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A Criança Ferida

Como tratar os traumas de infância que


refletem na sua vida adulta

MARILENE COSTA

Copyright © 2021 Marilene Costa


Todos os direitos reservados.

"Guerreiros são pessoas, tão fortes, tão frágeis.


Guerreiros são meninos no fundo do peito.
Precisam de um remanso, precisam de um descanso
Precisam de um sonho
Que os tornem perfeitos.
É triste ver esse homem, guerreiro menino
Com a carga do seu tempo por sobre seus
Ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito..."
(Gonzaguinha)

AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus pais, pelo amor e dedicação, e por ter ensinado a
seus três filhos como serem pessoas do bem.
A meus irmãos, por serem as pessoas mais incríveis do mundo!
Ao meu primo (praticamente irmão) Harley, por toda força e apoio na
criação deste livro e em minha vida.
A minha amiga Silvanges, por ter participado do processo de
gestação desta obra.
A meu amor Júlian, por ter me incentivado a publicá-lo.
Ao meu filho de pelos Igor Augustos, por ter me mostrado o que é o
amor incondicional.

SOBRE A AUTORA

A autora, Marilene Costa, é psiquiatra e psicoterapeuta com mais de


30 anos de experiência na área médica, onde iniciou na cirurgia e na
medicina de família.
Porém, sua paixão pelo estudo da mente humana, sequestrou sua
atenção, levando-a para os caminhos da psi, onde se tornou expert
em transtornos do humor, ou seja, depressão, ansiedade e transtorno
bipolar, bem como em transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e
traumas que estão a eles intimamente relacionados.

Em sua experiência profissional e de vida, observou que a maioria,


senão, todos os problemas da humanidade, se resumem à
necessidade de ser amado, admirado e aceito pelo outro, e que essa
necessidade advém de uma carência profunda, a qual não poderia
deixar de ter suas raízes nos primórdios da infância e nas relações da
criança com seus cuidadores, em especial sua mãe, supostamente
fonte de amor incondicional e nutrição.

Ocorre que a própria carência e traumas faz com que o adulto não
consiga ser o provedor emocional do qual a criança tanto necessita,
gerando traumas e perpetuando o ciclo.

Fascinada pelo ser humano e suas inter-relações, a autora, durante


seus mais de 25 anos na psiquiatria, dedicou-se ao assunto e estudou
a fundo várias teorias, dentre elas a psicanálise, a terapia cognitivo-
comportamental e o psicodrama.

Enfim, após tantos anos de estudo e trabalho, a autora sente que


precisa devolver ao mundo um pouco do conhecimento com o qual foi
agraciada. Afinal, o saber é um tesouro que não deve ser mantido em
segredo!
SUMÁRIO

Prefácio do autor
Apresentação.............................................11
1. Introdução............................................16
2. O Conceito De Criança Interior.................21
3. A Criança Ferida Que Existe Dentro De Nós......................................................35
4. Transtorno Da Personalidade Borderline....57
5. As Fases Do Desenvolvimento Infantil.......74
6. Como A Criança Ferida Se Manifesta.........95
7. Como Identificar Em Que Fase Sua Criança Interior Foi Ferida................................112
8. Como Resgatar E Tratar A Criança Interior Ferida.................................................131
9. Etapas Do Processo Terapêutico Da Criança Ferida.................................................156
10. Considerações Finais............................164
Outros modelos teóricos do desenvolvimento infantil....................................................170
Referências Bibliográficas
PREFÁCIO DO AUTOR

Esse livro traz uma característica ímpar: parte dos pontos


de vista de dois grandes autores, os quais já escreveram sobre o
tema da criança interior ferida: o norte americano Jonh Bradshaw,
autor de livros, workshops e seriado de TV na década de 80, o qual
divulgou o termo criança ferida, e a brasileira Rosa Cukier, psicóloga,
psicodramatista e escritora, autora do livro “Sobrevivência emocional”,
onde retrata os traumas emocionais que a criança carrega para sua
vida adulta, segundo a visão de Jacob Levi Moreno, pai do
Psicodrama.

A partir dessas duas abordagens, a autora faz uma fusão


entre as ideias de Bradshaw e Moreno mostrando como as teorias
desses autores se complementam.
A fim de melhor compreender o que é a criança interior e
como se dá o trauma que irá repercutir em sua vida adulta, faz um
passeio pelas principais teorias do desenvolvimento humano,
ilustrando com suas próprias experiências pessoais e prática clínica,
tornando o conhecimento algo lúdico e de fácil compreensão.

Também interliga as diversas teorias e as utiliza como base


para o tratamento psicodramático da criança interior ferida.

De forma semelhante, faz uma viagem pelas teorias e


técnicas do psicodrama, exemplificando com casos clínicos, a fim de
abordar de maneira clara e agradável como se dá a cura da criança
interior ferida.

Assim, contribui para que as pessoas, por mais leigas que


sejam na área da psique, tenham consciência de que existe uma
criança ferida dentro delas, e que, possivelmente, é causadora da
grande maioria dos conflitos vividos na vida adulta.

Mas que esta criança pode se resgatada e tratada através


do psicodrama.

Além disso, fica também um legado para os estudiosos e


terapeutas que, ao pesquisarem sobre o tema, encontrarão neste livro
um resumo das teorias e experiências dos grandes teóricos do
desenvolvimento humano e estudiosos dos traumas infantis, fusão
esta jamais encontrada em outras obras.

Foi adicionado um anexo chamado Outros Modelos


Teóricos do Desenvolvimento Infantil, o qual a autora dedicou aos
profissionais que trabalham especificamente com o desenvolvimento
infantil.

