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As Bases Psiconeurológicas do

Mindfulness e Inteligências Múltiplas

Brasília-DF.
Elaboração

Beatriz Machado

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS............................................................................................ 11

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: HOWARD GARDNER.............................................. 13

CAPÍTULO 2
CONCEITO DE INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS................................................................................ 20

CAPÍTULO 3
OS FUNDAMENTOS NEUROBIOLÓGICOS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS.................................. 27

UNIDADE II

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DO MINDFULNESS............................................................................................... 38

CAPÍTULO 2
MINDFULNESS: NO SISTEMA DE SAÚDE, NA ESCOLA E NAS EMPRESAS..................................... 45

CAPÍTULO 3
MUDANÇAS NOS PROFISSIONAIS QUE PRATICAM MINDFULNESS............................................. 51

UNIDADE III
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS....................................................................... 57

CAPÍTULO 1
A NEUROPSICOLOGIA DO MINDFULNESS: O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DURANTE AS
PRÁTICAS................................................................................................................................ 59

CAPÍTULO 2
MINDFULNESS E OS BENEFÍCIOS: DOENÇAS, EFEITOS NA PSICOLOGIA CIENTÍFICA E NA
PSICOTERAPIA......................................................................................................................... 66

CAPÍTULO 3
A UTILIZAÇÃO PERMANENTE DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E O MINDFULNESS: MUDANÇA NO
ESTILO DE VIDA....................................................................................................................... 72
UNIDADE IV
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O
MINDFULNESS................................................................................................................................... 78

CAPÍTULO 1
A CIÊNCIA CONTEMPLATIVA: PARADIGMA CIENTÍFICO EMERGENTE NO FINAL DO SÉCULO XX. 79

CAPÍTULO 2
ATIVIDADES PRÁTICAS QUE FORTALECEM AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL E PRÁTICAS DA PSICOLOGIA POSITIVA................................................................. 85

CAPÍTULO 3
ATIVIDADES PRÁTICAS DE MINDFULNESS PARA O DIA A DIA: NAS ESCOLAS, NA CLÍNICA E NO
TRABALHO............................................................................................................................... 92

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 100

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 102
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nesta disciplina, serão abordados temas relevantes para a área das inteligências
múltiplas e do mindfulness como propostas para lidar com a formação de profissionais
voltados para a saúde, a educação, a sociedade e as organizações. Tais profissionais
devem ter como objetivo a compreensão das pessoas e de si mesmo por meio da visão
das Inteligências Múltiplas, em que esta possa ser abarcada como uma ferramenta do
fortalecimento das relações interpessoais ou intrapessoais, ou seja, intensificando as
relações entre as pessoas. Tal proposta conduz na melhoria do aspecto emocional das
pessoas. Já o mindfulness, de acordo com Vandenberghe (2006, p. 2), “traz a atenção
plena – concentração no momento atual, intencional e sem julgamento”. Entretanto,
falar sobre tais conceitos requer que sejam retomadas as propostas de cada um deles.
Além disso, conhecer a base neuropsicológica de cada uma permite maior domínio das
ferramentas que tenham o subsídio de tais conceitos. Dessa maneira, este material terá
os seguintes tópicos: histórico das inteligências múltiplas; histórico do mindfulness;
mudanças cerebrais a partir do mindfulness; mindfulness e os benefícios: doenças,
efeitos na psicologia científica e psicoterapia; utilização permanente das inteligências
múltiplas e o mindfulness: mudança no estilo de vida; inteligências múltiplas e a
inteligência emocional: visão integrada e as práticas das inteligências múltiplas;
inteligência emocional; psicologia positiva; e mindfulness.

A proposta da especialização em Inteligências Múltiplas e Mindfulness permite


consolidar a prática profissional na integração das propostas voltadas para a
inteligência múltipla e do mindfulness com vistas à aplicação na prática clínica,
nas áreas de saúde, educacional e empresarial inseridas no paradigma das
ciências contemplativas, fortalecendo, dessa maneira, a atuação dos profissionais
da psicologia cognitivo- comportamental, ACT, dialética e positiva no campo do
bem-estar e do fortalecimento da pessoa para fazer o enfrentamento das situações
de estresse e ansiedade no dia a dia. O contexto atual direciona as pessoas a um
estilo de vida que cobra respostas imediatas e sem reflexão. Essa vivência conduz a
doenças físicas e mentais, as quais hoje têm alta incidência.

Os assuntos abordados são de suma importância para a atualização profissional na


melhoria de vida e aceitação de si mesmo e do outro. Para atingir tal proposta, este
caderno de estudos serve como um guia para orientar a pesquisa mais aprofundada
sobre os temas levantados, uma vez que a bibliografia é vasta e será apresentada
ao final do caderno. O aluno, quando possível, deverá pesquisar e aprofundar suas
leituras a fim de aprimorar seu estudo.

8
Objetivos
» Conhecer os principais conceitos de inteligência múltipla, mindfulness,
inteligência emocional e psicologia positiva.

» Conhecer os aspectos neuropsicológicos que envolvem a inteligência


múltipla e o mindfulness.

» Compreender a utilização das ferramentas que podem ser utilizadas para


o fortalecimento da atenção plena e da forma de entender o outro e a si
mesmo nos conceitos de inteligência interpessoal e intrapessoal proposto
por Howard Gardner.

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10
HISTÓRICO DAS
INTELIGÊNCIAS UNIDADE I
MÚLTIPLAS

No século XX, foram realizadas profundas transformações na sociedade por meio da


mudança de paradigma da ciência que acarretou mudanças dos meios de comunicação,
meios de transportes e biotecnologia. Entre alguns dos benefícios da expansão
tecnológica e da automação constam a dissolução de fronteiras, o encurtamento das
distâncias, a aproximação entre povos e culturas e o acréscimo do tempo excedente
concedido ao homem (GÁSPARI et al., 2002, p. 261).

Tais mudanças alteraram a vida das pessoas no mundo todo, e principalmente a


forma delas de pensar a vida, pois, com o aumento na velocidade da comunicação e
dos meios de transportes, foi possível que o mundo inteiro pudesse interagir, ou seja,
houve a integração das comunicações. A partir desse momento, há uma nova forma
de conceber o mundo que traz novos desafios para as pessoas. Esse desafio é pensar
mais rápido e produzir mais, pois se tem agora a aceleração na produção e consumo
dos produtos, o que leva na redução do tempo para o lazer.

A redução do tempo de lazer, promove profundas mudanças na saúde


mental das pessoas, conduzindo-as as doenças mentais e ao mesmo
tempo, reduz no tempo de pensar sobre as diversas situações do dia-a-
dia. Os prejuízos podem ser identificados na tendência massificadora
das formas de preenchimento do tempo excedente, exercida pelo
mercado, impondo ao homem uma pseudonecessidade por produtos e
serviços diversos, inclusive no que tange aos seus momentos de lazer
(GÁSPARI et al., 2002, p. 261).

O pensar nesse novo paradigma é mudado para pensar imediato e prático,


bem como o planejar se faz necessário, o que traz o futuro como o objeto do
pensamento. Esse pensar no futuro promove um modo de ser das pessoas, que
é o estar desatento, “ou se perderem em julgamentos e reflexões que as alienam
do mundo que as cerca. Para estar com atenção concentrada no momento atual,
os conteúdos dos pensamentos e dos sentimentos são vivenciados na maneira em
que se apresentam [...]” (VANDENBERGHE et al., 2006, p. 2).

11
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

O pensamento no futuro acarreta a preocupação nos aspectos pessoal e profissional das


pessoas, portanto conhecer as suas competências intelectuais facilita na organização
para o trabalho e, ao mesmo tempo, fornece condições para reorganizar o seu estilo de
vida.

A teoria das inteligências múltiplas vem com o objetivo de responder às questões


da inteligência de maneira que essa “seja compreendida como uma habilidade para
resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes
culturais” (GARDNER apud RODRIGUES, 2019, p. 5).

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CAPÍTULO 1
Histórico das inteligências múltiplas:
Howard Gardner

A presente capítulo busca retomar o processo histórico das inteligências múltiplas


para se compreender que essa proposta é fruto de esforços para repensar o conceito de
inteligência segundo Binet.

O recuo histórico permite ver a necessidade na atualidade do conceito utilizado por


Howard Gardner na inteligência, bem como compreender o que as inteligências
múltiplas causa na revisão dos conhecimentos sobre a inteligência e a capacidade
humana de criar e transformar a si mesma e o seu meio ambiente.

No mundo atual, deve-se observar que, além da inteligência lógico-matemática e da


linguística, há a inteligência emocional – inteligência intrapessoal e interpessoal – para
manter o equilíbrio dinâmico na vida das pessoas e as demais inteligências formuladas
por Gardner.

Assim, a inteligência múltipla torna-se uma possibilidade real de reorganização da


vida das pessoas, considerando o seu bem-estar físico, mental, espiritual, ambiental,
relacionando-se com as demais pessoas.

Bibliografia breve: Howard Gardner


Howard Gardner nasceu em Scranton, no estado norte-americano da Pensilvânia, em
1943, numa família de judeus alemães refugiados do nazismo. Segundo Ferreira (2008,
p. 3), Gardner

Ingressou na Universidade Harvard em 1961 para estudar história


e direito, mas acabou se aproximando do psicanalista Erik Erikson
(1902-1994) e redirecionou a carreira acadêmica para os campos
combinados de psicologia e educação. Na pós-graduação, pesquisou
o desenvolvimento dos sistemas simbólicos pela inteligência humana
sob orientação do célebre educador Jerome Bruner. Nessa época,
Gardner integrou-se ao Harvard Project Zero, destinado inicialmente
às pesquisas sobre educação artística. Em 1971, tornou-se codiretor do
projeto, cargo que mantém até hoje. Foi lá que desenvolveu as pesquisas
sobre as inteligências múltiplas. Elas vieram a público em seu sétimo

13
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

livro, Frames of Mind, de 1983, que o projetou da noite para o dia nos
Estados Unidos. O assunto foi aprofundado em outro campeão de
vendas, Inteligências Múltiplas: Teoria na Prática, publicado em 1993.
Nos escritos sobre educação que se seguiram, enfatizou a importância
de trabalhar a formação ética simultaneamente ao desenvolvimento
das inteligências.

As informações indicam a grande capacidade de Gardner buscar novos


conhecimentos para construir a sua base de conhecimentos e expor a limitação do
conceito de inteligência, buscando, por meio das pesquisas cientificas e pesquisa
de campo, 1 novas propostas de entendimento da inteligência e principalmente as
inteligências múltiplas.
De acordo com o próprio Gardner (1994, p. 8), “Primeiramente, busco expandir os
campos de ação da psicologia cognitiva e desenvolvimento (as duas áreas às quais,
como pesquisador, sinto-me mais próximo). [...] desejo examinar as implicações
educacionais de uma teoria de inteligências múltiplas”. Portanto, Gardner não
está apenas interessado na consolidação da teoria das inteligências múltiplas, mas
também na aplicação prática e principalmente na parte educacional.
Hoje em dia, Howard Gardner ministra aulas de neurologia na escola de medicina da
Universidade de Boston e
é professor de cognição e pedagogia e de psicologia em Harvard.
Nos últimos anos, vem pesquisando e escrevendo sobre criadores
e líderes exemplares, tema de livros como Mentes Extraordinárias.
Em 2005, foi eleito um dos 100 intelectuais mais influentes do
mundo pelas revistas Foreign Policy e Prospect (FERREIRA,
2008, p. 3).

Figura 1. Howard Gardner.

Fonte: <https://escolaeducacao.com.br/howard-gardner/>.

1 De acordo com Rodrigues et al. (2019, p.1), Gardner estudou “veteranos de guerra americanos o que eles tinham preservado
apesar das sequelas de combate, ele notou que por mais que as pessoas estivessem perdas físicas e intelectuais, por causa
de lesões cerebrais, elas preservaram muitas capacidades intactas, e por meio dessas capacidades era possível estimular as
possibilidades de realização nas áreas afetadas”

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HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

Histórico do conceito de inteligência


Quando se tenta compreender o conceito de inteligência múltipla, deve-se realizar
o levantamento sobre o conceito atual de inteligência e os estudos realizados
anteriormente.

Segundo Rodrigues et al. (2019, p. 4), o primeiro conceito proposto pelo relatório de
Intelligence: Knowns and Unknowns, em 1995, foi:

Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se


adaptarem com eficácia ao ambiente, de aprenderem com a experiência,
de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem
obstáculos mediante o pensamento. Embora tais diferenças individuais
possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o
desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões
distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os
conceitos de “inteligência” são tentativas de aclarar e organizar esse
conjunto complexo de fenômenos.

O segundo conceito oriundo de Mainstream Science on Inlelligence (RODRIGUES


et al., 2019, p. 4)

uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve
a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de
forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e
aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária,
uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair se bem
em provas. Ao contrário disso, o conceito refere se a uma capacidade
mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta ‘
pegar no ar’, ‘pegar’ o sentido das coisas ou ‘perceber’ uma coisa”

Segundo Gardner (apud RODRIGUES et al., 2019, p. 5), “Inteligência é a


habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos
em um ou mais ambientes culturais”. A teoria de Gardner compreende que
a inteligência está relacionada com a capacidade das pessoas em resolverem
problemas no seu dia a dia, portanto existem habilidades desenvolvidas para
resolverem determinadas atividades no cotidiano.

Além de Gardner, outros estudiosos, tais como Alfred Binet e Jean Piaget,
estudaram profundamente a questão da inteligência, e diferentes filósofos,
cientistas, estudiosos nos diversos períodos históricos que buscaram entender e
estudar a inteligência humana.

15
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Antes de avançar para os teóricos Binet e Piaget, é importante vermos como a


humanidade busca incessantemente compreender a inteligência e a sua importância
para as pessoas.

Segundo Gardner (1994, p. 4),

Durante bem mais de dois mil anos, pelo menos desde a ascensão da
cidade estado grega, um determinado conjunto de idéias dominou
as discussões sobre a condição humana em nossa civilização. Esta
coletânea de idéias enfatiza a existência e a importância de poderes
mentais – capacidades que foram diferentemente denominadas como
racionalidade, inteligência ou desenvolvimento da mente. [...]

Desde a formação da sociedade, busca-se entender o conceito de inteligência, pois,


desde os primórdios, a infindável procura pelo conhecimento e as habilidades que
fazem parte do conhecer foram valorizadas.

Desde Sócrates (“Conhece-te a si mesmo”), incluindo Platão, o filósofo Aristóteles


(“Todos os homens por natureza desejam o saber”) e Descartes (“Penso, logo existo”),
toda uma civilização irá procurar saber sobre o conhecer.

No período da época clássica e da renascença, pouco foi desafiada a posição


dos fatores intelectuais. Segundo Gardner (1994), no começo do período
medieval Santo Agostinho, declarou: “O primordial autor e motor do universo
é a inteligência. [...]”.

Conforme Gardner (1994, p. 5), no auge da Idade Média “Dante propôs sua concepção de
que a função adequada da raça humana, considerada no total, é efetivar continuamente
a inteira capacidade possível para o intelecto, principalmente em especulação, então,
através de sua extensão e para este fim, secundariamente a ação”. Mesmo na Idade
Média, período no qual a ciência foi encoberta pela religião, ainda se manteve a
preocupação com o intelecto.

Na Renascença, Francis Bacon descreveu a história do navio “inglês em Nova


Atlântida que se depara com uma ilha utópica cuja principal instituição é um grande
estabelecimento dedicado à pesquisa científica” (GARDNER, 1994, p. 5).

A inteligência, ao longo dos tempos, vem sendo a busca pela essência da humanidade,
pois é por meio dessa capacidade que o homem conhece a si mesmo e ao outro, bem
como compreende o seu meio ambiente e o transforma para produzir condições para
a sua sobrevivência no mundo. Portanto, o conhecimento é a base do domínio da

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HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

natureza e, assim, as pessoas que possuem inteligência são capazes de compreender


melhor a transformação do meio.

Entretanto, Gardner (1994, p. 5) mostra a existência de


Um contraste duas atitudes em relação à mente que se rivalizam e
alternam-se ao longo dos séculos. Adotando a atraente distinção do
poeta grego Arquíloco, pode-se contrastar os que concebem todo o
intelecto como uma só peça (apelidemo-los de “ouriços”) com os que
favorecem sua fragmentação em vários componentes (os “raposas”).
(8). Os ouriços não apenas acreditam numa capacidade singular,
inviolável que é a propriedade especial dos seres humanos: não raro,
como um corolário, eles impõem as condições de que cada indivíduo
nasce com determinada quantidade de Inteligência e que nós,
indivíduos, podemos de fato ser classificados em termos do nosso
intelecto ou QI por Deus.

Ao longo do tempo, o conceito de inteligência vem sendo discutido e debatido,


sempre dividido em duas formas de conceber a inteligência e que até hoje se
mantêm.

De acordo com Gardner (1994, p. 6),


Na área do estudo cerebral há os localizadores que acreditam em
diferentes partes do sistema nervoso intermediam diversas capacidades
intelectuais; e estes localizadores foram alinhados contra os holistas
que consideram que as principais funções intelectuais são propriedade
do cérebro como um todo. Na área da testagem da inteligência, um
interminável debate (12) assolou entre os que acreditam num fator
geral do intelecto (seguindo Charles Spearman) (13); e os que postulam
uma família de habilidades principais, sem nenhuma preeminente
entre elas (seguindo L.L. Thurstone) (14). Na área do desenvolvimento
infantil, há vigoroso debate entre os que postulam estruturas gerais
da mente (como Jean Piaget) e os que acreditam num grande e
relativamente desconectado conjunto de habilidades mentais (a escola
de aprendizagem ambiental).
Diante dessa diferença de pensamento a respeito da inteligência, Gardner
irá lançar à luz dos debates o seu conceito de inteligência, a qual intitulou de
Inteligências Múltiplas.

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UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Uma nova forma de conceber a inteligência:


inteligências múltiplas
A concepção de inteligência de Gardner parte da forma como ele buscou pesquisar a
inteligência humana e, para isso, ele utilizou alguns procedimentos que o auxiliaram
na elaboração da sua teoria.

Os procedimentos utilizados por Gardner (1994, p. 07) foram: “os estudos


de prodígios, indivíduos talentosos, pacientes com danos cerebrais, idiots
savants, crianças normais, adultos normais, especialistas em diferentes linhas
de pesquisa e indivíduos de diversas culturas”. Dessa maneira, os resultados
obtidos por ele estão baseados num conjunto de fontes diferentes nas quais
Gardner obteve informações sobre as inteligências que foram pesquisadas e
delinearam o seu conceito de inteligência.

Gardner, segundo Rodrigues et al. (2019), foi influenciado por Piaget,


entretanto divergiu em vários pontos, dentre eles sobre a questão do ritmo do
desenvolvimento infantil. Para Piaget, o desenvolvimento infantil seria uma
linha reta, e as crianças de uma mesma faixa etária estariam, em geral, no
mesmo estágio e teriam as mesmas características, enquanto, para Gardner,
as crianças de determinada faixa etária poderiam estar em diferentes níveis
de desenvolvimento em diversas áreas de conhecimento, mudando conforme
tendências biológicas vinculadas a estímulos culturais e a experiências infantis
capazes de estimular e potencializar uma das inteligências.

A teoria de Gardner sobre inteligência se difere das demais em outro ponto, que é
sobre a base biológica. Segundo Rodrigues et al. (2019), a teoria das inteligências
múltiplas tem como base o entendimento neurobiológico, genético e, quanto ao
desenvolvimento da pessoa, pode acontecer de forma diferente em decorrência
da diferença nos estímulos recebidos, cada inteligência pode acontecer de forma
diferente das demais. Além disso, a inteligência está relacionada com a cultura na
qual o indivíduo está inserido e com a importância dada por essas culturas. Tem-se,
ainda, a organização vertical das faculdades mentais.

HOWARD, Gardner. Estruturas da Mente: a teoria das inteligências múltiplas.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

ROGRIGUES, Letícia Gomes et al. Um Estudo Sobre a Teoria das Inteligências


Múltiplas. Disponível em: <http://www.gradadm.ifsc.usp.br/dados/20152/
SLC0631-1/Trabalho_tipos_inteligencia.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2019.

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HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

Figura 2. As Inteligências Múltiplas de Gardner.

Fonte: <https://image.shutterstock.com/image-vector/left-right-human-brain-concept-600w-671483350.jpg>.

19
CAPÍTULO 2
Conceito de inteligências múltiplas

Este capítulo busca definir as inteligências múltiplas, bem como conhecer os


conceitos-chaves e os tipos de inteligências definidas por Gardner e em que o
seu trabalho está pautado. O conceito das inteligências múltiplas envolve outras
definições que serão mais bem explicadas neste capítulo. Além disso, serão
identificados os tipos de inteligências propostos pelo autor.

A teoria de Gardner é importante para as várias organizações, em que os profissionais


de várias áreas podem utilizar para identificar nas pessoas quais inteligências as
dominam e, assim, direcionar o trabalho para estimular e criar condições para a
melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.

Após a identificação da inteligência dominante na pessoa, é necessário realizar um


trabalho que permita desenvolver as relações existentes entre as inteligências e
direcionar um trabalho que possa conduzir a melhoria das inteligências intrapessoal
e interpessoal, pois estão relacionadas com a inteligência emocional. Melhorar o
relacionamento consigo mesmo e com as demais pessoas traz um equilíbrio maior
nos relacionamentos e o cuidado com o aspecto espiritual e existencial.

O viver bem nos dias atuais está relacionado com as interações entre as pessoas, o seu
meio ambiente; assim, será alcançada a melhoria das pessoas e da cultura na qual está
inserida.

Conceito de inteligências múltiplas


A partir do entendimento dos critérios utilizados por Gardner, a base biológica,
genética e neurobiológica, assim como os procedimentos por ele utilizados, irão
subsidiar o seu entendimento de inteligência:

A competência intelectual humana deve apresentar um conjunto de


habilidades de resolução de problemas – capacitando o indivíduo
a resolver problemas ou dificuldades genuínas que ele encontra
e, quando adequado, a criar um produto eficaz – e deve também
apresentar o potencial para encontrar ou criar problemas – por meio
disso propiciando o lastro para a aquisição de conhecimento novo.
(GARDNER, 1994, p. 46)

20
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

Para Gardner (1994, p. 46), a inteligência está relacionada com a capacidade de


resolver problemas e também com a demanda cultural no qual o indivíduo está
inserido, pois “a criação de novos produtos ou a colocação de novas perguntas
pode ter relativamente pouca importância em alguns ambientes”.

