-se alargar a capacidade de escolhas, o que amadurece a compreensão do mercado
e profissões alinhando ao perfil identificado.

A escolha de uma profissão é um momento crítico e muito influenciado por questões


externas como família, amigos, sociedade, economia etc., assim como ocorre também
com um possível desejo ou necessidade de uma transição de carreira. Por isso, a
avaliação psicológica, voltada para o autoconhecimento e exploração de potencialidades
e compreensão do mercado de trabalho é tão importante para uma adequada tomada
de decisão.

Área organizacional

Figura 13.

Fonte: <https://media.licdn.com/mpr/mpr/shrinknp_800_800/
AAEAAQAAAAAAAAhJAAAAJDYzMjBiMmI0LWU2OTYtNGM5MS04OWRiLTNjMjY1MDZmMTAxZQ.jpg>. Acesso em: 8/9/2017.

47
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é muito utilizada na seleção de pessoas por meio de entrevistas


e testes que contribuem na tomada de decisão para a melhor escolha dos profissionais
para atuarem em cada cultura organizacional. Alguns dos instrumentos que apoiam a
escolha vão desde testes de aptidão aos instrumentos de assessment.

Para além da seleção de pessoal, a avaliação psicológica também é utilizada na verificação


de potencialidades e na identificação de competências a serem desenvolvidas para a
avaliação e acompanhamento de carreira dos profissionais.

Previamente é necessário definir adequadamente o perfil comportamental e de


competências de cada cargo, seja para seleção ou para melhor adequação dos
profissionais já inseridos no contexto organizacional. Com isso, a análise feita por meio
da avaliação psicológica será mais assertiva desde a escolha das melhores perguntas
de uma entrevista a escolha dos mais adequados instrumentos de apoio à tomada de
decisões, assim minimizando possíveis erros oriundos da subjetividade.

Avaliação psicossocial (funções de risco no


trabalho)

Figura 14.

Fonte: <http://www.aguiadefogo.com.br/site/>.

Algumas atividades que envolvem risco no trabalho necessitam de avaliação psicossocial.


Esta avaliação contempla aspectos comportamentais, cognitivos, psicopatológicos e de
personalidade. Algumas Normas Regulamentadoras (NR) que definem essas atividades
de risco são:

»» NR 10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade.

»» NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de


materiais

»» NR 12 – Máquinas e equipamentos

48
Tipos de Avaliação Psicológica │ UNIDADE III

»» NR 20 – Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis

»» NR 33 – Operações e trabalhos em espaços confinados

»» NR 34 – Atividades da construção naval

»» NR 35 – Trabalhos em altura (Acima de 2,0 m do nível inferior)

Nem todas as normas trazem a obrigatoriedade da avaliação, mas algumas empresas


definem como atividade do psicólogo avaliar e acompanhar os processos para garantir
que os profissionais trabalhem em segurança e não coloquem a si mesmo ou aos colegas
em situação de risco. É importante investigar as condições psicológicas dos sujeitos que
trabalham expostos a riscos ambientais para que avaliação funcione como preditora dos
comportamentos em situações de pressão, respostas emocionais, depressão, ansiedade,
distúrbios do sono entre outros.

Além das entrevistas, o psicólogo utiliza testes que avaliam atenção concentrada,
sustentada, difusa, alternada ou dividida, inteligência, testes de personalidade focados
em levantar dados sobre ansiedade, impulsividade, estabilidade emocional, controle
emocional entre outros.

Área da aprendizagem

Figura 15.

Fonte: <http://www.gazetadopovo.com.br/ra/pequena/Pub/GP/p3/2011/04/24/VidaCidadania/Imagens/Vivo/detran_
ilustra_2304!.jpg>. Acesso em: 8/9/2017.

49
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica no âmbito escolar oferece um diagnóstico institucional avaliando


possíveis necessidades de alunos, professores e demais funcionários. Contudo, os
caminhos mais usuais na área da aprendizagem são a avaliação psicopedagógica e a
avaliação da maturidade escolar.

A avaliação psicopedagógica visa identificar o momento do aluno no processo escolar


para que, com este diagnóstico, possam ser feitas as intervenções necessárias para cada
caso. Nesta avaliação podem ser identificados problemas como: dislexia, hiperatividade,
déficit de atenção, entre outros. As informações que auxiliarão neste processo envolvem,
além do aluno, familiares e profissionais da escola, como professor e diretor.

A avaliação da maturidade escolar utiliza técnicas e instrumentos direcionados a


identificar o perfil cognitivo que possa interferir na escolarização, desde aptidões ao
nível afetivo-social. Neste caso, também podem ser inseridos familiares e profissionais
da escola com o objetivo de colher informações que auxiliem no processo.

Área jurídica

Figura 16.

Fonte: <http://igap.net.br/wp-content/uploads/2012/02/servi%C3%A7o_forense.jpg>. Acesso em: 8/9/2017.

A avaliação psicológica para casos judiciais deve agregar informações relevantes do perfil
psicológico de um sujeito, casal ou família com o fim de auxiliar na tomada de decisão
em um processo judicial, podendo ser solicitado pelo Tribunal ou pelo particular. No
caso desta solicitação ser feita para menores de 18 anos deve ter o consentimento de seu
representante legal.

A devolução do parecer deve ser feita diretamente para o requerente, sempre


acompanhado de parecer documental (escrito). A quantidade de encontros para fechar
um diagnóstico neste caso irá depender de cada situação, podendo ou não fazer uso de
instrumentos como testes e outros.

50
Tipos de Avaliação Psicológica │ UNIDADE III

Área de trânsito

Figura 17.

Fonte: <http://facinepe.edu.br/wp-content/uploads/2015/10/Psicologia-do-Tr%C3%A2nsito.jpg>. Acesso em: 8/9/2017.

A avaliação psicológica voltada para condutores visa um diagnóstico que envolve


aspectos relacionados à percepção cognitiva, psicomotora e psicossocial, pois são
áreas que podem interferir diretamente no desempenho do motorista. Esta avaliação é
respaldada pelo Art. 29 do Decreto-Lei no 138/2012, de 5 de julho. Para esta avaliação
são utilizados testes psicotécnicos, normalmente aplicados em um único dia, salvo
exceções de impedimento. Esta exigência de identificar a capacitação psicológica do
condutor consta no Regulamento da Habilitação Legal e são para as seguintes situações:

»» Obtenção/Renovação das Categorias C e CE (condutores de veículos


pesados e articulados).

»» Obtenção/Renovação das Categorias D e DE (condutores de veículos


pesados de passageiros).

»» Obtenção/Renovação de ADR (condutores de veículos no transporte de


matérias perigosas).

