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TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NA
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
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Vamos pensar a respeito de alguns desses termos?
Vejamos, o termo cometer implica pensar em ato criminoso – ninguém
comete boas ações. O paciente, então, ao utilizar essa palavra, pode estar
generalizando crenças de que não é uma boa pessoa, e de que por isso, não tem
merecimento disso ou daquilo.
“Conseguir” se matar, após tantas tentativas “frustradas” (ineficientes),
parece mesmo ter sido um ”êxito”! Diante disso, o suicídio pode passar a assumir
um papel de vitória no espaço psicológico do indivíduo.
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Mas por que dar ênfase aos termos utilizados?
A linguagem comum entre os profissionais que atendem pacientes com
comportamentos suicidas e pesquisadores da área é importante para coletar e
analisar dados de qualquer parte do país e do mundo, melhorando, assim, a
qualidade da prevenção e da intervenção.
A importância de conhecer os termos e de questioná-los, então, se coloca
no espaço criativo, permitindo, desse modo, a busca de maiores informações
clínicas e novas ideias mais apropriadas para o tratamento do tema. Já no que
tange ao vínculo entre paciente e terapeuta, questionar termos pode ser um
exercício que fortalece essa aliança, uma vez que permite clarear os
pensamentos, dar segurança e controlar a ansiedade.
A palavra suicídio tem origem do latim sui caedere, cujo significado é matar
a si mesmo. Essa palavra substitui o termo que trazia a ideia de homicídio de si
próprio, o qual denota uma conotação autodestrutiva e agressiva. Porém, como
vimos anteriormente, “suicídio é todo caso de morte que resulta, direta ou
indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e
que ela sabia que deveria produzir esse resultado” (Durhheim, 1982).
A ideia central do suicídio está ligada ao desejo voluntário de terminar com
a própria vida. Durkheim distingue duas formas de suicídio:
• Ativa: ato realizado pela própria pessoa, podendo contar ou não com a
ajuda de outro.
• Passiva: situações em que a pessoa se submete conscientemente, com
alta probabilidade de levar à morte (greve de fome etc.).
Há, de forma geral, o mito de que falar sobre suicídio aumenta o risco de
aumentar a incidência dos casos. Porém, é importante falar sobre o tema para
criar espaços de reflexão com oportunidades de que a pessoa encontre auxílio
para os sentimentos que frequentemente estão associados à ideação de morte,
como por exemplo o desamparo, a falta de sentido de vida etc.
Para falar sobre suicídio, é importante que seja criado um clima de
confiança para que a pessoa sinta que pode ser ouvida com acolhimento e
empatia. Neste sentido, é importante que o profissional que medeia essa conversa
tenha algumas posturas básicas:
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• Proporcionar um ambiente acolhedor;
• Escutar atentamente;
• Tentar entender o que a pessoa está sentindo – empatizar;
• Falar de maneira aberta, honesta e com afeto;
• Demonstrar respeito por opiniões e valores do sujeito à sua frente;
• Compreender que o que importa naquele momento é a visão do paciente
sobre o tema, evitando realizar qualquer julgamento;
• Aceitação e respeito pela dor da pessoa;
• Não chorar, não se desesperar, nem ficar chocado;
• Não tentar amenizar ou comparar a dor da pessoa com outro indivíduo ou
situação;
• Não dar falsas garantias.
TEMA 2 – DEFINIÇÕES
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sensação de não pertencimento e a desadaptação à situação e ao
momento. A tentativa de suicídio pode ser definida, por alguns estudiosos
como Nock et al. (2008), como o ato com intenção clara de morrer, mas
outros estudiosos vão ampliar para a perspectiva do desejo, mesmo que
intrínseco.
• Parassuicídio: aqui, a pessoa realizou um ato contra si própria que gerou
lesão, porém sem a intenção de tirar a própria vida. Neste caso, considera-
se que a intenção é de pedir ajuda, lidar com angústia e desamparo ou
ainda punir e castigar alguém (Silverman et al., 2007).
• Autópsia psicológica: em alguns casos, não se sabe se a causa da morte
foi suicídio. Por isso, algumas vezes o especialista forense precisa revisar
prontuários médicos, analisar registros deixados pelo falecido, entrevistar
familiares, amigos, profissionais, cuidadores etc. para registrar no obituário
que a causa foi realmente suicídio. Esse procedimento é usado hoje
também nas pesquisas científicas.
• Comportamento suicida: este conceito é muito empregado nas práticas
clínicas e em textos que falam sobre a prevenção. Ademais, essa definição
engloba as circunstâncias, motivação e significado que o ato tem para o
sujeito, pois se trata de todo ato em que o sujeito causa lesão física,
independentemente do grau da intencionalidade de suicídio e da
consciência dos motivos pelos quais está agindo de tal maneira. Nem
sempre, no comportamento suicida, o que o sujeito busca é a morte; em
muitos casos, a pessoa está pedindo ajuda, ou ainda tentando castigar
alguém.
Ideia de suicídio > Ameaças > Parassuicídio > planejamento > tentativa > suicídio
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Ideias pessoais: cognição; Ações de autoagressão: comportamento.
Assim, deve-se levar em consideração toda cognição e comportamento
para que seja buscado significado e então tratar a prevenção do suicídio.
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• Pacto suicida: é feito entre duas ou mais pessoas que decidem se matar
conjuntamente ou ao mesmo tempo. Quando há a ideia de um pacto,
observa-se um alto risco do suicídio acontecer, e esse risco não cessa se
um dos parceiros desistir. Curiosidade: em 2018, o maior suicídio da
história completou 40 anos. Na ocasião, 918 pessoas morreram induzidas
a beber um veneno por ordens de um pastor (Jim Jones). Quem não bebeu
foi morto a facadas e tiros. Isso ocorreu na Floresta Amazônica, na Guiana.
