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Introdução
Esse texto tem como finalidade principal trazer dados sobre um instrumento de
avaliação de Personalidade bastante difundido em nosso meio, e outros que dele derivaram.
um lado, o desenho livre como parte do conjunto das formas gráficas de expressão e, de
psicodiagnóstico de sujeitos de ambos os sexos de 5 a 15 anos. Com o passar dos anos, seu
uso foi se ampliando e hoje é empregado em crianças de três anos até idosos; nas mais
distintas condições.
que propiciou sua validação para uso na clínica, em muitas pesquisas; nos mais variados
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Professora Associada do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
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Trata-se de uma técnica de investigação clínica da personalidade que tem por base
informações sobre a personalidade dos sujeitos em aspectos que não são facilmente
processos expressivos – representados por desenhos livres que servem para desencadear
2000); com os relatos; ato de contar histórias, o que é considerado, assim, o elemento de
Apercepção entendida aqui como postulado por Bellak, o autor do CAT (também tema
desse livro); que considera esse processo como a interpretação significativa que é feita pela
a serem percebidos são também resultados de projeção, uma vez que são produzidos pela
1992 e 1998). Suas características principais se resumem no uso de associações livres por
técnicas projetivas diversas recursos que são próprios dessas mesmas técnicas; ampliou as
Fundamentação
o indivíduo é emocionalmente mais sensível, tem diretas relações com a psicanálise assim
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como com o D-E, uma vez que a pessoa é deixada totalmente livre para desenhar o que
quiser e falar livremente a fim da dar conta da tarefa. Assim, a experiência mostra que,
dessa forma, o indivíduo tende a revelar e trazer seus impulsos, necessidades, conflitos,
apresentado. Esse aspecto, que embasa as técnicas projetivas em geral, está vinculado com
a proposição anterior, sendo que no caso do D-E é ainda maior a ambigüidade, uma vez que
o sujeito pode desenhar e depois falar livremente. Dessa forma, sem direção, espera-se que
Com base na teoria das relações objetais, pode-se dizer que a resposta ao
instrumento projetivo é um objeto que deve ser (re) criado e nessa (re) criação entram em
Essa colocação diz respeito à forma como o sujeito estabelece relações com a realidade
Trinca (1972) afirmou quando propôs o D-E que crianças e adolescentes preferem
verbais diretas. A experiência clínica de pesquisa de psicólogos vem mostrando que essa
proposição também se aplica a adultos, que mesmo sem continuar desenhando de forma
espontânea muitas vezes conseguem expressar melhor suas dificuldades dessa forma. O
autor (idem) afirmou que determinada seqüência reiterada de provas gráficas e temáticas
utilizou esse procedimento. Na obra de Trinca e colaboradores (1997) são citados trabalhos
realizados com método clínico e outros em que foi empregado o método quantitativo (e
estatístico). Nesses últimos dez anos, muitos outros trabalhos foram feitos, tendo esse
Como diz Amiralian (1997, p.177) as pesquisas não se voltam para mostrar o valor
do instrumento, mas para a obtenção dos dados que ele pode fornecer. Começando pelo
próprio idealizador do instrumento, Trinca (1972 e 1976): p. 103 a 104, atingiu o objetivo
personalidade desajustada.
normativos no meio da década de oitenta (Tardivo, 1985). Para esse estudo foi criado um
referencial de análise para o instrumento, o qual vem sendo usado em outros estudos e será
Apesar de ter sido proposto como técnica de diagnóstico de crianças, muitos estudos
foram feitos também com adultos, com resultados bastante significativos. Dessa forma, o
D-E tem sido objeto de diversas pesquisas, com sujeitos portadores de diferentes quadros
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Muitos trabalhos com D-E estão apresentados no site www.desenhos-estórias.com, (acesso em 12
de dezembro de 2007).
