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Terapia Cognitivo Comportamental

para Crianças, Adolescentes,


Adultos e Idosos

Brasília-DF.
Elaboração

Ana Claudia Fernandes Monteiro


Roberta Gueudeville Vita Mourão

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade I
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional
emotiva comportamental............................................................................................................... 11

Capítulo 1
Conceituação da TCC: surgimento e evolução – princípios básicos......................... 12

Capítulo 2
Diferenças e similaridades nos enfoques neobehavioristas......................................... 17

Capítulo 3
Terapia cognitiva – Aaron Beck – a terapia racional emotiva comportamental de
Albert Ellis e o modelo A-B-C- a terceira onda: terapia cognitiva do presente......... 21

Unidade iI
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo................................................. 33

Capítulo 1
Pensamentos automáticos................................................................................................. 35

Capítulo 2
Crenças intermediárias ou subjacentes.......................................................................... 39

Capítulo 3
Crenças centrais............................................................................................................... 42

Capítulo 4
Conceituação cognitiva.................................................................................................. 45

Unidade iII
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC.............................................................................. 50

Capítulo 1
Empatia e alteridade............................................................................................................ 54

Capítulo 2
A avaliação em TCC e quadro diagnóstico integrado: (nos ciclos de vida / relação
com o CID X – DSM-V).......................................................................................................... 64
Capítulo 3
Análise funcional do comportamento.......................................................................... 68

Capítulo 4
Distorções cognitivas e avaliação de crenças irracionais....................................... 72

Capítulo 5
Pensamentos enlouquecedores....................................................................................... 78

Capítulo 6
Reestruturação cognitiva................................................................................................. 82

Capítulo 7
Disfunções cognitivas e emocionais nos ciclos de vida (criança, adolescente,
adulto e idosos).................................................................................................................. 85

Para (não) Finalizar...................................................................................................................... 98

Referências................................................................................................................................... 99
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nas últimas décadas, a TCC - Terapia Cognitivo-comportamental cresceu e se tornou
uma das psicoterapias mais utilizadas no mundo inteiro. Tal fato é resultado do
robusto suporte empírico demonstrando sua eficácia no tratamento de pacientes
sofrendo dos mais variados transtornos psicológicos. Outro fator importante se dá pela
complementação a TCC de um conjunto de novas terapias integradas que possibilitam
mais opções e eficácia no tratamento.

As publicações sobre as terapias cognitivo-comportamentais têm sido crescentes na


área da saúde, o que demonstra a eficácia das TCCs no tratamento de transtornos
psicológicos em geral (KNAPP, 2004). A teoria da TCC tem como base fundamental o
conceito de que é possível mudar as cognições por meio de uma psicoterapia estruturada
e breve, com foco para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos
e comportamentos disfuncionais, quer sejam inadequados e/ou inúteis (BECK, 1964).

A disciplina Terapia Cognitivo Comportamental para Crianças, Adolescentes, Adultos e


Idosos tem como objetivo discutir os diversos conceitos, tratamentos, causas e impactos
provocados pela doença. Desse modo, o conteúdo da disciplina foi dividido em unidades
e capítulos para melhor entender o tema.

A primeira Unidade tratará dos Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental


e princípios da terapia racional emotiva comportamental. Nesta unidade veremos
o conceito, surgimento e evolução; as diferenças e similaridades nos enfoques
neobehavioristas; os princípios básicos da TCC; a Terapia Cognitiva de Aaron Beck; a
terapia Racional Emotiva Comportamental de Albert Ellis; o Modelo A-B-C e a terceira
onda: terapia cognitiva do presente.

A segunda Unidade de estudo versará sobre os Processos Neuropsicológicos básicos –


Modelo cognitivo. Nesta unidade, serão abordados os temas pensamentos automáticos;
crenças intermediárias; crenças centrais e conceituação cognitiva.

A terceira e última Unidade será dedicada ao estudo da Avaliação e Técnicas de


Atendimento em TCC. Nesta unidade serão contemplados estudos sobre: empatia;
avaliação em TCC e quadro diagnóstico integrado: (nos ciclos de vida / relação com o
CID X – DSM-V); análise funcional do comportamento; distorções cognitivas e avaliação
de crenças irracionais; pensamentos enlouquecedores, reestruturação cognitiva e
disfunções cognitivas e emocionais nos ciclos de vida (infância, adolescência, adulto -
idosos).

8
Objetivos
»» Conhecer os Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e
princípios da terapia racional emotiva comportamental.

»» Compreender Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo.

»» Conhecer Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC.

9
Fundamentos da
Terapia Cognitivo
Comportamental e Unidade I
princípios da terapia
racional emotiva
comportamental

As técnicas cognitivas e comportamentais são a base da Terapia


Cognitivo-Comportamental (BAHS; NAVOLAR, 2004). O ensino dessa abordagem tem
por objetivo caracterizar e discutir aspectos teóricos e técnicos principais para cada fase
específica do ciclo de vida, assim como, compreender os processos neuropsicológicos
básicos e a intervenção em Terapia Cognitivo-Comportamental para pacientes com
diferentes demandas clínicas.

A evolução de um conjunto de influências de origens diversas contribuiu para o


surgimento e desenvolvimento das TCCs, que foi chamada pela maioria dos estudiosos
no assunto de revolução cognitiva. Tal revolução cognitiva foi iniciada por meio dos
estudos publicados por autores como Aaron Beck, Michael Mahoney e Albert Ellis
(ROSO; ABREU, 2003).

Posteriormente, outros modelos teóricos diferenciados foram se desenvolvendo nesse


enfoque, como exemplos: a Psicoterapia Funcional-Analítica; a Terapia da Aceitação e
Compromisso; a Terapia Racional – Emotiva – Comportamental; a Terapia Cognitiva,
a Terapia por Contingências de Reforçamento (BARBOSA; BORBA, 2010). Entretanto,
as duas modalidades mais influentes nas últimas décadas são a Terapia Cognitiva (TC),
formulada por Aaron Beck e a Terapia Racional – Emotivo - Comportamental (TREC),
formulada por Albert Ellis (DOBSON; SCHERRER, 2004).

Nesta Unidade de estudo, serão tratadas a conceituação da TCC, o seu surgimento e


evolução, as diferenças e similaridades nos enfoques neobehavioristas, os princípios
básicos da TCC, a terapia cognitiva – Aaron Beck, a terapia Racional Emotiva
Comportamental de Albert Ellis, o modelo A-B-C e a terceira onda: terapia cognitiva
do presente.

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Capítulo 1
Conceituação da TCC: surgimento e
evolução – princípios básicos

O conceito da Terapia Cognitivo-Comportamental está integrado às técnicas e conceitos


advindos de duas principais abordagens: a cognitiva e a comportamental. O termo teve
origem na Terapia cognitiva, que surgiu na década de 1960 e hoje é usado por estudiosos
da área como sinônimo de terapia cognitivo-comportamental, sendo este último o que
será utilizado ao longo desta disciplina. (KNAPP; BECK, 2008)

A Terapia Cognitivo-Comportamental teve sua origem, principalmente com os estudos


sobre quadros depressivos de Aaron Beck, que a partir de investigações empíricas e
observações clínicas sistemáticas, tiveram como objetivo averiguar os mecanismos
inconscientes propostos pela psicanálise. O resultado desses estudos revelou que os
conteúdos dos pensamentos e dos sonhos dos pacientes apresentavam uma tendência
a interpretar os acontecimentos de forma negativa, não evidenciando que a depressão
fosse resultante de raiva voltada contra o self, conforme proposto pela psicanálise
(RANGÉ, 2001).

Destarte, os resultados encontrados confrontaram os pressupostos psicanalistas,


contribuindo para a busca de outros fenômenos que elucidassem de maneira satisfatória
os dados empíricos observados (BECK; ALFORD, 2000). Assim, Beck propôs que
os sintomas da depressão poderiam ser explicados em termos cognitivos como
interpretações tendenciosas das situações atribuídas à tríade cognitiva, que é formada
constituída pela ativação de representações negativas de si mesmo, do mundo pessoal
e do futuro.

Desde então, houve sucesso na adaptação dessa terapia com abrangência a diversas
populações e também a uma variedade de transtornos e problemas. E várias outras
abordagens foram desenvolvidas no modelo cognitivo-comportamental. Entretanto,
segundo Knnap e Beck (2008) os estudos cognitivo-comportamentais seminais e as
abordagens iniciais para o tratamento dos transtornos emocionais tiveram origem
nas décadas de 1960 e 1970 com autores como Aaron Beck, Albert Ellis, Lazarus,
Meichenbaum e Mahoney. De acordo com Mahoney (1995), essas abordagens são
divididas em:

1. terapias de habilidades de enfrentamento: com foco no desenvolvimento


de habilidades para que o paciente se utilize de instrumentos para lidar
com a diversidade de problemas que se apresentam a ele.

12
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

2. terapia de solução de problemas: com foco no desenvolvimento de


estratégias para lidar com as diversas dificuldades pessoais.

3. terapias de reestruturação: com foco na suposição de que os problemas


emocionais são consequências de pensamentos disfuncionais. Seu
objetivo é a reformulação dos pensamentos distorcidos e promoção de
pensamentos adaptativos.

Diferentes abordagens de terapia cognitivo-comportamental foram desenvolvidas e


compartilham das características da terapia de Beck, entretanto suas conceitualizações
e focos no tratamento podem variar até certo ponto. Entre as diversas abordagens que
surgiram a partir do modelo de Beck, podem-se citar:

1. a terapia racional-emotiva comportamental de Ellis.

2. a terapia comportamental dialética de Linehan.

3. a terapia de solução de problemas de D’Zurilla e Nezu.

4. a terapia de aceitação e compromisso de Hayes, Follette e Linehan.

5. a terapia de exposição de Foa e Rothbaum.

6. a terapia de processamento cognitivo de Resick e Schnicke.

Desde então, vários estudos têm comprovado o sucesso da terapia cognitiva nos mais
variados transtornos psicológicos, Beck (2013) relata uma série deles: Dobson, 1989 -
sobre transtorno depressivo maior; Butler, Fennell, Freitas e Rech, 201 0- transtornos
depressivos; Robson e Gelder, 1991- transtorno de ansiedade generalizada; Barlow,
Craske, Cerney&Klosko, 1989 e Beck, Sokol, Clark, Berchick& Wright, 1992 - transtorno
do pânico; Gelenter et al., 1991 e D’el Rey, Pacini, 2006 - fobia social; Woody et al.,
1983 - abuso de substâncias; Agras et al., 1992 e Garner et al., 1993 - transtornos
alimentares; Duchesne, 2007 - transtorno da compulsão alimentar periódica. Baucon,
Sayers&Scher, 1990 - problemas de casais; Bowers, 1990 e Bowler&Harden, 1991-
depressão de pacientes internados.

Segundo Dobson (2001), as terapias cognitivo-comportamentais provêm de um modelo


cognitivo, que independente de suas diferentes abordagens conceituais e estratégias de
tratamento nos mais variados transtornos, todas compartilham de alguns pressupostos
básicos. Os pressupostos básicos compartilhados são:

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UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

1. a influência da atividade cognitiva no comportamento.

2. a possibilidade de monitoramento e alteração da atividade cognitiva.

3. a possibilidade de influência do comportamento desejado, mediante a


mudança cognitiva.

Assim, a teoria cognitiva comportamental possui como principal objetivo o


desenvolvimento de uma psicoterapia estruturada e breve, a qual tem como foco a
solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e comportamentos
disfuncionais, quer sejam inadequados e/ou inúteis (BECK, 1964).

Seu modelo básico ajuda aos terapeutas a conceitualizarem problemas clínicos e a se


utilizarem de métodos específicos. Por ser um modelo simples proporciona ao terapeuta
uma atenção totalmente voltada para as relações entre pensamentos, emoções e
comportamentos e para orientação das intervenções de tratamento.(WRIGHT, BASCO;
THASE, 2008). O tratamento na TCC baseia-se em alguns princípios básicos que serão
descritos a seguir.

Figura 1. Memória cerebral.

Fonte: <http://veja.abril.com.br/ciencia/cerebro-guarda-dez-vezes-mais-memorias-do-que-se-acreditava-diz-estudo/>.

Princípios básicos da TCC


Os princípios básicos da TCC se dividem em princípios teóricos e práticos (KNAPP,
2004). Segundo os autores, o modelo teórico tem como base a inter-relação entre
cognição, emoção e comportamento, que consiste na forma como a realidade é percebida
e processada pelos indivíduos, a qual irá influenciar a forma como eles se sentem e se
comportam.
14
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

Esse modelo é constituído por três níveis de cognição: pensamentos automáticos


(PA), pressupostos subjacentes e crenças nucleares. Todos os indivíduos possuem
crenças, pressupostos e PA, sejam eles positivos ou negativos. Entretanto, no processo
terapêutico normalmente esses conceitos quando citados, referem-se aos disfuncionais
Desta forma o princípio teórico da TCC tem como objetivo reestruturar e corrigir os
pensamentos considerados disfuncionais, promovendo mudança no comportamento
e, consequentemente, a melhora dos transtornos emocionais (KNAPP, 2004).
Esses conceitos serão descritos na Unidade II dessa apostila. A figura 2 apresenta a
representação gráfica do modelo teórico cognitivo.

Figura 2. Modelo teórico cognitivo.

Crenças nucleares

Pressupostos subjacentes

Situação Pensamentos automáticos Reações

Emocionais

Comportamentais

Físicas

Fonte: Knapp (2004).

No que se refere ao princípio prático, sua base está na inter-relação entre afeto,
cognição, comportamento e pensamento. De acordo com Knapp (2004), nesse princípio
é importante que as emoções sejam investigadas, pois apesar de a TCC ter como foco
a mudança nos pensamentos, quando isso não acontece o tratamento é considerado
como uma troca intelectual, sem nenhum significado terapêutico. O afeto é essencial
para a realização da reestruturação cognitiva do indivíduo.

Knapp (2004) acrescenta que a disfunção emocional e cognitiva são retroalimentadas


pelos padrões de comportamento, assim é importante que tais comportamentos
sejam investigados. Os autores citam como exemplo, o fóbico social, que se utiliza de
comportamento de fuga diante de situações ameaçadoras (Sai antes que algo acontecesse
e eu passasse vergonha). Essas interpretações equivocadas vão retroalimentar seus

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UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

pensamentos distorcidos. Dessa forma, toda vez que o paciente foge de uma situação
dessas, essa situação o deixa mais atemorizado (KNAPP, 2004)

Assim, Knapp (2004) relata que esse processo ocorre em um ciclo constituído por
pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, crenças nucleares e o impacto
do humor, no qual as crenças disfuncionais ativam os PA´s e estes irão promover
um humor correspondente, que levará o individuo a mais PA´s disfuncionais, que
consequentemente aumentarão seu humor disfuncional. Esse aumento no humor
pode provocar um aumento de recordações e percepções distorcidas (FREEMAN et al.,
1990, citado por KNAPP 2004). Como ocorre na depressão, em que a visão distorcida e
negativa do paciente de si mesmo, das pessoas e do futuro, aumenta suas recordações
e percepções de suas experiências que contribuem para o humor depressivo, o que o
mantêm com os sintomas da depressão (KNAPP, 2004).

Desta forma, o objetivo inicial da terapia é quebrar o período em que os problemas do


indivíduo são perpetuados e ampliados, com a utilização das técnicas para a modificação
dos pensamentos automáticos, com o objetivo de reestruturar e corrigir os pensamentos
disfuncionais, promovendo mudança no humor e, por conseguinte a mudança no
comportamento do indivíduo, e melhora dos transtornos emocionais. Entretanto,
Knapp (2004) enfatiza que não basta somente trabalhar com a cognição no nível mais
superficial (PA), pois isso pode gerar um risco de uma recaída para o paciente quando
experienciar eventos similares aos que ocorreram no episódio em curso. Para que os
resultados sejam duráveis, é importante também que sejam modificadas as crenças e
os pressupostos que predispõem aos problemas. Assim, o terapeuta poderá planejar
estratégias eficazes para lidar com situações futuras que podem precipitar uma recaída.

Figura 3. Terapia cognitivo-comportamental.

Fonte: <http://julianafisch.blogspot.com.br/2014/07/a-terapia-cognitivo-comportamental.html>.

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Capítulo 2
Diferenças e similaridades nos enfoques
neobehavioristas

O Behaviorismo surgiu em 1913 com os estudos de John B. Watson, intitulado


“Psychology as the Behaviorist Views it” (Psicologia como o behaviorista a vê), conhecido
como manifesto behaviorista (NETO, 2002) que relata o rompimento com a filosofia da
psicologia objetiva com a psicologia comparativa. A primeira tem como base teórica a
observação e a experimentação. A segunda postula o comportamento humano com base
nas explicações da seleção natural de Darwin (BAUM, 1999, citado por NETO, 2002).

Assim, Watson tinha como proposta mudar o foco da Psicologia, que até então era
mentalista, estudava os processos mentais (como pensamentos, sentimentos), para
o estudo do comportamento observável. De acordo com Matos (1995), essa proposta
incluía:

»» estudar o comportamento por si mesmo;

»» opor-se ao Mentalismo, e ignorar fenômenos como consciência,


sentimentos e estados mentais;

»» adotar a teoria da evolução, estudando não só o comportamento do


homem, como também dos animais, sendo este último o mais importante;

»» usar o determinismo materialístico;

»» usar métodos objetivos na coleta de dados, descartando a introspecção;

»» realizar experimentação controlada;

»» realizar testes de hipótese de preferência com grupo controle;

»» observação consensual.

Evitar explicar o comportamento por meio do sistema nervoso, contudo estudar a ação
dos órgãos periféricos, dos órgãos sensoriais, dos músculos e das glândulas.

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UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

Quadro 1. Diferenças e similaridades entre Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical.

Behaviorismo Metodológico Behaviorismo Radical


Percursorsores John B. Watson Burrhus Frederic Skinner
Base Realismo Pragmatismo
Descrever o comportamento em termos fisiológicos, Descrever o comportamento em seu contexto,
Objetivo
observáveis. Não analisava o contexto dos fatos. fatores inobserváveis

Semelhanças É um campo de observação analisado através de métodos


científicos, previamente comprovados.
Fonte: Ceribelli & Mendes, 2015.

O Behaviorismo radical de Skinner, também chamado de filosofia da análise do


comportamento, ao contrário do behaviorismo de Watson, admite que o mundo
privado, ou seja, os estados mentais fazem parte do comportamento humano, unindo
o comportamento observável com o inobservável. Para Skinner o Behaviorismo é uma
filosofia da ciência e não uma ciência do comportamento humano (SKINNER, 1974).

Vale ressaltar que para o autor o objeto de análise da psicologia é o comportamento.


E esse comportamento seria parte da atividade do organismo. Assim, para Skinner
(1987), O corpo reflete o que a mente faz, portando ele considera que a mente é o
comportamento.

Para Hayes (1987) os pensamentos independentes de sua natureza privada não são
diferentes. Eles podem ter atributos especiais por serem verbais, mas continuam sendo
comportamentos. Desta forma, o autor relata que os behavioristas começam a estudar
as reações humanas com foco na distinção entre público e privado, deixando o físico e
o mental.

De acordo com Skinner (1987), os eventos privados são as variáveis que apenas a uma
pessoa tem acesso, estão relacionadas a condições físicas privadas e a comportamentos
encobertos. A diferença deste acontecimento para os eventos publicamente observáveis
é que eles são os únicos cujo acesso direto só é permitido à própria pessoa. O autor
acrescenta que o comportamento verbal deveria ser explicado como função de
contingências de reforçamento providas por uma comunidade verbal. Esta comunidade
verbal ensinaria a pessoa a reagir discriminativamente a si mesmo, mediante
determinadas estratégias.

A segundo Malerbi e Matos (1992), Skinner desenvolveu quatro estratégias para esta
comunidade verbal.

1. Utilizar os estímulos públicos associados aos estímulos privados pela


comunidade verbal, para que o reforçamento contingente volte à resposta
do indivíduo.

18
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

2. Ensinar um indivíduo a relatar os seus eventos internos, que segundo


Skinner, consiste em reforçar o tato de eventos privados, se e quando
outras respostas colaterais deste indivíduo, não verbais, porém públicas,
ocorrerem, hipoteticamente, aos mesmos estímulos privados.

3. O indivíduo deve descrever o seu próprio comportamento encoberto


em reação a estímulos privados. Para Skinner (1974) o comportamento
encoberto consiste em uma subclasse de eventos internos, que envolvem
estímulos e respostas.

4. Consiste na proposta de que uma resposta que é adquirida e mantida em


conexão com estímulos públicos pode ser emitida, por meio de analogia,
na presença de eventos privados, com base em propriedades coincidentes
destes dois conjuntos de estímulos.

Embora Skinner apresente quatro estratégias de ensino para a comunidade verbal


Mallerbie Matos (1992) relatam que nenhuma delas mostrou-se suficiente para fornecer
um repertório verbal confiável em relação aos estímulos privados, por serem passíveis
de erro ou de limitação na sua aplicação.

Figura 4. Comunidade verbal.

Fonte: <http://www.danielafaus.com.br/blog/2015/9/23/tudo-estava-indo-bem-mas-4-dicas-para-quem-atravessa-a-crise-do-
terceiro-ano>.

Pode-se concluir que, o estudo do comportamento é controlado por regras, que vão
auxiliar a compreender as contingências que embasam a relação entre pensamento e

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UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

outras formas de ação do indivíduo. Segundo Hayes (1987) essas regras verbais são
produzidas pela comunidade social-verbal e influenciam outras formas de ação do
indivíduo. Sendo a consciência considerada como comportamento verbal, proveniente
da inclusão na comunidade verbal. O comportamento verbal não pode se referir a
um mundo real, objetivo e impessoal, pois as respostas verbais são controladas pelas
práticas de reforço das comunidades verbais, pelo contexto e experiências pessoais do
indivíduo.

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Capítulo 3
Terapia cognitiva – Aaron Beck
– a terapia racional emotiva
comportamental de Albert Ellis e o
modelo A-B-C- a terceira onda: terapia
cognitiva do presente

Terapia cognitiva – Aaron Beck


A terapia cognitiva de Aaron Beck surgiu no início da década de 1960, caracterizada
como uma psicoterapia breve (BECK, 1997). Deu origem ao termo terapia cognitiva,
que hoje é denominado por estudiosos e profissionais da área como sinônimo de terapia
cognitivo-comportamental (BECK, 2013). Sua estrutura de terapia breve, voltada para
acontecimentos atuais, tem como proposta sanar problemas do presente e modificar
pensamentos e comportamentos distorcidos (BECK, 1997).

Para o tratamento na terapia cognitiva, Beck (1997) criou o modelo cognitivo com a
proposta de que o pensamento distorcido ou disfuncional é comumente visto em
todos os distúrbios psicológicos. Esse pensamento distorcido influencia o humor e o
comportamento do ser humano. O foco do tratamento está na busca de uma mudança
cognitiva, que consiste em modificar os pensamentos e crenças do indivíduo, que
consequentemente promoverá a mudança duradoura emocional e comportamental. O
Modelo cognitivo descrito por Beck é apresentado na figura 6:

Figura 5. Modelo Cognitivo de Beck.

