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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA

ATUALIDADE E ELABORAÇÃO DE
DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS
UNIDADE I
AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS
Atualização
Aline Freire Bezerra Vilela

Elaboração
Ana Paula Corrêa e Silva

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................4

UNIDADE I
AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS.......................................................................................................5

CAPÍTULO 1
ÉTICA, POSSIBILIDADES E DESAFIOS ATUAIS...................................................................... 13
CAPÍTULO 2
DIRETRIZES DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA........................................................ 19
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................24
INTRODUÇÃO

A avaliação psicológica é um procedimento composto por ferramentas consideradas


válidas cientificamente, que servem para avaliar os processos psicológicos, sendo o
psicólogo o único profissional habilitado a utilizar os instrumentos disponíveis no
mercado.

É essencial que os profissionais entendam o delineamento histórico e conceitual, bem


como as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia, que instituíram, a partir de
elementos norteadores, o que hoje representa o posicionamento ético e prático da
categoria diante dos instrumentos de medida psicológicos.

Os estudos sobre a medida em ciências humanas e sociais conduzem à


fundamentação científica e aos parâmetros psicométricos envolvidos nos
procedimentos de validação de tais instrumentos, sendo de extrema importância
que os psicólogos entendam a relevância da psicometria em trazer cientificidade para
a Psicologia.

A partir da natureza e da complexidade da ciência psicológica, vários tipos de


avaliação e também várias áreas de inserção no mercado são apontados, mas,
provavelmente, essa discussão não se esgota naquilo que é referenciado atualmente.
Esse campo é marcado por características de dinamismo e de necessidade de
contextualização frequente. Exemplo disso são as constantes atualizações das
diretrizes que regulamentam a profissão.

No entanto, as normas para elaboração dos documentos produzidos na avaliação são


padronizadas, independentemente do tipo ou da área em que está sendo aplicada e
devem ser respeitadas por todo profissional que faz uso de tais instrumentos.

Objetivos
» Compreender a história e a base conceitual da avaliação psicológica.

» Conhecer as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia e o posicionamento


ético atual da categoria em relação à utilização de instrumentos de medida em
Psicologia.

» Entender a importância da cientificidade no conceito de medida, nos parâmetros


psicométricos e no processo de aplicação.

» Apresentar os tipos de avaliação e as áreas de inserção no mercado.

» Acessar as informações referentes às diretrizes que orientam a forma correta


de escrita dos documentos psicológicos.

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AVALIAÇÕES
PSICOLÓGICAS
UNIDADE I

1.1. O contexto conceitual


A avaliação psicológica é um processo técnico e científico que tem por objetivo avaliar
os processos psicológicos dos indivíduos, sendo o psicólogo o profissional habilitado
para exercer essa função. A avaliação pode ser realizada individualmente ou em grupo
e requer metodologia específica. Trata-se de um estudo de levantamento de dados
que visa testar hipóteses em diferentes áreas de atuação do psicólogo, tais como,
clínica, trabalho, educação, dentre outros, e produzir diagnósticos descrevendo o
funcionamento desses indivíduos ou grupos (e suas implicações), fazendo predições
sobre comportamentos ou desempenhos em casos específicos (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 2003).

Segundo a Resolução CFP n. 6, de 29 de março de 2019:

CONSIDERANDO a complexidade do exercício profissional da(o)


psicóloga(o), tanto em processos de trabalho que envolvem a avaliação
psicológica como em processos que envolvem o raciocínio psicológico,
e a necessidade de orientar a(o) psicóloga(o) para a construção de
documentos decorrentes do exercício profissional nos mais variados
campos de atuação, fornecendo os subsídios éticos e técnicos
necessários para a elaboração qualificada da comunicação escrita.
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019)

No entanto, é importante ressaltar que, em função de o comportamento humano ser


complexo e composto de muitas dimensões relacionadas, é impossível entender e
considerar todos os fatores e relações e prevê-los de maneira objetiva. As avaliações
possuem um limite entre o que é possível entender e prever, mas, ainda assim, por
serem compostas por métodos cientificamente fundamentados, constituem um
modelo muito mais confiável e podem, assim, minimizar a subjetividade no processo
de análise dos sujeitos.

Para muitas pessoas, a compreensão do processo de avaliação psicológica limita-se


à aplicação de testes psicológicos, porém, isso não procede, pois a avaliação é um

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processo muito mais amplo, considerando outras possibilidades que vão além da
utilização de instrumentos, tais como testes, escalas, questionários e inventários.

Teoricamente, qualquer psicólogo está habilitado a trabalhar com avaliação


psicológica, porém, é importante destacar que algumas competências específicas
são relevantes para que essa função seja realizada de maneira adequada. Esse
profissional deve ter profundo conhecimento dos construtos e modelos teóricos
envolvidos na avaliação (exemplos: inteligência, atenção, memória, personalidade
etc.), bem como nos parâmetros psicométricos ligados à validação dos instrumentos.
Além disso, ele deve possuir domínio dos procedimentos para aplicação,
levantamento e interpretação das ferramentas utilizadas na avaliação psicológica.