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clínicos, tanto em adultos como com crianças. Podem ser citados os primeiros trabalhos
como o de Mestriner (1982) que estudou pacientes esquizofrênicos, Al'osta, (1984) que
outros como Amiralian (1992) fez um estudo clínico muito criativo usando o Procedimento
auditiva (Tardivo, 1998); provenientes de baixo nível sócio econômico cultural (Kiil e
Tardivo, 2001), vivendo em abrigos (Tardivo e Leoncio, 2003; Tardivo et al, 2004 a); e
breve podem ser citados, como o de Amiralian (1997) que empregou o D-E como terapia
(Tardivo e Oliveira, 2003) e antes de atos cirúrgicos (Trinca, A M , 2002). Pode-se citar
trabalhos com adolescentes infratores (Tardivo; Oliveira, e Vaisberg., 2003 e Saes, 2003).
Pode-se ainda mencionar estudos nessa mesma linha, que enfocam a intervenção,
clínica, com o D-E ou os instrumentos derivados: com casais com infertilidade (Montagnini
e Tardivo, 2001); na apresentação de um caso clínico (Tardivo, 2003); ou ainda com jovens
Vem sendo também realizados estudos em outras áreas além da clínica, como no
TÉCNICA DE APLICAÇÃO
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Trinca (1997) propõe que a aplicação seja individual, sendo solicitado a quem
participe que realize um desenho livre, com lápis preto e coloridos (os 12 lápis de cor e o
lápis grafite devem ser espalhados aleatoriamente sobre a mesa). Ao terminar o desenho, o
psicólogo solicita a quem participa que conte uma estória3 sobre o desenho que realizou. O
desenho. Esses quatro aspectos compõem o que Trinca (1972, 1987) denominou uma
unidade de produção, sendo que a aplicação completa prevê que se alcance até cinco
FORMAS DE AVALIAÇÃO
O D-E é uma técnica que permite diversas maneiras de avaliação. Como análise de
realizadas, como os de Gimenez, Flores, Silva Brito, Trinca e outros citados por Tardivo
(1997) como na clínica o uso de um método chamado de "livre inspeção do material". Essa
forma de avaliação se baseia numa análise "globalística", ou seja, toma-se contato com o
referentes à natureza dos impulsos, das ansiedades predominantes, da natureza dos vínculos
mais significativos, das defesas mais utilizadas e dos conflitos entre outros aspectos. Pode-
se mencionar aqui a riqueza do método, mas, ao mesmo tempo, o risco que se corre ao
3
O termo estória proposto por Trinca (1972) para nomear o Procedimento, em função do termo se referir a
conto, na época; vem sendo mantido, apesar de não mais ser empregado. Segundo Aurélio o termo correto é
história
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disso, seu uso torna mais difícil as generalizações que são necessárias em estudos mais
amplos...
Moreno, Mestriner, na observação dos desenhos dos pacientes citados por Tardivo, (1997)
Nesse caso, a ênfase é colocada nos aspectos dos desenhos, como, localização,
qualidades do grafismo, temas predominantes, uso das cores, com seu significado etc., e
coerência entre o desenho, estória e título, entre outros aspectos. Através dessa análise
pode-se avaliar o grau de organização das funções egóicas, como pensamento, raciocínio,
memória, logicidade, estruturação temporal. Sugere-se que essa análise possa ser usada
junto da interpretação do conteúdo, uma vez que ambas podem se complementar (tardivo,
1985 e 1997)..
REFERENCIAL DE TARDIVO
análise elaborado a partir da redução das respostas de cinqüenta e três sujeitos que
compunham a amostra de sua pesquisa, que tinham de cinco a quinze anos, atendidos em
clínica psicológica em diagnóstico. Tal referencial se compõe por dez áreas ou categorias e
Rede de Ensino Público e Particular da Cidade de São Paulo, tendo de cinco a oito anos,
D-E a partir da proposta original de Trinca (1972). O novo referencial, organizado em oito
grupos e trinta e três traços (Tardivo, 1985 e 1997; Trinca e Tardivo, 2000) é resumido a
seguir:
6. Figura Materna Positiva - mãe sentida como presente, gratificante, boa, afetiva,
protetora, facilitadora (objeto bom); 7. Figura Materna Negativa - mãe vivida como
ao pai; 10. Figura Fraterna e/ou Outras figuras Positivas - aspectos de relacionamento
com irmãos e/ou com outros iguais (companheiros, amigos etc.); ou seja, cooperação,
colaboração etc.; 11. Figura Fraterna e/ou Outras figuras Negativas - aspectos
Morte - são aqueles de tipo destrutivo: ódio, raiva, inveja, ciúme persecutório; 14.
depressivo e outros.