As inteligências múltiplas estão relacionadas também com o sistema simbólico de uma


cultura e o preparo dessa para compreender o símbolo criado. Dessa maneira, pode-se
inferir que, na proposta de Gardner, a inteligência tem relação integrada entre a base
biológica, genética e neurobiológica, demanda da cultura e suscetibilidade da cultura
em um sistema simbólico. Para a identificação de um erro e a resolução de um problema
existem tais fatores que interferem no desenvolvimento das inteligências específicas.

Entretanto, tem-se a questão dos sistemas sensoriais, pois a inteligência, segundo


Gardner (1994), não está dependente de um único sistema sensorial “As inteligências
são, por sua própria natureza, capazes de realização (pelo menos em parte) através de
mais de um sistema sensorial” (GARDNER, 1994, p. 51).

Na visão de Gardner (1994), consta na natureza das inteligências que cada uma deve
operar segundo os seus próprios procedimentos e tenha as adequadas bases biológicas.
Portanto, cada uma das inteligências específicas opera de acordo com a suas regras
específicas.

Sobre a valoração das inteligências, Gardner se posiciona afirmando que elas não são
pensadas em termos valorativos, bem como não necessariamente serão utilizadas para
fins construtivos, mas podem ser colocadas para a aplicação em objetivos obscuros ou
nefastos.

Conceitos-chaves para compreender as


inteligências múltiplas
Para compreender melhor o conceito das inteligências múltiplas, é necessário que se
tenha a compreensão dos conceitos-chaves utilizados por Gardner (1994). Essa visão
está relacionada com a sua forma de pesquisar e também com os procedimentos
utilizados para levantar as informações a respeito de inteligência.

Os conhecimentos biológicos, genéticos e neurobiológicos2 são importantes para o


norteamento dos critérios utilizados pelo pesquisador na conceituação da inteligência e
também no seu conceito proposto.

2 As informações utilizadas por Gardner a respeito da parte biológica, genética e neurobiológica serão esclarecidas no cap. 3 – O
Funcionamento Biológico, Genético e Neurobiológico na proposta de Howard Gardner - dessa apostila que serão identificados
e explicados.

21
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Antes de definir os critérios, Gardner identifica e explica os pré-requisitos de uma


inteligência, os quais, segundo ele, estão relacionados em focar nas potências
intelectuais que têm alguma importância dentro de um contexto cultural. Então,
“reconheço que o ideal do que é valorizado diferirá marcantemente, as vezes até
mesmo radicalmente, entre as culturas humanas, pois a criação de novos produtos
ou a colocação de novas perguntas pode ter relativamente pouco importância em
alguns ambientes” (GARDNER 1994, p. 46).

Os pré-requisitos possibilitam assegurar que uma inteligência humana deve ser


realmente útil e necessária em determinados cenários culturais. Para as inteligências
se desenvolverem, devem ser úteis na cultura, e o ambiente deve estar suscetível ao
produto ou às perguntas realizadas pelas pessoas.

Assim, além dos pré-requisitos existem os critérios ou sinais que estão relacionados
com a inteligência na proposta do pesquisador. Os critérios norteadores para Gardner
(1994), Antunes (1998) e Rodrigues et al. (2019) sobre inteligência são:

» Isolamento potencial por dano cerebral: determinada inteligência pode


ser identificada apesar da lesão cerebral ocorrida, ou seja, existem
moradas específicas para as habilidades.

» Existência de Idiots Savants, prodígios e outros indivíduos excepcionais:


pessoas que apresentam isolamento de uma inteligência (alguns
considerados deficientes mentais, ou com síndrome) e a manifestam
de forma ostensiva, ou pessoas que demonstrem a(s) inteligência(s) de
maneira altamente diferente em relação aos outros, indivíduos precoces
ou prodígios. Assim, parece ser confirmado que, nos casos de retardos
mentais ou prodígios, existem várias inteligências afetadas, mas com
ênfase particular em uma ou várias.

» Operação central ou conjunto de operações identificáveis: mecanismos


de informações que possam lidar com tipos de entendimento específicos.
Uma determinada inteligência poderia ser disparada de acordo com um
estímulo externo ou interno.

» História desenvolvimental distinta, aliada a um conjunto definível de


desempenhos proficientes de expert “estado final”: uma inteligência
deveria ter uma história de desenvolvimento identificável, por meio
da qual tanto os indivíduos normais quanto os talentosos passam no
decorrer do seu desenvolvimento. Assim, identificar os períodos sensíveis

22
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

da inteligência poderia conduzir a educação no treinamento dessas


inteligências.

» História evolutiva e a plausibilidade evolutiva: as espécies exibem


áreas de inteligência (e de ignorância), e os seres humanos não são
exceção. As inteligências se tornam mais plausíveis se identificados os
seus antecedentes evolutivos, que podem ser conhecidos pela história
biológica da espécie humana.

» Apoio de tarefas psicológicas experimentais: muitos paradigmas


favorecidos na psicologia experimental esclarecem o funcionamento e a
autonomia das inteligências.

» Apoio de achados psicométricos: resultados de experiências psicológicas


constituem uma fonte de informação relevante para as inteligências.
Nas avaliações psicométricas experimentais, mostram indícios de
inteligências específicas.

» Suscetibilidade à codificação em um sistema simbólico: os sistemas


de símbolos podem ter evoluído apenas nos casos em que exista uma
capacidade computacional madura para ser aproveitada pela cultura.
Ou seja, a cultura fornece os indícios para os indivíduos desenvolverem
ferramentas para a incorporação de um sistema simbólico específico.

Os critérios citados são importantes na teoria das inteligências múltiplas, pois


são esses sinais que Gardner irá utilizar na sua obra para entender a inteligência.
Um dos pontos abordados pelo autor é a questão cultural e está relacionado com
o sistema simbólico dessa cultura. Assim, torna-se necessário compreender que
a cultura impõe ao indivíduo os critérios que considera adequados ou não de
acordo com o seu sistema simbólico, ou seja, não basta a pessoa sair da situação
problema, ela tem que estar atenta ao que a sua cultura fornece como pistas das
ferramentas que devem ser desenvolvidas.

As inteligências múltiplas teorizadas por


Howard Gardner
O trabalho desenvolvido por Howard Gardner levantou inicialmente que os
seres humanos têm repertório de capacidade para resolver diferentes tipos de
problemas. Assim, o pesquisador partiu da “consideração desses problemas, os
contextos em que são encontrados e os produtos culturalmente significativos

23
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

que constituem os resultados. [...] começamos com os problemas que os seres


humanos resolvem e depois examinamos as ‘inteligências’ que devem ser
responsáveis por isso” (GARDNER, 1995, p. 29).

O ponto inicial de Gardner foi diferente dos demais pesquisadores da inteligência,


pois ele percebeu a importância da capacidade das pessoas em resolver diferentes
problemas e que, para resolvê-los, deveriam possuir capacidades em superar as
dificuldades/problemas. Após essa constatação, somou as informações do ambiente
no qual as pessoas estão inseridas e também os produtos que são significativos
culturalmente, que constituem os resultados encontrados. Usando esse raciocínio,
Gardner elaborou a teoria das inteligências múltiplas, ou seja, que as inteligências
são interdependentes em um grau significativo.

Portanto, as diversas inteligências propostas na teoria das inteligências múltipla


buscam identificar formas de resolução de problemas nas diversas situações com
dificuldades que acontecem no dia a dia das pessoas, relacionadas com as áreas do
conhecimento humano e suas resoluções, bem como devem considerar a cultura e
as ferramentas desenvolvidas.

Inicialmente, as inteligências teorizadas por Gardner (1994, 1995), Antunes (1998,


2001) e Gáspari et al. (2002) eram sete, porém foram ampliadas para nove:

1. Lógico-Matemática: trata se da sensibilidade para padrões, ordem


e sistematização. Manifesta-se pela capacidade e sensibilidade para
discernir padrões lógicos ou numéricos e a capacidade de trabalhar
com longas cadeias de raciocínio. Personalidade famosa com esse tipo
de inteligência: Einstein, Leonhard Euler, Bertrand Russel, Euclides,
Pitágoras e outros. As áreas cerebrais básicas de sua ação alcançariam
o lobo parietal esquerdo, mas, para algumas funções matemáticas, os
pontos do hemisfério direito.

2. Linguística: sensibilidade para o significado das palavras e funções da


linguagem, sensibilidade para usar a linguagem de forma apropriada para
transmitir ideias. Facilidade para aprender idiomas. Caracteriza-se por
extrema sensibilidade a estrutura, som, significado e funções da palavra
na linguagem, e as áreas cerebrais básicas de sua ação alcançariam o
lobo frontal e temporal esquerdo, como, por exemplo, as áreas de Broca
e de Wernicke. Personalidades famosas com esse tipo de inteligência:
Machado de Assis, Shakespeare.

24
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

3. Espacial: percepção do mundo visual e espacial; pensar de maneira


tridimensional, criar, transformar e modificar imagens; localizar-se
e localizar objetos no espaço. As áreas cerebrais básicas de sua ação
alcançariam regiões posteriores do hemisfério direito. Personalidades
famosas com esse tipo de inteligência: Oscar Niemayer, Michelangelo,
Aleijadinho, Frida Khalo.

4. Corporal-Cinestésica (ou físico-cinestésica): capacidade de controlar o


corpo de forma fina, com coordenação, precisão e habilidade. Associa-
se à linguagem corporal e marca de forma expressiva a capacidade de
comunicação de pessoas como mímicos, mágicos, bailarinos ou atletas.
As áreas básicas de sua ação alcançariam o cerebelo, gânglios basais e o
córtex motor. Personalidades famosas com esse tipo de inteligência: Pelé,
Ana Botafogo, Garrincha, Maradona.

5. Interpessoal: capacidade de interagir de forma efetiva com outras pessoas,


responder apropriadamente a temperamentos, humores, motivação,
compreender e motivar. Se associa a empatia, relação com o outro e sua
plena descoberta. As áreas cerebrais básicas de sua ação alcançariam
os lobos frontais e temporais, especialmente do hemisfério direito, e o
sistema límbico. Personalidades famosas com esse tipo de inteligência:
Freud, Gandhi, Jesus Cristo.

6. Intrapessoal: capacidade de entender a si mesmo, lidar com seus


desejos e sonhos, direcionar a própria vida de forma efetiva. É o
correlativo interno da inteligência interpessoal. As áreas cerebrais
básicas de sua ação alcançariam os lobos frontais, parietais e o
sistema límbico.

7. Musical: habilidade para produzir e apreciar ritmos, tocar


instrumentos e compor. Associa-se à percepção do som não como
um componente do ambiente, mas com a sua unidade e linguagem.
As áreas cerebrais básicas de sua ação alcançariam o lobo temporal
direito. Personalidades famosas com esse tipo de inteligência:
Mozart, Beethoven.

8. Natural: sensibilidade com a natureza, para o entendimento desta e


o desenvolvimento de habilidades biológicas. Está estruturalmente
ligada à vida animal e vegetal e, por esse motivo, é também
conhecida como inteligência biológica ou ecológica. Estímulos
direcionados a essa competência cerebral (alguns pontos do lobo

25
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

parietal esquerdo) são essenciais para se distinguir entre seres


vivos e entidades inanimadas. Personalidades famosas com esse
tipo de inteligência: Charles Darwin, Richard Dawkins, Laplace,
Humboldt.

9. Existencial: capacidades filosóficas de refletir sobre a existência e a


vida. Estaria ligada à capacidade da pessoa em situar-se ao alcance da
compreensão integral do cosmos, do infinito e do infinitesimal, assim
como a capacidade de dispor de referências a características existenciais
da condição humana, compreendendo de maneira integral o significado
da existência. Personalidades famosas com esse tipo de inteligência:
Nietzsche, Descartes.

A respeito dessas inteligências, é importante ressaltar que duas inteligências podem


ser utilizadas numa mesma tarefa simples.

ANTUNES, Celso. Como Identificar em Você e em seus Alunos as Inteligências


Múltiplas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1995.

26
CAPÍTULO 3
Os fundamentos neurobiológicos das
inteligências múltiplas

Uma das bases da proposta das inteligências múltiplas está relacionada com a
biologia, a genética e a neurobiologia. Para entender melhor o funcionamento da
inteligência proposta por Gardner, é necessário entender o suporte biológico da
inteligência que ele estudou ao elaborar a sua teoria.

A inteligência é um dos temas que a humanidade vem, desde os primórdios,


tentando conhecer, procurando entender como acontece a aquisição de novos
conhecimentos e as capacidades que estão envolvidas no processo. Mas foi só com
o avanço das ciências da medicina, das neurociências, da biologia, da genética e da
psicologia é que foi possível compreender melhor esse conceito.

Gardner (1994) irá ter como foco dois conceitos provenientes da biologia e das
ciências do cérebro: flexibilidade do desenvolvimento humano e identidade ou
natureza das capacidades intelectuais.

Ambos estão relacionados com a “capacidade da maleabilidade ou plasticidade no


desenvolvimento humano, que por meio da utilização das intervenções adequadas
em momentos decisivos produzem um organismo com uma gama de profundidade
de capacidades (e limitações)” (GARDNER, 1994, p. 24).

Sobre a “identidade, ou a natureza das capacidades intelectuais, que os


seres humanos podem desenvolver. [...] os seres humanos possuem poderes
extremamente gerais, mecanismos de processamento de informações para
finalidades múltiplas que podem ser colocados em um grande, ou talvez até
mesmo em um infinito número de usos“ (GARDNER, 1994, p. 24).

Esses conceitos são chaves para a compreensão da neurobiologia, a qual


é importante para o entendimento da base biológica e neurobiológica das
inteligências múltiplas.

Genética: informações que auxiliam a


neurobiologia
A genética dá sustentação ao biólogo para entender a dinâmica da vida. Além
disso, nas últimas décadas, os psicólogos vêm buscando respostas sobre

27
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

o intelecto na composição do DNA e RNA. Portanto, os estudos genéticos


formam o ponto de partida de qualquer estudo biológico.

Somado a essa condição, tem-se

na distinção entre o genótipo – a estrutura do organismo determinada


pelas contribuições genéticas de cada progenitor – e o fenótipo – as
características observáveis do organismo conforme expressas dentro
de um determinado ambiente – é fundamental para a consideração do
perfil comportamental e intelectual de qualquer indivíduo. (GARDNER,
1994, p. 26)

Assim, tem-se duas condições que atuam de maneira intensa na formação


da pessoa, que é o seu código genético que a define enquanto linhagem e a
interação entre o indivíduo e o seu meio ambiente seja físico, social, cultural ou
econômico. Essas informações fornecem condições para entender o processo de
desenvolvimento e aprendizagem da pessoa, que, por sua vez, irão influenciar
na constituição da personalidade e inteligência.

Quando se fala na genética dando suporte informacional sobre traços simples de


organismos simples, ela é capaz de fazer a sua função, que é construir conhecimentos
que expliquem os traços estudados, porém, quando falamos de inteligência
nos humanos, a questão fica mais complexa e também mais complexo fica o seu
entendimento, e ainda não há conhecimento necessário para explicá-los. Entende-
se que a inteligência não está relacionada “a um gene ou a um pequeno conjunto de
genes específicos, qualquer traço complexo reflete muitos genes, um considerável
número dos quais será polimórfico (permitindo algumas realizações diferentes
entre uma gama de meios)” (GARDNER, 1994, p. 26).

Portanto, compreender a inteligência não está relacionado a apenas um gene ou


uma área do cérebro, mas sim a um conjunto de genes e áreas. Definir, então, a
atuação de cada uma das inteligências demanda uma atuação bem “organizada”
dos genes e do cérebro para terem produtos que possam resolver os problemas
levantados pelas pessoas.

Então, além dos genes e do cérebro, tem-se a interação entre a pessoa e o meio
ambiente. Esse meio entendido como cultural irá também constituir um fator que
influenciará na inteligência da pessoa.

28
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

Neurobiologia: canalização x plasticidade


Além da genética, tem-se as neurociências, tais como a neuroanatomia,
neurofisiologia e neuropsicologia, que trazem novas informações e permitem
a consistência nas informações sobre o funcionamento e a estrutura do cérebro
e, consequentemente, no embasamento das inteligências múltiplas. Deve-se
considerar que os avanços nos estudos da genética e do sistema nervoso estão
próximos dos fenômenos da cognição e da mente.

Gardner (1994) busca na neurobiologia princípios gerais e nuances específicas


relacionadas com a flexibilidade do desenvolvimento e à identidade das
competências humanas.

Um conceito-chave para o entendimento do crescimento neural e do


desenvolvimento é a canalização. Esse conceito refere-se “à tendência de
qualquer sistema orgânico (como o sistema nervoso) de seguir determinadas
vias desenvolvimentais ao invés de outras. De fato, “o sistema nervoso cresce
de maneira primorosamente cronometrada e elegantemente programada”
(GARDNER, 1994, p. 29), ou seja, os sistemas seguem padrões de desenvolvimento
previamente programados, de tal forma que uma sequência ajuda a próxima a
se desenrolar.

Aqui se faz necessário pontuar que o desenvolvimento de qualquer sistema reflete


influências ambientais. Mesmo “quando se busca bloquear ou de outro modo desviar
os padrões esperados, o organismo tenderá a encontrar um meio para concluir
seu status “normal”; se impedido, ele não voltará ao seu ponto de origem, mas,
antes, fará sua reconciliação num ponto posterior na trajetória desenvolvimental”
(GARDNER, 1994, p. 29). Os sistemas têm uma forma de funcionamento tão precisa
que mesmo que passe por uma situação que possa impedir o processo prévio de
sequência tentará retornar à estabelecida.

Outra característica do desenvolvimento é a plasticidade. O organismo pode


apresentar a plasticidade de várias maneiras. “Para começar, há determinados
períodos do desenvolvimento nos quais uma gama relativamente ampla de ambientes
pode cada um promover os efeitos adequados” (GARDNER, 1994, p.29). Sabe-se que
os períodos iniciais do desenvolvimento são os mais fortes na recuperação quando
em situações de danos significativos.

29
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Sobre a plasticidade, segundo Gardner (1994):

» em algumas situações de danos ou privações precoces podem ter


resultados extremamente graves;

» determinadas competências ou habilidades demonstram a sua força,


mesmo em danos no organismo adulto; infere-se, assim, que existe uma
plasticidade residual que persiste ao longo do ciclo vital.

De acordo com Gardner (1994, p. 30) “A noção de plasticidade não pode ser
considerada à parte do ritmo de uma manipulação ou intervenção específicos
e da natureza da competência comportamental envolvida”. A plasticidade tem
limites na sua atuação no organismo.

Para melhor entendimento da plasticidade, é importante conhecer os seus princípios


no início da vida. De acordo com Gardner (1994, p. 30-31):

» A máxima plasticidade encontrada no início da vida: bem no começo da


vida, o sistema nervoso pode adaptar-se flexivelmente a danos graves ou
alterações experimentais.

» Os períodos críticos do desenvolvimento: é o momento da vida mais frágil


para um organismo; acontece durante esses períodos sensíveis.

» O grau de flexibilidade difere de acordo com a região do sistema nervoso


que está envolvida: existem regiões do sistema nervoso em que há um
desenvolvimento tardio na infância e se tornam mais flexíveis do que as
que se desenvolveram nos primeiros dias e semanas de vida.

» Os fatores que intermediam ou modulam o desenvolvimento: um


organismo fracassará em desenvolver-se normalmente a menos que
passe por determinadas situações.

A flexibilidade torna o organismo mais apto para obter uma melhor adaptação ao
meio ambiente, entretanto existem condições e limites para que a flexibilização
aconteça nos organismos no início da vida. Os princípios gerais da plasticidade no
começo da vida dá o entendimento das situações nas quais ela acontece.

Sobre os conceitos importantes do desenvolvimento humano utilizado pela


neurociência, que são a canalização e a flexibilidade, pode-se entender “que a
determinação (canalização) ajuda a assegurar que a maioria dos organismos será
capaz de desempenhar as funções de sua espécie da maneira normal; a flexibilidade
(ou plasticidade) permite capacidade de adaptação as circunstancias em

30
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

transformação, inclusive ambientes anômalos ou danos precoces” (GARDNER,


1994, p. 32).

Experiência Precoce

As experiências iniciais na vida dos organismos podem afetar o funcionamento do


sistema nervoso. Dessa maneira, os psicólogos e neurologistas buscaram conhecer
os efeitos da privação e estimulação no funcionamento geral. Os pesquisadores que
têm grande contribuição para o entendimento são: William Greenough, Jean-Pierre
Changeux e Antoine Danchin.

William Greenough demonstrou que “as mudanças de tamanho bruto em regiões


que acompanham diferenças nas experiências estão associadas a mudanças no nível
neuronal em número, padrão e qualidades das conexões sinápticas” (GARDNER,
1994, p. 33). Ele mostrou que animais criados em ambientes complexos possuem mais
atividades cerebrais em algumas áreas do cérebro. Isso significa que, ao proporcionar
ambientes ricos em estimulação, o cérebro irá reagir de maneira positiva, no sentido de
que irá ocorrer um número maior de sinapses.

Jean-Pierre e Antonie Danchin (apud GARDNER, 1994, p.33) observaram

que em diversas regiões do cérebro há inicialmente muito mais


neurônicos do que aqueles que, enfim, sobreviverão. Um período
de “morte celular seletiva“ (27) ocorre, habitualmente por volta do
momento em que a população de neurônios está formando conexões
sinápticas com seus objetivos previamente designados. A morte pode
envolver entre 15 e 85 por cento da população neuronal inicial.

Segundo esses autores, o número elevado de neurônios em determinadas áreas


do cérebro se deve provavelmente a um “brotamento” precoce exagerado e
constitui a flexibilidade do período de crescimento.

Além do período de proliferação de células no início da vida, tem-se a poda, na


qual há uma redução no número de células e conexões sinápticas que acontecem
no cérebro jovem. Essa poda nas células pode marcar o começo da maturidade;
a flexibilidade inicial chega ao fim. Por meio da sobrevivência dos mais aptos, o
número de neurônios agora foi ajustado para corresponder ao tamanho do campo
que estão destinados a enervar.

Com relação à quantidade maior de neurônios e sinapses no início da vida, permite


uma possibilidade da maior aprendizagem do organismo desde que seja estimulado,

31
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

entretanto, depois desse período, há uma poda no número dessas células, o que
acarreta a redução da flexibilidade dos organismos na aprendizagem para a
adaptação ao meio ambiente.