Hoje em dia, quando o psicólogo faz uso de instrumentos de medida na área, é


imprescindível que ele consulte o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
(Satepsi), disponível no site do Conselho Federal de Psicologia: www.pol.org.br.
Ele precisa checar, antes de usar, se o teste é adequado para utilização no meio
profissional. Caso o instrumento seja considerado válido, o profissional deve
consultar o manual do teste, para obter informações referentes ao modelo teórico
que fundamenta o estudo, ao processo de aplicação, de levantamento e acessar
todas as informações referentes à pesquisa que foi desenvolvida em amostra
brasileira e que geraram os dados de referência e validação.

Figura 1. Página do Satepsi.

Fonte: http://satepsi.cfp.org.br.

De onde vem essa segurança? Quais são os pressupostos dessa prática e dessa
confiança? Para a melhor compreensão do que nos leva a esse tipo de consulta ao site
do conselho da profissão, é necessário percorrer a história e estruturação desse modelo
proposto.

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1.1.1. O contexto histórico

Desde os estudos de Wilhelm Wundt (1832-1920), considerado o fundador da


Psicologia enquanto ciência experimental, várias vertentes surgiram: uma delas é a
psicologia experimental, que reconhece a causalidade psíquica e que utiliza a estatística
aplicada nas pesquisas, iniciando, assim, os primeiros passos da psicometria. O projeto
dele foi fundar uma psicologia científica, sua importância foi provar a validade da
experiência, trazendo-lhe o estatuto de ciência. A Psicologia deslocou-se do campo da
metafísica ou da filosofia (CARVALHO, 2011).

Figura 2. Equipamentos do laboratório de Psicologia da Universidade de Leipzig, na


Alemanha, em 1879.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Laboratorium_Psikologi_di_Universitas_Leipzig.jpg.

Segundo Silva (2011), os primeiros testes psicológicos entendidos como


provas destinadas à avaliação das capacidades psicossensoriais humanas foram
empreendidos pelos psicofisiologistas do laboratório de Psicologia da Universidade
de Leipzig, na Alemanha, no século XIX, liderados por Wundt. Paralelo a isso, Francis
Galton (1822-1911), na Inglaterra, aplicava seus conhecimentos em psicometria para
realização de pesquisas.

Ele foi discípulo e primo de Charles Darwin e tentou aplicar na Psicologia os


termos do evolucionismo, como seleção natural, aptidão, adaptação ao meio
e hereditariedade. Preocupado com essas questões, iniciou investigações que
pretendiam diferenciar os indivíduos (por exemplo: os aptos dos inaptos). Ele ajudou
a desenvolver a fórmula estatística para as análises de correlação e regressão, sendo
professor do conhecido Karl Pearson (1857-1936) que desenvolveu a correlação
produto-momento de Pearson (Correlação de Pearson).

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Figura 3. Francis Galton (1822-1911).

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francis_Galton_1850s.jpg.

A Psicologia entra nos Estados Unidos por meio de James McKeen Cattell (1860-1944),
que também foi aluno de Wundt e Galton no laboratório de Antropometria, estudioso
interessado nas diferenças individuais, ele publicou o artigo intitulado “Mental Tests
and Measurements” (1890), no qual inaugura o termo “testes mentais”.

Graças a esse trabalho e aos de seus seguidores, o desenvolvimento de instrumentos


psicológicos converteu-se num importante aspecto da psicologia americana. Alguns
trabalhos foram desenvolvidos, dando visibilidade à área de educação e aos estudos
dos processos mentais, sua proposta científica era a medição das diferenças entre as
pessoas.

Figura 4. James McKeen Cattell (1860-1944).

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:James_McKeen_Cattell.jpg.

Mesmo com todo o empenho de Galton, o primeiro teste de habilidade mental


considerado teste psicológico foi desenvolvido por Alfred Binet (1857-1911). Ele e
seu colega Theodore Simon (1872-1961) integraram uma comissão do Ministério da
Instrução francês que estudaria o problema das crianças ditas “anormais” nas escolas
da rede oficial.

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Em resposta à demanda do governo, esses estudiosos criaram a famosa escala


de inteligência de Binet-Simon, a primeira escala psicométrica de inteligência.
A avaliação das funções cognitivas como a memória, a atenção, a imaginação e a
compreensão, para Binet, proporcionava medidas de inteligência mais adequadas.

Figura 5. Tabela de resultados da escala Binet-Simon.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tableau_de_r%C3%A9sultats_au_test_de_Binet-Simon.
jpg.

Em seguida, Wilhelm Stern (1871-1938) propôs o termo “QI” (quociente de inteligência)


para representar o nível mental e sugeriu os termos “idade mental” e “idade
cronológica”, indicando que o “QI” fosse determinado pela divisão da idade mental
pela idade cronológica, multiplicado por 100. Lewis Madison Terman (1877-1956)
publicou a revisão do teste Binet-Simon, o “Stanford-Binet”, servindo como apoio para
a classificação de crianças “deficientes”.