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Para a reunião desses sentimentos em três traços (Tardivo, 1985 e 1997) tomou-se por base a teoria da
polaridade inata dos instintos e das posições proposta por M Klein, a qual pressupõe toda uma organização da
personalidade na posição esquizo paranóide, na posição depressiva e nas possibilidades de passagem de uma
a outra ( Klien, 1982).
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15. Necessidades de Suprir Faltas Básicas - estão incluídas as mais primárias, como
cuidado com afeto; necessidades orais etc.; 16. Tendências Destrutivas - inserem-se
pais; 17. Tendências Construtivas - são as mais evoluídas, como necessidades de cura,
22. Cisão; 23. Projeção; 24. Repressão; 25. Negação/Anulação; 26. Repressão ou
30. Idealização; 31. Sublimação; 32. Formação Reativa; 33. Negação Maníaca ou
Onipotente.
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A proposta do tipo de ansiedades segue diretamente o referencial original de Trinca (1972) , baseado na
teoria kleiniana (Klein, 1982)
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Também os impulsos recebem as denominações usadas por Trinca em seu referencial (1972), sendo
baseados nas concepções advindas da obra de M.Klein (1982)
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(abreviadamente DF-E), originado do D-E, o qual também apresenta aspectos derivados das
família que você gostaria de ter”; 3) “Desenhe uma família em que alguém não está bem”; e
que conte livremente uma estória, tomando por base o desenho. Faz-se, a seguir, o
inconsciente, relacionados aos objetos internos e externos que dizem respeito à dinâmica da
família.
do D-E; além de incluir conhecimentos acerca da dinâmica familiar. Para avaliação, Trinca
(1997) sugere que se leve em consideração alguns aspectos relevantes, entre os quais:
interação com as figuras parentais; trocas sexuais e afetivas entre as figuras parentais;
atitudes para com a vida e a sociedade; tendências, necessidades e desejos; tonalidades das
Lima (1997) fez diversos estudos e apresentou também uma contribuição sobre a
Tardivo, 2007) .
ILUSTRAÇÃO CLÍNICA
Será inserida uma ilustração clínica, resumindo um estudo de caso , onde foram
E).
ocasião do atendimento fortes sintomas fóbicos. Vinha sentindo-se mal em vários lugares, e
às vezes em casa também. Ele mesmo diz na primeira entrevista que sente vontade de fugir,
Os pais contam e ele reafirma que anteriormente não sentia medo, e conseguia ficar
em casa com o irmão, uma vez que os pais trabalham Em função de seu estado no
momento, uma tia vem ficar com os meninos no período que não estão na escola. Pode-se
ainda mencionar outros dados relevantes obtidos nas entrevistas: os pais exigem muito dele
chora; dizendo não saber o que fazer. O pai diz que fez várias tentativas: durante as crises
do filho, se apresentou mais carinhoso, e outras vezes o repreendeu. O pai diz se sentir
O pai teve um período sem emprego e revela medo de não poder cuidar dos filhos e
da casa. Tem medo de morrer, após ter sofrido algumas enfermidades sem gravidade, tendo
já expresso esse medo em casa. A mãe conta esse fato, condenando a atitude do pai, o qual
admite que não devia ter falado desse medo, em especial, na frente de Daniel.
