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MANUAL DE

TÉCNICAS PROJECTIVAS

Paulo José Alexandre de Almeida Lopes


Aluno nº 30005505
Elaborado através de notas, apontamentos e slides das aulas

TÉCNICAS PROJECTIVAS
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A abordagem idiográfica tem a premissa fundamental de


que os indivíduos são seres únicos e irrepetíveis. O seu
objectivo é entender o ser humano individualmente,
baseando-se num estudo intensivo sobre ele (também
individualmente).
A metodologia que utiliza a abordagem ideográfica consiste
num exame selectivo de poucos sujeitos; é um método
clínico.
Abordagem Esta abordagem é o Teste de Rorschach. O que interessa é
Ideográfica determinado sujeito, no qual se vai fazer uma avaliação o
mais aprofundada possível, da sua personalidade, da sua
dinâmica da personalidade, considerando os seus aspectos
subjectivos, os seus desejos, as suas necessidades, as
suas emoções.
Esta abordagem pretende saber o que torna determinada
pessoa única. Esta é a abordagem das técnicas projectivas
e está em consonância com a abordagem psicanalítica.
A abordagem ideográfica é uma abordagem Qualitativa.
A abordagem nomotética é baseada na suposição básica
de que os indivíduos são semelhantes entre si. o seu
objectivo é obter leis gerais aplicáveis à população.
A sua metodologia baseia-se no exame de amostras de
grupos com muitos sujeitos e utiliza métodos correlacionais
Abordagem e experimentais.
Nomotética Abordagem baseada nos testes psicométricos, em que são
comparados os índices dos testes, as pontuações que se
obtêm com uma norma, considerando sujeitos que têm as
mesmas características. Se têm pontuações na média,
acima da média ou abaixo da média.
A abordagem Nomotética é uma abordagem Quantitativa.
As Técnicas Projectivas, do ponto de vista da Psicologia,
são aquelas que envolvem o uso de estímulos ambíguos e
Técnicas não-estruturados sobre os quais os sujeitos projectam a sua
Projectivas personalidade, atitude, opiniões e auto-conceitos para dar
ao material alguma estrutura.
DONOGHUE, 2000
Projecção Mecanismo de defesa. Introduzido inicialmente por Freud,
mas que no contexto dos testes projectivos, vai muito além
disto, mais conhecida como HIPÓTESE PROJECTIVA, de
Frank, que a introduziu mais tarde que é um princípio a
partir do qual se supõe que o sujeito, colocado à frente de
um material que é ambíguo, que não tem estrutura.
O sujeito perante os estímulos, na sua confrontação, vai
atribuir um significado que é consonante com a sua vida
íntima, com as suas necessidades, com as suas angústias,
com a sua forma de ser.
Exemplo
As manchas de tinta de RORSCHACH. As manchas de tinta,
não passam disso. São manchas de tinta. Cada pessoa que
olha para as manchas de tinta, tende a atribui-lhes um
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significado ou vários. Este é um processo de projecção.

TESTE PROJECTIVO
O teste projectivo tem como objectivo principal descrever o
funcionamento mental do sujeito.
Tem um carácter de envolvimento não só de percepção e de cognição,
mas também de outros aspectos mais complexos como as memórias, os
afectos, as representações e as imagens. O que está em jogo na interpretação
é uma complexidade em que o sujeito acede aos seus processos internos.
É no campo da clínica que se recorre mais frequentemente aos métodos
projectivos. Estas técnicas não visam substituir a clínica, mas complementá-la.
Ou seja, a clínica é constituída por momentos de entrevista, de observação e
por métodos projectivos. Estas técnicas servem para avaliar a personalidade
quer em indivíduos com patologias, quer em indivíduos normais.
Como exemplo de testes projectivos pode-se referir o Teste de Rorschach,
o CAT e o TAT.
Os métodos projectivos, regra geral são métodos de avaliação que se
baseiam na apresentação de material, mais ou menos inestrutrurado ou
material ambíguo (eventualmente amorfo). São métodos em que são
apresentadas diversas situações – estímulo ao sujeito, por exemplo, apresenta-
se uma prancha, sendo ambígua e não estruturada e a razão é para que o
sujeito faça essa estruturação, atribuindo-lhe um significado.
Esta é característica geral de todas as provas, métodos ou testes
projectivos, em que parte do teste tem características transversais. Isto ocorre
para criar espaço para que o sujeito se possa expressar. É dada uma
instrução, que normalmente é intencionalmente simples, para não forçar o
sujeito, e fazer a exploração do modo como organiza aquele material.
O psicólogo apresenta, ao sujeito, o material de uma forma não
organizada e o que se pretende é que o sujeito organize esse material,
atribuindo-lhe significado.
Partindo do pressuposto que a personalidade tem uma estrutura básica
(em cada ser humano) e tem uma dinâmica específica e considerando que o
comportamento é o resultado de uma dinâmica intrapsíquica que ocorre e
resulta de conflitos, via psicologia dinâmica e psicanálise. Há, portanto, um
conjunto de processos psicológicos que caracterizam a nossa forma de ser e
que é isso que o psicólogo quer analisar quando apresenta o material de forma
não organizada e sem estruturação específica. É com base nestes
mecanismos de percepção e apercepção – parte em que o sujeito percepciona
o estímulo e atribui significado – que vai dar informações sobre a sua estrutura
e dinâmica da personalidade.
Pelo facto da situação – estímulo ter estas características, vai abrir
campo para que exista uma diversidade muito grande de respostas possíveis,
entre todos os sujeitos, tanto em termos de número, quer em termos de
conteúdo, porque cada um vai olhar para os estímulos e vai atribuir-lhes um
significado que é consonante com a sua percepção do mundo, a sua
percepção de si próprio, as suas experiências de vida e considerando a
dinâmica da personalidade, as suas angústias, as suas necessidades, as suas
preocupações, as suas emoções, ficam projectadas neste tipo de estímulo.
As instruções são simples de forma que o sujeito se expresse livremente
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Exemplo
É apresentado a um sujeito uma prancha de Rorschach e ele vai atribuir significado a essa
mancha de tinta. Na generalidade dos sujeitos a quem são apresentadas as pranchas de
Rorschach, as respostas são diferentes.

No teste de Rorschach, são manchas de tinta, no caso do TAT – Teste


de Apercepção Temática – sendo uma prova temática, para cada prancha, há
um tema diferente. Portanto, as narrativas andarão em torno da temática
destas pranchas, tristeza, sofrimento, mágoa…e cada um vai construir uma
história em torno destes estados emocionais e é isso que interessa ao
examinador quando utiliza o TAT.
No caso do TAT, são provas temáticas porque envolvem o contar de uma
história, uma narrativa, em torno das imagens das respectivas pranchas, sendo
que o estímulo, em si, é mais estruturado.
O QUESTIONÁRIO DE PERSONALIDADE de Eysenk, tem instruções
que são claramente apresentadas ao sujeito, em que se lhe pede para
responder “sim” ou “não”, relativamente àquilo que reflete a sua maneira
habitual de ser, de pensar, de sentir, reforça-se a questão de que não há
respostas certas ou erradas e que não é um teste de desempenho, mas
cognitivo. São amostras de comportamento que cada item mede uma
determinada amostra de comportamento em que se a pessoa diz “sim”,
verifica-se ou assume-se que tem essa característica, se a pessoa diz “não”,
assume-se que a pessoa não tem essa característica. Assume-se porque há
uma parte importante na instrução: “responda rapidamente e não pense
demasiado no significado exacto das mesmas questões”. Isto é assim, porque
uma pessoa que não queira assinalar características da personalidade que
tem, pode enviesar os resultados. isto acontece porque os items dos
questionários da personalidade, têm algo que se designa por VALIDADE
FACIAL, ou seja, a pessoa consegue olhar para o item e consegue saber
exactamente o que é. De uma forma geral, à partida, não coloca problemas,
porque estamos perante um questionário que mede o funcionamento normal da
personalidade, não é um teste de avaliação em contexto clínico. De qualquer
forma estes questionários de personalidade fazem uma avaliação desta forma
com o risco da pessoa não ser sincera, porque a pessoa sabe exactamente o
que se pretende com aquele teste.
Exemplo
Uma situação em que isto possa acontecer, é uma situação em que a pessoa não queira dar
uma imagem negativa sobre si mesma.
Imaginando em que há, em tribunal, uma disputa para a guarda de uma criança, em que o
tribunal pede a avaliação psicológica a um psicólogo, este questionário é colocado à mãe e ao
pai. O que acontece?
Aqui vai acontecer um fenómeno de desejabilidade social, ou seja, as pessoas de uma forma
geral e em situações muito específicas, quando têm razões para isso, tendem mostrar em si o
que é socialmente desejável e tendem a esconder em si o que é tido como socialmente
indesejável.
Provavelmente um pai ou uma mãe que queiram ter a guarda do filho, e que estejam em
tribunal para disputar isso mesmo, provavelmente vão querer mostrar a melhor imagem
possível de si e provavelmente este questionário iria ser manipulado – teste objectivo de
personalidade – porque este teste tem items bem definidos, são amostras de comportamento
bem definidas.
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Neste exemplo, temos a Validade Facial, porque se a pessoa quiser


esconder os sintomas, pode fazê-lo dizendo que não.
Hermann Rorschach (era psiquiatra), fez estudos no contexto
psiquiátrico com os seus doentes e verificou que havia algumas pranchas que
eram sensíveis a esta questão e que permitiam recolher informações que
davam a possibilidade de compreender (em contraste com o sistema vigente:
orgânico), a psicopatologia através da análise da informação obtida através da
apresentação deste tipo de situação – estímulo.
De acordo com os modelos psicanalíticos, as pranchas de Rorschach,
apelam a uma determinada temática, contudo EXLER, cortou completamente
com isso.

Uma das grandes vantagens das provas projectivas, é fazer uma


avaliação mais aprofundada da estrutura e funcionamento da personalidade
como processo e não como resultado final.
A avaliação que estes tipos de instrumentos fazem é o resultado final. É
o comportamento que é observável, que é avaliado e que em conjunto com
diversas características permitem fazer a descrição da personalidade da
pessoa, mas não de uma forma dinâmica. Não são analisados aspectos como
as necessidades, de certa forma as emoções, ou seja, não há aqui
implicitamente a questão do funcionamento da dinâmica da personalidade.

A liberdade que é dada de acordo com os diversos estímulos, são


diferentes entre as diversas provas, já que têm características diferentes, mas
todas encaminham-se para o mesmo sentido, sejam trovas estruturais, como
as manchas de tinta de Rorschach, sejam provas temáticas como o TAT, como
o CAT, o PATA NEGRA, o ROBERTS, sejam os desenhos, que são técnicas
expressivas em que ao sujeito apenas se lhe pede para desenhar a sua família,
para desenhar uma árvore (desde que não seja um pinheiro, isto porque os
miúdos teriam a tendência para fazer um pinheiro de natal).