»» Obtenção/Renovação do CAP (motoristas de passageiros e mercadorias


e CAP Táxi);

»» Obtenção e revalidação das restantes categorias nas condições exigíveis


na legislação em vigor.

»» Condutores de Veículos Prioritários (transporte escolar, carros de


combate a incêndios, ambulâncias etc.).

»» Equivalência de Carta de Condução (troca do título de condução


estrangeiro);

»» Instrutores e Examinadores de Condução Automóvel.

51
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

Área de segurança (porte de arma)

Figura 18.

Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-0yJdABpyNN8/UuBw7B2fBOI/AAAAAAAAARk/eVFaRBhRcXg/s1600/190px-Psi2.png>. Acesso


em: 8/9/2017.

A avaliação psicológica para registro e porte de arma é obrigatória, de acordo com a Lei
no 10.826 (em vigor):

para a aquisição ou porte de arma para o Sistema Nacional de Armas,


o candidato será submetido à bateria de instrumentos de avaliação
psicológica composta de inventário de personalidade, questionário,
teste projetivo, expressivo, módulo de informações complementares e
dinâmica de grupo, visando aferir a estrutura da personalidade.

Existem normas predefinidas para que esta Lei se cumpra e estas normas estão na Ordem
de Serviço no 1 de agosto de 2004. Nesta Ordem consta, por exemplo, que o candidato
inapto só poderá passar por nova avaliação após 90 dias do resultado negativo da
primeira. Além disso, a norma estipula a quantidade máxima de dez baterias de testes
por dia para a aplicação do avaliador. O laudo com o resultado deverá ser encaminhado
em cópia para a superintendência ou delegacia regional, sempre lacrado respeitando o
sigilo do processo em até 15 dias a contar do dia da avaliação. A entrega é protocolada
com um recibo. A validade do laudo para o Sistema Nacional de Armas, tanto para o
registro como para o porte, é de três anos para o cidadão que justifique sua necessidade
do uso da arma, dois anos para as Guardas Municipais ou Metropolitanas e um ano
para a Segurança Privada.

52
Capítulo 2
Alguns dos instrumentos utilizados

Figura 19.

Fonte: <http://www.isec.psc.br/wp-content/uploads/2014/08/1601295_647675835286375_7088945265359667035_n.jpg>.
Acesso em: 8/9/2017.

Antes de descrever os principais instrumentos, é importante reforçar que a observação


deve ser sempre a primeira avaliação feita pelo profissional frente ao sujeito a ser avaliado
e deve ser uma constante em todo processo. É fundamental que sejam observados
pontos como a aparência geral (cuidados com a higiene e adequação da vestimenta);
comportamento geral (movimentos, tom de voz etc.); aparência e saúde.

Conforme descrito no capítulo anterior, a Avaliação Psicológica está presente em


diversas áreas da atuação do Psicólogo e demanda de instrumentos que apresentem
precisão e validade consideradas confiáveis.

Alguns critérios são fundamentais para a definição dos instrumentos a serem utilizadas
na Avaliação Psicológica. Entre eles podem ser citados:

»» Ter sido validado e padronizado para a realidade brasileira.

»» Ter fundamentação teórica com aceitação científica, incluindo manuais e


parte de aplicação gráfica/equipamentos.

Para além dos instrumentos serem bem escolhidos, o profissional que atua com
Avaliação Psicológica necessita ter competência para uma aplicação e avaliação
adequada. Para tanto, a qualificação teórica e prática é fundamental para esta atuação.
Caso o avaliador seja estudante de Psicologia, é preciso que seja supervisionado por
psicólogo formado.

53
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

Pontos que devem ser considerados pelo avaliador:

»» A escolha dos instrumentos deve estar alinhada aos objetivos de cada


situação.

»» O planejamento da aplicação deve ser estruturado adequando o tempo de


cada instrumento com a agenda de avaliação.

»» Preparar os materiais necessários para a aplicação de cada instrumento


(cadernos de testes, folhas de respostas, lápis, borracha, caneta, folhas de
ofício etc.).

»» Cuidar da sua apresentação pessoal, tom de voz e interferências


que podem ocorrer no ambiente (iluminação, barulho, calor, frio,
limpeza etc.).

É fundamental que a aplicação seja feita rigorosamente dentro do padrão indicado


para cada instrumento. Os padrões de cada instrumento são indicados nos manuais de
aplicação.

Algumas das recomendações a serem seguidas:

»» Investigar as condições do sujeito que passará pela avaliação, como


por exemplo, problemas visuais ou outros possíveis limitadores, se está
fazendo uso de medicações ou se está passando por questões situacionais
que possam interferir em seu resultado.

»» Fazer um rapport antes da aplicação com os devidos esclarecimentos de


objetivos para dirimir possíveis dúvidas, expectativas e resistências.

»» Estar atento ao seu próprio comportamento sendo objetivo e tranquilo,


procurando não passar ansiedade.

»» Fazer um treinamento anterior à aplicação para equilibrar o rigor


metodológico com uma postura natural.

No caso específico de testes, alguns rigores devem ser adotados:

»» Usar testes originais e no caso de materiais reutilizáveis, como cadernos


de perguntas, que estejam sempre em bom estado.

»» Atentar para os materiais determinados no manual de aplicação seguindo


as recomendações necessárias como o número do grafite, a cor etc. Ter
materiais de reserva preparados é recomendado.

54
Tipos de Avaliação Psicológica │ UNIDADE III

»» Assegurar que as mesas e cadeiras que serão utilizadas pelos sujeitos não
sejam incomodas dificultando a postura.

Importante: No caso de testes psicológicos, a avaliação deve seguir rigorosamente


as instruções do manual, pois existe uma mensuração testada estatisticamente com a
devida padronização por amostra representativa. A atualização dos instrumentos deve
ser sempre observada para que sua validade seja garantida.

Testes psicológicos
Os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação e registro de
amostras de comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de descrever
e/ou mensurar características e processos psicológicos, compreendidos tradicionalmente
nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade,
psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais diversas
formas de expressão, segundo padrões definidos pela construção dos instrumentos. § 1o
do art. 13 da lei no 4.119/62. (Resolução CFP 2/2003)

São classificados em:

»» Resposta única: cognitivos, conhecimento, habilidades ou capacidades.

»» Múltiplas possibilidades: inventários, questionários, levantamentos,


personalidade, motivações, preferências, atitudes, interesses, opiniões,
reações.

Principais instrumentos aprovados pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) (Consulta


em fevereiro de 2017).