No entanto, o que de fato marcou a expansão dos testes psicológicos foi a Primeira
Guerra Mundial, em especial nos Estados Unidos, em 1917. Foram aplicados
inúmeros testes nos soldados em meio à necessidade de formar rapidamente o
quadro do exército americano, que precisava recrutar mais de um milhão de
soldados, da maneira mais rápida possível. Foram, então, aplicados os primeiros
testes coletivos da história, testes de nível mental, os testes Army Alpha (para
soldados alfabetizados) e Army Beta (soldados analfabetos) (BUNCHAFT; CAVAS,
2006).

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Terman foi designado a trabalhar, juntamente com outros psicólogos, na aplicação


de testes que tinham como objetivo categorizar recrutas do exército. Sendo assim, a
história revela que a primeira administração em massa de testes de QI foi feita com
1,7 milhões de soldados durante a Primeira Guerra Mundial. O exército precisava
de um teste mais simples que o Stanford-Binet e que fosse aplicado coletivamente,
então, optaram pelo teste elaborado pelo laboratório chefiado por Robert Yerkes
(1876-1956).

Esse teste tinha como base as questões de múltipla escolha, contribuição de Arthur
Otis (1886-1964). Os recrutas com as melhores notas foram treinados como oficiais,
enquanto aqueles com menores notas não receberam treinamento oficial. O trabalho
durante a guerra provou, para os americanos, que os testes de inteligência poderiam
ter utilidade mais ampla. Depois da guerra, Terman e seus colaboradores usaram os
testes de inteligência nas escolas e indústrias para melhorar e aumentar a eficiência
de crianças e trabalhadores (URBINA, 2009).

O trabalho desses psicólogos durante a guerra também incentivou o desenvolvimento


e a aplicação dos testes em grupo para a avaliação das características da
personalidade. Em 1917, Robert Woodworth (1869-1962) desenvolveu o primeiro
teste de personalidade (personal data sheet). E, em 1921, publicou o Teste de
Rorschach, um método que utiliza manchas de tinta para entender, por meio da
análise da percepção, a organização subjacente dos indivíduos (SILVA, 2011).

“Fatos marcantes na história dos testes psicológicos”. Disponível em: http://www.


scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2002000200013.

1.1.2. A história no Brasil

De acordo com Souza Filho, Belo e Gouveia (2006), “A história dos testes psicológicos
no Brasil confunde-se com a história da própria Psicologia enquanto ciência e
profissão”. Após os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, surgiram mais
avanços na área de Psicologia. Profissionais das mais diversas áreas buscaram, nesse
novo conhecimento, informações para fundamentarem as suas práticas.

O Brasil sofre influência do movimento europeu e também do movimento


norte-americano, e os testes ganharam destaque no início do século XX. Com
a modernização dos processos administrativos, os instrumentos psicométricos
passaram a ser usados nas organizações de trabalho, na clínica, assim como na
educação, e, em pouco tempo, acabou sendo comum em diversas áreas.

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No entanto, a produção médico-científica é que foi considerada o início dos estudos


da Psicologia no Brasil, principalmente em Salvador e no Rio de Janeiro. Os médicos
recorriam à Psicologia para fundamentar recursos para diagnóstico e programas
preventivos de saúde mental.

Destaca-se na avaliação psiquiátrica e estudos dirigidos, instituições de saúde, tais


como o Hospital Psiquiátrico São Pedro (em Porto Alegre, em 1884) e o Hospital
do Juqueri (na cidade de São Paulo, em 1898). E, na pediatria, Fernandes Figueira
(1863-1928) utilizou, em 1913, a escala Binet-Simon, que foi considerada o primeiro
instrumento estruturado de avaliação a ser usado no País. Em seguida, Isaias Alves,
em 1914, fez uma adaptação da escala e inaugurou o Laboratório de Pedagogia
Experimental na Escola Normal, cujo foco eram os estudos de memória, inteligência
infantil e psicomotricidade (SILVA, 2011).

Segundo Zanelli (2002), a década de 1950 foi marcada pelo surgimento da Psicologia
Industrial, mas, desde 1924, o engenheiro suíço Roberto Mange (1885-1955) orientava
projetos pioneiros na área. Ele fundou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e
orientou o trabalho de Seleção e Orientação dos alunos matriculados no curso de
Mecânica. Em 1931, também fundou o Instituto de Organização Racional do Trabalho
(Idort), com a implantação de serviços de Psicologia Aplicada ao Trabalho e participou
da elaboração e direção do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São
Paulo (CFESP).

Outro estudioso a contribuir nessa fase foi Emilio Mira y Lopez (1896-1964) que, em
1947, foi nomeado diretor do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (Isop)
e, em 1949, criou o periódico “Arquivos Brasileiros de Psicotécnica” (ABP), um dos
principais veículos de fomentação e divulgação da psicologia aplicada e da formação
de psicotécnicos no Brasil.

