Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 5
Introdução.................................................................................................................................... 8
Unidade I
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional
emotiva comportamental............................................................................................................... 11
Capítulo 1
Conceituação da TCC: surgimento e evolução – princípios básicos......................... 12
Capítulo 2
Diferenças e similaridades nos enfoques neobehavioristas......................................... 17
Capítulo 3
Terapia cognitiva – Aaron Beck – a terapia racional emotiva comportamental de
Albert Ellis e o modelo A-B-C- a terceira onda: terapia cognitiva do presente......... 21
Unidade iI
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo................................................. 33
Capítulo 1
Pensamentos automáticos................................................................................................. 35
Capítulo 2
Crenças intermediárias ou subjacentes.......................................................................... 39
Capítulo 3
Crenças centrais............................................................................................................... 42
Capítulo 4
Conceituação cognitiva.................................................................................................. 45
Unidade iII
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC.............................................................................. 50
Capítulo 1
Empatia e alteridade............................................................................................................ 54
Capítulo 2
A avaliação em TCC e quadro diagnóstico integrado: (nos ciclos de vida / relação
com o CID X – DSM-V).......................................................................................................... 64
Capítulo 3
Análise funcional do comportamento.......................................................................... 68
Capítulo 4
Distorções cognitivas e avaliação de crenças irracionais....................................... 72
Capítulo 5
Pensamentos enlouquecedores....................................................................................... 78
Capítulo 6
Reestruturação cognitiva................................................................................................. 82
Capítulo 7
Disfunções cognitivas e emocionais nos ciclos de vida (criança, adolescente,
adulto e idosos).................................................................................................................. 85
Referências................................................................................................................................... 99
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Nas últimas décadas, a TCC - Terapia Cognitivo-comportamental cresceu e se tornou
uma das psicoterapias mais utilizadas no mundo inteiro. Tal fato é resultado do
robusto suporte empírico demonstrando sua eficácia no tratamento de pacientes
sofrendo dos mais variados transtornos psicológicos. Outro fator importante se dá pela
complementação a TCC de um conjunto de novas terapias integradas que possibilitam
mais opções e eficácia no tratamento.
8
Objetivos
»» Conhecer os Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e
princípios da terapia racional emotiva comportamental.
9
Fundamentos da
Terapia Cognitivo
Comportamental e Unidade I
princípios da terapia
racional emotiva
comportamental
11
Capítulo 1
Conceituação da TCC: surgimento e
evolução – princípios básicos
Desde então, houve sucesso na adaptação dessa terapia com abrangência a diversas
populações e também a uma variedade de transtornos e problemas. E várias outras
abordagens foram desenvolvidas no modelo cognitivo-comportamental. Entretanto,
segundo Knnap e Beck (2008) os estudos cognitivo-comportamentais seminais e as
abordagens iniciais para o tratamento dos transtornos emocionais tiveram origem
nas décadas de 1960 e 1970 com autores como Aaron Beck, Albert Ellis, Lazarus,
Meichenbaum e Mahoney. De acordo com Mahoney (1995), essas abordagens são
divididas em:
12
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
Desde então, vários estudos têm comprovado o sucesso da terapia cognitiva nos mais
variados transtornos psicológicos, Beck (2013) relata uma série deles: Dobson, 1989 -
sobre transtorno depressivo maior; Butler, Fennell, Freitas e Rech, 201 0- transtornos
depressivos; Robson e Gelder, 1991- transtorno de ansiedade generalizada; Barlow,
Craske, Cerney&Klosko, 1989 e Beck, Sokol, Clark, Berchick& Wright, 1992 - transtorno
do pânico; Gelenter et al., 1991 e D’el Rey, Pacini, 2006 - fobia social; Woody et al.,
1983 - abuso de substâncias; Agras et al., 1992 e Garner et al., 1993 - transtornos
alimentares; Duchesne, 2007 - transtorno da compulsão alimentar periódica. Baucon,
Sayers&Scher, 1990 - problemas de casais; Bowers, 1990 e Bowler&Harden, 1991-
depressão de pacientes internados.
13
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
Fonte: <http://veja.abril.com.br/ciencia/cerebro-guarda-dez-vezes-mais-memorias-do-que-se-acreditava-diz-estudo/>.
Crenças nucleares
Pressupostos subjacentes
Emocionais
Comportamentais
Físicas
No que se refere ao princípio prático, sua base está na inter-relação entre afeto,
cognição, comportamento e pensamento. De acordo com Knapp (2004), nesse princípio
é importante que as emoções sejam investigadas, pois apesar de a TCC ter como foco
a mudança nos pensamentos, quando isso não acontece o tratamento é considerado
como uma troca intelectual, sem nenhum significado terapêutico. O afeto é essencial
para a realização da reestruturação cognitiva do indivíduo.
15
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
pensamentos distorcidos. Dessa forma, toda vez que o paciente foge de uma situação
dessas, essa situação o deixa mais atemorizado (KNAPP, 2004)
Assim, Knapp (2004) relata que esse processo ocorre em um ciclo constituído por
pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, crenças nucleares e o impacto
do humor, no qual as crenças disfuncionais ativam os PA´s e estes irão promover
um humor correspondente, que levará o individuo a mais PA´s disfuncionais, que
consequentemente aumentarão seu humor disfuncional. Esse aumento no humor
pode provocar um aumento de recordações e percepções distorcidas (FREEMAN et al.,
1990, citado por KNAPP 2004). Como ocorre na depressão, em que a visão distorcida e
negativa do paciente de si mesmo, das pessoas e do futuro, aumenta suas recordações
e percepções de suas experiências que contribuem para o humor depressivo, o que o
mantêm com os sintomas da depressão (KNAPP, 2004).
Fonte: <http://julianafisch.blogspot.com.br/2014/07/a-terapia-cognitivo-comportamental.html>.
16
Capítulo 2
Diferenças e similaridades nos enfoques
neobehavioristas
Assim, Watson tinha como proposta mudar o foco da Psicologia, que até então era
mentalista, estudava os processos mentais (como pensamentos, sentimentos), para
o estudo do comportamento observável. De acordo com Matos (1995), essa proposta
incluía:
»» observação consensual.
Evitar explicar o comportamento por meio do sistema nervoso, contudo estudar a ação
dos órgãos periféricos, dos órgãos sensoriais, dos músculos e das glândulas.
17
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
Para Hayes (1987) os pensamentos independentes de sua natureza privada não são
diferentes. Eles podem ter atributos especiais por serem verbais, mas continuam sendo
comportamentos. Desta forma, o autor relata que os behavioristas começam a estudar
as reações humanas com foco na distinção entre público e privado, deixando o físico e
o mental.
De acordo com Skinner (1987), os eventos privados são as variáveis que apenas a uma
pessoa tem acesso, estão relacionadas a condições físicas privadas e a comportamentos
encobertos. A diferença deste acontecimento para os eventos publicamente observáveis
é que eles são os únicos cujo acesso direto só é permitido à própria pessoa. O autor
acrescenta que o comportamento verbal deveria ser explicado como função de
contingências de reforçamento providas por uma comunidade verbal. Esta comunidade
verbal ensinaria a pessoa a reagir discriminativamente a si mesmo, mediante
determinadas estratégias.
A segundo Malerbi e Matos (1992), Skinner desenvolveu quatro estratégias para esta
comunidade verbal.
18
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
Fonte: <http://www.danielafaus.com.br/blog/2015/9/23/tudo-estava-indo-bem-mas-4-dicas-para-quem-atravessa-a-crise-do-
terceiro-ano>.
Pode-se concluir que, o estudo do comportamento é controlado por regras, que vão
auxiliar a compreender as contingências que embasam a relação entre pensamento e
19
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
outras formas de ação do indivíduo. Segundo Hayes (1987) essas regras verbais são
produzidas pela comunidade social-verbal e influenciam outras formas de ação do
indivíduo. Sendo a consciência considerada como comportamento verbal, proveniente
da inclusão na comunidade verbal. O comportamento verbal não pode se referir a
um mundo real, objetivo e impessoal, pois as respostas verbais são controladas pelas
práticas de reforço das comunidades verbais, pelo contexto e experiências pessoais do
indivíduo.