Por tratar-se de um capítulo mais técnico, sua leitura é


dispensável para quem deseja usufruir dos conhecimentos de forma
leve e lúdica.
Assim, tal capítulo foi deixado no final do livro, em um
capítulo à parte, como leitura complementar, apenas para os curiosos
das teorias do desenvolvimento.

A autora, médica psiquiatra e psicoterapeuta, possui


experiência de mais vinte e cinco anos no tratamento de adultos
feridos na infância nos mais variados Estados da nossa Federação, e
inclusive em países como México, Portugal, e Estados Unidos.

ilustra o livro com alguns casos de pacientes atendidos em


seu consultório e em atendimentos online (telemedicina), tomando o
cuidado de resguardar nomes e características, a fim de preservar a
identidade dos pacientes.

Através desses casos clínicos, os leitores podem se


identificar com os pacientes e vislumbrar um caminho por onde
resgatar e cuidar de sua criança ferida, levando-os a procurar ajuda.

Portanto, esta obra alcançará tanto o público científico


quanto o leigo. Em uma linguagem fácil e acessível, o leitor poderá
identificar a fase em que foi ferido e constatar que sua criança ferida
pode ser curada, passando assim a ter uma vida mais tranquila e feliz,
sem que os problemas vivenciados outrora continuem interferindo e
prejudicando o seu dia a dia.
APRESENTAÇÃO

De origem grega, o termo trauma significa ferida, sendo


utilizado na medicina para identificar as consequências de uma
violência externa.
Freud transpôs o conceito de trauma para o plano psíquico,
ressignificando como um choque violento, capaz de romper a barreira
protetora do ego, podendo acarretar perturbações duradouras sobre a
organização psíquica do indivíduo.

O trauma pode se referir a um único acontecimento externo


ou a um acúmulo deles.

"Consideremos o caso de uma pessoa sujeita a um trauma, sem antes


ter estado doente, e talvez, mesmo sem ter qualquer predisposição
hereditária. O trauma deve satisfazer a certas condições. Deve ser
grave - isto é, ser de uma espécie que envolva a ideia de perigo mortal,
de uma ameaça à vida. Mas não deve ser grave no sentido de pôr
termo à atividade psíquica. De outra forma, não produziria o resultado
que esperamos dele."
S. Freud

Freud formulou a hipótese de que o psiquismo seria


estruturado a partir do patrimônio genético, e modelado pela primitiva
relação do bebê com seus pais, constituindo-se no que chamou de
"experiências infantis".

Essas experiências desempenham um papel crucial, tanto


na resolução das diferentes etapas de desenvolvimento, quanto na
interpretação e elaboração dos traumas.

Observamos também que o ser humano, apesar de um ser


racional, na maioria das vezes baseia suas escolhas em seu
emocional, inclusive suas escolhas profissionais e vitais.

Até aqueles que apresentam um excelente funcionamento,


desempenhando adequadamente seus papéis profissionais, tomam
atitudes baseadas em julgamentos subjetivos quando seu núcleo
emocional é ativado.

Não é à toa que equipes de marketing no mundo inteiro


trabalham apelando para o emocional das pessoas e não para o
racional!
Quando você vê uma propaganda de carros de luxo, logo
aparece um homem ou um casal bem-vestido, com um belo sorriso no
rosto, com ares de ser bem-sucedido e feliz.

É essa a mensagem a ser transmitida! Não interessa as


qualidades do carro, a potência do motor, seus itens de segurança ou
de conforto. O consumidor não vai se encantar por essas questões
práticas, racionais, e sim pela ideia de sucesso e felicidade,
qualidades completamente subjetivas e emocionais.

Até mesmo quem busca sucesso, dinheiro e poder, está


tentando recuperar a autoestima perdida na infância. Sabemos
inclusive que o “Complexo de Superioridade” nada mais é do que um
“Complexo de Inferioridade” invertido.

Ou seja, o indivíduo, a fim de camuflar seu sentimento de


inferioridade, busca representar para o mundo uma imagem de
superioridade, força e poder, chegando inclusive à arrogância.

Assim, guardamos, no âmago de nosso Ser, fragmentos


das experiências por que passamos em cada fase da nossa infância,
e mesmo da vida adulta, e que nos fizeram ser quem somos.

Mas não são fragmentos no sentido de memória racional, e


sim nossas interpretações naqueles momentos dos fatos ocorridos

É como se fosse o “print” de uma cena. Mas na imagem


você não vê a cena tal qual ela é, e sim a distorção causada pelo
prisma emocional da pessoa que a experienciou. As impressões da
pessoa com relação ao fato.

Por isso, em uma família, cada filho tem uma visão de sua
infância diferente do outro. Pois as lembranças estão impregnadas
pelas sensações de quem as lembra.

É na infância que você constrói sua visão do mundo, do


seu papel como ser social, bem como desenvolve suas competências,
sua forma de reagir às situações, de resolver os problemas do dia a
dia, os imprevistos ou mesmo as catástrofes que podem ocorrer ao
longo da vida.

A depender de como a criança é educada, bem como sua


constituição genética e predisposições, ela irá desenvolver resiliência
e capacidade de adaptação, ou rigidez e dificuldade em lidar com os
desafios da vida.

Enfim, como psiquiatra, psicoterapeuta e psicodramatista,


apaixonei-me pelo assunto e decidi trazê-lo ao conhecimento de
todos.