TESTES DE PERSONALIDADE | COMPORTAMENTO

• CPS - Escalas de Personalidade de Comrey


• EFEx - Escala Fatorial de Extroversão
• EFN - Escala Fatorial de Neuroticismo
•HTP
• IFP - Inventário Fatorial de Personalidade
• IHS - Inventário de Habilidades Sociais
• Palográfico
Adultos • Pirâmides Coloridas de Pfister
• PMK - Psicodiagnóstico Miocinético
• QUATI - Questionário de Avaliação Tipológica
• Rorschah
• STAXI - Inventário de Expressão de Raiva como Estado
e Traço
• Teste Z de Zulliger
• TAT - Teste de Apercepção Temática

55
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

• DFH III - O Desenho da Figura Humana


• ETPC - Escala de Traços de Personalidade para Crianças
• FTT- Teste Contos de Fada
Infantis •HTP
• SMHSC - Sistema Multimídia de Habilidades Sociais de Crianças

TESTES DE HABILIDADES – APTIDÕES – INTELIGÊNCIA

• AC - Teste de Atenção Concentrada


• AC 15 - Teste de Atenção Concentrada
• BFM 1 - Testes de Atenção
• BFM 2 - Testes de Memória
• BFM 3 - Teste de Raciocínio Lógico
• BFM 4 - Testes de Atenção Concentrada
• BGFM 1 - Testes de Atenção Difusa
Adultos • BGFM 2 - Testes de Atenção Concentrada
• BPR 5 - Bateria de Provas de Raciocínio
• D-2 - Teste de Atenção Concentrada
• G 36/ G 38 - Teste Não Verbal de Inteligência
• RAVEN - Escala Geral
• R 1 - Teste Não verbal de Inteligência
• Teste dos Relógios
• WAIS III - Escala de Inteligência Wechsler para Adultos

• WISC III - Escala de Inteligência Wechsler para Crianças


• Colúmbia - Escala de Maturidade Mental
• Raven - Escala Especial
Infantis • R 2 - Teste Não Verbal de Inteligência para Crianças
• Teste das Fábulas

OUTROS TESTES

• BBT - Testes de Fotos de Profissões


• EMEP - Escala de Maturidade para a Escolha Profissional
• Escalas Beck Estilos de Pensar e Criar
Adultos • ISSL - Inventário de Sintomas de Stress de Lipp
• IECPA- Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais Acerca do Álcool
• QSG - Questionário de Saúde Geral
• Escala Hare - PCL-R

• Bender - Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender


• IEP - Inventário de Estilos Parentais
Infantis • TDAH - Escala de Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade
• SDT - Teste do Desenho de Silver

56
Tipos de Avaliação Psicológica │ UNIDADE III

Os testes informatizados

O teste informatizado é o nome que se dá ao tipo de teste em que o computador é


usado em todas as fases da execução do teste, desde as instruções para a realização
do teste até a emissão dos relatórios sobre os resultados. Recentemente, por meio da
informática, esses testes puderam ser incrementados e a cada dia, mais pesquisadores
validam ferramentas online. Em 1986 a APA (American Psychological Association)
publicou uma normativa para a aplicação e interpretação de tais instrumentos. É
importante ressaltar que o rigor no processo de validação é o mesmo (ou até maior) que
os testes de realização presencial. Ainda não se tem registro de muitas empresas que
comercializam esse produto, em 2017 apenas duas editoras, com aproximadamente 20
testes estão aprovados no banco de dados SATEPSI, no entanto, se tem notícia que
algumas pesquisas estão em curso.

As contribuições específicas do suporte informatizado na área de avaliação passa


pela economia com material utilizado (descartando o volume de papel gerado com
os cadernos e protocolos), segurança e confiabilidade na correção e resultados, maior
capacidade de armazenamento e rapidez na resposta ao avaliado.

Entrevista psicológica

Figura 20.

Fonte: <http://www.agenciareidolar.com.br/images/stories/entrevista.jpg>. Acesso em: 8/9/2017.

A entrevista é o recurso mais utilizado na avaliação psicológica. Podendo ser utilizada


em vários momentos do processo.

A entrevista é uma técnica de investigação científica em psicologia,


sendo um instrumento fundamental do método clínico. [...]
Compreende o desenvolvimento de uma relação entre o entrevistado
e o entrevistador, relacionada com o significado da comunicação.
Revela dados introspectivos (a informação do entrevistado sobre os
seus sentimentos e experiências), bem como o comportamento verbal e
não-verbal do entrevistador e do entrevistado. (CUNHA, 1986)

57
UNIDADE III │ Tipos de Avaliação Psicológica

Devido ao seu viés subjetivo para interpretação, é necessário um maior critério em


seu planejamento para que haja indicadores mais objetivos para a avaliação do perfil
psicológico.

Um roteiro de entrevista sistematizado deve conter:

»» Dados demográficos.

»» História de vida (familiar, acadêmica, profissional).

»» Histórico médico.

»» Comportamento social.

»» Valores pessoais.

»» Expectativas futuras.

»» Características individuais.

Importante: para além da linguagem verbal do que é dito na entrevista, informações


da linguagem não verbal (tom de voz, gestos, posturas etc.) são também aspectos muito
importantes para serem observados e interpretados pelo avaliador no momento da
dinâmica da entrevista.

A entrevista devolutiva ao final do processo de avaliação psicológica também


precisa uma especial atenção por parte do profissional. É necessário passar o resultado
da avaliação de maneira clara e objetivos dando a devida orientação para cada caso.

Assista:

Entrevista de um dos representantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP)


sobre Avaliação Psicológica.

Figura 21.

Fonte: Imagem do programa.

Para assistir: <https://www.youtube.com/watch?v=asBtAZJxA3g>.

58
Elaboração de
Documentos Unidade iV
Psicológicos

Capítulo 1
Diferenciação dos tipos de documentos
psicológicos

Figura 22.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-Kz_8ut0v05k/UApu1mjFpKI/AAAAAAAASz8/ALmpWWHgCRg/s1600/1ab.jpg>. Acesso em:


8/9/2017.

A elaboração de documentos faz parte do cotidiano da avaliação psicológica. Para dirimir


dúvidas, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem Resoluções a serem seguidas com
informações sobre o que difere cada tipo de documento: Declaração, Atestado, Relatório
e Parecer. Aqui será seguido as orientações deste material que pode ser consultado na
íntegra em:

Link para as informações completas da Resolução 7/2003 (CFP) com o Manual de


Elaboração de Documentos Escritos:

<http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2003/06/resolucao2003_7.pdf>.

Atualizações em: <http://sbpa.org.br/portal/conselho-federal-de-psicologia/>.