Portanto, ao promover um ambiente rico em estimulação logo nos primeiros anos de


vida dos organismos criam-se condições para o enriquecimento da aprendizagem, o
que facilitará a adaptação ao meio. Deve-se compreender que o ambiente deve ser
rico em estimulação, ou seja, ter quantidade de estímulos e, ao mesmo tempo, estar
organizado, porque o ambiente propício para a estimulação nos primeiros anos de
vida está relacionado com quantidade e organização, assim a criança pequena terá
condições de receber as informações do ambiente com significado e organização,
facilitando o processamento sistematizado do meio ambiente.

Bases Biológicas da Aprendizagem

O processo de aprendizagem, e a sua base biológica, foi compreendido por


Eric Kandel, que examinou as mais simples formas de aprendizagem em
Aplysia. Ele chegou a quatro princípios centrais da aprendizagem, os quais,
segundo Gardner (1994, p. 37), são:

1 – Aspectos elementares da aprendizagem não se encontram


difusamente distribuídos no cérebro, ao contrário, podem localizar-se
na atividade de células nervosas especificas.

2 – A aprendizagem resulta de uma alteração nas conexões sinápticas


entre as células: ao invés de necessariamente acarretar novas conexões
sinápticas, a aprendizagem e a memória habitualmente resultam de
uma alteração na força de contatos já existentes.

3 – Mudanças profundas e prolongadas na força sináptica podem ser


produzidas através de uma alteração na quantidade de transmissor
químico liberado nos terminais de neurônios – as localizações nas quais
células comunicam-se com outras células.

4 – Esses processos simples de alteração de forças sinápticas podem ser


combinados para explicar como processos mentais progressivamente
mais complexos ocorrem e, assim, produzem, na expressão de Kandel,
uma “gramática celular” que se encontra por trás das diversas formas
de aprendizagem.

32
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

Mesmo sendo resultado dos estudos em moluscos, os processos estudados fornecem


informações para explicar formas mais complexas de aprendizagem, as informações
nos auxiliam o entendimento da aprendizagem nos seres humanos.

Assim, os conceitos estudados aqui neste subtópico da canalização permitirão, com


alguns ajustes no futuro, entender como se desenvolvem determinados sistemas
cognitivos e como se aprendem algumas habilidades intelectuais no processo de seguir
determinadas vias ao invés de outras.

Identificando os elementos do sistema nervoso

Para o entendimento do sistema nervoso, Gardner irá encontrar, nos estudos voltados
para a estrutura organizacional, dois níveis separados: uma estrutura de granulação
fina ou molecular e uma estrutura ampla ou molar. Os conhecimentos dessas estruturas
são relevantes para a identidade das funções intelectuais humanas.

Os níveis molares e moleculares do cérebro irão dar suporte para a teoria de Gardner
(1994) para identificar os locais e quais as funções das regiões cerebrais. Dessa forma,
tem-se:

» Nível molecular: de acordo com Vernon Mountcastle, o córtex humano


pode ser visto como organizado em colunas ou módulos. As colunas dão
surgimento a diferentes funções quase independentes.

» Nível molar: são as áreas maiores do córtex cerebral, é o nível que trata
de regiões examinadas a olho nu. As descobertas indicam que as duas
metades do cérebro não têm a mesma função. O menos reconhecido é
que a especificidade do funcionamento cognitivo pode ser ligada muito
mais precisamente a regiões mais refinadas do córtex cerebral.

O entendimento dos dois níveis traz luz à compreensão de que as duas


áreas do cérebro não têm a mesma função, ou seja, “a especificidade do
funcionamento cognitivo pode ser ligada muito mais precisamente a regiões
mais refinadas do córtex cerebral” (GARDNER, 1994, p. 39). Portanto,
as funções cognitivas e intelectivas de natureza diferenciada podem estar
relacionadas com áreas específicas do cérebro que, em alguns casos, são
morfologicamente diferentes.

33
UNIDADE I │ HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Visão da organização cerebral segundo


Howard Gardner
A concepção de Gardner sobre a organização cerebral tem como suporte os conceitos
trabalhados nos tópicos anteriores deste capítulo. Ele considera que as visões de
funcionamento do cérebro são divididas entre localizacionistas – regiões cerebrais
têm funções específicas equipotenciais, em que as regiões cerebrais podem exercer
qualquer função do cérebro. Dessa maneira, nos diversos momentos históricos as
pesquisas irão fundamentar mais uma do que outra.

Entretanto, segundo Gardner (1994, p. 41), tem-se:

Um emergente consenso sobre a localização cerebral. O cérebro


pode ser dividido em regiões específicas, cada uma mostrando-
se relativamente mais importante para determinadas tarefas
e relativamente menos importante para outras. Nem todo
nem nenhuma, todas importam: mas com gradientes
definidos de importância. Similarmente, poucas tarefas
dependem inteiramente de uma região do cérebro. Ao invés
disso, uma vez que se examine qualquer tarefa razoavelmente
complexa, descobre-se estímulos de algumas regiões cerebrais,
cada qual contribuindo de forma característica. (Grifo nosso)

A visão traz a compreensão da especificidade de área e, ao mesmo tempo, existem as


funções que são assumidas por outras áreas quando necessário. Ou seja, todas são
importantes com gradientes diferentes.

Outro aspecto que o pesquisador possui é o entendimento de que, para Gardner, a


mente funciona com “mecanismos computacionais”3 e bastante independentes.

A compreensão da neurobiologia em termos molares quanto moleculares é um


poderoso indício “sobre os possíveis tipos naturais” da inteligência humana.
Deve-se considerar também o papel da cultura que irá influenciar nos potenciais
intelectuais e sua evolução. De acordo com Gardner (1994, p. 44),

A cultura nos possibilita examinar o desenvolvimento e a implementação


de competências intelectuais a partir de uma variedade de perspectivas:
os papéis que a sociedade valoriza; as buscas nas quais os indivíduos
podem adquirir especialização; a especificação de domínios nos quais
prodigiosidade, retardo ou incapacitações de aprendizagem individuais

3 Segundo Gardner (1994, p.42), “Usando o jargão, se considera que o equipamento ou ‘hardware’ é considerado irrelevante
para a parte operativa ou “software”, que preparações ‘molhadas’ são inadequadas para comportamento ‘seco’”.

34
HISTÓRICO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS │ UNIDADE I

podem ser encontrados; e os tipos de transferência de habilidades que


podemos esperar nos cenários educacionais.

A teoria das inteligências múltiplas tem subsídios na biologia, o que conduz a


uma forte consolidação nas propostas realizadas pelo pesquisador, considerando
também o papel da cultura e o trabalho da educação no desenvolvimento das
capacidades intelectuais.

O aprofundamento da teoria de Gardner irá, sem dúvida, conduzir a novas


propostas do entendimento da inteligência e também do processo de
desenvolvimento no processo educacional. Na atualidade, encontram-se
várias propostas na área da educação que aplicam a teoria das inteligências
múltiplas na parte educacional escolar.

A proposta educacional fundamentada no autor considera os ritmos


diferentes e estilos de aprendizagem diversos e, portanto, a forma de
ensinar deveria ser por meio da interdisciplinaridade, e o professor deve
ter o papel de mediador do conhecimento. Nessa proposta, o professor
entende que os alunos possuem diferentes potenciais.

Segundo Rodrigues (2019, p. 11), “o papel da escola é formar o cidadão, e ela


deve sobretudo preparar os alunos para o que enfrentarão nas vidas, sem,
contudo, deixar de oferecer amplas possibilidades de realização em todos
os campos, ou seja, as disciplinas devem possuir a mesma importância e
peso, diferentemente do que é comumente visto nas escolas”.

Para formar os cidadãos capazes de compreender a sua realidade e criar


alternativas de melhoria nos problemas enfrentados pela sociedade, é
importante que na escola haja a valorização de todas as disciplinas e áreas
do conhecimento, pois todas são necessárias para o funcionamento da
sociedade como um todo.

ANTUNES, Celso. As Inteligências Múltiplas e Seus Estímulos. 11. ed. Campinas,


SP: Papirus, 1998. (Coleção Papirus Educação)

OLIVEIRA, Gislene Maria de. et al. Inteligências Múltiplas e Intervenção


Neuropsicopedagógica. Revista Educação em Foco. 10. ed. 2018.
Disponível em: <http://portal.unisepe.com.br/unifia/wpcontent/uploads/
sites/10001/2018/07/006_INTELIGENCIAS_MULTIPLAS_-INTERVENCAO_
NEUROPSICOPEDAGOGICA.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2019

RODRIGUES, Letícia et al. Um Estudo sobre a Teoria das Inteligências


Múltiplas. Disponível em: <http://www.gradadm.ifsc.usp.br/dados/20152/
SLC0631-1/Trabalho_tipos_inteligencia.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2019.

35
HISTÓRICO DO UNIDADE II
MINDFULNESS
A unidade pretende mostrar a importância do mindfulness no fortalecimento da
atenção plena e, por conseguinte, possibilitar o funcionamento psicológico saudável.

A utilização da prática do mindfulness nas terapias ocorreu na década de 70, por


meio de John Kabat Zinn. O mindfulness tem origem na filosofia oriental budista,
“podendo ser entendido como uma qualidade mental que deve ser desenvolvida
e cultivada através da prática da meditação” (CHIESA; MALINOWSKI apud
MENEZES et al., 2014, p. 216).

No ocidente, as práticas do mindfulness surgiram na aplicação dos atendimentos


psicoterápicos como estratégias auxiliares que permitiam a autopercepção e a
ampliação da consciência dos processos internos.

O mindfulness tem sua origem no budismo e tem, na psicologia budista, a tradição


de buscar a atenção plena no momento e sem julgamentos, e isso traz uma nova
forma de entender os fatos do cotidiano, reduzindo, dessa maneira, o estresse, a
ansiedade e os diversos quadros de doenças físicas e mentais.

Na atualidade, o mindfulness é reconhecidamente uma pratica que pode ser utilizada


nos diversos espaços dos profissionais da saúde, tais como empresarial, clínica,
social, educacional, bem como pode ser utilizada pelos profissionais com o objetivo
de melhorar a relação terapeuta x paciente.

O mindfulness tem explicação neurobiológica ou neuropsicológica que dá


suporte para a sua eficiência na aplicação no dia a dia das pessoas e como
estratégias voltadas para a aplicação na área da saúde, nas empresas e nas
escolas.

36
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

Figura 3. Mindfulness.

Fonte: <https://image.shutterstock.com/image-photo/mindfulness-concept-mindful-living-text-600w-750083887.jpg>.

37
CAPÍTULO 1
Histórico do Mindfulness

O capítulo tem como objetivo compreender o termo mindfulness, sua origem,


importância e o conceito que atualmente dá embasamento para uma série de práticas
que buscam trazer as pessoas para o momento presente ou a atenção plena, em resposta
contrária ao piloto automático. Atualmente as pessoas vivem na condição de piloto
automático, ou seja, “caracterizado pelo viver sem prestar a atenção ao momento,
baseando-se em julgamentos feitos previamente e em conceitos categóricos” (LANGER
apud VANDENDERGHE; ASSUNÇÃO, 2009, p. 129).

Assim, a proposta do mindfulness é possibilitar que as pessoas prestem atenção plena


à situação e ao contexto, significando, dessa maneira, a reintegração da pessoa com o
seu eu interior e ao seu redor e ao mesmo tempo, evitando que haja visões distorcidas da
realidade. Dessa forma, criando “novas categorias para a interpretação das vivencias“
(LANGER apud VANDENDERGHE; ASSUNÇÃO, 2009, p. 129).

A utilização dessa prática milenar conduz as pessoas a aprenderem a rever as vivências


com um outro entendimento, no qual há o entendimento dos sentimentos e percepções
do momento, porém sem os julgamentos apressados.

Mindfulness: contexto histórico e origem


A vida corrida do século XX deveu-se a intensa mudança no ritmo das pessoas no seu
cotidiano para darem respostas às demandas emergentes do processo de globalização e
transformação nos meios de comunicação, transportes e biotecnologia.

Tais mudanças e as diversas crises econômicas mundiais acarretaram a sobrecarga


de trabalho e a redução do tempo de lazer e contato entre as pessoas. Os novos
meios de comunicação, entre eles a internet, fazem com que as pessoas produzam
mais para manterem o mesmo padrão de vida conquistado anteriormente.

Esse quadro desencadeia o aumento do estresse diário e, consequentemente, uma


nova forma de pensar e viver. Tais formas irão acarretar o pensamento automático
das pessoas, e isso as impede de compreender o que está acontecendo consigo e com
os outros. Além disso, afastam-se do entorno para atender a demandas cada vez
maiores do trabalho, da escola, e da família.

38
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

Essa condição de vida, seguida por vários anos, conduz as pessoas a terem doenças
físicas e mentais, como estresse, ansiedade e depressão, os chamados transtornos
mentais. Além disso, aumenta-se a frequência das doenças cardíacas, pele,
gastrointestinais, entre outras.

Na década de 1970, John Zabat-Zinn4 traz a prática da atenção plena (conceito que
será discutido no capítulo 2) para a sua atividade profissional médica no Centro
de Redução do Estresse do Massachusetts Medical Center. A meditação de plena
atenção pode induzir estados profundos de relaxamento, às vezes melhorando
diretamente os sintomas físicos e ajudando os pacientes a levarem uma vida sadia e
satisfatória” (KABT-ZINN apud GOLEMAN, 1997, p. 223).

A meditação, que tem raiz na psicologia oriental (budista), entra para a prática
da medicina e psicologia ocidental por meio de Zabat-Zinn e de Ellen Langer,
professora de psicologia na Universidade de Harvard, ou seja, na prática da
psicologia há a integração entre a tradição ocidental e a oriental.

A professora Langer “dedicou a maior parte da sua carreira em estudar o fenômeno


que foi chamado de mindlessner é o modo de funcionar em que a pessoa vive como
se fosse guiada por um piloto automático” (VANDENDERGHE; ASSUNÇÃO, 2009,
p. 126). Esse conceito será importante para compreender a necessidade da utilização
das práticas voltadas para a atenção plena, pois tais práticas combatem o pensar ou
viver no piloto automático.

Segundo Martin et al. (2016, p. 23), mindfulness

é a tradução da palavra sati – na língua páli, um dos idiomas em que


os discursos de Buda forma escritos há 2.500 anos. [...]. Assim, para o
Budismo, sati é um conceito de múltiplas facetas, que inclui não apenas
o controle atencional, mas toda uma série de fatores cognitivos e éticos.

O conceito sati aparece sistematizado no sermão de Buda chamado


Satipatthana Sutta, ou Os Quatro Fundamentos da Atenção. Este
sermão, texto centrar do budismo, sistematiza o papel da atenção e seu
treinamento, situando-o como ponto-chave da doutrina budista.

A prática do mindfulness tem raiz no sermão de Buda, no qual ele prega a


compreensão maior da natureza do sofrimento, sua causa, sua parada e o
caminho para atingir tal cessação.

4 Jon Zabat-Zinn traz da sua experiência pessoal da meditação, quando trouxe as práticas budistas para a medicina
comportamental (VANDENDERGHE; ASSUNÇÃO, 2009, p. 128).

39
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Segundo Vorkapic e Range (2014, p. 29), Mindfulness5 “é o acesso direto ao momento


presente e envolve cultivar uma intenção em estar realmente presente ao que está
acontecendo naquele instante”. O mindfulness conduz a pessoa ao conectar-se no
presente tendo consciência no seu interior, no contexto na qual está inserida e não ter
julgamento ou desejar que as coisas sejam diferentes.

Mindfulness, de acordo com “os ensinamentos orientais, é uma perspectiva que consiste
em (i) prestar atenção, (ii) intencionalmente, (iii) no momento atual, (iv) sem julgar e
(v) na vivência enquanto está desabrocha” (KABAT-ZINN apud VANDENDERGHE;
ASSUNÇÃO, 2009, p. 129); é a posição contrária ao piloto automático estudado por
Langer.

Assim, para se deixar a vida como se estivesse no piloto automático, é estar atento ao
que acontece no presente, com abertura e aceitação; e isso é possível praticando as
diversas práticas de mindfulness.

Segundo Germer et al. (2016), a importância da utilização das práticas de mindfulness


está direcionada para os mecanismos de ação, regulação da atenção, consciência
corporal, regulação da emoção, reavaliação, exposição e senso flexível do eu. Dessa
maneira, o estado de mindfulness “está relacionado a vários indicadores da saúde
física e psicológica, como, por exemplo, maior equilíbrio do sistema nervoso autônomo
(simpático e parassimpático), níveis mais elevados de afeto positivo, satisfação
com a vida, vitalidade e menores níveis de afetos negativos e de outros sintomas
psicopatológicos) (MARTÍ et al., 2016, p. 21).

As práticas mindfulness são direcionadas para pessoas que têm o interesse ou a


necessidade de ter uma compreensão do momento no qual está vivendo, sem julgá-lo e
aceitá-lo, ou seja, abertura para a vivência.

Psicologia Ocidental e Budista: a integração


dos paradigmas ocidentais e orientais
Buscar pontos em comum entre a psicologia ocidental e a budista requer que
se tenha o entendimento de que o ponto de partida é o sofrimento humano,
independentemente se a pessoa nasceu no ocidente ou oriente e em qual
período histórico.

As propostas da psicologia oriental e ocidental têm origem em períodos históricos


distintos, pois a prática mindfulness tem sido utilizada para reduzir o sofrimento

5 Mindfulness “são técnicas medidativas tradicionais do budismo“(VORKAPIC; RANGE, 2013, p. 29).

40
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

psicológico há 2.500 anos, enquanto a psicologia ocidental científica data do


século XIX.

Entretanto, a prática de mindfulness, segundo Fulton e Siegel (apud GERMER et al.,


2016, p. 37), “pode ser uma prática considerada um fator comum que contribui para a
eficácia da terapia ocidental e da meditação formal”, inserida na psicologia budista.

O mindfulness é uma prática de meditação que encontra subsídios nas duas


psicologias, na ocidental e na budista. Dessa maneira, serão traçados alguns
parâmetros nos quais essa prática abarca as duas psicologias.

Dentre as meditações de mindfulness, foi escolhida a parte do vipassana, ou


meditação de insight, e as escolas psicoterápicas comportamental e psicodinâmica
para fazer o quadro comparativo entre as psicologias budistas e ocidentais.

O quadro abaixo é uma adaptação do material de Fulton e Siegel (apud GERMER,


2016, p. 38-45).

Quadro 1. Quadro comparativo entre as psicologias ocidentais e budistas.

Psicologia Budista
Psicologia Ocidental
Item/Psicologia Meditação de Insight
(Psicodinâmica e Comportamental)
Mindfulness (vipassana)
Aliviar o Sofrimento Buda -> sofrimento mental (Quatro Nobres Sofrimento: pensamentos, sentimentos, percepção, intenções e
Verdades) comportamento
Sintomas O sintoma tratado é o sofrimento, que é
inevitável para todos os seres humanos. Foco da psicoterapia incluem tantos estados subjetivos desagradáveis,
tais como ansiedade, depressão, padrões de comportamento
O sofrimento é o resultado da natureza de desadaptativo. E a expressão de um transtorno subjacente a ser
nossa relação com as realidades existenciais diagnosticado e tratado.
da vida.
Etiologia Compartilha com os ocidentais a observação
A etiologia complexa dos transtornos psicológicos envolve fatores
biológicos, psicológicos e sociológicos. As tradições psicodinâmica e
de que manter uma variedade de crenças
comportamental concluíram que grande parte do sofrimento humano
centrais distorcidas leva ao sofrimento
é causada por distorções nos pensamentos, nos sentimentos e no
(resultado do condicionamento)
comportamento (Resultado do Condicionamento).
Prognóstico O prognóstico na literatura budista é
O prognóstico varia de acordo com o transtorno que está sendo tratado.
radicalmente otimista.
Tratamento Combinação de introspecção e mudanças
Combinação de introspecção e mudanças comportamentais.
comportamentais.
Insight e a Insight é tanto o veículo como a meta Na TCC, o insight em si é o foco menor, embora compartilhe com a
Descoberta da de ambas as práticas (mindfulness e meditação de insight e com a terapia psicodinâmica o propósito de
Verdade psicodinâmica) aliviar o controle de ideias mantidas de forma irrefletida.

Fonte: Germer et al. (2016, p. 36-45).

No quadro, é possível identificar as semelhanças e diferenças entre as psicologias


budistas (oriente) e as psicologias psicodinâmicas e comportamentais (ocidente) no
entendimento da condução do processo psicoterapêutico. Nas propostas estudadas,

41
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

o sofrimento é lidado numa mesma sequência (identificam sintomas, descrevem


sua etiologia, sugerem o prognóstico e prescrevem tratamento), fazendo com que
a sistematização do entendimento da doença e o posterior atendimento se deem
igualmente, contudo as estratégias são diferentes, dependendo da base teórica de
cada uma delas.

Mindfulness e as Psicoterapias: Terapia


Cognitivo Comportamental (TCC), Aceitação e
Compromisso (ACT) e Psicologia Positiva
O mindfulness teve inserção nas terapias cognitivas devido aos trabalhos de Langer
(2005) e Kabat-Zinn (2009). A aplicação clínica é influenciada pelos conceitos e pelas
práticas propostas pelos estudos de Kabat-Zinn. A introdução do mindfulness nas
terapias cognitivas deu-se por dois aspectos fundamentais, segundo Menezes et al.
(2014, p. 213):

O primeiro se refere a demonstração empírica dos efeitos dessas


intervenções, qualificando as abordagens com mindfulness como
práticas baseadas em evidencias[...]. O segundo aspecto [...] é o
fato de existirem importantes paralelos entre os pressupostos
teóricos que embasam tanto as práticas de mindfulness como as
terapias cognitivas.

O mindfulness se assemelha às terapias cognitivas, segundo Menezes et al.


(2016, p. 213):

o entendimento de que os sintomas clínicos e o sofrimento psicológico


derivam de reações habituais/automatizadas que comumente refletem
uma reação de apego, ou uma reação de aversão (GRABOVAC et al.,
2011). Assim, através do treino para empregar uma atenção plena
momento busca-se permitir que sensações, sentimentos e eventos
mentais naturalmente surjam e desapareçam da experiência perceptiva
consciente, sem que esse fluxo desencadeie um processamento
cognitivo subsequente oriundo do apego ou da aversão.

As terapias cognitivas e o mindfulness possuem como ponto central que o


sofrimento psicológico parte das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos
relacionados com as reações habituais/automatizadas que refletem uma reação
de apego ou aversão.