20
Capítulo 3
Terapia cognitiva – Aaron Beck
– a terapia racional emotiva
comportamental de Albert Ellis e o
modelo A-B-C- a terceira onda: terapia
cognitiva do presente
Para o tratamento na terapia cognitiva, Beck (1997) criou o modelo cognitivo com a
proposta de que o pensamento distorcido ou disfuncional é comumente visto em
todos os distúrbios psicológicos. Esse pensamento distorcido influencia o humor e o
comportamento do ser humano. O foco do tratamento está na busca de uma mudança
cognitiva, que consiste em modificar os pensamentos e crenças do indivíduo, que
consequentemente promoverá a mudança duradoura emocional e comportamental. O
Modelo cognitivo descrito por Beck é apresentado na figura 6:
Crença central
Crença intermediária
O modelo inicial de Beck foi voltado para tratar distúrbios como a depressão. Entretanto,
a eficácia da Terapia Cognitiva tem sido confirmada em estudos sobre diversos tipos de
transtornos, em pacientes com diversos níveis de renda, idade e background. Contudo,
21
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
22
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
O modelo ABC desenvolvido por Ellis propõe que situações ou acontecimentos (A),
desenvolvem algumas crenças pessoais (B), essas crenças geram consequências (C),
que podem ser da ordem emocional, comportamental e fisiológica. Desta forma, Ellis
estabelece a visão os transtornos psicológicos, são baseados nas construções cognitivas,
como pensamentos irracionais e negativos. Assim, a TREC tem como objetivo principal
a identificação e contestação das crenças disfuncionais do indivíduo, buscando manter
um estado de equilíbrio emocional para os pacientes (KNAP; BECK, 2008).
1. A pessoa deve ser estimada ou aprovada por todos a quem ela considere
importantes em sua vida.
23
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
11. Sempre há uma solução correta, precisa e perfeita para os problemas das
pessoas, contudo, é uma catástrofe quando a solução não é encontrada.
Para Ellis são as crenças irracionais que dão origem aos sentimentos perturbadores e
comportamentos disfuncionais, que faz o indivíduo ter uma visão distorcida da realidade
e agir inadequadamente. Segundo ele o ser humano tem uma tendência biológica, tanto
inata quanto adquirida para construir crenças irracionais. E geralmente essas crenças são
utilizadas como mecanismo de defesa, isso contribui para que estas crenças tornam-se
inadequadas e permaneçam gerando comportamentos disfuncionais.
24
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
Ellis diz que a TREC é um tipo de psicoterapia ativa e diretiva que o terapeuta leva o
paciente a identificar a origem filosófica de seus problemas psicológicos, suas crenças
irracionais. E assim, contribui para que o paciente perceba que há tratamento para
seus problemas e a partir da identificação e mudança de suas crenças irracionais, é
possível mudar seu comportamento disfuncional. Nesse processo, Ellis descreve que
o terapeuta pode ser considerado como um professor que ensina o paciente a ser seu
próprio terapeuta.
De acordo com Ellis a TREC é uma abordagem conhecida por sua teoria do modelo ABC,
que reconhece a relevância das emoções e comportamentos, mas realça o papel das
cognições (crenças, pensamentos e imagens mentais). Esse modelo destaca as relações
entre os ‘A’ , referem-se aos acontecimentos (adversidades ou os eventos ativadores),
os ‘B’ (do inglês beliefs), representados pelas as crenças e as avaliações que fazemos
dos acontecimentos e os ‘C’, que são as consequências emocionais e comportamentais
(ELLIS; LANGE, 2004). A figura 1 mostra a representação gráfica do modelo:
A B C
Eventos Ativadores Suas crenças seus sentimentos e
Situações específicas e os Eventos comportamentos
E pessoas em situações Ativadores
Fonte: Ellis e Lange (1994).
Fonte: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2011/12/saiba-como-aumentar-a-sensacao-de-bem-estar-e-prazer-3598878.html>.
25
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
A segunda onda surge com a revolução cognitivista dos anos 1960, com uma proposta
de um modelo mais racional, que buscava investigar as crenças subjacentes aos
comportamentos e afetos. Essa abordagem sugere que comportamentos e emoções são
mediados por processos cognitivos. Dessa forma, esse é um modelo mediacional entre
a terapia comportamental e a terapia cognitiva (BARBOSA; TERROSO; ARGIMON,
2010). Na segunda onda destacam-se os trabalhos de Albert Ellis, sobre a Terapia
Racional Emotiva e Aaron Beck, com os estudos sobre depressão.
26
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
Diferente das duas primeiras ondas da TCC que apesar de apresentarem métodos
diversificados, compartilhavam do mesmo objetivo, que era o de modificar diretamente
os comportamentos e sentimentos. A ACT não partilha desse objetivo, enfatiza a
relação do indivíduo com os eventos psicológicos, e não dos eventos em si (HAYES,
2008). Assim, o objetivo da ACT é produzir uma flexibilidade psicologia, de maneira
que o paciente aceite seus eventos privados desagradáveis, de maneira que proponha
a importância e a valorização de estratégias que conduza o paciente tenha uma vida
plena, com significados.
Portanto, pode-se dizer que são três os focos de intervenção da ACT: o primeiro é a
Aceitação dos eventos considerados ruins para o paciente, de maneira que ele não
suporte a eles e os sinta para evitar um futuro sofrimento adicional. O segundo foco
está na Escolha, que se baseia na experiência/história do indivíduo sem repetir erros.
E o terceiro foco está na Ação, que deve ser apontada para o futuro e comportamentos
abertos, que podem ser alterados.
27
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
A história da ACT se divide em três períodos: o primeiro ocorreu entre os anos de 1970
e 1980, nessa época a ACT foi chamada de distanciamento compreensivo, que indicava
uma expansão e elaboração da terapia cognitiva. Teve como motivação a teoria de que
o papel desempenhado pelo comportamento verbal e a linguagem desempenhavam na
iniciação, manutenção e tratamento do comportamento anormal, eram primordiais
para o comportamento. O segundo período surgiu entre as décadas de 1985 e 1999,
juntamente com a teoria dos quadros relacionais (TQR) de Hayes, focalizando
comportamental pós-skinerianno da cognição e da linguagem humanas. Nessa época, a
TQR expandiu as compreensões de Skinner sobre comportamento verbal e seguimento
de regras e fundamentou o modelo e as intervenções da ACT. O terceiro período
ocorreu no ano de 2000 e se estende a atualidade. Teve como marco a publicação do
livro Terapia de Aceitação e Compromisso: Uma Abordagem Experiencial à Mudança
do Comportamento (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999).
Assim, a ACT tem sido pesquisada e recebido reconhecimento de ser uma abordagem
contextualista baseada na TQR. Com uma vasta produção científica até o ano de 2012,
com diversos livros publicados em vários idiomas, assim como uma variedade de
estudos clínicos aleatorizados abrangendo temas diversos, como ansiedade, manejo
da diabetes, preconceito, enfrentamento do câncer, transtorno de personalidade
borderline e desempenho esportivo (HAYES; PISTORELLO; LEVIN, 2012).
28
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
que não promovem benefício para o cliente e sim para quem faz o reforçamento
(KOHLENBERG; TSAI,2004).
Para além da divisão dos comportamentos dos indivíduos, a FAP define alguns dos
comportamentos do terapeuta para facilitar a compreensão de como trabalhar com os
CCRs, numerando-os em cinco regras.
d. promoção de habilidades.
30
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I
À guisa da conclusão esses três estágios finalizam a ampla proposta de tratamento para
o TPB, que se inicia na concepção de sua etiologia até a designação do papel de cada
profissional de saúde envolvido na aplicação da DBT (ABREU; ABREU, 2016).
Figura 8. Pensamento.
Fonte: <http://www.bemparana.com.br/motta/tag/pensamento/>.
31
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental
32
Processos
Neuropsicológicos Unidade iI
básicos – Modelo
cognitivo
Tais pensamentos são construídos com base nas crenças que cada indivíduo possui
de si mesmo e de terceiros. Dessa maneira, o modelo cognitivo é formado por:
crenças centrais, crenças intermediárias (regras, atitudes, suposições) e pensamentos
automáticos. O Quadro 1 apresenta a representação do Modelo Cognitivo baseado em
Beck (1997), que será descrito nesta unidade.