59
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

São muitas as diferenças entre os documentos, porém, contém um ponto m comum que
é a finalização.

O que deve conter no fechamento dos documentos:

• Local
• Data de emissão
• OBS: Todo documento deve ser feito em papel timbrado
1
• Assinatura do profissional
• OBS: O documento deve ser assinado acima dos dados
que constam no item 3 (abaixo)
2
• Nome completo do Psicólogo(a)
• Inscrição no Conselho Regional de Psicologia (CRP)
• OBS: Estas informações podem (ou não) contar em carimbo
3

Fonte: Própria autora.

Em sua mais recente atualização, a Resolução CFP no 5/2010 acrescenta:

Art. 2o. Os documentos agrupados nos registros do trabalho realizado


devem contemplar:

I – identificação do usuário/instituição;

II – avaliação de demanda e definição de objetivos do trabalho;

III – registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o conhecimento


do mesmo e seu acompanhamento, bem como os procedimentos
técnico-científicos adotados;

IV – registro de Encaminhamento ou Encerramento;

V – cópias de outros documentos produzidos pelo psicólogo para


o usuário/instituição do serviço de psicologia prestado deverão
ser arquivadas, além do registro da data de emissão, finalidade e
destinatário.

VI – documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação


psicológica deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do
psicólogo.”

60
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Anteriormente, a Resolução CFP No 1/2009 já havia também acrescentado que:

Art. 3o. Em caso de serviço psicológico prestado em serviços-escola


e campos de estágio, o registro deve contemplar a identificação e a
assinatura do responsável técnico/supervisor que responderá pelo
serviço prestado, bem como do estagiário.

Parágrafo único. O supervisor técnico deve solicitar do estagiário


registro de todas as atividades e acontecimentos que ocorrerem com os
usuários do serviço psicológico prestado.

O CFP, em suas Resoluções, deixa claro que os documentos oriundos de avaliação


psicológica devem seguir as diretrizes do Manual supracitado. Não seguir estas
orientações pressupõe falha ética que consta no Código de Ética Profissional do
Psicólogo.

Consulte o Código de Ética Profissional do Psicólogo em sua íntegra:

<http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-
psicologia.pdf>.

Figura 23.

Declaração
Psicológica

Relatório
Atestado
(ou Laudo) Documentos
Psicológico
Psicológico

Parecer
Psicológico

Fonte: Própria autora.

61
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Principais diferenças entre os documentos de


avaliação psicológica

Figura 24.

Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-6slqVm4yOR8/Ux8ZhxEjTmI/AAAAAAAAGuM/rZTEcdw2Kzg/s1600/ESCREVENDO.jpg>. Acesso


em: 8/9/2017.

Declaração psicológica

Fornece informações contingenciais restritas ao atendimento psicológico, não devendo


conter os registros de sintomas, ocorrências ou estado psíquico. Devem conter nome
completo do solicitante e o propósito das informações pedidas.

Informações referentes à declaração psicológica:

Fonte: Própria autora.

Atestado psicológico

Neste caso, o documento deverá trazer nome completo do paciente e trará a especificação
de uma situação ou estado psicológico que foram objetivos do atendimento, razão do

62
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

afastamento ou falta. Caso necessário, pode ter o código da Classificação Internacional


de Doenças em vigor. A emissão deste documento é posterior a avaliação psicológica,
seguindo o rigor técnico e ético referidos na Resolução no 15/1996 do CFP, que também
preconiza que as normas de escrita deste documento seja corrida, sem parágrafos, com
frases separadas exclusivamente pela pontuação. Caso haja necessidade de parágrafos,
estes devem ter os espaços preenchidos por traços. É necessário que se tenha cópias dos
atestados arquivados.

O atestado psicológico deve atender a objetivos como:

Fonte: Própria autora.

Parecer psicológico

“Documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico


cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo” (Manual de Elaboração de Documentos
Escritos do CFP).

Este documento tem por objetivo centrar o esclarecimento sobre a situação do paciente,
respondendo a situação apresentada na consulta, devendo o parecerista fazer uma
análise criteriosa dos principais pontos com escrita devidamente fundamentada em
teorias científicas. Caso não possua dados suficientes, o parecerista utilizará a expressão
“sem elementos de convicção”. No caso de ainda não ter elementos suficientes para
fechar o parecer, usará a expressão “aguarda evolução”.

Relatório (ou laudo) psicológico

Um relatório psicológico tem valor científico, segundo do CFP, por isso, sua escrita
deve seguir normas didáticas e descritivas. Ou seja, deve ter definições e explicações
conceituais de base técnica e científica, com a devida clareza em suas explicações. É
importante que a análise da demanda justifique, em sua descrição, o procedimento que

63
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

foi adotado. Esse procedimento representa todas as técnicas, recursos e/ou instrumentos
que foram utilizados para chegar à conclusão do relatório. A conclusão deve ser objetiva
e metódica, sempre correspondendo à síntese do que foi vivenciado no processo.

Seguindo o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP), o relatório deverá conter


apenas as informações estritamente necessárias para esclarecer um encaminhamento,
com afirmativas que sustentem fatos baseados em teorias, entendendo ser um
documento não definitivo, devido à natureza dinâmica e mutável dos casos, o que deve
ser enfatizado.

Resumindo, o relatório psicológico deve ter cinco itens, já explicados anteriormente:

Fonte: Própria autora.

Conforme abordado neste capítulo, os documentos elaborados para a apresentação


de avaliações psicológicas demandam de embasamento teórico e domínio técnico. Os
aspectos técnicos serão mais explorados no capítulo seguinte.

64
Capítulo 2
Aspectos técnicos para a elaboração
dos documentos

Figura 25.

Fonte: <http://www.gantt-consulting.hr/images/Evaluation4.png>. Acesso em: 8/9/2017.

Para além do que já foi apresentado no capítulo anterior, é importante salientar


algumas importantes indicações aplicadas para a elaboração dos documentos oriundos
da avaliação psicológica.

a. Alguns dos pontos relevantes para a técnica na escrita dos documentos:

Fonte: Própria autora.

65
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

1. Uso da linguagem técnica: a falta de cuidado no uso da linguagem técnica


pode gerar interpretações com julgamentos morais nos documentos da
avaliação psicológica, o que é inadequado. Deve-se ter em mente que o
texto deste tipo de documento não é coloquial, mas sim profissional.