1ª Unidade de produção
Estória
É uma foto dos pokemons; que é a abreviatura em inglês de monstros de bolsos; eles são
guardados numa bolinha. Tem de vários tipos: parecidos com animais, com plantas, com
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estrela do mar. Quem captura um, ganha uma insígnia, são oito insígnias. Os pokemos
são o melhor amigo do homem. Dizem que é o cachorro, mas na minha estória e no
desenho é o pokemon ; E o mais forte e o mais amigo é o Picachu. Não sei desenhar o
picachu; e tem a história do menino que tem o picachu. (fale sobre o menino) O menino é
Título: Pokemon
2ª Unidade
Estória
Eu inventei; ele se chama André. Estava quente; o dia de muito sol e André resolveu sair
de casa por causa do calor. Ele foi só pegar uma onda na praia perto da casa dele. Mas
ele tinha de ir a pé; ele não podia dirigir porque ele não tem 18 anos. Demorou mais de
meia hora para chegar. Ele entrou lá n fundo, quase além do horizonte, para pegar uma
onda boa. A onda era tão grande que levou ele muito rápido e a prancha dele quebrou. (e
ele?) A prancha custou R$ 500,00; ele tinha comprado com a mesada que ele juntou por
três meses. (ele?) Ele ficou bem, mas muito triste por causa da prancha resolveu fazer
outro esporte Quando chegou em casa, o pai dele ficou muito bravo; ele devia ter
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examinado e avaliado melhor a prancha; a mãe não falou nada (como ele se sentiu?) Pra
ele tudo bem. O pai dele mandou ele fazer um esporte mais leve, que custasse menos
dinheiro.
Título: O surfista
3ª Unidade
Esse carinha só pensa em formar uma banda, fazer muito sucesso e ganhar muito dinheiro.
Ele chama dois amigos, um ara a bateria e outro para o baixo. Ele toca e canta e a banda
dele se chama “Os Máximos” (fale um pouco dele e dos amigos) Todos tem 12 anos. Ele
gosta de futebol e vai na escola (como é na escola?) Ele vai bem. (e o que mais?) Ele tem
um irmão mais novo e os pais são pessoas normais. Ele quer se tornar mais famoso e
ganhar muito.
Título: O Sonho
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4ª Unidade
Aqui era um menino e o pai dele. O pai está contando como era a vida antigamente: não
tinha lixo, poluição, tinha mais árvores, mais nuvens brancas. (e o filho?) O filho se
espanta, né? Ele queria viver num paraíso desses. E acabou. (e o que vai acontecer?) O pai
diz que vai ser muito difícil encontrar um lugar assim parta viver. E vai depender dos
homens. Os homens que estragaram tudo vão ter de resolver. (e o que você acha?) Se os
5ª - Unidade
Uma pessoa estava na rua e viu no céu uma coisa diferente; tinha a forma de um avião. E
o outro disse não é avião. É o superman voando. E o terceiro disse, vocês não sabem o que
é aquilo? É um besouro e aí veio uma pessoa com um binóculo (desenha) e diz: Não é
nada disso. È uma galinha voadora (ele ri). Esse quarto aqui era um cientista que estava
Tentando inventar um jato que fizesse o homem voar. E a galinha testava os experimentos
dele. Mas ela estava cansada disso. O invento está dando certo, a galinha está voando e
ele estava indo atrás dela. E ela acabou caindo numa fazenda cheia de galos (ele ri) ela
queria os galos, ela queria namorar. (e como vai terminar?) Ele vai entender e deixar a
galinha lá na fazenda ele vai continuar com os experimentos dele, só que com outros
Atitudes Básicas:
identificação positiva. Pode-se observar pelo conjunto das cinco unidades que Daniel
parece se aceitar e lidar bem consigo e com sua vida. Por outro lado é possível identificar
uma certa pressão para um crescimento prematuro, onde ele tem de dar conta de situações
para as quais não tema inda condições, como ganhar a vida e sustentar a família. Precisa
dar conta de situações para as quais não está habilitado em função de sua idade (como
selecionar melhor a prancha de surf, comprar coisas com sua mesada, ter sucesso e ganhar
Figuras Significativas
Daniel se refere ao pai, como uma figura positiva (que traz elementos bons do
passado), mas também negativa (que exige e cobra muito dele). A figura materna aparece