33
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo
34
Capítulo 1
Pensamentos automáticos
Rangé (2001) salienta que por meio dos pensamentos automáticos é que é possível
compreenderas circunstâncias que o originaram e as diferentes espécies de distorção
cognitiva que dão esteio às patologias que temos de enfrentar. Desse modo, os
pensamentos automáticos são o elemento central entre o estímulo-reação emocional.
Desta forma, é de extrema importância que sejam identificados para a compreensão
das emoções, conhecimento e acesso ao conteúdo psíquico. Segundo Beck (1997), são
três os tipos de pensamentos automáticos.
35
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo
Ex.: “Minha filha até agora não me ligou, possivelmente está chateada comigo.”
Ex.: “Tenho muita coisa para fazer, levarei o dia todo, ficarei exausta”. Apesar
de pensar corretamente a concentração e a motivação é reduzida.
Knnap (2004) apresenta uma síntese das características dos pensamentos disfuncionais,
conforme apresenta a figura 9:
36
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II
O processo terapêutico tem como base o modelo cognitivo de Beck (1997) que inclui:
situação, pensamento automático e reação (emoção, comportamento e resposta
fisiológica). Segundo Beck (1997), os pacientes confundem emoções com pensamentos,
desta forma, o terapeuta tem que estar atento na ocorrência dessas situações.
Segundo a autora, em alguns momentos confundir pensamento comum sentimento
é “relativamente irrelevante em um determinado contexto, sendo melhor abordar a
“confusão” ao discutir algo mais tarde “(p. 106). A autora sugere ao terapeuta ignorar
tal confusão. Em outros momentos essa “confusão” é considerada importante, sendo
sugerido que o terapeuta posteriormente realize a distinção entre pensamentos e
emoções. A relação entre pensamentos, emoção e comportamento deve fazer sentido
para o terapeuta e também combinar com seu pensamento automático, quando isso
não acontece, o terapeuta deve investigá-la.
De acordo com Wright et al. (2008) várias pesquisas confirmaram que os indivíduos
deprimidos, que sofrem de transtorno de ansiedade e diferentes patologias psiquiátricas
possuem uma elevada incidência de pensamentos automáticos com distorção, vis a vis
os estudos de Blackburn et al., (1986); Haaga et al. (1991, 1986), Wright et al.,(2003).
Enquanto outros estudos relatam que os pensamentos automáticos na depressão
estão vinculados a questões de falta de esperança, reduzida autoestima e derrota, ao
passo que nos transtornos de ansiedade, relacionam-se com antevisões de situações
perigos as, danos, ausência de controle ou falta de habilidade para enfrentar situações
intimidadoras, como exemplo: Clark et al. (1990); Ingram e Kendall (1987); Kendall e
Hollon (1989).
37
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo
Fonte: <http://lcmtreinamento.com.br/wp-content/uploads/2014/10/pensar.jpg>.
38
Capítulo 2
Crenças intermediárias ou subjacentes
exemplo: fazendo a vontade do outro, ele irá nutrir bons sentimentos por mim. Todavia,
caso eventualmente esses requisitos não sejam preenchidos, o cidadão se torna mais
suscetível a sofrer transtornos emocionais, vez que dessa maneira as crenças centrais
negativas passam a se intensificar (KNAPP, 2004).
Algumas estratégias são apresentadas por Beck (1997) para identificação das crenças,
como as seguintes.
Além das estratégias para identificação das crenças, Beck (1997) relata algumas
técnicas a serem utilizadas para tal identificação, as quais também são utilizadas para
identificação dos pensamentos automáticos:
»» Pensamento socrático
»» Experimentos comportamentais
»» Continuum cognitivo
»» Autorrevelação
40
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II
Geralmente, as crenças intermediárias são modificadas antes das crenças centrais, vez
que podem ser muito inflexíveis. Assim, após relatar as estratégias para identificação
das crenças e as técnicas para o alcance de sua mudança, Beck (1997) apresenta uma
síntese de como acontece o processo de modificação:
41
Capítulo 3
Crenças centrais
A maior parte dos indivíduos é capaz de conservar as crenças centrais positivas por
um longo tempo de vida, como exemplo, “Eu estou substancialmente no controle”, “Eu
posso fazer a maior parte das tarefas de maneira bastante competente”, “Sou um que
desempenha bem as suas funções”, “Sou um ser humano amável”, “Eu tenho dignidade”
(BECK, 1997). Já as crenças centrais negativas podem surgir apenas em momentos de
aflição psicológica. Com exceções em alguns pacientes com transtorno de personalidade
em que as crenças centrais negativas são acionadas continuamente.
42
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II
As crenças centrais são consideradas como os esquemas de maior interesse para a clínica
cognitiva, pois estão relacionados intensamente aos estados afetivos e aos padrões
comportamentais. Assim, esses esquemas exercem um papel central na manutenção
das patologias e problemas psicológicos (PADESKY, 1994), vez que estabelecem a
maneira como a pessoa irá interpretar as informações.
Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/5588477/>.
43
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo
Beck (1995, citada por KNNAP, 2004), relata que as crenças nucleares disfuncionais
podem ser apresentadas em três grandes agrupamentos, como exemplo:
Crenças que levam a pessoa a se sentir não amada, sem capacidade de se fazer
gostar, sem capacidade de ser amada, não atrativa, com imperfeições, passível
de rejeição, deixada ao abandono, só.
MODELO COGNITIVO
Crença central
Crença intermediária
Corporal
Situação
Pensamentos Automáticos Reações Comportamental
agora
Fonte:<http://images.slideplayer.com.br/16/5250559/slides/slide_18.jpg>
Emocional
Fonte: <http://images.slideplayer.com.br/16/5250559/slides/slide_18.jpg>.
44
Capítulo 4
Conceituação cognitiva
Nas diversas formas de terapia cognitiva originadas a partir do modelo Beck, a base do
tratamento consiste tanto em uma formulação cognitiva de um determinado transtorno
como também na sua apresentação à percepção ou compreensão do cliente. Assim, o
terapeuta deve iniciar o tratamento com a conceitualização cognitiva e pode retomá-la
a cada novo contato.
45
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo
Os aspectos a serem investigados com o cliente são identificados por meio de uma
coleta de dados sobre todas as suas queixas. Esses dados apresentam o esclarecimento
das razões para que as dificuldades venham a se desenvolver, assim como dos fatores
que as conservam, além da faculdade de que sejam realizados prognósticos acerca
da conduta comportamental do cliente, levando em conta determinadas condições
sinalizadas. Destarte, de posse dessas informações, o terapeuta faz uma relação dos
conflitos do cliente, que devem ser ordenados conforme as maiores prioridades, e quais
os problemas que serão abordados na terapia. Esses dados são descritos no diagrama
de conceituação cognitiva de Beck., apresentado no quadro a seguir. .
46
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II
Assim, indivíduos com crenças centrais negativas sobre eles próprios possivelmente
apresentarão, de um modo geral, conceitos incluídos nas seguintes classificação:
falta de amparo (sentimento de falta de competência), desamor (sensação de que não
merece o amor de outras pessoas) e desvalorização (diferentes aspectos morais no seu
modo de pensar e agir, representando uma significação negativa da própria natureza
do indivíduo) (BECK,2007). O Quadro 4 demostra alguns exemplos de crenças centrais
negativas sobre si. Tais crenças são identificadas em cada uma das três categorias.
centrais negativas sobre si serem o foco principal da intervenção psicoterápica, elas não
são as únicas apresentadas pelo cliente.
A conceituação cognitiva deve iniciar com uma avaliação dos problemas do cliente, que
segundo Rangé (2001) são inclusas nessa avaliação: a identificação dos problemas do
cliente e das experiências de vida que a antecederam, as histórias familiares e de seu
desenvolvimento, as medidas padronizadas de transtorno de ansiedade, depressão e
específicos relacionados aos seus problemas, as medidas específicas (ataque de pânico,
evitação a situações temidas e pensamentos disfuncionais) e especificação de metas.