Este livro passou 12 anos guardado, esperando pelo


momento de sua publicação, porém seu tema está a cada dia mais
atual, visto que felizmente estamos aos poucos desenvolvendo a
capacidade de olhar para dentro de nós mesmos e cuidar de nossas
feridas. E é essa a proposta.

Gosto de pensar que este livro foi um parto após uma longa
e difícil gestação, porém muito desejada. E seu fruto é puro ato de
espontaneidade e criatividade!
1. INTRODUÇÃO

Freud afirmou que o trauma pode estruturar e organizar o


ego, permitindo, através de eventos sucessivos, a repetição, a
rememoração e a elaboração, ou bloquear o psiquismo, distorcendo o
processo do pensar, levando em alguns casos à desorganização do
ego.
Ele ainda postulou que a relação primitiva do bebê com sua
mãe se estabelece de forma inalterável, sendo o protótipo de todas as
relações posteriores, e fundamentando o ego, que se constrói ao
longo do desenvolvimento.

Diante da ameaça de separação da mãe ou do cuidador, o


bebê responde com ansiedade, e, perante sua perda real, com a dor
do luto.

Como podemos ver, há tempos temos o conhecimento de


que traumas sofridos na infância podem gerar respostas não
adaptativas na fase adulta, causando dor e sofrimento.

No consultório isso fica mais evidente, pois até o paciente


que em seu dia a dia se comporta de maneira resolutiva, sendo
profissional de sucesso e com relações sociais e familiares bem
estabelecidas, relata que em momentos de grande estresse
emocional perde o controle sobre seus sentimentos e ações.

No divã, ao falar sobre sua infância, mergulha em suas


histórias, revivendo as cenas. Seus olhos, seus gestos, sua fala, não
poucas vezes ganham uma entonação pueril, evidenciando o
processo de regressão a períodos mais remotos de sua vida.

O foco deste livro não é rememorar ou culpar/perdoar os


adultos que cuidaram de você quando criança, mas, sobretudo,
compreender como você interpretou suas experiências, e a que
convicções e decisões chegou, como resultado do que vivenciou nas
suas relações de dependência infantis.

Bom lembrar que seus pais também são fruto do mesmo


processo, também vivenciaram traumas na infância, alguns do quais
não conseguiram elaborar de forma saudável.

E devemos observar que na época deles, as dores da


infância eram menos acolhidas ainda, pois não existia toda essa
mobilização que vemos hoje em dia como temas contra o trabalho
infantil, a prostituição infantil e outros tipos de abuso, até então
ignorados em nossa sociedade.

Ou seja, seus pais, assim como você, guardam dentro de si


uma criança ferida que não foi cuidada a contento, e que sofre e se
manifesta em momentos nos quais seus traumas são acionados no
fundo do seu subconsciente.

Essas atitudes, por serem desencadeadas por fortes


emoções ativando lembranças emocionais da infância, surgem de
maneira espontânea e reflexa, sem elaborações mentais e muitas
vezes sem nenhum nexo com os acontecimentos atuais.

Podem ser desencadeadas por palavras, cores, odores,


objetos ou qualquer sensação que faça um “link” entre o
acontecimento vivenciado e a reminiscência traumática.

O objetivo deste livro é que você aprenda a reconhecer sua


criança interior, e o que a levou a apresentar seu comportamento
atual, compreendendo as distorções e o forte impacto das
experiências precoces da infância em sua vida.

Só daí poderá surgir a possibilidade de dialogar com essa


criança sofrida, entendê-la, ampará-la e modificar algumas
concepções que a levaram a tornar-se um adulto com problemas
comportamentais e inter-relacionais.

Neste livro buscamos mostrar como se dá a formação de


nossa criança interior, como ocorrem seus traumas, e como podemos
tratá-la para que deixe de nos causar tanto sofrimento.

Como diria Moreno, criador do psicodrama, uma terapia


baseada na interpretação da vida através de jogos de teatro: “é
através dos jogos e brincadeiras da infância que aprendemos a nos
relacionar”.
E esse relacionar-se pode acontecer de forma saudável e
construtiva, ou de forma neurótica e disfuncional.

Impressionante constatar o quanto os primeiros seis anos


de nossas vidas determinaram o adulto que somos hoje. Ou seja, da
infância depende todo nosso sucesso ou fracasso emocional por toda
a vida.

Mas felizmente temos como mudar


essa história! E o segredo está contido
neste livro!

2. O CONCEITO DE CRIANÇA INTERIOR


Todos temos uma criança dentro nós, que é responsável
pela criatividade, espontaneidade e evolução. É a parte de nós que
guarda os sentimentos e as lembranças vividas em uma fase de
inocência e felicidade.

Porém, não guardamos apenas as boas lembranças dessa


fase da vida, mas carregamos conosco traumas que podem
comprometer toda nossa existência adulta.

Segundo Jeremiah Abrams, psicólogo Junguiano autor do


livro O Reencontro da Criança Interior, a criança interior “...é tanto
um fato em desenvolvimento como uma possibilidade simbólica. É a
alma da pessoa, criada dentro de nós através do experimento da vida
e é a imagem primordial do Self, o cerne mesmo de nosso individual.”

Portanto, no interior de cada pessoa adulta, existe tanto a


criança que é portadora dos registros de nossa história pessoal,
quanto a criança portadora de nossa energia vital que é a criança
eterna, segundo Carl Jung, a que impulsiona para uma vida mais
plena rumo à realização das potencialidades próprias, singulares de
cada um.

Essa criança está oculta em você e


precisa continuamente de cuidado e
atenção.

O conceito de “criança interna” é bastante antigo na


literatura e só na década de 80 tornou-se popular nos Estados
Unidos.