Nas provas onde é feito um questionário pode haver alguma validade,


dado que a pessoa pode conhecer a forma como estão a ser feitas e pode
responder de acordo com a desejabilidade social. numa prova projectiva, isso
não acontece. O sujeito pode não responder. Numa prova projectiva o sujeito
imprime a sua subjectividade, manipulando a situação – estímulo, atribuindo-
lhe significado (o sujeito organiza o estímulo por forma a manipular a resposta)
– validade facial, que só acontece neste tipo de testes. Assim a personalidade
é vista como um produto, no sentido em que se avalia como um retrato, ou
seja, é a manifestação do que é, em que não é feita uma análise dos
processos.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA (AP)


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“Disciplina da Psicologia científica que se ocupa da exploração e análise do


comportamento (nos níveis de análise que se consideram ser adequados)
de um sujeito (ou grupo de sujeitos) com diferentes objectivos, básicos ou
aplicados: Descrição; Diagnóstico; Selecção; Explicação; Predição;
Mudança; Valoração.
Através de um processo de tomada de decisões que se baseia na
aplicação de testes e técnicas de avaliação”.
Fernández – Bellesteros, 2001

No contexto da avaliação psicológica (em contexto geral), há um


conjunto de técnicas e testes psicológicos que são utilizados para responder a
uma questão específica. Ou seja, no âmbito da consulta psicológica, o sujeito
faz um pedido ao psicólogo que quer naturalmente resolver.
As populações são diversas e têm problemáticas distintas. Pode ser um
adulto, um idoso, uma criança, um adolescente e no âmbito de consulta muitas
das problemáticas. De notar que nem sempre o sujeito consegue fazer o
pedido tal como ele o deseja fazer. O sujeito vai ao psicólogo porque está a
passar por dificuldades e por vezes não tem a clarividência da dificuldade. Por
vezes o sujeito vai à consulta com um determinado objectivo, mas o psicólogo,
verifica que não é bem o que o cliente pretende, não conseguindo clarificar de
forma objectiva o pretendido. Por isso o psicólogo tem a obrigação de
reformular o pedido e determiná-lo bem e em função do mesmo, possa
seleccionar os métodos de intervenção mais adequados à real necessidade do
paciente.
A avaliação psicológica é um aspecto da psicologia científica, que se
aplica nas diversas áreas, (clínica, forense, das organizações, escolar, etc.) e
devemos considerar todas as técnicas de avaliação que um psicólogo deve
utilizar em qualquer contexto ou qualquer população, em que o objectivo é
sempre explorar e analisar o comportamento da pessoa, porque é o que vai
dar, ao psicólogo, a informação que precisa para intervir.
Para intervir, o psicólogo precisa formular o caso e isso implica recolher
todo o tipo de informação que seja útil para essa mesma formulação do caso.
Isto inclui diversos métodos: a entrevista, a observação, as provas
projectivas (técnicas ou métodos projectivos), os testes psicométricos, os
inventários de sintomas, relatórios de outros psicólogos que tenham
encaminhado o caso, relatórios médicos relevantes para o caso, que se
possam utilizar (se for uma observação num contexto neuropsicológico, é
necessário saber, tanto quanto possível, qual a lesão que determinado sujeito
sofreu e qual a avaliação neurológica que o neurologista fez, onde irá indicar o
tipo de doença neurológica que a pessoa tem e a provável localização da lesão
– foi submetido a exames para este facto – porque neste contexto o
neuropsicólogo precisa saber para fazer uma adequada avaliação do caso). O
psicólogo pode direccionar todos os testes que vai utilizar quase na sua
totalidade para aqueles déficits prováveis de estarem presentes no caso de
uma lesão numa área “X”.
Se o psicólogo fizer uma avaliação neuropsicológica completa, isso
implica a exploração de todas as áreas do funcionamento cognitivo, mas se
por exemplo, se souber que o sujeito sofreu um traumatismo crâneo-
encefálico, tem uma lesão no lobo temporal esquerdo, em que o neurologista
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detectou déficits ao nível da memória ou ao nível da linguagem, deve-se


explorar o que o paciente, neste caso, tem em déficit.
O psicólogo tem as ferramentas para avaliar este tipo de déficit e por
isso deve fazer a avaliação através da AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA.
A formulação do caso, ficando bem feita, é um passo muito importante
para que a intervenção seja eficaz. Para isso é necessário conhecer esse
indivíduo. Aqui englobamos os dois domínios da avaliação – inteligência e
personalidade –. Se se conhecer bem as características cognitivas do sujeito e
da sua personalidade, então é fácil prever o comportamento da pessoa. Assim
consegue-se enquadrar o problema do sujeito na avaliação e assim consegue-
se intervir na forma adaptada às reais necessidades do sujeito.
Portanto na análise do comportamento do sujeito tem-se:
A DESCRIÇÃO, ou seja, descrever as características psicológicas
daquele indivíduo, o seu funcionamento psicológico de uma forma geral, onde
se pode considerar as aptidões cognitivas.
O DIAGNÓSTICO, nos casos em que se tem uma psicopatologia que
está sempre presente nos sujeitos que são casos psicopatológicos (esta
pessoa sofre de alguma psicopatologia? É algo que deve estar sempre em
análise), neste caso, os instrumentos – inventários de sintomas – são
importantes nessa avaliação e complementam a avaliação clínica,
nomeadamente através da entrevista, da história de vida do sujeito, da história
clínica, porque dá uma informação sobre a percepção que o sujeito tem sobre
os sintomas que possa eventualmente estar a sofrer. Nos inventários de
sintomas, é perguntado à pessoa se “na última semana em que grau sofreu
aquele sintoma, nervosismo, pensamentos suicidas, humor deprimido”. A
pessoa ou coloca “0” ou até “5” (escala de Lickert), ou seja, qual a intensidade
que teve dos sintomas, se os teve, se são muito intensos, pouco intensos, mais
ou menos, ou não os teve. O Diagnóstico não se faz com base num só teste.
Tem de haver uma avaliação, no contexto clínico onde isto é determinado com
base em todos os índices, onde este é importante para s ter a noção de como o
sujeito vivencia os sintomas que tem.
A SELECÇÃO, eventualmente em alguns casos, por exemplo em
contexto organizacional em que não são utilizados instrumentos clínicos.
A EXPLICAÇÃO e a PREDIÇÃO (objectivo da psicologia) dos
comportamentos, que no caso da psicopatologia é possível compreender, com
esta informação, o comportamento da pessoa, prever o curso do caso (em
termos psicopatológicos), face à natureza do caso há situações patológicas
que são transitórias e outros que não o são, que são doenças crónicas
(esquizofrenia).
A MUDANÇA, que é um dos objectivos da intervenção psicológica, que
é modificar o comportamento, em função de padrões mais ajustados que
ajudem o sujeito a contornar o problema, onde a avaliação psicológica pode,
por exemplo, ser utilizada para monitorizar os resultados.
Exemplo
Se se tiver um inventário de sintomas, pode-se na 1ª consulta aplicar este
inventário, em que se tem uma quantificação dos sintomas que a pessoa apresenta
e a sua intensidade e fazer essa mesma avaliação passados 6 meses, depois de já
ter havido intervenção e ter a noção se o nível da intensidade dos sintomas teve
alteração ou não.
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Relativamente ao exemplo anterior, há situação em que isto é mais


controlável do que noutras situações. Por exemplo na área da neuropsicologia,
é muito utilizada esta monitorização dos resultados, nesta questão da Mudança
em que o protocolo de avaliação é colocado no inicio da intervenção e depois
passado algum tempo volta a ser colocado para se verificar se houve, com
base na evolução neuropsicológica, melhorias nos diversos aspectos cognitivos
que estejam com déficit.
A VALORAÇÃO, é a atribuição de significado clínico, ou seja, todos
estes dados têm um significado, no contexto clínico, e esse é o objectivo da
avaliação psicológica, através de um processo de tomada de decisões clínicas
e portanto, há a necessidade da aplicação dos testes e técnicas para se
tomarem as decisões adequadas no que diz respeito às diversas fases da
intervenção. Começa-se pelo planeamento e a sua condução, com
ajustamentos, resulta de uma tomada de decisões informada com todas as
características que o psicólogo precisa saber, afim de poder fazer a melhor
intervenção possível.

Quando nos referimos a avaliação psicológica como processo, com


vários elementos de recolha de dados sobre o funcionamento psicológico do
sujeito focados na exploração e na análise do comportamento, em diversos
contextos e com diversos objectivos e com recurso às técnicas e testes de
avaliação, é a avaliação psicológica como processo, ou seja, a psychological
acessement.

Na testagem psicológica, temos aquilo que o (aluno) psicólogo vai fazer no


âmbito dos trabalhos de grupo (em aula), que é o foco unicamente no teste,
como se aplica, como se cota, como se interpreta.

PSICODIAGNÓSTICO

“processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes


psicológicos (input), ao nível individual ou não, seja para entender problemas
à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos,
seja para classificar o caso e prever o seu curso possível, comunicando os
resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se fôr o
caso”.
Cunha, 2007

O Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica com propósitos


clínicos e em contexto clínico. Tem aspectos fortes e limitações do
funcionamento psicológico. Neste âmbito, o sujeito é avaliado em presença ou
ausência de psicopatologia.
Em contexto clínico são usadas as técnicas projectivas, os testes
psicométricos, considerando a análise do comportamento humano numa base
psicanalítica.
O psicodiagnóstico segue o método científico; é limitado no tempo
porque não há um número de sessões ilimitadas para ter a avaliação,
normalmente o tempo é limitado, no qual o psicólogo se propõe a identificar o
pedido do cliente e a desenvolver a avaliação necessária para recolher a
informação de acordo com o objectivo da avaliação; utiliza técnicas e testes
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psicológicos (input), informação esta obtida por estes mesmos testes,