Crença central

Crença intermediária

Situação Pensamento automático Emoção

Fonte: Beck (1997).

O modelo inicial de Beck foi voltado para tratar distúrbios como a depressão. Entretanto,
a eficácia da Terapia Cognitiva tem sido confirmada em estudos sobre diversos tipos de
transtornos, em pacientes com diversos níveis de renda, idade e background. Contudo,

21
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

em todas as suas formas, o tratamento baseia-se em uma formulação cognitiva de


um transtorno específico e em sua aplicação a conceituação ou entendimento de cada
indivíduo (BECK, 1997).

Nessa mesma linha, Dobson (2001), Segundo Dobson (2001) as terapias


cognitivo-comportamentais provêm de um modelo cognitivo, que independente de
suas diferentes abordagens conceituais e estratégias de tratamento nos mais variados
transtornos, todas compartilham de alguns pressupostos básicos. Os pressupostos
básicos compartilhados são os seguintes.

1. A influência da atividade cognitiva no comportamento.

2. Possibilidade de monitoramento e alteração da atividade cognitiva.

3. Possibilidade de influencia do comportamento desejado, mediante a


mudança cognitiva.

No que se refere às técnicas utilizadas pela abordagem cognitivo-comportamental,


Rangé (2001) cita a seguir.

1. Identificação dos pensamentos disfuncionais que provocam sentimentos


negativos e comportamentos disfuncionais.

2. Automonitoramento das cognições negativas.

3. Identificação de afinidade entre pensamentos, crenças e sentimentos


subjacentes.

4. Aprender a usar pensamentos funcionais e adaptativos no lugar dos


disfuncionais.

5. Identificação de seus pressupostos básicos, visão de si, do mundo e do


futuro.

Assim, o terapeuta busca mediante o modelo cognitivo, estratégias para promover


a mudança nos pensamentos e crenças disfunções dos pacientes, para que ocorra a
melhora em seus transtornos psicológicos. Nesse processo o foco é despotencializar
as crenças centrais disfuncionais e o desenvolvimento e fortalecimento de crenças
funcionais, ou seja, uma reconstrução reflexiva do sistema de crenças do paciente
(BECK,1997). O autor relata que a realização dessa reconstrução depende, dentre
outros fatores, da habilidade do terapeuta na identificação das crenças subjacentes ao
funcionamento desadaptativo do cliente, na realização da conceituação cognitiva.

22
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

Nesse processo, também é importante a comunicação ao paciente sobre suas crenças, de


modo que ele possa identificar e compreender sua dinâmica psicológica. De acordo com
Oliveira, Pires e Vieira (2009), os pacientes precisam ser submetidos a ter consciência
de suas crenças disfuncionais, por meio de um teste de realidade. Pois, enquanto
essas crenças não são refletidas, provocam interpretações distorcidas da realidade.
Assim, esse processo de conscientização das crenças disfuncionais contribui para
uma interpretação mais real das crenças centrais disfuncionais, do seu autoconceito e
também acerca dos outros.

O sucesso da terapia depende não só da utilização das técnicas psicoterápicas, mas


também é fundamental que o terapeuta estabeleça uma relação de confiança na relação
com o paciente. Essa relação também é chamada de aliança terapêutica. Tal confiança
promove uma predisposição no paciente para ouvir o terapeuta e aceitar o que ele fala.

A terapia racional emotiva comportamental de


Albert Ellis e modelo ABC
A terapia Racional Emotiva foi desenvolvida na década de 1955, com o psicanalista norte
americano Albert Ellis. Teve influencia de teorias psicodinâmicas, contudo apresenta
uma postura mais ativo, diretiva e sistemática de intervenção junto ao paciente. Por
volta de 1983, passou a ser chamada de Terapia Racional Emotiva Comportamental
(TREC), assumindo uma influência clara do behaviorismo no desenvolvimento de suas
técnicas terapêuticas (KNAPP, 2004). A terapia racional emotivo comportamental
tem como as cognições para promover mudanças emocionais e comportamentais
(BECK, 1997)

O modelo ABC desenvolvido por Ellis propõe que situações ou acontecimentos (A),
desenvolvem algumas crenças pessoais (B), essas crenças geram consequências (C),
que podem ser da ordem emocional, comportamental e fisiológica. Desta forma, Ellis
estabelece a visão os transtornos psicológicos, são baseados nas construções cognitivas,
como pensamentos irracionais e negativos. Assim, a TREC tem como objetivo principal
a identificação e contestação das crenças disfuncionais do indivíduo, buscando manter
um estado de equilíbrio emocional para os pacientes (KNAP; BECK, 2008).

O autor formulou 11 crenças identificadas nos transtornos psicológicos. Geralmente


essas crenças apresentam expectativas irreais ou absolutistas dos acontecimentos.

1. A pessoa deve ser estimada ou aprovada por todos a quem ela considere
importantes em sua vida.

2. A pessoa deve ser plenamente competente, adequada e realizada, de


forma a ser valorizada.

23
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

3. Algumas pessoas são más, perigosas ou desprezíveis, e deveriam ser


reprovadas e penalizadas por suas crueldades.

4. É terrível e calamitoso quando queremos que as coisas aconteçam de uma


forma e elas não acontecem.

5. As razões externas são a causa da infelicidade humana e as pessoas não


têm controle sob seus sofrimentos.

6. Só em pensar que alguma coisa é ou poderá ser perigosa ou apavorante,


a pessoa deve ficar muito preocupada e pensar em todo tempo na
possibilidade desta coisa acontecer.

7. As dificuldades e responsabilidades pessoais são mais fáceis de serem


evitadas do que enfrentadas.

8. As pessoas dependem umas das outras e precisam de alguém em quem se


sintam mais fortalecidas para que possam encontrar confiança e apoio.

9. O passado é o que determina a identidade da pessoa e seu comportamento


atual, se em algum momento houve alguma situação que tenha afligido
gravemente sua vida, poderá ter influencias sobre ela.

10. Pessoas devem se preocupar extremamente com os problemas de outras


pessoas.

11. Sempre há uma solução correta, precisa e perfeita para os problemas das
pessoas, contudo, é uma catástrofe quando a solução não é encontrada.

Para Ellis são as crenças irracionais que dão origem aos sentimentos perturbadores e
comportamentos disfuncionais, que faz o indivíduo ter uma visão distorcida da realidade
e agir inadequadamente. Segundo ele o ser humano tem uma tendência biológica, tanto
inata quanto adquirida para construir crenças irracionais. E geralmente essas crenças são
utilizadas como mecanismo de defesa, isso contribui para que estas crenças tornam-se
inadequadas e permaneçam gerando comportamentos disfuncionais.

Assim, é fundamental para manter um equilíbrio emocional, monitorar e desafiar


constantemente seus sistemas de crenças básicas. De acordo com Barbosa et al.
(2010), essas crenças irracionais tem forte relação com estados emocionais negativos
equilibrados (tristeza, aborrecimento, mágoa, desprazer), que acarretam reações
emocionais perturbadoras, como pânico, depressão, fúria.

24
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

Ellis diz que a TREC é um tipo de psicoterapia ativa e diretiva que o terapeuta leva o
paciente a identificar a origem filosófica de seus problemas psicológicos, suas crenças
irracionais. E assim, contribui para que o paciente perceba que há tratamento para
seus problemas e a partir da identificação e mudança de suas crenças irracionais, é
possível mudar seu comportamento disfuncional. Nesse processo, Ellis descreve que
o terapeuta pode ser considerado como um professor que ensina o paciente a ser seu
próprio terapeuta.

De acordo com Ellis a TREC é uma abordagem conhecida por sua teoria do modelo ABC,
que reconhece a relevância das emoções e comportamentos, mas realça o papel das
cognições (crenças, pensamentos e imagens mentais). Esse modelo destaca as relações
entre os ‘A’ , referem-se aos acontecimentos (adversidades ou os eventos ativadores),
os ‘B’ (do inglês beliefs), representados pelas as crenças e as avaliações que fazemos
dos acontecimentos e os ‘C’, que são as consequências emocionais e comportamentais
(ELLIS; LANGE, 2004). A figura 1 mostra a representação gráfica do modelo:

Figura 6. Modelo ABC de Ellis.

A B C
Eventos Ativadores Suas crenças seus sentimentos e
Situações específicas e os Eventos comportamentos
E pessoas em situações Ativadores
Fonte: Ellis e Lange (1994).

Esse modelo colaborou demasiadamente para compreender como se dá a influência


dos processos cognitivos no funcionamento emocional e comportamental das pessoas.
E amparou a proposta de que o uso dos métodos lógico-empíricos da ciência podem
combater com eficácia as crenças irracionais. Assim, o modelo ABC tem como objetivo
mudar nossa maneira de pensar, melhorando nossa habilidade de lidar com o estresse
e a ansiedade.

Figura 7. Sensação de bem-estar.

Fonte: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2011/12/saiba-como-aumentar-a-sensacao-de-bem-estar-e-prazer-3598878.html>.

25
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

A terceira onda: terapia cognitiva do presente

A prática clínica da psicologia comportamental foi desenvolvida em três ondas. A primeira


surgiu na década de 1950, com base nos estudos sobre condicionamento na psicologia
comportamental de Ivan Pavlov (EYSENCK, 1994). Nessa época, a preocupação dos
clínicos era com o condicionamento clássico e a aprendizagem operante. Assim, a
proposta da terapia era a mudança dos comportamentos considerados inadequados,
por meio de modificações no ambiente das pessoas.

A segunda onda surge com a revolução cognitivista dos anos 1960, com uma proposta
de um modelo mais racional, que buscava investigar as crenças subjacentes aos
comportamentos e afetos. Essa abordagem sugere que comportamentos e emoções são
mediados por processos cognitivos. Dessa forma, esse é um modelo mediacional entre
a terapia comportamental e a terapia cognitiva (BARBOSA; TERROSO; ARGIMON,
2010). Na segunda onda destacam-se os trabalhos de Albert Ellis, sobre a Terapia
Racional Emotiva e Aaron Beck, com os estudos sobre depressão.

Destarte, a terapia cognitiva comportamental continuou crescendo, assim outros


modelos foram surgindo. A partir dos anos 2000, ocorre a terceira onda, uma
abordagem empírica, que observa o contexto e as funções do fenômeno psicológico,
que se propõe destacar estratégias de mudanças experienciais e contextuais (HAYES,
2004). Diferentemente da primeira e segunda onda, que focavam mudança em algum
conteúdo específico, a terceira onda focaliza a vivência subjetiva do indivíduo com
a proposta de transformar o contexto sócio verbal que promove o pensamento e as
crenças.

As mudanças para a terapia cognitivo-comportamental (TCC) não foi uma solução


adequada para as limitações da terapia comportamental. Dessa forma, a terceira onda
das terapias comportamentais retoma o problema e as contribuições da primeira.
Contudo seu foco ainda é a cognição, porém seu foco que era o conteúdo, agora passa
para o contexto dos pensamentos, sentimentos e sensações. Contudo, a terceira onda
compartilha de cinco princípios comuns em seus métodos (HAYES, 2004):

a. métodos e princípios contextuais – foco em mecanismos de mudança


baseados no contexto e na função dos eventos psicológicos.

b. repertório amplo e flexível – métodos eficientemente aplicados a


síndromes muito distintas.

c. adequação a clientes e clínicos – modelo unificado do funcionamento


humano.

26
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

d. integração com outras vertentes de TCC – incluiu métodos efetivos das


terapias cognitivas e comportamentais.

e. consideração de temas complexos – investiga assuntos típicos de tradições


menos empíricas, como identidade, valores e espiritualidade.

·· Diversos são os modelos de intervenção que representam a terceira


onda, destacando-se: ACT – Terapia de Aceitação e Compromisso,
a FAP – Psicoterapia Analítica Funcional, a TCD – Terapia
Comportamental Dialética e a Terapia Comportamental Baseada
em Mindfulness.A seguir serão detalhados os modelos descritos:

ACT – Terapia de Aceitação e Compromisso

A Terapia de Aceitação e Compromisso foi elaborada por Hayes, baseada na Teoria


dos Quadros Relacionais. Teve seu início na primeira metade do século XX, tendo seus
princípios básicos oriundos das teorias de aprendizagem (HAYES; VILLATTE; LEVIN;
HILDEBRANDT, 2011). Conhecida como “uma abordagem funcional contextual de
intervenção, baseada na Teoria dos Quadros Relacional, que vê o sofrimento humano
como originário da inflexibilidade psicológica promovida pela esquiva experiencial e
fusão cognitiva” (HAYES; STROSAHL; BUNTING; TWOHIG; WILSON, 2010, p. 29).
Podemos ver nessa teoria conceitos de mindfulness, aceitação, comprometimento e
processos de mudança comportamentais para alcance de maior mobilidade psicológica

Diferente das duas primeiras ondas da TCC que apesar de apresentarem métodos
diversificados, compartilhavam do mesmo objetivo, que era o de modificar diretamente
os comportamentos e sentimentos. A ACT não partilha desse objetivo, enfatiza a
relação do indivíduo com os eventos psicológicos, e não dos eventos em si (HAYES,
2008). Assim, o objetivo da ACT é produzir uma flexibilidade psicologia, de maneira
que o paciente aceite seus eventos privados desagradáveis, de maneira que proponha
a importância e a valorização de estratégias que conduza o paciente tenha uma vida
plena, com significados.

Portanto, pode-se dizer que são três os focos de intervenção da ACT: o primeiro é a
Aceitação dos eventos considerados ruins para o paciente, de maneira que ele não
suporte a eles e os sinta para evitar um futuro sofrimento adicional. O segundo foco
está na Escolha, que se baseia na experiência/história do indivíduo sem repetir erros.
E o terceiro foco está na Ação, que deve ser apontada para o futuro e comportamentos
abertos, que podem ser alterados.

27
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

A história da ACT se divide em três períodos: o primeiro ocorreu entre os anos de 1970
e 1980, nessa época a ACT foi chamada de distanciamento compreensivo, que indicava
uma expansão e elaboração da terapia cognitiva. Teve como motivação a teoria de que
o papel desempenhado pelo comportamento verbal e a linguagem desempenhavam na
iniciação, manutenção e tratamento do comportamento anormal, eram primordiais
para o comportamento. O segundo período surgiu entre as décadas de 1985 e 1999,
juntamente com a teoria dos quadros relacionais (TQR) de Hayes, focalizando
comportamental pós-skinerianno da cognição e da linguagem humanas. Nessa época, a
TQR expandiu as compreensões de Skinner sobre comportamento verbal e seguimento
de regras e fundamentou o modelo e as intervenções da ACT. O terceiro período
ocorreu no ano de 2000 e se estende a atualidade. Teve como marco a publicação do
livro Terapia de Aceitação e Compromisso: Uma Abordagem Experiencial à Mudança
do Comportamento (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999).

Assim, a ACT tem sido pesquisada e recebido reconhecimento de ser uma abordagem
contextualista baseada na TQR. Com uma vasta produção científica até o ano de 2012,
com diversos livros publicados em vários idiomas, assim como uma variedade de
estudos clínicos aleatorizados abrangendo temas diversos, como ansiedade, manejo
da diabetes, preconceito, enfrentamento do câncer, transtorno de personalidade
borderline e desempenho esportivo (HAYES; PISTORELLO; LEVIN, 2012).

FAP - Psicoterapia Analítica Funcional

A Psicoterapia Analítica Funcional foi desenvolvida por Kohlemberg e Tsai, tem


como base a análise funcional do comportamento, fundamentada na obra de Skinner.
De acordo com Kohlemberg e Tsai (2004), a diferença entre a FAP e outras terapias
comportamentais, é que esta é uma terapia centrada nas perspectivas dos pacientes e
considera o vínculo terapêutico profundo e íntimo.

Assim, a FAP tem seu foco principal na relação terapeuta/paciente, valorizando as


contingências da sessão. Ocorrendo a modelagem de comportamentos em sessão
e o reforçamento natural de comportamentos assertivos apresentados pelo cliente.
Tem como suportes teóricos: o reforçamento, a especificação dos comportamentos
clinicamente relevantes e a generalização (KHOLENBERG; TSAI, 2004).

No que se refere ao reforço, quanto mais rápida a consequência do comportamento,


maior o efeito da resposta. Vale ressaltar que para determinado tipo de reforço, há o
lugar certo para sua aplicação, como exemplo, alguns comportamentos só podem ser
reforçados dentro do consultório, por isso o foco na relação terapêutica. Os reforços
podem ser “naturais”, que consideram o comportamento já existente, ou “arbitrário”,

28
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

que não promovem benefício para o cliente e sim para quem faz o reforçamento
(KOHLENBERG; TSAI,2004).

Já os comportamentos clinicamente relevantes são denominações tanto para


comportamentos problema, quanto para os desejados. É fundamental a observação
para definição dos CRBs, e o ideal é que eles apareçam na presença do terapeuta. Assim,
exige-se do terapeuta um treinamento que o capacite a identificar e classificar os CRBS.
Para que ocorra a generalização é necessário que a terapia aconteça no mesmo ambiente
em que acontece o problema.

Os comportamentos dos indivíduos podem ser divididos em três categorias:

1. CRBs1: é geralmente a queixa apresentada pelo cliente, os comportamentos


desadaptativos e disfuncionais que ele apresenta.

2. CRBs2: é basicamente a melhora dos CRBs1. Comportamentos que se


tornam mais assertivos e produtivos comparados aos comportamentos
descritos na queixa.

3. CRBs3: aqui é o comportamento de autoanálise feito pelo cliente. Onde


ele aprende a discriminar as variáveis das quais seus comportamentos
são função, podendo assim, agir mais assertivamente no ambiente em
que está inserido.

Para além da divisão dos comportamentos dos indivíduos, a FAP define alguns dos
comportamentos do terapeuta para facilitar a compreensão de como trabalhar com os
CCRs, numerando-os em cinco regras.

»» Regra 1- Prestar atenção nos CRBs do cliente - é importante que o


terapeuta esteja atento observando todo repertório ocorrido na sessão.

»» Regra 2- Evocar CRBs do cliente - quando o relacionamento


terapeuta-cliente é ideal ocorre a evocação do CRB1 e cria condições para
o desenvolvimento do CRB2.

»» Regra 3- Reforçar CRBs2 –essa é uma regra difícil depor em prática,


uma vez que os únicos reforçadores naturais disponíveis na sessão,
para o cliente adulto, são as ações e reações interpessoais entre cliente e
terapeuta.

»» Regra 4- Observar os efeitos da intervenção - enfatiza a importância


dos efeitos das consequências do comportamento sobre sua futura
probabilidade de ocorrência.
29
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

»» Regra 5- Modelar CRBs3 no cliente - fornecendo interpretações de


variáveis que afetam o seu comportamento.

Assim, com a utilização dessas regras, torna-se possível a identificação dos


comportamentos do terapeuta que podem ser eficazes no trabalho clínico.

TCD - Terapia Comportamental Dialética

A terapia comportamental dialética (DBT) foi desenvolvida por MarshaLinehan


em 1984.Inicialmente seu foco foi o tratamento de comportamentos suicidas e
parassuicidas (DIMEFF; KOERNER, 2007), posteriormente foi estendido para algumas
psicopatologias, como transtorno de personalidade borderline (TPB), prescrevendo o
treinamento de habilidades específicas a serem realizadas com os clientes.

O tratamento consiste no equilíbrio de técnicas de aceitação com técnicas de mudança,


com desenvolvimento de metas comportamentais específicas, organizadas em forma
de pré-requisitos, em que a aprendizagem de uma meta é condição para que se
possam promover aprendizagens mais direcionadas dentro das metas seguintes. Esse
tratamento ocorre em três estágios:

1. Alcançando as habilidades básicas: tem como foco obter comprometimento


com o tratamento e reduzir comportamentos que ameacem a segurança
e a saúde do paciente. O terapeuta identifica as cognições, estados
emocionais e consequências interpessoais que impedem o paciente de
adotar um modo mais funcional e o ajuda a encontrar alternativas. De
acordo com Abreu & Abreu (2016), esse processo ocorre por meio do
desenvolvimento de quatro metas terapêuticas:

a. redução de comportamentos de suicídio ou parassuicídio.

b. reduzir comportamentos que interferem na terapia.

c. reduzir comportamentos que interferem na qualidade de vida.

d. promoção de habilidades.

2. Redução do estresse pós-traumático: o foco desse estágio está na meta de


descrever e aceitar as interações aversivas traumáticas vivenciadas pelos
clientes com TPB ao longo de sua vida, como exemplos, abuso sexual,
separação, perdas de pessoas queridas, mudança, ataques alcoólicos dos
cuidadores, ameaças traumáticas dos pares. O terapeuta nesse estágio

30
Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental │ UNIDADE I

leva o cliente a lembrar e aceitar eventos traumáticos, sintetizando as


interpretações sobre abuso físico ou psicológico (ABREU; ABREU, 2016).

3. Solucionando problemas de vida e desenvolvendo o respeito próprio: esse


estágio consiste na utilização da relação terapeuta-cliente para promoção
do reforço dos comportamentos relacionados à capacidade de confiar
em si mesmo, validação de suas próprias opiniões, emoções e ações.
Ressaltando também valores pessoais, identificados nesse período, como
estudar, trabalhar, formar uma família, ser uma ótima mãe. Dessa forma,
o cliente aprende a viver, definir metas de vida, construir autorrespeito
e encontrar paz e felicidade de maneira independente (ABREU; ABREU,
2016).

À guisa da conclusão esses três estágios finalizam a ampla proposta de tratamento para
o TPB, que se inicia na concepção de sua etiologia até a designação do papel de cada
profissional de saúde envolvido na aplicação da DBT (ABREU; ABREU, 2016).

Terapia comportamental baseada em Mindfulness

A terapia cognitiva baseada em mindfulness surgiu na década de 1982. O movimento


cognitivo- comportamental introduziu importantes mudanças nas terapias para os
tratamentos de transtornos psicológicos. Tais mudanças foram marcadas por três ondas,
conforme sinalizado no início desse capítulo. Nessa época a mudança de abordagem
da primeira para segunda onda, que visava à “modificação direta dos conteúdos
problemáticos”, foi denominada de mudança de primeira ordem. Posteriormente,
outras propostas terapêuticas surgiram, entretanto o seu foco estava na “vivência
subjetiva dos conteúdos problemáticos, dando início à mudança de segunda ordem – a
qual o interesse pelo papel de mindfulness se desenvolveu de maneira mais abrangente.”
(VANDENBERGHE; ASSUNÇÃO, 2009).

Figura 8. Pensamento.

Fonte: <http://www.bemparana.com.br/motta/tag/pensamento/>.