muito pouco e é bastante fragilizada, sem condições de lidar e agir em muitas situações. Ele
sente necessidade de ser acolhido e contido pelos pais. Por outro lado, Daniel traz relações
Sentimentos Expressos
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Tendências e Desejos
Ansiedades: Depressivas
A mãe, o pai e o filhinho bebê. (você poderia falar mais sobre eles?) Antes a mãe
trabalhava, mas agora como o bebê nasceu ela vai parar de trabalhar e vai ficar cuidado
do bebê em casa. (Como é a vida deles ?) O casal se dá bem. O pai trabalha fora. O bebê
Os pais deixam o filho. Eles topam tudo. Se quer andar de skate pode, se quer jogar futebol
pode. Mas também tem de estudar. E ele ganha mesada. Não é muito, mas dá pra o que ele
precisa. A mãe só faz coisas gostosas que ele gosta e o filho está andando de skate. A mãe
o par tão falando para ele voltar antes da hora do jantar. A mãe estava fazendo
O menino está feliz quando está brincando. mas quando chega a hora de comer, ficam
falando: Come! Come!Os pais queriam ir no restaurante, mas ele não queria. Ele não
queria ficar em casa, porque ele tinha medo. Ele pede para os pais ficarem com ele. A mãe
sugeriu pedir comida pelo telefone. Ele está com telefone e o pai com o folheto
Título: A briga pela comida (ri) quer dizer. A briga por causa da comida
Eu meu pai, minha mãe e meu irmão. A gente ia viajar. A gente chegou ao ônibus de
metrô. Porque meu pai não queria pegar trânsito, indo de carro. Aí eu e meu irmão fomos
na frente para ver qual era o nosso ônibus. A minha mãe perguntou qual era o ônibus, e
eu, meu irmão e meu pai mostramos para ela (fale um pouco sobre essa viagem) a gente ia
Observações
sugerir as relações de seus sintomas com a dinâmica familiar. Ou seja, Daniel expressa suas
necessidade de contar mais com os pais, como continentes para suas angústias.
A mãe é uma figura que se apresenta para ele como fragilizada; como foi observado
nas entrevistas. Daniel se ressente da ausência dela, denotando muita necessidade de contar
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mais com ela e seu apoio. Também se evidencia quanto o menino se ressente da pressão
que sente e se vê na necessidade de assumir papéis e funções para os quais não está
preparado, como se observou no D-E. Pode-se por aí compreender seus sintomas fóbicos,
pedido de ajuda. Ele foi encaminhado para a psicoterapia e obteve muito desenvolvimento
nesse processo. Os pais também foram encaminhados para um trabalho paralelo, para poder
lidar com suas próprias dificuldades e assim conseguir lidar melhor com o filho.
mesmo tempo, foi possível observar a utilidade dos Procedimentos D-E e DF-E na
Desenhos Temáticos, derivado do D-E, está descrito em Tardivo (2007; pp. 51 - 61); sendo
extensão e derivado do D-E, útil para estudos específicos de determinados temas, propostos
O Procedimento de Desenhos com Tema foi proposto por Vaisberg (1997) que o
considera muito interessante para o estudo das representações sociais. Ela costuma fazer a
aplicação em grupo, pedindo aos sujeitos para criarem uma estória, que eles mesmos
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registram no verso da folha desenhada. Esse instrumento favorece nas palavras de Vaisberg
(idem.):
Esse instrumento vem sendo usado em trabalhos dessa natureza em outros contextos
e situações em distintas pesquisas (Martão e Tardivo, 2001;) entre outras. Vaisberg (1997)
desenvolveu muitos trabalhos a respeito das concepções sobre o doente mental, tendo sido
esse o tema de sua tese de Livre Docência. Sobre o mesmo tema outros estudos foram
realizados com estudantes de psicologia (Gil e Tardivo, 2006) e com profissionais da área
realizar Psicodiagnóstico, mais amplo e abrangente, como o D-E permite, sendo essa uma
pessoa em seu grupo significa determinada conduta ou situação que pode, ser fonte ou
contribuir muito para o sofrimento. A referida conduta ou situação: ter uma enfermidade
orgânica, mental, ter um filho com alguma dificuldade, trabalhar em alguma situação,
pode , na verdade, ser, por intermédio desse instrumento, objeto de estudo e base para
intervenção.