psicométricos e testes projectivos; os inventários de sintomas que fazem
uma avaliação da sintomatologia psicopatológica que é importante no contexto
do diagnóstico (se fôr o caso), ao nível individual ou não, embora no contexto
clínico se pense nas avaliações individuais e as técnicas projectivas são
utilizadas de forma individual e não em grupo; as terapias sistémicas, ou seja,
as abordagens familiares onde são avaliados, não só o sujeito mas sim a
família do sujeito para detectar e trabalhar problemas de comunicação ao nível
familiar, dinâmicas desajustadas que estão na base do aparecimento dos
problemas; base teórica (conhecimento dos modelos teóricos da psicologia)
em que se deve ter um conjunto alargado de conhecimentos para que se possa
fazer uma análise do comportamento mediante determinados critérios;
identificar e avaliar aspectos específicos, relacionados com o pedido e os
objectivos de avaliação (se não se identificar bem o pedido e não se definir
bem os objectivos de avaliação, o processo não se faz só na primeira consulta,
ocupando várias consultas, uma vez que engloba a parte da avaliação,
nomeadamente começando pela entrevistam pela observação, os testes e as
técnicas de avaliação, que irão demorar algumas sessões. Tudo vai depender
do problema que se não for bem definido, a avaliação fica comprometida por
não ser claro o objectivo e isso leva a não se fazer uma adequada formulação
do caso).
Portanto, o psicólogo deve ter a noção de que quanto mais depressa e
de forma mais eficaz resolver o processo, será muito melhor, daí que deve
estar atento a todos os pormenores, recorrer a várias fontes de informação e
integrar um conjunto alargado de dados que permita fazer a adequada
formulação do caso. Isto é essencial porque se o caso não for devidamente
formulado o que pode acontecer é que a intervenção pode não ser a adequada
às necessidades e à problemática do sujeito. Assim, antes de intervir, é preciso
avaliar. Definir bem os objectivos. Por vezes esta definição não é certa à
primeira vez, às vezes basta o sujeito não levar o pedido que seja o real
pedido, às vezes o sujeito não consegue formular bem o pedido, tem um
problema, mas não o consegue formular muito bem e neste caso é o psicólogo
que tem de gerir esse aspecto para definir bem o pedido, ir levantando diversas
hipóteses sobre o comportamento psicológico do sujeito para que assim
consiga seleccionar os métodos, adequadamente, de forma a poder responder
às hipóteses colocadas. Às vezes acerta-se logo nas hipóteses, mas no
decorrer do processo é necessário refazer algumas hipóteses que se verifica
não serem as mais adequadas; classificar o caso e prever o seu curso
possível, por exemplo quando se fala, no âmbito da psicopatologia, deve-se
classificar o caso e prever o seu curso possível, fazendo o levantamento da
informação necessária sobre os aspectos cognitivos e da personalidade, ou
seja, definir o perfil psicológico do sujeito, com base no conhecimento da
avaliação das suas aptidões cognitivas e das suas características de
personalidade, aliado à questão da psicopatologia, pode-se prever o curso
possível do caso;

Se uma pessoa vai à consulta e sabemos que tem esquizofrenia, sabemos que o
prognóstico não é muito bom, contudo o psicólogo pode, e deve, fazer intervenção nestes
casos, não para curar porque é impossível, mas para ajudar a pessoa e a família a
adaptarem-se à situação e lidarem da melhor forma com as adversidades que se
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colocarem.

Comunicar os resultados, deve fazê-lo de forma construtiva e


pedagógica, com o devido cuidado, sempre na perspectiva de permitir ao
sujeito tomar conhecimento de um conjunto de aspectos sobre o seu
funcionamento que são importantes para ele verificar as suas fraquezas com o
devido cuidado (deve-se saber comunicar os resultados) mas também outros
aspectos que se trabalham, que são uma alavanca para a intervenção e para o
sujeito tomar consciência de certos aspectos que se calhar não tem
consciência deles e que podem ser eles a causar o problema, nomeadamente
no âmbito da abordagem cognitiva comportamental. Uma das coisas que se
pede ao sujeito é o registo dos comportamentos sintomáticos, que sente ao
longo do dia, sempre que há um determinado comportamento problemático,
pede-se ao sujeito para fazer o registo desse comportamento e pede-se
também para registar o que antecedeu esse comportamento, o que
desencadeou esse comportamento. Isto serve para o clínico fazer a análise
funcional do comportamento. É preciso saber quais são os factores
precipitantes e isto é uma forma do sujeito ter a noção do problema e aquilo
que o desencadeia e também o clínico ter conhecimento desses aspectos, na
vida diária do sujeito, para que possa intervir e fazer uma modificação
comportamental.
Os relatórios guardados pelo psicólogo devem conter informação
relevante e bem sustentada. Não é dar opinião pessoal. Tem de haver uma
grande preocupação por uma formulação clínica, com a devida sustentação
dos dados, integrando as informações que são possíveis obter através das
diversas fontes para que a formulação do caso seja correcta e para que se faça
uma correcta intervenção.
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RAÍZES HISTÓRICAS DOS


CONCEITOS
PSICODIAGNÓSTICO
O Psicodiagnóstico foi introduzido por Hermann
Rorschach (1884 – 1922) que era psiquiatra suíço e
apesar de ser psiquiatra, considerava a abordagem
psicanalítica muito útil no estudo e na compreensão do
comportamento, uma vez que entendia que o modelo
orgânico, ou seja, o tratamento das doenças mentais só
através da medicamentação, não era totalmente
adequado e não permitiam compreender a
psicopatologia em si.
Assim, desenvolveu um teste projectivo conhecido
como o teste da mancha de tinta de Rorschach . em
1921, o teste de Rorschach. Este teste teria sido
projectado para reflectir sobre partes inconscientes da
personalidade que se "projectam" nos estímulos. No teste, os indivíduos são
convidados a ver 10 manchas de tinta – uma de cada vez – pedindo-lhes para
relatar o que viam em cada um dos objectos ou figuras com o intuito de
explorar esses aspectos, contudo não teve tempo para desenvolver o seu
modelo porque faleceu cedo e como, na época, as abordagens psicanalíticas
eram as que estavam a ser desenvolvidas e aplicadas em grande escala
(internacionalmente) e como o próprio teste tem características que estão em
consonância com o que é analisado na psicanálise, que é o comportamento
manifesto com o sinal de um sintoma que tem subjacente um conjunto de
conflitos psíquicos, um conjunto de aspectos da dinâmica da personalidade que
vão originar determinado comportamento (naturalmente analisado, através das
provas projectivas). Depois da morte de Hermann Rorschach, vários modelos
surgiram de imediato e todos psicanalíticos. Nesse sentido a abordagem do
psicodiagnóstico era puramente qualitativa e de grande foco na psicanálise
(teoria psicanalítica).
Neste âmbito o que é analisado é o comportamento, à luz do critério de
uma base teórica para se conseguir identificar os aspectos desse
comportamento para identificar a estrutura psicológica do sujeito, da sua
personalidade, o seu funcionamento psicológico, a sua dinâmica da
personalidade.
As técnicas projectivas dão corpo a esta abordagem, porque a pessoa
perante uma situação – estímulo ambígua, que não é estruturada, a pessoa vai
atribuir o significado a esta forma, projectando os seus aspectos subjectivos, as
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suas angústias, as suas necessidades e estes aspectos são reveladores do


funcionamento psicológico da pessoa.

O modelo dominante é o de EXNER, fruto das críticas apontadas não só


a Rorschach, mas às provas projectivas, sobre a sua subjectividade, porém
esta subjectividade é aquela que as provas captam do sujeito, não pode ser a
subjectividade do examinador, uma vez que existem directrizes claras sobre o
modo como as diversas provas devem ser aplicadas, cotadas e
interpretadas.
Se se compararem as provas projectivas aos testes psicométricos, em
comparação há um pouco de subjectividade, porque lidam com aspectos que
não são quantitativos, portanto uma abordagem qualitativa e porque, como são
usados em contexto clínico, também estão bastante dependentes da
sensibilidade clínica do psicólogo. A subjectividade existe, mas naquilo que os
testes querem captar, não no examinador e o examinador, tem que fazer um
esforço para reduzir ao máximo essa subjectividade e para não introduzir erros
no protocolo. Há, portanto, um conjunto de cuidados que o psicólogo deve ter.
EXNER desenvolveu um modelo em que a aplicação do teste é a
metodologia que sempre foi utilizada e introduzida por Rorschach e depois a
partir daqui o sistema de cotação é muito completo, existem directrizes para
tudo e mais alguma coisa, logo o que se obtém não tem evidências de
subjectividade.

EMIL KRAEPELIN

Esta abordagem (psicodiagnóstico, técnicas


projectivas e a psicanálise, que estão na base do conceito
clássico do psicodiagnóstico), resulta de duas grandes
abordagens clássicas da psicopatologia e do estudo do
comportamento humano que é a PSIQUIATRIA CLÁSSICA
de Emil Kraepelin (1856 – 1926) em que o modelo é
totalmente orgânico (psiquiatria dura, com base apenas na
medicamentação).
Kraepelin defendia que as doenças psiquiátricas
eram principalmente causadas por desordens genéticas e
biológicas. Após demonstrar a inadequação dos métodos antigos, Kraeplin
desenvolveu um novo sistema diagnóstico. As suas teorias psiquiátricas
dominaram o campo da psiquiatria no início do século XX e a base destas
teorias continua a ser utilizada actualmente.
Kraepelin contrariava a abordagem de  Freud que tratava e considerava
as doenças psiquiátricas como causadas por factores psicológicos. A sua
descrição clínica da psicose maníaco depressiva (hoje conhecida como
transtorno afetivo bipolar) e sobre a demência precoce (hoje conhecida
como esquizofrenia) influenciou gerações de psiquiatras a verem no
transtorno psiquiátrico uma expressão de doença orgânica do cérebro, a qual
poderia ter uma história natural da doença, diferente para cada diagnóstico.
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SIGMUND FREUD (1856 – 1939)

Freud era analogista. A ele se deve a PSICANÁLISE.


A par de Rorschach, considerava que o ser humano não é
só neuroquímica mas também tem muitos aspectos
psicogénicos. E são estes aspectos psicogénicos que se
forem estudados é que permitem compreender o
comportamento humano e o funcionamento psicológico
humano.

Assim tínhamos a psicanálise a oferecer um modelo


explicativo sobre o funcionamento psicológico e onde as técnicas projectivas
ficaram em segundo e depois tínhamos o modelo orgânico em que tudo se
tratava com fármacos.

LIGHTNER WITMAR (1867 – 1956)

Fundou a PSICOLOGIA CLÍNICA, conforme é conhecida


actualmente, e resulta de uma sumula de todo o trajecto
anterior no que se refere às abordagens da Psicanálise e
da Psiquiatria Clássica, considerando que a Psicanálise
teve um papel muito importante para a psicologia, como
aspecto essencial para a compreensão do comportamento
que era visto como um sintoma e que era o resultado de um
conjunto de conflitos intrapsíquicos e da dinâmica
psicológica do sujeito, nomeadamente da personalidade
que se manifestavam através do recurso analítico. A psicanálise, forma geral,
tem uma perspectiva muito negativa do funcionamento psicológico.

AVALIAÇÃO
Tem vários contributos, nomeadamente da psicometria, da psicologia
diferencial, portanto tudo abordagens nomotéticas, com a escola francesa,
temos Alfred Binet, com a escola inglesa, vários investigadores e psicólogos,
todos na área quantitativa, Spearman, Cattell, Eysenk e nos EUA, Henry
Murray que é o autor do TAT.

Psicologia É o campo da psicologia que estuda as diferenças


14

individuais dos sujeitos, as suas consequências e as suas


causas. Como qualquer indivíduo se desenvolve de forma
diferente, esta vertente da psicologia foca os seus estudos
nesta variabilidade do ser humano.
O seu nome foi proposto, em 1900, pelo filósofo e
Diferencial psicólogo alemão William Stern (1871-1937).
Os seus três objectivos principais resumem-se ao estudo
dos comportamentos humanos, à compreensão dos seus
processos mentais e, principalmente, à procura das causas
e da compreensão das consequências das diferenças
psicológicas entre cada um dos seres humanos.