42
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

Durante a aplicação das estratégias de mindfulness, o que acontece com o praticante é


a extinção, pois, nesse momento, o indivíduo combina

sucessivamente uma gradual exposição a esses conteúdos – oriundos


do fluxo natural de sua atividade mental – com uma nova forma
de relacionar-se com os mesmos, particularmente uma menor
reatividade. Dessa forma, espera-se que gradualmente os conteúdos
sejam extintos, uma vez que perdem sua força e impacto (MENEZES
et al., 2016, p .213).

A prática do mindfulness é uma estratégia das terapias cognitivas de terceira


onda: a Terapia de Aceitação e Compromisso (Hayes, McCurry, Afari e Wilson,
1991), a Psicoterapia Analítico-Funcional (Kohlenberg e Tsai, 1991) e a Terapia
Comportamental Dialética (Linehan, 1993).

A contribuição do mindfulness para as psicoterapias cognitivo-comportamentais


e positiva pode ser vista no quadro 2, que teve como base os autores Menezes et al.
(2016), Vandenberghe e Sousa (2006) e Alvear (apud MARTÍ et al. 2016).

Quadro 2. Contribuições do Mindfulness para as Psicoterapias: Cognitivo-Comportamental (TCC), Terapia da

Aceitação e Compromisso (ACT) e Psicologia Positiva.

Mindfulness/Psicoterapias Terapia Cognitivo- Terapia da Aceitação e


Psicologia Positiva
Comportamental (TCC) Compromisso (ACT)
Aumento da regulação atencional e O mindfulness pode ajudar O mindfulness pode
consequentemente o desenvolvimento de a enfraquecer os diferentes aumentar o bem-estar,
habilidades como o automonitoramento e contextos socioverbais a alegria, a bondade,
a autorregulação. patogênicos. a gratidão. Abertura a
experiência.

Fonte: Elaborado pela autora.

Com base no quadro acima, é possível levantar a importância do mindfulness nas


práticas psicoterapêuticas clínicas e, consequentemente, nas atividades educacionais,
empresariais e sociais.

O mindfulness é uma prática que permite aos seus praticantes a sua mudança de
visão das vivências à medida que proporciona o bem-estar físico, mas também o
entendimento da vida e das reações que se tem diante dela. A aceitação está relacionada

com a atitude que envolva uma disposição e uma curiosidade


de reconhecer as coisas tal como se apresentam, sejam boas ou
ruins, evitando que a percepção destas seja influenciada por um
processamento subsequente de categorizações e julgamentos, os

43
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

quais acabam determinando como o indivíduo pensa e se sente sobre


a experiência. (KABAT-ZINN apud MENEZES, 2014, p. 215)

As psicoterapias ocidentais, ao utilizarem as práticas de mindfulness, reconhecem a


importância das práticas milenares da meditação na redução do sofrimento das pessoas
na promoção de mudanças significativas na forma de entender a si mesmo, os outros e
os fatos do cotidiano.

Ao respirarmos o momento presente, toda a luta e a infelicidade se dissolvem, e


a vida começa a fluir com alegria e naturalidade. Ao agirmos com a consciência
do momento presente, tudo o que fizermos virá com um sentido de qualidade,
cuidado e amor, mesmo a mais simples ação (TOLLE, 2003, p. 40).

Figura 4. Atenção Plena.

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mother-daughter-yoga-home-1033938349>.

44
CAPÍTULO 2
Mindfulness: no sistema de saúde, na
escola e nas empresas

O capítulo tem como objetivo mostrar a utilização do mindfulness pelos profissionais


da psicologia que atuam nos diversos espaços de trabalho, tais como escolas, empresas,
hospitais, e os resultados que possam ser obtidos com clientes e pacientes. Além disso,
o mindfulness utilizado pelo terapeuta para si mesmo traz benefícios para si e para a
relação com os pacientes.

O mindfulness pode ser utilizado individualmente ou em grupos, fazendo-se projetos


ou programas dentro de empresas, clínicas de atendimento, hospitais, postos de saúde
e escolas que promovam as práticas da meditação de insight.

A prática requer a necessidade da formação dos profissionais em mindfulness e que eles


sejam adeptos à prática, pois a aplicação e transmissão do hábito ocorre por meio das
interações na atividade entre os professores/profissionais e os seus alunos/pacientes.

Dessa forma, o mindfulness na saúde necessita de espaços em que sejam desenvolvidas


as práticas e a formação do profissional que irá executar tal atividade; além do local,
pode-se somar a utilização de aplicativos voltados para o mindfulness.

Mindfulness no sistema de saúde: uma nova


perspectiva
As terapias baseadas em mindfulness (TBMs) têm o desafio de serem transferidas
para novos espaços e de transferirem estudos da prática clínica para o sistema de
saúde. Em alguns países, a prática do mindfulness atua de forma mais intensa no
sistema nacional de saúde e vem obtendo bons resultados.

Um dos países que está utilizando as TBMs é o Reino Unido, onde as MBCT
(Mindfulness-Based Cognitive Therapy) são aplicadas em pacientes com histórico
de dois ou mais episódios de depressão grave e com riscos de recaídas. A MBCT
é recomendada nos guias clínicos baseados em evidências científicas (National
Institute for Clinical Excellence, NICE), sendo que a sua implementação no
sistema de saúde é prioridade.

Sobre a implementação das TBMs no Reino Unido, devem ser pensados


alguns fatores que devem ser levados em consideração para que dê certo.

45
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Conforme Demarzo e Gárcia-Campayo (apud MARTÍ, 2016, p. 90), “um dos


aspectos fundamentais parece ser a elaboração de um plano estratégico de
implementação das TBMs nos serviços, tanto no âmbito nacional, como
regional e local”. A elaboração do plano agiliza o aumento da oferta pelos
atendimentos, fortalece o apoio aos profissionais que têm interesse em obter
informação para oferecer tais serviços, aumenta o encaminhamento aos
grupos de mindfulness, melhora a compreensão do que seja esse serviço,
cria espaços adequados para o desenvolvimento do trabalho em grupo, bem
como proporciona apoio administrativo para a implementação e execução das
TBMs com visão de longo prazo.

O serviço no Reino Unido vem sendo ofertado, porém ainda não existem pesquisas
em longo prazo sobre os efeitos das TBMs no sistema de saúde.

No Brasil, em maio de 2006, sob o respaldo da Organização Mundial da Saúde


(OMS), o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PICS) em Saúde.

Segundo o Ministério da Saúde (2019),

As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são tratamentos


que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos
tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como depressão
e hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usadas como
tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma integral e gratuita,


29 procedimentos de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) à população. Os
atendimentos começam na Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS.

Evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamento integrado


entre medicina convencional e práticas integrativas e complementares. Além
disso, há crescente número de profissionais capacitados e habilitados e maior
valorização dos conhecimentos tradicionais de onde se originam grande parte
dessas práticas. O trabalho realizado no SUS voltado para as práticas integrativas
e complementares estão presentes em quase 54% dos municípios brasileiros,
distribuídos pelos 27 estados e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras,
segundo os dados do Ministério da Saúde (2019).

As práticas ofertadas são: apiterapia, aromaterapia, arteterapia, ayurveda,


biodança, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, dança circular,
geoterapia, hipnoterapia, homeopatia, imposição das mãos, medicina tradicional

46
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

chinesa, meditação, musicoterapia, neuropatia, osteopatia, ozonioterapia plantas


medicinais – fitoterapia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia
comunitária intregrativa, yoga, termalismo social/crenoterapia.

Como pode-se ver, nas práticas integrativas e complementares ofertadas estão a


meditação e a yoga, que são consideradas atividades mindfulness. Dessa forma,
o Brasil já está desenvolvendo políticas públicas que envolvam a utilização das
atividades de mindfulness, que estão inseridas no Plano Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares.6

No SUS, as TBMs caminham junto com o programa nacional de práticas integrativas e


complementares, e, ao considerar que ainda existem vários campos para a ampliação da
aplicação das TBMs na saúde, o Brasil está apenas iniciando essa prática. Entretanto,
o país é considerado referência mundial na aplicação das práticas integrativas e
complementares no sistema de saúde.

Mindfulness e a educação: aprendendo viver


A vida na atualidade está corrida, com sobrecarga de informações, mudanças
abruptas no cotidiano devido às questões econômicas, políticas e ambientais.
Esse panorama acarreta diversas reações psicológicas e físicas, como estresse,
depressão, problemas cardiorrespiratórios, doenças da pele, falta de atenção nas
atividades profissionais e outras.

Essas reações viraram rotina na vida das pessoas, o que significa a manutenção dos
quadros de doenças e pouco tempo para o lazer, o descanso e a interação com pessoas
e familiares.

Todo esse quadro está sendo mantido pela forma como são dados os conteúdos
nas escolas, ou seja, privilegiando os conteúdos acadêmicos e não considerando as
práticas que possam ajudar os alunos a potencializarem seu desenvolvimento pessoal
e social, ou seja, ajudar a incrementar a felicidade ou um estado de bem-estar.

Portanto, “o aspecto acadêmico e o desenvolvimento pessoal e social orientado


à felicidade são igualmente importantes e são a referência das novas tendências
representadas pela corrente emergente da Educação Positiva” (ARGUÍS apud MARTÍ
et al., 2016, p. 112).

6 Disponível em: <http://saude.gov.br/acoes-e-programas/politica-nacional-de-praticas-integrativas-e-complementares-


pnpic>. Acesso em: 11 dez. 2019

47
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Inserido nesse panorama da educação positiva, o papel do mindfulness se faz


presente na educação. Nessa concepção educacional, a atenção plena seria aplicada
para possibilitar aos alunos de todas as idades a criação de ferramentas que
permitissem o enfrentamento da vida de modo mais pleno e consciente e abordar
todos os aspectos comentados anteriormente, segundo Arguís (apud MARTÍ et al.,
2016, p. 112):

– Compensar o estresse diário para viver as experiências de um modo


mais atento e consciente.

– Assimilar de forma mais serena e relaxada as informações que


recebemos para aprender melhor e evitar o risco do excesso de
informação, ou “infoxicação”.

– Aportar elementos para o desenvolvimento pessoal, social e a


promoção do bem-estar nas escolas, de modo a complementar os
aprendizados acadêmicos tradicionais.

O mindfulness na educação deve ter a função de preparar os estudantes para


olharem mais para a vida para que se sintam capazes de se conectar consigo mesmo
de tempos em tempos para que possam fazer escolhas intencionais. A proposta
educacional voltada para o mindfulness deve potenciar um estilo de vida, na qual
as ações devem fortalecer o cotidiano das pessoas por meio da prática da atenção
plena que possa desenvolver a força interior e “que possa desfrutar mais do positivo,
enfrentar com serenidade o negativo, aprender mais com nossas experiências e, em
suma, ser mais felizes” (ARGUÍS apud MARTÍ et al., 2016, p. 114).

A prática voltada para a atenção plena no cotidiano escolar deve promover um


estilo de vida no qual não se considere apenas os conhecimentos acadêmicos,
mas também a vivência com mais contato consigo mesmo e a promoção do
desenvolvimento pessoal e do bem-estar.

Mindfulness nas empresas: além da


produtividade
A utilização das práticas da atenção plena nas empresas inicia-se a partir do
“aumento da competitividade provocada pelas transformações da economia
mundial, inovações tecnológicas e globalização dos mercados, ocorreram
grandes processos de mudanças nas organizações, visando melhorar as
condições de competitividade, lucratividade e qualidade dos produtos e serviços”
(RECHZIEGEL; VANALLE, 2019, p. 1).

48
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

Esse contexto no qual as empresas estão mergulhadas desde a última metade do


século XX irá estimular nas empresas novas propostas, que podem trazer mais
qualidade de vida e melhoria nas condições de trabalho, fortalecendo, assim, a
humanização da organização. Dessa forma, ocorreu a mudança na filosofia das
organizações que irão focar na “filosofia da Qualidade de Vida no Trabalho busca
humanizar a organização, no sentido de criar melhorias nas condições e nas relações
de trabalho, trazendo como resultado para os trabalhadores melhores condições
de trabalho e para as empresas aumento de produtividade” (RECHZIEGEL;
VANALLE, 2019, p. 1).

Nessa proposta, tem-se a gestão da qualidade de vida, a qual tem como um dos
objetivos melhorar tanto as relações humanas no trabalho quanto as condições do
ambiente de trabalho. Dessa forma, “torna-se importante estimular o bem-estar e a
integração harmoniosa entre as pessoas e suas equipes são fatores que proporcionam
impacto positivo no trabalho e na imagem da organização, gerando maior qualidade
de vida no trabalho” (LIMONGI-FRANÇA apud MARKUS; LISBOA, 2019, p. 4).

A integração entre as pessoas e o aumento da qualidade de vida nas empresas viram


sinônimo de bem-estar, e isso conduz o desempenho profissional no aumento
da performance dos colaboradores das empresas, ao mesmo tempo que reduz as
doenças do trabalho.

Além disso, segundo Markus e Lisboa (2019, p. 4)

Em termos de aprendizagem organizacional, tem se discutido


a questão de que os conhecimentos e tecnologias tornam-se
obsoletas rapidamente. Assim, a necessidade de adquirir ou
renovar conhecimentos está presente tanto nas pessoas quanto nas
empresas (ROCHA-PINTO et al., 2005). A gestão da aprendizagem
tem trazido à noção de que a reflexão contribui fortemente para
a aprendizagem. A reflexão denota uma prática de consultar o
passado, o presente e o futuro de um fenômeno, assim como as
decisões, ações, processos e eventos.

Para que ocorra a inovação constante nos produtos de consumo, é necessário


que se tenha a inovação das ideias, o que implica a constante produção de
pensamentos, análises, reflexão dos colaboradores no momento de criar algo
novo, não apenas dos produtos e serviços ofertados, mas também na forma de
conduzir os processos organizacionais.

49
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Nesse sentido, “um paralelo entre reflexão e mindfulness vem sendo considerado
um pré-requisito para uma reflexão em ação, ou seja, um estado da mente ou
modo de prática que permite ao indivíduo refletir sobre suas ações no momento
que acontecem” (JORDAN et al. apud MARKUS; LISBOA, 2019, p. 5). Para que
haja novas criações, é importante que se tenha a experiência, e isso denota
tempo para refletir e vivenciar o momento para ter novas construções de
conhecimento.

Assim, o mindfulness ou a atenção plena nas empresas proporciona o equilíbrio


entre o corpo e a mente, consequentemente há a interação entre ambos. O bem-
estar e a eficiência dependem do funcionamento e da interação harmoniosa entre
corpo e mente. Trabalhar com harmonia traz o equilíbrio das emoções, e isso
diminui o diálogo interno, permitindo que a energia flua na atividade desenvolvida.
Portanto, “desenvolver a capacidade de permanecer focado no que estamos fazendo,
em um estado de atenção plena ou mindfulness leva naturalmente ao aumento da
concentração e estimula a energia, gerando uma sensação de bem-estar” (MAITLAND
apud MARKUS; LISBOA, 2019, p. 6).

A utilização do mindfulness nas empresas resulta melhor qualidade de vida, o que


significa reduzir o ambiente de estresse no trabalho e, ao mesmo tempo, melhorar
a qualidade do desempenho dos colaboradores.

50
CAPÍTULO 3
Mudanças nos profissionais que
praticam Mindfulness

O presente capítulo busca levantar informações a respeito dos benefícios da


utilização do mindfulness para os profissionais de diversas áreas no cotidiano
profissional e pessoal e mostrar as práticas de mindfulness como possibilidade
no tratamento da síndrome de Burnout, aliada aos cuidados tradicionais.

Há que se considerar a necessidade de programas voltados para o atendimento dos


profissionais que lidam com o estresse laboral oriundo do trabalho com as pessoas,
como médicos, psicólogos, enfermeiros, educadores etc. Os estudos existentes indicam
que as práticas meditativas produzem efeitos benéficos nos profissionais que estejam
com a doença da síndrome de Burnout, que é a que mais atinge tais profissionais.

Essa síndrome tem uma prevalência entre 20% e 35% dos profissionais da saúde.
Esse dado nos indica a necessidade de aprofundar os estudos a respeito das formas de
tratamento desses profissionais além dos medicamentos.

O mindfulness é uma possibilidade que permite aos profissionais combaterem


o estresse laboral que afeta diretamente a sua condução com os pacientes,
reduzindo a sua atenção plena nos atendimentos, empatia pela dor do outro,
desânimo, negativismo, entre outros.

A prática de mindfulness e os profissionais da


saúde
Os estudos sobre a utilização da prática do mindfulness pelos profissionais
da saúde indicam que há modificações nas variáveis psicológicas pertinentes
“as melhores habilidades de comunicação (empatia, modulação emocional,
escuta, compaixão, etc.). Além disso seus pacientes ficam mais satisfeitos
e melhoram mais, independentemente do tratamento recebido” (GARCÍA-
CAMPAYO; SANTED apud MARTÍ et al., 2016, p. 129).

Os estudos relativos à utilização do mindfulness nos profissionais da saúde (médicos,


psicólogos, assistentes sociais, educadores, enfermeiros) indicam que o estado
de ânimo e o esgotamento emocional melhoram após a realização das atividades
de mindfulness (treinamento). A necessidade da realização dessa prática pelos

51
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

profissionais está relacionada com a perda das qualidades humanistas, pois há a


tendência da instalação da “síndrome de Burnout” em consequência do estresse
laboral crônico que atinge esses profissionais nas organizações e clínicas em que
trabalham.

Segundo Gárcia-Campayo e Santed (apud MARTÍ et al., 2016), os estudos indicam


que a prevalência de Burnout na medicina e em outras profissões da saúde varia
entre 20 e 35%, segundo os estudos.

A síndrome de Burnout está presente no Catálogo Internacional de Doenças (CID 10 —


Z73.0, descrito como um estado de exaustão vital). De acordo com Ferreira (2019, p. 1),
os sintomas do Burnout se apresentam em três áreas:

Exaustão: tanto emocional quanto física, envolve dificuldade de


tolerar situações difíceis, cansaço, desânimo e falta de energia;
fisicamente, pode envolver dores de estômago e problemas
intestinais.

Alienação em relação a atividades ligadas ao trabalho:


trabalhar fica cada vez mais estressante e frustrante; cinismo em
relação às condições de trabalho e colegas; distanciamento emocional
e embotamento.

Desempenho reduzido: afeta tarefas diárias no trabalho, em casa


ou no cuidado com familiares; negativismo em relação às tarefas,
dificuldades de concentração e falta de criatividade. (Grifo nosso)

A síndrome é considerada uma doença, por isso está presente no CID 10,
e não no DSM V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais). Ela impossibilita a pessoa a desenvolver adequadamente o seu
trabalho. No caso dos profissionais que atuam diretamente com pessoas,
torna-os impossibilitados de terem a empatia com os seus pacientes,
dificultando a atenção plena nos atendimentos.

A utilização das práticas de atenção plena conduz o profissional a aumentar sua


empatia, o estado de ânimo e a estabilidade emocional. Pode-se levantar que os
efeitos, segundo Gárcia-Campayo e Santed (apud MARTÍ et al., 2016, p. 135), são:

1.Ser mais consciente dos próprios processos mentais.

2.Escutar mais atentamente.

3.Ser flexível e poder reconhecer vieses e erros na prática clínica.

52
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

4. Agir com valores éticos e mostrar compaixão e empatia pelos


pacientes.

Os efeitos da prática do mindfulness auxilia o profissional da saúde a enfrentar


a redução do seu desempenho e embotamento emocional, o que o faz melhorar
profissional e pessoalmente.

Mindfulness e a relação entre profissionais da


saúde mental – paciente
Outra questão importante sobre a utilização do mindfulness nas sessões clínicas está
relacionada com o mindfulness para os profissionais da saúde. Isso se deve à dificuldade
de os terapeutas ficarem detidos nas categorias prontas adquiridas durante os anos de
formação e perderem a atenção no contexto dos atendimentos, ou seja, momento atual
que está acontecendo durante o atendimento.

Assim, nos atendimentos “que privilegiam o relacionamento interpessoal com


o cliente como instrumento terapêutico, o terapeuta deve estar plenamente
aberto a sentimentos, sensações e pensamentos que o cliente evoca nele, sem
fazer julgamentos e sem usar categorias pré-existentes” (KOHLENBERG apud
VANDENBERG; ASSUNÇÃO, 2009, p. 132).

O terapeuta no atendimento deve vivenciar o relacionamento terapêutico com a


atenção no momento presente, sem julgar, e deve estar consciente dos seus valores,
segundo Kohlenberg (apud VANDENBERG; ASSUNÇÃO, 2009, p. 132).

A atenção do terapeuta deve estar direcionada para os possíveis deslizes na


tonalidade emocional da sessão. Dessa forma, será capaz de perceber alterações
sutis na maneira em que o cliente o afeta e como poderá reagir com eficiência
terapêutica. Nessa forma de conduzir os atendimentos, o terapeuta tem
flexibilidade para compreender as diversas nuances emocionais que possam
estar acontecendo durante a terapia, e isso irá permitir-lhe a curiosidade e a
abertura em relação ao desconhecido.

Portanto, quando o terapeuta utiliza o mindfulness no atendimento, ele está


fortalecendo a relação de igualdade entre ele e o seu paciente, pois o próprio
profissional deve praticar o que ensina nas sessões.

53
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Mindfulness: práticas do dia a dia na clínica


A prática do mindfulness no dia a dia do profissional da saúde auxilia na redução do
estresse laboral e, ao mesmo tempo, proporciona a melhoria na qualidade da relação
entre o profissional e o paciente.

Apesar de haver uma quantidade pequena de estudos na área da utilização do


mindfulness na aplicação com os profissionais, é importante que sejam feitas atividades
que permitam no cotidiano prevenir a doença da síndrome de Burnout.

Assim, logo abaixo são indicadas sugestões de atividades de mindfulness sugeridas por
Gárcia-Campayo e Santed (apud MARTÍ et al., 2016), Williams e Penman (2015):

» Para melhorar a prática clínica, é recomendado que sejam utilizadas,


periodicamente, as seguintes perguntas reflexivas (EPSTEIN,1999):

› O que estou pressupondo a respeito desse paciente que pode


não estar certo? A experiência prévia com esse paciente que
pode estar influenciando meu processo de raciocínio ou minha
tomada de decisão?

› O que me surpreendeu nesse paciente?

› O que um colega que admiro diria sobre o modo como estou


tratando este paciente?