31
UNIDADE I │ Fundamentos da Terapia Cognitivo Comportamental e princípios da terapia racional emotiva comportamental

O objetivo da terapia baseada em mindfulness é rever o contexto socioverbal que os


alimenta, transformando a perspectiva que produz significado em relação a uma crença
ou um sentimento, ao invés de modificar os conteúdos de pensamentos e suposições
irracionais.

A literatura sinaliza que a terapia cognitiva baseada em mindfulnessé indicada para


tratamento de depressão, abuso de substância, trauma, comportamento suicida,
transtorno de ansiedade generalizada, transtornos alimentares, transtorno de estresse
pós-traumático (CASTRO, 2014). De acordo com Linehan (1993), o processo dessa
terapia consiste em um treino de mindfulness, em que seus componentes para esta
habilidade são os seguintes.

1. Observar: O paciente aprende a identificar e reconhecer os eventos


e emoções que levam aos comportamentos. De maneira que não use
estratégias de esquiva ou controle das emoções. Observando os conteúdos
como sendo diferentes de si mesmo. Assim, sentimentos e pensamentos
aversivos deixam de ameaçá-lo.

2. Descrever: relatar verbalmente dos eventos e suas reações a eles. Deve


ser uma linguagem descritiva e não avaliativa ou explicativa.

3. Participação plena, sem realizar atividades paralelas do tipo: racionalizar


ou justificar. As habilidades na prática são: (a) não julgar, isto é: não
avaliar, categorizar, descartar ou desqualificar, (b) estar atento, de forma
integral, ou seja, observar uma coisa por vez, (c) agir de forma efetiva, em
concordância com seus valores e alvos pessoais.

As técnicas de mindfulnesse aceitação costumam ser mais utilizadas pelos terapeutas


na terceira onda, diferenciando-as das abordagens anteriores. Entretanto, há também
uma fusão de técnicas e teorias tanto de origem comportamentais como também
oriundas das teorias cognitivas. As práticas de mindfulness afirmam que não é útil
averiguar os conteúdos dos pensamentos negativos: o correto é observá-los e aceitá-los
(VANDENBERGHE; SOUZA, 2006).

32
Processos
Neuropsicológicos Unidade iI
básicos – Modelo
cognitivo

Os processos neuropsicológicos contemplam as relações entre o cérebro e o


comportamento humano. São caracterizados como processos neuropsicológicos
básicos: sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação,
aprendizagem, que derivam tanto das interações de processos inatos quanto de
processos adquiridos, atrelado a relações das experiências e vivência do individuo com
o meio.

O terapeuta tem por objetivo principal investigar as alterações observadas no


comportamento do paciente com as possíveis áreas cerebrais envolvidas, para uma
possível reestruturação de processos disfuncionais, que pode ser desenvolvida por um
intermédio de um modelo cognitivo.

O modelo cognitivo surge durante a década de 1960, com o trabalho de Aaron T.


Beck, em decorrência de estudos sobre depressão. Os fundamentos do modelo
cognitivo consistem na tese de que os pensamentos da pessoa afetam diretamente o
seu comportamento e a sua maneira de sentir. Desse modo, uma deformação na sua
capacidade de percepção sobre uma determinada situação poderia refletir no seu
humor na maneira de o indivíduo se comportar e de sentir até um limite em que essas
suas características passem a perder a sua função (BECK, 1997).

Tais pensamentos são construídos com base nas crenças que cada indivíduo possui
de si mesmo e de terceiros. Dessa maneira, o modelo cognitivo é formado por:
crenças centrais, crenças intermediárias (regras, atitudes, suposições) e pensamentos
automáticos. O Quadro 1 apresenta a representação do Modelo Cognitivo baseado em
Beck (1997), que será descrito nesta unidade.

33
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

Quadro 2. Modelo Cognitivo de Beck

Crença Central Eu não sou adequado


1- Atitude É péssimo não ser adequado
2- Suposições:
2.1- Trabalhando mais duro, consigo realizar bem as coisas;
2.1-positivas
Crenças Intermediárias 2.2- Sem trabalhar com afinco, vou fracassar
2.2-negativas
Eu sempre deveria empreender o máximo de esforço;
3- Regras
Eu deveria buscar a excelência em todas as coisas que procuro realizar
Eu não tenho permissão para realizar isso;
Pensamentos automáticos quando
Isso é complexo por demais;
deprimido
Eu nunca irei aprender
Fonte: Beck (1997).

34
Capítulo 1
Pensamentos automáticos

A terapia cognitiva abrange três diferentes níveis para identificação e reestruturação


da cognição. São eles: pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças
nucleares. Sendo os pensamentos automáticos o nível de cognição mais superficial na
terapia cognitiva (BECK, 1997).

Em todo o tempo ocorrem pensamentos, eles surgem espontaneamente e sem indagações


a respeito da sua fidedignidade ou da sua legitimidade ou serventia. Geralmente, não os
percebemos de forma consciente, pois normalmente ocorrem de modo repentino, não
voluntário e espontâneo (KNAPP; BECK, 2008). Possivelmente acontecem de maneira
verbalizada ou até mesmo de imagens. Usualmente, são admitidos como legítimos,
sem um exame mais crítico, numa espécie de coexistência com o encadeamento de
pensamentos de maior manifestação. Contudo, estão ligados aos nossos sistemas de
crenças centrais e subjacentes.

De acordo com Aaron Beck, os pensamentos que surgem de modo automático


usualmente apresentam um espectro negativo, excetuados os casos em que o paciente é
excêntrico ou hipocondríaco, apresente transtorno de personalidade de cunho narcisista
ou mesmo que seja um usuário contumaz de drogas. Os pensamentos automáticos
também são comumente breves e o paciente frequentemente tem mais consciência da
emoção vinculada ao pensamento do que o próprio conteúdo do pensamento em si.
Tais pensamentos influenciam o comportamento, no que optamos ou não por fazer e
na qualidade do nosso empenho. Sofrem influência das crenças assimiladas ainda na
fase da infância, e também do meio cultural, e ajudam a definir o estado de humor que
experimentamos.

Rangé (2001) salienta que por meio dos pensamentos automáticos é que é possível
compreenderas circunstâncias que o originaram e as diferentes espécies de distorção
cognitiva que dão esteio às patologias que temos de enfrentar. Desse modo, os
pensamentos automáticos são o elemento central entre o estímulo-reação emocional.
Desta forma, é de extrema importância que sejam identificados para a compreensão
das emoções, conhecimento e acesso ao conteúdo psíquico. Segundo Beck (1997), são
três os tipos de pensamentos automáticos.

1. Distorcidos, acontecendo ainda que em face de evidências opostas.

Ex.: “Ao me divorciar, jamais alcançarei a felicidade novamente.”

35
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

2. Precisos, porém com inferências irregulares.

Ex.: “Minha filha até agora não me ligou, possivelmente está chateada comigo.”

3. Precisos, mas totalmente disfuncionais.

Ex.: “Tenho muita coisa para fazer, levarei o dia todo, ficarei exausta”. Apesar
de pensar corretamente a concentração e a motivação é reduzida.

Os pensamentos automáticos caracterizam-se como disfuncionais, quando os


indivíduos interpretam erroneamente situações neutras e até positivas. Isso acontece
quando há uma distorção da realidade, quando esses pensamentos se apresentam com
características emocionais aflitivas, afetam a capacidade de o paciente alcançar metas e
geram comportamentos mal adaptados.

Knnap (2004) apresenta uma síntese das características dos pensamentos disfuncionais,
conforme apresenta a figura 9:

Figura 9. Características dos pensamentos disfuncionais.

»» Existem juntamente com o fluxo de pensamentos manifestos.


»» Surgem de maneira espontânea, não como produto de uma reflexão ou desejo.
»» Geralmente são admitidos como legítimos, sem nenhum exame mais crítico.
»» Podem passar despercebidos, quando não monitorados, a emoção relacionada é usualmente mais percebida.
»» Emoções específicas estão relacionadas, associadas ao seu conteúdo e significado.
»» Frequentemente são abreviados, velozes e efêmeros, num modelo de telegrafia.
»» Possivelmente acontecem de maneira verbalizada ou com a formação mental de imagens.
»» É possível aprender como identificar os pensamentos ditos automáticos.
»» É possível valorá-los no que diz respeito à sua legitimidade e/ou serventia.

Fonte: Knnap (2004).

De acordo com Knnap e Beck (2008), normalmente os indivíduos são desprovidos


da consciência de que os sentimentos desagradáveis e as inibições de ordem
comportamental são posteriores aos pensamentos automáticos negativos, ao passo
que emoções consistem com aquilo que está contido nos pensamentos automáticos.
Um modo de incrementar a consciência acerca desses pensamentos é utilizando as
técnicas cognitivas, que ensinam aos pacientes a identificar e substitui os pensamentos
automáticos disfuncionais.

Geralmente, as pessoas com transtornos psicológicos leem equivocadamente situações


de neutralidade ou até positivas, de maneira que seus pensamentos automáticos sejam

36
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II

tendenciosos (WRIGHT et al., 2008). Esses pensamentos possivelmente originam


reações de carga emocional eivada de sofrimento e uma conduta comportamental de
funcionalidade imprópria. De acordo com os autores, a manifestação de fortes emoções
é caracterizada como um indício importante de que os pensamentos automáticos podem
estar ocorrendo.

A terapia Cognitiva Comportamental oferece algumas técnicas que ajudam o paciente


a aprender a perceber os seus pensamentos automáticos não funcionais. Assim, o
terapeuta auxilia o paciente a identificar quais foram os tipos de pensamentos ocorridos
logo previamente a uma manifestação emocional, uma conduta comportamental e uma
resposta de ordem fisiológica como resultado de tal pensamento. Essa identificação
promoverá uma mudança de comportamento e consequentemente uma melhora nos
transtornos psicológicos.

O processo terapêutico tem como base o modelo cognitivo de Beck (1997) que inclui:
situação, pensamento automático e reação (emoção, comportamento e resposta
fisiológica). Segundo Beck (1997), os pacientes confundem emoções com pensamentos,
desta forma, o terapeuta tem que estar atento na ocorrência dessas situações.
Segundo a autora, em alguns momentos confundir pensamento comum sentimento
é “relativamente irrelevante em um determinado contexto, sendo melhor abordar a
“confusão” ao discutir algo mais tarde “(p. 106). A autora sugere ao terapeuta ignorar
tal confusão. Em outros momentos essa “confusão” é considerada importante, sendo
sugerido que o terapeuta posteriormente realize a distinção entre pensamentos e
emoções. A relação entre pensamentos, emoção e comportamento deve fazer sentido
para o terapeuta e também combinar com seu pensamento automático, quando isso
não acontece, o terapeuta deve investigá-la.

De acordo com Wright et al. (2008) várias pesquisas confirmaram que os indivíduos
deprimidos, que sofrem de transtorno de ansiedade e diferentes patologias psiquiátricas
possuem uma elevada incidência de pensamentos automáticos com distorção, vis a vis
os estudos de Blackburn et al., (1986); Haaga et al. (1991, 1986), Wright et al.,(2003).
Enquanto outros estudos relatam que os pensamentos automáticos na depressão
estão vinculados a questões de falta de esperança, reduzida autoestima e derrota, ao
passo que nos transtornos de ansiedade, relacionam-se com antevisões de situações
perigos as, danos, ausência de controle ou falta de habilidade para enfrentar situações
intimidadoras, como exemplo: Clark et al. (1990); Ingram e Kendall (1987); Kendall e
Hollon (1989).

37
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

Figura 10. Pensar.

Fonte: <http://lcmtreinamento.com.br/wp-content/uploads/2014/10/pensar.jpg>.

38
Capítulo 2
Crenças intermediárias ou subjacentes

As crenças intermediárias, também denominadas pressupostos subjacentes ou


pressupostos condicionais (BECK, 1997), são construções cognitivas disfuncionais,
responsáveis pelos pensamentos automáticos. Entretanto, encontram-se mais
arraigadas do que os próprios pensamentos automáticos e tem por finalidade conferir
mais sentido ao meio. Configuram um caminho para acessar o modelo cognitivo do
indivíduo, uma vez que elas orientam as ações e posturas cotidianas do indivíduo.

São as crenças intermediárias que operacionalizam as crenças centrais. Elasse situam


no segundo nível de cognição projetado por Beck, são consideradas como normativos,
padronizações, regulamentos, premissas e ações que promovemos como guia de conduta.
Geralmente, são identificadas na forma condicional (Se..., então...) (RANGÉ, 2001).
Embora não sejam tão facilmente modificáveis quanto os pensamentos automáticos,
são mais flexíveis do que as crenças centrais. As crenças intermediárias se manifestam
por meio dos elementos a seguir.

»» REGRAS: (“eu preciso...”) - “Preciso alcançar a perfeição em todas as


coisas que realizo.”, “não convém mostrar como sou na realidade, pois
perceberão o quanto sou incompetente.”

»» ATITUDES: (“é preciso que...”) - “É péssimo não ser competente.” “É


péssimo desperdiçar seu potencial.”

»» SUPOSIÇÕES: (se eu...) - “Se conservar a minha posição, eu estarei bem.


No entanto, se tentar mudanças, já não poderei mais ficar bem”. “Se
cometo erros, significa que na verdade eu sou uma má pessoa.”

Apesar de o indivíduo construir e manter os pressupostos subjacentes na tentativa


de trabalhar as suas crenças nucleares não funcionais, eles acabam confirmando e
reforçando-as. Uma tentativa de auxilio para trabalhar com as crenças aflitivas são as
estratégias compensatórias, identificadas como comportamentos de enfrentamento,
frequentemente ligadas à crença central pelas amplas suposições do paciente. Tais
condutas comportamentais de embate correlacionam-se diretamente direta com os
regramentos e os pressupostos não funcionais e terminam por solidificar mais ainda as
crenças (BECK, 1997).

Desse modo, o conceito de crenças intermediárias assume que, se regulamentos,


padrões, normas e atitudes forem realizados, alcançar-se-á um resultado positivo, como
39
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

exemplo: fazendo a vontade do outro, ele irá nutrir bons sentimentos por mim. Todavia,
caso eventualmente esses requisitos não sejam preenchidos, o cidadão se torna mais
suscetível a sofrer transtornos emocionais, vez que dessa maneira as crenças centrais
negativas passam a se intensificar (KNAPP, 2004).

As crenças intermediárias retratam entendimentos ou ideias mais aprofundados e mais


resilientes a alteração do que os pensamentos automáticos. É o modo de que o cidadão
dispõe para diminuir a angústia provocada pela crença central (BECK, 1997). A autora
acrescenta que, assim como no caso das crenças centrais, os pensamentos automáticos
são mais acessíveis à consciência do que as crenças intermediárias, que podem ser
introduzidas ou removidas com auxílio das técnicas cognitivas apropriadas e testadas.

Algumas estratégias são apresentadas por Beck (1997) para identificação das crenças,
como as seguintes.

1. Distinguir quando uma crença é anunciada como um pensamento


automático.

2. Organizar a primeira parte de uma suposição.

3. Obter diretamente uma regra ou atitude.

4. Usar a técnica da flecha descendente.

5. Analisar os pensamentos automáticos do paciente e explorar temas


comuns.

6. Conferir questionário de crença respondido pelo paciente.

Além das estratégias para identificação das crenças, Beck (1997) relata algumas
técnicas a serem utilizadas para tal identificação, as quais também são utilizadas para
identificação dos pensamentos automáticos:

»» Pensamento socrático

»» Experimentos comportamentais

»» Continuum cognitivo

»» Role-play racional emocional

»» Usar os outros como ponto de referência

»» Dramatizar “como se”

»» Autorrevelação

40
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II

Geralmente, as crenças intermediárias são modificadas antes das crenças centrais, vez
que podem ser muito inflexíveis. Assim, após relatar as estratégias para identificação
das crenças e as técnicas para o alcance de sua mudança, Beck (1997) apresenta uma
síntese de como acontece o processo de modificação:

O terapeuta ajuda o paciente a identificar as crenças intermediárias


reconhecendo quando uma crença foi expressa como um pensamento
automático, provendo parte de uma suposição, obtendo diretamente
uma regra ou uma atitude, usando a técnica da flecha descendente,
procurando temas comuns entre os pensamentos automáticos do
paciente e/ou revisando um questionário breve de crenças preenchido
pelo paciente. O terapeuta, a seguir, determina quão importante a crença
é apurando quão fortemente o paciente acredita nela e quão ampla e
fortemente ela afeta seu funcionamento. Então, ele decide quanto a
começar a tarefa modificando-a na sessão presente ou aguardando as
sessões futuras. Quando começa o trabalho de modificação de crenças,
o terapeuta educa o paciente sobre a natureza de crenças, muda regras
e atitudes em forma de suposição e explora as vantagens e desvantagens
de uma determinada crença. Ele mentalmente fórmula uma nova crença
mais funcional e orienta o paciente em direção a sua adoção através de
muitas técnicas de modificação de crença, incluindo o questionamento
socrático, as experiências comportamentais, continnun cognitivo,
role-play racional-emocional, uso de outros como um ponto de
referência, agindo “como se” e autorrevelação“ (p. 173).

Assim, no processo terapêutico após a identificação de uma crença, o terapeuta define


se esta é central ou intermediária, geralmente, tem como foco as crenças intermediárias
mais importantes, em seguida se inicia a estratégia para o tratamento.

41
Capítulo 3
Crenças centrais

As crenças centrais são usualmente consideradas como conteúdos de cognição não


flexíveis e aprofundados, concepções centrais que o indivíduo possui sobre o “eu”, das
outras pessoas e de todo o, que selecionam a nossa percepção das circunstâncias e
afetam nossas condutas comportamentais e nossas reações emocionais (BECK, 2007).
É o nível mais fundamental do pensamento. Fazem parte da formação do caráter do
indivíduo, em relação aos quesitos psicossociais, quesitos assimilados que afetam a
própria personalidade da pessoa.

Essas crenças também têm natureza absolutista, de espectro geral e cristalizadas,


possivelmente se mantém escondidas durante o tempo todo, sendo acionadas por
ocasião dos transtornos de ordem emocional (BECK, 1997) e independente da
experiência vivida pelo indivíduo, ele irá pensar do mesmo modo conforme suas
crenças (KNNAP, 2004). Podem ser crenças sobre si (Eu sou um incompetente), sobre
os outros (As pessoas estranhas não são confiáveis) e sobre o mundo (O mundo é
perigoso e hostil) (RANGÉ, 2001).

As crenças surgem logo nos primeiros experimentos de aprendizado na infância e se


consolidam no decorrer da vida, dando forma à maneira de perceber e interpretar
os acontecimentos e a nossa maneira psicológica de existir. Ainda que à vista de
experimentos que não as confirmem, essas crenças podem se tornar convincentes na
fase adulta (RANGÉ, 2001)

A maior parte dos indivíduos é capaz de conservar as crenças centrais positivas por
um longo tempo de vida, como exemplo, “Eu estou substancialmente no controle”, “Eu
posso fazer a maior parte das tarefas de maneira bastante competente”, “Sou um que
desempenha bem as suas funções”, “Sou um ser humano amável”, “Eu tenho dignidade”
(BECK, 1997). Já as crenças centrais negativas podem surgir apenas em momentos de
aflição psicológica. Com exceções em alguns pacientes com transtorno de personalidade
em que as crenças centrais negativas são acionadas continuamente.

Alguns autores também denominam as crenças nucleares de esquemas, entretanto, Beck


(1997) distingue as duas conceituações. Propondo que os planos são representações
cognitivas do pensamento, que conferem à experimentação a sua modelagem e significação
e ainda proveem a estrutura elementar dos sistemas afetivo, cognitivo e de comportamento
no decorrer do tempo e dos acontecimentos. Já a crença central é o conteúdo dessa
estrutura, que são as representações internas encontradas nas informações recebidas

42
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II

do sistema de processamento de dados, que provemos fundamentos para intelecção dos


experimentos da vida (CLARK; BECK; ALFORD, 1999).

As crenças centrais são consideradas como os esquemas de maior interesse para a clínica
cognitiva, pois estão relacionados intensamente aos estados afetivos e aos padrões
comportamentais. Assim, esses esquemas exercem um papel central na manutenção
das patologias e problemas psicológicos (PADESKY, 1994), vez que estabelecem a
maneira como a pessoa irá interpretar as informações.

Diferentemente dos pensamentos automáticos, a crença central que os pacientes


acreditam ser legítima acerca de si mesmos, não é percebida na sua totalidade, sendo
necessário o terapeuta auxiliá-lo na sua identificação a respeito do sentido dos seus
pensamentos com o auxílio da técnica da flecha descendente. Os pacientes também
podem ter crenças centrais negativas sobre outros indivíduos e seus universos e que
assim como as crenças centrais a respeito de si próprios, merecem ser examinadas e
alteradas, como exemplo, “As outras pessoas não são confiáveis, “As outras pessoas vão
magoar-me”, “O mundo é um lugar corrompido” (BECK, 1997).

As crenças centrais quando disfuncionais provocam uma predisposição ao acontecimento


de transtornos emocionais, bloqueando o alcance de metas, são associadas a emoções
fortes, tornando-se ativas em situações relacionadas a vulnerabilidades específicas do
indivíduo e são idiossincráticas (cada indivíduo reúne as suas características). Uma
pessoa que desenvolve um esquema de fobia social pode desenvolver uma crença central
como “sou incapaz de ser amado”.

Figura 11. Indivíduo fóbico social

Exemplo: Indivíduo Fóbico Social

Sou incapaz de ser amado (CRENÇA CENTRAL)


É perigoso interagir com as pessoas, pois elas não vão gostar de
mim. (ATITUDE)
Para não ter problemas, não devo interagir com as pessoas
(REGRA)
Se eu interagir com as pessoas elas não vão me aceitar como sou.
Devo me afastar, caso contrário me machucarão (SUPOSIÇÃO)

Não vou ter assunto para conversar na festa.


(PENSAMENTO AUTOMÁTICO)

Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/5588477/>.

43
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

Beck (1995, citada por KNNAP, 2004), relata que as crenças nucleares disfuncionais
podem ser apresentadas em três grandes agrupamentos, como exemplo:

1. crenças nucleares de desamparo (Helplessness);

Crenças a respeito de ser impotente, apresentar características de fragilidade,


carência, vulnerabilidade, necessidade e desamparo.

2. crenças nucleares de ausência de amor (Unlovability);

Crenças que levam a pessoa a se sentir não amada, sem capacidade de se fazer
gostar, sem capacidade de ser amada, não atrativa, com imperfeições, passível
de rejeição, deixada ao abandono, só.

3. crenças nucleares de desvalor (Unworthiness).

Crenças a respeito de se sentir incapaz, sem competência, não adequado, não


eficiente, imperfeito, cheio de defeitos, perdedor, enganador, sem qualquer
valor.

