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Guia de Avaliação Psicológica

TAT

Ficha Técnica

Nome Teste de Apercepção Temática


Autor H. Murray e L. Bellack
(estudado por Vica Shentoub)
Aplicação Individual
Tempo Variável
População Adultos
Idades + 14 Anos

Teste de apercepção temática - TAT (1935) foi desenvolvido por Murray. O TAT
requer que o sujeito construa uma história a partir de imagens. Influência psicanalíti-
ca.

Objectivos: 1) revelar as impressões dominantes, sentimentos, emoções e confli-


tos. 2) Especialmente sensível às tendências desconhecidas do próprio sujeito. 3) A
sua aplicação é especialmente útil no estudo compreensivo da realidade. Tendo em
conta a sua complementaridade, deve ser aplicado juntamente com o Rorschach.

Aplicação:

1) Instruções: contar uma história com passado, presente e futuro face aos vinte
cartões.

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2) Analise formal (têm em conta a compreensão das instruções, a linguagem utili-


zada, a exactidão da percepção, o grau de coerência da história, o grau de coopera-
ção, etc. uma má qualidade formal pode indicar distorção perceptiva. Informação
sobre interesses e aptidões várias); análise de conteúdo (foca as motivações, traços e
emoções do herói; as forças do ambiente que exercem influência sobre este, o desen-
volvimento e desfecho da história, os temas - articular informação do herói -; os sen-
timentos do herói face à mãe ao pai aos diferentes sexos e as figuras da mesma ida-
de)

3) Síntese global dos resultados: É necessário ver se as histórias tratam de situa-


ções actuais passadas ou esperadas; se são pessoais ou impessoais; conscientes ou
inconscientes

Interpretação segundo Murray

As histórias do indivíduo são entendidas com descrições ligeiramente disfarçadas


do seu comportamento na vida real. Contêm: 1) um herói com quem o sujeito se iden-
tifica e ao qual atribui as suas próprias características. 2) a outras personagens que
interagem com o herói representas as forças do meio social e familiar que exercem
pressão sobre o indivíduo.

Analise segundo Shentoub:

Privilegia os aspectos formais, estruturais da história, em vez do tema e do enre-


do, pois o que é diferente de sujeito para sujeito é a forma como a história é contada,
o seu processo formal e não o seu conteúdo. A forma como o sujeito conta a história
permite identificar os seus mecanismos de defesa o que vai permitir um diagnóstico
diferencial. O doente tem dificuldade em integrar os conflitos normais na personalida-
de.

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A hipótese fundamental é que as pranchas do TAT representam situações relati-


vas a conflitos universais e principalmente ao Complexo de Édipo. Quase todas as
pranchas se referem à diferença de gerações e / ou à diferença de sexos

Homem Mulher Rapaz Rapariga


1 U U U U
2 U U U U
3BM U U U U
4 U U U U
5 U U U U
6BM U U
6GF U U
7BM U U
7GF U U
8BM U (U) U (U)
9GF U U
10 U U U U
11 U U U U
12BG U U U U
13B U U U U
13MF U U
19 U U U U
16 U U U U

Cartão 1

Conteúdo Manifesto: Apresenta um rapaz, com a cabeça entre as mãos e coto-


velos apoiados sobre uma mesa sobre a qual está um livro e um violino.

Conteúdo Latente: Remete supostamente para a projecção do próprio e suas


capacidades perante um objecto tipicamente adulto. Poderá ser um bom indicador
das (in)capacidades reconhecidas pelo próprio (o sujeito é ou não capaz de tocar o
violino), sendo para tal necessário que o sujeito identifique quer a figura humana quer
o violino como inteiros (isto é, o rapaz deverá ser identificado saudável e o violino não
deverá ser descrito como estragado nem partido).

Cartão 2:
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Conteúdo Manifesto: Apresenta uma situação campestre com uma rapariga com
uns livros debaixo dos braços, um homem a trabalhar, com um cavalo, junto de umas
terras cultivadas e uma mulher grávida encostada a uma àrvore.

Conteúdo Latente: Remete para a triangulação, passível de desencadear o con-


flito Edipiano. Numa situação saudável as três figuras (rapariga, homem e mulher grá-
vida) devem ser relatadas, sendo frequentemente citadas relações entre elas que
permitem caracterizar a personalidade do sujeito. Quando a identidade é estável,
existe uma efectiva diferenciação entre as três personagens e cada uma delas deve
ser descrita como munida de qualquer coisa (a rapariga com os livros, o homem com
o cavalo e a mulher com o bebé).

Cartão 3BM

Conteúdo Manifesto: Surge um indivíduo com sexo e idade indeterminados, caí-


do sobre uma bancada. No canto inferior esquerdo encontra-se caído um objecto por
vezes difícil de identificar (pode ser considerado uma pistola, uma faca, uma tesoura).

Conteúdo Latente: Remete directamente para a perda do objecto (luto) ou do


amor do objecto (depressão) numa tonalidade visivelmente depressiva. O objecto caí-
do pode ainda levantar eventuais ideações suicidas.

Cartão 4

Conteúdo Manifesto: Uma mulher segura um homem pelos braços que olha não
direcção oposta parecendo claramente afastar-se.

Conteúdo Latente: Remete para o conflito pulsional no seio de uma relação hete-
rossexual. Neste cartão a diferença entre sexos é perfeitamente visível. Uma figura

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levemente representada, ao fundo, pode levantar a ideia de uma terceira personagem


remetendo para situações de traição e infifidelidade.