» Intenção: é útil começar a atividade de trabalho recordando-nos da


serventia de uma perspectiva mindful7, que nos permita observar os
pensamentos, as emoções, os valores e as condutas durante a prática
clínica. Repetir o processo várias vezes durante a jornada de trabalho é
uma estratégia útil para não perder a motivação.

» Participação Ativa: durante a prática clínica, deveríamos ser capazes de


mudar o foco de acordo com nossa vontade. Poderíamos mudar o foco
voluntariamente em direção aos sentimentos e valores do paciente ou aos
nossos sentimentos e pensamentos.

» Falar em voz alta: quando o profissional enfrenta uma situação


desafiadora, é útil descrever os sentimentos e pensamentos em voz alta,
bem como registrar a situação por escrito e, claro, comentá-la com um
mentor/supervisor ou colega.
7 Mindful: atento. A prática mindful pode ser de dois tipos: formal, além das práticas mindfulness, seriam incluídas atividades de
esportes, yoga e técnicas corporais; e informal, as atividades de quietude e tomada de consciência que podem ser incorporadas
a nossa vida diária

54
HISTÓRICO DO MINDFULNESS │ UNIDADE II

» Atividades rotineiras que costumam passar desapercebidas:


escolha uma atividade como: andar de um aposento a outro no
trabalho, beber chá, café, suco, água. Repita essa experiência com
a mesma atividade todos os dias durante uma semana. Veja o que
você observa. A ideia não é se sentir diferente, mas apenas mais
desperto por alguns momentos. Siga o próprio ritmo.

» Exercício da gratidão dos dez dedos: para contemplar as pequenas coisas


da via, faça o exercício da gratidão. Uma vez por dia, traga à mente dez
coisas pelas quais é grato, contando-as nos dedos. É importante chegar
a dez, mesmo que a contagem fique mais difícil após três ou quatro.
É justamente para isso que serve o exercício: trazer à consciência os
pequenos elementos que costumam passar despercebidos pelo dia a dia.

» Diário de Mindfulness: manter a prática do diário para anotar a prática


formal e informal de mindfulness, bem como um breve relato dos
sentimentos surgidos durante as sessões.

» Prática dos três minutos: durante a prática clínica, antes de dar


assistência a cada paciente, é útil realizar por alguns segundos uma
respiração profunda, uma tomada de consciência de nosso corpo e
sentimentos.

As práticas citadas são sugestões para serem utilizadas no dia a dia profissional;
gastam pouco tempo e podem ser implementadas no cotidiano dos atendimentos sem
interferência nas atividades da clínica.

Nas últimas três décadas, a vida profissional de quem atua na área da


saúde vem sofrendo mudanças significativas com relação a demandas
cada vez maiores pela busca dos atendimentos, redução na quantidade
do tempo de lazer e cada menos tempo de contato com pessoas que
gostamos, como família, parentes e amigos. Há uma solicitação cada
vez maior pela busca de conhecimentos, e, muitas vezes, as pessoas têm
dois ou mais empregos para garantir a manutenção da renda pessoal ou
familiar.

Nesse contexto, o suporte para o profissional da saúde e, mais ainda, o seu


automonitoramento para identificar o seu estado emocional e manter a
qualidade de vida são importantes, ou seja, ter tempo para atividades físicas,
lazer, alimentação adequada, contato com a família, parentes e amigos.

55
UNIDADE II │ HISTÓRICO DO MINDFULNESS

Figura 5. Flor de Lótus.

Fonte: <https://definicao.net/significado-de-flor-de-lotus/>.

56
AS MUDANÇAS
CEREBRAIS UNIDADE III
A PARTIR DO
MINDFULNESS
A unidade tem como objetivo mostrar como o mindfulness atua no cérebro de
quem pratica a atenção plena, tendo como foco o funcionamento do cérebro
durante a meditação de insight. Será mostrado também como o sistema de luta/
fuga funciona para compreender como as pessoas têm o cérebro alterado na
situação de estresse e ansiedade.

Compreender os mecanismos de funcionamento do mecanismo de luta e fuga


e do mindfulness conduz o profissional a conhecer a base neuropsicológica do
funcionamento do mindfulness. Com tal conhecimento, terá maior domínio a
respeito dos benefícios das técnicas e dos malefícios do estresse e da ansiedade.

Esse conhecimento a respeito da base neurológica do mecanismo luta/fuga e do


mindfulness conduzirá na maior eficácia da aplicação e no entendimento da necessidade
das atividades que combatem o estresse e a ansiedade, fortalecendo o profissional na
aplicação das práticas de mindfulness em si e nos pacientes que estão sob seus cuidados.

As neurociências vêm, ao longo das últimas décadas, estudando o efeito da prática de


mindfulness nas pessoas que a utilizam há algum tempo e levantaram que há alterações
tanto no nível funcional quanto no nível estrutural. Os estudos estão direcionados em
três estruturas básicas: o córtex cingulado (CCA), a ínsula (INS) e o córtex pré-frontal
(CPF).

Assim, as neurociências estão consolidando as práticas sistematizadas e


científicas do mindfulness.

Figura 6. O Cérebro e o Mindfulness.

57
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

Fonte: <https://www.mindful.org/the-mindfulness-of-breathing-exercise-with-neuroscientist-amishi-jha>.

58
CAPÍTULO 1
A Neuropsicologia do Mindfulness: o
funcionamento do cérebro durante as
práticas

O capítulo irá tratar do funcionamento do cérebro durante as práticas de mindfulness,


entretanto será abordado o sistema de luta e fuga que gera estresse e ansiedade, ou seja,
os efeitos emocionais obtidos nas situações às quais os animais e os homens respondem
quando sob perigo e pressão.

O processo de medo e ansiedade são as respostas emocionais do sistema luta e fuga.


Deve-se entender que essas respostas emocionais terão profunda interferência entre
os fatores de natureza biológica, psicológica e social na determinação dos estados
emocionais.

Assim, quando se fala a respeito das práticas de mindfulness e as alterações fisiológicas


no medo e na ansiedade, tem-se abordado que

Podemos interferir com a realimentação proveniente da percepção


das mudanças corporais que acompanham a ansiedade. Isto pode
ser feito farmacologicamente, por meio dos B-bloqueadores, que
atenuam as alterações neurovegetativas mediadas pelo sistema
simpático. O mesmo objetivo é alcançado por meio de treinamento
com técnicas de biofeedback e meditação. Estas permitem não
só controlar a musculatura estriada, promovendo o relaxamento
e regularizando a respiração, como também influenciar funções
neurovegetativas, como o ritmo dos batimentos cardíacos
colocando-as sob controle voluntário. Permitem também
alcançar estados de quietude mental, inclusive caracterizados
através do eletroencefalograma (estado alfa), que promovem
mudanças terapêuticas no organismo. (GRAEFF; BRANDÃO,
1997, p. 142-143)

Portanto, o capítulo indicará como ocorrem as alterações cerebrais, neurológicas,


neurobiológicas e neuropsicológicas durante as práticas de meditação de insights
ou mindfulness.

59
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

A meditação e o estresse
A pessoa que pratica a meditação desenvolve a sensação de bem-estar e prazer, isso
devido à possibilidade que a meditação proporciona de entrar em uma sensação
do contato com o transcendente. Essa sensação deixa o indivíduo com vontade de
repetir a experiência, pois quer sentir novamente a mesma sensação. Essa prática
constante da meditação provoca alterações na personalidade da pessoa.

Segundo Dalgalarrondo (apud LEÃO, 2019, p. 7), entrar em contato com seu
eu próprio é denominado como um estado de transe dito estático, “que pode
ser induzido por treinamento místico e religioso, ocorrendo geralmente como a
sensação de fusão do eu com o universo”. Seguindo essa linha de pensamento da
psiquiatria, pode-se dizer que a meditação é um Estado Alterado de Consciência
(EAC) provocado pela própria pessoa e que busca uma interação além da
consciência do dia a dia, segundo Leão (2019).

As experiências de meditação (EAC) possibilitam a manifestação dos sentimentos


agradáveis, que, por sua vez, promove a alteração na forma da pessoa pensar e
agir diante das situações do cotidiano.

A meditação, segundo Goleman (LEÃO, 2019, p. 9), é um

Esforço para exercitar a atenção, beneficiando o aumento das defesas


imunológicas, o autocontrole emocional, o controle do estresse,
a atenção, a concentração, a memória e as relações sociais. [...]
proporciona obtenção de conhecimentos, capacidade de relacionar-se
com empatia, entre outras benesses, sem necessariamente, a elevação
divina.

Os benefícios da meditação estão relacionados com os aspectos psicológicos envolvidos


na aprendizagem, na relação intrapessoal e interpessoal, melhorando o funcionamento
dos sistemas que compreendem o organismo da pessoa.

As práticas de meditação de insight ou mindfulness conseguem reorganizar o


funcionamento do corpo das pessoas mediante a redução das atividades fisiológicas.
Dessa maneira, há uma redução no estado alterado do organismo nas situações de
estresse.

Segundo Assis (1995, p. 76-77),

os psiquiatras Newberg e D’Aquili, da Universidade da Pensilvânia


(EUA), o simples exercício de manter o foco em determinado objeto ou

60
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

construir uma imagem mental na qual se possa manter a atenção pode


causar uma sensação de estar alheio ao mundo externo. Este simples
exercício colabora para que a ansiedade diminua e permite uma visão
mais ampla no momento de tomada de decisões (KOENIG, 1998, p. 86
e 87). De acordo com os pesquisadores, a atividade cerebral durante a
meditação ativa o sistema límbico. (KOENIG, 1998, p. 82)

Para entender melhor a importância do sistema límbico, é necessária uma


explicação, segundo Carlson (2002, apud ASSIS, 1995, p. 77):

O neuroanatomista James Papez sugeriu que o circuito relacionado


a um conjunto de estruturas cerebrais interconectadas seria
responsável pelas funções de motivação e emoção. Em 1949,
porém, o fisiologista Paul McLean incluiu outras estruturas no
circuito descrito por Papez, adotando o termo sistema límbico. A
partir desta fundamentação, a amígdala, o hipocampo, as regiões
do hipotálamo e os feixes de fibras que fazem a interconexão
entre estas estruturas passaram a fazer parte do sistema límbico.
Assim, as áreas relacionadas a este sistema não são responsáveis
apenas pela motivação e emoção, mas por meio da interação
entre elas há interferências também nos processos de atenção,
memória e aprendizagem. (CARLSON, 2002, p. 81)

Esse funcionamento é alterado nos momentos de meditação, de acordo com Assis


(1995, p. 77)

Esta interação ocorre porque os impulsos correlatos do meditador


estimulam o hipocampo direito que em contrapartida, estimula a
amígdala direita. O resultado é uma estimulação das porções laterais
do hipotálamo gerando uma leve sensação de prazer. Este processo
“realimenta” o córtex pré-frontal reforçando todo o sistema em uma
concentração progressiva que vai se intensificando em relação ao
objeto. (KOENIG, 1998 p. 86)

Além disso, através de interconexões envolvendo o sistema límbico


torna-se possível evitar alterações emocionais intensas, contribuindo
para a melhora e o equilíbrio tanto da saúde física quanto mental.
(KOENIG, 1998, p. 82)

Ainda conforme Assis (1995, p.77), o processo acima citado

61
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

ocorre porque nos momentos de meditação, a estrutura envolvendo


a amígdala, o hipocampo e o hipotálamo entram em interação. A
amígdala atua na transmissão de alguns tipos de informação entre o
hipocampo e o hipotálamo (envolvido na regulação do sistema nervoso
autônomo): esta interação entre o hipocampo e a amígdala interfere
nos mecanismos de aprendizagem e memória (KOENIG, 1998, p. 82).
Logo, a prática constante da meditação permite com que todos estes
mecanismos entrem em um fluxo constante e contínuo de interação
sem acessar bruscamente o sistema luta/fuga que é característica dos
quadros de ansiedade.

A ansiedade é a resposta do organismo da pessoa que está sob intenso estresse por conta
do ambiente ou por causa de si mesma. A percepção da pessoa está alterada com relação
ao seu entendimento da realidade, aumentando a velocidade do pensamento, o que
dificulta a compreensão correta dos fatos do ambiente e a faz perder a sua capacidade
de discernir corretamente o que é um evento sem estresse ou com estresse.

A Neurobiologia do Mindfulness
Para entender a neurobiologia do mindfulness, é necessário retomar um conceito
utilizado por Gardner (1994), que é o da neuroplasticidade. A neuroplasticidade refere-
se à alteração do funcionamento do cérebro e, para que isso aconteça, é necessário
que sejam realizadas atividades numa determina frequência para que haja alteração
na estrutura cerebral e consequentemente no comportamento da pessoa que fez uso
contínuo de alguma atividade que promovesse o comportamento em questão.

Dessa forma, conforme Germer et al. (2016), quando a pessoa repete várias vezes o
comportamento de trazer a atenção de volta para o momento presente durante a
meditação, a sequência da atividade cerebral correspondente altera de forma gradual,
assim o padrão é codificado de maneira diferente de comportamentos aleatórios. Dessa
maneira, a estrutura do cérebro muda, e o novo padrão agora direciona o comportamento.

No caso da realização da meditação, segundo Goleman (1999, p.14),

A pessoa que medita regularmente lida com o estresse de modo a


romper a espiral da reação de enfrentamento ou fuga. Ela relaxa
com muito mais frequência do que a que não medita, após um
desafio ter sido superado. Isso faz com que seja improvável que ela
encare como nocivas ocorrências inocentes.

62
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

Ela percebe a ameaça com mais exatidão e reage com a mobilização


somente quando necessário. Após a mobilização, a recuperação rápida
a torna menos predisposta a encarar o próximo compromisso como
uma ameaça, como acontece com uma pessoa ansiosa.

Com a repetição da meditação por tempo prolongado, o cérebro muda o padrão do


comportamento a partir das atividades cerebrais ativadas durante a atividade meditativa.

Portanto, a partir da utilização da meditação de maneira disciplinada no dia a dia


em longo prazo no momento de estresse, haverá uma modificação na estrutura e
funcionamento das áreas cerebrais, trazendo, com isso, novos entendimentos na
compreensão dos fatos cotidianos, aumento da atenção plena, aumento no bem-estar
físico e mental.

A atividade cerebral durante a meditação


A meditação8 é uma atividade multifacetada e heterogênea do ponto de vista da
neurociência, pois envolve o foco intenso de concentração, como a abertura a
experiências sensoriais, emoções e pensamentos.

Nos estudos sobre a meditação, um dos achados mais consistentes é a desativação de


uma rede de regiões cerebrais, que, segundo Germer et al. (2016, p. 292-293), é

denominada rede em modo padrão (RMP; Baerensten et al., 2010;


Brewer, Worhunsky, et al., 2011; Hasenkamp, Wilson-Mendenhall,
Duncan, & Barsalou, 2012). [...] a presença de certas redes de regiões
cerebrais que permanecem ativas durante o repouso, no qual realizam
tarefas de ‘manutenção interna’ básicas que são necessárias para o
funcionamento normal. A mais proeminente delas é a RMP, que se
supõe desempenhar um papel central na criação e na manutenção
do self autobiográfico, ou seja, funções de apoio que criam o sentido
de self e de identidade. [...]. Sua desativação é consistente com a
meditação como um estado de atenção focada caracterizado por
mínimo desvio mental e atividade autorreferencial.

Os autores consideram que, no momento da meditação, existe um monitoramento


momento a momento e o controle do próprio estado mental da pessoa, que pode
ocasionar a redução dos desvios da mente.

8 Estudar meditação é difícil devido às várias formas de meditações existentes, portanto serão relatados os resultados
consistentes que surgiram em Germer et al. (2016).

63
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

Segundo Germer et al. (2016, p. 293), em estudos com monges tibetanos,

Brefczynski-Lewis, Lutz, Schaefer, Levinson e Davidson (2007)


demonstraram que os monges tinham consideravelmente menos
atividade no córtex cingulado anterior (CCA) durante a meditação
se comparados a controles que tinham meditado durante uma
semana. O CCA com frequência está associado a dirigir a atenção,
portanto poderia ser esperado que meditadores mais experientes
mostrassem maior ativação do que meditadores iniciantes. Em
contrapartida, visto que meditadores mais experientes muitas
vezes relatam que podem manter períodos de atenção ininterrupta
por mais tempo do que meditadores iniciantes, isso pode resultar
em menos necessidade de atividade no CCA.

Além dessa região, existe outra também ativada durante a meditação, a insula
anterior (INS):

[...]. Essa estrutura está associada a interocepção, bem como com


equilíbrio e detecção da frequência cardíaca e respiratória. Ela também
foi proposta como região-chave envolvida no processamento de
sensações corporais transitórias, contribuindo, desse modo, para nossa
experiência de individualidade (Craig, 2009). (GERMER et al. 2016, p.
294)

De acordo com. Cifre e Soler (apud MARTÍ et al., 2016, p. 82),

Os meditadores experientes apresentam maior ativação e densidade do


córtex nas áreas relacionadas com a atenção e consciência do próprio
corpo, conforme vimos em secções anteriores, seria esperado que
também tivessem maior sensibilidade à dor, já que podem estar mais
atentos a tudo que lhes estiver prejudicando. No entanto não é assim,
muito pelo contrário, os meditadores parecem ter maior tolerância à
dor. [...] Estudos como os de Grant et al., realizado em 2011, mostram
que praticantes de meditação zen apresentam limiares de sensibilidade
à dor mais elevados que os de sujeitos que não meditam. Neste ponto
entra em jogo a regulação, enfatizada por Hölzel et al. 2011, como outra
característica básica da meditação. Parece que, mais que um efeito de
reduzida ativação de terminadas áreas, tal fato está relacionado com a
reduzida conectividade entre elas.

A amígdala é a área principal para a regulação das emoções. Diversos


pesquisadores têm estudado a regulação da ansiedade mediante técnicas de

64
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

meditação, indicando redução na atividade da amígdala após a realização de uma


atividade meditativa, segundo Cifre e Soler (apud MARTÍ et al., 2016). Outra
região estudada e que está relacionada com CPF ventromedial é o hipocampo.

Atualmente, é possível realizar tais estudos sobre o funcionamento das estruturas


cerebrais por meio da neuroimagem funcional às mudanças na ativação produzidas
em diferentes áreas do cérebro. A técnica mais utilizada é a ressonância magnética
funcional (Functional Magnetic Resonance Imaging – FMRI).

Os estudos atuais por meio dos exames realizados comprovam que a meditação tem
papel importante na alteração do funcionamento cerebral diante da concentração,
reorganização das experiências de vida, sensibilidade a dor e consciência do próprio
corpo. As alterações estudadas pela neurociência confirmam o que aproximadamente
há 2 mil anos a humanidade já entendia: que a meditação produz uma vasta gama de
benefícios para o corpo e a mente.

GERMER, Christopher K. et al. Mindfulness e psicoterapia. 2. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2016.

GRAEFF, Frederico G.; BRANDÃO, Marcus L. Neurobiologia das Doenças


Mentais. 4. ed. São Paulo: Lemos Editorial, 1997.

LEÃO, Elisa Mara Silveira F. et al. Reflexões sobre o Percurso Histórico da


Meditação até as descobertas de seus Benefícios às Funções Mentais.
Disponível em: <http://seer.pucgoias.edu.br/files/journals/1/articles/4545/
supp/4545-13238-1-SP.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2019.

[Fim para saber mais]

Figura 7. A Meditação e o Cérebro.

Equilíbrio

Sua vida

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cute-brain-heart-meditation-logic-feel-733212286>.

65
CAPÍTULO 2
Mindfulness e os benefícios: doenças,
efeitos na psicologia científica e na
psicoterapia

Neste capítulo, serão estudados os benefícios obtidos pelo mindfulness nos casos
de doenças e os resultados das curas. A meditação ao longo dos séculos foi utilizada
para trazer a cura de diversas doenças que afligiam as pessoas, melhorando a
qualidade de vida.

As práticas de mindfulness vêm sendo utilizadas no tratamento de diversas


doenças físicas e mentais, sendo que inúmeras pesquisas demonstram bons
resultados na redução das doenças, principalmente de ansiedade, depressão,
fadiga e doenças dolorosas.

A aplicação das práticas ainda tem resistência na medicina e em outras áreas do


conhecimento que tem base na ciência cartesiana, a qual desconsidera as relações
entre a mente e corpo, mantendo-as separadas. A psicologia oriental vem há séculos
utilizando as técnicas de mindfulness e obtendo bons resultados.

Na psicoterapia, a utilização do mindfulness vem sendo considerada nas abordagens


de segunda e terceira onda da cognitivo comportamental e na psicologia positiva.
Os resultados alcançados na aplicação nos transtornos mentais são promissores e
indicam a utilização além das meditações as tecnologias que possam auxiliar nas
práticas contemplativas.

As doenças e o Mindfulness
Ao falar sobre o mindfulness e as patologias, é importante colocar que, em 1984,
nos Estados Unidos (EUA), o Instituto Nacional de Saúde recomendou a meditação
(além da redução de sal e uma dieta alimentar), antes da prescrição de remédios,
como tratamento inicial para a hipertensão moderada. Essa recomendação foi
resultado dos amplos estudos que tiveram início na década de 1970 nos EUA sobre
os efeitos da meditação nas pessoas que usam a meditação como antídoto contra
o estresse e outras doenças físicas e mentais.

66
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

O reconhecimento do efeito da meditação nas diversas doenças estudadas foi


importante para disseminar a meditação e outras técnicas de relaxamento como
tratamento na medicina e na psicoterapia.

Várias pesquisas demonstram que “se utiliza mindfulness e meditação para tratar
patologias psiquiátricas, como as recaídas na depressão, diversas formas de ansiedade
ou em prevenção de recaídas em adicções (KHOURY et al., 2013)” (CIFRE; SOLER,
2016, p. 85). Os estudos conduzem ao resultado de que o mindfulness pode funcionar
como proteção em situações estressantes, pois é adequado na promoção da melhor
resposta a estímulos emocionais negativos.

A ansiedade também pode ser reduzida a partir da utilização das práticas de


mindfulness, haja vista que interfere no sistema de luta e fuga dos organismos.
Outro transtorno estudado que apresentou resultado positivo foi o bipolar, “no qual
os pacientes sofrem de níveis aumentados de ansiedade e má regulação das emoções.
[...]. Os resultados mostraram como os pacientes apresentavam uma redução da
atividade do CPF medial e uma redução da ansiedade e má regulação das emoções”
(CIFRE; SOLER, 2016, p. 86).