Na mitologia de muitas culturas, essa “parte infantil no


adulto” representa a necessidade humana de recapturar a
originalidade e a emoção da criança frente ao estresse e a extrema
racionalidade do cotidiano.

Isso, pois junto com o crescer, vem todos os problemas e


responsabilidades da vida adulta.

A criança interna feliz é um refúgio onde o adulto se


protege e refaz suas energias e sua fé!

Na visão chinesa, a força dessa criança provém de nosso


Jing ou energia ancestral (Qi pré-celestial).

John Bradshaw, em seu famoso livro intitulado


Homecoming: Reclaiming and Healing Your Inner Child (Volta ao
lar: resgatando e defendendo sua criança interior), fala da criança
maravilhosa, e suas qualidades, as quais ele descreve em forma de
ideograma com a palavra wonderful (maravilhosa):

Wonder: maravilha
Optimism: otimismo
Naiveté: ingenuidade
Dependence: dependência
Emotions: emoções
Resilience: resiliência
Free Play: liberdade para brincar
Uniqueness: originalidade
Love: amor

Segundo o autor, para essa criança maravilhosa, tudo é


interessante e estimulante.

Ela se maravilha com todos os seus sentidos; experimenta,


explora, de um modo otimista, confiando no mundo exterior, o que a
torna vulnerável, e a todos encanta e atrai com sua ingenuidade, sua
inocência e orientação para o prazer.
A criança maravilhosa é obrigatoriamente dependente.
Suas emoções, choro, riso, raiva, são espontâneos e têm um valor
especial de sobrevivência para o bebê humano, pois despertam nosso
cuidado.

Para a criança, bem como para o adulto, o choro não é


necessariamente prenúncio de um trauma, mas de uma frustração,
necessária ao aprendizado e desenvolvimento.

O choro das crianças nos remete aos momentos de tristeza


da criança ferida que existe dentro nós, fazendo com que
intuitivamente busquemos ampará-la e trazer de volta sua alegria,
como gostaríamos que algum adulto tivesse feito conosco em nossa
tenra infância.

Entretando, o choro é necessário como forma de expressão


de uma frustração, e lidar com ele de forma madura não é
necessariamente suprir a criança do que ela deseja, tampouco obrigá-
la a “engolir o choro”, como muitos adultos costumam fazer.

O ideal é que a criança possa exprimir seu sentimento de


frustração, porém compreender que nem sempre suas vontades serão
satisfeitas. Isto pois amadurecer e evoluir implica em saber receber
um não de forma adaptativa.

A criança tem um senso natural de liberdade, segurança e


espontaneidade ao brincar e ao movimentar-se no mundo, o que para
ela é uma atividade de puro prazer e encantamento.

A criança maravilhosa é um ser único e sente essa


unicidade, esse EU SOU. Ou seja, sente-se ligada e unificada dentro
de si mesma, e esse sentimento de integração é o verdadeiro
significado da perfeição. Nesse sentido toda criança é perfeita!
A criança maravilhosa tem resiliência,
ou seja, capacidade de reagir aos
traumas e voltar ao seu estado normal.

Você já observou que quando uma criança está brincando


e cai ela rapidamente se levanta e continua a brincar, sem se importar
com o machucado? É a capacidade de adaptação e recuperação.

Os pais não devem impedir que a criança explore o mundo


a seu redor, apenas devem tentar evitar os grandes traumas, e estar
presentes com amor incondicional, a fim de cuidar dos ferimentos,
quando essa criança se machuca.

Mas sem “dramas” ou excesso de mimos, pois ela só


começa a desenvolver “manha” quando os pais passam a
supervalorizar esses momentos de queda e dor, gerando a
interpretação de que o fato foi mais traumático do que realmente
ocorreu, e plantando no filho a semente da criança ferida.

Portanto, se uma criança cai, ou se ela passa por algum


pequeno trauma, apenas observe seu comportamento. Se ela pedir
ajuda, acolha-a com amor, porém sem exageros. Assim ela aprenderá
a reagir aos fatos da vida com tranquilidade.

Do ponto de vista intrapsíquico o mesmo acontece. A


criança maravilhosa não valoriza prolongadamente dores e perdas,
pois ela tem a capacidade inata de continuar vivendo e se divertindo
apesar de tudo isso.

Excessão encontra-se nos grandes traumas, como por


exemplo o da ausência dos seus cuidadores, o que Freud chamou de
“perigo mortal” visto que ela sabe que não sobrevive sozinha.

Como você pode perceber, as


vivências da criança frente ao mundo
são reativas, imediatas e os traumas
ordinários são rapidamente superados
e esquecidos.

Pois essa criança maravilhosa não foca na dor, e sim no


maravilhoso mundo novo à sua frente.

Porém, ela aos poucos vai aprendendo a enxergar o


mundo através dos olhos dos seus pais ou cuidadores. E, através
desse prisma, os acontecimentos vão se tornando mais dramáticos.

Pois, infelizmente, nós adultos tendemos a focar nos


problemas que nos trazem sofrimento e não nas coisas maravilhosas
ao nosso entorno, as quais, na maioria das vezes, superariam tais
problemas.

Esse enfoque no aspecto negativo de nossas vivências, os


quais a criança passa a absorver, gera a maioria dos traumas que, de
outra forma, seriam facilmente superáveis.

É claro que existem grandes traumas, aos quais nem a


espontaneidade, nem a ingenuidade, nem a resiliência da criança
maravilhosa conseguem torná-la imune.

Abusos dos mais variados tipos, por exemplo, ou grandes


catástrofes, são de fato experiências que marcam negativamente o
âmago da criança.