2. Não utilizar afirmações categóricas: afirmativas categóricas devem ser


evitadas em documentos de avaliação psicológica, já que a psicologia
não é uma ciência exata. É preciso ter cautela nas afirmações feitas a
partir dos dados obtidos na avaliação. No caso, alguns exemplos de
formas aceitas de escrita trata de frases com palavras como: “denota”,
“indica”, “evidencia” etc. Sempre sendo descrito o que está relacionando
com referências teóricas que embasem suas observações clínicas. Estas
referências devem ser destacadas em nota de rodapé ou em lista no fim
do documento.

3. Precisão fundamentada: o documento de uma avaliação psicológica deve


esclarecer o diagnóstico com os critérios utilizados para sua conclusão e
como na da Classificação Internacional de Doenças (CID). Este cuidado é
fundamental para o profissional estar respaldado em seu trabalho.

Consulte a Classificação Internacional de Doenças (CID) em sua integra em:

<http://www.cid10.com.br/>.

4. Atenção para os limites da atuação profissional: não cabe ao psicólogo


avaliador se imbuir de autoridade que possa ser confundida com o
papel de juiz, por exemplo. Por isso, deve-se ter cuidado na escrita dos
documentos e em quais palavras serão utilizadas. Na avaliação cabem
recomendações, indicações etc.

5. Uso de escrita impessoal: todo documento técnico deve ser impessoal


em sua escrita, ou seja, não deve ser utilizada a primeira pessoa. O
mais indicado é o uso da voz passiva (exemplo: indica-se) ou reflexiva
(exemplo: indicar-se-á).

6. Uso da linguagem culta e profissional: o documento de uma avaliação


psicológica jamais deve conter gírias ou expressões cotidianas. Assim
como o avaliador deve descrever apenas fatos e não suas opiniões pessoas
e/ou juízo de valor.

66
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

7. Parcimônia e clareza no uso dos termos técnicos: sempre que houver


necessidade do uso de termos técnicos em documentos de avaliação
psicológica, estes devem ser esclarecidos com explicações acerca do que
se trata para que não sejam gerados documentos incompreensíveis ou
que deem margem a inadequadas interpretações.

8. Uso adequado de dados oriundos do processo da avaliação psicológica: os


documentos de avaliação psicológica devem esclarecer de forma objetiva
as técnicas utilizadas no processo e o efeito do processo no paciente. É
necessário também saber fazer o uso correto dos termos técnicos para
que estes apenas clarifiquem o que foi observado e as conclusões geradas.

b. Validade e Guarda dos Documentos segundo a Resolução CFP no 7/2003


(2003b).

• O avaliador deverá considerar a legislação vigente.


• Caso não haja definição legal, deverá o prazo de validade
Validade do conteúdo no documento, com a devida fundamentação
para esta indicação.

• Mínimo de cinco anos, não apenas do laudo, mas de todos


os materiais referentes à avaliação. Poderá haver
Guarda ampliação desse prazo nos casos previstos em lei.
• Responsabilidade do profissional avaliador ou da instituição.

Fonte: Própria autora.

O documento de uma avaliação psicológica é a maneira do profissional


comunicar seu trabalho para leigos e/ou profissionais de outras áreas.

Qual a responsabilidade do psicólogo na elaboração destes documentos?

Conforme visto anteriormente, o laudo de uma avaliação psicológica tem valor


científico, por isso deve ter uma linguagem clara com explicações conceituais para sua
sustentação.

Embora o cuidado com este documento seja referenciado, encontramos inadequações


como as que podem ser vistas nos trechos a seguir, que foram retirados de documentos
de avaliação psicológica. Neste quadro, são identificadas falhas por falta de atenção aos
pontos relevantes para a técnica da escrita:

67
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Leia os trechos a seguir, retirados de documentos de avaliação psicológica.

Quadro 1.

“E de repente, surge aquele estranho querendo abusá-la, atacando-a da forma mais cruel que uma criança
1. Uso da linguagem técnica pode conceber ... Essa paciente está muito sentida, com aqueles soluços que parecem do fundo de sua
alma infantil”. “Joana é uma mulher guerreira e muito sofredora”.

2. Não utilizar afirmações “A partir das entrevistas realizadas com mãe, pai, filha, avós e tia materna da vítima, é possível afirmar, com
categóricas certeza, que abusos sexuais e físicos ocorreram”.

“Sr. João demonstra um comportamento extremamente agressivo e, sem que haja mínimos critérios de
3. Precisão fundamentada segurança, quanto à doença mental/neurológica que acomete o Sr. João e que se apresenta como grave,
seu contato com a filha não deve ser permitido, para segurança desta.”

4. Atenção para os limites da “Foi ordenado a Srta. Maria que não permitisse o contato de sua filha com o pai”.
atuação profissional

“A seguir apresentamos análise de cada um dos avaliados”. “Nessa ocasião o avô compartilhou conosco a
5. Uso de escrita impessoal
perda da esposa e sua preocupação com os netos”

“Joana apresentava-se vestida de acordo com a idade, mas sem grandes investimentos no vestuário”. “O
6. Uso da linguagem culta e
paciente teve a oportunidade de conviver com seus pais casados por somente três anos ... Ele cursou a
profissional faculdade por cinco anos e, durante todo esse tempo, não conseguiu avançar além do terceiro semestre”.

“Essa escala demonstrou que o paciente encontra-se num nível intelectual superior, com alta capacidade
de análise e síntese, bem como de insight... . Suas fraquezas estão centradas numa dificuldade específica
7. Parcimônia e clareza no
de atenção e de memória imediata, o que sugere uma baixa capacidade do ego sobre os processos
uso dos termos técnicos de pensamento.” “Nesse instrumento foi detectada uma tendência do indivíduo de utilizar em demasia a
fantasia, gerando uma forma de pensamento infantil e egocêntrica”.

“No teste HTP, onde o paciente deve desenhar uma casa, uma árvore e uma pessoa em folhas individuais,
tanto colorido como posteriormente, sem cor”. “Na escala SNAP, das 26 questões da escala, as respostas
da mãe foram, 15 ‘bastante’, 8 ‘demais’, 2 ‘um pouco’ e 1 ‘nada’. As respostas da professora não foram
8. Uso adequado de dados
muito diferentes: 17 ‘bastante’, 6 ‘demais’ e 3 ‘um pouco’”. “A análise das características de personalidade
oriundos do processo da
de Maria sugere que ela não dispõe de recursos psicológicos suficientes para enfrentar seus disparadores
avaliação psicológica internos de tensão. Os dados indicaram que a paciente apresenta um estilo vivencial do tipo ambigual,
isto é, seu estilo de responder as demandas do meio ocorrem tanto por meio de atividades reflexivas
(pensamento), bem como por meio dos afetos eliciados (emoção).”

Fonte: LAGO; YATESe BANDEIRA(2016).

