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Psicologia e suicídio

O suicídio é o ato de tirar a própria vida e, na grande maioria das vezes, surge como
resultado de alguns transtornos psicológicos e emocionais. Falar sobre o assunto é de suma
importância, um passo essencial para que tanto o suicídio em si quanto os transtornos mentais
deixem de ser um tabu e também para que mais pessoas possam ter acesso a ajuda.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS):

 Cerca de o00 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos.


 Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a cada ano. A
tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população
em geral.
 O suicídio é a segunda principal causa de mortes entre jovens com idade entre
15 e 29 anos.
 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda.
 Ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos
mais comuns de suicídio em nível global.

Para a psicologia, quando alguém pensa em suicídio é sinal de que essa pessoa
está sofrendo profundamente, seja com depressão, angústia, culpa, vergonha, tristeza,
falta de pertencimento e outros conflitos internos. O processo de morrência significa
um definhar existencial resultante da complexidade de processos autodestrutivos.
Nesse processo, invadida por crenças pelas quais a pessoa vislumbra que a única
solução para seus problemas é a morte – e, por esse motivo, mencionei ser “o suicídio
o ápice do processo de morrência” (Fukumitsu, 216, p.169).

Desmascarar alguns mitos sobre o suicídio pode ajudar as pessoas a


perceberem o quanto é importante ser solidário com quem corre esse risco, bem como
a importância de procurar ajude de um psicólogo e psiquiatra, mostrando as pessoas a
relevância de enfrentar seus desafios, conflitos e sofrimento.

Falar sobre suicídio é perigoso, pois estimula as pessoas a tentarem

Na maioria das vezes, as pessoas que desejam cometer suicídio não querem
preocupar os seus entes e amigos, primeiro para não preocupa-los e , segundo, para
não ser julgado. Isso acontece porque essas pessoas não querem abrir o jogo sobre
como se sentem por medo de como serão interpretadas e, portanto, preferem
internalizar esses pensamentos. Ao serem ouvidas e compreendidas se sentem mais
esperançosas e menos inseguras, Os seus sentimentos serão validados e elas saberão
que alguém se importa com elas. A promoção de palestras, rodas de conversas,
discussões, simpósios e congressos é importante para o suicídio ser tratado com
respeito e seriedade. Em vez de falar apenas dos números e sobre o sofrimento dos
envolvidos e impactados pelo suicídio, precisam nos inserir em ações, em oferta de
espaços de acolhimento e em atitudes que colocam “nossas mãos na massa”
(http://karinafukumitsu.com.br/).

Uma vez uma pessoa com pensamentos suicidas, sempre será suicida

A ideação suicida pode ocorrer em curto prazo e por situações especificas. O


ato do suicídio, na maioria das vezes, é uma tentativa de dar fim ao sofrimento.
Através do processo terapêutico, o paciente acessa ferramentas emocionais que lhe
permitem compreender suas emoções e trabalhar a favor delas, e não o contrário. É
sabido que uma pessoa que possui pensamentos suicida pode igualmente viver uma
vida longa e bem-sucedida.

A maioria dos suicídios acontecem de repente e sem aviso prévio

Muitas pessoas costumam mostrar esses sinais de alerta às pessoas que são
mais próximas a elas, mas esses sinais tendem a ser muito sutis e, em alguns casos,
sequer são demonstrados conscientemente. Qualquer pequeno indício de um possível
suicídio precisa ser levado a sério.

Pessoas que se suicidam são egoístas e medrosas, tomando o caminho mais


fácil

Essas pessoas sofrem de forma tão profunda que se sentem impotentes e sem
esperança, e o que elas precisam é de acolhimento e compreensão. Quando lidamos
com alguém com tendência suicida, seja você um profissional da área, familiar ou
amigo, a primeira coisa que você precisa fazer é se comprometer a ouvir ativamente
tudo o que aquela pessoa está sentindo, além de mostrar que está disposto a ajudar na
resolução de seus problemas, conflitos e angústias, e que se compromete a encontrar
novos caminhos para que essa pessoa possa percorrer. Muitas vezes, apenas em
escutar e deixar o outro falar fluidamente, é o suficiente para que esses pensamentos
comecem a perder forças e se dissipar.

Atuação do psicólogo frente ao risco

A atuação do profissional psicólogo frente ao risco de suicídio engloba uma


série de estratégias e ferramentas de cuidado, tais como avaliação, intervenção em
crise e continuidade do cuidado. Avaliar o risco de suicídio por meio de perguntas
diretas pode gerar receio e constrangimento, mas, quando essa abordagem é cuidadosa,
sincera e respeitosa, fortalece o vínculo do psicólogo com o paciente e abre espaço
para a fala.