Contextualização Histórica
(medida quantitativa)
ALFRED BINET (1857 – 1911)
Pedagogo e psicólogo francês.
Ficou conhecido pela sua contribuição
no campo da psicometria, tendo
inventado o primeiro teste bem
sucedido de inteligência: a ESCALA
BINET – SIMON (1908) que serviu de
base para vários testes, na
actualidade, do QI (Coeficiente de
Inteligência).
Foi Alfred Binet que introduziu o
conceito de idade mental e desenvolveu esta escala (ou bateria) de Binet –
Simon para avaliar as atitudes cognitivas, fugindo da abordagem de
laboratório.
Portanto Alfred Binet direccionou a sua escala para medir as aptidões
cognitivas ou da inteligência que é uma escala que avalia através do
desempenho de diversas tarefas e a aptidão do sujeito para as resolver, ou
seja, era a sua perspectiva para a inteligência. Para Binet, a pessoa inteligente
é a pessoa que deveria identificar bem o problema, a sua natureza, escolher as
melhores estratégias para resolver esse problema e conseguir resolvê-lo com
sucesso.

CHARLES SPEARMAN (1863 – 1945)

Começa por investigar o processo da percepção


visual mas rapidamente dirige o seu interesse
para o estudo da inteligência. Aplicando um
método estatístico - análise factorial - aos
resultados dos testes, concluiu que
as pessoas que têm uma pontuação elevada num
determinado tipo de teste têm, em geral,
15

pontuação também elevada noutros testes. Introduz, assim, uma capacidade


de inteligência geral – factor G de inteligência – do qual dependeriam os
factores específicos – factores S. Esta teoria viria a ser criticada nos finais da
década de 30 por Thurstone.
Spearman era matemático e conhecido pelo seu trabalho em estatística.
Foi pioneiro da análise factorial, e pelo coeficiente de correlação de postos de
Spearman. Todas as aptidões cognitivas são abrangidas por um factor G de
inteligência, o que significa que uma pessoa que tenha um elevado
desempenho num dos domínios, tem tendência para elevados desempenhos
em outros domínios. Isto levou o autor a enunciar que haveria um FACTOR G
de inteligência. É a base teórica de muitas das provas cognitivas quando se
fala que são saturadas de factor g, ou seja, é isso mesmo que elas avaliam, as
diversas dimensões subjacentes ao factor e grau de inteligência, que é um tipo
de inteligência com base genética.

RAYMOND CATTELL (1905 – 1998)

Psicólogo conhecido pela sua pesquisa


psicométrica na estrutura psicológica intrapessoal.
Teve um grande contributo na área da
inteligência cristalizada e inteligência fluída,
que são muito importantes no contexto da
avaliação neuropsicológica e que contribuiu, no
âmbito da personalidade, na construção de um
inventário de personalidade (16PF) – os 16
factores de personalidade e que utilizava uma
abordagem completamente quantitativa para
estudar a personalidade, com um certo
paralelismo relativamente ao que era utilizado na
avaliação da inteligência. Houve o transpor deste
modelo para os modelos de personalidade. Ao
falar de 16 modelos de personalidade falamos de dimensões que permitem
descrever o comportamento e que são indicativas da estrutura da
personalidade da pessoa. Isto é feito estatisticamente para determinar quais os
factores.
Análise factorial, análise estatística multivariada.

HANS J. EYSENCK (1916 – 1997)


Contribuiu com a avaliação objectiva da
personalidade através de questionários de
personalidade e também utilizando métodos
estatísticos para determinar a análise factorial para
determinar as dimensões de personalidade
necessárias para descrever o comportamento
humano.
16

É uma abordagem completamente distinta das provas projectivas e


neste caso é utilizado o mesmo modelo psicométrico que era utilizado para a
inteligência, adaptado à personalidade.
Modelo PEN. Análise factorial. Estudos experimentais. Estudos genéticos.

MODELO PEN (Eysenck)

Hans Eysenck dedicou-se ao estudo dimensional da personalidade,


iniciado por Hipócrates e mais tarde por Galeno, tendo como base a clareza
conceptual e a mensuração através do método de análise factorial - uma
técnica estatística introduzida por Charles Spearman (Eysenck, 1998; Eysenck &
Wilson, 1976; Lawrence & Oliver, 2004).
Assim, e com base nas suas investigações, Eysenck descreve a
personalidade como o somatório dos padrões de comportamento do
organismo, potenciais e manifestos, que são determinados pela
hereditariedade e pelo meio ambiente. Deste modo, a personalidade pode ser
definida como uma estrutura mais ou menos sólida e duradoura que se
desenvolve através da interacção de factores de carácter, de temperamento,
de inteligência e da componente somática de um indivíduo. Estes factores, em
conjunto, estabelecem a adaptação singular do indivíduo ao meio. (Eysenck,
1998). Assim, refere que o carácter, o temperamento, a inteligência e o fenótipo
estão respectivamente relacionados com a conduta conativa, a conduta
afectiva, a conduta cognitiva e a componente somática / biológica (Eysenck, 1998).
Importa salientar que o modelo desenvolvido por Eysenck tem uma
fundamentação biológica dupla, que se traduz tanto pela genética, como
pela fisiologia, pelo que, este autor considera que os factores biológicos são
deveras importantes na determinação da personalidade (Eysenck, 1990).
17

MODELO PEN DE EYSENCK


(PSICOTICISMO – EXTROVERSÃO – NEUROTICISMO)
HENRY MURRAY (1893 – 1988)
Desenvolveu uma teoria da personalidade,
conhecida como PERSONALOGIA, baseada na
psicanálise, com uma abordagem ideográfica, ou
seja, o estudo da dinâmica e da estrutura da
personalidade em profundidade, utilizando métodos
qualitativos, organizada em motivos, pressões e
necessidades.
Murray descreveu a necessidade como uma
“potencialidade ou prontidão para responder de
determinada maneira e em determinadas
circunstâncias (1938). É o autor do teste projectivo
TAT – Teste de Apercepção Temática (1935)
Este teste foi desenvolvido por forma a medir determinadas características da
personalidade (ex: motivos) e tem sido muito utilizado no estudo da motivação.
Embora fosse professor de psicologia, reformulou alguns aspectos da teoria
psicanalítica, considerando as necessidades do sujeito, a forma como o sujeito
se posicionava em relação ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro.
Foi Henry Murray que propôs a substituição do termo Psicodiagnóstico pelo
termo Avaliação, portanto é aqui que há uma viragem da carga negativa que o
termo Psicodiagnóstico tinha e cuja abordagem era 100% qualitativa, com base
na psicanálise. A partir de então passa a usar-se o termo Avaliação,
18

continuando a ser o mesmo tipo de avaliação psicológica, englobando a parte


ideográfica e nomotética. Implica a utilização de testes psicológicos ( Cunha),
sejam psicométricos ou provas projectivas.
PROCEDIMENTO
O TAT é muitas vezes chamado de "técnica de interpretação de figuras"
porque utiliza uma série padrão, de figuras de situações ambíguas sobre as
quais o sujeito que é testado deve contar uma história. Esta história deve
conter sobretudo os seguintes pontos:
 o que conduziu à situação apresentada;
 o que está a acontecer no momento apresentado;
 o que é que as personagens estão a sentir e a pensar;
 como é
 que a história termina.
Se estes elementos forem omitidos, sobretudo no caso de crianças ou de
indivíduos com baixa capacidade cognitiva, o aplicador do teste pode perguntá-
los directamente. A forma standard do TAT contém 31 cartões com situações
que são representadas. Alguns deles envolvem homens, outros mulheres,
outros ainda pessoas de ambos os sexos, outros, pessoas sem sexo definido,
algumas vezes adultos, outras, crianças e algumas vezes situações sem seres
humanos. Um dos cartões é completamente branco. Apesar do teste ter sido
desenvolvido de forma que os cartões correspondam ao sujeito testado em
sexo e idade, qualquer dos cartões pode ser usado com qualquer pessoa. A
maior parte dos aplicadores escolhe um conjunto de aproximadamente dez
cartões, utilizando aqueles que eles consideram mais úteis, aqueles que eles
creem mais adaptados à história e à situação do indivíduo, encorajando-o,
assim, a expressar os seus conflitos emocionais.
Técnicas Projectivas / Métodos Projectos /
Testes Projectivos
 Métodos de avaliação que se baseiam na apresentação de material mais
ou menos “inestruturado” ou ambíguo.
 A situação – estímulo não possui elementos uniformes e claramente
definidos, isto significa que há diversidade de respostas possíveis entre os
sujeitos examinados.
(Anastasi & Urbina, 2000; Urbina, 2014; Cunha, 2007)

TP a situação-estímulo dá oportunidade ao sujeito de lhe atribuir as


suas próprias necessidades, emoções, percepções e interpretações
particulares, manifestando o seu modo característico de ajustamento.

Psicanálise → a personalidade é vista como um processo dinâmico que


estabelece, mantém e defende o mundo interior do sujeito (conflitos
intrapsíquicos, tipos de angústia, mecanismos de defesa).

TP permitem avaliar a personalidade como um todo, em confrontação


com as situações, revelando aspectos encobertos, latentes ou inconscientes.
TP abordagem dinâmica; abordagem ideográfica
19

De acordo com esta hipótese, a pessoa a ser testada,


ao procurar organizar uma informação ambígua (ou
seja, sem um significado claro, como as pranchas do
Hipótese Projectiva, teste de Rorschach), projecta aspectos da sua própria
atribuída a Frank, personalidade.
1939 O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste)
teria assim a possibilidade de, trabalhando por assim
dizer "de trás para frente", reconstruir os aspectos da
personalidade que levaram às respostas dadas.

As Técnicas Projectivas permitem aceder às vivências internas, aos conflitos


e aos desejos do sujeito, ou seja, aceder ao mundo dos sentidos, significados,
padrões e sentimentos, revelando aquilo que o sujeito não pode ou não quer
dizer, frequentemente, por não se conhecer bem.