Cartão 5:

Conteúdo Manifesto: Uma mulher de meia idade espreita por uma porta para
uma sala com uma mesa onde se encontra um candeeiro e flores.

Conteúdo Latente: A figura que espreita e olha pode relembrar uma mãe intro-
metida ou relembrar os fantasmas da cena primitiva e a culpabilidade relacionada
com a masturbação. Sentimentos superegoicos de controlo poderão ser abordados.

Cartão 6BM:

Conteúdo Manifesto: Um casal, homem e mulher, com uma diferença nítida de


idades, olha em direcções opostas com um ar preocupado.

Conteúdo Latente: Proximidade mãe-filho num contexto de mal-estar. Num con-


texto Edipiano é activado o interdito á proximidade. Os afectos de tristeza podem
levantar a ideia do parricídio.

Cartão 6GF

Conteúdo Latente: Um casal heterossexual, em que surge uma jovem sentada


em primeiro plano e um homem de cachimbo na boca que se inclina para ela.

Conteúdo Manifesto: Remete para o fantasma da sedução, colocando á prova a


capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de objecto.

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Cartão 7BM

Conteúdo Manifesto: Duas cabeças masculinas, lado a lado, em que um “velho”


olha para um “jovem” que parece estar amuado.

Conteúdo Latente: Reenvia para a proximidade pai-filho. O conflito deverá


desenvolver-se em torno de uma proximidade entre estas duas personagens em ter-
mos de ternura e oposição (ambivalência face ao pai).

Cartão 7GF

Conteúdo Manifesto: Uma mulher, com um livro na mão, inclinada para uma
menina com expressão sonhadora que segura um boneco nos braços.

Conteúdo Latente: Pode reactivar a problemática da relação mãe-filha numa


dupla dimensão: rivalidade e identificação, e interacções precoces mãe.criança.

Cartão 8BM

Conteúdo Manifesto: Num primeiro plano surge um jovem adolescente cuja


expressão e roupa parecem torna-lo mais velho e adulto. A seu lado está uma espin-
garda e em segundo plano surge um homem estendido e dois outros inclinados sobre
ele, um dos quais segura na mão um objecto cortante.

Conteúdo Latente: A imagem reactiva representações susceptíveis de serem


relacionadas com a angústia de castração e/ou agressividade para com a imagem
paterna.

Cartão 9GF

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Conteúdo Manifesto: Duas personagens do mesmo sexo e geração. Num pri-


meiro plano uma jovem espreita por detrás de uma árvore com objectos na mão. Num
segundo plano, outra jovem corre, mais abaixo com uma paisagem de fundo.

Conteúdo Lantente: Colaça sobretudo questões no plano da identidade e identi-


ficação. Num contexto Edipiano, pode remeter para uma rivalidade entre duas mulhe-
res.

Cartão 10:

Conteúdo Manifesto: representa a proximidade entre duas figuras propositada-


mente ambíguas quanto ao sexo e á idade.

Conteúdo Latente: Reenvia para a expressão libidinal entre o casal. A ambigui-


dade de género poderá trazer informações importantes quanto à problemática da
identidade.

Cartão 11

Conteúdo Manifesto: Trata-se de uma paisagem caótica, com vivos contrastes


de sombras e claridade na vertical. Alguns elementos mais estruturados (ponte,
estrada e pormenor à esquerda – frequentemente identificado como um dragão, ser-
pente, etc. permitem uma reorganização do material.
Conteúdo Latente: O cartão é angustiante e angústia deve ser sentida como tal
(o não reconhecimento deste facto constitui um índice patológico). Este cartão põe à
prova a capacidade do sujeito elaborar a angustia pré-genital e de se reorganizar.

Cartão 12BG

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Conteúdo Manifesto: Descreve uma paisagem com árvores na margem de um


riacho, onde se vê uma árvore e um barco em primeiro plano.

Conteúdo Latente: Permite antes de mais um apaziguamento, após o cartão


anterior. Remete para a relação materna. Convém que o sujeito reconheça a ausência
de figuras humanas sem, contudo se desorganizar.

Cartão 13B

Conteúdo Manifesto: Um rapaz sentado na ombreira de uma porta de um case-


bre aparentemente degradado.

Conteúdo Latente: remete directamente para a solidão num contexto de preca-


riedade. Permite analisar a elaboração da vivência depressiva.

Cartão 13MF

Conteúdo Manifesto: Em primeiro plano surge um homem de pé com o braço


diante o rosto e sem segundo plano surge uma mulher deitada, com o peito desnuda-
do.

Conteúdo Latente: Esta cena solicita de forma intensa os movimentos pulsionais


e agressivos.
Cartão 19

Conteúdo Manifesto: Uma paisagem com uma casa sobre a neve ou uma cena
marítima com um barco na tempestade rodeadas de formas fantasmagóricas e vagas.
Os contraste entre o branco e o negro são muito evidentes.

Conteúdo Latente: Remete para a oposição e relação entre o dentro e o fora, o


interior e o exterior, o continente e o conteúdo.
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Cartão 16

Conteúdo Manifesto: Cartão em branco.

Conteúdo Latente: Permite avaliar a forma como o sujeito reestrutura os seus


objectos bem como os elementos mais significativos para o sujeito.

Shentoub sugere também a cotação de uma lista de procedimentos.


Consultar anexo.

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