Além das doenças mentais, os estudos comprovaram que a prática regular da


meditação diminuía a frequência de resfriados e dores de cabeça e reduzia a
gravidade da hipertensão.

As pesquisas indicam que a redução dos efeitos acima citados tem diferenças na
prática da meditação e relaxamento, os quais são coisas diferentes. De acordo com
Goleman (1998, p. 16), “Meditação é o esforço para reexercitar a atenção”. É isso que
dá à meditação os efeitos incomparáveis de obtenção de conhecimentos, aumento da
concentração e capacidade de relacionar-se com empatia. A meditação é, porém, mais
usada como uma técnica rápida e fácil de relaxamento.

[...] em termos de seus efeitos metabólicos, ela tem muito em


comum com as técnicas de relaxamento criadas no Ocidente, como o
relaxamento progressivo e a bio-realimentação da tensão muscular do
americano Edmund Jacobsen, e métodos europeus, como o treinamento
autogênico. A meditação difere de outras técnicas de relaxamento
em seus componentes reflexivos, como Herbert Benson destacou em
seu best-seller The Relaxion Response, mas uma de suas principais
qualidades terapêuticas está na eficácia em levar a pessoa que medita a
um estado de relaxamento bastante profundo (GOLEMAN, 1999, p. 16).

67
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

A utilização da meditação e do relaxamento para estudar as influências nos quadros


patológicos levantou o aumento na eficiência nas defesas imunológicas contra
tumores e vírus. Além disso, auxiliam outras doenças, como problemas cardíacos,
hipertensão, diabetes e casos de dores crônicas.

Entretanto, há outras situações nas quais a meditação pode não ser apropriada para
um paciente.

Um esquizofrênico talvez piore o seu contato com a realidade,


tornando-se excessivamente absorvido pelas realidades internas.
Quem se encontra em estados emocionais agudos talvez esteja
demasiadamente agitado para iniciar uma meditação. Obsessivos-
compulsivos podem ficar excessivamente fechados a novas
experiências para fazer a meditação, ou podem estar ansiosos demais
para isso. (GOLEMAN, 1988, p. 18)

Portanto, nem todas as doenças mentais estão sujeitas à aplicação das técnicas de
meditação e relaxamento. Linehan (2010) vem estudando os quadros de transtornos
da personalidade borderline (TPB), tendo utilizado positivamente a meditação e o
relaxamento nas suas práticas.

Efeitos da meditação na psicologia científica


Os efeitos da meditação nas pessoas também dependem de outras variáveis, como
“predisposições genéticas, traços de personalidade, vivências particulares de cada
um, expectativas, motivações e valores também podem mediar o tipo e a qualidade
da resposta que a prática meditativa produzirá (DAVIDSON; GOLEMAN, 1977;
SMITH, 1978; TAKAHASHI et al., 2005)” (MENEZES; DELL’AGLIO, 2009, p.
279).

Portanto, os efeitos da meditação podem ser diferentes nas pessoas dependendo de


outras variáveis, e não somente do tipo de meditação utilizada para a redução dos
efeitos do estresse e da ansiedade.

A utilização da meditação por longo período pode trazer mudanças funcionais


e estruturais no cérebro, atuando sobre a plasticidade deste. Os estudos
indicam que as mudanças duradouras no cérebro estão relacionadas com a
autorregulação da atenção e a atitude de abertura e aceitação do momento
presente.

68
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

Outras alterações levantadas nas pesquisas foram à ativação do córtex pré-frontal


(CPF), que está relacionado a afetos positivos e maior resiliência. Além dessa alteração,
foi possível constatar que a prática continuada pode transformar estados em traços,
que atuam na personalidade, nas quais há a mudança no grau do neuroticismo,
sendo que os praticantes mais experientes da meditação mostram-se mais adaptados
a situações, alegres, maduros, autoconfiantes e com melhor autoimagem. Portanto,
esses praticantes eram mais estáveis emocionalmente, conscientes, confiantes,
relaxados e autossuficientes (MENEZES; DELL’AGLIO, 2009).

De acordo com as pesquisas de Jain (apud MENEZES; DELL’ AGLIO,


2009), a meditação também pode proporcionar o desenvolvimento das
características psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos
ruminativos e de distração.

A partir dos resultados obtidos nas pesquisas comparativas realizadas com


meditadores experientes, iniciantes e não praticantes, é possível avaliar que
existem diferenças significativas no funcionamento cerebral e na forma como
processam as informações oriundas do meio e do seu interior.

Assim, com base nos estudos realizados que comprovam a relação entre
meditação e aspectos psicológicos positivos, alguns autores indicam a utilização
da prática como uma técnica útil para os tratamentos psicoterápicos (MENEZES;
DELL’AGLIO, 2009).

Meditação e psicoterapia
As práticas da meditação começaram a ser utilizadas nas psicoterapias a
partir da década de 80 com a recomendação do Instituto Nacional de Saúde
(EUA) para a aplicação nos casos iniciais de hipertensão moderada.

Além da classe médica americana, a maior receptividade partiu dos


psicoterapeutas, que assinalaram os benefícios da meditação, por ser um
meio de os pacientes lidarem com a ansiedade sem o uso de medicamentos, de
terem acesso a lembranças e sentimentos que estavam bloqueados e como uma
prescrição genérica para o tratamento do estresse e da ansiedade.

Essa ideia mantém-se pelas pesquisas realizadas nos anos 2000, as quais indicam
a meditação na psicoterapia, pois ambas as práticas buscam a eliminação
das barreiras do ego para que as potencialidades humanas surjam. Ambas as
técnicas podem ser concebidas como tentativas de desfazer condicionamentos

69
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

e programações da mente, portanto compreende-se que uma consciência


menos condicionada facilita um descentramento e uma desidentificação com
processos mentais disfuncionais (WALSH; SHAPIRO apud MELO et al., 2014).

A prática da meditação e o mindfulness são ferramentas que podem auxiliar


no processo terapêutico para atingir o objetivo do funcionamento psicológico
saudável. Tais técnicas encontram espaço nas terapias cognitivas comportamentais
por terem o potencial terapêutico.

As práticas de mindfulness podem ser aplicadas no setting terapêutico, segundo Melo


et al. (2014, p. 223-224), tais como

A meditação formal, sentada e silenciosa, a principal forma de aprimorar


essa habilidade. [...]. Algumas técnicas consideradas preparatórias
e complementares também são comumente sugeridas. Estas podem
auxiliar na transição de um estado mental de intensa atividade para
uma postura interna de não ação e no desenvolvimento de qualidades
importantes à prática da meditação, tais como maior relaxamento
mental e físico, maior autopercepção, maior autoconsciência e maior
aceitação das sensações físicas.

Assim, as técnicas de mindfulness podem ser utilizadas no espaço terapêutico


e escolhidas de acordo com o objetivo do psicoterapeuta na sessão. Pode-se
sugerir algumas práticas de mindfulness de acordo com Melo et al. (2014, p.
224-225): “respiração diafragmática, escaneamento corporal, meditação da
respiração, meditação da atenção focada, meditação da atenção plena sem
foco específico e meditação dos três minutos de respiração; e a meditação
informal”. Há uma diferença entre a meditação formal e a informal, e é
importante entender a diferença para a sua aplicação no setting terapêutico,
já que a formal é mais demorada que a informal.

Para a aplicação das técnicas de mindfulness, deve-se conversar com o paciente sobre
a adequação da utilização na sua rotina de vida, pois é a realização diária e permanente
que fará surtir melhores resultados.

As sugestões das atividades servem para que os psicoterapeutas na prática diária


utilizem-nas com os seus pacientes de acordo com o objetivo, a habilidade e o
interesse do paciente em realizar tais técnicas. O psicoterapeuta deve ter claro que
a meditação é uma “habilidade que deve ser aprendida, sendo assim, a competência
deve ser desenvolvida gradualmente, ao longo do tempo. Para tanto, é necessário
que a prática seja regular” (MELO et al., 2014, p. 230).

70
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

A aplicação do mindfulness na clínica psicoterápica deve se adequar às condições de


vida do paciente e considerar as variáveis que possam interferir no resultado dessa
prática, bem como em quais casos as práticas obtêm melhor resultados.

MENEZES, Carolina Baptista; DELL’ÁGLIO, Débora Dalbosco. Os Efeitos


da Meditação à Luz da Investigação Cientifica em Psicologia: revisão
de literatura. Psicologia, Ciência e Profissão, 2009, 29 (2), 276-289.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&
pid=S1414-98932009000200006>. Acesso em: 10 dez. 2019.

GOLEMAN, Daniel. Equilíbrio Mente/Corpo: como usar sua mente para uma
saúde melhor. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

______. A Arte da Meditação. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 1999.

Figura 8. Mindfulness e a Saúde Mental.

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/man-big-balloon-fly-on-his-631461530>.

71
CAPÍTULO 3
A utilização permanente das
inteligências múltiplas e o mindfulness:
mudança no estilo de vida

O conteúdo do presente refere-se à utilização permanente das práticas utilizadas para


o desenvolvimento das inteligências múltiplas e da aplicação do mindfulness, que
deverão produzir alterações na forma de perceber, compreender e agir sobre as diversas
situações no cotidiano da pessoa que as utiliza.

Nas últimas duas décadas, as pessoas viram o mundo sofrer os efeitos devastadores
do clima, as diversas crises econômicas mundiais, a rápida evolução da tecnologia, as
mudanças nos ritmos de vida dos cidadãos. O mundo virou um cenário de grandes
embates relacionados a crises políticas, étnicas, econômicas, ambientais, sociais.

Diante desse contexto, as instituições precisaram criar novas meios de formar


pessoas para responder às demandas emergentes da sociedade que, nesse
momento, apresentou um aumento significativo de pessoas com quadros de
ansiedade, depressão, suicídios, hipertensão, doenças cardiovasculares, entre
outras.

As pessoas se viram diante da necessidade de repensar a forma de vida e,


consequentemente, de criar novos hábitos saudáveis que lhes permitissem reduzir o
estresse e a ansiedade decorrentes do dia a dia.

Nesse cenário, surgiram propostas nas áreas da saúde e da educação que


proporcionam não apenas a qualidade de vida das pessoas, mas também a
formação de pessoas que conseguissem ter domínio do conhecimento.

A proposta de Gardner sobre as inteligências múltiplas passa a ser discutida por ele
mesmo para subsidiar propostas educacionais, que irão propor o desenvolvimento das
inteligências múltiplas em sala de aula, direcionando para a habilidade de cada aluno,
enquanto, nas propostas de mindfulness, a escola deve contemplar nos seus currículos
espaços para a formação dos valores humanos e das diversas práticas do mindfulness.
Essa necessidade de atividades contemplativas é reforçada pelas pesquisas nas quais

os resultados das pesquisas neurocientíficas são inequívocos: a prática


das técnicas de treino contemplativo conduz à ativação de circuitos
neuronais relacionados com as capacidades de atenção (interoceptive

72
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

awareness), de metacognição, empatia, aceitação emocional e de


motivação prossocial (OLIVEIRA; ANTUNES, 2014, p. 49).

As duas propostas estão convergindo para a utilização permanente das questões que
envolvam o mindfulness e as inteligências múltiplas reforçadas pela proposta da
inteligência emocional focada nas inteligências interpessoal e intrapessoal. Os objetivos
das propostas estão em fortalecer a qualidade de vida das pessoas, reforçando a
necessidade do desenvolvimento próprio e fortalecimento do bem-estar, considerando
as relações pessoais e o meio ambiente.

As inteligências múltiplas e a inteligência


emocional: visão integrada
As teorias das inteligências múltiplas e emocionais indicam que o homem vai além
do seu raciocínio lógico-matemático ou linguístico, mas que também é constituído
pela sua capacidade de sentir e emocionar, isso reforçado pelas neurociências, as
quais mostram que o cérebro não apenas pensa, mas também emociona.

A proposta de Goleman sobre a inteligência emocional teve como suporte a teoria de


Wayne Payne em 1985. Goleman (apud MARÇON 2014, p. 24)

Acredita que a inteligência emocional é baseada na capacidade de


criar motivação para si próprio e de persistir num objetivo, apesar das
dificuldades para atingi-lo; de controlar impulsos e saber aguardar pela
satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de
impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser
empático e autoconfiante.

Portanto, o conceito de inteligência emocional é a capacidade de perceber emoções, ter


acesso às emoções e gerá-las, de forma a contribuir para o pensamento e a compreensão
dos sentimentos e do conhecimento emocional. Essa habilidade também permite o
controle das emoções de maneira reflexiva para estimular o crescimento emocional e
intelectual (SALOVEY apud MARÇON 2014, p. 24).

Goleman (apud MARÇON, 2014) explica que o fenômeno biológico se concentra


na parte do cérebro e que o conjunto dos elementos que regem a inteligência
emocional no indivíduo está na amígdala. Assim, as emoções são controladas
por essa parte do cérebro, e, caso seja retirada essa parte, segundo Goleman
(apud MARÇON 2014), a pessoa perde a sensibilidade às relações emocionais,
o interesse pelas pessoas e os sentimentos. O indivíduo torna-se indiferente

73
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

diante de suas relações interpessoais. A área, quando na situação de perigo,


ativa as emoções relativas à ansiedade e estresse.

A importância da teoria da inteligência emocional de Goleman é que ela analisa


especificamente as emoções como uma habilidade inteligente capaz de fortalecer as
relações interpessoais e intrapessoais, que já haviam sido estudadas por Gardner.

As duas formas de inteligência nos apontam a necessidade de ampliar o


conhecimento a respeito das demais formas de inteligência e também de
compreender a importância das relações interpessoais como facilitadoras para o
fortalecimento das interações humanas.

A junção das teorias das inteligências (múltiplas e emocional) aliada às práticas de


mindfulness trazem para as pessoas uma nova forma de compreender a vida e agir
nas situações do cotidiano. Essa nova atitude deve estar relacionada com a melhoria
da qualidade de vida e o respeito pelo meio ambiente, considerando a espiritualidade
de cada um. Assim, esse suporte teórico surge como uma proposta da melhoria da
qualidade de vida e pode-se reduzir à frequência das doenças mentais ou físicas,
permitindo o respeito pela cultura na qual as pessoas estão inseridas.

Destarte, a proposta torna-se viável na prática diária das pessoas, pois permite que
haja a alteração na maneira de compreender a realidade e uma consciência maior
sobre o papel de cada um no mundo. Essa forma de entendimento trará mudanças
significativas na redução do estresse, na diminuição dos pensamentos imediatos,
na consideração pelas diversas étnicas e religiões, no aumento das atividades
que respeitem o meio ambiente e diminua o consumo desenfreado que acontece
atualmente.

A eficiência da prática do Mindfulness


A utilização da prática de mindfulness na saúde foi primeiramente sistematizada no
programa de Redução de Stress Baseado na Mindfulness (MBSR)9, por John Kabat-
Zinn nos EUA, que há mais de duas décadas vem obtendo resultados significativos
positivos com relação ao tratamento da redução da psoríase e do estresse em pacientes
não clínicos.

O programa de Kabat-Zinn (apud MENEZES; DEL’AGLIO, 2009) é constituído


de oito encontros semanais, tendo duração de duas horas e meia cada, nas
quais são treinadas as técnicas de postura da yoga e meditação que devem ser

9 O Programa MBSR teve início na década de 1970 no Hospital Geral da Universidade de Massachusetts (EUA).

74
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

praticadas nos demais dias durante as oito semanas, por uma hora. Na sexta
semana, é realizado um retiro silencioso de sete horas.

A partir desse programa, com os seus resultados positivos, surgiu outro


programa semelhante, entretanto direcionado para o tratamento da
depressão, inserido no contexto da abordagem da psicoterapia cognitivo
comportamental. O programa é Mindfulness-Based Cognitive Therapy
(MBCT 10 – Terapia Cognitiva Baseada na Mindfulness), que “tem como
objetivo fazer o acompanhamento de pacientes depressivos que tiveram
êxito na psicoterapia cognitiva, a fim de prevenir a sua recaída” (MENEZES;
DELL’ÁGLIO, 2009, p. 284).

No MBCT, o participante não pode estar deprimido no momento da sua presença


no programa. Essa proposta enfatiza a transformação da consciência que o paciente
possui acerca dos pensamentos e a forma como se relaciona com estes: “O programa
tem se mostrado eficaz para pacientes que tiveram pelo menos três episódios de
depressão através do aumento do acesso à metacognição, em que pacientes vivenciam
pensamentos e sentimentos negativos como meros estados mentais, e não como
uma condição imutável do self” (TEASDALE et al. apud MENEZES; DELL’AGLIO,
2009, p. 284).

Esses dois programas são referência pelos resultados obtidos e pelo tempo de
duração, entretanto há outros espalhados pelo mundo que vêm tendo resultados
positivos junto aos seus participantes. Dessa maneira, com base nos programas é
possível inferir que a utilização das práticas mindfulness podem trazer benefícios
duradouros para os seus participantes. Além disso, as pesquisas realizadas com
monges budistas também reforçam o resultado das práticas.

A Perspectiva de uma nova percepção da


vida: mindfulness e psicologia positiva
A psicologia positiva teve o seu início como movimento em 1998, no discurso
de Martin E. P. Seligman, na posse do seu mandato de presidente da Associação
Americana de Psicologia (American Psychological Association – APA). Em seu
discurso, Seligman criticou o excesso do interesse pela patologia mental ao invés
do bem-estar do ser humano.

10 O MBCT foi criado pelo professor de Oxford Mark Willian e seus colegas Zindel Segal e John Teasdale. Mais informações
podem ser encontradas no site da universidade de Oxford (em inglês): <http://oxfordmindfulness.org/>.

75
UNIDADE III │ AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS

Assim, segundo Alvear (apud MARTIN et al. 2016, p. 148), “a psicologia


positiva entende que o fato do indivíduo estar livre de doenças mentais não
implica, necessariamente, que está crescendo como pessoa (SELIGMAN,
2011)”. Portanto, a psicologia positiva pode ser definida como “o estudo
científico sobre o que faz com que a vida valha a pena ser vivida (PETERSON,
2006)” (ALVEAR apud MARTIN et al. 2016, p. 147).

Os conteúdos estudados nessa abordagem estão relacionados com os seguintes


temas: felicidade, bem-estar subjetivo, emoções positivas, inteligência emocional,
otimismo esperança, resiliência, crescimento pós-traumático, condutas saudáveis
como mindfulness ou exercício físico etc. Portanto, os temas estão direcionados para
a oportunidade das pessoas de “florescer, autorrealizar-se e crescer como pessoas e
comunidade” (ALVEAR apud MARTIN et al. 2016, p. 151).
Para fortalecer o florescimento das pessoas, o mindfulness surge como uma
alternativa, pois a continuidade dessa prática pode levar ao desenvolvimento de
vários traços ou estados mentais associados à psicologia positiva de Seligman –
isso se deve ao caráter integrador e transcendental das práticas de mindfulness.
Dessa forma, o bem-estar promovido pela psicologia positiva pode ser alcançado
por meio da prática de mindfulness, que envolve “observar todas as experiências
e sensações, orientar a atenção para o momento presente, estar receptivo a todas
as informações e estar sensível a diferentes contextos e consciente de múltiplas
perspectivas, levando a aquisição de novas competências mais adaptativas e
funcionais (NGNOUMEN; LANGER, 2016)” (MARQUES et al., 2018, p. 362).
As práticas de mindfulness, formal ou informal, contribuem direta e indiretamente
para a psicologia positiva. A promoção do florescer nos indivíduos requer que
esses tenham uma visão positiva da vida, apesar das situações negativas que
possam viver. Assim, ao utilizar as práticas de mindfulness, entendidas como
habilidade metacognitivas, é possível gerar nas pessoas uma reavaliação positiva
do ocorrido.
Ao associar a psicologia positiva com as práticas do mindfulness, torna-se
possível reorganizar a visão de mundo das pessoas e das comunidades. A visão
seria mais real do que as realizadas quando num quadro negativo sobre a vida,
o que iria proporcionar a redução do número alarmante dos suicídios que vêm
acontecendo no mundo inteiro.
O suicídio em escala mundial vem sendo tratado pelos países como política pública
para redução dos índices que vêm aumentando significativamente nas populações
de maneira geral. Entre as estratégias de prevenção, são utilizadas as práticas

76
AS MUDANÇAS CEREBRAIS A PARTIR DO MINDFULNESS │ UNIDADE III

de mindfulness, as estratégias da psicoterapia cognitivo-comportamental, as


atividades que fortaleçam a inteligência emocional e a psicologia positiva.

BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a


profissionais das equipes de saúde mental. Brasília: [s.n.], 2006. 76p.

MARTIN, Ausiàs Cebolla et al. Mindfulness e ciência: da tradição à modernidade.


São Paulo: Palas Atenas, 2016.

MARQUES, Inês et al. Psiquiatria e Psicologia Positiva, e Mindfulness. Psicologia,


Saúde & Doenças, 2018, 19(2), 354-368. Disponível em: <http://www.scielo.
mec.pt/pdf/psd/v19n2/v19n2a15.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2019.

77
AS PRÁTICAS DAS
INTELIGÊNCIAS
MÚLTIPLAS,
INTELIGÊNCIA UNIDADE IV
EMOCIONAL,
PSICOLOGIA
POSITIVA E O
MINDFULNESS
A unidade tem como objetivo oferecer suporte para a aplicação das diversas práticas
que envolvem inteligências múltiplas, inteligência emocional, psicologia positiva
e mindfulness. Todas essas teorias estão integradas com os resultados obtidos das
neurociências.

Ao criar a interface entre as inteligências, a psicologia positiva, o mindfulness e a


visão neurobiológica, torna-se possível analisar as propostas oriundas das áreas
da psicologia, e as neurociências são direcionadas para uma visão das práticas
contemplativas da vida (mindfulness, meditação, gratidão). As ciências começam
o caminho no entendimento da ciência contemplativa, a qual dá subsídios para
as diversas áreas do conhecimento e sua aplicação prática.

Isso fortalece a compreensão da necessidade em oferecer práticas voltadas para


a visão positiva e integrada da vida nos atendimentos realizados pelos terapeutas
nas clínicas, escolas, organizações e saúde. A perspectiva não é de apenas lidar
com as doenças, mas de atender ao florescimento das pessoas, ou seja, resgatar
a crença na vida e nas potencialidades de cada indivíduo e da sua cultura.

Portanto, ao sistematizar as práticas sugeridas, é possível elaborar mecanismos


que permitam mudanças na forma de pensar, sentir e agir na realidade na qual
as pessoas estão em contato.