determinado tema (usando lápis preto e folha sulfite), em seguida se solicita a estória que a
própria pessoa pode escrever no verso da folha. O material é apreendido em sua totalidade e
assim compreendido. Dessa forma, o Procedimento de Desenhos com Tema tem a ver com
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o gesto espontâneo e verdadeiro que fundamenta uma clinica, a qual pode ser apresentada
sem substituir outras formas de intervenção, mas que se configura como uma real
1984 ).
informações sobre as situações que os seres humanos vivem (Vaiberg, 1997; Tardivo, 2004
e 2007).
O material apresentado foi produzido por Fabio9, um jovem de quinze anos que foi
apreendido por tráfico. Ele residia com a mãe, o padrasto e 3 irmãos mais velhos, sendo
Ele conta que o padrasto e os dois irmãos que residem na casa trabalham, mas
passam por muitas dificuldades. Encontra-se cursando a sexta série do ensino fundamental,
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Esse material fez parte de um dos capítulos da tese de Livre Docência (Tardivo, 2004), tendo sido tema de
outra publicações (Tardivo e Saes, ). A psicóloga Danuza Sgobbi Saes contribuiu com esse material,
atendendo com muita sensibilidade a esses jovens. O material foi aplicado com todas as permissões
necessárias (na FEBEM de São Paulo, hoje Fundação Casa), incluindo o consentimento dos jovens.
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O nome é fictício e alguns dados foram omitidos e ou alterados de forma a manter o sigilo, se buscando
garantir que se conheça os dados da dura realidade e vida desse jovem e outros que vivem a mesma condição
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mesmo na instituição, e começou a trabalhar com 9 anos como engraxate, e, antes de ser
apreendido trabalhava como vendedor ambulante. Conta que usa crack, cocaína e
Ele diz , enquanto realiza o desenho, que se sente como uma árvore morta e que não
tem nada de bom. Diz à psicóloga que gostaria de arrumar um emprego fixo e ganhar a
vida honestamente. Conta que começou a traficar para a família não passar necessidade e
Ao lhe ser pedido que associasse (contando uma estória ou dizendo o que lhe ocorresse) ao
Jamais viverá sozinho. Só tem uma árvore. Essa árvore sou eu. Não quis saber das árvores
boas e pouco a pouco eu fui morrendo. Agora estou aqui sozinho, sem nenhum amigo para
dar uma força. Ninguém para aguar, para renovar, virar uma árvore nova Tem que
procurar se enturmar com árvores que dê frutos bons. Para que não morra tão feia desse
Observações:
psicóloga procurou criar um clima de continência para esse jovem. Buscou aceitá-lo e a
esse sentimento de se identificar tão fortemente com uma árvore morta. Porém ele mesmo
abriu uma possibilidade quando fala que precisa se encontrar com outras árvores, que
possam dar frutos e não morrer. Pode-e pensar que o encontro coma psicóloga disponível
naquele momento pode ser compreendido como uma “árvore viva”. Mesmo se sentindo tão
sozinho e invadido por sentimentos de desvalia e depressão, Fabio acena com uma
intensamente a dor e o sofrimento desse jovem e ao mesmo tempo, pôde ser empregado
estimulada.
**********
Como conclusão, sem haver esgotado tema tão amplo, foram apresentados nesse
REFERÊNCIAS
da PUCCAMP, 79 pp.
personalidade Tese (Doutorado). São Paulo (SP), Instituto de Psicologia da USP, 189 pp.
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