O fim da Terapia Cognitiva é transformar essas crenças centrais disfuncionais e, assim,


organizar a vida do indivíduo, sem permitir, talvez, que ele possa conceber precisamente
o que está se passando. A partir da alteração da organização dessas crenças, pode ser
realizada a reestruturação cognitiva (KNAPP; BECK, 2008).Esse objetivo é alcançado
por meio do modelo cognitivo, que é uma definição elementar para a teoria e para a
prática clínica no âmbito da psicologia cognitiva. Dessa maneira, é possível perceber
que existe uma modelagem teórica que ajuda na prática e que abrange uma ordenação
hierárquica de funções cognitivas que se inicia nas crenças centrais, passando pelas
crenças intermediárias (ou regramentos, ações, pressuposições) e também pelos
pensamentos automáticos, até chegar nas emoções e nas sensações do corpo.

A figura 12 mostra a hierarquia das funções cognitivas, conforme modelo cognitivo.

Figura 12. Modelo Cognitivo

MODELO COGNITIVO

A nossa forma de ver/pensar uma situação influencia a nossa forma de


agir e sentir emocionalmente e fisicamente

Crença central

Crença intermediária

Corporal
Situação
Pensamentos Automáticos Reações Comportamental
agora
Fonte:<http://images.slideplayer.com.br/16/5250559/slides/slide_18.jpg>
Emocional

Fonte: <http://images.slideplayer.com.br/16/5250559/slides/slide_18.jpg>.

44
Capítulo 4
Conceituação cognitiva

Nas diversas formas de terapia cognitiva originadas a partir do modelo Beck, a base do
tratamento consiste tanto em uma formulação cognitiva de um determinado transtorno
como também na sua apresentação à percepção ou compreensão do cliente. Assim, o
terapeuta deve iniciar o tratamento com a conceitualização cognitiva e pode retomá-la
a cada novo contato.

A conceituação cognitiva, também chamada de conceitualização cognitiva, formulação


de caso, enquadre cognitivo do caso ou conceituação de caso, assume o papel de um
mapa que direciona o desenvolvimento do trabalho do terapeuta junto ao cliente
(BECK, 1997). Para realização da conceituação cognitiva é empregado o diagrama de
conceituação cognitiva, que consiste em um formulário ou em um quadro coordena e
articula todas as crenças centrais, intermediárias e também os pensamentos automáticos
do paciente, que auxilia o terapeuta na construção da estrutura para a compreensão
das características de cada paciente em toda a sua subjetividade e ajuda, ainda, no
planejamento das estratégias de terapia que virão a ser adotadas durante o tratamento
(PERSONS, ROBERTS, ZALECKI; BRECHWALD, 2006).

A conceituação cognitiva é classificada como um procedimento a partir do qual


o psicoterapeuta e o paciente coparticipam, objetivando, de início, detalhar e, na
sequência, exporas angústias apresentadas pelo cliente. A meta primordial consiste em
direcionar o trabalho terapêutico, de modo a mitigar o sofrimento e contribuir com
a formação de resistência da parte do cliente. (KUYKEN, PADESKY; Dudley, 2010).
É tida, também, como uma proposição de adesão do cliente para com a terapia, vez
que, com a concretização da mesma, é possível observar um crescimento motivacional
e no entendimento de todo o processo terapêutico da parte do cliente e também do
profissional terapeuta.

Certos estudos indicam que a conceituação cognitiva é o coração, o ponto primordial


da TCC(BECK, 1997; BECK, 2007; KUYKENETAL., 2005; PERSONS et al., 2006).
Todavia, a fim de que uma conceituação cognitiva produza os efeitos desejados, o
psicoterapeuta deve buscar examinar determinadas características específicas junto ao
seu cliente, a saber: a diagnose clínica, as problemáticas recentes relatadas pelo cliente,
junto com os fatores de estresse que os precipitaram, suas predisposições de ordem
genética e de família, seus pensamentos automáticos (PAs), suas crenças intermediárias
ou subjacentes e suas crenças centrais ou nucleares (KNAPP, 2004).

45
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

Os aspectos a serem investigados com o cliente são identificados por meio de uma
coleta de dados sobre todas as suas queixas. Esses dados apresentam o esclarecimento
das razões para que as dificuldades venham a se desenvolver, assim como dos fatores
que as conservam, além da faculdade de que sejam realizados prognósticos acerca
da conduta comportamental do cliente, levando em conta determinadas condições
sinalizadas. Destarte, de posse dessas informações, o terapeuta faz uma relação dos
conflitos do cliente, que devem ser ordenados conforme as maiores prioridades, e quais
os problemas que serão abordados na terapia. Esses dados são descritos no diagrama
de conceituação cognitiva de Beck., apresentado no quadro a seguir. .

Quadro 3. Diagrama de Conceituação Cognitiva de Beck.

Dados relevantes da infância


Que experiências contribuíram para o desenvolvimento e manutenção da crença central?
Crenças Condicionais
Que suposição positiva o ajudou a lidar com a crença central?
Qual é a contraparte negativa para essa suposição?
Qual é a crença mais central sobre si mesmo?
Crença Central
Qual é a crença mais central sobre si mesmo?
Estratégias Comportamentais
Que comportamentos o ajudam a lidar com a crença?
Situação 1 Situação 2 Situação 3
Qual foi a situação problemática?
Pensamentos Automáticos Pensamentos Automáticos Pensamentos Automáticos
O que passou por sua cabeça?
Significado Significado Significado
O que o pensamento automático significou para
ele?
Situação problemática?
Emoção Emoção Emoção
Que emoção esteve associada ao pensamento?
O que o pensamento automático significou para
ele?
Situação problemática?
Comportamento Comportamento Comportamento
O que o cliente fez então?
Fonte: Beck (1997).

O terapeuta decide quando, como e o quanto da conceituação confeccionada por ele


originalmente poderá ser compartilhada com o cliente (BECK, 1997),sendo necessário
verificar com o cliente a confirmação do conteúdo relatado. Alguns autores também
relatam a grande relevância de que a conceituação cognitiva seja elabora em conjunto
com o cliente (KNAPP, 2004; KNAPP; BECK, 2008).

46
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II

A conceituação cognitiva de um cliente é essencial na determinação do planejamento das


estratégias para eficiência e efetividade do tratamento, pois direciona o psicoterapeuta
na seleção dos marcos que deverão ser investigados e trabalhados e, ainda, e das
interveniências psicoterápicas a serem realizadas (KNAPP; BECK, 2008). Sem ela, a
totalidade da psicoterapia se limitará à execução de diversas técnicas de cognição e
comportamento, sem que isso resulte em um trabalho eficaz.

De acordo com (KNAPP, 2004) a conceituação cognitiva se vincula a um grupo


pré-determinado de pensamentos automáticos (PAs), crenças intermediárias e crenças
centrais. Assim, cada pessoa e cada transtorno de ordem psicológica psicológico
demanda certa conceituação cognitiva específica e individual. Assim, a estratégia de
aplicação da TCC deve buscar como base a conceitualização cognitiva do cliente no
moldes de cognição específicos de cada patologia psicológica.

Assim, indivíduos com crenças centrais negativas sobre eles próprios possivelmente
apresentarão, de um modo geral, conceitos incluídos nas seguintes classificação:
falta de amparo (sentimento de falta de competência), desamor (sensação de que não
merece o amor de outras pessoas) e desvalorização (diferentes aspectos morais no seu
modo de pensar e agir, representando uma significação negativa da própria natureza
do indivíduo) (BECK,2007). O Quadro 4 demostra alguns exemplos de crenças centrais
negativas sobre si. Tais crenças são identificadas em cada uma das três categorias.

Quadro 4. Exemplos de crenças centrais negativas sobre si nas diferentes categorias.

Categorias de crenças Exemplos de crenças centrais negativas sobre si


centrais negativas
sobre si
Desamparo Sou incapaz, inadequado, ineficiente, fraco, descontrolado, uma vítima, vulnerável, sem recursos, passível de maus-
tratos, inferior, um fracasso, um perdedor.
Não consigo me proteger, não consigo mudar, não tenho atitude/objetivo, não sou bom o suficiente, não sou igual
aos outros.
Desamor Sou indesejável, indigno de amor, diferente, feio, defeituoso, imperfeito, monótono, negligenciado, rejeitado,
abandonado, sozinho, relegado à própria sorte.
Não sou amado, querido, bom o suficiente para ser amado.
Desvalorização Sou sem valor, inaceitável, mau, louco, derrotado,
Um nada, um lixo, cruel, perigoso, venenoso, maligno
Não mereço viver, receber atenção.
Fonte: Neufel&Cavenage (2010)

Essas categorias apresentadas no quadro 4 podem surgir isoladamente ou de maneira


combinada, de diversas formas. Para que haja um planejamento apropriado para a
psicoterapia, é importante que o terapeuta colete informações com vistas a confeccionar
teses para futura confirmação ou não da parte do cliente para apontar que espécie de
crenças negativas ele tem a respeito de si, vez que, apesar de as categorias de crenças
47
UNIDADE II │ Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo

centrais negativas sobre si serem o foco principal da intervenção psicoterápica, elas não
são as únicas apresentadas pelo cliente.

Para realização da conceituação cognitiva são encontrados na literatura vários modelos


explicativos. Neufel&Cavenage (2010) apresentam alguns modelos teóricos explicativos
encontrados sobre o funcionamento cognitivo relacionado aos transtornos. E relatam a o
quanto é importante que o terapeuta tenha conhecimento sobre as modelagens teóricas
explicativas sobre a conceitualização cognitiva direcionada a transtornos e grupos
determinados, a saber: para transtornos afetivos (LIMA, KNAPP, BLAYA, QUARANTINI,
OLIVEIRA; LIMA, 2004; LOTUFO, YACUBIAN, SCALCO; GONÇALES, 2001);
transtorno de estresse pós-traumático (CAMINHA, 2005; KNAPP; CAMINHA, 2003);
transtorno de pânico (RANGÉ; BORBA, 2008); fobia social (MOSCOVITCH, 2009);
transtorno dismórfico corporal (DIDIE,REINECKE, & PHILLIPS, 2010); transtornos
alimentares (DUCHESNE; APPOLINÁRIO, 2001); transtorno do pensamento formal
como esquizofrenia e transtorno delirante (A. BECK ECOLS., 2010); transtornos de
personalidade (J. BECK, 2007; PEREIRA, 2004; SUDAK, 2008); casais (DATTILIO,
2004; DATTILIO; PADESKY, 1995); intervenções em grupos (GREANIAS; SIEGEL,
2003; WHITE, 2003); e intervenções com crianças (CAMINHA; CAMINHA, 2007;
STALLARD, 2007).

A conceituação cognitiva deve iniciar com uma avaliação dos problemas do cliente, que
segundo Rangé (2001) são inclusas nessa avaliação: a identificação dos problemas do
cliente e das experiências de vida que a antecederam, as histórias familiares e de seu
desenvolvimento, as medidas padronizadas de transtorno de ansiedade, depressão e
específicos relacionados aos seus problemas, as medidas específicas (ataque de pânico,
evitação a situações temidas e pensamentos disfuncionais) e especificação de metas.

Assim, de acordo com Beck (1997) após a avaliação inicial o terapeuta vai formular
suposições acerca de:

a. experimentações na desenvolução do paciente que concorreram para a


edificação da crença central;

b. possíveis crenças intermediárias (regras e suposições) e pensamentos


automáticos;

c. estratégias cognitivas, afetivas e de ordem comportamental praticadas


pelo cliente no confronto com as suas crenças disfuncionais;

d. fatores de estresse que concorreram para o surgimento das dificuldades


psicológicas.

48
Processos Neuropsicológicos básicos – Modelo cognitivo │ UNIDADE II

Enfim, para eficácia na conceituação cognitiva é necessário que o terapeuta adquira


capacidades de conceituação de situações por meio de treinamentos e supervisão que
deem base para realizar uma análise crítica e para submeter a teste as suposições
teóricas que sejam correlacionadas com a vida de um cliente que apresente reclamações,
experiências e circunstâncias específicas. Assim como capacidade de exame e
compreensão profundas sobre o funcionamento de um sistema de crenças (NEUFEL;
CAVENAGE, 2010).

49
Avaliação e
Técnicas de Unidade iII
Atendimento em
TCC

A avaliação é considerada como o processo primordial na Terapia Cognitiva


Comportamental, pois é por meio dela que serão definidas todas as estratégias de
tratamento do cliente. É um processo, complexo, contínuo e que deve ser reformulado
no decorrer do tratamento e pode ser caracterizado por determinados padrões a seguir
(GONÇALVES, 2000).

»» Avaliação multidimensional das cognições, emoções e


comportamentos: definição operacional das variáveis comportamentais,
das variáveis cognitivas e das variáveis emocionais.

Relações funcionais entre meio, comportamento, emoções e cognições: com a análise

»» Relações funcionais entre meio, comportamento, emoções e


cognições: a partir da análise funcional, que visa clarificar objetivamente
o significado da relação entre estímulos antecedentes, as respostas
(emocionais, cognitivas e motoras) e consequências.

»» Comportamentos, cognições e emoções: como amostra de um


padrão comportamental mais vasto.

Comportamentos, cognições e emoções como amostra:

»» Ligação entre avaliação e tratamento: essa ligação está patente


no valor terapêutico que assume muitos dos procedimentos usados
para avaliar e identificar as variáveis responsáveis pela manutenção de
comportamentos desviantes.

Esse processo é composto por duas fases, que visam finalidades distintas,
entretanto, são complementares e não se separam: a etapa inicial é a da descrição
cognitivo-comportamental ou Analise E.O.R.C., sendo E correspondente à avaliação de
estímulo; o O à avaliação do organismo; o R à avaliação da resposta e o C. corresponde
à avaliação da consequência.

50
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

A etapa dois é a da formulação e conceitualização cognitivo-comportamental ou análise


funcional, que diz respeito às técnicas de formulação comportamental (GONÇALVES,
1990).

Segundo o autor, nesse processo a entrevista de avaliação comportamental deve ser


estruturada e seguir seis passos fundamentais:

1. a iniciação de uma relação de ajuda, estruturação do processo e análise


das expectativas do cliente;

2. avaliação do funcionamento global do cliente e dos sistemas nos quais ele


se encontra inserido;

3. a definição e análise detalhada das várias áreas problemáticas;

4. o estabelecimento de um diagnóstico psicopatológico;

5. a formulação de uma conceitualização comportamental dos problemas


do cliente;

6. a finalização, por meio da integração dos dados e da sua devolução ao


cliente.

No processo de avaliação também são identificadas quais as técnicas de atendimento


serão utilizadas na terapia. As técnicas de atendimento terapêutico podem ser:

a. cognitivas, que tem como objetivo a identificação dos pensamentos


automáticos; reconhecimento das conexões entre estes pensamentos,
afetos e comportamentos, os seus testes na realidade e a substituição das
distorções cognitivas e esquemas disfuncionais por interpretações mais
realistas.

b. comportamentais, que tem como objetivo a observação, experimentação


e modificar dos sintomas comportamentais; produzir uma determinada
mudança no organismo, ou seja, uma resposta automática por meio
de estímulos, das cognições associadas a comportamentos específicos
(PAULA; DURÃES, 2015)

A Terapia Cognitiva comportamental possuem técnicas psicoterápicas as quais ajudam


a identificar, avaliar, controlar e a modificar as crenças que controlam a visão de um
todo e que podem ser disfuncionais. A identificação de pensamentos distorcidos é o
foco da terapia, sua constatação na realidade e a correção dos mesmos, com intuito
de alterar as crenças disfuncionais que se encontram subjacentes a estes pensamentos

51
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

distorcidos. Para isto ela utiliza-se de diversas técnicas cognitivas e comportamentais


(CABALLO, 1996).

Segundo Caballo (1996) as técnicas cognitivas são as seguintes.

»» O controle diário dos pensamentos disfuncionais: ensina os


pacientes a autorregistrar suas cognições.

»» Comprovação da realidade: tenta provocar uma descrição precisa


de uma situação, ao considerar a informação dos fatos reais, através de
perguntas que levam à comprovação da realidade.

»» Técnicas de reatribuição: auxilia o paciente a explorar e considerar


outras possíveis causas aos seus fracassos, ao invés de focar em uma
somente.

»» Solução de problemas: um tipo de terapia por si mesmo, consiste no


próprio paciente definir e avaliar a solução para os seus problemas.

»» O esboço de experiências: motivar o paciente a tentar esboçar suas


experiências, mesmo que não se sinta capaz de realizá-la, como nos casos
de pacientes com depressão.

»» Refutação com respostas racionais: são desenvolvidas junto com o


terapeuta, que gradualmente vai cedendo cada vez mais responsabilidade
ao paciente para que as construa.

»» A modificação das suposições disfuncionais: Identificar e rebater


as atitudes disfuncionais, discutindo as vantagens e desvantagens das
suposições disfuncionais.

Em relação às técnicas comportamentais são citadas a seguir.

»» Programação de atividades: consiste no planejamento das atividades


a serem realizadas.

»» Avaliação da destreza e do prazer: os pacientes avaliam em uma


escala (p. ex., de 100 pontos) o grau em que consideram ter dominado a
tarefa e também o grau em que desfrutaram dela.

»» Ensaio cognitivo: os pacientes são “convidados a “vivenciar” a situação


que causa temor na imaginação e construir as melhores estratégias de
enfrentamento para superá-la com sucesso.

52
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

»» Treinamento assertivo: identificação das situações-problema seguida


pela modelação de respostas mais apropriadas e eficazes, por parte do
terapeuta, enquanto o paciente representa o indivíduo com a qual lhe
causa desconforto.

»» Representação de papéis: aplicada não só a situações que requerem


uma resposta assertiva, mas também a situações que requerem outras
habilidades sociais, como exemplo, marcar um encontro.

Figura 13. Atendimento em psicologia.

Fonte: <http://psicologizzano.blogspot.com.br/2015/04/limites-do-atendimento-em-psicologia.html>.

Além das técnicas apresentadas por Caballo (1996), é possível encontrar uma variedade
de técnicas na literatura da área da TCC, como exemplo nas técnicas cognitivas:
identificação, questionamento e correção de pensamentos automáticos, reestruturação
cognitiva e outros procedimentos terapêuticos de imagens mentais. No que se refere
às técnicas comportamentais: prescrições comportamentais de tarefas graduais e
role-plays (KNNAP; BECK, 2008).

Vale destacar que o objetivo da TCC é detectar e corrigir os pensamentos disfuncionais,


fazendo com que a mudança nas crenças disfuncionais surja, a qual acarretará também
mudança e melhora nos transtornos emocionais. Desta forma, o processo de avaliação
psicológica desempenha um papel relevante na psicoterapia, pois permite uma análise
objetiva e detalhada da realidade psicológica do paciente. E é por meio da avaliação
psicológica que o terapeuta definirá quais serão as técnicas terapêuticas a serem
utilizadas ao longo da terapia.

53
Capítulo 1
Empatia e alteridade

Empatia
O conceito de empatia tem sido objeto de estudo de áreas como Filosofia, Sociologia
e Psicologia. No início do século XIX, a área que revelou maior interesse pelo tema
foi a Psicologia da personalidade, identificando o constructo como um processo no
qual um objeto era subjetivado pela percepção do observador (SAMPAIO, CAMINO;
ROAZZI, 2009).Entretanto, segundo os autores foi a partir da década de1950 que a
empatia passou a ser investigada com maior amplitude na área da psicoterapia, com
os estudos de Carl Rogers, na Abordagem Centrada na Pessoa. Nessa abordagem o
terapeuta se preocupa em estabelecer um clima terapêutico adequado, que consiste no
desenvolvimento e demonstração de sentimentos empáticos para com o cliente.

Figura 14. Mitos sobre a psicoterapia.

Fonte: <https://psicologiaesaudeaju.wordpress.com/2015/08/25/10-mitos-sobre-psicoterapia/>.

De acordo com Rogers (1975), empatia significa “perceber o marco de referência interior
da outra pessoa com precisão e com os componentes emocionais que lhe pertencem,
como se fosse essa pessoa, porém sem nunca perder a condição de ‘como se’” (p.2),
ou seja, não se pode esquecer de que se trata da felicidade ou da tristeza do outro.
Para Rogers, a empatia é uma habilidade aprendida, que pode ser desenvolvida com o

54
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

tempo, que envolve o estabelecimento de vínculos cognitivo-afetivos entre as pessoas e


implica na sensibilização e no envolvimento com a vida do outro.

A teoria de Rogers considera a empatia um fenômeno para compreensão e mudança


da personalidade e do comportamento. Para isso, torna-se necessário a sensibilização
do terapeuta pelo discurso do paciente, naquilo que é apreendido e compreendido com
relação ao pensamento e o que é sentido, sem que faça julgamento de valor.

Falcone et al., (2008), acrescentam que empatia é: “A capacidade de compreender, de


forma acurada, bem como de compartilhar ou considerar sentimentos, necessidades
e perspectivas de alguém, expressando este entendimento de tal maneira que a outra
pessoa se sinta compreendida e validada” (p. 323). Ou seja, é o ato de colocar-se no
lugar do outro, sentindo e percebendo sua dor ou prazer, da mesma forma como o outro
se sente, como se já tivesse vivido tal situação.

O componente cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais


de outras pessoas e o componente comportamental refere-se à capacidade verbal e
não verbal empregada pela empatia para que a outra pessoa se sinta verdadeiramente
compreendida.

Segundo Falcone (1999) a relação empática ocorre em duas etapas: na primeira o


terapeuta, tenta compreender os sentimentos do outro, de maneira que se coloque no
lugar desse outro, sentindo e percebendo sua dor ou prazer, como se tivesse vivenciado
a mesma experiência. Na segunda etapa o terapeuta irá comunicar ao paciente a
compreensão dos sentimentos experienciados. Segundo o autor para haver uma
compreensão empática é importante prestar atenção e ouvir sensivelmente e para a
comunicação empática do entendimento o importante é verbalizar sensivelmente.

O prestar atenção nessa relação empática requer alguns tipos de comportamentos do


terapeuta classificado como comportamentos verbais e não verbais, que vão favorecer
a relação terapêutica (FALCONE, 1999). Sendo os comportamentos não verbais
predominantes na relação empática. São eles:

I. fitar diretamente o paciente, de maneira que demonstre envolvimento;

II. adotar uma postura aberta e não cruzar braços e pernas;

III. inclinar-se levemente em direção ao paciente;

IV. demonstrar atenção quando o paciente estiver revelando algo importante


acenando a cabeça ou usando comunicações breves do tipo “hum”;

55
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

V. adotar uma postura descontraída, evitando tamborilar, balançar as pernas


ou se remexer na cadeira, esses comportamentos podem demonstrar
desinteresse.

Figura 15. Psicólogo (a) com necessidades especiais auditivas.

Fonte: <http://cronicasdasurdez.com/uma-psicologa-com-deficiencia-auditiva/>.

A autora relata que a atenção empática também consiste na identificação das mensagens
não verbais do paciente, como:

I. comportamento corporal (postura, movimentos corporais);

II. expressões faciais (sorrisos, rosto franzido);

III. relação entre a voz e o comportamento (tom de voz, fluência);

IV. respostas autonômicas observáveis (respiração acelerada, dilatação da


pupila).