Projeto terapêutico singular

Projeto terapêutico singular (PTS) pode ser uma ferramenta importante para ser
utilizada pelo psicólogo no cuidado do paciente com comportamento suicida. Trata-se
de um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para um indivíduo,
uma família ou um grupo que resulta da discussão coletiva de uma equipe
interdisciplinar. Pode ser uma ferramenta de cogestão e compartilhamento do cuidado
que se desenvolve em quatro momentos: diagnóstico, definição de metas, divisão de
responsabilidade e reavaliação.

Intervenção em crise

Já a intervenção em crise permite a utilização de diversas técnicas diretivas,


que visa proteger a vida, diminuir riscos e sequelas e fazer o paciente retomar o
equilíbrio. Dependendo do grau de suicídio, a conduta pode variar desde a necessidade
de acionamento de serviços de urgência emergência, quebra de sigilo, envolvimento
da família, internação domiciliar, até o acompanhamento ambulatorial com o número
de sessões usuais.

A disponibilidade de canais 24 horas é importante para suporte em crises.


Disponibilidade do psicólogo para atendimento emergencial por telefone, pronto
atendimento ou CVV.

Código de ética

Além da expertise e sensibilidade de perceber sinais diretor ou indiretos da


ideação suicida, acolhendo e mantendo a postura de ética diante de tal possibilidade.
Enquanto se acolhe o sofrimento, individual ou coletivo, é possível detectar as
intenções e desejos de morte expressos nas diversas linguagens.

O Código de Ética Profissional do Psicólogo determina, no artigo 9º, que é


dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações a que tenha
acesso no exercício profissional. Mas esclarece no artigo 10º que o psicólogo pode
decidir quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo. No caso
específico de se ter informação sobre as intenções suicidas, não quebrar o sigilo pode,
portanto, ser configurado como omissão de socorro. E omissão de socorro não é
apenas uma infração ética, mas se encontra no rol de crimes do Código Penal
Brasileiro.

Notificação compulsória

A Lei nº 13.819/2019, que institui a Política Nacional de Prevenção da


Automutilação e do Suicídio, os casos suspeitos ou confirmados de violência
autoprovocada são de notificação compulsória pelos estabelecimentos de saúde
públicos e privados às autoridades sanitárias. Então, casos de tentativa de suicídio
devem ser notificados, obrigatoriamente, em até 24 horas do conhecimento do evento
pelo profissional da Psicologia, tendo em vista a necessidade de intervenções
emergenciais e maior efetividade da intervenção em crise em curto período, com
articulação e encaminhamento para rede psicossocial.

Continuidade do cuidado

O cuidado com a pessoa que tentou suicídio precisa ser continuo, devido a
tendencia de uma nova tentativa e de forma letal. Nesse sentido, é importante que o
Psicólogo desenvolva ações articuladas para garantir a continuidade do cuidado a
essas pessoas na rede assistencial, desenvolvendo uma linha de cuidado integral.

Grupos de apoio

Os grupos de apoio são ferramentas de produção de socialização e vinculo, por


meio de identidades, comportamentos e situações. Em caso de morte por suicídio, uma
forma de cuidado é o apoio para os familiares e amigos em luto.

Supervisão e terapia pessoal


A lida em cuidar de pessoas com comportamento suicida é sempre um desafio
para o psicólogo, pois pode produzir sentimentos desconfortáveis. Nesse sentido, é
importante que o mesmo faça supervisão com outro profissional para ajudar no
atendimento terapêutico. Também é extremamente importante o psicólogo faça terapia
pessoal. Tudo isso o ajuda a manter sua saúde mental.

Tratando o suicido de forma madura e consciente

A prevenção ao suicídio é uma prática que deve acontecer todos os dias e não
somente em um mês (setembro amarelo), sobretudo por ressaltar a importância de
manter a esperança de que é possível acolher o sofrimento humano. É, portanto, uma
pratica a ser inserida dia a dia, ofertando esperança, amor e acompanhamento
terapêutico na oferta de espaço de hospitalidade que favorecerão novas moradas
existenciais. Em outras palavras, o argumento final contra o suicídio é a própria vida
(Alvarez, 199, p. 135).
Referencias

https://www.paho.org/pt/topicos/suicidio

https://www.portalnews.com.br/mundo-g

https://www.psicologosberrini.com.br/blog/7-mitos-sobre-suicidio-que-prejudicam-as-
pessoas/

https://www.libbs.com.br/falarpodemudartudo/como-ajudar-alguem-que-pensa-em-
suicidio/

https://www.scielo.br/j/pusp/a/dn4bjQ5DWvmVx5RkWH6HS7w/?
format=pdf&lang=pt

https://jornal.usp.br/artigos/a-prevencao-do-suicidio-deve-ser-pratica-diaria/
#:~:text=Nesse%20processo%2C%20invadida%20por%20crenças,169).

https://www.sinopsyseditora.com.br/blog/suicidio-orientacoes-para-atuacao-do-
psicologo-frente-ao-risco-487

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