Isto porque, para a criança, a sua única força protetora é o


adulto, e qualquer tratamento abusivo que venha dele desconfirma
sua fé e certeza de sobrevivência.

Porém, a maioria dos traumas vivenciados não são desse


porte, e, portanto, seriam mais facilmente superáveis.

Atualmente podemos observar uma geração de


adolescentes e jovens adultos hipersensíveis e vulneráveis a
obstáculos que, para as gerações anteriores, seriam facilmente
relevados.

Isto porque, infelizmente, o medo de gerar traumas em


seus filhos, alardeado por estudiosos da psicologia infantil nas
décadas de 50 e 60, e que repercutiu em nosso País na década de
70, fez com que pais, preocupados em defender seus filhos,
acabassem por “pecar por excesso” de cuidados, imprimindo no
emocional dessas crianças a sensação de que todo evento negativo
se constitui em um trauma insuperável.

Isso em parte foi ocasionado pelo grande trauma da


Segunda Guerra Mundial, que gerou uma leva de soldados e famílias
sequelados, com transtornos mentais os mais diversos, e a sensação
de que suas vidas foram sacrificadas inutilmente.

Tal evento culminou com a geração hippie, com sua utópica


reinvindicação de liberdade sem limites e sua ojeriza às guerras.

Então, todos esses acontecimentos provêm de um contexto


histórico pós-recessão e pós-guerra, e tudo isso é mais um fato a ser
superado com as novas teorias do desenvolvimento infantil.

Sabemos que precisamos defender


nossas crianças, mas precisamos
encontrar o “caminho do meio” ou do
equilíbrio, como ensina a filosofia
oriental.

Eric Berne, médico psiquiatra canadense nascido em 1910


e criador da Análise transacional, um tipo de teoria psicológica, já
apresentava ao público a noção de criança interna como um ego-
criança que surge ao nascer repleto de criatividade e espontaneidade,
características primárias do ser humano, as quais o adulto molda pela
educação.
Segundo Berne, o individuo é capaz de modificar seus
sentimentos, pensamentos e escolhas através do autoconhecimento e
desenvolvimento pessoal.

Já a gestalterapia, uma teoria existencialista originada em


1951 baseada no “aqui-e-agora” criada por Robert e Mary Golding,
discípulos de Berne, busca resgatar a criatividade, originalidade e
espontaneidade da criança, através da terapia de redecisão, uma
terapia intensiva voltada para grandes grupos, que objetiva o
indivíduo a adquirir habilidades para lidar com seus sentimentos.

Credita-se uma das utilizações mais recentes da


conceituação de criança interior a Alice Miller, psicóloga polonesa
pesquisadora da infância, que descreveu em seus trabalhos os maus
tratos sofridos pela criança como causadores de prejuízos graves à
personalidade adulta.

Vale lembrar que na criança interior estão presentes


lembranças ruins, mas também lembranças alegres, ambas
posteriormente, refletindo em reações pueris, ou seja, as regressões
nem sempre são para fatos negativos, uma vez que o adulto pode
regredir para momentos ruins ou bons da infância.

Por sorte, a criança é um ser resiliente, então, na maioria


das vezes, supera os momentos ruins, não transformando-os
memórias traumáticas internalizadas (no subconsciente).

Mas lembre-se: isso só não é possível quando esses


traumas são extremamente impactantes, ou quando o adulto reage
exageradamente e a criança assimila aquilo como um alerta de que
se trata de algo grave.

O que é impactante para você, pode


não ser para outra pessoa!

Um exemplo claro disso é que enquanto uma pessoa tem


medo de galinha por ter presenciado durante infância a mãe matando
a ave no intuito de preparar a refeição da família, outra criança, que
presenciou a mesma cena, pode tê-la apenas como uma vaga
lembrança, não traumática.

Portanto, muitos traumas somente se consolidam quando a


criança já apresenta uma certa vulnerabilidade. Ou seja, quando o
adulto imprimiu nela tal vulnerabilidade, ou quando há predisposição
genética a algum transtorno psiquiátrico.

Mas acredito que até os transtornos mentais nada mais são


que “imprintings” genéticos.

Isto porque segundo a epigenética, os traumas podem, ao


longo das gerações, causar modificações genéticas que passarão a
ser transmitidas para as próximas gerações.

Portanto, segundo diversas teorias, todos possuem uma


criança interior. Em algumas pessoas, essa criança se manifesta ao
longo de toda a vida de forma bem evidente, em especial durante
momentos negativamente ou mesmo positivamente críticos da vida,
(as chamadas crises vitais) como nascimento ou morte de pessoas
próximas, casamento, início ou perda de emprego, aposentadoria, etc.

Porém, há pessoas nas quais essa criança interior parece


nunca ter existido, nem mesmo quando ainda eram crianças.

Geralmente isso ocorre quando a criança se vê em um lar


inundado por conflitos e passa a se comportar de maneira
precocemente adulta a fim de apoiar os pais

Ainda assim, esta “não existência” é só aparente, pois, ao


longo do desenvolvimento, a pessoa vai deixando dentro de si rastros
dessa criança, correspondente a cada fase de sua vivência.

Fico triste quando ouço mães se vangloriando de que seus


pequenos filhos são seus confidentes e as apoiam e cuidam delas.
Estas mães não percebem que aquela pobre criatura está
petrificada com medo de perder a mãe, e com isso, ela própria não
sobreviver, posto que a criança, por ser dependente, acredita que não
sobreviverá sem seus cuidadores.