Segundo a autora o ouvir sensivelmente não está relacionado à capacidade do terapeuta


de reproduzir a fala do paciente, mas sim em ouvir o paciente sem julgamentos,
aceitando seus sentimentos e pensamentos como realmente são apresentados. O
ouvir sensivelmente promove efeitos positivos em situações de conflito, uma vez que
em momentos de fúria, essa escuta sensível transmitirá ao paciente compreensão e
aceitação por parte do terapeuta, o que poderá amenizar a raiva do paciente, deixando-o
mais disposto a ouvir.

Falcone (1999) também descreve alguns comportamentos que compõem o ouvir


sensivelmente, são eles:

I. deixar de lado as próprias perspectivas, desejos e sentimentos , por


alguns instantes e se voltar inteiramente para as perspectivas, desejos e
sentimentos do paciente;

56
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

II. observar e ler os comportamentos não-verbais do paciente enquanto ele


estiver falando, identificando suas emoções;

III. colocar-se no lugar do paciente, identificando-se com seus sentimentos,


perspectivas e desejos;

IV. fazer uma elaboração mental de uma relação entre o sentimento, o


contexto e o significado desse contexto para o cliente.

A relação empática foi citada por Falcone, Gil & Ferreira, (2007) como eficaz no
tratamento terapêutico em diversos estudos, como exemplo: Andersen, 2005; Burns
& Auerbach, 1996; Carkhuff, 1969; Goldstein & Myers, 1991; Myers, 2003 e Yip, 2005.

Roger também já afirmava que a empatia é um fenômeno de extrema importância para


a compreensão dinâmica da personalidade, para efetuar mudanças na personalidade e
no comportamento. Assim, a empatia assumiu importância fundamental no processo
terapêutico. Uma vez que quando o terapeuta se utiliza de uma atitude empática,
ele contribui para a melhoria da autoestima do paciente e também favorece sua
autorrevelação, seu vínculo e sua adesão ao tratamento (BOHART; GREENBERG 1997).

Ainda em relação à importância da empatia na relação terapeuta/cliente, Bohart e


Greenberg (1997) relatam que:

»» os pacientes quando percebem que o terapeuta se importa verdadeiramente


com eles, os mesmos se sentem mais predispostos a ouvir e dar crédito à
sua fala;

»» a aliança terapêutica é prejudicada por falhas empáticas;

»» quando o terapeuta demonstra empatia pelo paciente, o cliente acaba se


sentindo a vontade para se expor. No contrário, clientes preocupados em
serem julgados se pensam antes de falar e acabam retendo informações
relevantes;

»» terapeutas empáticos servem de modelo para os clientes: que aprendem


a ser mais empáticos e compassivos consigo mesmos e até com os outros,
ouvindo com mais atenção e menos julgamentos, reduzindo a própria
defensividade;

»» importante equilibrar validação e mudança: há momentos que o


terapeuta deve ser mais acolhedor, pondo de lado as técnicas, em outros,
o terapeuta precisará ser mais diretivo, contudo o clima empático sempre
deve permanecer.
57
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Se por um lado, a empatia tem sido comprovada cientificamente como um fenômeno


extremamente importante na relação terapêutica para eficácia no tratamento, por
outro lado, em alguns momentos ela pode ser considerada como negativa. Para
Ellis (1962) em sua abordagem racional emotiva, em algumas situações a empatia
pode comprometer o progresso do tratamento, uma vez que o paciente desenvolve e
expressa uma dependência para com o terapeuta. Essa dependência pode reforçar o
comportamento dependente do cliente. De acordo com Beck (1997), o fracasso empático
e outros problemas na relação terapêutica ocorrem frequentemente, inclusive na terapia
cognitivo comportamental e podem acontecer até com terapeutas experientes e com
domínio em técnicas terapêuticas. Assim, é necessário que o terapeuta esteja atento e
sensível para identificar quando a empatia está sendo negativa ou positiva.

Alteridade

A palavra alteridade, que possui o prefixo alter, do latim, representa uma situação
em que um indivíduo tenta se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, com
consideração, identificação e com a capacidade de com ele dialogar.

O vocábulo alteridade é relativamente novo. Nem mesmo os dicionários o registram,


mas a ação que ele descreve nasceu com a humanidade e, atualmente, seu significado
denomina uma nova mentalidade holística, que deverá vigorar na civilização deste
século.

Maurício da Silva, assim, pontuou sobre alteridade, no site <www.evirt.com.br>. Acesso


em: 4/2010):

Alteridade é a capacidade de conviver com o diferente, de se proporcionar


um olhar interior a partir das diferenças. Significa que eu reconheço
o outro em mim mesmo, também como sujeito aos mesmos direitos
que eu, de iguais direitos para todos, o que também gera deveres e
responsabilidades, ingredientes da cidadania plena. Desta constatação
das diferenças é que gera a alteridade, alavanca da solidariedade, da
responsabilidade, eixo da cidadania.

Diferente é tudo aquilo que incomoda o “eu”. O que pode ser diferente para um, pode
não o ser para outro. Essa interpretação depende da vivência de cada indivíduo.

Segundo Guareschi e Jodelet (2002), o ser humano decorre da dupla relação que
se estabelece com a realidade e com o outro. Para existir, para “ser”, o indivíduo
necessita intrinsecamente dos outros, criando, em decorrência, uma relação de troca. É
justamente nessa relação que o ser humano se torna justo ou não. Isso leva a refletir em

58
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

torno da afirmação de que ninguém pode ser ético sozinho. Desse modo, o que pode ser
tematizado como alteridade é a dimensão do outro ou de suas relações com os outros.

A palavra “alteridade” define muito bem aquilo que pretende representar. Se cada
indivíduo agisse perante frente ao outro da maneira como gostaria de ser tratado,
estaríamos diante da tão esperada conduta adequada, algo que, podemos assumir, é
universalmente desejado.

Alteridade nada mais é que a capacidade que o indivíduo tem de conviver com aquilo
que é diferente, de se presentear com um olhar interior a partir das diferenças. Significa
que eu reconheço o “outro” também como sujeito de iguais direitos, é exatamente essa
comprovação das diferenças que gera a alteridade.

De acordo com Pereira – ABRADE (2005 p. 99),

Alteridade significa considerar, valorizar, identificar, dialogar com o


outro. Estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes.
Diz respeito, no ambiente das organizações, nos relacionamentos entre
colaboradores internos, de colaborador com a chefia, entre as chefias
etc. Na relação alteritária, o modo de pensar e de agir, as experiências
particulares são preservadas e levadas em conta, sem que haja
sobreposição, assimilação ou destruição.

Importante pontuarmos que as diferenças que são faladas quando tratamos de


alteridade referem-se a todo e qualquer tipo de diferença. A título de conhecimento,
o “outro” mais rejeitado na nossa sociedade é a mulher negra e pobre (moradora de
rua). Aquilo parece nos deixar desconcertados. Evitamos fixar o olhar, evitamos trocar
palavras, preferimos seguir com a nossa vida a pensar “naquilo” que está na nossa frente,
praticamente, todos os dias. Tudo que nos afeta de alguma maneira tendemos evitar.
Não queremos que a nossa paz interior seja abalada pelo outro. E nesse momento ocorre
o não reconhecimento da alteridade e, possivelmente, a sua paz interior já foi abalada.
O outro “aleijado” no sinal de trânsito, um “cadeirante” que passa na sua frente, um
deficiente mental, todos esses representam a diferença. O difícil é aceitarmos o “outro”
como semelhante e esse semelhante, algumas vezes, pode estar dentro de cada “eu” ou
muito próximo dele.

Muitas vezes a própria mulher já é a diferença. Para alguns, ou para muitos a mulher
pode incomodar. Infelizmente é uma questão cultural que dificilmente o tempo
conseguirá apagar.

Para além de todas as diferenças entre as feministas e os feminismos,


as correntes femininas colocaram o problema do acesso das mulheres à
posição de sujeito: sujeito político e sujeito crítico a um saber científico.

59
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Inscrição de um pensamento utópico que se quer sujeito político e sujeito


enunciador da palavra. E que a partir dessa postura é que enuncia um
repensar sobre as noções e os usos da alteridade e da subjetividade nas
modalidades de fazer ciência e filosofar (MACHADO, 1994, pp. 6-7).

Vale citar um trecho do texto de Simone de Beauvoir publicado em 1949, apud Susan
Bordo (2000), que diz o seguinte:

Os termos masculino e feminino só são usados simetricamente no


registro formal, como nos documentos legais. Na verdade, a relação
entre os dois sexos não se parece muito com aquela entre dois polos
elétricos, porque o homem representa tanto o positivo quanto o neutro,
como aparece no uso comum de homem para designar seres humanos
de modo geral, enquanto a mulher representa só o negativo, definida
por critérios de limitação, sem reciprocidade. Numa discussão abstrata,
é irritante ouvir um homem dizer: “você pensa dessa forma porque é
mulher”; mas eu sei que minha única saída é responder: “penso assim
porque é verdade”, retirando da discussão, portanto, meu eu subjetivo.
Estaria fora de cogitação responder: “e você pensa o oposto porque é
homem”, já que fica subentendido que o fato de ser homem não é uma
peculiaridade [...]

Apenas para compreender um pouco mais sobre alteridade

A alteridade (conceito não quantitativo) é constituída na relação, ou


seja, toda relação entre um e outro constitui uma relação de alteridade,
onde desde o início, existem dois e não um. Nunca no início da relação
social existiu um, mas dois, em que cada um é o outro do um. Não há
assim a possibilidade de reduzir o conceito de alteridade à diferença
em que um termo é sempre “decaído”. A alteridade que se constitui na
relação remete sempre à qualidade distinta e reversível de um a outro
e de outro a um. Trata de uma distinção da ordem da qualidade e não
da quantidade e não remete a qualquer essência, mas sim à instauração
mesma da relação. Entre dois, há identidade e alteridade. Postas sempre
em historicidade (MACHADO, 1994, p. 20).

Da leitura do texto de Guareschi (2002), no que tange às relações, podemos inferir


que o contato com o outro se inicia pelo reconhecimento de semelhanças e afinidades.
A aproximação se dá porque o outro tem ideias e/ou sensibilidades semelhantes. As
pessoas se aproximam mais quando conseguem conversar sobre os assuntos que as
agradam. Entretanto, é inevitável que, após esta fase inicial, se a relação se aprofunda,

60
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

cada um acaba confrontado com as diferenças do outro. Apesar de ser óbvio, é como
se cada um estranhasse que o outro seja outro. Muitas vezes, a mesma pessoa que,
antes parecia agradável, começa a ser enfadonha. Às vezes, chega mesmo ao ponto de
não respeitar os limites. Querendo ou sem querer, o outro restringe a liberdade e, não
raras vezes, nos parece injusto e desagradável. Nesse momento surge uma pergunta:
o outro que restringe reduz a nossa liberdade ou nós é que não deixamos o outro se
libertar? Pode-se observar que aprisiona-se o outro e, no momento em que o outro
nos desagrada, penaliza-se, condena-se e, por fim, isola-se. Assim, a paz individual,
aparentemente, fica assegurada.

Jodelet (2002) destaca que a questão da alteridade vem sendo tratada há muito tempo
não apenas pela filosofia como também pelas ciências ditas humanas e sociais. O
assunto alteridade sempre esteve presente nas reflexões da antropologia. Essa ciência
tem prestado relevantes contribuições na medida em que suas investigações tratam de
mostrar

[...] “o outro” como diferença, desvendando suas características e


especificidades. Porém no caso da Psicologia Social, a alteridade pouco
interessou a essa disciplina, onde mostrou interesse apenas nas relações
raciais, algo mais concreto que a alteridade como um “produto de duplo
processo de construção e de exclusão social que, indissoluvelmente
ligados como os dois lados duma mesma folhas [...] como afirma a
autora (p. 47).

Pedrinho Guareschi (2002) pontuou uma visão bastante interessante do ser humano, a
qual pode ser identificada como diferente das anteriores que já ouvimos falar. O autor
afirma ser relativamente claro para ele que é possível conceber o ser humano como
algo que não é, de modo algum, alguém “isolado”, “separado” de tudo o mais, de um
lado, nem alguém que é apenas uma “peça da máquina” de outro. O homem precisa
desenvolver relações. Mas o que é relações? Seria o ordenamento (intrínseco) de uma
coisa em direção a outra. Afirmar que o homem é “relação” é diferente de dizer que
ele é um ser “em” relação. Alguém pode se relacionar com os outros, mas permanecer
um indivíduo, fechado em si mesmo. As condutas de dominação. Exploração, mostram
como os indivíduos, dentro duma concepção essencialmente liberal, estabelecem
“relações”, mas pensam e agem como alguém que não tem nada a ver com os outros.

Um dos primeiros estudos relacionados ao tema foi realizado pelo filósofo e linguista
Tzvetan Todorov em seu livro A conquista da América, que expôs seus conceitos
a respeito do significado de alteridade, atributo existente na relação de diferentes
indivíduos pertencentes a dados grupos sociais. Neste livro A conquista da América
– a questão do outro, o assunto é examinado no contexto do descobrimento e da
61
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

conquista da América, no primeiro centenário após a primeira viagem de Colombo,


basicamente no século XVI. Todavia encontram-se menções a essas relações de
alteridade em obras anteriores a Todorov, como, por exemplo, em Michel de Montaigne,
onde o escritor fez um estudo de auto-observação e acabou por observar também o
Homem no seu todo.

Ou seja, a alteridade estava presente não só durante o processo de conquista e


colonização da América, mas também em toda a história do contato entre diferentes
povos e culturas.

Avançando na história, Ferreira (1999) afirma que as dificuldades do homem moderno


estão relacionadas à maneira como se dá o conhecer, provocando-lhe resistências para a
aceitação da alteridade. Em outras palavras, o indivíduo tende a ter um comportamento
narcisista, assumindo como correto apenas o seu comportamento e as suas crenças.
Essa atitude gera situações deploráveis, onde o outro é visto como uma ameaça, o
pensamento divergente como um perigo, tornando conflituosa, assim, a convivência em
sociedade, e transformando os projetos coletivos em algo inatingível. A alteridade seria,
portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de se proporcionar um olhar interior
a partir das diferenças. Significa que eu reconheço “o outro” também como sujeito de
iguais direitos. É justamente essa constatação das diferenças que gera a alteridade.
Os problemas surgem porque as pessoas têm sido constantemente condicionadas a se
manter demasiado fixadas na valorização das suas diferenças individuais: inteligência,
raça, gênero, religião, poder etc.

Quando escreve sobre alteridade, Pedrinho Guareschi (2002) destaca a necessidade


de apreender os inúmeros degraus que se estabelecem nas relações com o outro, os
diferentes níveis de proximidade desse outro numa realidade social. Aquele que não
é o mesmo que “nós” pode ser apenas diferente, porém próximo, ou constituir-se em
“sua forma mais extrema e alienante”, como acontece no caso do racismo e, certamente,
no caso de todas as diversas formas de exclusão social. Nesse sentido, é importante
destacar que a mediação do outro é fundamental para que o “eu” possa refletir sobre si
mesmo e constituir-se como objeto de conhecimento.

Um fato que Guareschi (2002) faz questão de frisar é que o “outro” existe de fato, que ele
é real e é um ser humano-relação. Esse é o ponto crucial no assunto alteridade, a relação
com o outro, uma vez que um homem precisa se relacionar com o outro, principalmente
se esse outro se encontrar refletido em si mesmo. A alteridade, para o autor, é dramática.
Nela existem os bons e os maus, o certo e o errado. Para alguns, o “outro” é o inferno,
o odioso. No momento em que o outro não é aceito pela sociedade, acarreta uma série
de catástrofes, dentre as quais podemos destacar os conflitos armados, as guerras. Vale
lembrar que nestes tempos de intolerância e desrespeito às alteridades, o diálogo cede
lugar, cada vez mais, à guerra.

62
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

O “outro” é a dimensão na qual se produzem as diferenças, nosso desassossego. Sendo


assim, o autor afirma: “ninguém é ético ou pode ser ético sozinho”. As pessoas se
tornam justas no momento em que estabelecem relações. Para o humano-indivíduo, de
Guareschi (2002), é ele que decide, ele detém a última palavra. Isso porque o “outro”
não significa nada para eles ou até mesmo para nós, porque o outro não faz parte de nós,
é um estranho, algo asqueroso. Ele nada mais é que o índio, a mulher negra, o excluído.
A afirmação de Jean-Paul Sartre de que “o outro é o inferno” parece fazer sentido.

De acordo com Zanella (2005), as leituras psicológicas atuais merecem um destaque


no que tange à dimensão da relação com o outro, mediante a defesa de análises que
considerem aspectos interpessoais e intergrupais, como em Jodelet ou de acordo com a
teoria de Vygotski, a qual contribui com o debate sobre a alteridade a partir da análise
do espaço intrapsicológico, entendido como inexoravelmente relacionado ao contexto
social, interpsicológico.

De acordo com Gusmão (1999) apud Zanella (2005), se antigamente o outro era, de
fato, diferente, distante e apresentava uma realidade distinta daquela de meu mundo,
hoje, o longe é perto, e o outro é também um mesmo, uma imagem do “eu” invertida
no espelho, capaz de confundir certezas, pois não se trata mais de outros povos, outras
línguas, outros costumes. O outro hoje é próximo e familiar, mas não necessariamente
é nosso conhecido.

Ao abordar “o mesmo” e “o outro”, depara-se com uma questão de fundo que é a


exploração sofrida por esses povos periféricos. Isso tudo acontece quando “o mesmo”
fecha-se em si, torna-se autossuficiente, melhor, etnocêntrico, ou seja, o ser humano
indivíduo, citado acima por Guareschi (2002), e não aceita “o outro”, a alteridade; não
aceita o diferente, o novo, o dinâmico. O “outro” quase nem é percebido e, se aceito,
poderia constituir uma ameaça ao ver do ser humano indivíduo. Na ontologia da
totalidade não há espaço para o outro, pois “outro”, nesse sentido, significa o não ser, a
negatividade. Podemos concluir que “o mesmo” é injusto por natureza quando se trata
do reconhecimento e aceitação do “outro”.

Em síntese, por ser o outro de fato distinto, a possibilidade de surgir um relacionamento


está na abertura; o deixar o outro fazer parte de uma totalidade. O “outro” irrompe
dentro da totalidade quando é ouvido, quando exige seus direitos, sua liberdade, sua
distinção. É mediante sua revelação (do outro) que temos a possibilidade de melhor
conhecê-lo. Vale lembrar que o “eu” apenas existe por causa do outro, da visão do
outro, o que permite também compreender o mundo a partir de outro olhar, um olhar
diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo.

63
Capítulo 2
A avaliação em TCC e quadro
diagnóstico integrado: (nos ciclos de
vida / relação com o CID X – DSM-V)

O processo de avaliação cognitivo-comportamental tem início com a conceitualização


cognitiva, também chamada de formulação de caso, enquadre cognitivo do caso ou
conceituação de caso (BECK, 1997). É considerado como um processo fundamental para o
desenvolvimento do tratamento psicoterápico. É a avaliação cognitivo-comportamental
que irá proporcionar um nível de estrutura básico para o entendimento do paciente. É
por meio desse processo que o terapeuta levanta hipóteses que vão nortear o tratamento
do paciente (BECK, 2007).

O objetivo da avaliação é desenvolver uma formulação dos problemas a serem tratados,


através de entrevistas com o paciente, de forma a colher informações bem detalhadas
sobre as situações que provocam tais desconfortos. Cabe ressaltar, que nesse processo
o terapeuta pode também utilizar testes e inventários em sua avaliação, desde que estes
tenham sido testados e validados psicometricamente. Outro fator importante é que os
testes precisam ser concernentes à teoria cognitivo-comportamental.

Para uma avaliação eficaz é imprescindível que o terapeuta tenha conhecimento e


experiência clínica, que lhe permita uma melhor interpretação da situação do paciente
para o desenvolvimento das estratégias terapêuticas que conduzirão a um diagnóstico
satisfatório ao sucesso no tratamento. Contudo, o processo para avaliação do diagnóstico
do paciente não se remete somente à avaliação psicológica, é necessário que seja
integrado aos manuais diagnósticos, como DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais, 5a Edição, APA) e o CID-10 (Classificação Internacional de
Doenças, OMS).

Encontramos nos manuais diversos transtornos mentais, divididos em categorias


e com descrição minuciosa dos dados de prevalência, do curso da doença e de seus
sintomas. Assim, a utilização desses manuais aumentará a precisão diagnóstica,
favorecendo a comunicação clínica entre terapeuta/paciente e outros profissionais da
área da saúde, facilitando as conclusões diagnósticas. Esses manuais são considerados
como importantes instrumentos para um diagnóstico diferencial, quando utilizados
por profissionais capacitados (NORONHA, BERALDO; OLIVEIRA, 2003).

64
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

Convém destacar que o uso desses manuais advém do modelo médico, utilizado
pela psiquiatria no diagnóstico dos transtornos mentais. Assim, o terapeuta segue as
classificações psiquiátricas descritas nesses instrumentos, que servem com um guia
para a compreensão de quadros psicopatológicos. Dessa forma, facilitará a comunicação
entre diferentes profissionais que têm conhecimento dos termos classificados nos
manuais.

Figura 16. Manuais de ética na psicologia.

Fonte: <http://www.revistabula.com/1236-etica-livro-13-mandamentos/>.

Na terapia Banaco (1999) chama esse modelo de quase-médico. Um modelo que busca
amenizar a diferença entre doença e saúde, normal e o patológico, considerando os
comportamentos disfuncionais do paciente como um sintoma de uma doença implícita.
Desta forma, o autor relata que o paciente comparado a um indivíduo normal, pode
ter problemas descritos como: uma psique doente, um traço de caráter enfraquecido,
uma personalidade desviante, uma doença mental, uma estrutura cognitiva falha, um
sistema de crenças irracionais etc.

Banaco (1999) acrescenta que a diferença entre o modelo médico e o modelo


quase-médico, é que e no primeiro acredita que para sanar o mal que acomete os seres
humanos, nem sempre é o tratamento é baseado na utilização de farmacologia, enquanto
no segundo a base do tratamento está no uso das técnicas psicológicas para alívio dos
transtornos mentais e/ou de comportamentos disfuncionais. Destarte, esses manuais
são instrumentos de auxílio no processo de análise de diagnóstico dos pacientes. Nos
próximos tópicos serão abordados o DSM-V e o CID-10, respectivamente.

DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de


Transtornos Mentais, 5a Edição, APA)
O DSM-V foi publicado em 18 de maio de 2013, após um período de 12 anos de estudos
empíricos. É a mais recente edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

65
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (ARAUJO; NETO, 2014). A primeira


publicação do DSM foi em 1952, desde então várias mudanças ocorreram nas descrições
dos diagnósticos até o DSM-V, isso porque o que em determinada época é considerado
normal em outra pode ser considerado patológico e vice-versa, como exemplos, os casos
de homossexualidade, que era considerado como um transtorno mental e hoje não foi
excluído do manual. E a neurose, que inicialmente era um diagnóstico corriqueiro,
depois se desdobrou em outros diagnósticos diferentes e por fim também foi excluída
do manual (BURKLE, 2009).