Assim, de acordo com Beck (1997) após a avaliação inicial o terapeuta vai formular
suposições acerca de:
48
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II
49
Avaliação e
Técnicas de Unidade iII
Atendimento em
TCC
Esse processo é composto por duas fases, que visam finalidades distintas,
entretanto, são complementares e não se separam: a etapa inicial é a da descrição
cognitivo-comportamental ou Analise E.O.R.C., sendo E correspondente à avaliação de
estímulo; o O à avaliação do organismo; o R à avaliação da resposta e o C. corresponde
à avaliação da consequência.
50
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
51
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
52
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Fonte: <http://psicologizzano.blogspot.com.br/2015/04/limites-do-atendimento-em-psicologia.html>.
Além das técnicas apresentadas por Caballo (1996), é possível encontrar uma variedade
de técnicas na literatura da área da TCC, como exemplo nas técnicas cognitivas:
identificação, questionamento e correção de pensamentos automáticos, reestruturação
cognitiva e outros procedimentos terapêuticos de imagens mentais. No que se refere
às técnicas comportamentais: prescrições comportamentais de tarefas graduais e
role-plays (KNNAP; BECK, 2008).
53
Capítulo 1
Empatia e alteridade
Empatia
O conceito de empatia tem sido objeto de estudo de áreas como Filosofia, Sociologia
e Psicologia. No início do século XIX, a área que revelou maior interesse pelo tema
foi a Psicologia da personalidade, identificando o constructo como um processo no
qual um objeto era subjetivado pela percepção do observador (SAMPAIO, CAMINO;
ROAZZI, 2009).Entretanto, segundo os autores foi a partir da década de1950 que a
empatia passou a ser investigada com maior amplitude na área da psicoterapia, com
os estudos de Carl Rogers, na Abordagem Centrada na Pessoa. Nessa abordagem o
terapeuta se preocupa em estabelecer um clima terapêutico adequado, que consiste no
desenvolvimento e demonstração de sentimentos empáticos para com o cliente.
Fonte: <https://psicologiaesaudeaju.wordpress.com/2015/08/25/10-mitos-sobre-psicoterapia/>.
De acordo com Rogers (1975), empatia significa “perceber o marco de referência interior
da outra pessoa com precisão e com os componentes emocionais que lhe pertencem,
como se fosse essa pessoa, porém sem nunca perder a condição de ‘como se’” (p.2),
ou seja, não se pode esquecer de que se trata da felicidade ou da tristeza do outro.
Para Rogers, a empatia é uma habilidade aprendida, que pode ser desenvolvida com o
54
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
55
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Fonte: <http://cronicasdasurdez.com/uma-psicologa-com-deficiencia-auditiva/>.
A autora relata que a atenção empática também consiste na identificação das mensagens
não verbais do paciente, como:
56
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
A relação empática foi citada por Falcone, Gil & Ferreira, (2007) como eficaz no
tratamento terapêutico em diversos estudos, como exemplo: Andersen, 2005; Burns
& Auerbach, 1996; Carkhuff, 1969; Goldstein & Myers, 1991; Myers, 2003 e Yip, 2005.
Alteridade
A palavra alteridade, que possui o prefixo alter, do latim, representa uma situação
em que um indivíduo tenta se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, com
consideração, identificação e com a capacidade de com ele dialogar.
Diferente é tudo aquilo que incomoda o “eu”. O que pode ser diferente para um, pode
não o ser para outro. Essa interpretação depende da vivência de cada indivíduo.
Segundo Guareschi e Jodelet (2002), o ser humano decorre da dupla relação que
se estabelece com a realidade e com o outro. Para existir, para “ser”, o indivíduo
necessita intrinsecamente dos outros, criando, em decorrência, uma relação de troca. É
justamente nessa relação que o ser humano se torna justo ou não. Isso leva a refletir em
58
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
torno da afirmação de que ninguém pode ser ético sozinho. Desse modo, o que pode ser
tematizado como alteridade é a dimensão do outro ou de suas relações com os outros.
A palavra “alteridade” define muito bem aquilo que pretende representar. Se cada
indivíduo agisse perante frente ao outro da maneira como gostaria de ser tratado,
estaríamos diante da tão esperada conduta adequada, algo que, podemos assumir, é
universalmente desejado.
Alteridade nada mais é que a capacidade que o indivíduo tem de conviver com aquilo
que é diferente, de se presentear com um olhar interior a partir das diferenças. Significa
que eu reconheço o “outro” também como sujeito de iguais direitos, é exatamente essa
comprovação das diferenças que gera a alteridade.
Muitas vezes a própria mulher já é a diferença. Para alguns, ou para muitos a mulher
pode incomodar. Infelizmente é uma questão cultural que dificilmente o tempo
conseguirá apagar.
59
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Vale citar um trecho do texto de Simone de Beauvoir publicado em 1949, apud Susan
Bordo (2000), que diz o seguinte:
60
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
cada um acaba confrontado com as diferenças do outro. Apesar de ser óbvio, é como
se cada um estranhasse que o outro seja outro. Muitas vezes, a mesma pessoa que,
antes parecia agradável, começa a ser enfadonha. Às vezes, chega mesmo ao ponto de
não respeitar os limites. Querendo ou sem querer, o outro restringe a liberdade e, não
raras vezes, nos parece injusto e desagradável. Nesse momento surge uma pergunta:
o outro que restringe reduz a nossa liberdade ou nós é que não deixamos o outro se
libertar? Pode-se observar que aprisiona-se o outro e, no momento em que o outro
nos desagrada, penaliza-se, condena-se e, por fim, isola-se. Assim, a paz individual,
aparentemente, fica assegurada.
Jodelet (2002) destaca que a questão da alteridade vem sendo tratada há muito tempo
não apenas pela filosofia como também pelas ciências ditas humanas e sociais. O
assunto alteridade sempre esteve presente nas reflexões da antropologia. Essa ciência
tem prestado relevantes contribuições na medida em que suas investigações tratam de
mostrar
Pedrinho Guareschi (2002) pontuou uma visão bastante interessante do ser humano, a
qual pode ser identificada como diferente das anteriores que já ouvimos falar. O autor
afirma ser relativamente claro para ele que é possível conceber o ser humano como
algo que não é, de modo algum, alguém “isolado”, “separado” de tudo o mais, de um
lado, nem alguém que é apenas uma “peça da máquina” de outro. O homem precisa
desenvolver relações. Mas o que é relações? Seria o ordenamento (intrínseco) de uma
coisa em direção a outra. Afirmar que o homem é “relação” é diferente de dizer que
ele é um ser “em” relação. Alguém pode se relacionar com os outros, mas permanecer
um indivíduo, fechado em si mesmo. As condutas de dominação. Exploração, mostram
como os indivíduos, dentro duma concepção essencialmente liberal, estabelecem
“relações”, mas pensam e agem como alguém que não tem nada a ver com os outros.
Um dos primeiros estudos relacionados ao tema foi realizado pelo filósofo e linguista
Tzvetan Todorov em seu livro A conquista da América, que expôs seus conceitos
a respeito do significado de alteridade, atributo existente na relação de diferentes
indivíduos pertencentes a dados grupos sociais. Neste livro A conquista da América
– a questão do outro, o assunto é examinado no contexto do descobrimento e da
61
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Um fato que Guareschi (2002) faz questão de frisar é que o “outro” existe de fato, que ele
é real e é um ser humano-relação. Esse é o ponto crucial no assunto alteridade, a relação
com o outro, uma vez que um homem precisa se relacionar com o outro, principalmente
se esse outro se encontrar refletido em si mesmo. A alteridade, para o autor, é dramática.
Nela existem os bons e os maus, o certo e o errado. Para alguns, o “outro” é o inferno,
o odioso. No momento em que o outro não é aceito pela sociedade, acarreta uma série
de catástrofes, dentre as quais podemos destacar os conflitos armados, as guerras. Vale
lembrar que nestes tempos de intolerância e desrespeito às alteridades, o diálogo cede
lugar, cada vez mais, à guerra.
62
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
De acordo com Gusmão (1999) apud Zanella (2005), se antigamente o outro era, de
fato, diferente, distante e apresentava uma realidade distinta daquela de meu mundo,
hoje, o longe é perto, e o outro é também um mesmo, uma imagem do “eu” invertida
no espelho, capaz de confundir certezas, pois não se trata mais de outros povos, outras
línguas, outros costumes. O outro hoje é próximo e familiar, mas não necessariamente
é nosso conhecido.