É sabido que alguns itens são fundamentais para a elaboração do laudo, são eles:

Fonte: Própria autora.

68
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

A seguir, serão disponibilizados dois exemplos de modelos para laudos psicológicos.

EXEMPLO 1

LAUDO PSICOLÓGICO

1. Identificação:

Avaliador: xxx – CRP: xxx

Avaliado: xxxx

Finalidade: Continuidade de Acompanhamento Psicológico.

2. Motivos da avaliação – Descrição:

A demanda de avaliação psicológica para o adolescente xxxxx deu-se a partir de diversas


ocorrências no ambiente escolar como déficit de atenção, comportamento anti-social
e agressivo, danificação de materiais, oposição a regras, impulsividade, dentre outros
comportamentos de inadequação que levaram a reprovações, suspensão e até mesmo
expulsão no seu histórico escolar.

A família relata que as dificuldades sociais do adolescente o acompanham desde


a infância. Demonstrando comportamento destrutivo e isolamento. O histórico
familiar mostra pai alcoólatra, com problemas de autoridade e mãe conflituosa, com
comportamento ambíguo em relação à forma de disciplinar passando da passividade a
agressividade na educação do filho.

Com isso, o objetivo da avaliação psicológica faz-se necessário para que o adolescente
possa dar continuidade ao acompanhamento psicológico e assim manter-se na atual
escola.

3. Procedimento:

Foram realizadas quatro sessões com o tempo de uma hora para cada com alternância
em seus dias. Nestes momentos houve a aplicação de instrumentos psicológicos.

4. Análise:

Na entrevista inicial, o avaliado apresentou comportamento tenso, com irritação e


agressividade. Demonstrou rebeldia em relação à família e intenções destrutivas.
Após o auge das implicações emocionais, pode fazer os instrumentos avaliativos para
identificação da percepção familiar, personalidade, memória e inteligência.

69
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

O instrumento de percepção familiar apresentou desarmonia neste campo com


sentimentos de inferioridade e insegurança. Foi verificado o afastamento, rejeição e
desvalorização entre os membros da família, com discurso de indiferença pela vida.

Para avaliar a personalidade, foram aplicados os instrumentos Percepção Temática


(PT), Rorschach e HTP (Casa, Árvore, Pessoa). Demonstrou discernimento em relação
ao que vivencia. Foram identificados os seguintes traços de personalidade: baixa
autoestima, introversão, imaturidade, egocentrismo, ambivalência comportamental,
alteração de humor, insegurança, hostilidade, desinteresse, fantasias, inadequação a
normas e regras, negligência, busca pelo risco, tendência piromaníaca e capacidade
para arquitetar e agir.

Apresentou déficits na memória auditiva e visual apresentando classificação inferior.

Para a verificação da inteligência, foram aplicados o Raven e o R-1 que mostraram que
está acima da média em relação à escolaridade e idade.

5. Conclusão:

A avaliação psicológica realizada não apresentou indicações de deficiência mental.

Foram observadas desordens afetivas e sociais, traços para piromania, obsessão,


bipolaridade e autodestruição.

Como diagnóstico, o avaliado denota personalidade antissocial, CID-10: F60.2 +


F91.3. Deve ser dada continuidade ao tratamento psicoterápico com indicação de
acompanhamento psiquiátrico em paralelo.

Cidade, dia, mês, ano

Nome do Psicólogo

CRP No /
Fonte: <http://estudandopsi.blogspot.com.br>. Acesso em: 9/5/2017.

EXEMPLO 2

LAUDO PSICOLÓGICO

1. Identificação:

Avaliador: xxx – CRP: xxx

Avaliado: xxxx

70
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Finalidade: Seleção para concurso público.

2. Motivos da avaliação – Descrição:

Este parecer pretende avaliação psicológica dos candidatos aprovados em pós prova
objetiva. Esta etapa será eliminatória.

3. Procedimento:

Esta etapa foi realizada por meio de dinâmica de grupo com duração de uma hora e
meia e entrevista dirigida individual com duração de 1 hora cada.

Para a dinâmica de grupo, foi solicitado o desenho de uma figura humana, após este
desenho feito, pediu-se que colocassem na altura da cabeça uma meta de vida, na mão
direita três pontos fortes e na mão esquerda três pontos a melhorar.

Para a entrevista individual, foram feitas perguntas dirigidas com o fim de identificar
características pessoais e verificar o interesse e visão que o candidato possui em relação
ao cargo pleiteado.

4. Análise:

A partir do que foi relatado pelos candidatos nesta etapa, a análise pôde identificar
as seguintes características buscadas para o cargo em questão: percepção relacional
e motora apropriada, bom nível mental, equilíbrio emocional compatível, adequado
controle da ansiedade e da impulsividade, adequação psicomotora, autoconfiança, boa
resistência à frustração e a fadiga, adequado desenvolvimento, boa memória auditiva e
visual, bom autocontrole, alta energia laboral, boa iniciativa, forte potencial de liderança,
facilidade no trabalho em equipe e cooperação, bom relacionamento interpessoal,
pertinente flexibilidade de conduta, boa capacidade criativa, fluência verbal adequada,
ausência de traços de fobia.

Observou-se também receptividade em todas as etapas, assim como um bom nível de


oralidade.

5. Conclusão:

A conclusão apoiada nas informações da avaliação psicológica é de que a candidata


xxxx encontra-se inapta para o cargo de xxxxxx, já que foram observados fortes traços
de ansiedade e impulsividade para conflitos e pressão, além de baixa capacidade de
cooperação grupal e de confiança, dando preferência para tarefas individuais. Suas
características pessoais encontram-se em dissonância para o cargo pleiteado, podendo
ser mais bem adaptada a outras funções.

71
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Cidade, dia, mês, ano

Nome do Psicólogo

CRP No /
Fonte: <http://estudandopsi.blogspot.com.br>. Acesso em: 9/5/2017.

A seguir, serão disponibilizados exemplos de resultados de testes psicológicos de


correção informatizada. Os relatórios foram reproduzidos na íntegra para que melhor
compreensão do formato do documento.

EXEMPLO 1

“Resultado do BETA-III – Teste Não Verbal de Inteligência Geral: Subtestes Raciocínio


Matricial e Códigos – Editora Casa do Psicólogo.

Autores: Kelogg e Morton, apdaptação brasileira: Ivan Sant’Ana Rabelo, Silvia Verônica
Pacanaro, Irene F. Almeida de Sá Leme, Rodolfo A. M. Ambiel, Gisele Aparecida da
Silva Alves

Figura 26. BETA III.