Assim, essas mudanças vão construindo novas edições do DSM. De acordo com Burkle
(2009), tais mudanças são desenvolvidas de acordo com o momento histórico da
psiquiatria, como exemplo no DSM-I- a linguagem da psicanálise era usada em seu
texto, pois na época era a teoria adotada pela maior parte dos psiquiatras americanos,
enquanto no DSM-III e IV era utilizada a linguagem descritiva, também chamada de a
teórica pela APA, que reflete a psiquiatria biológica, estava em crescimento na época da
criação do DSMIII e hoje é considerada a maior vertente da psiquiatria, principalmente
nos EUA.

Segundo Matos, Matos e Matos (2005) nos últimos anos houve um expressivo
desenvolvimento nas pesquisas na área de saúde mental. Esse fato impulsionou
a atenção para o diagnóstico e a comunicação entre psiquiatras, psicoterapeutas
e psicólogos, que instituíram uma nova parceria entre a psiquiatria clínica e as
psicoterapias comportamental, comportamental-cognitiva (TCC), contribuindo para
o desenvolvimento de novas técnicas de terapia e melhoria da qualidade de vida
proporcionada aos pacientes. Burkle (2009) acrescenta que no saber médico (ou
modelo médico) a terapia cognitivo-comportamental e a única forma de tratamento
aceita como válida. Cavalcante e Tourinho (1998) descrevem vários autores que
confirmam a ampla utilização do DSM por terapeutas comportamentais (BARLOW,
RAPEE; BROWN, 1992; SOBELL, TONEATTO; SOBELL,1994; BECK; ZEBB, 1994;
STEKETEE, 1994).

Assim, cabe ressaltar que o DSM é um instrumento de auxílio ao terapeuta, para


ser utilizado após o processo de avaliação psicológica, de forma a contribuir para a
análise e diagnóstico do comportamento do paciente, uma vez que seu objetivo é listar
e classificar os transtornos mentais e para se obter um planejamento de intervenções
clinicas eficazes, é necessário que para além da descrição ou classificação dos
transtornos mentais, seja realizada uma boa compreensão dos fatores que causam
e/ou mantém distúrbios psicológicos (SOUZA; CANDIDO, 2010). Outro manual
bastante utilizado no processo de avaliação psicológica é o CID 10, que será abordado
no próximo tópico.

66
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

CID 10 – Classificação Estatística Internacional de


Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.

O CID, assim como o DSM-V 10 é um critério de diagnóstico bastante utilizado na área


da saúde mental. É um sistema que foi elaborado pela Organização Mundial de Saúde
(1993), fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma diversidade de
sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas
para ferimentos ou doenças.

Entretanto, a diferença entre o CID 10 e o DSMV é que o primeiro abrange todas as


doenças, enquanto o segundo contempla apenas os transtornos mentais e com uma
maior utilização em ambientes de pesquisa, devido ao melhor detalhamento dos seus
itens e por ser em forma de tópicos (SOUZA; CANDIDO, 2010). Outra diferença em ele
fornece códigos de CID também fornece códigos de mortalidade e morbidade. E por
fim, é utilizado na definição de deficiências ou incapacidades usadas para pagamentos
de benefícios e na formulação de atestado médico. Assim, seu objetivo é classificar as
doenças, de forma a facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde e órgãos
interessados, como a Previdência social.

O CID-10 foi desenvolvido a partir da década de 1983, com estudos focados na


avaliação de modelos alternativos de estrutura para melhor atender aos seus usuários
(OMS, CID-10, 1996). Contudo os modelos apresentados não foram satisfatórios e sua
estrutura tradicional foi mantida, com uma diferença, no atual foi inserido um sistema
de código alfanumérico, enquanto no anterior o sistema era apenas numérico. Assim,
essa avaliação foi aprovada em 1989 e passou a vigorar em 1o de janeiro de 1993, sendo
estabelecida nova atualização para um período de 10 anos após essa revisão.

Podemos concluir que a avaliação psicológica é de grande relevância para a atividade


terapêutica. É o processo que dá início ao desenvolvimento do tratamento na TCC. No
processo de avaliação psicológica a utilização de manuais como a CID-10 e o DSM-
IV, facilitam a discussão entre profissionais de campos diferentes. Assim como a
compreensão dos fatos relacionados aos distúrbios mentais permite o planejamento de
intervenções clínicas eficazes e personalizadas.

67
Capítulo 3
Análise funcional do comportamento

Os estudos sobre a análise funcional tiveram início em 1935, quando Skinner desenvolveu
o conceito da tríplice contingência como ideia norteadora para a compreensão dos
comportamentos que estão sob controle de suas consequências (VANDERBERGHE,
2002). No processo da tríplice contingência, a atenção do pesquisador está voltada para
as condições do ambiente em que determinado organismo se encontra, para a reação
desse organismo a essas condições, para as consequências produzidas por essa reação
e para os efeitos causados por tais consequências. Assim, a análise funcional estuda o
comportamento humano a partir da interação entre organismo (indivíduo)/ambiente,
por meio do processo da tríplice contingência.

A análise funcional é definida por Haynes e O´Brien (1990) como “a identificação


de relações relevantes, controláveis, causais e funcionais aplicáveis a um conjunto
específico de comportamentos-alvo para um cliente individual” (p. 654). Outros autores
restringem o termo análise funcional à manipulação experimental de variáveis para
demonstrar relações causais entre variável independente e comportamento (CARR,
LANGDON; YARBROUGH, 2000; IWATA, VOLLMER; ZARCONE, 1990; BAER,
WOLF; RISLEY, 1968; SKINNER, 1953). De acordo com esses autores, as abordagens
não experimentais podem gerar hipóteses, mas não é possível dizer que elas constituem
uma análise funcional, até que tais hipóteses sejam testadas.

Haynes e O´Brien (1990) destacam algumas características da análise funcional:

a. são mais probabilísticas do que deterministas;

b. são transitórias, pode haver variação com o tempo (exemplo, variáveis


identificadas no início de um problema podem não as mesmas identificadas
posteriormente ou no momento atual);

c. são não excludentes, se complementam, não impedem o relacionamento


entre essas e outras variáveis;

d. podem ser de nível macro (exemplo: etnia ou classe social) ou micro


(exemplo: frequência de criticismo social);

e. nas relações funcionais causais as variáveis causais devem preceder


o evento causado; é uma condição necessária, mas não suficiente para
causalidade;

68
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

f. eventos privados podem ser: comportamento-alvo, antecedentes ou


consequências;

g. identificar as variáveis que atualmente causam um problema clínico pode


ser muito difícil, já que no ambiente natural há muitas outras variáveis
que estão correlacionadas com a causa verdadeira;

h. limitação- as relações funcionais são de difíceis comprovações.

Para que a análise funcional seja realizada com eficácia, de forma que haja um
entendimento adequado do indivíduo na interação organismo/ambiente, torna-se
necessário que o terapeuta identifique três questões importantes:

1. a situação na qual a resposta ocorreu;

2. a resposta em se;

3. as consequências reforçadoras.

Assim, o processo de análise funcional ocorre em cinco etapas:

»» A primeira etapa consiste na identificação do comportamento de


interesse, por meio da observação do comportamento e/ou a obtenção de
relatos do próprio cliente e de outras pessoas (MEYER, 2003).

»» A segunda etapa refere-se à identificação e descrição do efeito


comportamental: a frequência, duração ou intensidade com que ele
ocorre, (MATOS, 1999).

»» A terceira etapa baseia-se em identificar relações ordenadas entre


variáveis ambientais e o comportamento de interesse, assim como
a identificação de relações entre o comportamento de interesse
(descrição dos antecedentes e consequentes desse comportamento) e
os outros comportamentos existentes (MATOS, 1999). Para análise dos
antecedentes, deve-se verificar se existem para sua resposta (MEYER,
2003):

1. estímulos eliciadores;

2. estímulos discriminativos;

69
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

3. operações estabelecedoras;

4. regras e autorregras (que são estímulos discriminativos ou operações


estabelecedoras);

5. eventos encobertos geralmente não podem ser considerados antecedentes,


por não participarem da determinação da resposta;

6. história de vida não é uma ocasião em que a resposta ocorre.

Por fim, a quarta e quinta etapa, respectivamente, formula-se predições sobre os efeitos
de manipulações dessas variáveis e a testagem dessas predições. Vale ressaltar algumas
perguntas que são sugeridas pela literatura para identificação das consequências:

a. é uma condição reforçadora ou uma condição aversiva?

b. sua ação se faz por apresentação, remoção ou impedimento?

c. o produto é grande, provável, imediato?

d. existem produtos em longo prazo? Quais?

e. os produtos são consequências naturais ou sociais? São consequências


mediadas por agentes sociais? Quem são os agentes? Matos (1999) As
respostas a estas perguntas ajudam o terapeuta a entender características
essenciais dos comportamentos operantes do indivíduo.

Ainda sobre a avaliação de comportamento, vários estudos se utilizam de instrumentos


de medida para sua compreensão, entretanto seus resultados são criticados, uma vez
que podem mostrar apenas aferições topográficas (GODOY; NORONHA, 2005). Sendo
o comportamento explicado apenas por sua função, somente as informações coletadas
por meio dos instrumentos não seriam consideradas confiáveis. Desta forma, a análise
funcional torna-se relevante na avaliação dos comportamentos. É importante destacar
que, apesar de tais instrumentos de medida não serem totalmente confiáveis para uma
avaliação eficaz do comportamento, eles auxiliam na análise funcional com a coleta dos
dados topográficos (WIELEWICKI; GALLO; GROSSI, 2011).

Destarte, é possível concluir que, a utilização de instrumentos de medida é


importante e de grande utilidade para auxiliar o terapeuta na coleta de dados sobre
os comportamentos atuais do paciente nas mais variadas situações, de forma a
contribuir para a construção de uma análise funcional bem fundamentada. Assim,
o objetivo principal da análise funcional é alcançado. O qual tem como proposta de

70
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

identificar as variáveis que influenciam na ocorrência do comportamento de interesse,


planejar as intervenções por meio da modificação destas variáveis e do comportamento
problema, entender a interação funcional, as condições que podem proporcionar a
generalização e a manutenção das modificações comportamentais realizadas e predizer
o comportamento.

71
Capítulo 4
Distorções cognitivas e avaliação de
crenças irracionais

A Terapia Cognitiva Comportamental baseia-se no modelo cognitivo, que tem como


suporte a teoria de que as emoções e os comportamentos dos indivíduos são influenciados
por suas percepções dos eventos (BECK, 1997). Tais percepções são construídas por meio
de seus esquemas, crenças centrais, crenças intermediárias e pensamentos automáticos.
Quando o indivíduo interpreta essas percepções erroneamente, pode gerar conclusões
equivocadas, ocorrendo a distorção cognitiva. Geralmente em momentos de angústia
essas percepções são frequentemente distorcidos e disfuncionais.

As distorções cognitivas são também chamadas de erros cognitivos. Esse conceito foi
introduzido por Beck em 1963, em estudos com pacientes deprimidos que distorciam a
realidade de uma maneira sistêmica, que implicavam em vieses contra si próprios.

O objetivo da terapia cognitiva é corrigir as distorções do pensamento, por meio


dela o indivíduo aprende a identificar e avaliar seus pensamentos automáticos, para
corrigi-los, de maneira que se assemelhe mais à realidade. Assim, gerar uma melhora
em seu estado de humor, deixando-os capazes de se comportar mais funcionalmente
e diminuir sua excitação fisiológica. O mesmo ocorre com suas crenças distorcidas,
sua compreensão básica de si mesmo, seus mundos e outras pessoas. Estas crenças
distorcidas influenciam o seu processamento da informação, e dão origem a seus
pensamentos distorcidos, dessa forma corrigindo essas crenças, consequentemente
seus pensamentos serão modificados.

Nesse processo há uma influência mútua de pensamentos, sentimentos, comportamentos,


fisiologia e ambiente. Comumente a terapia se inicia com a avaliação e modificação
dos pensamentos, entretanto a mudança em qualquer um desses componentes pode
modificar os demais. Com exceção de situações, como na depressão severa, em que a
primeira abordagem é a ativação comportamental, ficando o trabalho cognitivo para
um momento mais adiante no processo terapêutico (KNAPP, 2004).

Todos nós temos as chamadas distorções cognitivas, que são expressas em pensamentos
automáticos disfuncionais. E é possível que o indivíduo apresente concomitantemente,
mais de uma distorção em uma mesma situação. A literatura apresenta uma relação de
erros de pensamento mais comuns (KNAPP; BECK, 2008).

72
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

1. CATASTROFIZAÇÃO – Refletir sobre o resultado/gravidade de um


acontecimento (insuportável ou intolerável) ou a possibilidade deste
ocorrer, desconsiderando outros desfechos (“Perder o emprego será o fim
de minha carreira”).

2. RACIOCÍNIO EMOCIONAL OU EMOCIONALIZAÇÃO - Prever que


sentimentos são fatos. Pensando que algo é verdadeiro devido a uma
emoção muito forte sobre esse sentimento. O paciente A pessoa admite
que as emoções negativas fundamentalmente irão refletir as coisas como
elas são (“Estou com muito medo, por isso deve ser realmente perigoso).

3. PENSAMENTO DICOTÔMICO OU POLARIZAÇÃO– Compreender as


experiências pessoais em somente duas categorias extremas e excludentes
e as situações em termos absolutos. Branco ou preto. Oito ou oitenta.
(“Meu desempenho não foi perfeito, devo ser um fracasso total”).

4. ABSTRAÇÃO SELETIVA, FILTRO MENTAL– Alguns conteúdos de


uma situação complexa são focalizados com atenção, enquanto outros
conteúdos relevantes da situação são ignorados. Apenas uma parcela
negativa dos dados é considerada como válido, que é destacada a lidar
então unicamente com ela. (“Ela não é uma boa filha, pois não lava a
louça depois do jantar”).

5. INFERÊNCIA ARBITRÁRIA OU LEITURA MENTAL – São realizadas


conclusões independentes de evidências adequadas ou em contrário.
É possível pensar, sem evidências a respeito do que os outros pensam,
assim como também desconsiderar outras hipóteses (“Ela não gosta mais
de mim”).

6. ROTULAÇÃO – Avaliar de forma completa uma pessoa ou situação por


meio de estereótipos e não consideraras características específicas de cada
situação. A pessoa ou situação é rotulada globalmente, de forma rígida,
enquanto deveria ser avaliada como um todo. (“Ele tem um defeito de
caráter”).

7. MAGNIFICAÇÃO E MINIMIZAÇÃO – São maximizadas as características


e experiências negativas e as positivas são minimizadas. Sendo
supervalorizada ou desvalorizada a importância de uma característica
pessoal, evento ou uma possibilidade futura. Entretanto, se supostamente
algo dê errado é o que provavelmente acontecerá. (“As dificuldades para
conseguir um novo emprego são insuperáveis”).

73
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

8. IMPERATIVO OU DECLARAÇÃO DE OBRIGATORIEDADE (PODER,


DEVER E PRECISAR) – Entender os acontecimentos pensando em
como as coisas deveriam ser e não focando em como realmente são.
As pessoas refletem situações sobre si e sobre outras pessoas e sua não
aceitação das consequências devido ao não cumprimento das mesmas.
Dessa forma, se utiliza de absolutistas para motivar, controlar ou mudar
seu comportamento. Assim, elas se punem antes de fazer algo por si
mesma. (“Eu não podia estar sentada aqui, devia estar fazendo faxina”).

Destarte, a distorção cognitiva é considerada uma experiência normal nos indivíduos.


Entretanto, a maneira como o indivíduo distorce a informação aprendida poderá gerar
um impacto negativo no seu funcionamento cognitivo, emocional e comportamental,
podendo promover então o desenvolvimento de perturbações psicológicas.
Como exemplo, a depressão, que é caracterizada pela presença de enviesamentos
mais inflexíveis, generalizáveis e negativos na compreensão que o indivíduo tem
de si, dos outros e do seu futuro, sendo importante a intervenção psicológica ao
nível cognitivo.

Figura 17. Distorção cognitiva.

Fonte: <https://image.freepik.com/fotos-gratis/homem-vestido-com-as-setas-sobre-sua-cabeca_1134-485.jpg>.

Crenças irracionais
As crenças irracionais são definidas como interpretações ilógicas que o sujeito
desenvolve a respeito de si mesmo, das pessoas ao seu redor e do mundo em geral
(RANGÉ; FENSTER, 2004). São consideradas como o foco principal da Terapia
Racional Emotivo Comportamental - TREC, desenvolvida por Ellis em 1995. Tem como
características a produção de emoções negativas e de comportamentos disfuncionais,

74
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

que consequentemente distancia os indivíduos de comportamentos adaptativos


dificultando o alcance de suas das metas e objetivos, podendo ainda gerar distúrbios
emocionais, comportamentais e interpessoais (ELLIS, 2003).

As crenças irracionais são oriundas do ser humano, que aprende essas crenças desde
criança, com seus familiares, educadores, em seu meio social, sejam elas funcionais
ou não. Entretanto, há uma tendência inata para construir crenças irracionais a partir
de suas experiências de vida (RANGÉ; FENSTER, 2004). As crenças irracionais
adquiridas de outras pessoas, geralmente são reconstruídas e ativadas, mesmo quando
manifestas anos depois de aprendida. Quando crianças algumas crenças irracionais,
como exemplo, a ideia de que devem ser amadas ou aprovadas por todos aqueles que
são significativos para ela, não são totalmente impróprias à infância, pois elas realmente
devem ser capazes de gerar vínculos com os outros para sua sobrevivência. Contudo,
quando as crenças irracionais da infância se mantêm na adolescência e na idade adulta,
elas geralmente promovem importantes frustrações que consequentemente vão gerar
perturbações emocionais no indivíduo (ELLIS, 2003).

De acordo com Ellis (1973), 11 crenças irracionais representam o aspecto central de seu
tratamento, são elas:

1. um indivíduo necessita ser aprovado ou estimado por todas as pessoas


que considera importantes em sua vida;

2. um indivíduo para se considerar digno de valor deve ser plenamente


competente e realizado sob todos os aspectos possíveis;

3. certas pessoas são más, perigosas ou desprezíveis, e deveriam ser


censuradas e punidas por suas maldades;

4. quando as coisas não acontecem da forma como a pessoa gostaria muito


que acontecessem é algo horrível e catastrófico;

5. razões externas são causadoras da infelicidade humana e os indivíduos


têm pouca ou nenhuma capacidade de controlar esses sofrimentos;

6. se alguma coisa é, ou poderá vir a ser, perigosa ou apavorante, o indivíduo


deve ficar tremendamente preocupado e pensar persistentemente na
possibilidade desta coisa acontecer;

7. é mais fácil evitar do que enfrentar certas dificuldades e responsabilidades


pessoais na vida;

75
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

8. uma pessoa é dependente das outras e precisa de alguém mais forte do


que ela para poder confiar e apoiar-se;

9. o passado de uma pessoa é o determinante pessoal de seu comportamento


atual, e pelo fato de alguma coisa haver afetado seriamente a vida da
pessoa, deverá influenciar indefinidamente sobre ela;

10. uma pessoa deve ficar extremamente preocupada com os problemas de


outras pessoas;

11. existe sempre uma solução correta, precisa e perfeita para os problemas
humanos, e é uma catástrofe quando a solução não é encontrada.

Matta, Bizarro e Repold (2009), citam alguns estudos já publicados que apresentam
diversos instrumentos de avaliação das crenças irracionais, como o Surveyof Personal
Beliefs (ZIEGLER; SMITH, 2004), o Rational Behavior Inventory (SHORKEY;
WHITEMAN, 1977) e o Attitudesand Beliefs Scale II (DILORENZO, DAVID;
MONTGOMERY, 2007). Yoshida e Colugnati (2002) apresentaram dois instrumentos
específicos para a verificação das crenças irracionais, com todos os critérios psicométricos
necessários para sua utilização, a Escala de Crenças Irracionais (ECI) originalmente
desenvolvida por Malouff e Schutte (1986), com boas propriedades psicométricas, e
o Questionário de Crenças Irracionais, originalmente desenvolvido por Newmark,
Frerking, Cook e Newmark (1973).

Dessa forma, é possível por meio desses instrumentos de avaliação, identificar as


crenças irracionais do indivíduo, para que sejam modificadas no processo terapêutico.
Pois, segundo Ellis, os problemas provêm das crenças irracionais que são interpretadas
após as situações. O que pode ser estressante para um não necessariamente é para o
outro. Cada pessoa reage de uma forma a determinada situação. E todos os distúrbios
emocionais estão diretamente relacionados a ideias irracionais criadas pela própria
pessoa, resultando, assim, em frustrações, baixa autoestima, ansiedade e stress.
Entretanto, é possível superá-los, modificando a maneira de pensar.

O processo terapêutico utilizado para trabalhar as crenças irracionais é a Terapia


Racional – Emotiva (TRE), recentemente renomeada, Terapia Racional Emotivo
Comportamental (TREC).

Um modelo terapêutico desenvolvido em torno da tríade A – B – C, onde A são os


acontecimentos ativadores, B são as crenças e C são as consequências. Sendo assim, as
pessoas interpretam as situações da realidade (A) por intermédio das crenças e cognições
(B), que por sua vez a natureza dessa crença é que vai determinar as consequências
emocionais e comportamentais do indivíduo (ELLIS; LANGE, 1994).

76
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

O indivíduo geralmente acredita que as situações (A) são causadores de suas reações
emocionais (C). Por exemplo, se alguém não se sair bem em um curso, trabalho ou
relacionamento, vai atribuir seu estresse e irritabilidade na situação, e não na sua
interpretação ou crença relacionada a fracasso ou rejeição.

O objetivo da TREC é apresentar para o indivíduo suas filosofias irracionais peculiares


e a utilização dos instrumentos de avaliação psicológica e também apontar como essas
ideias foram desenvolvidas e mantidas, pensando de modo mais racional, para não gerar
aflições e criar menos crenças disfuncionais no futuro (ELLIS, 2003). Assim, as crenças
irracionais podem ser superadas, por meio de debate, como treinamento da mente,
que são técnicas características das terapias cognitivas. Dessa forma, o indivíduo pode
desejar a melhora da relação consigo mesmo, com os outros e com o futuro, propiciando
uma melhor interpretação de sua vida, de seus eventos, e a busca por sua qualidade.

77
Capítulo 5
Pensamentos enlouquecedores

A TCC consiste na teoria de que os sentimentos e comportamentos são influenciados pelos


pensamentos. Todos nós em todo o tempo, pensamos, sentimos e nos comportamos.
Podemos pensar de quatro maneiras, entretanto, três delas são consideradas horríveis
(ELLIS; LANGE, 1994). Essas três formas horríveis de se pensar podemos chamar de
pensamentos enlouquecedores.