TP = as instruções são intencionalmente breves / simples e gerais

Não há respostas correctas ou incorrectas. Há uma liberdade total à


fantasia, à imaginação, à expressividade permitindo ao sujeito manifestar a
estrutura da personalidade o seu funcionamento psicológico emoções,
motivações, ansiedades, conflitos, etc.
Quanto menos estruturada ou mais ambígua fôr a situação – estímulo
das TP, maior a sua flexibilidade.
(Bellak,1967)

Todas as Técnicas Projectivas, forma geral, dão campo de expressão


livre ao indivíduo, sendo que umas são mais estruturadas do que outras, se
forem comparadas, por exemplo, com a prova de Rorschach ou com o TAT.
O Teste de Rorschach é menos estruturado, o aspecto formal é menos
objectivo. Para todos os efeitos é uma mancha de tinta.
As técnicas de desenho não têm uma estrutura. O psicólogo pede a uma
criança para desenhar a família, um desenho da figura humana, da figura
masculina, da figura feminina, dela própria, pede para fazer um desenho de
uma árvore (desde que não seja um pinheiro, uma vez que é muito comum) e o
material é um papel e um lápis para a criança fazer a produção como
entender. Há vários factores que fazem com que a criança desenhe de uma
determinada forma e é nessa base que a interpretação será feita. As
representações são expressões pessoais, ainda que o desenvolvimento
cognitivo esteja relacionado com a qualidade da produção. As crianças mais
pequenas, obviamente, fazem desenhos com muita simplicidade, com menos
pormenores e isso é muito da figura humana, porque o objectivo é avaliar o
desenvolvimento cognitivo, através da correspondência entre a produção das
figuras humanas, feitas pela criança e o que é esperado em termos de
qualidade, de produção, considerando várias faixas etárias.
As crianças mais velhas, ao desenharem o humano, já o fazem com alguns
elementos: a boca, as orelhas, os olhos, etc., os testes de desenho, são provas
expressivas, portanto as provas temáticas, ao contrário de Rorschach, são
mais estruturadas.
20

Pede-se ao sujeito para desenhar uma determinada imagem que tem


alguns aspectos objetivos, ou seja, através de um desenho construir uma
história em torno desse desenho e isto difere de pessoa para pessoa e este é o
objectivo dos testes projectivos.
Relativamente à HIPÓTESE PROJECTIVA, introduzida por Laurence
Frank, de realçar que apareceu depois de todas as outras provas projectivas.
Durante um tempo, desde Rorschach até ao Frank, são
aproximadamente 20 anos, surgiram várias provas, uma vez que o
conhecimento neste sentido era ainda muito exploratório, não havia muitas
teorias em torno das técnicas projectivas, porque o que existia era o modelo de
Rorschach, depois surgiu o TAT, em 1938, e outros surgiram tendo caído em
desuso, por ter sido uma época em que muito se explorava esta questão. A
Psicanálise era uma abordagem dominante, a par do comportamentalismo
(anos 40) e das abordagens psicométricas.
Neste sentido, foi Frank que arrumou a questão relativamente às
Técnicas Projectivas e às suas potencialidades para avaliar a estrutura e a
dinâmica da personalidade, focando-se nas questões mais intrínsecas do
sujeito, mais subjectivas, as suas vivências, as suas angústias, os seus
mecanismos de defesa, ou seja, tudo aquilo que faz parte da dinâmica da sua
personalidade e que é colocada à prova neste tipo de abordagem, de situações
– estímulo com estas características.
De notar
É como se fosse uma tela em branco em que o sujeito é livre de se
expressar, como ele entende, e isso produz um conjunto de sinais que são
reveladores do seu funcionamento psicológico, da percepção que o sujeito
tem do mundo, de si mesmo e de todos os aspectos intrínsecos,
nomeadamente a personalidade na sua dinâmica.

Há também aspectos que o sujeito só revela nas provas projectivas, ou


porque não quer dizer, ou porque não conhece bem. Há, portanto, aspectos
encobertos que na verdade só são possíveis de tomar conhecimento (clínico),
através das provas. Ora no contexto da consulta psicológica há vários aspectos
relacionados com o funcionamento psicológico do sujeito, que não vai dizer
numa, nem 2, nem 3, nem 4, nem 5, nem 6 consultas, portanto há aspectos
que ele não conhece nele e, portanto, não os revela e há aspectos que ele
conhece mas não quer revelar e as provas permitem revelar o que está
escondido ou oculto.
Exemplo
Foi pedido a uma criança que desenhe a família.
A criança desenhou o pai, a mãe e a si mesmo de mão dada a ambos. Por cima do pai,
desenhou uma casa e por cima da mãe desenhou outra casa.
O que à partida era fácil tornou-se, à vista da psicologia, algo complicado, contudo,
chegou-se à conclusão de que a criança era filha de pais separados, mas era amada
por ambos ((…) de mão dada a ambos.).

Uma prova tão simples como o desenho, pode dar informações tão
preciosas do funcionamento psicológico da criança e todos os seus aspectos
intrínsecos, a percepção que a criança tem da dinâmica familiar e da
proximidade com as figuras parentais, a relação com os irmãos.
21

Teste de Rorschach
O Teste de Rorschach (conhecido, também, como
o “teste do borrão de tinta”) é uma técnica de
avaliação psicológica pictórica, denominada
de teste projectivo, ou método de autoexpressão
(mais recentemente).
Foi desenvolvido pelo psiquiatra e Psicanalista
suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em
dar respostas sobre com o que se parecem as dez
pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir
das respostas, procura-se obter um quadro amplo
da dinâmica psicológica do indivíduo.
As pranchas do teste, desenvolvidas por
Rorschach, são sempre as mesmas. No entanto,
para a codificação e a interpretação das
informações, são utilizados diferentes sistemas.

SISTEMA INTEGRATIVO DE RORSCHACH / SISTEMA


COMPREENSIVO DE EXNER (1989, 2003)
22

O teste de Rorschach, é um teste perceptivo – cognitivo no qual o processo de


resposta consiste numa solução de problemas.
“Não há respostas acidentais nem ao acaso em Rorschach. Cada uma é um
vasto e complicado conjunto de operações psicológicas que culminam na
decisão de dar aquela resposta, em vez de outras que estão disponíveis”.

LÓGICA DO TESTE
O teste de Rorschach, como todos os testes projectivos, baseia-se na
chamada hipótese projectiva. De acordo com esta hipótese, a pessoa a ser
testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um
significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projecta aspectos
da sua própria personalidade. O intérprete (o psicólogo que aplica o teste) teria
assim a possibilidade de, trabalhando por assim dizer "de trás para frente",
reconstruir os aspectos da personalidade que levaram às respostas dadas.

REALIZAÇÃO DO TESTE
O teste compõe-se, de 10 pranchas diferentes, algumas com borrões
coloridos, outras são a preto e branco. O realizador do teste apresenta as
pranchas, sempre na mesma ordem à pessoa que vai ser testada com a
pergunta: o que poderia ser isto? Apesar de as pranchas serem sempre
apresentadas na mesma posição, a pessoa pode virá-las à vontade. E pode
dar quantas respostas quiser.
O principal trabalho do realizador do teste é a codificação das respostas dadas:
cada resposta deve ser classificada através de um complexo sistema de
códigos, que reduz as várias respostas a algumas categorias básicas. Uma das
principais diferenças entre os diversos sistemas do teste é exactamente a
forma da codificação.

APLICAÇÃO DO TESTE
Embora a aplicação do teste seja simples, há um conjunto de regras que
temos de ter mentalmente, de modo que se consiga fazer a aplicação do teste,
uma vez que se não forem tidas em conta estas regras, o resultado do teste
não vai ser real, ou seja, pode ser enviesado, não é o que o sujeito responde,
mas é o que resulta de erros que não podem ocorrer por parte do psicólogo.
Nunca se deve dizer ao sujeito como funciona a prova, daí que se deve
ter muito cuidado com os termos que se utilizam, nomeadamente os termos
“ambíguo” ou “relativamente inestruturado”.
O psicólogo tem de dizer ao sujeito o método que vai utilizar, ou seja,
que vai aplicar o “Método das Manchas de Tinta”, não havendo necessidade de
dizer que é de Rorschach. Porém se o indivíduo perguntar se é de Rorschach,
o psicólogo deve ser totalmente honesto e dizer que sim.
A pessoa pode querer saber o que é o “Teste das Manchas de Tinta”.
Daí que seja importante o psicólogo saber se existe alguma experiência prévia,
da parte do cliente, porque se tiver ocorrido, provavelmente não será a melhor
opção a ter, uma vez que isso vai desvirtuar a situação de teste, em que o
23

sujeito já sabe mais ou menos como funciona, e portanto, isso vai enviesar os
resultados.
É importante saber se o sujeito teve algum contacto com o Rorschach e
em que contexto lhe foi aplicado, quando e o que é que a pessoa se lembra
relativamente ao teste. Se a pessoa, enquanto criança, respondeu ao
Rorschach, não é problemático que a pessoa responda ao Rorschach, mas se
ao adulto lhe aplicaram o Rorschach há poucos anos, isso vai resultar em
enviesamento das respostas, portanto não é a melhor opção.
Quanto à avaliação dos adultos, não há muitas alternativas a Rorschach,
uma vez que a maioria delas são para avaliar crianças. Há o TAT, que será
uma alternativa, que em termos de resultados, em clínica, tem-se verificado
que os indicadores de Rorschach, com base na interpretação psicanalítica,
produz aproximadamente o mesmo tipo de índices que o TAT.
Se o sujeito já contactou com o Rorschach, a opção é não aplicar o
teste. Por isso é importante analisar o que é que o sujeito sabe sobre o
Rorschach, para se poder ponderar se se aplica este teste.
Quando o psicólogo diz à pessoa que vai utilizar o “Método das Manchas
de Tinta”, ele pode perguntar o que é isso das manchas de tinta ou se é o
Rorschach e aí o psicólogo deve dizer que é um método em que são
apresentadas várias manchas de tinta e deve perguntar “com o que é que
aquilo se pode parecer”. O psicólogo nunca deve mentir às pessoas
submetidas ao teste. A pessoa pode perguntar para “que é que aquilo serve” e
o psicólogo não lhe vai mentir. Por base não devemos dar pormenores, porque
quanto menos informação a pessoa tiver sobre a prova (isto é válido para todas
as provas projectivas e até psicométricos), melhor será a prestação da pessoa.
Contudo, se a pessoa for insistente, tem o direito de saber, daí que o psicólogo
não lhe pode mentir.
Se a pessoa quiser saber para que servem as “Manchas de Tinta”, o
psicólogo diz-lhe que é um método que permite avaliar ou obter informação
sobre a sua personalidade, ou sobre a sua maneira de ser e que pode dar
indicações importantes para o tratamento, ou para perceber melhor o seu
problema, ou pode dar indicações importantes para se saber o que se deve
fazer relativamente ao problema da pessoa. Isto é uma forma de dar feedback
à pessoa para que não fique sem saber para que é utilizado aquele método.
Se a pessoa quiser saber como é que funciona, aí o psicólogo não pode
dizer nada, pode dizer-lhe que se pode falar sobre isso, mas primeiro tem-se
que aplicar o teste, utilizar o método e só depois é que se pode dizer como
funciona. Neste caso deve-se simplificar a informação o mais que se possa.

PREPARAÇÃO

 Material, Ambiente
10 pranchas, cronómetro.
 O sujeito não pode ser levado a pensar que o Teste de Rorschach é uma
prova de imaginação.
 Não devem ser utilizados termos como “ambíguo” ou “inestruturado”.
 Entrevista.