63
Capítulo 2
A avaliação em TCC e quadro
diagnóstico integrado: (nos ciclos de
vida / relação com o CID X – DSM-V)
64
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Convém destacar que o uso desses manuais advém do modelo médico, utilizado
pela psiquiatria no diagnóstico dos transtornos mentais. Assim, o terapeuta segue as
classificações psiquiátricas descritas nesses instrumentos, que servem com um guia
para a compreensão de quadros psicopatológicos. Dessa forma, facilitará a comunicação
entre diferentes profissionais que têm conhecimento dos termos classificados nos
manuais.
Fonte: <http://www.revistabula.com/1236-etica-livro-13-mandamentos/>.
Na terapia Banaco (1999) chama esse modelo de quase-médico. Um modelo que busca
amenizar a diferença entre doença e saúde, normal e o patológico, considerando os
comportamentos disfuncionais do paciente como um sintoma de uma doença implícita.
Desta forma, o autor relata que o paciente comparado a um indivíduo normal, pode
ter problemas descritos como: uma psique doente, um traço de caráter enfraquecido,
uma personalidade desviante, uma doença mental, uma estrutura cognitiva falha, um
sistema de crenças irracionais etc.
65
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Assim, essas mudanças vão construindo novas edições do DSM. De acordo com Burkle
(2009), tais mudanças são desenvolvidas de acordo com o momento histórico da
psiquiatria, como exemplo no DSM-I- a linguagem da psicanálise era usada em seu
texto, pois na época era a teoria adotada pela maior parte dos psiquiatras americanos,
enquanto no DSM-III e IV era utilizada a linguagem descritiva, também chamada de a
teórica pela APA, que reflete a psiquiatria biológica, estava em crescimento na época da
criação do DSMIII e hoje é considerada a maior vertente da psiquiatria, principalmente
nos EUA.
Segundo Matos, Matos e Matos (2005) nos últimos anos houve um expressivo
desenvolvimento nas pesquisas na área de saúde mental. Esse fato impulsionou
a atenção para o diagnóstico e a comunicação entre psiquiatras, psicoterapeutas
e psicólogos, que instituíram uma nova parceria entre a psiquiatria clínica e as
psicoterapias comportamental, comportamental-cognitiva (TCC), contribuindo para
o desenvolvimento de novas técnicas de terapia e melhoria da qualidade de vida
proporcionada aos pacientes. Burkle (2009) acrescenta que no saber médico (ou
modelo médico) a terapia cognitivo-comportamental e a única forma de tratamento
aceita como válida. Cavalcante e Tourinho (1998) descrevem vários autores que
confirmam a ampla utilização do DSM por terapeutas comportamentais (BARLOW,
RAPEE; BROWN, 1992; SOBELL, TONEATTO; SOBELL,1994; BECK; ZEBB, 1994;
STEKETEE, 1994).
66
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
67
Capítulo 3
Análise funcional do comportamento
Os estudos sobre a análise funcional tiveram início em 1935, quando Skinner desenvolveu
o conceito da tríplice contingência como ideia norteadora para a compreensão dos
comportamentos que estão sob controle de suas consequências (VANDERBERGHE,
2002). No processo da tríplice contingência, a atenção do pesquisador está voltada para
as condições do ambiente em que determinado organismo se encontra, para a reação
desse organismo a essas condições, para as consequências produzidas por essa reação
e para os efeitos causados por tais consequências. Assim, a análise funcional estuda o
comportamento humano a partir da interação entre organismo (indivíduo)/ambiente,
por meio do processo da tríplice contingência.
68
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Para que a análise funcional seja realizada com eficácia, de forma que haja um
entendimento adequado do indivíduo na interação organismo/ambiente, torna-se
necessário que o terapeuta identifique três questões importantes:
2. a resposta em se;
3. as consequências reforçadoras.
1. estímulos eliciadores;
2. estímulos discriminativos;
69
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
3. operações estabelecedoras;
Por fim, a quarta e quinta etapa, respectivamente, formula-se predições sobre os efeitos
de manipulações dessas variáveis e a testagem dessas predições. Vale ressaltar algumas
perguntas que são sugeridas pela literatura para identificação das consequências:
70
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
71
Capítulo 4
Distorções cognitivas e avaliação de
crenças irracionais
As distorções cognitivas são também chamadas de erros cognitivos. Esse conceito foi
introduzido por Beck em 1963, em estudos com pacientes deprimidos que distorciam a
realidade de uma maneira sistêmica, que implicavam em vieses contra si próprios.
Todos nós temos as chamadas distorções cognitivas, que são expressas em pensamentos
automáticos disfuncionais. E é possível que o indivíduo apresente concomitantemente,
mais de uma distorção em uma mesma situação. A literatura apresenta uma relação de
erros de pensamento mais comuns (KNAPP; BECK, 2008).
72
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
73
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Fonte: <https://image.freepik.com/fotos-gratis/homem-vestido-com-as-setas-sobre-sua-cabeca_1134-485.jpg>.
Crenças irracionais
As crenças irracionais são definidas como interpretações ilógicas que o sujeito
desenvolve a respeito de si mesmo, das pessoas ao seu redor e do mundo em geral
(RANGÉ; FENSTER, 2004). São consideradas como o foco principal da Terapia
Racional Emotivo Comportamental - TREC, desenvolvida por Ellis em 1995. Tem como
características a produção de emoções negativas e de comportamentos disfuncionais,
74
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
As crenças irracionais são oriundas do ser humano, que aprende essas crenças desde
criança, com seus familiares, educadores, em seu meio social, sejam elas funcionais
ou não. Entretanto, há uma tendência inata para construir crenças irracionais a partir
de suas experiências de vida (RANGÉ; FENSTER, 2004). As crenças irracionais
adquiridas de outras pessoas, geralmente são reconstruídas e ativadas, mesmo quando
manifestas anos depois de aprendida. Quando crianças algumas crenças irracionais,
como exemplo, a ideia de que devem ser amadas ou aprovadas por todos aqueles que
são significativos para ela, não são totalmente impróprias à infância, pois elas realmente
devem ser capazes de gerar vínculos com os outros para sua sobrevivência. Contudo,
quando as crenças irracionais da infância se mantêm na adolescência e na idade adulta,
elas geralmente promovem importantes frustrações que consequentemente vão gerar
perturbações emocionais no indivíduo (ELLIS, 2003).
De acordo com Ellis (1973), 11 crenças irracionais representam o aspecto central de seu
tratamento, são elas:
75
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
11. existe sempre uma solução correta, precisa e perfeita para os problemas
humanos, e é uma catástrofe quando a solução não é encontrada.
Matta, Bizarro e Repold (2009), citam alguns estudos já publicados que apresentam
diversos instrumentos de avaliação das crenças irracionais, como o Surveyof Personal
Beliefs (ZIEGLER; SMITH, 2004), o Rational Behavior Inventory (SHORKEY;
WHITEMAN, 1977) e o Attitudesand Beliefs Scale II (DILORENZO, DAVID;
MONTGOMERY, 2007). Yoshida e Colugnati (2002) apresentaram dois instrumentos
específicos para a verificação das crenças irracionais, com todos os critérios psicométricos
necessários para sua utilização, a Escala de Crenças Irracionais (ECI) originalmente
desenvolvida por Malouff e Schutte (1986), com boas propriedades psicométricas, e
o Questionário de Crenças Irracionais, originalmente desenvolvido por Newmark,
Frerking, Cook e Newmark (1973).
76
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
O indivíduo geralmente acredita que as situações (A) são causadores de suas reações
emocionais (C). Por exemplo, se alguém não se sair bem em um curso, trabalho ou
relacionamento, vai atribuir seu estresse e irritabilidade na situação, e não na sua
interpretação ou crença relacionada a fracasso ou rejeição.