• Suicídio assistido: o indivíduo pode colocar fim à sua vida quando está
acometido por uma situação médica considerada fatal, irreversível e que
cause sofrimento intenso. Nesta situação, é necessário que haja
concordância entre representantes médicos do paciente e o poder
judiciário. Quem dá início a esse processo é o próprio paciente. Na
eutanásia, quem aplica a injeção ou auxilia na ingestão do remédio que
dará fim à vida da pessoa é um familiar.
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A Holanda legalizou a eutanásia e o suicídio assistido em 2002.
Holanda, Bélgica e Luxemburgo permitem o suicídio assistido de portadores
de transtornos mentais, desde que tragam sofrimento insuportável – é necessário
que a pessoa tenha consciência de suas escolhas.
Na Suíça, há uma clínica que oferece suicídio assistido para pessoas com
doenças crônicas, sem a necessidade de serem terminais.
Alemanha, Canadá e Colômbia também já regulamentaram o suicídio
assistido.
Nos Estados Unidos, o suicídio assistido é aceito em alguns estados
(McCormack; Fléchais, 2012).
TEMA 3 – PREVENÇÃO
Até a Idade Moderna, o Suicídio não era pensado e discutido como questão
de saúde pública, e sua prevenção, então, ficava a cargo de organizações não
governamentais, mais especificamente de igrejas e instituições de cunho
filantrópico (Botega, 2015).
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TEMA 4 – MODELOS CONCEITUAIS DE PREVENÇÃO
Este modelo foi proposto por Leavell e Clark (1965) no início dos anos 1960
e se baseia na história natural das doenças e permite considerar a prevenção
mesmo na ausência de um conhecimento acabado de sua etiologia. É um modelo
que trabalha sob a perspectiva de 3 etapas de prevenção:
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• Prevenção indicada – para populações (ou indivíduos) que apresentam
risco considerável e/ou que já começaram a manifestar o comportamento
em questão, ou seja, quando o processo suicida já foi iniciado e está em
andamento. Um bom exemplo de prevenção indicada de comportamentos
suicidas é a atenção e o seguimento de perto de pessoas que já tentaram
o suicídio, principalmente nos dias ou semanas imediatamente após a
tentativa de suicídio.
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aplicação, metodologia e avaliação.
Com relação à aplicação de Programas de Prevenção ao Suicídio no que
tange à saúde pública, é importante ressaltar que, apesar do número de suicídios
ser elevado no Brasil, por exemplo, territorialmente falando, eles se dividem ao
longo de 8 milhões de m², o que dificulta concentrar o Programa em um único
território, levando em conta ainda que, em um país continental, as culturas são
diferentes, o que gera a necessidade de territorialização, não cabendo, talvez,
uma única abordagem para o país como um todo.
Outro aspecto relevante de ser mencionado é o tempo pelo qual a pessoa
que teve comportamento ou tentativa de suicídio é acompanhada por profissionais
da saúde focados na prevenção. Como o ser humano subjetiva suas vivências,
um fato precipitante (como um abuso sexual na infância, um luto não trabalhado
etc.) pode ser guardado a nível de crença central e somente tempos depois, horas
ou anos, pode ser acionado um gatilho que leve, então, ao comportamento suicida
ou ainda ao suicídio em si.
• Conscientização da população;
• Divulgação responsável pela mídia;
• Redução do acesso a meios letais;
• Programas em escolas;
• Detecção e tratamento de depressão e de outros transtornos mentais;
• Atenção a pessoas que abusam de álcool e de outras drogas psicoativas;
• Atenção a pessoas que sofrem de doenças que causam incapacidade e
dor;
• Acesso a serviços de saúde mental;
• Avaliação e seguimento de casos de tentativa de suicídio;
• Apoio emocional a familiares enlutados;
• Intervenções psicossociais em crises;
• Políticas voltadas para a qualidade do trabalho e para situações de
desemprego;
• Treinamento de profissionais da saúde em prevenção do suicídio;
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• Manutenção de estatísticas atualizadas sobre suicídio;
• Monitoramento da efetividade das ações de prevenção idealizadas pelo
plano.
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atenção à saúde.
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destinado a profissionais da imprensa, é lançado em novembro.
2010 O seminário Suicídio na imprensa: entre informação, prevenção e
omissão, na Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, reúne vários
jornalistas. Veiculação de chamada sobre prevenção de suicídio na
Rede Globo de Televisão.
2012 Início da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio na internet:
<rebraps.com.br>.
2014 O Congresso Nacional e o Memorial Juscelino Kubitscheck, em
Brasília, são iluminados de amarelo no dia 10 de setembro, dia
mundial da prevenção do suicídio. O conselho Federal de Medicina
e a Associação Brasileira de Psiquiatria lançam manual de
prevenção ao suicídio.
2010 200 estudos brasileiros ao suicídio são publicados em revistas
– científicas internacionais.
2014
2015 A ideia de uma Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do
Suicídio (ABEPS) é lançada em Belo Horizonte, e uma diretoria
provisória é formada.
2016 O I Congresso Brasileiro de Prevenção do Suicídio, da ABEPS, é
realizado em junho, em Belo Horizonte. Uma ata de fundação da
ABEPS é assinada, e sua primeira diretoria é eleita pelos
presentes.
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REFERÊNCIAS
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