INSTRUÇÕES
24

 São intencionalmente simples


 O psicólogo deve dar para a mão do sujeito a 1ª prancha e dizer “o que
poderia ser isto?”

É o tempo de reacção entre o receber a prancha e dar a


Tempo de
primeira resposta.
Latência Pode ser revelador, ou não, de problemas.

Todas as provas projectivas têm este princípio: ser intencionalmente


simples. A razão é porque se pretende que com uma instrução simples, de
fácil apreensão por parte da pessoa, que entenda perfeitamente. Isto vai abrir
espaço para que a pessoa tenha uma expressão livre, seja no contexto da
prova das manchas de tinta, seja no contexto de uma prova temática (quando
se pede à pessoa para contar uma história relativamente a determinada
imagem), seja no contexto dos testes de desenho (pede-se à criança para
desenhar a sua família, ou uma figura humana).
O psicólogo deve questionar a pessoa se percebeu, mas quanto menos
intervir, melhor. No caso concreto de Rorschach, depois de se dar a primeira
prancha, para a mão da pessoa e se dar a instrução “o que poderia ser isto?” a
ideia é ficar completamente em silêncio. Só se a pessoa tiver alguma questão à
qual devemos saber responder.
Para a aplicação do teste: de modo sequencial vamos dando à pessoa
cada prancha. Começa-se pela primeira prancha e pode-se dizer, “o que
poderia ser isto?” quando o sujeito terminar de responder àquela prancha,
muda-se para a segunda e assim sucessivamente. Quando o psicólogo
questiona a pessoa, a primeira vez, “o que poderia ser isto?”, fá-lo apenas a
primeira vez. Não volta a colocar a mesma questão à pessoa.
Não há tempo específico para cada prancha, no entanto, é importante
medir o tempo total que o sujeito demora a responder a uma prancha e o
TEMPO DE LATÊNCIA, que é o momento entre a apresentação da prancha e a
primeira resposta do sujeito. É necessário medir, também, este tempo. E
depois o tempo total do teste. Para isso faz-se a soma das 10 pranchas.
Pode-se demorar 50 minutos, 1 hora, 1 hora e meia para todo o teste. O
tempo é variável, não se impõe à pessoa, nem nas provas projectivas, de
forma geral. O tempo só é imposto para as provas cognitivas.
Conta como tempo, todo o processo do teste, desde que se lhe dá a
primeira prancha, o tempo de latência, a resposta, a passar-se-lhe a segunda
prancha, etc. o sujeito pode demorar mais tempo ou menos tempo a dar
resposta, conforme o que cada prancha lhe suscitar, daí que o tempo de
latência tenha grande importância.
Quando o psicólogo pergunta à pessoa “o que poderia ser isto?”, a
pessoa pode não conseguir elaborar a resposta e pode perguntar se é uma
mancha de tinta ao que se deve responder que sim, que é uma mancha de
tinta. A maioria das pessoas dá logo uma resposta. Outras pessoas podem
demorar mais tempo a dar resposta. Ora, esta situação pode ser intencional ou
não.
É necessário perceber que a pessoa percebeu a instrução e dar-lhe
tempo para que possa responder.
25

Há situações em que a pessoa assume uma atitude defensiva. Como


não sabe como funciona o teste, mas percebe que é um método que permite
obter informação sobre a pessoa (isto já o psicólogo lhe tinha dito, no caso de a
pessoa o questionar acerca deste teste), pode optar por uma atitude que é
responder o mínimo possível, ou seja, assume uma atitude defensiva.

INSTRUÇÕES ORIGINAIS

De acordo com o método de EXNER, a instrução de Rorschach é “O


QUE PODERIA SER ISTO?”. Embora seja uma instrução simples, nem sempre
foi a instrução utilizada.

 “O que é que isto poderia ser?” – questão original feita por Rorschach
 “O que é que se poderia ver aqui?” – questão, posterior, feita por Ransch
Traubemberg, estudiosa de Rorschach e do modelo psicanalítico.
Entre uma questão e outra, houve vários contributos que tendencialmente
tiveram uma complexificação das instruções e que se revelou não serem a
melhor opção.

2 FASES

FASE 1: Período de Respostas


FASE 2: Período do Inquérito

FASE 1: PERÍODO DAS RESPOSTAS

 O sujeito deve segurar a prancha.


 A prancha deve ser dada na posição original (depois de a ter na mão, o
examinado pode dar as voltas que quiser à prancha até dar a primeira
resposta).
 O psicólogo deve registar todas as respostas e verbalizações do sujeito.
 O psicólogo deve manter-se em silêncio.
 Protocolos breves: menos de 14 respostas

Nesta fase dá-se à pessoa o tempo que precisar para dar as respostas que
quiser. O psicólogo não deve interferir e deve, preferencialmente, manter-se
em silêncio. No entanto há um conjunto de normas que o psicólogo deve ter,
mentalmente, para as cumprir. Desde logo, dar a prancha à pessoa e na sua
posição original. A pessoa pode olhar para a prancha na posição que lhe é
dada, ou virar a prancha até ter uma forma que a leve a dar resposta. O
psicólogo deve registar a posição que a pessoa deu à prancha, para dar a sua
resposta. Isto é importante, porque se não for feito, a lista de conteúdos, que
tem de se consultar, não vai ter determinada resposta.
Exemplo
A pessoa deu a resposta com a prancha virada para o lado esquerdo. Se o psicólogo não
registar que foi para o lado esquerdo, nunca irá encontrar o conteúdo relativo àquela posição
da prancha.
26

Sempre que a pessoa dá uma resposta com a prancha numa


determinada posição, o psicólogo deve registar, sempre, qual a posição da
prancha que originou a resposta da pessoa.
No período das respostas, é muito importante o psicólogo registar todas
as respostas do sujeito, de forma textual, ou seja, tudo o que a pessoa disser e
com a palavras que utilizar (mesmo que seja uma linguagem menos usual ou
própria), incluindo comentários, perguntas e eventualmente algumas
exclamações. Os registos que nesta fase o psicólogo vai fazer, é como se
tivesse um gravador que tudo grava, ou seja, “tudo”, textualmente e sem
excepções.
Isto é importante porque existem pormenores da linguagem que podem
mudar completamente a cotação das respostas e também porque na fase
seguinte, a fase do inquérito, o psicólogo vai confrontar a pessoa com aquilo
que disse. Portanto, convém que seja tudo o que a pessoa disser.
O psicólogo deve manter-se em silêncio e deixar a pessoa expressar-se
livremente, sendo que, apenas pode encorajar a pessoa com “O QUE É QUE
VÊ?”, para o caso de haver algum bloqueio significativo no processo de
resposta e assim ajuda a pessoa a desbloquear.
Como é uma prova projectiva nunca deve perguntar à pessoa “o que é
que isto lhe lembra?”. Como é uma prova perceptivo – cognitiva, o aspecto da
percepção é essencial e como é visível, quando a pessoa olha para a prancha,
atribui-lhe um significado com base naquilo que está a percepcionar. Por isso
deve ser espontâneo, natural.
NOTA
O psicólogo deve registar a posição da prancha, quando o avaliado dá a
resposta. <, v, >, o
A importância do registo da resposta prende-se com o facto de o
avaliado, poder virar a prancha em qualquer posição. Aqui o psicólogo deve
estar atento e registar qual a posição que tinha a prancha que conduziu à
resposta da pessoa avaliada.
Se por um lado há pessoas que dão poucas respostas e o psicólogo tem
de estar a repetir o processo, outras há que têm tendência para dar várias
respostas. Para estes casos, o psicólogo tem de balancear. 5 ou 6 respostas
na primeira prancha, é mais do que suficiente. Assim o psicólogo deve dizer, “já
temos respostas suficientes. Passemos à prancha seguinte”. Mesmo que o
sujeito queira dar mais respostas à mesma prancha, não deve ser contrariado.
O psicólogo deve deixá-lo dar as respostas que quiser, mas não as contabiliza.
Normalmente para a 1ª e 2ª prancha bastam 5 ou 6 respostas, porque
tendencialmente o inquirido vai diminuindo as respostas à medida que vai
evoluindo nas pranchas. novamente há a tendência de dar mais respostas na
“Prancha 10” porque é a que apresenta mais cores.
Como é um modelo quantitativo, o facto de haver muitas respostas numa
mesma prancha, dadas pela mesma pessoa, vai resultar em replicações do
mesmo padrão de resposta que em nada beneficia a realização do teste.
Da mesma forma que não é benéfico ter menos de 14 respostas,
também não é benéfico haver uma grande quantidade de respostas. Daí que o
psicólogo deverá ter o cuidado de as dosear.
Da mesma forma que há pessoas que falam pausadamente, há outras
que falam muito rápido e neste caso o psicólogo pode dizer à pessoa que está
27

a ser avaliada, “(…) tenha calma. Estava aqui a dizer que…”. Há que saber
encontrar um meio termo de modo a deixar a pessoa raciocinar e levá-la a
repetir novamente o que tinha dito antes.
Outra das coisas que o psicólogo pode dizer à pessoa, quando vê que
está bloqueada, além de, “o que é que vê?”, pode dar uma ajuda dizendo,
“OLHE MAIS UM POUCO E TALVEZ VEJA ALGUMA COISA”. Claro que este
tipo de intervenção será sempre em última análise ou em situações externas,
em situações em que a pessoa está bloqueada e não avança.
O psicólogo deve interromper o processo de aplicação (antes da fase do
inquérito) e dizer “Agora já sabe como se faz, mas não deu respostas
suficientes que permitam extrair alguma coisa do teste. Por isso, vamos
examinar de novo, as pranchas e, deste vez, gostaria que procurasse dar
mais respostas. Se quiser pode voltar a dar as mesmas que já deu, mas
procure dar mais respostas desta vez”. Isto ocorre se o psicólogo tiver um
PROTOCOLO BREVE, ou seja, menos de 14 respostas. Tendo menos de 14
respostas o psicólogo tem de parar a análise.
Significa isto, que termina aqui a avaliação e o psicólogo tem de invalidar
o respectivo teste.

TENTATIVAS DE REJEIÇÃO

O avaliado pode rejeitar responder a algumas das pranchas quando as tem na


mão. Esta rejeição normalmente ocorre quando vê as pranchas 1, 2, 7 e 9.

Prancha I Prancha II Prancha VII

Prancha IX
28

FASE 2: PERÍODO DO INQUÉRITO

 Tem como objectivo obter informação adicional que permita a correcta


codificação das respostas;
 O psicólogo começa a dar as pranchas ao sujeito, uma a uma, dizendo:
“Aqui, disse…”
 Cada resposta deve ser lida e deve corresponder exactamente ao que o o
sujeito disse.
 Folha de localização
 Informações adicionais

FOLHA DE LOCALIZAÇÃO

A folha de localização, é uma folha que tem as 10 pranchas, em ponto


mais pequeno e é feita em conjunto com o examinado. Assim, em cada
desenho das pranchas, o psicólogo assinala os pormenores que a pessoa
examinada referiu e que o levou a dar determinada resposta. Pode-se assinalar
a totalidade do desenho ou apenas as partes referidas. Um mesmo desenho,
na folha de localização, pode ter mais do que uma parte assinalada.