A criança não é a “pequena mãe ou


pai” da qual sua mãe adoecida se
vangloria. Ela é só uma criança
lutando desesperadamente para
sobreviver, e sua única arma é reprimir
seu medo a fim de “cuidar e tratar a
ferida” de sua cuidadora. Esse é um
dos piores traumas que uma criança
pode sofrer!

Quando essa criança interior sofre traumas profundos, sua


psique não conseguirá lidar com esses traumas, a despeito de sua
resiliência, e então formar-se-á o cerne da criança ferida.

3. A CRIANÇA FERIDA QUE EXISTE DENTRO


DE NÓS
Já sabemos que todos guardamos várias crianças em
diferentes fases de desenvolvimento, as quais ficam congeladas,
gravadas ou registradas (“imprinting”) dentro de nós nos momentos
em que vivenciamos fortes emoções, que podem ser boas ou ruins.

Quando essas emoções são negativas, geradoras de


vergonha, medo, culpa, ou desconfirmadoras, tem-se congelada uma
criança interior ferida.

Costumo comparar o adulto com uma cebola, formado por


camadas, sendo que no caso em questão as camadas mais primitivas
(infantis) vão ficando internalizadas.

Podemos representá-lo também pela Matrioshka, aquela


bonequinha russa que você vai abrindo e encontrando uma
bonequinha cada vez menor até que encontra um bebê.

Possuímos dentro de nós várias crianças em fases


diferentes, registradas em momentos de fortes emoções.

Essas crianças vêm à tona quando nos comportamos de


forma impulsiva, quando apresentamos comportamentos infantis,
quando reagimos a uma situação, não pela nossa percepção atual,
mas segundo nossas impressões guardadas no passado. Quando
temos reações exageradas (overreacting) ou quando congelamos
diante de situações-problema.

Nós, seres humanos, somos pautados nas emoções.


Vivemos o tempo todo envoltos em momentos ou lembranças que nos
deixam consternados, emocionados, felizes ou infelizes.

De acordo com diversos teóricos, se as necessidades


fundamentais da infância não forem satisfeitas, o indivíduo tende a
tornar-se um adulto com uma criança interior ferida.

Essa ferida vem à tona quando o adulto ouve uma


afirmação específica, a qual ele ouviu na infância, e que lhe deixou
impressão profunda.

Na terapia, observo que geralmente o paciente manifesta


tristeza nos olhos ou mesmo chora, ao se reportar ao período em que
foi ferido.

Nesse sentido, a frustração do desejo de uma criança ser


vista como uma pessoa e ter seu amor aceito, é o maior trauma que
uma criança pode experimentar.

Ou seja, o acolhimento e a confirmação dos sentimentos da


criança, sem desvalorizar nem supervalorizar, mas observando o valor
que a própria criança dá àquele sentimento e a duração de sua
resposta adaptativa, é o que a criança realmente precisa para crescer
saudável e feliz.

Segundo Bradshaw, “Nenhum pai em


uma família disfuncional pode dar a
seus filhos o que ele precisa”.

Por exemplo: uma criança cujos pais não conseguem estar


presentes em situações nas quais ela necessita de apoio emocional,
não validam suas conquistas, não a defendem contra agressões do
mundo exterior, pode concluir que o mundo é um lugar muito
perigoso, e que ela não deve confiar em pedir ajuda a ninguém, visto
que seus próprios pais foram ausentes e incapazes de prestar-lhe
socorro nos momentos mais simples, como elogiar um pequeno feito,
aos mais complexos, como defendê-la de maus tratos.

Não importa por que razão os pais foram ineficientes, se


por trabalharem muito a fim de manter o padrão social da família, ou
se por serem acometidos por transtornos físicos ou mentais que lhes
roubaram a capacidade de serem cuidadores.

O fato é quem essa criança pode tornar-se um adulto


desconfiado, inseguro ou detentor de um falso senso de
autoconfiança e autossuficiência, fazendo com que acredite que ela, e
apenas ela, seja capaz de resolver seus próprios problemas.

Essa pessoa então, terá enorme dificuldade em confiar nos


outros ou pedir ajuda quando necessita.

Os traumas trazidos da infância tornam-se evidentes


quando os pacientes são convidados a dramatizarem as cenas.

Nesse momento, suas dificuldades atuais aparecem


geralmente decorrentes da lembrança de um fato ocorrido na primeira
infância, mais especificamente por volta dos cinco a sete anos de
idade (período do qual a maioria das pessoas já possui memória
consciente).

Porém, inusitadamente, há pessoas que relatam


lembrarem-se de fatos relativos a períodos mais remotos, como 3 ou
até 2 anos de idade. Não sabemos se são memórias reais ou geradas
por relatos de familiares, mas o poder dessas memórias é igualmente
real na vida da pessoa.

São lembranças de uma criança apavorada, geralmente


envolta com alguma forma de violência, onde ela nada pôde fazer
para cessar o sofrimento, sendo sujeita à força e ao poder do adulto
em questão. Exemplo frequentes são as brigas entre os pais.
O sentimento é de medo e impotência. Geralmente o
adulto, ao relembrar tais situações, treme, se encolhe, abaixa a
cabeça, ou chora inconsolável. Ou simplesmente, vê-se uma nuvem
cinza em seu olhar...

Assim, como podemos ver, diante da submissão forçada,


dos sentimentos de raiva e vergonha, da humilhação e inferioridade
sofrida na infância, o individuo pode desenvolver alguns mecanismos
de defesa.