77
Capítulo 5
Pensamentos enlouquecedores
78
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Contudo, o importante não são as perguntas e sim as respostas, pois nem todos os
pensamentos iniciados com E se... são catastróficos (ELLIS; LANGE, 1994), como
exemplo em um dos casos exemplificados anteriormente: “E se eu não entrar no time?”,
poderia responder: “Bem vou fazer o possível e se não entrar, vou praticar mais e tentar
novamente no ano que vem, ou vou tentar outro time ou outra atividade, ao invés de
responder que “seria horrível”, ou que “não suportaria”. Portanto, a solução para essa
questão está nas repostas, pois são elas que provocam pânico nas pessoas. Outros
pensamentos que levam ao pânico são frases do tipo: “eu fico louco quando...”, “não
aguento quando...”, “isso acaba comigo...”, “eu odeio quando...”. Sempre que existem
esses tipos de pensamentos, você fica mais susceptível às pessoas ou situações que
possam lhe tirar do sério.
De acordo com Ellis &Lange (1994), também tem-se a tendência de comparação com os
outros e assim começa-se a ter pensamentos do tipo: “Eu deveria ser mais inteligente,
criativo, ambicioso, estável, desinibido etc.” Independente da situação sempre
acharemos que deveríamos fazer algo que não fizemos. Geralmente quando se faz isso
com frequência, passa-se a achar que os outros é que deveriam ser mais, ser menos,
fazer isso ou aquilo. E assim passamos a ser muito críticos.
O processo que nos torna autocríticos começa na infância. Com certeza você deve ter
ouvido pais dizendo: “você deveria brincar com seu irmão”, “você deveria ser médico”,
“advogado”, “piloto de avião”. “Você deveria ser o que eu quero que seja”. Outras fontes
79
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
A racionalização: são formas de pensar que vão tentar negar ou reduzir a importância
dos acontecimentos. São identificadas nos pensamentos do tipo: “Quem se importa?;
“Grande coisa!”; “Isso não me incomoda”; “E daí?”. Entretanto, são disfarces que são
utilizados pelas pessoas na tentativa que enganar a si próprias. Assim, de acordo com
Ellis &Lange (1994), a racionalização não nos permite ter nenhuma reação diante de
certas situações difíceis que nos aborrece, mesmo que tenhamos algum sentimento
legítimo relacionado a tal situação. Como exemplo, em situações de divórcio, os
pensamentos relatados surgem com o objetivo de amenizar o sofrimento da pessoa,
mesmo que este sentimento seja legítimo devido à tal situação.
Dessa forma, esses três pensamentos enlouquecedores podem nos fazer entrar em
pânico, criticar e racionalizar (ELLIS ; LANGE, 1994). E o que fazer para livrar-se deles?
Algumas maneiras são sugeridas para conseguirmos evitar esses tipos de pensamentos,
como:
80
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Convém destacar que nosso pensamento nem sempre ocorre de maneira prática.
Contudo, temos a possibilidade de melhorar na forma de pensar, sentir e agir com as
pessoas em determinadas situações utilizando as técnicas apropriadas para evitar os
pensamentos enlouquecedores.
Fonte: <https://psicologaticianaraujo.files.wordpress.com/2015/07/pensamento-automatico.jpg>.
81
Capítulo 6
Reestruturação cognitiva
Segundo Harvey & Espie (2002), o processo de reestruturação cognitiva envolve quatro
etapas:
82
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
cognição. De acordo com os autores as técnicas utilizadas para o acesso a esse nível são:
seta descendente e questionário socrático, que tem como propósito ensinar os pacientes
a reconhecer e desafiar as percepções e as opiniões irracionais, possibilitando-os a
interromper processos depressivos e ansiosos do pensamento, assim como aliviar e
impedir seus sintomas.
83
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
84
Capítulo 7
Disfunções cognitivas e emocionais nos
ciclos de vida (criança, adolescente,
adulto e idosos)
Criança
As crianças, para Oaklander (2006), têm uma forte capacidade de captar, dos seus
próximos, alterações de humor e sem uma diferenciação protética, aceitarem para si
aqueles estados emocionais.
Diante disso o ambiente com o terapeuta acentua uma forma de descobrir criativamente
como enfrentar um ambiente estressante não somente para a criança, mas como a
forma dela interagir criativamente está latente nesse período, é um ponto favorável ao
trabalho.
85
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Uma criança pode desenvolver uma fobia específica, como a melhor forma de enfrentar
um pai violento, e ser muito amadurecida, assumindo condutas assertivas a fim de
proteger a mãe e cuidar dos irmãos. A criança saudável deixa-se guiar pela sabedoria do
seu organismo, que reconhece as suas necessidades originais, tenta realizá-las seguindo
uma ordem de importância e escolhe qual a melhor ação em uma dada situação para
se satisfizer, evitando danos a si e prejuízo nas suas relações pessoais. No entanto, nem
sempre a criança faz suas escolhas de forma consciente e racional.
A criatividade é uma resposta saudável dada pela criança para suprir suas necessidades
internas de ferramentas que ela possa usar, sendo assim, no adoecimento pode significar
que a criança interrompeu sua capacidade criativa, passando a interagir com o outro de
forma fixa e enrijecida. Na clínica esse comportamento deve ser bastante observado e
estimulado pelo terapeuta infantil, a capacidade de brincar, imaginar, construir soluções
e humor, são pontos importantes para serem vistos na interação com a criança.
Fonte: <http://www.fatosdesconhecidos.com.br/10-motivos-inacreditaveis-que-levaram-criancas-a-prisao-nos-estados-
unidos/>.
86
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
O trabalho clínico infantil, então, se passa com a família muito próxima para relatar os
acontecimentos vivenciados dentro de casa, com todos os membros. As famílias, assim
como as crianças procuram uma tentativa de cura, o retorno a homeostase inicial,
entender o adoecimento e caminhar no caminho do autoconhecimento.
Para Briggs (1986), a criança saudável desenvolve a capacidade de amar, ser generosa,
sentir gratidão e desejo de reparação a partir da internalização positiva das figuras
parentais (pais amorosos que confirmam e respeitam a individualidade da criança), o
que leva a uma diminuição do medo de perda, aumenta a capacidade de compartilhar,
de se expressar e de realizar trocas nutritivas com o mundo.
Fonte: <http://www.eluniversal.com.co/sites/default/files/201602/3523015_xxl.jpg>.
87
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Nos primeiros atendimentos a criança chega bem vestida, e toma o espaço do consultório
com facilidade, se apropria dos espaços e dos brinquedos, é criativa, e imagina situações
com facilidade. A mãe fica na sala de espera e aguarda o filho, qualquer barulho que a
mãe faça na sala de espera a criança faz uma pequena pausa, como que com receio de
ser deixada ou algo lá fora o assusta.
Passado alguns atendimentos a criança já não se angustia tanto com os sons da sala de
espera e entre esses atendimentos, conversando com os pais, pedi para que me relatar
como é a rotina na hora de dormir. O quarto da criança fica no final do corredor, então,
para facilitar eles revezavam para colocá-lo para dormir, durante o dia ele já apresentava
melhoras para estar só, desde que soubesse que eles estariam ali.
Os pais foram entendendo que sua insegurança em estarem de acordo com a condução
da ajuda ao filho influenciava diretamente no adoecimento do mesmo, a criança capta
essa insegurança e não distingue se é dela ou deles.
88
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Pensando agora sobre a criança e seu brincar na clínica, o medo é uma reação em favor da
sobrevivência que ocorre diante de uma ameaça à vida ou à integridade psíquica, sendo
inerente à condição humana. Há os medos naturais específicos do desenvolvimento,
que surgem quando a criança toma consciência do mundo, de coisas que não consegue
entender ou controlar.
A criança precisava brincar de controlar os pais e suas angustias, quando isso é dito
para ela como ela percebe que faz parte de seu desejo sempre ter por perto, isso se torna
consciente na relação de contato com as figuras parentais.
O terapeuta pode fazer uso de fantasias dirigidas com temas de coragem, independência;
diálogo com fantoches humanos ou de animais sobre o medo, a raiva; dramatizar a
situação fóbica; propor desenhos temáticos; trabalhos corporais e sensoriais com a
argila para liberar a tensão muscular e a agressividade retrofletida, de forma a resgatar
a consciência corporal. É importante considerar que o terapeuta age com cuidado e tem
uma preocupação em não impor atividades, de forma a evitar intervenções invasivas
que não respeitem o ritmo, a espontaneidade e a singularidade da criança, bem como
busca, nas entrevistas de orientação aos pais, provocar a conscientização de conflitos
pessoais não resolvidos, com o fim de facilitar o processo da criança e a reconfiguração
da dinâmica da família.