Fonte: <http://www.pearsonclinical.com.br/teste-n-o-verbal-de-inteligencia-geral-beta-iii-subtestes-raciocinio-matricial-e-
codigos-kit.html>. Acesso em: 8/9/2017.

72
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Nome: XXXXX

CPF:

RG:

Sexo:

Lateralidade:

Data de Nascimento:

Idade:

Escola/Instituição:

Segmento:

Escolaridade:

Série:

Empresa:

Profissão:

Função:

Aplicador:

Início: Término:

Local de Nascimento:

Raciocínio matricial

Tabela PB Percentil Classificação

Geral 17 60 Médio

Sexo - Feminino 17 50 Médio

73
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Faixa etária - de 26 a 36 anos 17 60 Médio

Escolaridade - Ensino Superior 17 50 Médio

Estado - São Paulo 17 50 Médio

Fonte: SILVA, 2017 (Exemplo de laudo de um cliente).

Interpretação

O subteste Raciocínio Matricial do teste Beta-III avalia a capacidade para resolver


problemas novos, relacionar ideias, induzir conceitos abstratos e compreender
implicações. Os resultados de XXXXXX no subteste Raciocínio Matricial mostram que
seu desempenho foi Médio em relação à população geral.

Recomenda-se observar o desempenho do indivíduo com relação às normas referentes


à faixa etária, sexo e escolaridade na População Geral e dessas mesmas variáveis por
estado (quando se aplicar), uma vez que foram identificadas variações importantes
em relação a elas, no estudo de normatização do teste. A análise qualitativa permite
compreender discrepâncias entre percentis obtidos além de contribuir em diagnósticos
diferenciais.

Psicólogo XXXXX

CRP: XXXX”

EXEMPLO 2

Resultado do teste NEO PI-R (Personalidade) Editora Vetor

AUTOR(ES): Paul T. Costa Jr. E Robert R. McCrae

74
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Figura 27. NEO PI-R.

Fonte: <http://www.magopsi.com.br/MGMaster.asp?tabela=Testes&codigo=neopi&funcao=Detalhes&tipo=Titulo&palavra=n
eo%20pi-r>. Acesso em: 8/9/2017.

DADOS DO AVALIADO

Nome: XXXXXX

CPF:

Gênero:

Idade na data de avaliação:

Escolaridade:

DADOS COMPLEMENTARES

E-mail:

Estado Civil:

Estado:

Cidade:

DADOS DA AVALIAÇÃO

Profissional responsável:

Data da avaliação:

75
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Introdução

Uma das tarefas mais complexas no campo da Psicologia é a avaliação da personalidade.


Diferentes teorias explicam esse fenômeno, sendo a teoria do Big Five, ou dos
Cinco Grandes Fatores, uma das mais utilizadas em todo o mundo para avaliá-la. O
inventário de personalidade NEO revisado (NEO PI-R) é um instrumento de avaliação
da personalidade baseado no modelo penta fatorial (Cinco Grandes Fatores) e está
sustentado em décadas de pesquisa analítica fatorial. Pressupõe haver cinco grandes
fatores latentes ou domínios que fornecem uma ampla explicação da personalidade,
sendo cada um destes domínios composto por seis facetas, o que totaliza 35
características de personalidade. No NEO PIR, além do resultado e definição dos cinco
domínios, é possível encontrar também uma descrição de cada uma das seis facetas
correspondentes. As possibilidades de resultado para cada domínio ou faceta variam
entre muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto. Considerando que os resultados
medianos equivalem a uma característica comum à maior parte das pessoas, neste
relatório são apresentados apenas os resultados extremos, ou seja, aqueles que mais se
diferenciam da média. Além do resultado individualizado de cada domínio ou faceta,
é possível que haja combinações entre elas, uma vez que algumas características se
complementam. Dessa forma, quando determinadas combinações são encontradas, a
descrição do relatório engloba o significado de cada uma delas.

Definição

A seguir é apresentada uma descrição de cada um dos cinco domínios, assim como
as facetas correspondentes, embora estas sejam apresentadas, no item “Síntese dos
Fatores do NEO PI-R, somente quando se diferenciam da média”.

Neuroticismo: contrasta o ajustamento versus o desajustamento emocional; avalia a


suscetibilidade ao estresse e como uma pessoa reage diante das situações de pressão.
Composto pelas facetas: ansiedade, raiva, depressão, embaraço, impulsividade e
vulnerabilidade.

Extroversão: refere-se à intensidade das interações interpessoais e da busca e estimulação


do meio. Formado pelas facetas: acolhimento caloroso, gregarismo, assertividade,
atividade, busca de sensações e emoções positivas.

Abertura à experiência: indica o interesse por novas experiências ou preferência em


manter uma postura mais conservadora. Constituído pelas facetas: fantasia, estética,
sentimentos, ações variadas, ideias e valores.

76
Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Amabilidade: relaciona-se à qualidade da orientação interpessoal; predisposição a se


sensibilizar e ajudar as pessoas ou em ter uma postura mais autocentrada. Dispõe as
facetas: confiança, franqueza, altruísmo, complacência, modéstia e sensibilidade.

Conscienciosidade: refere-se ao grau de persistência, força de vontade e determinação


na orientação por um objetivo. Composto pelas facetas: competência, ordem, senso de
dever, esforço por realização, autodisciplina e ponderação.

Os avaliados usualmente respondem ao teste de maneira comprometida e procuram se


autodescrever conforme as orientações da instrução. Contudo, alguns podem não ser
cooperativos na forma de responder, o que influencia diretamente na avaliação do teste.

Dessa forma, ainda que sejam fornecidos os gráficos e uma descrição dos fatores
extremos obtidos no NEO PIR, sua interpretação deve ser feita apenas quando os
critérios de validade do teste são atendidos. Esses critérios são apresentados sob a forma
de uma tabela, antes dos resultados do teste e informam se eles estão apropriados para
serem avaliados, se estão invalidados ou se devem ser interpretados com cautela a fim
de garantir maior segurança e qualidade na avaliação

Síntese dos fatores do neo PI-R

Neuroticismo

Atualmente, mantém uma postura calma para lidar com os desafios e adversidades
do dia a dia, sem reagir de forma hostil ou com irritabilidade. Mesmo pressionado(a),
tem segurança para tomar decisões conforme lhe é habitual e baixa propensão a se
demonstrar frustrado(a). Junto às pessoas com quem convive raramente se expressa
com raiva ou se comporta com hostilidade.

Extroversão

Na maior parte do tempo, transparece uma imagem entusiasmada às demais pessoas


e tende a manter uma postura positiva em relação ao que fala. Geralmente, preserva o
bom humor e tende a ver o lado positivo das situações com as quais está envolvido(a).
Além disso, prefere se manter ocupado(a) e, assim, corre o risco de se envolver em
muitos projetos e tarefas ao mesmo tempo.