Um deles seria vir a tornar-se um adulto violento, passível


de fazer os outros sofrerem o mesmo que ele sofreu, ainda que o faça
de forma inconsciente, e com a desculpa de que está preparando
seus filhos para o mundo, ou que, sendo tratado assim, tornou-se
uma pessoa bem-sucedida.

Inconscientemente esses pais desenvolveram o que Anna


Freud chama de identificação com o agressor.

Fazendo um aparte, o termo foi cunhado por seu


contemporâneo Sandor Ferenczi e atualmente é mais conhecido
como Síndrome de Estocolmo.

Portanto, faz-se necessário dizer que os seres humanos


exercem um enorme poder uns sobre os outros, um poder de vida ou
morte!

Desde que nascemos, somos dependentes do outro. Na


primeira fase da vida, o que importa é atender às necessidades físicas
(alimentação e higiene) e emocionais da criança, uma vez que esta
encontra-se extremamente frágil e dependente do outro para
absolutamente tudo. Nesse momento um pai presente cuidador é tudo
o que a criança necessita.

Vejo muitos pais dizerem que se sacrificam trabalhando de


forma extenuante por mais de doze horas ao dia, a fim de prover
conforto a seus filhos.
Se fossem mais sinceros diriam que deixam seus filhos em
segundo plano a fim de prover suas próprias expectativas de conforto.
Aquilo que gostariam de possuir em sua infância. Desejo esse gerado
por uma sociedade de consumo, voltada para o status material, e que
esquece as necessidades primárias do ser humano: amor e cuidado!

Isto porque a criança maravilhosa só precisa desse amor e


cuidado. Nada mais! Ela não precisa de roupas de grife. Nem de
brinquedos da moda. Na verdade, ela nem precisa de brinquedos!

A criança maravilhosa é criativa e


curiosa, e inventa suas próprias
brincadeiras a partir de tudo que está
a seu alcance!

A primeira etapa da infância é pré-verbal, e tudo o que


acontece depende da decodificação verbal e emocional ou leitura
sobre o comportamento da mãe ou cuidador.

Nessa fase a criança é muito intuitiva e parece adivinhar os


sentimentos dos cuidadores. Isso porque sua sobrevivência depende
de eles estarem bem a fim de suprir-lhe as necessidades.

Sem alguém que possa espelhar nossas necessidades e


emoções, não podemos saber quem somos.

Por outro lado, a forma como essa pessoa decodifica


nossas mensagens acaba constituindo aquilo que somos, e ela o faz
de acordo com suas próprias vivências.

A primeira pessoa a cuidar da criança exerce uma


importante função em seu relacionamento com o mundo, pois esta
funciona como uma espécie de ponte relacional entre a criança e o
mundo, e ocupa, num primeiro momento, o lugar que o Eu da criança
ocupará mais tarde.
Daí a importância do papel de cuidador, normalmente
exercido a princípio pelos pais, e posteriormente pelas pessoas mais
próximas.

Infelizmente, vemos muitos pais entregarem esse papel


crucial a babás e motoristas, e se deixam no papel extremamente
coadjuvante de provedores e administradores.

Como já disse anteriormente, uma criança vive muito bem


sem brinquedos, mas ela precisa da presença do adulto em quem ela
se espelhará para o resto da sua vida! Esse adulto será você ou
alguém contratado para tal papel?

E lembre-se que esses cuidados são mais vitais na


primeira infância, ou seja, até os 6 a 7 anos de idade.

Pare e pense!
Quem é/foi o cuidador dos seus
filhos?

Como a criança aprende a enxergar o mundo pelo olhar de


seus cuidadores, isso significa que a criança só dará importância às
coisas e até mesmo emoções que eles valorizam.

Se seus cuidadores são pessoas leves, emocionalmente


saudáveis, que sabem enfrentar os obstáculos da vida com bom
humor, a criança enxergará com leveza a vida e as situações.

Porém se forem preocupados, frustrados, irritados,


pessimistas, inseguros, a criança precocemente desenvolverá as
mesmas características e se tornará uma criança de difícil convívio
social e com enorme sofrimento emocional.

A criança é um ser dependente e tem consciência disso.


Assim, a autoestima do indivíduo reflete como foram suas primeiras
relações, e prevê como serão suas relações com o mundo e com as
demais pessoas.
Depender dos outros não configura uma situação
confortável para nenhuma das partes. Quando ainda é criança, o
individuo aceita com tranquilidade essa dependência.

No entanto, a medida em que a criança vai amadurecendo,


adquirindo noção do mundo que a cerca, vai sentindo necessidade de
autossuficiência, e nessa fase é normal ficar incomodada com tal
situação.

Para entender melhor a necessidade de dependência


básica do ser humano Cukier usa a descrição que Bradshaw faz das
quatro características naturais da criança, que fazem dela um
autêntico ser humano.

São elas:

1. Valorabilidade.
2. Vulnerabilidade.
3. Imperfeição.
4. Pensamento radical.

Baseado nestas qualidades, deduz que necessidade de


dependência básica do ser humano significa poder contar com pais
que:
1. façam ela se sentir preciosa, importante e
providenciem o que necessita enquanto não for
autônoma.
2. dediquem tempo e atenção para poder ajudá-la
a definir seus próprios limites e a obter as
informações que precisa para lidar com a
realidade e com suas próprias necessidades.
3. permitam que a criança expresse seus
impulsos agressivos e hostis sem as mesmas
se destruírem e sem que os pais destruam a
autoestima da criança. E, ao mesmo tempo,
também se permitam a expressão de reações
agressivas e hostis, respeitando a assimetria
intrínseca do vínculo.
4. permitam que a criança seja criança, e, num
segundo momento, permitam que ela cresça e
ganhe autonomia.
5. sejam pessoas coerentes, consistentes,
previsíveis, e que ensinem e ajam da mesma
forma.
6. sejam seres falíveis, que admitam seus erros e
peçam desculpas.