Fonte: <https://userscontent2.emaze.com/images/d4c5046c-d5cd-4203-b5bb-35cd9f07fddd/7c00c63afb2c2bb640f46494
da694182.png>.
89
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Adolescência
Procurar entender o contexto no qual todas essas transformações e como elas têm
ocorrido para o cliente adolescente é fundamental para o processo psicoterapêutico, o
que se deve atentar em questões de manejos clínicos é a organização dos atendimentos.
Nunes (2008) afirma que, numa situação de emergência, a pessoa procura a melhor
maneira possível de lidar com o que se apresenta: contenção de energia ou substituição
da necessidade. É necessário suprir a excitação da necessidade genuína, e a energia vai
para a contenção. O problema ocorre quando a atitude que era consciente e controlada
passa a ser crônica, repetida, irrefletida e, portanto, cristalizada. Nesse momento,
perde sua função primária de ajustamento para ser apenas uma adequação limitada ao
contexto, impedindo a pessoa de agir de formas diferentes aos distintos contextos. A
questão fundamental é que cada nova situação demanda um ajustamento igualmente
diferenciado; sendo a cristalização ou sedimentação (engessamento do ato) uma
estratégia adaptativa de momento, mas não replicável em situações diferenciadas.
Não é raro, quando o adolescente em seu processo pede um espaço para se diferenciarem
das figuras parentais presentes em sua vida, no entanto o terapeuta deve explicar que
eventualmente tal espaço precisa ser aberto para que ele (terapeuta) possa dialogar
com essas figuras.
O manejo disso é delicado e sentido de cliente para cliente, mas para que isso não
prejudique o vinculo com o terapeuta é preciso muitas vezes organizar com o cliente o
encontro com seus pais e como vão ocorrer, deixando-o seguro de que o seu papel ali é
dar a ele sustentação.
Segundo Trindade (1993), afirma que a sociedade é em seu emaranhado social, criadora
de seus próprios delinquentes, sendo assim também responsável pelas instituições
90
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Fonte: <http://images.jovempan.uol.com.br/_nd5woeWsS-NRFEY0hDZbQOX3aY=/fit-in/619x437/media.jovempan.uol.com.br/
old_images/2011/01/06/H_20110106_215851.jpg>.
Percebe-se diante do cliente infrator que não houve espaços possíveis para que mostre
quem verdadeiramente é. Os tratamentos subjugados os fazem defrontar as leis de
alguma forma, no que se manifesta como uma glorificação entre eles pode ser construída
como uma necessidade de retomada da sua autoestima.
Não se pode escapar de que o meio no qual o jovem vive retorna como uma forte
influencia do seu modo de ser e pensar, são escolhas que fazem entre eles a todo tempo,
procurando credibilidade, aceitação e inclusão.
91
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
A autora May (1988) relata que quando o grupo no qual ele está inserido e
identificado é nocivo nos seus objetivos, àquela energia se direciona para um campo
de destrutividade.
A citação corrobora com o nosso caminho ao pensarmos nas medidas restaurativas, que
podem auxiliar o adolescente em conflito com a lei na revisão de sua história de vida, na
ressignificação do estigma de infrator e no encontro de si, quanto sujeito.
Outro tipo de manifestação do sofrimento psíquico na adolescência pode ser por via
da alimentação, umas das fortes características desse adoecimento é que surgiu na
sociedade pós-moderna. Para Castro (1995) os últimos levantamentos apontam que
mais de 90% são adolescentes do sexo feminino.
Porem para nosso estudo vamos nos ater a casos clínicos, se sabe que a procura por
transtornos alimentares é baixa devido ao cliente não perceber-se doente.
92
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
A retomada do que a adolescente não conhece, nesses casos a construção da sua imagem
corporal está rompida do contato da realidade do que é vivida na fantasia de satisfação
do externo, negligenciando a si para satisfazer o outro social.
Fonte: <http://www.psicologia10.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Transtorno-Alimentar-Restritivo-Evitativo-3.jpg>.
Para Angermann (1998) os ajustes criativos para os transtornos alimentares fazem com
que o cliente lide com tensões do ambiente e do que seu corpo se manifesta. Aponta para
observar como esse tipo de transtorno pode servir para um mecanismo de evitação.
Adulto
A doença pode ser vista como um momento de crise e segundo Brandão (2003), de
transição, como uma oportunidade de mudança, de aprender e desenvolver uma nova
forma de vida e de expressar-se de modo mais aberto e direto no mundo. A saúde,
como já foi dito anteriormente, não significa ausência da doença, ausência de distúrbios
físicos, mas um modo saudável de estar e de se expressar na vida.
Fonte: <http://www.abc.med.br/fmfiles/index.asp/::places::/abcmed/Fungos-como-sao-Eles-podem-causar-doencas-Como-
evita-las-.jpg>.
B relata estar em sofrimento por não ser aprovado para ingressar na carreira militar,
tendo intensificado suas compulsões em lavar as mãos, tossir e estralar partes do corpo.
Isso tem gerado grande sofrimento para o paciente, pois não consegue “controlar”,
diante de seus familiares e amigos.
94
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
B faz uso de medicação há onze anos para auxiliar no controle de suas compulsões,
descreve como insustentável estar sem a medicação e que sente algo quebrado dentro
de si. A ausência de contato com ele mesmo, muitas vezes não dá a ele capacidade
para descrever sua própria angustia, para auxiliar o terapeuta TCC busca junto a ele
construir essa retomada das suas emoções.
Sua família de origem nordestina chegou à cidade há 5 anos, o pai é engenheiro civil e
muito religioso. Sua mãe cuida da casa e não possui trabalho remunerado. Atualmente
B, mora com os pais e uma irmã mais nova mora com seus avós na cidade de origem,
Paraíba.
Nessa dinâmica familiar percebe-se uma rigidez sobre o papel do feminino e do
masculino, quando a família chega para o acolhimento de B o pai se mostra inflexível
diante do sofrimento do filho e a mãe tenta sustentar isso mediando à situação.
Apesar de B ser um adulto, mostra que a disfuncionalidade familiar pode traçar a
construção das crenças centrais (nucleares ou esquemas) de maneira tão profunda que o
próprio indivíduo não consegue acessar esse núcleo. Fato que demonstra a necessidade
da psicoterapia e para além disso, o seu caráter profilático na infância, reduzindo a
probabilidade de emanifestaremtranstornos psicológicosna vida adulta.
No início do acompanhamento é fechado o contrato terapêutico verbalmente e
apresentado acolhimento de B se inicia com mostrando que o espaço era dele e que ali
nós iríamos criar o que ele desejar levar para o atendimento.
B diz sofrer com o TOC desde muito novo, não se recorda quando começou, mas que
no colégio não conseguia ficar sem estralar o pescoço ao ouvir algo negativo perto dele.
Na investigação desse negativo o paciente exemplifica com alguma palavra que
desqualifica, reclama ou critica uma situação qualquer. Dentro de casa nunca se
permitiu reclamar, sempre houve um desagrado de seus pais, pois devem sempre estar
agradecendo a Deus sua existência e conquistas.
Durante as sessões, os pensamentos automáticos disfuncionais vão sendo acessados,
por meio do RDPD (Registro Diário de Pensmentos Disfuncionais). E progressivamente
pressupostos e regras (crenças intermediárias) vão sendo identificadas atravé da
psicoeducação e das tarefas de casa destinadas a que o clientecaminhe em direçãode
conteúdosmais profundos, . Apresento que haverá mais tempo juntos para que ele
traga o que o angustia no momento presente, assim que ele estiver pronto para dizer.
Seus movimentos de reflexão são alteração de horário, uma tentativa de controle da
disponibilidade do terapeuta.
Permanência de silencio por alguns atendimentos e perguntas por onde deve começar
a falar. A economia na descrição de suas falas, não aprofundamento dos temas levados
e esquivas recorrentes, mostram o quando grave e desconectado o cliente estava de si.