“Uma história da psicologia em revista: retomando Mira y López”. Disponível


em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52
672014000300002.

Com a evolução desses estudos, surgiram várias disciplinas de Psicologia em


diferentes cursos (por exemplo: Medicina, Filosofia, Direito, Administração e
Sociologia). As demandas educacionais constituíram o que depois viria a se tornar a
necessidade de se regulamentar o campo de atuação do profissional de Psicologia.

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Então, em 1962, houve a regulamentação da Psicologia como disciplina e como


profissão, conforme a Lei n. 4.119/1962, resultando na criação do Conselho Federal
de Psicologia (CFP) e dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP), Lei n. 5.766/1974.
A profissão de psicólogo passa a ser reconhecida no Brasil, e a utilização de métodos
e técnicas de avaliação psicológicas tornam-se privativas desse profissional.

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Capítulo 1
ÉTICA, POSSIBILIDADES E DESAFIOS ATUAIS

A avaliação psicológica é uma das principais funções do profissional de Psicologia.


É importante que a avaliação seja realizada apenas por profissionais que tenham
competência para exercer essa atividade, mesmo que todos possuam habilitação para
avaliar, não quer dizer que qualquer psicólogo tenha conhecimento específico para tal
tarefa.

A testagem, no campo da Psicologia, foi uma das atividades mais comuns no século XX,
e a imagem que se tinha do psicólogo era de um profissional que se utilizava de testes
para avaliar se uma pessoa era normal ou não, ou se ela estava apta ou não a executar
determinada função em um contexto de trabalho.

A prática psicológica, porém, tem evoluído cada vez mais e, nesse movimento, a
avaliação psicológica passou a ser bem mais ampla, considerando diversos fatores
em seu processo de estudo e análise dos indivíduos. Sob o ponto de vista ético,
ligado a esse assunto, vale ressaltar alguns pontos importantes do código de ética
da profissão (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 8):

Art. 1º São deveres fundamentais dos psicólogos:

[...]

b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades


para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;

[...]

i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo,


guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam
feitas conforme os princípios deste Código;

Art. 2º Ao psicólogo é vedado:

[...]

g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-


científica;

h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas


psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas;

[...]

Art. 18. O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou


venderá a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou
facilitem o exercício ilegal da profissão.

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UNIDADE i | Avaliações psicológicas

É claro que todos os artigos do código de ética servem como pano de fundo da
atuação do psicólogo no processo de avaliação psicológica e todas as suas ações
devem estar pautadas nessas diretrizes que regulamentam a profissão. O objetivo
de trazer esses trechos é apenas ponderar de forma mais direcionada sobre pontos
específicos dessa prática. O Código de Ética do Profissional Psicólogo indica, em seu
princípio fundamental, que a prática deve estar embasada na Declaração Universal dos
Direitos Humanos visando à “promoção da liberdade, da igualdade e da integridade
do ser humano” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 7).

Leia na íntegra o “Código de Ética Profissional do Psicólogo”. Disponível em: http://


site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf.

Vale destacar que a discussão ética proporciona um processo de reflexão sobre as


próprias práticas, para que estas revertam em benefício do indivíduo avaliado e da
sociedade. Nunes et al. (2012, p. 1) apontam que as disciplinas de avaliação psicológica
cumprem papel fundamental na formação do aluno de Psicologia:

Nesse sentido, o exercício da atividade de avaliação psicológica


possibilita que, de uma forma teórico-prática (integrando resultados
de técnicas e testes com conteúdo de diversas disciplinas, como,
por exemplo, psicologia do desenvolvimento, psicopatologia,
entre outros), o aluno realize uma compreensão dinâmica de
casos individuais ou de grupos, desenvolvendo a capacidade de
entendimento do ser humano da forma mais global possível. Assim,
o ensino de avaliação psicológica não deve se resumir ao ensino de
técnicas isoladas de outros contextos da psicologia. Ao contrário,
deve proporcionar ao estudante experiências teórico-práticas que
resultem no desenvolvimento de competências para uma atuação
autônoma e responsável.

Os autores trazem uma proposta de diretrizes para o ensino de avaliação psicológica


no Brasil, respeitando e indicando todas as resoluções do Conselho Federal de
Psicologia e do Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005). As orientações
descritas foram realizadas com base em referências difundidas e aceitas pela
comunidade científica, e o documento foi escrito trazendo conteúdo para as
disciplinas de avaliação psicológica ao longo do curso.

Além de descrever 27 competências básicas listadas a seguir, os autores indicam


o conteúdo programático ideal, bem como orientam sobre a estrutura (testoteca,
biblioteca e laboratório), o método de ensino e a formação do docente. Finalizam
com informações importantes sobre a guarda de instrumentos, controle e estágios.

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Avaliações psicológicas | UNIDADE i

Competências em avaliação psicológica

Espera-se que, ao longo do processo de formação do aluno no


curso de graduação em Psicologia, o mesmo possa desenvolver 27
competências básicas, listadas a seguir.