Informações adicionais: São informações que permitem clarificar quais são


os critérios que se devem utilizar na codificação. As determinantes. Se se deve
considerar a côr, etc.
Exemplo
“Aqui disse…”. O psicólogo vai confrontar a pessoa avaliada, com aquilo que ela disse. Daí
que seja essencial a transcrição literal daquilo que a pessoa disser.

Assim pretende-se clarificar vários aspectos: onde é que a pessoa viu


aquilo que disse que viu, como é que viu (determinantes) e o conteúdo (não
precisa de justificação adicional. Deve-se ter atenção aos determinantes que
nem sempre são ditos pela pessoa. Muitas vezes estão implícitas, portanto o
psicólogo deve tentar perceber se estão lá ou não.

PRANCHAS DE RORSCHACH

PRANCHA COMENTÁRIOS
Ao verem a Prancha I, os que são testados
questionam frequentemente sobre como devem
proceder, o que estão autorizados a fazer com o
cartão (por exemplo, girá-lo).
Sendo o primeiro cartão, pode fornecer pistas sobre
29

como abordar temas novos e uma tarefa


estressante. Não é, porém, um cartão geralmente
difícil.
Nesta mancha, é comum dar respostas de máscara
ou de cara de animal usando as áreas em branco
como olhos e narinas.
Os detalhes vermelhos da Prancha II são muitas
vezes interpretados como sangue, e são as
características mais distintivas.
As respostas a esta prancha podem fornecer
indicações sobre como um sujeito é capaz de
controlar sentimentos de raiva ou danos físicos e
sobre sofrimentos do passado.
Este cartão também pode conduzir a uma variedade
de respostas sexuais. Também é comum respostas
sobre a área branca no centro como um avião ou
um diamante.
A Prancha III é geralmente percebida como
contendo dois seres humanos envolvidos numa
interação, e pode fornecer informações sobre como
o sujeito se relaciona com outras pessoas (mais
especificamente, a latência de resposta pode revelar
dificuldades nas interações sociais).
Estas pessoas podem parecer transexuais por
possuírem pénis e vagina, indicando como o
entrevistado lida com a questão de género.
A Prancha IV é notável pela sua cor escura e pelo
seu sombreamento e é geralmente considerada uma
grande figura para-humana (gigante, monstro, vulto)
e, por vezes ameaçadora, agravada com a
impressão comum do sujeito estar numa posição
inferior vendo pés enormes e cabeça pequena.
O conteúdo humano ou animal é quase sempre
classificado como masculino. As qualidades
expressas pelo assunto podem indicar atitudes para
com os homens e de autoridade.
Também é comum respostas usando as variações
de sombreado desta mancha.
A Prancha V é, forma geral, facilmente interpretada
e normalmente não é percebida como uma ameaça.
Instiga uma "mudança de ritmo" na prova, depois da
prancha anterior mais desafiadora.
Contendo algumas características que geram
preocupações, é a mais fácil para gerar uma
resposta de boa qualidade.
É comum ser vista como uma mistura de animais.
30

A textura é a característica dominante da Prancha


VI, que muitas vezes provoca associação
relacionada à proximidade interpessoal; é
especificamente uma placa de "sexo": respostas
com conteúdo sexual são os relatos com mais
frequência do que em qualquer outro cartão, apesar
de outros cartões terem uma maior variedade de
conteúdo sexual comumente visto.
Respostas que indicam textura (macio, áspero, fofo,
peludo...) revelam a carência sexual do indivíduo.
A Prancha VII pode ser associada à feminilidade, e
funciona como a prancha materna, onde as dificuldades
em responder podem estar relacionadas com
preocupações com as figuras femininas na vida do
sujeito.
O detalhe central é frequentemente (embora não seja
popular) identificado como uma vagina, o que torna esta
prancha ligada à sexualidade feminina, em particular.
É comum que as mulheres ou meninas da imagem sejam
vistas como sem braço ou/e sem pernas e com o cabelo
para cima ou agachadas como índio. Também é comum
que estejam a interagir.
Os testados muitas vezes revelam alívio na
Prancha VIII, o que lhes permite relaxar e responder
de forma eficaz.
Similar à Prancha V, representa uma mudança de
ritmo, no entanto, a placa apresenta dificuldades de
elaboração de novo, sendo a primeira prancha, no
conjunto, complexa e multi-colorida.
Portanto, pessoas com dificuldades em situações
complexas ou de processamento de estímulos
emocionais sentem-se desconfortáveis com esta
prancha.
A característica da Prancha IX é a forma indistinta e
difusa, silenciando características cromáticas,
criando uma indefinição geral.
Existe apenas uma resposta popular e é a menos
frequente de todos os cartões.
Tendo dificuldades com o processamento, esta
prancha pode indicar dificuldade para lidar com
dados não estruturados.
Na área laranja é comum respostas de criaturas
semelhantes a humanos (classificados como para-
humanos) como bruxas ou pessoas fantasiadas.
A Prancha X é estruturalmente semelhante à
Prancha VIII, mas a sua incerteza e complexidade
são uma reminiscência da Prancha IX: as pessoas
que têm dificuldade de lidar com muitos estímulos
simultâneos podem particularmente não gostar dela.
Além das respostas de animais é comum respostas
de fogo de artifício e flores.
31

OUTRA FORMA DE VER AS PRANCHAS DE RORSCHACH

PRANCHA INTERPRETAÇÃO
Cartão I
Cartão compacto, negro, que facilita uma apreensão
global (G), baseando-se na forma (F). O estímulo
tripartido remete para a relação e interacção. Este
cartão reflecte um sentimento de identidade (quando
a linha média não é vivida como eixo do corpo, mas
como linha de separação entre duas entidades, dá
conta de dificuldades de diferenciação entre o sujeito
e o outro) (Chabert). A um nível menos evoluído, o
cartão reactiva a relação com a mãe pré-genital nos
seus aspectos positivos e/ou negativos, nas imagens
de segurança ou ameaça.
Cartão II
A parte central vazia reenvia para o regressivo e o
luto; o vermelho reenvia para o sangue e as pulsões.
Este cartão reaviva as pulsões libidinais e
agressivas do sujeito. Se o sujeito lida mal com as
pulsões agressivas, evita o vermelho interpretando só
o preto. A problemática da castração é claramente
visível, bem como a angústia que lhe está
directamente ligada e os processos defensivos que o
sujeito utiliza face a essa angústia. Quando as
personagens se apresentam em duplo pode dar conta
de problemas ao nível da identidade. Este cartão
permite ao sujeito reviver alguns dos conflitos da sua
infância, revelando uma relação simbiótica ou
destruidora com a mãe
Cartão III
Este cartão permite uma identificação (uma
identidade sexual) quer masculina (através do pénis)
quer feminina (através dos seios). O resultado
simbólico resulta da disposição destas silhuetas que
estão muito próximas da realidade e o sujeito vai
poder exprimir a necessidade de representação de si
por um lado, e a representação de si face ao outro,
e ainda a descoberta desse outro e o tipo de relação
que é procurada com esse outro, uma relação de
apoio (representação de si e representação da
relação). O clima emocional é positivo e este cartão
agrada normalmente aos sujeitos. É frequentemente
escolhida como o cartão preferido. O próprio
estímulo, por estar próximo da realidade objectiva,
isto é, por evocar facilmente as silhuetas humanas,
também pode levantar problemas por isso, podendo
rapidamente adquirir uma tonalidade negativa se o
32

sujeito se vê confrontado com um outro e esse outro


tem dificuldades relacionais.
Cartão IV
Este cartão está ligado à força, ao poder, à
autoridade. Alguns autores também lhe chamam o
cartão do superego. Um superego que tanto pode ser
materno como paterno. Sendo simbolicamente
representativa dessa autoridade, pode haver reacções
quer positivas quer negativas, na forma como os
sujeitos se vão posicionar face a essa autoridade:
sujeitos que ou se identificam com essa autoridade
ou a ela se submetem. Os sujeitos vão exteriorizar
representações de autoridade paterna, angústia
infantil e sentimentos de culpa diante do superego,
complexo de castração, transformação da agressão
em depressão e eventualmente ideias de suicídio. Há
sujeitos que dão respostas que valorizam o aspecto
da força e outros que se refugiam numa atitude
contrária à da força, dando respostas que dão conta
dessa inconsistência, dessa passividade e do receio à
figura de autoridade. Há sujeitos que, devido ao
impacto fantasmático e doloroso que a cartão lhes
provoca, põem em funcionamento o mecanismo de
defesa – isolamento. Este é um mecanismo da série
neurótica e mais especificamente das personalidades
obsessivas. Isola para não ter de se confrontar com a
angústia provocada pelo aspecto fantasmático do
estímulo, que reenvia, do ponto de vista simbólico,
para a força, para o poder.
Cartão V
Este não é um estímulo que levante grandes questões,
pois está muito próximo da realidade objectiva (tal
como no cartão 3), surgindo com frequência
respostas banais de animais voadores.
Quanto ao valor simbólico, pelas características
maciças e unitárias deste estímulo, este cartão apela
sobretudo ao sentimento de integridade física e
psicológica. É chamado o cartão da identidade, a
representação de si (ego ideal), onde o sujeito
expressa a ideia que faz de si próprio, o que nos
remete para uma integridade ao mesmo tempo
psíquica e somática.
Este sentimento de integridade ao mesmo tempo
física e psíquica, tem a ver com a representação de si
e, se houver uma recusa, isso é um alerta para uma
eventual luta do sujeito contra a desorganização de
si, contra o caos interno. Também pode acontecer
que o sujeito fuja da representação através de
respostas impessoais ou a manifeste através de uma
resposta simbólica.
33