Quando temos pensamentos enlouquecedores provavelmente agiremos


desproporcionalmente, ou seja, não responderemos a eles eficazmente como deveríamos
e consequentemente teremos comportamentos disfuncionais, que geralmente irão nos
tirar do sério (ELLIS; LANGE, 1994). Entretanto, é possível melhorar a forma de como
pensar, sentir e agir com certas pessoas e em situações específicas, evitando assim que
nos tirem do sério.

Convém destacar que, os estudos sobre pensamentos enlouquecedores estão baseados


na Terapia Racional Emotiva, no modelo ABC desenvolvido por Ellis. Os pensamentos
enlouquecedores se dividem em três tipos: pensamento catastrófico, pensamento
absolutista e racionalização (ELLIS; LANGE, 1994).

Os pensamentos catastróficos ocorrem quando encaramos determinadas situações


de maneira catastrófica, ou seja, consideramos como algo muito mais importante do que
realmente é. Em sua maioria os pensamentos catastróficos começam com a expressão
“e se” (ELLIS; LANGE, 1994). Os autores descrevem alguns exemplos de pensamentos
catastróficos.

»» Em uma entrevista de emprego: você pode ter pensamentos do


tipo: “E se eles me fizerem uma pergunta que não sei responder?”; “E
se eu não tiver os requisitos necessários?”; “E se não gostarem de mim”.
Essas perguntas não significam apenas uma preocupação e sim que vai
realmente acontecer uma catástrofe. Com esses pensamentos certamente
o resultado da entrevista será uma ruína.

»» Em adolescentes: os pensamentos catastróficos são muito comuns em


adolescentes. Como exemplo: “E se a menina que eu adoro não gostar de
mim?; “E se eu repetir no exame?”; “E se eu não entrar no time?”; “E se
eu não for popular?”; “E se os meus amigos descobrirem que...?”; “E se
eles acharem que eu sou esquisito?”;

78
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

»» Em adultos: os adultos podem ter pensamentos catastróficos geralmente


na vida pessoal e afetiva, do tipo: “E se ele não me ama mais?”; “E se
eu não for mais atraente pra ela?”;“E se ela está se encontrando com
outro?”; “E se eu ficar sozinho pro resto da vida?”;“E se eu mantiver esse
relacionamento e for infeliz?”; “E se ela não mudar o que prometeu?”; “E
se estiver cheia de mim?”; “E se eu for muito velho pra ela?”; “E se não
melhorar?”; “E se continuarmos brigando”.

Contudo, o importante não são as perguntas e sim as respostas, pois nem todos os
pensamentos iniciados com E se... são catastróficos (ELLIS; LANGE, 1994), como
exemplo em um dos casos exemplificados anteriormente: “E se eu não entrar no time?”,
poderia responder: “Bem vou fazer o possível e se não entrar, vou praticar mais e tentar
novamente no ano que vem, ou vou tentar outro time ou outra atividade, ao invés de
responder que “seria horrível”, ou que “não suportaria”. Portanto, a solução para essa
questão está nas repostas, pois são elas que provocam pânico nas pessoas. Outros
pensamentos que levam ao pânico são frases do tipo: “eu fico louco quando...”, “não
aguento quando...”, “isso acaba comigo...”, “eu odeio quando...”. Sempre que existem
esses tipos de pensamentos, você fica mais susceptível às pessoas ou situações que
possam lhe tirar do sério.

Os pensamentos absolutistas aparecem quando você pensa em coisas como “eu


devo”, “eu tenho de”, “eu preciso”, “eu deveria”. Como exemplo: “Tenho de fazer isso.”;
“Eu deveria ter dito tal coisa a tal pessoa.” Todos nós fazemos isso algumas vezes ao dia.
O problema aparece quando você exagera nessa autocrítica. É um tipo de pensamento
que todos nós temos, o problema se dá quando exageramos na autocrítica. Geralmente
fazemos isso com nossa aparência, como exemplo: “Eu deveria ter um menor quadril”;
“Eu deveria ter um seio maior”; “Eu deveria ter um cabelo mais longo.”

De acordo com Ellis &Lange (1994), também tem-se a tendência de comparação com os
outros e assim começa-se a ter pensamentos do tipo: “Eu deveria ser mais inteligente,
criativo, ambicioso, estável, desinibido etc.” Independente da situação sempre
acharemos que deveríamos fazer algo que não fizemos. Geralmente quando se faz isso
com frequência, passa-se a achar que os outros é que deveriam ser mais, ser menos,
fazer isso ou aquilo. E assim passamos a ser muito críticos.

O processo que nos torna autocríticos começa na infância. Com certeza você deve ter
ouvido pais dizendo: “você deveria brincar com seu irmão”, “você deveria ser médico”,
“advogado”, “piloto de avião”. “Você deveria ser o que eu quero que seja”. Outras fontes

79
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

influenciadoras nesse processo são os professores e os representantes religiosos, quando


dizem: “Você deve tirar notas boas”; “Deve ser disciplinado”; “Deve ter boas maneiras”;
Deve ter moral”; “Deve ser decente”; “Deve ser gentil”. E por fim, a televisão, que pode
ser considerada uma das fontes mais cruéis dos “deveria”. Ela de maneira sutil em
algumas vezes, provoca nas pessoas pensamentos do tipo: que se você não usar a pasta
de dentes certa, se não tiver o corpo daquela modelo, se não usar aquele xampu, coisas
terríveis poderão acontecer, com o por exemplo, a pessoa jamais terá sucesso na vida.
Seu objetivo é convencer as pessoas das coisas que devem ter ou ser.

A racionalização: são formas de pensar que vão tentar negar ou reduzir a importância
dos acontecimentos. São identificadas nos pensamentos do tipo: “Quem se importa?;
“Grande coisa!”; “Isso não me incomoda”; “E daí?”. Entretanto, são disfarces que são
utilizados pelas pessoas na tentativa que enganar a si próprias. Assim, de acordo com
Ellis &Lange (1994), a racionalização não nos permite ter nenhuma reação diante de
certas situações difíceis que nos aborrece, mesmo que tenhamos algum sentimento
legítimo relacionado a tal situação. Como exemplo, em situações de divórcio, os
pensamentos relatados surgem com o objetivo de amenizar o sofrimento da pessoa,
mesmo que este sentimento seja legítimo devido à tal situação.

Os autores citam outros exemplos de racionalização como experiências com filhos:


“Chega! Por mim, ele agora pode ir para o inferno”; “Eu desisto”; “Se quer arruinar a
própria vida, problema dele”; “Não me importo”. As pessoas fazem isso no momento de
pânico e logo depois racionalizam e voltam ao pânico novamente. Outro exemplo, seria
em situação de uma não promoção no trabalho. Nesse caso, a pessoa para tentar se
confortar por não ter conseguido a promoção diz: “Quem se importa”; “Grande coisa”;
“Eles é que saem perdendo”; “Não me afeta que esses idiotas não reconheçam um
talento”; “De qualquer jeito, provavelmente eu não iria gostar do trabalho”. Também
racionalizamos como forma de pretexto em situações de medos como: “Acho que não é
o momento certo de pedir um aumento”; “Há muitas pessoas em volta dele, não é hora
de me aproximar e me apresentar”. Por fim, é possível racionalizarmos como forma de
justificativa para comportamentos antiéticos ou inadequados, o que também é chamado
por psicólogos de dissonância cognitiva, como exemplo: “Todo mundo cola nessa
aula - é tão fácil - além disso, o professor é um cretino”; “Não tem nada de mais.”

Dessa forma, esses três pensamentos enlouquecedores podem nos fazer entrar em
pânico, criticar e racionalizar (ELLIS ; LANGE, 1994). E o que fazer para livrar-se deles?
Algumas maneiras são sugeridas para conseguirmos evitar esses tipos de pensamentos,
como:

80
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

»» Descobrir as crenças irracionais que levam aos sentimos e comportamentos


inadequados. Exemplo:

Sentimento e comportamento Crenças irracionais que levam


inadequado ao comportamento e sentimento inadequado
Furioso com meu filho de manhã Ele não deveria criar tanto problema de manhã! Não suporto isso! Aposto que ele faz de
propósito só pra aborrecer, o cretino! Que confusão!

»» Neutralizar as racionalizações e os pretextos. Exemplo:

Possível racionalização Desafio à racionalização


Talvez meu filho esteja apenas passando por uma Estou evitando uma conversa com ele, utilizando uma vaga justificativa para o seu
fase difícil, e eu deva apenas ignorar a falta de comportamento? Estou ansioso por achar que não conseguirei lidar com ele se tiver que
compreensão dele todas as manhãs enfrentá-lo?

»» Agir contra as racionalizações e os pretextos. Exemplo:

Possível racionalização Ação para superar a racionalização


Talvez meu filho esteja apenas passando por uma Confrontar-me com meu filho; explicar o que quero dele e por que; ouvi-lo, mas
fase difícil, e eu deva apenas ignorar a falta de permanecer firme nos meus propósitos, e manter as consequências se não forem atingidos.
compreensão dele todas as manhãs

Convém destacar que nosso pensamento nem sempre ocorre de maneira prática.
Contudo, temos a possibilidade de melhorar na forma de pensar, sentir e agir com as
pessoas em determinadas situações utilizando as técnicas apropriadas para evitar os
pensamentos enlouquecedores.

Figura 18. Pensamento automático.

Fonte: <https://psicologaticianaraujo.files.wordpress.com/2015/07/pensamento-automatico.jpg>.

81
Capítulo 6
Reestruturação cognitiva

A Terapia Cognitivo-Comportamental tem como objetivo a reestruturação e correção dos


pensamentos considerados disfuncionais, promovendo mudança no comportamento e
consequentemente a melhora dos transtornos emocionais (KNAPP, 2004).

No modelo proposto por Beck a Terapia Cognitiva busca a reestruturação cognitiva,


desenvolvida a partir de uma conceituação cognitiva do individuo, para identificação
de seus problemas. A reestruturação cognitiva consiste na reformulação do sistema de
esquemas e crenças do paciente através da intervenção clínica com a utilização de várias
técnicas. A reestruturação cognitiva consiste em modificar os pensamentos automáticos
e as crenças disfuncionais envolvidos nos problemas do paciente (WRIGHT, BASCO;
THASE, 2008).

Segundo Harvey & Espie (2002), o processo de reestruturação cognitiva envolve quatro
etapas:

1. identificação das cognições problemáticas conhecidas como “pensamentos


automáticos” (PA) disfuncionais ou negativos de si próprio, do mundo, ou
do futuro com base em crenças já existentes sobre si mesmo, do mundo,
ou o do futuro;

2. identificação das distorções cognitivas nos PAs;

3. disputa racional dos PAs com o método socrático;

4. desenvolvimento de uma refutação racional para o PAs.

O processo de reestruturação cognitiva se inicia com a identificação e registro de


pensamentos automáticos. Por ser o nível mais superficial da cognição o seu acesso
é mais fácil (BERTALONI, HÜBNER; PERGHER, 2007). Segundo os autores, para
identificação desses pensamentos deve-se realizar uma análise dos erros de lógica
referentes às interpretações catastróficas do indivíduo, que geralmente são corrigidos
por meio do questionário socrático, o qual o indivíduo juntamente com o terapeuta
irá identificar estratégias para interpretar suas sensações físicas. Em seguida, deve-se
identificar as crenças disfuncionais, conhecidas como distorções cognitivas.

Segundo Bertaloni et al. (2007) o objetivo principal da reestruturação cognitiva consiste


em modificar as crenças centrais, que são consideradas como o nível mais profundo da

82
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

cognição. De acordo com os autores as técnicas utilizadas para o acesso a esse nível são:
seta descendente e questionário socrático, que tem como propósito ensinar os pacientes
a reconhecer e desafiar as percepções e as opiniões irracionais, possibilitando-os a
interromper processos depressivos e ansiosos do pensamento, assim como aliviar e
impedir seus sintomas.

Wright et al., 2008, descreve as principais técnicas utilizadas para realização da


reestruturação cognitiva:

»» descoberta guiada e questionário socrático: Por meio de perguntas


com respostas abertas o terapeuta vai guiando o paciente até a descoberta
e compreensão de seus problemas. Dessa forma, o paciente compreende
melhor seus problemas, elabora possíveis soluções e desenvolve
alternativas para solucioná-lo. Como exemplo: “O que é mesmo ser uma
boa mãe? Dessas características enumeradas por você do que é ser boa
mãe, quais você possui? Quem você considera uma boa mãe?

»» registro de pensamento disfuncional: O paciente deverá registrar


todos os sentimentos (ex.: raiva, medo, taquicardia, falta de ar, etc.),
assinalando a intensidade de cada emoção numa escala de 0 a 100. E
também os pensamentos gerados por eles da forma como apareceram
em sua mente. De forma a identificar e analisar conscientemente os seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos conflituosos, para que ele
reflita sobre respostas adaptativas em relação às suas cognições negativas.
Indicando também o grau de sua convicção para cada pensamento
numa escala de 0 a 100. A figura 22 apresenta o modelo de registro de
pensamento disfuncional.

»» descatastrofização: Ajuda o paciente a testar a realidade de suas


cognições. Geralmente ocorre em pacientes com problemas de ansiedade
(WRIGHT et al., 2008). Vamos supor que o pior aconteça, qual será a
sua consequência? E se acontecer? De acordo com Wright et al. (2008), a
descatastrofização contribui para que o paciente avalie sistematicamente
a probabilidade de um resultado catastrófico ocorrer ao se expor ao
estímulo; desenvolva um plano para reduzir a probabilidade de que tal
resultado ocorra; crie uma estratégia para enfrentar a catástrofe, caso
esta ocorra.

Os autores acrescentam que outras técnicas podem ser também frequentemente


utilizadas na reestruturação cognitiva, como: identificação de erros cognitivos, exame
de evidências (análise pró e contra), reatribuição (modificar o estilo atributivo), listagem

83
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

de alternativas racionais e ensaio cognitivo (mudança do pensamento por meio da


geração de imagens mentais ou role-play).

Quadro 5. Modelo de Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD).

Registro de Pensamentos Disfuncionais


Situação Pensamento Automático Emoção Comportamento
Eu estava em casa e minha mãe olhou “O que foi que eu fiz?” Raiva Sai da sala e bati a porta do quarto
pra mim de um jeito estranho.
Ela já está pensando que vou pedir alguma 100%
coisa pra ela.”(90%)
Eu estava na igreja e vi que as pessoas “As pessoas estão me rejeitando.” (80%) Tristeza Não vou mais à igreja....
estavam olhando para mim.
90%
Eu estava em um ônibus em SP, e “Eles vão atirar em mim” Medo Pulei do ônibus.
aconteceu um assalto. Os assaltantes
“Vou morrer” (99%) 100% Passei 2 anos sem entrar em ônibus
apontaram uma arma p/ mim.
Na escola eu estava com o meu ex que “Todos vão pensar que a gente reatou o Vergonha Deixei ele praticamente falando
traiu conversando na lanchonete. namoro” sozinho
90%
Fonte: <http://images.slideplayer.com.br/11/3539941/slides/slide_23.jpg>.

As técnicas utilizadas para reestruturação cognitiva são instrumentos indispensáveis


para a identificação dos pensamentos automáticos e esquemas nas sessões de terapia.
Assim, a reestruturação cognitiva ensina habilidades para mudar as cognições dos
pacientes, auxiliando-os na realização de uma série de exercícios que contribuem para
expansão do seu aprendizado na terapia em relação às situações de sua realidade.
Para eficácia no resultado do tratamento é necessário que sejam realizadas de forma
repetitiva, até que os pacientes possam modificar prontamente cognições disfuncionais.

84
Capítulo 7
Disfunções cognitivas e emocionais nos
ciclos de vida (criança, adolescente,
adulto e idosos)

A cognição se refere ao ato de conhecer, é um conjunto de processos mentais


conscientes que se baseiam em experiências sensoriais, pensamentos, representações
e recordações (MICHAELIS, 2017). Incluem as capacidades para prestar atenção para
recordar, para trabalhar a informação, para resolver problemas. Quando ocorre um
mau funcionamento em uma dessas capacidades, são identificadas as disfunções, que
também podem ocorrer na ordem emocional.

As disfunções cognitivas e emocionais geram os transtornos mentais. Tais transtornos


causam sofrimentos constantes e intensos, que prejudicam o desempenho da pessoa
nas diversas fases da vida, desde a infância até a fase do envelhecimento. O conceito
de transtornos mentais de acordo com o CID-10 se classifica como doença com
manifestação psicológica associada a algum comprometimento funcional resultante
de disfunção biológica, social, psicológica, genética, física ou química. Podem ser
classificados, ainda, como alterações do modo de pensar e/ou do humor associadas a
uma angústia expressiva, produzindo prejuízos no desempenho global da pessoa no
âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar.

Criança
As crianças, para Oaklander (2006), têm uma forte capacidade de captar, dos seus
próximos, alterações de humor e sem uma diferenciação protética, aceitarem para si
aqueles estados emocionais.

O meio em que se apresenta a criança é forte influenciadora do seu estado de anima,


logo, a infância protegida e segura não é uma realidade para muitas crianças. Crianças
que vivem desamparos, ambientes desfavoráveis, hostis, disfuncionais e que não
conseguem estabelecer uma autorregulação no seu meio familiar, são mais comuns de
chegarem à clínica.

Diante disso o ambiente com o terapeuta acentua uma forma de descobrir criativamente
como enfrentar um ambiente estressante não somente para a criança, mas como a
forma dela interagir criativamente está latente nesse período, é um ponto favorável ao
trabalho.

85
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Esse processo dinâmico e criativo para Perls, Goodman e Hefferline (1997), de


interação com o ambiente pode ser descrito como o ajustamento criativo e auxilia na
restauração da harmonia, o equilíbrio, a saúde do organismo, o qual se dá por meio da
autorregulação, procura satisfazer as nossas necessidades primordiais do momento,
considerando as possibilidades ambientais.

Há grandes questões que precisam ser feitas para entendermos o sofrimento na


infância, e como isso tem se manifestado, podemos pensar nos excessos de diagnósticos
cognitivos? Suicídio na infância como em outra fase da vida? Respostas emocionais
desproporcionais por frustrações?

Uma criança pode desenvolver uma fobia específica, como a melhor forma de enfrentar
um pai violento, e ser muito amadurecida, assumindo condutas assertivas a fim de
proteger a mãe e cuidar dos irmãos. A criança saudável deixa-se guiar pela sabedoria do
seu organismo, que reconhece as suas necessidades originais, tenta realizá-las seguindo
uma ordem de importância e escolhe qual a melhor ação em uma dada situação para
se satisfizer, evitando danos a si e prejuízo nas suas relações pessoais. No entanto, nem
sempre a criança faz suas escolhas de forma consciente e racional.

A criatividade é uma resposta saudável dada pela criança para suprir suas necessidades
internas de ferramentas que ela possa usar, sendo assim, no adoecimento pode significar
que a criança interrompeu sua capacidade criativa, passando a interagir com o outro de
forma fixa e enrijecida. Na clínica esse comportamento deve ser bastante observado e
estimulado pelo terapeuta infantil, a capacidade de brincar, imaginar, construir soluções
e humor, são pontos importantes para serem vistos na interação com a criança.

Figura 19. Criatividade infantil.

Fonte: <http://www.fatosdesconhecidos.com.br/10-motivos-inacreditaveis-que-levaram-criancas-a-prisao-nos-estados-
unidos/>.

86
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

O adoecimento pode apontar necessidades secundárias, em plano de fundo, das


principais, uma fase de enurese noturna se apresenta quando os pais vivenciam uma
imaturidade no relacionamento e o filho (a) ao perceber os pais, inseguros, com medo,
instável passa a ter uma dependência emocional em relação aos pais que não conseguem
passar segurança à criança e a enurese pode ser o sintoma.

O trabalho clínico infantil, então, se passa com a família muito próxima para relatar os
acontecimentos vivenciados dentro de casa, com todos os membros. As famílias, assim
como as crianças procuram uma tentativa de cura, o retorno a homeostase inicial,
entender o adoecimento e caminhar no caminho do autoconhecimento.

Podemos pensar, então, que para as crianças os seus distúrbios psicológicos e


comportamentais podem ser dos dramas infantis não resolvidos dos pais que são
projetados na criança. Os cuidados dos pais, por melhores que podem ser, ainda sim,
podem impedir o crescimento de seu filho, isso precisa ser observado e pontuado caso
seja percebido.

Para Briggs (1986), a criança saudável desenvolve a capacidade de amar, ser generosa,
sentir gratidão e desejo de reparação a partir da internalização positiva das figuras
parentais (pais amorosos que confirmam e respeitam a individualidade da criança), o
que leva a uma diminuição do medo de perda, aumenta a capacidade de compartilhar,
de se expressar e de realizar trocas nutritivas com o mundo.

Figura 20. Adoecimento infantil.

Fonte: <http://www.eluniversal.com.co/sites/default/files/201602/3523015_xxl.jpg>.

Para pensar-se melhor, trabalhar-se-á com um caso de criança com transtorno


fóbico-ansioso.

Na CID-10 (1993), os transtornos de ansiedade mais comuns da infância são: ansiedade


de separação, ansiedade fóbica e ansiedade social. Os comportamentos problemáticos

87
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

correspondentes a cada um (medo de ficar sozinha, de sair de casa, de ir ao banheiro


sozinha, de dormir sozinha, recusa em ir à escola, medo de escuro, medo de insetos
e/ou animais, medo de estranhos) tem sua expressão em sintomas clínicos, tais
como: choro fácil, ataques abruptos de raiva, morder os lábios, roer unhas, pesadelos,
irritabilidade, comportamento aderente/pegajoso, timidez, passividade, retraimento,
enurese noturna, sudorese nas mãos e pés, dentre outros.

Esses tipos de sintomas do transtorno podem ser intermitentes ou recorrentes, vai


depender de criança para criança. O caso que iremos trabalhar vai ser dividido em:
histórico familiar, a criança e seu espaço e fechamento.

O histórico familiar da criança começa no pedido do atendimento, ao telefone os pais


relatam que estão angustiados e não conseguem mais estar juntos, devido aos pedidos
do filho único de 8 anos que não fica sozinho. Ao combinar o atendimento o terapeuta
diz que será primeiro somente com os pais e perguntam se isso será possível, a criança
estar com alguém além deles.

Durante o primeiro atendimento os pais parecem bastante inseguros sobre o


adoecimento do filho, dizem que fizeram de “tudo” para poder ajudá-lo, ritualizaram
uma peça com objetos que a criança se sentia segura, compraram presentes se ela
fosse dormir sozinha, brigaram com ela e mesmo assim o sinal que a criança estava
apresentando permanecia.

Nos primeiros atendimentos a criança chega bem vestida, e toma o espaço do consultório
com facilidade, se apropria dos espaços e dos brinquedos, é criativa, e imagina situações
com facilidade. A mãe fica na sala de espera e aguarda o filho, qualquer barulho que a
mãe faça na sala de espera a criança faz uma pequena pausa, como que com receio de
ser deixada ou algo lá fora o assusta.