Abertura

No dia a dia, tende a levar em consideração as emoções ao tomar decisões e, ao agir pode
atribuir grande importância aos sentimentos. Aprecia se engajar em atividades que não

77
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

lhe sejam conhecidas, normalmente não apresenta resistência diante de mudanças em


sua rotina, podendo manter uma postura receptiva para realizar tarefas de maneira
diferente da qual lhe é habitual.

Amabilidade

Ao interagir, na maioria das vezes, tende a manter uma postura atenciosa, solícita
e cordial. Procura ser compreensivo(a) com os outros e, ainda que se depare com
situações de desentendimento, prefere esquecer o ocorrido, o que ajuda a preservar
os relacionamentos interpessoais. Concomitantemente, pode demonstrar preocupação
pelo bem-estar das pessoas, sendo cooperativo(a) no desenvolvimento das atividades
do dia a dia.

Conscienciosidade

Tem alto grau de preocupação e atribui grande importância aos princípios éticos e
morais, levado em consideração sua tomada de decisão e sua conduta do dia a dia.
Cumpre seus compromissos com disciplina até sua finalização e, atualmente, não
costuma sentir desencorajamento para desistir das responsabilidades assumidas.
EXEMPLO 3

“Resultado do teste EPR Escala dos Pilares da Resiliência (Editora Vetor)

AUTOR(ES): Tábata Cardoso e Maria do Carmo Fernandes Martins

Figura 28. EPR Escala dos Pilares da Resiliência.

Fonte: <https://www.magopsi.com.br/NoticiasDet.asp?chave=139>.

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Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

DADOS DO AVALIADO

Nome:

CPF:

Gênero:

Idade na data de avaliação:

Escolaridade:

DADOS COMPLEMENTARES

E-mail:

Estado:

Cidade:

DADOS DA AVALIAÇÃO

Profissional responsável:

Data da avaliação:

Introdução

Existem pessoas que, naturalmente, lutam para superar as dificuldades diárias e que se
fortalecem à medida que superam cada obstáculo vivenciado. São condutas resilientes
que podem ser observadas diariamente nas famílias, nas escolas, nas empresas, nos
abrigos, nos hospitais, nos asilos, entre outros. Pesquisas apontaram que, para que
tal conduta seja adotada, é necessário que as pessoas tenham algumas características
pessoais e comportamentais que permitem a elas agir de maneira eficaz diante de uma
adversidade. O resultado a seguir mostra o perfil da pessoa avaliada em relação aos
11 pilares da resiliência, com o indicativo de quais características estão mais e menos
desenvolvida se presentes em seu comportamento. É apresentado em um gráfico de
barras, que mostra o percentil atingido em cada pilar, bem como a interpretação descritiva
de cada faixa alcançada. A partir da interpretação das classificações o profissional terá
alguns indícios referentes às respostas resilientes que a pessoa avaliada poderá ou não
adotar diante de situações adversas do dia a dia.

79
UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Definição

Resiliência consiste na capacidade dos seres humanos de superar as adversidades


da vida e, além disso, saírem fortalecidos após uma situação problema. Os pilares da
resiliência são características comportamentais ou qualidades internas que permitem
às pessoas encararem uma situação de conflito, adversidade ou mudança com uma
postura resiliente. Tais características servem de sustentação para que os obstáculos
do cotidiano no contexto pessoal, familiar, de trabalho ou social sejam enfrentados e
superados de maneira saudável, flexível e eficaz e, além disso, permitam que as pessoas
se tornem cada vez mais fortes e preparadas para enfrentarem uma próxima situação
de adversidade.

Figura 29. Gráfico do Resultado do teste EPR Escala dos Pilares da Resiliência.

Fonte: CARDOSO e MARTINS (2013).

Controle emocional (CE): muito alta

Mantém o controle emocional mesmo diante de situações estressantes, tais como


problemas familiares ou problemas do dia a dia. Não deixa que problemas externos ou
conflitos com outras pessoas interfiram no modo de sentir ou de agir, ou seja, é uma
pessoa capaz de manter o equilíbrio interno. Mesmo estando com raiva, consegue lidar
de maneira saudável com esse sentimento, não deixando que isso influencie em seus
relacionamentos. A classificação muito alta acentua essas características.

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Elaboração de Documentos Psicológicos │ UNIDADE IV

Bom humor (BH): alta

Lida com os problemas de forma leve e esforça-se para tornar o ambiente agradável,
mesmo ao se deparar com alguma discussão ou situação de conflito. Consegue relevar
seus problemas pessoais, colocando-se de maneira alegre diante de dificuldades para
resolvê-lo sem momento oportuno.

Independência (I): alta

É capaz de buscar seus próprios recursos sem, necessariamente, depender de outras


pessoas. Embora goste de ter amigos para fazer algo, não depende deles para fazê-lo.

Autoconfiança (AC): média

Em algumas situações demonstra maior segurança do que em outras. Consegue assumir


responsabilidades, cumprir tarefas, demonstrar sua opinião, no entanto, sem muita
convicção.

Autoeficácia (AE): média

Demonstrou ser uma pessoa que acredita ter alguns recursos cognitivos necessários
para a resolução da maioria dos problemas que lhe são apresentados, podendo acreditar
em suas capacidades em algumas situações enquanto que em outras não.

Empatia (E): média

Tem capacidade média de perceber o estado emocional de outras pessoas, podendo


interpretar o comportamento alheio de forma errônea algumas vezes.

Aceitação positiva de mudança (APM): baixa

Descreve-se como uma pessoa que não lida adequadamente com mudanças, podendo
haver um desgaste emocional muito grande para se adaptar ao novo e ao desconhecido,
pois tem dificuldades de aceitação.

Sociabilidade (S): baixa

É uma pessoa mais reclusa, que não busca estabelecer interações com outras pessoas,
nem mesmo em caso de necessitar de ajuda.

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UNIDADE IV │ Elaboração de Documentos Psicológicos

Valores positivos (VP): baixa

Descreveu-se com falta de preocupação com os valores comuns a toda a sociedade e


com o bem-estar de outras pessoas. Não valoriza os bons princípios e a riqueza interior.

Orientação positiva para o futuro (OPF): muito baixa

É pessimista em relação ao futuro. Eventos negativos tendem a ser um motivo para


que perca a esperança de que dias melhores virão. Não enxerga muito sentido em
fazer esforços no presente para atingir um objetivo por acreditar que não trará bons
resultados. A classificação muito baixa acentua essas características.

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Referência

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