Cartão VI
Do ponto de vista simbólico, é um cartão muita
saturada em factores com implicações sexuais e/ou
enérgicas-dinâmicas. Mas neste cartão, tal como na
4, o que está mais facilmente implicado na análise do
estímulo é muito mais a dimensão fálica, do que a
representação do corpo feminino. Este cartão reenvia
o sujeito para a problemática sexual: angústia
predominante na neurose: angústia de castração;
estados limite: angústia de perda do objecto; psicose:
angústia de fragmentação. A recusa da interpretação
dos cortes é sinal de problemas sexuais.
A reacção emocional é frequentemente negativa, ao
ponto de não ser invulgar que este cartão seja
recusado. Isto acontece devido ao significado
simbólico deste cartão. Face ao impacto provocado
por esta mancha, pode haver respostas adaptativas,
sendo a mais comum “pele de animal”
Cartão VII
As reacções a este estímulo são variadas, podendo o
sujeito percepcionar a figura, o fundo, ou os dois.
Quanto ao valor simbólico, trata-se de uma cartão
feminina, materna, onde o sujeito é confrontado com
a sua primeira relação; o vazio central é vivenciado
como colo materno. Pode encontrar-se dois tipos de
resposta: Securizantes – encontram-se sentimentos de
vivência, de segurança, com cinestesias femininas. O
não aparecimento destas cinestesias, supõe uma
perturbação das relações mãe/filho. A, H e obj.
Ameaçadoras ou abandónicas – quando estas
imagens são percepcionadas de uma forma negativa,
surge a vivência de abandono, reflectindo a patologia
da vinculação.
Cartão VIII
Os D, rosas laterais, são as partes da cartão mais
interpretadas e é aqui que aparecem as respostas
banais “mamíferos”, que são determinadas quase
sempre pela forma. Estes detalhes estão muito
próximo da realidade e isso permite ao sujeito evitar
a integração da cor, ou seja, evitar lidar com os
afectos.
A reacção emocional é geralmente positiva, mas a
introdução da cor pode ser perturbadora para o
sujeito, daí que, a tonalidade emocional também
possa ser negativa. Neste caso as cores remetem para
imagens do interior do corpo através de anatomias,
mesmo que sejam intelectualizadas; se não for esse o
caso temos imagens de corpos devorados,
danificados, destruídos. As cores também podem ser
utilizadas com o branco no seu carácter esbatido.
34

Uma resposta típica é “mármore” ou “pôr-do-sol no


gelo”.
Quando não é vista a resposta animal, vulgar, tem-se
um problema análogo ao do cartão V (sinal de
debilidade patológica da ligação do sujeito à
realidade). Também são significativos os graus de
agressividade atribuídos aos animais, ou à sua
desvitalização sob a forma de emblema.
Cartão IX
Este cartão apela à regressão e nem todos os
indivíduos se podem permitir tal coisa. Tem um
grande impacto emocional no sujeito e não há
resposta banal para este cartão. A solicitação para
esta regressão traduz-se numa sequência de imagens
de conteúdos naturais, frequentemente ligadas ao
meio aquático, que tem a ver com a imagem materna.
Este cartão remete para uma simbologia pré-genital,
ou seja, uma temática ligada ao nascimento e nem
todos os indivíduos têm muita facilidade em lidar
com esta simbólica, pelo que muitas vezes o que
aparecem são fantasias pré-genitais ligadas à
gravidez/parto.
É um cartão frequentemente recusado, e, certamente,
a mais difícil. Os sujeitos têm dificuldade em
interpretá-la. Os sujeitos que gostam deste cartão
apresentam respostas de cor elaboradas, isto porque
vêem, na relação afectiva com o ambiente social,
uma estimulação fecunda e propícia.
Cartão X
Dadas as suas características de dispersão, remete o
sujeito para fantasmas de fragmentação. Solicita o
indivíduo para essa angústia de fragmentação, testa
os limites. Se o sujeito é sensível a esta problemática,
tem dificuldade em unir, tornando-se mais fácil
detalhar a mancha sem sentir incómodo com isso.
Através do mecanismo de isolamento, o sujeito pode
apreender e interpretar imagens numa perspectiva
mais agressiva, entre animais, ou entre animais e
pessoas.
Estimula quase sempre respostas em D. Uma
resposta G revela uma capacidade intelectual
organizadora de alto nível (G secundária)
Há sujeitos que se perturbam com o cartão, devido à
cor (reagindo, nesse caso, como aos cartões já
interpretadas), ou devido à extrema dispersão das
manchas (sentindo verdadeiro choque ao
despedaçamento).

Para Exner cada resposta é classificada sob quatro pontos de vista:


35

1. o modo de percepção - ou seja, se o borrão é visto como um todo ou se


apenas uma parte é importante (e, neste caso, em que parte do borrão);
2. a determinante - ou seja, que aspecto do borrão foi importante para a
resposta: a forma, a cor, a impressão de movimento;
3. o conteúdo - a figura descrita é de um ser humano, de um animal, uma
parte do corpo humano, uma planta, uma paisagem, um objecto
(arquitetónico, histórico, etc.)
4. a originalidade ou vulgaridade da resposta - ou seja, se a resposta é, na
população da pessoa que está a ser testada, uma resposta muito comum
(que muitas pessoas dão) ou muito rara.
Uma vez codificadas todas as respostas, são somadas e reduzidas a
diferentes índices (por exemplo, a relação entre o número de respostas G e de
respostas D, etc.) Cada um dos sistemas utiliza índices diferentes. Estes
índices são reunidos em agrupamentos (ing. clusters), que descrevem
determinadas dimensões da personalidade.

TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO

Existem muitas técnicas de interpretação e uso para o método de


Rorschach na avaliação da personalidade. O conhecimento técnico da
avaliação é obtido através de um estudo aprofundado de técnicas específicas
de acordo com uma teoria da psicologia e com um sistema específico de uso
de Rorschach. Deste modo, a indicação de técnicas de interpretação a seguir
serve somente para informar de modo muito superficial sobre diferentes
maneiras de abordagens a Rorschach. Estas informações não devem ser
consideradas pelas pessoas que vão ser submetidas ao procedimento de
avaliação, porque vão somente confundir e tirar a espontaneidade da pessoa a
ser avaliada. Cada sistema interpreta o instrumento de modo diferente e a
indicação de algumas técnicas abaixo não corresponde necessariamente aos
actuais procedimentos de interpretação para o uso do instrumento. O mesmo
se aplica para os itens de quantidade de respostas, qualidade formal e
respostas de movimento. Estas informações necessariamente não serão
consideradas pelo psicólogo porque correspondem a determinados sistemas e
não são universais. Os psicólogos e alunos de psicologia que querem
aprofundar as técnicas de avaliação do instrumento, podem dispor de cursos
técnicos para este propósito.
Uma vez codificadas todas as respostas, são somadas e reduzidas a
diferentes índices (por exemplo, a relação entre o número de respostas G e de
respostas D, etc.) Cada um dos sistemas utiliza índices diferentes. Estes
índices reúnem-se em agrupamentos (ing. clusters), que descrevem
determinadas dimensões da personalidade.
Bohm propõe para a interpretação o seguinte esquema:
1. Avaliação quantitativa da inteligência - ou seja, uma estimativa do grau
de inteligência de alguém;
2. Avaliação qualitativa da inteligência - que tipo de inteligência é mais
desenvolvido (talentos, modo de trabalho, fantasia)
3. Avaliação da afectividade - a estrutura e controle da vida emocional do
indivíduo e a sua capacidade de fazer contactos sociais;
4. Atitudes gerais como a ambição, sentimentos de inferioridade ou
superioridade, agressividade, tendência para se sentir embaraçado, etc…
36

5. Humor - tristeza, alegria, apatia, ansiedade, entre outros;


6. Traços neuróticos, tipo e estrutura;
7. Indícios de um diagnóstico psiquiátrico, além de resultados de outros
testes que talvez tenham sido realizados, da anamnese e indicação de
outros testes complementares, que talvez sejam necessários.
Exner propõe uma interpretação dos diferentes índices. Apresenta três grupos
de "variáveis chave" (ing. key variables):
1. Grupo I, formado de três índices: esquizofrenia, depressão e déficit
de coping.
2. Grupo II, formado pelas chamadas "Escalas D", que se referem à
capacidade pessoal de controle do próprio comportamento e à capacidade
de lidar com stresse.
3. Grupo III, descreve os estilos (ou tendências) dominantes
de personalidade.

Os diferentes índices dos três grupos são então utilizados para o cálculo de
três agrupamentos de qualidades do funcionamento mental do indivíduo:

1. Processamento de informações
2. FORMAÇÃO DA IDEIA (Ideação) – é a
capacidade que o indivíduo tem de transformar as
GRUPO 1 informações que recebe do ambiente, em conceitos
“A Tríade Cognitiva” e ideias abstractos.
3. MEDIAÇÃO COGNITIVA - tendência que o
indivíduo tem em ser convencional (ou não) na sua
maneira de ver e pensar as coisas.
Afectividade
GRUPO 2 Autopercepção
Percepção Interpessoal
1.Capacidade de controle e tolerância ao stress
GRUPO 3
2.Stress ligado à situação

Com base nestes dados o psicólogo obtém um perfil da personalidade


da pessoa testada. Este perfil pode auxiliar o diagnóstico clínico de
um transtorno mental; o teste sozinho não oferece, no entanto, uma base
sólida para tal diagnóstico.
Realce-se que para o teste de Rorschach não há respostas correctas.
Cada resposta só obtém o seu significado quando vista em conjunto com todas
as respostas dadas. Além disso, o significado das respostas varia de acordo
com a população do indivíduo testado, mostrando a importância da influência
da cultura sobre os padrões da percepção e interpretação. Assim, um mesmo
resultado poderia ser considerado normal num europeu e problemático num
norte-americano.

QUALIDADE FORMAL DAS RESPOSTAS

Todas as respostas são codificadas de acordo com as vezes que foram


vistas nos grupos de pessoas onde o paciente se encaixe (não-pacientes,
esquizofrénicos, depressivos internados, menores de 15 anos...).
37

No modelo Exner a amostra base foi de cerca de 1200 pessoas.


Dependendo do número de pessoas que deu resposta semelhante a esta, a
resposta pode ser classificada como:
Vista por mais de 2% da amostra. Indica que a pessoa tem um
Comum
processamento cognitivo normal e objectivo.
Comum Quando forem vistas duas respostas comuns interagindo entre
Integrada si, indica boa integração de informações.
Menos de 2% viram, mas algumas viram. Estas respostas
Incomum indicam peculiaridades do indivíduo, mas ainda usando bem
os detalhes da mancha.
Não há registos sobre esta resposta. Estas respostas indicam
projecções do indivíduo. Mais comum entre indivíduos mais
Única
criativos, com pensamento diferenciado e com uma visão
peculiar da vida como artistas e filósofos.

Ver muitas respostas populares (a mais comum de cada mancha) é um


sinal de obsessividade e compulsividade, pois supostamente é comum que
os obsessivos façam um esforço maior para não perder nenhum detalhe
importante, ficando excessivamente preocupados com a opinião dos outros e
com dificuldade de relaxar e dar respostas criativas.

CRÍTICAS E CONTROVÉRSIAS

Até ao desenvolvimento do sistema de Exner, a falta de padronização do


teste de Rorschach foi o principal alvo de críticas ao teste. Exner, com seu
sistema abrangente, ofereceu ao mundo científico um sistema que, ao menos
em teoria, correspondia aos padrões psicométricos:
 Validade – o teste mede o que deve medir
 Confiabilidade ou fiabilidade – o teste é exacto na medição
 Objectividade – diferentes pessoas chegam ao mesmo resultado.
O sistema de Exner foi validado e normalizado em populações de diferentes
países, inclusive Portugal.

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