1. Conhecer os aspectos históricos da avaliação psicológica em âmbito


nacional e internacional;

2. Conhecer a legislação pertinente à avaliação psicológica (Resoluções


do CFP, Código de Ética Profissional do Psicólogo, histórico do Sistema
de Avaliação dos Testes Psicológicos – SATEPSI – e as políticas do
Conselho Federal de Psicologia para a Avaliação Psicológica);

3. Considerar os aspectos éticos na realização da avaliação psicológica;

4. Analisar se há condições de espaço físico adequadas para a avaliação


e estabelecer condições suficientes para tal;

5. Ser capaz de compreender a Avaliação Psicológica enquanto


processo, aliando seus conceitos às técnicas de avaliação;

6. Ter conhecimento sobre funções, origem, natureza e uso dos testes


na avaliação psicológica;

7. Ter conhecimento sobre o processo de construção de instrumentos


psicológicos;

8. Ter conhecimento sobre validade, precisão, normatização e


padronização de instrumentos psicológicos;

9. Escolher e interpretar tabelas normativas dos manuais de testes


psicológicos;

10. Ter capacidade crítica para refletir sobre as consequências sociais


da avaliação psicológica;

11. Saber avaliar fenômenos humanos de ordem cognitiva, afetiva e


comportamental em diferentes contextos;

12. Ter conhecimento sobre a fundamentação teórica de testes


psicométricos e do fenômeno avaliado;

13. Saber administrar, corrigir, interpretar e redigir os resultados de


testes psicológicos e outras técnicas de avaliação;

14. Selecionar instrumentos e técnicas de avaliação de acordo com


objetivos, público alvo e contexto;

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UNIDADE i | Avaliações psicológicas

15. Ter conhecimento sobre a fundamentação teórica de testes


projetivos e/ou expressivos e do fenômeno avaliado;

16. Saber planejar uma avaliação psicológica de acordo com objetivo,


público alvo e contexto;

17. Planejar processos avaliativos e agir de forma coerente com os


referenciais teóricos adotados; 18. Identificar e conhecer peculiaridades
de diferentes contextos de aplicação da avaliação psicológica;

19. Saber estabelecer rapport no momento da avaliação;

20. Conhecer teorias sobre entrevista psicológica e conduzi-las com


propriedade;

21. Conhecer teorias sobre observação do comportamento e conduzi-las


adequadamente;

22. Identificar as possibilidades de uso e limitações de diferentes


técnicas de avaliação psicológica, analisando-as de forma crítica;

23. Comparar e integrar informações de diferentes fontes obtidas na


avaliação psicológica;

24. Fundamentar teoricamente os resultados decorrentes da avaliação


psicológica;

25. Elaborar laudos e documentos psicológicos, bem como ajustar


sua linguagem e conteúdo de acordo com destinatário e contexto;

26. Comunicar resultados decorrentes da avaliação psicológica aos


envolvidos no processo, por meio de devolutiva verbal;

27. Realizar encaminhamentos ou sugerir intervenções de acordo com


os resultados obtidos no processo de avaliação psicológica. (NUNES
et al., 2012, p. 12).

A avaliação psicológica é uma atividade bastante polêmica e controversa na Psicologia.


Na verdade, há duas posições claras em relação a ela: um grupo que entende que a
avaliação é baseada em testes que representam um conhecimento legítimo, embasado
cientificamente, e outro que critica os testes psicológicos, entendendo que são
instrumentos que justificariam os processos de exclusão social. Atualmente, os estudos
na área revelam maior rigor na investigação psicológica e no uso de instrumentos
padronizados e procuram destacar uma melhora em sua qualidade, trazendo mais
fundamento para aqueles que defendem a sua utilização (NORONHA, 2002).

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Avaliações psicológicas | UNIDADE i

Em relação às críticas, Flores-Mendoza, Nascimento e Castilho (2002) apontam os


principais argumentos no campo da crítica: “os testes reforçam a inferioridade dos
segmentos sociais desfavorecidos e das minorias étnicas”, “houve prática fraudulenta
na produção psicométrica”, “os testes não medem aquilo que pretendem medir” e
“interessa mais a inteligência emocional do que a inteligência acadêmica”.

No entanto, tal posicionamento crítico, que deveria servir para uma reflexão a respeito
da medição psicológica, apresenta-se, portanto, afirmações pautadas no terreno
político-ideológico e não no conhecimento teórico, que fundamenta os testes. Alguns
profissionais, alunos e leigos na área de avaliação psicológica muitas vezes representam
posições contrárias à medição de aspectos psicológicos motivados por essa discussão
essencialmente política.

Para rebater as críticas, os estudiosos que se posicionam a favor da utilização dos


testes apontam que os modelos estatísticos aplicados à medição psicológica foram
aperfeiçoados (aliados à era da informação) e a psicometria vem utilizando a
técnica correlacional, que sustenta validações mais confiáveis e fundamentadas em
metodologia científica.