Passado alguns atendimentos a criança já não se angustia tanto com os sons da sala de
espera e entre esses atendimentos, conversando com os pais, pedi para que me relatar
como é a rotina na hora de dormir. O quarto da criança fica no final do corredor, então,
para facilitar eles revezavam para colocá-lo para dormir, durante o dia ele já apresentava
melhoras para estar só, desde que soubesse que eles estariam ali.

Os pais foram entendendo que sua insegurança em estarem de acordo com a condução
da ajuda ao filho influenciava diretamente no adoecimento do mesmo, a criança capta
essa insegurança e não distingue se é dela ou deles.

Após 18 meses de atendimento o caso foi encerrado.

88
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

Pensando agora sobre a criança e seu brincar na clínica, o medo é uma reação em favor da
sobrevivência que ocorre diante de uma ameaça à vida ou à integridade psíquica, sendo
inerente à condição humana. Há os medos naturais específicos do desenvolvimento,
que surgem quando a criança toma consciência do mundo, de coisas que não consegue
entender ou controlar.

A criança precisava brincar de controlar os pais e suas angustias, quando isso é dito
para ela como ela percebe que faz parte de seu desejo sempre ter por perto, isso se torna
consciente na relação de contato com as figuras parentais.

Segundo o DSM-V, a fobia é uma reação exagerada de medo excessivo e irracional,


desencadeado pela presença ou antecipação de um objeto, lugar ou situação aterrorizante
que leva a uma sensação de descontrole do corpo e da mente. Do ponto de vista
psicológico, representa uma expressão simbólica de conflitos psicológicos relacionais,
carregados de fantasias de morte, destruição e/ou doença, as quais escondem o impulso
agressivo dirigido ao outro significativo amado, hostil e temido.

Já o transtorno de ansiedade pode se apresentar juntamente com a fobia, o que torna o


diagnóstico mais complexo e difícil de trabalhar na clínica.

O terapeuta pode fazer uso de fantasias dirigidas com temas de coragem, independência;
diálogo com fantoches humanos ou de animais sobre o medo, a raiva; dramatizar a
situação fóbica; propor desenhos temáticos; trabalhos corporais e sensoriais com a
argila para liberar a tensão muscular e a agressividade retrofletida, de forma a resgatar
a consciência corporal. É importante considerar que o terapeuta age com cuidado e tem
uma preocupação em não impor atividades, de forma a evitar intervenções invasivas
que não respeitem o ritmo, a espontaneidade e a singularidade da criança, bem como
busca, nas entrevistas de orientação aos pais, provocar a conscientização de conflitos
pessoais não resolvidos, com o fim de facilitar o processo da criança e a reconfiguração
da dinâmica da família.

Figura 21. Criança feliz.

Fonte: <https://userscontent2.emaze.com/images/d4c5046c-d5cd-4203-b5bb-35cd9f07fddd/7c00c63afb2c2bb640f46494
da694182.png>.

89
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Adolescência

Uma fase de muitas mudanças no meio social e internamente é a adolescência,


recebendo estigmas sociais de todos os gêneros o adolescente muitas vezes em uma
grande transição não se compreende e não é compreendido.

Particularmente a sintomatologia desse período é singular, mas não exclusiva, sua


manifestação pode se dar por: Transgressões aos limites da lei, crises de ansiedade,
quadros depressivos, dificuldades alimentares, intercorrências sexuais e muitas outras.

Procurar entender o contexto no qual todas essas transformações e como elas têm
ocorrido para o cliente adolescente é fundamental para o processo psicoterapêutico, o
que se deve atentar em questões de manejos clínicos é a organização dos atendimentos.

Nunes (2008) afirma que, numa situação de emergência, a pessoa procura a melhor
maneira possível de lidar com o que se apresenta: contenção de energia ou substituição
da necessidade. É necessário suprir a excitação da necessidade genuína, e a energia vai
para a contenção. O problema ocorre quando a atitude que era consciente e controlada
passa a ser crônica, repetida, irrefletida e, portanto, cristalizada. Nesse momento,
perde sua função primária de ajustamento para ser apenas uma adequação limitada ao
contexto, impedindo a pessoa de agir de formas diferentes aos distintos contextos. A
questão fundamental é que cada nova situação demanda um ajustamento igualmente
diferenciado; sendo a cristalização ou sedimentação (engessamento do ato) uma
estratégia adaptativa de momento, mas não replicável em situações diferenciadas.

Não é raro, quando o adolescente em seu processo pede um espaço para se diferenciarem
das figuras parentais presentes em sua vida, no entanto o terapeuta deve explicar que
eventualmente tal espaço precisa ser aberto para que ele (terapeuta) possa dialogar
com essas figuras.

O manejo disso é delicado e sentido de cliente para cliente, mas para que isso não
prejudique o vinculo com o terapeuta é preciso muitas vezes organizar com o cliente o
encontro com seus pais e como vão ocorrer, deixando-o seguro de que o seu papel ali é
dar a ele sustentação.

No caso de adolescentes que manifestam o seu sofrimento entrando em conflito com a


lei, é comum no meio social o discurso de procura do responsável, um culpado por tais
atos infratores e a criação de um estigma sobre a imagem desse momento de muitas
mudanças.

Segundo Trindade (1993), afirma que a sociedade é em seu emaranhado social, criadora
de seus próprios delinquentes, sendo assim também responsável pelas instituições

90
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

onde os mesmos irão permanecer. Uma retomada da necessidade de afirmar o que é


“bom” e “mal” dentre as maneiras de ser-no-mundo.

Em algumas medidas do nosso contexto existiram as casas da FEBEM (Fundação


Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), onde se acreditava nos
programas gerenciados para a restauração do desenvolvimento harmônico de jovens e
adolescentes da década de 1970.

Para Goffman (1988),descreve que quando um indivíduo é estigmatizado, normalmente


convive com pessoas que o subjugam ao seu estigma e não conseguem vê-lo em sua
totalidade, tomando assim a parte como uma totalidade daquele sujeito, não percebendo
qualidades ali presentes. Com isso, pode ser que ele próprio passe a se desacreditar e
fazer eco a essa negativa. O mesmo autor descreve que quando há a aceitação dessa visão
gerada por outro, ela é descrita como aceitação, muitas vezes sentindo necessidade de
reafirmar aquela imagem gerada.

Figura 22. Adolescência infratora.

Fonte: <http://images.jovempan.uol.com.br/_nd5woeWsS-NRFEY0hDZbQOX3aY=/fit-in/619x437/media.jovempan.uol.com.br/
old_images/2011/01/06/H_20110106_215851.jpg>.

Percebe-se diante do cliente infrator que não houve espaços possíveis para que mostre
quem verdadeiramente é. Os tratamentos subjugados os fazem defrontar as leis de
alguma forma, no que se manifesta como uma glorificação entre eles pode ser construída
como uma necessidade de retomada da sua autoestima.

Não se pode escapar de que o meio no qual o jovem vive retorna como uma forte
influencia do seu modo de ser e pensar, são escolhas que fazem entre eles a todo tempo,
procurando credibilidade, aceitação e inclusão.

91
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

A autora May (1988) relata que quando o grupo no qual ele está inserido e
identificado é nocivo nos seus objetivos, àquela energia se direciona para um campo
de destrutividade.

Esses adolescentes, em suas relações com os outros e com o mundo, desenvolvem-se


e constroem-se da forma como podem, buscando um jeito de sobreviver e de proteger
sua autoestima. Em alguma coisa eles têm que ser incríveis, se não é possível estando de
acordo com os padrões da cultura dominante, se não lhes são dadas as condições para
tal, que seja então infringindo as leis. Talvez essa seja a única forma que encontraram
de se manter no mundo, pode ser assim que eles conseguem algum amor próprio.

A proposta com esse nível e características de sofrimento é em primeiro momento


o implicar do processo desses adolescentes, que muitas vezes são encaminhados a
clínicas, ou levados pelos pais. Com o acolhimento e o andamento da construção de um
vinculo, pode-se trabalhar a ressignificação do estigma presente no meio social dele e
com ele mesmo.

Acredita-se na importância de pensarmos nessa complexa e desafiante possibilidade


do sofrimento, quando o cliente muitas vezes subjuga seu próprio sofrimento e nós ao
suportarmos essa quebra junto com eles, permitimos o restaurar das relações.

A citação corrobora com o nosso caminho ao pensarmos nas medidas restaurativas, que
podem auxiliar o adolescente em conflito com a lei na revisão de sua história de vida, na
ressignificação do estigma de infrator e no encontro de si, quanto sujeito.

Outro tipo de manifestação do sofrimento psíquico na adolescência pode ser por via
da alimentação, umas das fortes características desse adoecimento é que surgiu na
sociedade pós-moderna. Para Castro (1995) os últimos levantamentos apontam que
mais de 90% são adolescentes do sexo feminino.

Para o contexto Brasileiro não foram encontrados dados epidemiológicos de prevalências


de transtornos alimentares como anorexia e a bulimia nervosa.

Porem para nosso estudo vamos nos ater a casos clínicos, se sabe que a procura por
transtornos alimentares é baixa devido ao cliente não perceber-se doente.

No DSM-IV (2002) é definida a anorexia nervosa como um transtorno alimentar no qual


a pessoa se recusa a manter o peso corporal dentro do mínimo normal adequado para
a idade e altura; mesmo apresentando peso abaixo do normal, ela sente muito medo
de ganhar peso ou de se tornar gorda. A pessoa vivencia o peso ou a forma do corpo de
maneira perturbada, influenciando impropriamente sua autoavaliação e levando-a a
negar o baixo peso corporal atual.

92
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

A retomada do que a adolescente não conhece, nesses casos a construção da sua imagem
corporal está rompida do contato da realidade do que é vivida na fantasia de satisfação
do externo, negligenciando a si para satisfazer o outro social.

Parte desse pensamento surge da necessidade de aceitação, que marca a insegurança de


ser no mundo. A saúde é o comportamento livre, espontâneo, criativo e fluido. Isso nos
coloca diante de um modo de ver o mundo com o próprio corpo, essa relação pode ser
desconstruída com a transformação dos movimentos como o cliente se vê.

Figura 23. Transtorno alimentar.

Fonte: <http://www.psicologia10.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Transtorno-Alimentar-Restritivo-Evitativo-3.jpg>.

Para Angermann (1998) os ajustes criativos para os transtornos alimentares fazem com
que o cliente lide com tensões do ambiente e do que seu corpo se manifesta. Aponta para
observar como esse tipo de transtorno pode servir para um mecanismo de evitação.

Embora o terapeuta esteja ativo neste processo, a interpretação de eventos, experiências


e até mesmo de sonhos é responsabilidade do cliente. Mudança e metamorfose não
são planejadas ou exigidas no processo terapêutico. Para finalizar este pensamento é
importante abordar esse transtorno com muita seriedade junto à família, desmistificando
qualquer preconceito que reduza o sofrimento presente no cliente.

Adulto

De acordo com a World Health Organization, saúde é um estado completo de bem


estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças. Esse conceito traz
ideias importantes, como os parâmetros de ser saudável ou não, normal ou patológico.
93
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

Segundo Barbalho(1998) a saúde do cliente se prejudica quando ele rompe o contato


com ele próprio. Saúde é definida como a capacidade dele estar respondendo ao meio
que vive de maneira adequada, respeitando o reconhecimento do outro como um sujeito
pleno.

A doença pode ser vista como um momento de crise e segundo Brandão (2003), de
transição, como uma oportunidade de mudança, de aprender e desenvolver uma nova
forma de vida e de expressar-se de modo mais aberto e direto no mundo. A saúde,
como já foi dito anteriormente, não significa ausência da doença, ausência de distúrbios
físicos, mas um modo saudável de estar e de se expressar na vida.

Para se trabalhar, será discutido um caso clínico adulto nessa perspectiva.

Figura 24. Transtornos obssessivos.

Fonte: <http://www.abc.med.br/fmfiles/index.asp/::places::/abcmed/Fungos-como-sao-Eles-podem-causar-doencas-Como-
evita-las-.jpg>.

Para ilustrar como a formação de sintoma se manifesta na neurose, descreveremos


um caso clínico de um jovem com 24 anos que sofre de (TOC) transtorno obsessivo
compulsivo, que chamaremos de B.

B relata estar em sofrimento por não ser aprovado para ingressar na carreira militar,
tendo intensificado suas compulsões em lavar as mãos, tossir e estralar partes do corpo.
Isso tem gerado grande sofrimento para o paciente, pois não consegue “controlar”,
diante de seus familiares e amigos.

As compulsões (comportamentos) B podem, então, ser entendidas como uma estratégia


compensatóriapara lidar com seus pensametosautomáticos disfuncionais (obsessões).
Sendo assim, repetição desse repertório de atos trás alívio aos pensamentos disfuncionais
é a parte mais consciente e perceptível, devendo-se iniciar as intervenções comtécnicas
cognitivas e comportamentais que façam o atendido tomar consciência de sua estrtégio,
buscando substituir esse comportamento orn meio de uma resposta adaptativa.

94
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

B faz uso de medicação há onze anos para auxiliar no controle de suas compulsões,
descreve como insustentável estar sem a medicação e que sente algo quebrado dentro
de si. A ausência de contato com ele mesmo, muitas vezes não dá a ele capacidade
para descrever sua própria angustia, para auxiliar o terapeuta TCC busca junto a ele
construir essa retomada das suas emoções.
Sua família de origem nordestina chegou à cidade há 5 anos, o pai é engenheiro civil e
muito religioso. Sua mãe cuida da casa e não possui trabalho remunerado. Atualmente
B, mora com os pais e uma irmã mais nova mora com seus avós na cidade de origem,
Paraíba.
Nessa dinâmica familiar percebe-se uma rigidez sobre o papel do feminino e do
masculino, quando a família chega para o acolhimento de B o pai se mostra inflexível
diante do sofrimento do filho e a mãe tenta sustentar isso mediando à situação.
Apesar de B ser um adulto, mostra que a disfuncionalidade familiar pode traçar a
construção das crenças centrais (nucleares ou esquemas) de maneira tão profunda que o
próprio indivíduo não consegue acessar esse núcleo. Fato que demonstra a necessidade
da psicoterapia e para além disso, o seu caráter profilático na infância, reduzindo a
probabilidade de emanifestaremtranstornos psicológicosna vida adulta.
No início do acompanhamento é fechado o contrato terapêutico verbalmente e
apresentado acolhimento de B se inicia com mostrando que o espaço era dele e que ali
nós iríamos criar o que ele desejar levar para o atendimento.
B diz sofrer com o TOC desde muito novo, não se recorda quando começou, mas que
no colégio não conseguia ficar sem estralar o pescoço ao ouvir algo negativo perto dele.
Na investigação desse negativo o paciente exemplifica com alguma palavra que
desqualifica, reclama ou critica uma situação qualquer. Dentro de casa nunca se
permitiu reclamar, sempre houve um desagrado de seus pais, pois devem sempre estar
agradecendo a Deus sua existência e conquistas.
Durante as sessões, os pensamentos automáticos disfuncionais vão sendo acessados,
por meio do RDPD (Registro Diário de Pensmentos Disfuncionais). E progressivamente
pressupostos e regras (crenças intermediárias) vão sendo identificadas atravé da
psicoeducação e das tarefas de casa destinadas a que o clientecaminhe em direçãode
conteúdosmais profundos, . Apresento que haverá mais tempo juntos para que ele
traga o que o angustia no momento presente, assim que ele estiver pronto para dizer.
Seus movimentos de reflexão são alteração de horário, uma tentativa de controle da
disponibilidade do terapeuta.
Permanência de silencio por alguns atendimentos e perguntas por onde deve começar
a falar. A economia na descrição de suas falas, não aprofundamento dos temas levados
e esquivas recorrentes, mostram o quando grave e desconectado o cliente estava de si.
Foi primordial para o manejo das sessões o apontamento das resistências para B,
que no primeiro momento não relaciona como resistência, porém percebendo suas

95
UNIDADE III │ Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC

dificuldades em descrever suas queixas, permitiu posteriormente que o apontamento


fosse aproveitado.
Suas tentativas de guardar conteúdos para as sessões não se sustentam e ele passa a
descrever sua ambivalência com este pai.
A partir disso foi investigada a formação de seus sintomas obsessivos, B tenta a todo
custo ter o reconhecimento de suas figuras materna e paterna, descreve como uma
dívida de infância que precisa ser paga por todo cuidado que recebeu.
Com o terapeuta em sessão ao chegar à sala de atendimento, ele aponta a precisão
de sua hora, essa necessidade de reconhecimento é paralelamente comparada as suas
outras manifestações com seus pais.
Seus conteúdos infantis estão ali presentes, manifestando-se na relação com o terapeuta,
que será primordial para trazer à luz. O atendimento de B durou 9 meses e ele não
desejou mais dar continuidade.
Para Nunes (2008) a vida naturalmente traz obstáculos às realizações pretendidas,
e algumas destas intempéries podem paralisar o ser humano, prejudicando seu
crescimento, gerando frustrações que podem evoluir para transtornos psicológicos.
São conceitos que tornamos a dizer para que você pense o caso de B, e que isso produza
sentido para você.
A partir do enfoque teórico da Terapia Cognitivo Comportamental pode-se compreender
melhor o ser humano, seus sofrimentos, suas angústias, mas principalmente suas
potencialidades diante do que se apresenta com o olhar dessa terapia e seus termos.

Idosos
A depressão também é uma consequência comum de disfunção cognitiva nos idosos.
Uma vez que nessa faixa etária há uma constante perda de sua capacidade cognitiva, que
impactam em um sentimento de profunda tristeza e um sofrimento emocional, que vai
gerar a depressão. Os idosos também costumam queixar-se muito de esquecimento, que
podem ser decorrentes da própria depressão ou de demências, que é outro transtorno
comum nessa idade (VENTURA; BOTINO, 2002).
Frequentemente os idosos apresentam quadros de depressão, que são acompanhados
por prejuízos cognitivos (ÁVILA; BOTTINO, 2006). Segundo os autores em quadros de
depressão maior uma diversidade de habilidades cognitivas pode estar comprometida,
como: psicomotricidade, memória não verbal, memória verbal, aprendizagem,
compreensão de leitura, fluência verbal e funções executivas. Sendo o agravamento das
funções executivas, o principal responsável pela piora das outras funções cognitivas,
em especial da memória.

96
Avaliação e Técnicas de Atendimento em TCC │ UNIDADE III

Considerações finais

De acordo com Assis et al. (2009) os transtornos mentais em crianças e adolescentes são
provenientes de fatores genéticos; de desordens cerebrais (epilepsia; violências, perdas
de pessoas significativas), de adversidades crônicas e eventos estressantes agudos; de
problemas no desenvolvimento; na adoção; no abrigamento e também de aspectos
culturais e sociais. Os transtornos mentais também podem provocar comportamento
suicida, sendo este comportamento a terceira causa de morte nos EUA, nessa faixa
etária (BRAGA; DELL’AGLIO, 2013).

Já no que se refere à fase adulta, Santos e Siqueira (2010) relatam que o Consórcio
Internacional de Epidemiologia Psiquiátrica (ICPE) da OMS revelou que no Brasil
o maior índice de transtornos mentais se encontra nesta fase. Dentre eles os mais
frequentes são a depressão, os transtornos da ansiedade, transtornos do humor
e os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Sendo a depressão
sinalizada pela OMS como mais comum no mundo nos próximos 20 anos.

Quadro 6. Principais transtornos mentais que podem ocorrer na infância ou adolescência.

Retardo mental;
Transtornos invasivos do desenvolvimento: Autismo, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett,
Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação;
TRANSTORNOS
Transtornos da aprendizagem: transtornos da leitura, transtorno da matemática, transtorno da expressão
DO DESENVOLVIMENTO escrita e transtorno da aprendizagem sem outra especificação
Transtornos invasivos do desenvolvimento: Autismo, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett, Transtorno
Desintegrativo da Infância e Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação;
TRANSTORNOS DE Transtornos de comportamento e transtorno de conduta (TC), transtorno opositivo
COMPORTAMENTO desafiador (TOD) e transtornos de comportamento sem outra especificação; Transtorno do déficit de atenção
DISRUPTIVO e hiperatividade (TDAH)
Transtornos depressivos – depressão unipolar (Transtorno Depressivo Maior – TDM,
TRANSTORNOS DO HUMOR Transtorno Distímico e Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação), Transtornos bipolares e os
Transtornos baseados na etiologia
Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS), Transtorno do Pânico (TP),
TRANSTORNOS DE
ANSIEDADE Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social (FS), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Fobia
Específica (FE), Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Transtorno de tiques transitório, transtorno de tiques motor ou vocal crônico e
TRANSTORNO DE TIQUES transtorno de tiques motor e vocal crônico, mais conhecido como Transtorno de Tourret

TRANSTORNOS DA Anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da alimentação da primeira infância (pica, transtorno de
ALIMENTAÇÃO ruminação)

TRANSTORNOS DE Encoprese (repetidas evacuações em locais impróprios) e enurese (repetida


EXCREÇÃO liberação de urina em locais impróprios)
TRANSTORNOS POR USO DE Álcool, drogas e outras substâncias
SUBSTÂNCIAS
OUTROS Esquizofrenia
Fonte: APA, 2002; OMS, 1993 (Citado por VINOCUR; PEREIRA, 2009).

97
Para (não) Finalizar

E se todos assumissem mais seu posicionamento em relações, e ao mesmo tempo


conseguissem se posicionar a partir do olhar do outro com quem está se relacionando?
Possivelmente, a barbárie que leva a grupos colonizarem corpos e mentes, a padrões
hegemônicos de comportamento, entre outros, pudesse ser evitada.

Após o percurso trilhado até aqui, tornam-se inevitáveis reflexões sob a influência
de princípios como os de contato, autossuporte, criatividade etc., envolvidos na
manutenção de relações de vida. Outro elemento fundamental, a consciência, aponta
para a necessidade do conhecimento sobre nós mesmos, e assim sejamos capazes
de distinguir nossas necessidades em relação ao contexto no qual convivemos e nos
relacionamos com os outros.

Por exemplo, no que se refere ao exercício laboral do psicoterapeuta, em um contexto


no qual se dá por infindáveis modos de relação, as demandas desafiam cada vez mais
sua atuação, que se refletem na relação com os clientes. O tempo e a rotina, a ida ao
consultório, o andamento da psicoterapia, o aqui e o agora, coadunam no acesso ao
atendimento psicológico nem sempre ao alcance de toda a população que necessite
e/ou deseje, visto as condições sociais que por um lado dizem respeito ao cliente. Por
outro, ao profissional que por vezes tem sua classe desrespeitada por instâncias que não
valorizam sua função a cumprir na sociedade, enquanto categoria de trabalho.

Em perspectiva, é preciso que espaços de formação para uma constante reflexão de


práxis, seja incrementada, mesmo com o passar dos anos, a fim de que suas contribuições
possam ser ampliadas e suas práticas enriquecidas, frente os potenciais efetivados e
aqueles por efetivar.

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