As propostas das atividades estão voltadas para o descobrimento das


potencialidades e competências emocionais, cognitivas dos clientes atendidos
pelos profissionais, tornando-as capazes de ampliar seu autoconhecimento,
numa visão positiva de si mesmo e da vida, considerando a espiritualidade e
respeitando o meio ambiente e as diferentes culturas.

78
CAPÍTULO 1
A ciência contemplativa: paradigma
científico emergente no final do século
XX

O capítulo tem por objetivo expor as ideias principais da ciência contemplativa que
dá suporte para as práticas nas diversas áreas do saber, neurociência, psicologia,
meditação, mindfulness. Portanto, dá alguns norteamentos sobre essa nova proposta
de ciência, educação e práticas meditativas.

Biografia breve: Bruce Allan Wallace (1950)


Bruce A. Wallace é precursor das ciências contemplativas. Nasceu na cidade de
Pasadena em 17 de abril de 1950. É um autor americano e especialista em Budismo
Tibetano. Suas obras são sobre diferentes modos de investigação, tais como: científica,
filosófica e contemplativas orientais e ocidentais, focando frequentemente nas relações
entre ciência e budismo.

Wallace matriculou-se na Universidade da Califórnia, em San Diego, iniciou seus estudos


do budismo e da língua tibetana em 1970, na Universidade de Göttingen (Alemanha),
dando-lhes continuidade em Dharamsala (Índia), onde foi ordenado monge budista
por Sua Santidade, o Dalai Lama, em 1975.

O autor fundou o Santa Barbara Institute for Consciousness Studies em 2003, a fim de
integrar estudos científicos e contemplativos da consciência.

Proposta das ciências contemplativas


B. Alan Wallace, estudioso do budismo, propõe que as metodologias contemplativas
do budismo e da ciência ocidental sejam integradas numa única disciplina: a ciência
contemplativa. Essa ciência da consciência introduz métodos de investigação da
mente por meio de técnicas budistas de meditação, como o shamatha, um método
sofisticado para treinar a atenção.

Dessa maneira, a ciência contemplativa proporciona um conhecimento mais profundo


dos fenômenos mentais, incluindo uma ampla gama de estados de consciência, e sua

79
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

ênfase numa disciplina estritamente mental neutraliza os efeitos dos desequilíbrios


mentais.

A ciência contemplativa propõe uma perspectiva inovadora para expandir nossa


capacidade de alcançar o autêntico bem-estar.

É importante ressaltar que o termo “contemplativo’ tem sido utilizado


frequentemente na área da pesquisa meditativa. Os estudos sobre meditação
geralmente pressupõem que as práticas contemplativas, como mindfulness ou
compaixão, sejam temas da ciência contemplativa.

Segundo Dorgee (2016, p. 1),

Ciência contemplativa, que foca na pesquisa sobre as capacidades,


processos e estados fundamentais da mente modificados pelas práticas
contemplativas. Propõe-se que ciência contemplativa seja um estudo
interdisciplinar da capacidade autorreguladora metacognitiva (MSRC)
da mente e modos associados de consciência existencial (MEA),
modulados por fatores motivacionais/intencionais e contextuais de
práticas contemplativas.

A ciência contemplativa tem o seu suporte nas pesquisas neurocognitivas, segundo


Oliveira e Antunes (2014, p. 48-49):

Se olha para a materialidade de um órgão chamado cérebro, para


os tecidos que o compõem, para as complexas redes neuronais,
atravessadas por delicados fluxos eletroquímicos. [...] os resultados
das pesquisas neurocientíficas são inequívocos: a prática das técnicas
de treino contemplativo conduz à ativação de circuitos neuronais
relacionados com as capacidades de atenção (interoceptive awareness),
de metacognição, empatia, aceitação emocional e de motivação
prossocial.

Os estudos provenientes da ciência contemplativa fazem uso das mais modernas


tecnologias para levantar informações do cérebro em funcionamento e identificar
quais áreas são ativadas durante o processo de meditação. Isso traz novas
informações mais exatas sobre o que acontece nas redes neurais quando uma
pessoa está no estado meditativo.

As imagens do cérebro durante o processo de meditação comprovam a alteração


no funcionamento cerebral. Na figura abaixo, pode-se ver um resultado de
ressonância magnética em situações normais e durante a atividade de meditação.

80
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

Figura 9. Mudanças no cérebro após meditação podem ser vistas por ressonância magnética, atividade normal

(esquerda) e durante a meditação (direita). As cores mais quentes, amarelo, vermelho, representam maior

atividade cerebral.

Cérebro com atividade Cérebro durante


normal atividade de
meditação

Fonte: Campos et al. (2014). Disponível em: <https://www.nanocell.org.br/os-efeitos-da-meditacao-no-cerebro>.

Portanto, quando a pessoa faz utilização das práticas contemplativas, consegue obter
o refinamento da consciência por meio da contemplação. Utilizando essa consciência
refinada, pode-se utilizar

à investigação científica das implicações de tais estados de consciência


podem revolucionar explicitamente as ciências cognitivas e
revolucionar implicitamente a ciência natural como um todo, a qual
está grandemente baseada nos pressupostos do materialismo do
século XIX. (WALLACE, 2019, p. 2)

Desse modo, partindo-se dos resultados obtidos por meio das pesquisas
neurocognitivas, as práticas contemplativas, sejam as técnicas budistas ou as
mais recentes dos programas científico-terapêuticas, conduzem a ativações
do sistema neuronal e a modificações qualitativas importantes das faculdades
cognitivas dos praticantes.

As ciências contemplativas com os seus resultados promissores na validação das


práticas contemplativas podem contribuir para as ciências e a educação.

Educação contemplativa
Na educação, há a proposta da Pedagogia Contemplativa, a qual remonta a
inspiração das propostas de John Dewey e William James (EUA) no sentido de
se incluir a abordagem na primeira pessoa (eu) nas disciplinas científicas, nas
humanidades e nas artes. O movimento da pedagogia contemplativa tem início
na década de 1970 e vem aos poucos se fortalecendo com os resultados obtidos na
81
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

pesquisa científica sobre os resultados da prática mindfulness na saúde e também


no processo de ensino e aprendizagem e do saber.

Conforme Oliveira e Antunes (2014, p. 51), a proposta da educação contemplativa

Não é nova, por mais de 1000 anos e de diversas formas tem sido
praticada em tradições seculares, em escolas e mosteiros orientais
e ocidentais, bem como nas culturas aborígenes. Porém, como
referem Bai, Scott e Donald (2009), as ideias e forças dominantes na
cultura ocidental, de onde se destaca a ênfase na lógica aristotélica,
a revolução científica, a moderna revolução industrial e o culto da
eficiência, velocidade e produtividade, empurraram durante séculos o
contemplativo para o lado. Só no início deste novo milénio, pelas mãos
da própria ciência, os saberes e práticas contemplativas passaram a
ser reabilitados e a ganhar um interesse e valorização crescentes no
seio das mais diversas áreas do saber (medicina, física, psicologia,
sociologia, antropologia, filosofia, etc.) – diríamos mesmo que estão a
revolucionar a forma como se encara o ser humano e a forma como se
vive, ou melhor, viverá em sociedade.

O fortalecimento do movimento da educação contemplativa está intimamente


relacionado com as práticas de mindfulness como ferramenta a ser utilizada no
cotidiano das pessoas. A educação meditativa é uma maneira de gerar mecanismos
duradouros para criar e manter o hábito nas pessoas para a utilização das
estratégias e formas de pensar que incluam as atividades meditativas no dia a dia.

De acordo com Oliveira e Antunes (2014, p. 56), além de ser uma prática diária,

As práticas de mindfulness, para além de se terem mostrado bastante


eficazes e consistentes no tratamento da dor, na redução do sofrimento,
e de promoverem o bem‑estar das pessoas, ao terem a virtualidade ou
a qualidade de acalmar, aquietar a mente e de focar a atenção, afetam
positivamente as funções cognitivas como a atenção, a memória de
trabalho e a longo termo, a compreensão e a sabedoria (BUSH, 2013).

Os efeitos das atividades contemplativas são percebidos na sala de aula. Os


professores que aplicaram as práticas de mindfulness relataram que observaram
em seus alunos diferenças “de ordem cognitiva, como a melhoria da concentração,
do pensamento sintético, mais flexibilidade conceitual, e o interesse por processos
intelectuais diferentes dos tradicionais, caracterizados, sobretudo, por serem
lineares, analíticos e orientados para produtos” (OLIVEIRA; ANTUNES, 2014, p.

82
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

56). Dessa maneira, verifica-se que os benefícios das práticas estão direcionados
com as mesmas habilidades que foram observadas na saúde, porém tendo influência
no processo ensino-aprendizagem.

Sobre as práticas aplicadas, houve uma diversidade, entretanto a atenção sempre foi
orientada para a experiência direta. Tais práticas podem acontecer

Através da introdução de breves períodos de silêncio e auto‑observação,


de leitura e escrita concentrativa, de prática de presença atenta (open
awareness) a estímulos em ambiente de sala de aula nos tempos
curriculares formais ou em experiências de campo, etc. Podem, por outro
lado, integrar programas ou disciplinas especificamente concebidas
para promover o conhecimento contemplativo, [...]. (OLIVEIRA;
ANTUNES, 2014, p. 56)

A utilização do mindfulness no contexto educacional é um movimento recente no


ocidente, mas existem grandes nomes da pesquisa meditativa na construção do
corpo teórico. Entretanto, mesmo que a proposta seja atual, há resultados relevantes
nas mudanças do comportamento dos estudantes voltados para o processo de
aprendizagem.

A importância das práticas de mindfulness no contexto escolar é essencial para


se obter os resultados positivos, assim fica claro que o ensino de mindfulness no
contexto educacional deve considerar a aplicação prática. Além do mais, a educação
contemplativa tem noção

De que a educação é mudança e transformação; de comportamentos,


de atitudes, de modos de ser e fazer, de aprendizagens, de experiências’
(BOAVIDA, 2011, p. 199), ou ainda, com mais clareza relativamente às
finalidades, a ideia de que ‘educar é aprender a ser’, aprender a ‘tornar‑se
humano, ou melhor, [a] tornar‑se mais humano’ (Simões, 2007, p. 34),
encontramos aqui espaço e terreno seguro para o fundamento de uma
abordagem diferente à educação. (OLIVEIRA; ANTUNES, 2014, p. 51)

A educação contemplativa traz no seu bojo a retomada da proposta educacional


que não considera apenas a parte dos saberes cientificamente construídos, mas
vai além disso, tornando os alunos conscientes da sua formação humana. É
assumir-se humano, capaz de sentir empatia pelo “outro”, respeitando a natureza
e a espiritualidade.

Dessa maneira, a educação é utilizada como mecanismo de transformação da


sociedade e que deve considerar a formação humana no seu cotidiano para

83
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

formar pessoas capazes de superar as adversidades do dia a dia e, ao mesmo


tempo, tendo condições de refletir sobre as suas ações e dos outros.

DORJEE, Dusana. (2016) Definindo a Ciência Contemplativa: A Capacidade


Autorreguladora Metacognitiva da Mente, o Contexto da Prática da Meditação
e os Modos da Consciência Existencial. Front. Psychol. 17: 1788. DOI: 10.3389/
fpsyg.2016.01788. Disponível em: <https://contemplativescience.wordpress.
com/2019/04/09/definindo-a-ciencia-contemplativa>. Acesso em: 12 dez. 2019.

WALLACE, Bruce. Ciência contemplativa: onde o budismo e a neurociência se


encontram. São Paulo: Cultrix, 2009.

84
CAPÍTULO 2
Atividades práticas que fortalecem as
inteligências múltiplas, inteligência
emocional e práticas da psicologia
positiva

O presente capítulo tem como objetivo fornecer sugestões de atividades que possam
ser aplicadas nos diversos contextos nos quais os profissionais da psicologia nas
abordagens cognitivas comportamentais e positivas possam estar atuando.

As sugestões das práticas têm como referências os autores: Antunes (1998, 2001,
2003), Gardner (1995), Goleman (2004), Supera (2018) e Bernardes (2019)
e estão direcionadas para as atividades individuais e/ou grupais, podem ser
adaptadas para os diversos ambientes da atuação profissional dos psicólogos/
psicoterapeutas, nos contextos da clínica, escola e empresas.

Atividades práticas para estimular as


inteligências múltiplas
As inteligências múltiplas dão condições no desenvolvimento das habilidades que as
pessoas possuem para resolver as situações-problemas do seu cotidiano e fornecem
informações sobre quais áreas do conhecimento possuem as habilidades para o trabalho.

Gardner considerou que as inteligências estão divididas em nove inteligências


múltiplas, assim as atividades sugeridas estão separadas por áreas. Entretanto,
para escolher as atividades indicadas, é importante ter conhecimento da pessoa,
sua personalidade, o nível de desenvolvimento, pois não basta que a atividade esteja
inserida na inteligência escolhida, a pessoa deve estar motivada para realizá-la.

Atividades para estimular a inteligência linguística ou verbal:

» Existe expressiva riqueza em se contar histórias, sobretudo envolvendo


o ouvinte em participação interativa que cobra sua inventividade e
divagação verbal.

» Uma sentença dita com as palavras fora de ordem e um estímulo para sua
estruturação léxica constitui um método valioso para uso em sala de aula
ou na prática clínica.

85
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

Atividades para estimular a inteligência lógico-matemática:

» Invente problemas nos temas que analisa, nos conteúdos que se


propõe.

» Experimente propor diversas linhas do tempo, desde as que


envolvem a vida pessoal do indivíduo até a projeção de teorias,
fatos e hipóteses em seu desenvolvimento temporal;

» É sempre importante que o aluno aprenda a observar a presença


de padrões de simetria e de formas geométricas na natureza, nos
temas descritos e nas paisagens relatadas.

Atividades para estimular a inteligência visuoespacial:

» A pessoa deve descobrir, em toda sua intensidade e dimensão, a existência


de linguagens novas, transpondo textos para a linguagem musical, cênica,
cartográfica, pictórica e muitas outras, assim como transpondo desenhos,
imagens, pinturas, poesias, letras musicais para textos.

» O professor pode propor para qualquer ilustração ou mesmo para um


texto sua recriação em novos tamanhos e novas formas.

Atividades para estimular a inteligência sonora ou musical:

» Atividade é estimular os alunos a transformar textos, mensagens ou


ideias em paródias, adaptando-se os conteúdos com os quais se trabalha
a músicas populares com letras alteradas, contextualizada, dessa forma,
ao que se ensina.

» A paródia implica a criatividade de uma adaptação, circunstância que


não impede a proposta para a criação de músicas contextualizadas ao
tema que se desenvolve no momento.

» É sempre interessante estímulos para se estabelecer relações entre


músicas e fatos.

Atividades para estimular a inteligência cinestésico-corporal:

» Os temas explorados em sala de aula podem abrigar interessantes


atividades que envolvam inúmeras simulações, em que, por meio da
linguagem corporal, os alunos possam mostrar os saberes que estão
construindo.

86
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

» A teatralização, ou representações gestuais, constitui recurso importante


para a transposição da linguagem textual para a linguagem corporal.

» A experiência com dança contextualizadas a temas diversos também é


importante.

Atividades para estimular a inteligência naturalista:

» A criação de hábitos naturalistas pode começar com observações


progressivamente registradas em diários de campo.

» Mesmo desacompanhado do professor, o aluno pode ser estimulado a


fazer observações e anotações em seu “diário” de um explorador, muitas
vezes ampliando-o ao acrescentar fotos, folhas, raízes ou outros elementos
extraídos dessa pesquisa.

» O uso de gravador estimula a coleta de sons ambientais e seu registro.

Atividades para estimular a inteligência pessoal (interpessoal, intrapessoal):

» Criação de painéis e colagens sobre as emoções vivenciadas.

» As pessoas podem ser estimuladas a criar os seus dicionários emocionais,


e mantê-los “secretos” como meio de autoconhecimento é indiscutível.

» Os alunos devem aprender a valorizar bons exemplos, desenvolvendo


pesquisas sobre pessoas de participação relevante na história familiar ou
comunitária ou no envolvimento em ajudas a outros.

Atividades para estimular a inteligência


emocional
Goleman (1994), ao desenvolver a sua teoria da inteligência emocional, propôs
uma nova forma de compreender que o controle das emoções é essencial para o
desenvolvimento cognitivo da pessoa. Por meio da inteligência emocional é que é
possível identificar os sentimentos próprios e nos outros e produzir relacionamentos
positivos. Dessa maneira, o sucesso e o fracasso nos relacionamentos estão relacionados
também com a habilidade de cada um em gerir as próprias emoções.

Para fortalecer a inteligência emocional, seguem algumas atividades – os sites e autores


pesquisados foram Goleman (2004), Supera (2018) e Bernardes (2019).

87
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

» A atividade pode ser realizada em qualquer tamanho de papel, desenhando


as emoções mais frequentes nas últimas duas semanas e contando as
situações e os seus sentimentos.

» Numa folha de papel, escreva as situações nas quais mais sente: medo,
alegria, raiva, tristeza.

» Jogo Memória das Emoções: esse é o jogo da memória. Cada folha


contém cinco desenhos de expressões faciais de emoções. Imprima de
preferência em cartolina. Pinte ou peça à criança que pinte as fichas,
escolhendo uma cor para cada emoção. Depois basta recortar as fichas,
misturá-las, colocando-as com o desenho para baixo. Ganha o jogo
quem conseguir encontrar o maior número de pares de emoções. Pode
ser jogado individualmente ou com outra pessoa. Professores também
podem jogar com os seus alunos, dividindo a sala em equipes, ou por
meio de torneios entre dois alunos.

» Ao sentir-se irritado, pergunte a si mesmo qual a origem e o porquê do


mal-estar. Seja honesto na resposta e treine reações construtivas para
situações futuras semelhantes.

» Quando não gostar da atitude de alguém, tente ressignificar seu


pensamento. Coloque-se no lugar da pessoa. Tenha compaixão e saiba
perdoar.

» Não queira ser sempre perfeito. Você não precisa estar certo e nem ser o
melhor em tudo o que faz.

» Seja otimista: isso significa ter um cérebro assertivo, em vez de


defensivo. Avalie a realidade e o contexto com acurácia, coloque o
problema na devida dimensão e foque na solução.

» Observe as reações emocionais durante os acontecimentos do dia: é fácil


afastar os sentimentos daquilo que se vive no dia a dia, mas separar
um tempo para reconhecer quais sentimentos suas experiências diárias
provocam é essencial para melhorar a inteligência emocional.

» Evite julgar suas próprias emoções: todas as nossas emoções são válidas,
inclusive as negativas. Se julgarmos nossas emoções, iremos inibir nossa
capacidade de sentir plenamente, o que vai fazer com que seja mais difícil
aproveitar nossas emoções de maneira positiva. Todas as nossas emoções
são uma parte nova de informação útil que está conectada com algum

88
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

acontecimento do mundo pessoal. Sem essa informação, não teríamos


ideia de como reagir adequadamente.

Atividades práticas da psicologia positiva:


para uma vida mais saudável
A psicologia positiva tem como objetivo, segundo Paludo e Koller (2007, p. 10),
“contribuir para o florescimento e o funcionamento saudável das pessoas, grupos
e instituições, preocupando-se em fortalecer competências ao invés de corrigir
deficiências”. A proposta da psicologia positiva está também na prevenção das doenças
por meio do conhecimento dos fatores protetivos, aperfeiçoamento de técnicas de
avaliação psicológica para identificação das virtudes e dos aspectos positivos.

Nesse momento, a prioridade do material é oferecer estratégias da psicologia positiva


para criar a integração de atividades que possam trazer para as pessoas o fortalecimento
das suas forças positivas que partem de suas características emocionais cognitivas,
relacionais e cívicas.

Assim, abaixo foram escolhidas atividades oriundas da psicologia positiva. Os sites e


autores pesquisados foram Sbcoaching (2019), Ribas (2015) e Bru Fioreti (2019):

» Carta da Gratidão: escreva uma carta de gratidão. Pense em três pessoas


que, seja pelo motivo que for, fizeram a diferença em sua vida. Agora, é
a hora de parar e refletir sobre tudo que deseja dizer a ela. Não poupe
palavras nem tente esconder seus sentimentos. Depois que tiver escrito
cada uma das cartas, aproveite e faça a entrega pessoalmente.

» Confie em sua capacidade: pare em frente ao espelho e avalie como você


se enxerga – não apenas na aparência, mas também na parte física. Olhe
para dentro e tente entender quem é essa pessoa e como você se sente em
relação a ela. Relacione e reflita sobre tudo que já realizou, suas batalhas
e conquistas. Você não teria chegado até aqui se não fosse capaz. Por isso,
talvez esteja faltando uma dose extra de autoconfiança e de otimismo.

» Descubra as habilidades: pense nas suas melhores competências e


valorize o que elas representam. Elas são parte intrínseca de você e de
quem é no mundo. Conhecê-las é também entender melhor você mesmo
e aprender a se apaixonar por essa figura. Aprecie os detalhes.

» Escreva como se sente toda noite ou manhã: uma maneira de entender


como se sente e de trazer mais consciência para o que anda lhe estressando

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UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

no dia a dia é fazer uma espécie de diário. Não precisa ser uma carta
enorme. Poucas palavras bastam, porque é o gesto de parar para pensar
em você que importa. Ao escrever como se sente e como gostaria de se
sentir, você fomenta o autocuidado.

» Faça “dieta de notícias”: vários estudiosos de Psicologia Positiva apontam


os efeitos maléficos de consumir notícias negativas demais – claro,
você absorve aquele conteúdo de alguma forma. A sugestão é criar um
limite diário. Não precisa se alienar, ainda mais em épocas de decisões
importantes como a que vivemos, mas determine um horário para ler e
ver TV, de preferência bem antes da hora de dormir e longe da cama.

» Trace suas metas para o dia seguinte: como já relatei aqui, o simples ato
de fazer uma To Do List antes de dormir melhora a qualidade do sono
e diminui a ansiedade. Mas, além da lista de afazeres, recomenda-se
estabelecer um objetivo principal a ser cumprido, algo mais “macro”, que
vá dar o tom ao dia e trazer uma sensação de satisfação se for feito.

» Pratique três gratidões diárias: a mais conhecida das ferramentas da


Psicologia Positiva é também a mais eficaz. Anote pelo menos três coisas
pelas quais sente gratidão diariamente para ter duradouros efeitos sobre
o nível de bem-estar. Mesmo que soe estranho no início, você se adapta
e colhe os frutos.