Foi primordial para o manejo das sessões o apontamento das resistências para B,
que no primeiro momento não relaciona como resistência, porém percebendo suas
95
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC
Idosos
A depressão também é uma consequência comum de disfunção cognitiva nos idosos.
Uma vez que nessa faixa etária há uma constante perda de sua capacidade cognitiva, que
impactam em um sentimento de profunda tristeza e um sofrimento emocional, que vai
gerar a depressão. Os idosos também costumam queixar-se muito de esquecimento, que
podem ser decorrentes da própria depressão ou de demências, que é outro transtorno
comum nessa idade (VENTURA; BOTINO, 2002).
Frequentemente os idosos apresentam quadros de depressão, que são acompanhados
por prejuízos cognitivos (ÁVILA; BOTTINO, 2006). Segundo os autores em quadros de
depressão maior uma diversidade de habilidades cognitivas pode estar comprometida,
como: psicomotricidade, memória não verbal, memória verbal, aprendizagem,
compreensão de leitura, fluência verbal e funções executivas. Sendo o agravamento das
funções executivas, o principal responsável pela piora das outras funções cognitivas,
em especial da memória.
96
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III
Considerações finais
De acordo com Assis et al. (2009) os transtornos mentais em crianças e adolescentes são
provenientes de fatores genéticos; de desordens cerebrais (epilepsia; violências, perdas
de pessoas significativas), de adversidades crônicas e eventos estressantes agudos; de
problemas no desenvolvimento; na adoção; no abrigamento e também de aspectos
culturais e sociais. Os transtornos mentais também podem provocar comportamento
suicida, sendo este comportamento a terceira causa de morte nos EUA, nessa faixa
etária (BRAGA; DELL’AGLIO, 2013).
Já no que se refere à fase adulta, Santos e Siqueira (2010) relatam que o Consórcio
Internacional de Epidemiologia Psiquiátrica (ICPE) da OMS revelou que no Brasil
o maior índice de transtornos mentais se encontra nesta fase. Dentre eles os mais
frequentes são a depressão, os transtornos da ansiedade, transtornos do humor
e os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Sendo a depressão
sinalizada pela OMS como mais comum no mundo nos próximos 20 anos.
Retardo mental;
Transtornos invasivos do desenvolvimento: Autismo, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett,
Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação;
TRANSTORNOS
Transtornos da aprendizagem: transtornos da leitura, transtorno da matemática, transtorno da expressão
DO DESENVOLVIMENTO escrita e transtorno da aprendizagem sem outra especificação
Transtornos invasivos do desenvolvimento: Autismo, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett, Transtorno
Desintegrativo da Infância e Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação;
TRANSTORNOS DE Transtornos de comportamento e transtorno de conduta (TC), transtorno opositivo
COMPORTAMENTO desafiador (TOD) e transtornos de comportamento sem outra especificação; Transtorno do déficit de atenção
DISRUPTIVO e hiperatividade (TDAH)
Transtornos depressivos – depressão unipolar (Transtorno Depressivo Maior – TDM,
TRANSTORNOS DO HUMOR Transtorno Distímico e Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação), Transtornos bipolares e os
Transtornos baseados na etiologia
Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS), Transtorno do Pânico (TP),
TRANSTORNOS DE
ANSIEDADE Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social (FS), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Fobia
Específica (FE), Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Transtorno de tiques transitório, transtorno de tiques motor ou vocal crônico e
TRANSTORNO DE TIQUES transtorno de tiques motor e vocal crônico, mais conhecido como Transtorno de Tourret
TRANSTORNOS DA Anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da alimentação da primeira infância (pica, transtorno de
ALIMENTAÇÃO ruminação)
97
Para (não) Finalizar
Após o percurso trilhado até aqui, tornam-se inevitáveis reflexões sob a influência
de princípios como os de contato, autossuporte, criatividade etc., envolvidos na
manutenção de relações de vida. Outro elemento fundamental, a consciência, aponta
para a necessidade do conhecimento sobre nós mesmos, e assim sejamos capazes
de distinguir nossas necessidades em relação ao contexto no qual convivemos e nos
relacionamos com os outros.
98
Referências
ASSIS, S. G., Avanci, J. Q., Pesce, R. P., Ximenes, L. F. (2009). Situação de crianças e
adolescentes brasileiros em relação à saúde mental e à violência. Ciência & Saúde
Coletiva, 14(2), pp. 349-361.
99
Referências
BECK, J. S. (1997). Terapia Cognitiva. Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
_____, J. S. (2007). Terapia cognitiva para desafios clínicos: O que fazer quando
o básico não funciona (S. M. Carvalho, Trad.). Porto Alegre: Artmed.
100
Referências
DITTRICH, A., Strapasson, B. A., Silveira, J. M., Abreu P. R. (2009). Sobre a Observação
enquanto Procedimento Metodológico na Análise do Comportamento: Positivismo
Lógico, Operacionismo e Behaviorismo Radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 25(2),
pp.179-187.
_____, A. (2003). Early theories and practices of rational emotive bahavior therapy
and how they have been augmented and revised during the last three decades. Journal
of rational-emotive & cognitive-behavior therapy, 21(3/4), 219-243.
_____, A. Lange, A. (1994). Fique frio! Como manter a calma em meio a fortes
pressões. Editora Best Seller. São Paulo.
101
Referências
HAYES, S.C. 2004. Acceptance and commitment therapy and the new behavior
therapies: Mindfulness, acceptance and relationship. In: S.C. Hayes; V. Folette; M.M.
Linehan, (eds.), Mindfulness, acceptance, and the new behavior therapies:
Expanding the cognitive-behavioral tradition (pp. 1-30). New York, Guilford.
_____, S. C.; Gregg, J. (2002). Functional contextualism and the self. In: C. MURAN
(ed.). Selfrelations in the psychotherapy process pp. 391-307. Washington,
American Psychological Association.
_____, S. C.; Pistorello, J.; Levin, M. E. (2012). Acceptance and commitment therapy
as a unified model of behavior change. The Counseling Psychologist, 40(7), pp.
976–1002.
_____, S. C.; Strosahl, K. D.; Bunting, K., Twohig, M.; Wilson, K. G. (2010). What
is acceptance and commitment therapy? Em S. C. Hayes; K. D. Strosah. sOrgs.), A
practical guide to acceptance and commitment therapy pp. 1-29. New York:
Springer.
_____, S. C.; Villatte, M.; Levin, M.; Hildebrandt, M. (2011). Open, aware, and active:
Contextual approaches as na emerging trend in the behavioral and cognitive therapies.
Annual Review of Clinical Psychology, 7, pp. 141–68.
102
Referências
HARVEY, L., Inglis, S.J.; Espie, C.A. (2002). Insomniacs’ reported use of CBT components
and relationship to long-term clinical outcome. Behaviour ResearchandTherapy,
40, pp.75–83.
103
Referências
MEYER , S. B. (2003). Análise funcional do comportamento. In: Costa, C. E., Luzia, J. C.;
Sant´Anna, H. H. N. (Orgs.). Primeiros passos em análise do comportamento e
cognição pp. 75-91. Santo André: ESETec.
OAKLANDER, V. Hidden treasure: a map to the child´s inner self. London: Karnac,
2006.
Oliveira, C. I., Pires, A. C., Vieira, T. M. (2009). A Terapia Cognitiva de Aaron Beck como
Reflexividade na Alta Modernidade: Uma Sociologia do Conhecimento. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 25(4), pp.637-645.
104
Referências
OMS (Organização Mundial de Saúde) (2001). Saúde mental: nova concepção, nova
esperança. Relatório sobre a saúde no mundo. Genebra.
ROSO, M.; Abreu, C. N. (2003). Introdução. In: Abreu, C. N.; Roso, M. (e col.).
Psicoterapias cognitiva e construtivista – novas fronteiras da prática
clínica. Porto Alegre: Artmed.
105
Referências
WIELEWICKI, A., Gallo, A. E.; Grossi, R. (2011). Instrumentos na prática clínica: CBCL
como facilitador da análise funcional e do planejamento da intervenção. Temas em
Psicologia, 19(2), pp. 513 – 523.
106