Noronha (2002) postula que, no Brasil, nos últimos 15 anos, os testes passaram
por descrédito e foram criticados por não serem adequados à realidade brasileira.
Os principais problemas apresentados foram: a complexidade do modelo teórico
que fundamenta a construção do instrumento e a dificuldade do psicólogo para
compreender os dados e para fazer relações entre os diversos resultados encontrados.

É claro que o fator técnico presente no processo de avaliação não representa a sua
totalidade. É importante apontar os aspectos relacionados à cientificidade, mas, em
seu desenvolvimento, o aspecto avaliativo deve ser compreendido de forma ampliada
e atrelada ao compromisso social e político. No entanto, isso não pode restringir a
argumentação da crítica de que os testes psicológicos estão a serviço de um poder
hegemônico.

Além disso, nenhuma prática é mais importante em Psicologia que o pressuposto do


cuidado humano, pois, em qualquer forma de avaliação, o foco está na relação que
se estabelece. Seria empobrecido explicar a avaliação apenas em relação à interação
entre características do sujeito e as características técnicas dos procedimentos.
Essa forma de compreensão seria a exclusão de outros fatores que indicam a
complexidade da tarefa.

Avaliar contém julgamento, mas é essencial que o psicólogo tenha plena consciência
da responsabilidade e importância de se fazer uso benéfico dos resultados obtidos

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UNIDADE i | Avaliações psicológicas

no processo de avaliação, tendo como imperativo o posicionamento ético e a


coerência em seu exercício profissional. Se for diferente, será evidenciado que as
lacunas do saber, das habilidades e competências de avaliar farão com que apareçam
os erros profissionais, a falta ética e que a classe profissional caia em descrédito
perante a sociedade.

Alguns fatos marcam a história recente da avaliação no Brasil. Na década de


1990, observa-se a movimentação da área por meio da organização de eventos
dedicados à avaliação psicológica. Com mais de uma edição anual, tais eventos
fomentaram reunião, intercâmbio e organização de pesquisadores e profissionais
da área, o que culminou na criação e consolidação das duas sociedades científicas
mais representativas da área atualmente: a Associação Brasileira de Rorschach e
Métodos Projetivos (ASBRo), fundada em 1993, e o Instituto Brasileiro de Avaliação
Psicológica (Ibap).

A área de avaliação cresceu muito com isso: grupos ligados a ela se organizaram em
reuniões na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (Anpepp);
notou-se aumento na quantidade de publicações e de cursos de pós-graduação;
vários movimentos tomaram força; foi criada, no ano 2000, uma lista de discussão de
profissionais e estudantes interessados na área: avalpsi@yahoogrupos.com.br.

No entanto, em termos de impacto na prática profissional, o marco histórico desse


período foi a criação do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi), já
descrito no Capítulo 1, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), ao final de 2001.

Esse sistema é resultado de uma série de ações anteriores do CFP, na


tentativa de responder a uma grande demanda de processos éticos
envolvendo a avaliação psicológica. O SATEPSI consiste em uma norma
de certificação de instrumentos de avaliação psicológica que avalia e
qualifica os instrumentos em apto ou inapto para uso profissional, a
partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos
mínimos (fundamentação teórica, precisão, validade e normatização),
definidos pela área. (PRIMI, 2010, p. 30)

“Justificativas e concepções de psicólogos que não utilizam avaliação psicológica”.


Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v12n3/v12n3a11.pdf.

As diretrizes do Conselho Federal de Psicologia em relação ao processo de avaliação


serão abordadas no próximo capítulo.

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Capítulo 2
DIRETRIZES DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA

Em função de processos éticos envolvendo as avaliações psicológicas, principalmente


a utilização dos testes, profissionais da área perceberam a necessidade de instituir
ações que qualificassem os métodos e as técnicas usadas no processo. Era comum que
as pessoas questionassem a confiabilidade dos instrumentos, pois não existia rigor
científico e documental em relação à produção desses mecanismos.

Alguns testes eram submetidos à validação fora do País e não passavam por
pesquisas com a população brasileira, o que fez, por exemplo, com que alguns juízes
concedessem liminares a candidatos em concursos públicos, pois os psicólogos não
conseguiam afirmar o nível de fidedignidade de suas técnicas.

Em consequência dessa demanda, profissionais da área que contribuíam com


produções teóricas e metodológicas sobre essa prática instituíram, juntamente
com o Conselho Federal de Psicologia, em 2003, o Sistema de Avaliação dos Testes
Psicológicos (Satepsi), já abordado no Capítulo 1. Nesse processo, publicou-se a
Resolução CFP n. 2/2003. Essa resolução representa um marco no progresso da
qualidade dos instrumentos, bem como na construção de políticas alinhadas ao rigor
científico e ético.

Para esse trabalho foi instaurada uma Comissão, no período de 2002 a 2004, que
orientou as ações desenvolvidas na gestão de 2005 a 2007 e 2008 a 2010. Ao longo
dos anos, os profissionais da área que fazem parte desta “Comissão Consultiva em
Avaliação Psicológica do Conselho Federal de Psicologia” estudaram a avaliação
psicológica em diversos contextos, acessando material e publicações de diversos
autores renomados e que, muitas vezes, prestaram consultoria para agregar valor e
acumular conhecimentos sobre os instrumentos, em especial os testes psicológicos.