» Eu melhor que eu: feche os olhos e respire profundamente. Leve a sua


consciência para o fundo do seu coração. Responda honestamente: o
que eu posso fazer hoje para ser melhor do que ontem? Pense em algo
simples, mas que seja executável. Dê um passo consciente em direção a
sua evolução pessoal.

» Dia Pleno: escreva como seria o seu dia plenamente feliz. A que horas
você acordaria? Qual a primeira coisa que faria ao levantar? Quais seriam
as atividades da manhã, da tarde e da noite? Com quem estaria? Onde
estaria? Que roupa usaria? Como seria a sua alimentação? Que horas iria
dormir? Qual seria a sua ação diária? Como se sentiria em nível físico,
psíquico e espiritual? Como cuidaria de si mesmo?

As atividades práticas permitem a aplicação das teorias no dia a dia dos


profissionais nas diversas organizações e na prática clínica para fortalecer
as habilidades necessárias para o autoconhecimento e também gerenciar
melhor os relacionamentos intra e interpessoais.

90
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

A partir do momento em que a pessoa conhece suas habilidades referentes à área do


conhecimento, passa ter condições em direcionar as atividades para o trabalho. E
também, ao desenvolver as habilidades emocionais, passa conhecer melhor as suas
emoções e seus sentimentos e os das pessoas. Assim, possibilitará a melhoria na sua
autoimagem, bem como a capacidade em manter relacionamentos duradouros e sua
capacidade em viver consigo e com outras pessoas de maneira positiva.

BERNARDES, Claudine. Jogos para baixar: Trabalhando as capacidades


emocionais com crianças. Disponível em: <https://acaixadeimaginacao.
com/2017/12/10/atividade-para-desenvolver-a-consciencia-emocional>.
Acesso em: 10 dez. 2019.

GOLEMAN, Daniel. Daniel Goleman na prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

Figura 10. Inteligência Emocional.

Fonte: <https://www.grandespymes.com.ar/2018/11/03/el-sistema-de-aptitudes-de-la-inteligencia-emocional-enfoques-y-
propuesta/>.

91
CAPÍTULO 3
Atividades práticas11 de mindfulness
para o dia a dia: nas escolas, na
clínica e no trabalho

O presente capítulo tem por objetivo indicar atividades de mindfulness e


relaxamento que possam promover a melhoria na atenção plena no presente,
sem julgamento e com abertura à experiência. Dessa maneira, as atividades
sugeridas devem ser aplicadas em espaços adequados e com o ambiente
voltado para a realização da atividade contemplativa.

As sugestões práticas foram retiradas de diversos autores e sites12 – os autores utilizados


foram: Melo et al. (2014), Dib (2019), Izuriaga (2018), Regus (2019), Rízia (2018).

Atividades de Mindfulness para serem


realizadas nas escolas
As atividades de mindfulness e meditação na sala de aula trazem benefícios para
os alunos e professores. Na atualidade, tem-se encontrado escolas que começam a
utilizar as práticas meditativas no contexto escolar porque “elas ajudam os estudantes
a aprimorar a atenção em classe, a regular melhor suas emoções e a adquirir maior
habilidade nas inter-relações sociais” (COSENZA, 2019, p. 1).

A utilização nas escolas está trazendo mudanças no comportamento e na aprendizagem


das crianças, pois elas começam a ter mais calma, pensamento positivo, autoestima,
atenção, postura adequada ao sentar-se, respiração melhor. As práticas auxiliam os
professores, reduzem o nível de estresse, aumentam a atenção plena nos alunos e
melhoram a relação entre professor e aluno.

Portanto, as atividades de mindfulness aplicadas em sala de aula têm mostrado que há


mudanças comportamentais nos alunos, nos professores e na relação professor e aluno.

Abaixo são citadas algumas sugestões de atividades mindfulness para serem aplicadas
em sala de aula com as crianças.

» Tente comer de forma consciente: atentando-se às cores e ao paladar,


mastigando atentamente e observando o cheiro dos alimentos;
11 As atividades práticas no sistema de saúde não foram inseridas na lista, pois elas podem ser retiradas das outras
organizações.
12 Os sites utilizados estão inseridos nas referências.

92
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

» Jujuba: distribua uma uva-passa (jujuba ou outro alimento) para os


alunos. Peça que eles não comam. Oriente-os a observar o formato e a
cor da uva-passa. Depois, peça que eles sintam a textura. Em seguida,
eles podem cheirar e colocar na língua, sem mastigar. Depois de passar
por toda a boca, eles podem mastigar. No final, pergunte como foi a
experiência para eles.

» Música e tinta: coloque uma música clássica ou uma música que possa
despertar a calma nos alunos. Entregue tintas de várias cores e peça
para eles expressarem o que sentem no papel, com um pincel. Faça o
processamento da atividade e os convide a falar sobre as próprias emoções.

» Natureza: faça um passeio na natureza e os convide a observar o som dos


pássaros, o tronco e o tamanho das árvores, as teias de aranha. Depois,
peça para eles desenharem o que viram.

» Observação: os alunos devem formar duplas e sentarem um de frente


para o outro. Explique que eles têm um minuto para olhar nos olhos
do parceiro sem desviar o olhar. Depois, eles podem trocar de duplas
algumas vezes, e vocês podem conversar sobre como eles se sentiram e
como podem usar isso no dia a dia.

» Consciência corporal: de olhos fechados, todos devem respirar


profundamente. Rapidamente, vá narrando a viagem de uma formiguinha
dos pés até a cabeça deles. Esse exercício ajuda a trazer a presença e
consciência corporal, mental e emocional da turma.

» Criatividade: dê uma canetinha para cada aluno e peça que eles observem
as marcas que têm no corpo, como pintas, verrugas, cicatrizes, marcas
de nascença, e que criem desenhos a partir de suas marcas. No final,
todos devem estar cheios de desenhos pelo corpo. Esse exercício ajuda a
desenvolver a observação, a criatividade e a concentração.

» Garrafa da calma: a garrafa da calma é um objeto muito legal de se fazer.


Recolha garrafas pet, leve para a sala com cola glitter de diferentes cores,
corante alimentar e o que mais você quiser colocar dentro da garrafa
(botões, argolas etc.). Distribua para os alunos os materiais e, com uma
garrafa pronta de exemplo, explique que, quando se agita a garrafa, o que
tem dentro fica bagunçado, agitado, e que é assim com a nossa cabeça
quando ficamos nervosos, com raiva ou tristes. Mostre que, quando o
glitter cai, tudo fica calmo e em paz, e que assim é com a gente quando

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UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

nos acalmamos. Agora eles podem fazer a própria garrafa, e você pode
usar em momentos estratégicos, quando eles estiverem dispersos, bravos
ou tristes.

» Brinquedos: fale para cada um pegar um brinquedo ou objeto que goste


e diga para todos se deitarem. Peça para eles colocarem o objeto em
cima da barriga e observarem como ele sobe e desce à medida que eles
respiram. Vá pedindo para respirarem mais devagar e profundamente e
observarem. Depois, converse com eles sobre a experiência.

Atividades de Mindfulness para serem


realizadas na clínica
A utilização do mindfulness no contexto da clínica tem dois objetivos: o primeiro é a
utilização das práticas pelo psicoterapeuta com o objetivo do fortalecimento da relação
terapêutica eficaz; e o segundo é usar a prática meditativa para auxiliar no tratamento
das diversas psicopatologias e no bem-estar do paciente.

A respeito do mindfulness, é importante que seja “compreendido que não é apenas


uma técnica; é um esforço perpétuo para incorporar consciência, compaixão e
comportamento ético na vida” (GERMER et al., 2016, p. 138). Ao tornar a prática numa
forma de vida é que se consegue trazer mudanças significativas na forma de pensar e
agir da pessoa, seja terapeuta ou paciente.

A prática do mindfulness não é indicada apenas para os pacientes, mas também


para o psicoterapeuta, que deve ter tais atividades na sua rotina. A aplicação irá
ajudar no desenvolvimento das relações terapêuticas, pois, nos estudos realizados
para avaliar o sucesso ou o fracasso da terapia, está relacionado também que o que
o “paciente faz da aliança parece ser mais preditiva de resultado positivo do que a
visão do terapeuta (Horvath et al.,2011; ORLINSKY; RONNESTAD; WILLUTZKI,
2004)” (FULTON apud Germer et al., 2016, p. 61)

A introdução das práticas do mindfulness deve ser criteriosamente pensada pelo


terapeuta devido às barreiras do nome mindfulness, “questões religiosas e culturais,
necessidades clínicas, disposição do paciente para desenvolver novos hábitos do
paciente, bem como a própria experiência de mindfulness, a aliança terapêutica e o
senso de oportunidade do terapeuta” (POLLAK apud GERMER et al., 2016, p. 136).

Uma sugestão é alterar o nome de mindfulness para outras palavras e, assim,


evitar que os pacientes o associem com o budismo ou com a filosofia da Nova Era.

94
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

Carmody (apud GERMER et al., 2016, p. 140) sugere apresentar os exercícios como
treinamento da atenção, acreditando que essa expressão é mais aceitável para
muitas pessoas.

O terapeuta para escolher as estratégias de mindfulness no atendimento segundo


Germer et al. (2016, p.140) deve

Conhecer e oferecer variações de meditação de acordo com as


necessidades de cada paciente. Por exemplo, pessoas com história de
asma, doença respiratória, trauma ou ansiedade com frequência não se
sentem confortáveis com o exercício de acompanhar a respiração, o que
muitas vezes é o primeiro exercício de mindfulness ensinado em aulas
de mediação. Esses pacientes podem achar mais fácil começar com a
prática de escutar os sons no momento presente.

Para que a aplicação das práticas meditativas seja eficaz, é necessário que sejam
inseridas no atendimento de maneira adequada para o perfil do paciente e devem levar
em consideração a doença física ou mental apresentada.

Abaixo seguem algumas sugestões práticas13 das atividades de mindfulness que podem
ser utilizadas pelo psicoterapeuta14 e também pelos pacientes.

» Um minuto de meditação: feche os olhos e inspire e expire lentamente.


Concentre-se no seu peito subindo e descendo e tente não pensar em
mais nada. Se outros pensamentos surgirem em sua cabeça, reconheça-
os e descarte-os, depois volte a se concentrar na respiração.

» Meditação de escaneamento corporal: sentado ou deitado, percorra


mentalmente e devagar todas as partes do seu corpo, dos pés para a
cabeça ou das cabeças para os pés. Perceba as sensações em cada uma
delas. Sensações de vibração, pulsação, calor, frescor. O toque de suas
roupas em sua pele. Estenda a consciência da respiração para todo o
corpo. Repita mais de uma vez.

» Exercício de Pensamentos e Sentimentos: o terapeuta apresenta um


cenário simples, como acenar a um amigo na rua que não acena da
mesma maneira, para demonstrar como atribuímos julgamentos
automaticamente em nossas vidas.

13 As atividades sugeridas na prática clínica estão inseridas nos três tipos de meditação: concentração, mindfulness per se e
compaixão.
14 É interessante que o terapeuta experimente antes as práticas para conhecer as sensações vivenciadas, bem como saber as
facilidades e dificuldades na realização das atividades.

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UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

» Alongamento Consciente: os clientes se envolvem em vários movimentos


de alongamento (por exemplo, estender os braços no ar), atentando para
sensações no corpo e em sua respiração.

» O “território” da depressão: os clientes reconhecem os pensamentos


automáticos geralmente experimentados durante episódios depressivos,
os quais, quando experimentados, poderiam ser um sinal precoce de
alerta de recorrência.

» Prevenção de Recaídas: os clientes identificam e registram sinais precoces


de alerta de recorrência de depressão, observando os pensamentos que
ocorrem em suas mentes, as emoções sentidas, as sensações em seus
corpos e seus impulsos de ação. Além disso, eles elencam respostas hábeis
a dar quando percebem esses sinais de alerta.

» Caminhando com atenção plena: peça para o seu paciente que caminhe
para frente e para trás sem se preocupar em estar sendo observado.

» Utilização das frases de amor-bondade: “que eu possa ser livre de perigo


interior ou externo”; “que eu possa ser livre de sofrimento”; “que eu possa
ser saudável”; “que eu possa ser feliz”; “que eu possa viver com leveza”.

Atividades de Mindfulness para serem


realizadas no trabalho
As práticas de mindfulness no ambiente do trabalho traz resultados positivos para
a melhoria do bem-estar do colaborador e também melhora a sua produtividade;
as práticas podem ser utilizadas pelos líderes, gestores, executivos, RH managers e
diretores. Nesse caso, falamos de liderança mindfulness (ou mindfulness leadership),
que permite o desenvolvimento de uma liderança positiva e transformadora”
(IZURIAGA, 2018, p. 1).

A técnica de mindfulness permite que o trabalhador viva plenamente o presente,


melhore as relações no contexto do trabalho e tenha outros benefícios. Segundo
Izuriaga (2019, p. 1):

Melhora a gestão de situações complexas e estressantes, sem nervos;

Favorece a inteligência emocional, a criatividade e a inovação;

Claridade na resolução de conflitos e na tomada de decisões;

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AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

Melhora trabalho em equipa e a comunicação entre colegas;

Reduz o nível de ansiedade para dar lugar à calma e estabilidade;

Aumenta o nível de energia e produtividade.

Os resultados da aplicação das práticas meditativas no ambiente organizacional tornam


o ambiente mais saudável e produtivo para os colaboradores e os seus líderes. Abaixo
seguem algumas sugestões de atividades mindfulness para serem aplicadas antes,
durante e depois do trabalho.

» Escolha começar o dia percebendo as suas sensações. Observe sua


respiração por alguns instantes antes de se levantar.

» Selecione alguns dias para dirigir ou se deslocar para o trabalho sem


música e sem utilizar o celular, observando atentamente o que acontece
no caminho. Quando chegar ao seu destino, tire alguns momentos para
perceber a respiração antes de sair do carro ou entrar no escritório.

» Caminhe entre as reuniões sem olhar e-mails ou textos. Sinta os


pés tocarem o chão, o ar na sua pele, bem como a possibilidade de
cumprimentar colegas pelos quais você sempre passa.

» Em sua mesa, enquanto o computador estiver ligado, faça algumas


respirações atentas, perceba as sensações no corpo e observe como está
sua postura ao sentar-se.

» Audição plena: é fácil perder a concentração durante uma conversa.


Em vez de formular uma resposta enquanto seus colegas ainda estão
falando, esvazie sua mente e realmente ouça o que eles estão dizendo.
Tente não pensar no que você tem a fazer, nos seus planos para a noite ou
em conversas antigas: simplesmente viva o momento. Isso ajuda a obter
mais informações, além de melhorar suas relações no local de trabalho.

» O jogo da observação: escolha qualquer objeto perto de você (um lápis,


o mouse do seu computador ou até mesmo sua gravata) e concentre-se
plenamente por um minuto. Faça de conta que é a primeira vez que você
vê aquele objeto. Preste atenção na forma, na textura e na construção.
Isso vai ajudar você a esvaziar sua mente e se reconectar aos objetos
comuns que estão à sua volta.

» Viva o presente: escolha uma coisa que você usa o tempo todo (a chaleira
da cozinha do escritório, por exemplo) e use como ponto focal para um

97
UNIDADE IV │ AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS

momento de atenção plena. Sinta a textura do objeto, pense como ele


funciona e para que é usado. Por exemplo, pense em como é incrível que
uma chaleira ferva água em questão de minutos e na sorte de ter acesso a
água potável e eletricidade.

» Descanse um pouco em contato com a natureza: você pode precisar se


levantar e sair da sua mesa para isso, mas vai se sentir melhor. Quando
fizer um intervalo para um café ou para o almoço, faça uma caminhada
sozinho em um parque ou região arborizada. Se possível, deixe seu celular
e quaisquer outros aparelhos eletrônicos no escritório e use esse tempo
para se concentrar e escutar a natureza à sua volta. Esse é um exercício
saudável tanto para sua mente quanto para o seu corpo, pois você também
se beneficiará da atividade física e da chance de respirar o ar fresco.

» Exercícios para concentração: a melhor maneira de retornar ao presente


e se concentrar no trabalho é realizar a contagem regressiva. Comece a
contar lentamente de 10 a 0. Se a sua mente estiver distraída, inicie a
contagem novamente.

» Exercícios para diminuir o ritmo de trabalho: a nossa mente trabalha


constantemente a um ritmo frenético. Para contrariar, ouça o que diz a
sua mente. Analisa os seus pensamentos para tentar reduzir a velocidade
e voltar à calma.

» Exercício para quando se sentar na sua cadeira de trabalho: sente-se e


tenha consciência da sua postura, relaxando os músculos. Como se sente?
Tente descobrir e respire conscientemente para libertar qualquer tensão
que possa ter.

Após as sugestões das atividades práticas de mindfulness para serem aplicadas nos
diversos ambientes das práticas terapêuticas pelos psicoterapeutas, é importante
acrescentar que, além dessas voltadas para o mindfulness, podem ser acrescentadas
atividades que estimulem o desenvolvimento das competências da inteligência
emocional que já foram citadas no capítulo 2 desta unidade.

Os estudos realizados para o fortalecimento das pessoas nas terapias da saúde física
e mental, por meio da utilização das estratégias de mindfulness contribuíram para a
melhoria na vida das pessoas. E, ao mesmo tempo, permitiram a construção de um
novo paradigma científico – ciência contemplativa. Entretanto, tal paradigma está
engatinhando, mas os estudos contam com a ajuda de métodos científicos e aparelhos

98
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

de última geração para compreenderem o funcionamento do cérebro durante as


atividades contemplativas.

Somado a tais descobertas científicas nas práticas do mindfulness, tem-se também


o desenvolvimento dos estudos na área das inteligências múltiplas. A proposta das
inteligências múltiplas auxilia no processo de desenvolvimento da pessoa direcionada
para as suas competências pessoais e profissionais.

Assim, a integração dos conhecimentos oriundos das pesquisas de mindfulness e das


inteligências múltiplas permitem a compreensão da subjetividade do homem neste
século XXI e também a elaboração de práticas integradas para o fortalecimento dos
indivíduos pessoal e profissionalmente.

O importante é que as propostas estão direcionadas para a prática profissional e


pessoal dos terapeutas que decidirem atuar na aplicação das terapias cognitivo-
comportamentais (terceira onda) e positiva, as quais podem ser utilizadas
nos atendimentos psicoterápicos clínicos e nos contextos de sala de aula, do
sistema de saúde e organizacional.

KABAT-ZINN, Jon. A Mente Aberta: como viver intensamente cada momento de


sua vida através da meditação: um guia prático com reflexões e exercícios. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001.

TOLLE, Eckhart. O Poder do Silêncio. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.

Figura 11. Prática de Mindfulness.

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/sunset-yoga-335742965>.

99
Para (não) Finalizar

A prática do mindfulness aliada às inteligências interpessoais e intrapessoal de Gardner,


e a inteligência emocional proposta por Daniel Goleman, produzem nas pessoas o
fortalecimento da saúde mental e, consequentemente, a melhoria das relações pessoais
nos diversos espaços, voltando a atenção para o momento presente e sem julgamento,
bem como percebendo as oportunidades do ambiente.

As inteligências auxiliam no desenvolvimento e na aprendizagem das pessoas,


portanto, ao considerar as práticas de mindfulness que estão relacionadas
com o bem-estar, é importante pontuar a capacidade de pensar nas melhores
oportunidades de trabalho de acordo com as suas competências. Assim, o
contexto cultural e a forma como a pessoa se orienta profissionalmente são
capazes de fazê-la sentir-se adaptada com o espaço profissional e proporcionar
respostas para as situações-problemas do dia a dia de acordo com o que o
ambiente cultural espera que seja adequado.

Portanto, a utilização das teorias das inteligências múltiplas/emocionais e das terapias


cognitivo-comportamental (terceira onda)/positiva irá agregar importantes ferramentas
para os profissionais que atuam nas áreas da educação, da saúde, da prática clínica e
das organizações.

A integração irá permitir não apenas o desenvolvimento das pessoas que recebem
atendimentos, mas também dos profissionais que dela fazem uso.

As teorias de terceira onda da psicologia cognitivo-comportamental incorporaram


nas suas propostas terapêuticas a utilização das práticas de mindfulness para
fortalecer os aspectos do pensamento, das emoções, da interação social. As atividades
meditativas permitem às pessoas a redução do estresse, da ansiedade e de outros
sintomas referentes ao aspecto físico e mental. A comprovação científica dos efeitos
da meditação já permite a aplicação nos diversos quadros dos transtornos mentais,
entretanto o cuidado está no quadro da esquizofrenia.

O corpo dos estudos das atividades contemplativas fornecem suporte teórico


consistente, promovendo o fortalecimento da ciência contemplativa. Essa ciência
ainda está nos passos iniciais, pois suas primeiras pesquisas iniciaram-se na década
de 1970 do século passado, ou seja, são 50 anos de estudos, e, para a ciência, é pouco

100
AS PRÁTICAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PSICOLOGIA POSITIVA E O MINDFULNESS │ UNIDADE IV

tempo. Entretanto, as práticas contemplativas vêm sendo utilizadas há milênios


pela psicologia budista.

Os resultados obtidos das pesquisas científicas nos praticantes de longa data tiveram
a constatação das diferenças nas estruturas cerebrais que atuam nos pensamentos,
comportamentos e atitudes relacionados com a atenção plena, a capacidade de
julgamento e a percepção de formas diferentes de entendimento das situações
estressantes.

As propostas das inteligências múltiplas e da educação contemplativa destacam não


apenas a importância da formação pessoal e tecnológica dos alunos, mas também o
fortalecimento enquanto humanos, respeitando o outro e a cultura no qual estejam
inseridos.

O material conduz ao entendimento da ciência voltada para o crescimento das práticas


contemplativas nos diversos contextos organizacionais, as quais, além da sua aplicação
tácnica, deve ser aplicadas na educação.

O resgate do ser humano no processo educacional torna-se cada vez mais forte nos dias
atuais, pois os números das doenças mentais, físicas e a falta de respeito com a natureza
vêm aumentando. A capacidade de recuperar a saúde mental e física das pessoas está
no aumento da utilização das práticas de mindfulness, no cotidiano e na educação.
Deve-se ter o entendimento das diferenças entre os ritmos e habilidades dos alunos,
respeitando as suas competências.

Vida, pessoa, prazer e dor: isso é tudo que é unido em um único

evento mental, um momento que acontece rapidamente.


BUDA (MAHA NIDDESA, OLENDZKI, apud GERMER et al., 2016, p. 269)

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