Em 2010, a publicação do documento “Avaliações Psicológicas: Diretrizes na


Regulamentação da Profissão” expressou mais um dos investimentos assumidos pela
categoria e reafirmou o compromisso da Psicologia em garantir que o seu material
seja fundamentado em procedimentos éticos e científicos.

A qualificação dos testes psicológicos, contemplando os critérios mínimos para


considerá-los indicados para a população brasileira, além de preconizar sobre
as dimensões éticas da avaliação, relaciona os princípios recomendados pela
Associação Americana de Psicologia (APA), de 1992, revisado em 2002, a saber:
“competência, integridade, responsabilidade científica e profissional, respeito pela
dignidade e pelos direitos das pessoas, preocupação com o bem-estar do outro e
responsabilidade social” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010).

19
UNIDADE i | Avaliações psicológicas

É importante ressaltar que, independentemente desse movimento, a avaliação


psicológica sempre foi considerada cientificamente fundamentada, o que essas
diretrizes vêm trazer é uma forma estruturada e documentada dos critérios que
servem para considerar se um teste é válido ou não, sendo ele objetivo ou projetivo.

O livro “Avaliações psicológicas: diretrizes na regulamentação da profissão”, publicado


em 2010, é composto por 196 páginas e foi organizado em dez partes, sendo uma
apresentação e nove capítulos. Ele foi impresso em setembro e apresentado pela
primeira vez no 3º Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão. Ele relata,
em detalhes, o processo histórico que compõe a elaboração e instituição do sistema,
bem como as políticas que permeiam as definições relacionadas às diretrizes.

A estrutura da obra se apresenta da seguinte forma (CONSELHO FEDERAL DE


PSICOLOGIA, 2010):

» Introdução

» As políticas do Conselho Federal de Psicologia para a Avaliação Psicológica

» Da ordem social da regulamentação da Avaliação Psicológica e do uso dos testes

» Avaliação Psicológica: implicações éticas

» Avaliação psicológica, testes e possibilidades de uso

» Aspectos técnicos e conceituais da ficha de avaliação dos testes psicológicos

» O Satepsi: desafios e propostas de aprimoramento

» A avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho

» Avaliação psicológica para concessão de registro e/ou porte de arma de fogo

O material foi elaborado por pesquisadores respeitados em suas áreas e aborda os


diferentes aspectos políticos, éticos, técnicos e conceituais incluindo a descrição da
ficha de avaliação dos testes psicológicos atualizada em 2009 e usada pelo Satepsi.

A ficha é preenchida com base nas informações que constam nos manuais dos
instrumentos e deve conter a descrição geral do teste, da análise de seus requisitos
mínimos e requisitos técnicos em que se avaliam:

» construto;

» área de aplicação;

» propósitos do teste;

20
Avaliações psicológicas | UNIDADE i

» procedimento de adaptação;

» fundamentação teórica;

» análise dos itens;

» fidedignidade;

» validade;

» sistema de correção;

» normas de interpretação com base em estudos brasileiros.

Nos próximos capítulos, trataremos com mais detalhes os assuntos listados


anteriormente, no que se refere aos conceitos de validade, fidedignidade, padronização
e normatização. São elementos essenciais para a avaliação que determina o parecer de
um instrumento.

Frequentemente, testes são submetidos à análise, mas nem todos recebem parecer
favorável à utilização. É importante que o profissional de Psicologia se mantenha
atualizado em relação a notas e resoluções emitidas pelo CFP, acerca do assunto,
para que não cometa nenhuma falta ética ou administrativa. Além do trabalho
de avaliação dos testes realizado pelo Conselho Federal de Psicologia, o CFP tem
oferecido esclarecimentos e orientações aos órgãos públicos e privados sobre a
prática da avaliação psicológica, incluindo o uso dos testes nos diferentes contextos,
como, por exemplo, em concursos públicos e nos processos judiciais em que esse
objeto está em pauta.

Outro exemplo, seriam as pesquisas para informatização de instrumentos. Este


tema tem sido pauta de discussão devido ao grande desafio que é a atuação do
profissional de Psicologia mediada pelas TDICs (Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação). A atenção ao assunto se intensificou quando, em março de 2020,
a Organização Mundial de Saúde decretou oficialmente estado de pandemia em
relação ao novo coronavírus, trazendo restrições causadas pelo distanciamento social.
Tal cenário impôs uma nova realidade de trabalho que inclui atividades remotas.
Desde 2018, com a Resolução n. 11/2018, o Conselho Federal de Psicologia instituiu o
atendimento on-line, no entanto, pouco se falava da utilização (aplicação e apuração)
de instrumentos nessa modalidade, mesmo sendo de grande contribuição em relação
à rapidez e precisão. No entanto, é em novembro de 2020, por meio de notas
orientativas, que o CFP se posiciona oficialmente em relação à situação do uso de
testes psicológicos informatizados e aplicação remota/on-line.

21
UNIDADE i | Avaliações psicológicas

Leia a “Nota orientativa sobre o uso de testes psicológicos informatizados/


computadorizados e/ou de aplicação remota/on-line”.

https://site.cfp.org.br/nota-orientativa-sobre-o-uso-de-testes-psicologicos-
informatizados-computadorizados-e-ou-de-aplicacao-remota-online/.

Outro foco de atuação da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do CFP é a


orientação às editoras que comercializam os testes psicológicos. Esse trabalho visa
garantir que o acesso aos instrumentos seja restrito ao psicólogo, conforme previsto
na legislação brasileira.

Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucionalidade na


Resolução n. 02/2003, vedando a restrição da comercialização e uso de manuais de
testes psicológicos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2021). Ou seja, outros
profissionais poderiam comercializar e fazer uso dos instrumentos listados no Satepsi.
O CFP, desde então, vem mobilizando ações para evitar que esses instrumentos sejam
adquiridos e manuseados por pessoas leigas, pois isso pode trazer prejuízos para a
avaliação psicológica e, consequentemente, para a população, já que esta se dá em
diversos contextos como o trânsito, organizações, segurança pública, entre outras. A
argumentação utilizada é que os psicólogos são os profissionais preparados de forma
técnica e científica para a elaboração, aplicação, apuração, interpretação dos testes e
comunicação dos resultados, porque a fundamentação dos testes e seu aprendizado
depende das teorias, do conhecimento dos construtos avaliados e do entendimento
da Psicologia como um todo.

O CFP tem mantido a interlocução com a academia e com as instituições de


pesquisadores que constituem espaços importantes de produção de conhecimentos,
fortalecendo a relação entre a ciência e a profissão.

O investimento do CFP e de entidades parceiras resultou na ampliação da literatura


brasileira sobre medidas psicológicas, bem como na intensificação de pesquisas
que visam ao estabelecimento de evidências de validade para os testes no Brasil
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010).

É claro que a produção do material não esgota todos os assuntos que deveriam ser
tratados diante de um tema tão relevante dentro da atuação profissional do psicólogo.
Está posto que muitos desafios foram lançados e, a cada dia, a comissão evolui para
contemplar as lacunas que ainda existem sobre o tema em questão.

22
Avaliações psicológicas | UNIDADE i

Mais um exemplo dentro dessas especificidades refere-se à adaptação dos testes


para pessoas com deficiência, que consiste no planejamento e procedimento
adequados, bem como avaliação sobre as consequências da testagem e comunicação
dos resultados. Os estudos na área exigem conhecimento específico sobre o
público-alvo para que o construto que está sendo medido não seja modificado
devido a compreensão escrita, oral ou manuseio do instrumento. Para isso, além
dos parâmetros psicométricos tradicionais, os pesquisadores necessitam validar a
acessibilidade e os impactos das adaptações. O Conselho Federal de Psicologia em
seu papel de orientação e fiscalização instituiu a nota técnica Construção, adaptação
e validação de instrumentos para pessoas com deficiência.

Leia a Nota Técnica n. 4/2019 GTEC/CG: “Orienta psicólogas(os), pesquisadores,


editoras e laboratórios responsáveis quanto às pesquisas para construção,
adaptação e estudos de equivalência de testes psicológicos para pessoas com
deficiência e altera a Nota Técnica “Construção, Adaptação e Validação de
Instrumentos para Pessoas com Deficiência”. Disponível em: https://site.cfp.org.br/
wp-content/uploads/2019/04/Nota-T%C3%A9cnica-04.2019-03.04.2019-FINAL.pdf.

Ainda existem diferentes contextos pouco explorados e que envolvem a subjetividade


humana, isso, de fato, exige mais construções teóricas e metodológicas sobre o
fenômeno psicológico e também sobre o desenvolvimento de métodos e técnicas de
diagnósticos referentes a tais fenômenos.

Em 2013, o CFP lançou uma cartilha com destaque para informações importantes e
que tratam de maneira mais reduzida sobre as diretrizes divulgadas anteriormente.
Esse material foi amplamente divulgado entre os psicólogos, nas universidades e
para a sociedade em geral, a fim de que todos tenham conhecimento de aspectos
fundamentais dessa prática tão importante dentro da Psicologia. Em 2022 o CFP
divulgou cartilha atualizada (2ª edição).

Leia a “Cartilha Avaliação Psicológica”. Disponível em: https://site.cfp.org.br/


publicacao/cartilha-avaliacao-psicologica-2022/.

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elaboracao-de-documentos-escritos-produzidos-pela-o-psicologa-o-no-exercicio-profissional-e-revoga-
a-resolucao-cfp-no-15-1996-a-resolucao-cfp-no-07-2003-e-a-resolucao-cfp-no-04-2019?origin=institu
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Referências

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