Eu acrescentaria que, após pedirem


desculpas, não fiquem relembrando o
fato, a fim de não gerarem uma criança
manipuladora, que utiliza o sentimento
de culpa dos pais a fim de conseguir
tudo que deseja.

Quando os pais ou cuidadores oferecem à criança esse


ambiente acolhedor, cuidador, coerente, leve e sincero, a criança
pode crescer de forma saudável e desenvolver suas habilidades
emocionais.

Porém, quando a criança se encontra em um ambiente


desprovido dessas qualidades, ela irá crescer física e socialmente,
porém seu desenvolvimento emocional ficará seriamente
comprometido, fazendo-a sentir-se ainda mais envergonhada e
humilhada, tentando a qualquer preço esconder sua falhas e
recuperar sua dignidade e autoestima, seu narcisismo ferido.

Quanto ao abuso infantil, outrora ligado quase sempre a


abuso sexual, sabemos que recebeu uma ampliação de seu conceito
por parte dos estudos de Kreisman (Psiquiatra e escritor norte
americano especialista em Transtorno de Personalidade Boderline) e
Bradshaw (autor de livros e programas de tv sobre codependência).

Então, atualmente existem três tipos de abuso infantil:


abuso sexual, abuso físico e abuso emocional.
Vale lembrar que o abuso sexual não se configura apenas
no fato de um adulto manter relação física com a criança, mas
também em algumas formas sutis como:

- Intimidar sexualmente: criar situações, onde a criança


vê ou ouve coisas que a envergonham. Como por exemplo, quando
crianças que por "descuido" dos pais, ouvem ou observam suas
relações sexuais, ou quando adultos observam sexualmente os filhos
e/ou se desnudam de forma sexual na frente das crianças, ou ainda
deixam expostas revistas de cunho sexual.

- Cuidados físicos como aplicar enemas, ou mesmo dar


banho em crianças mais velhas, podem ser uma forma de abuso
sexual disfarçado, mas que a criança, ainda que em uma fase
posterior, percebe com estranheza como algo anormal.

- Ausência de informação sexual adequada à idade: por


exemplo, não falar a uma menina que ela irá menstruar, dizer que a
masturbação causa lesões físicas, etc.

O abuso físico caracteriza-se quando a criança sofre ou


observa qualquer tipo de punição física com alguém da família, como
por exemplo, um pai alcoolizado que chega em casa agredindo
fisicamente a esposa na presença do filho. Isso para a criança é uma
situação mortal.

Pesquisas mostram que geralmente pais que agridem


fisicamente seus filhos apanharam quando crianças.

No entanto, em minha experiência, isso nem sempre se


confirma.

Em minha experiência clínica, pais que foram fisicamente


abusados podem tornar-se condescendentes, não impondo aos filhos
os limites necessários à formação de um “Ser Social”, a fim de não
infringirem aos filhos o mesmo sofrimento pelo qual passaram na
infância.
O trauma costuma produzir reações
extremas. Ou a pessoa se identifica
extremamente com o abusador e age
igual, ou repudia ao extremo suas
atitudes e procura agir de forma
oposta. Em ambos os casos, os
resultados são catastróficos!

Observo também que alguns pais que sofreram outros tipos


de abuso (que não físico) podem tornar-se violentos fisicamente,
projetando sua frustração nos filhos.

O abuso emocional resulta de uma confusão de fronteiras


dentro da família, e há uma reversão da ordem da natureza, quando
são as crianças que cuidam de seus pais e não o contrário.

Esse tipo de abuso não ocorre apenas em famílias


desestruturadas, mas também em muitas das famílias ditas "normais".

Muitas vezes, a criança assume o papel de auxiliar ou até


cuidador da mãe ou do pai, que pede ajuda por ser ele mesmo frágil
e/ou não conseguir se defender de alguma situação abusiva na
família.

Vale relembrar que a criança assume o papel de cuidador,


não porque de fato queira, mas para ajudar os pais, dos quais
depende, ou para não perder o amor deles, caso os contrarie.

E isso pode causar sequelas na fase adulta, uma vez que a


criança não teve suas necessidades infantis satisfeitas ou
respeitadas.

Essa criança pode, assim, tornar-se um adulto pseudo


autossuficiente, visto que aprendeu apenas a cuidar e não ser
cuidado quando precisou.
Ou pode, por outro lado, assumir o papel de vulnerabilidade
outrora exercido pelos pais, perpetuando o ciclo vítima/agressor (ou
abusado/abusador).

A falta de respeito à hierarquia da


relação pais-filho atualmente é
considerada também abuso, pois,
agindo dessa maneira, os pais não
protegem a criança e não a ajudam a
se desenvolver.

Pais que se sentem culpados por não poderem dar a


atenção devida aos filhos por conta do trabalho, ou ainda inseguros
quanto a forma adequada de educá-los, geralmente também rompem
essa hierarquia e deixam que os filhos tenham total controle sobre
eles, cedendo às suas vontades e não impondo limites.

Seja qual for a forma de abuso, o fato é que deixa marcas


profundas, e o adulto acaba por transmitir os traumas à criança pela
qual será responsável mais tarde, perpetuando o ciclo a cada
geração.

Todavia, existem processos automáticos usados pelo ego,


para a criança se autopreservar, toda vez que sofre um grave choque.

Segundo Freud, as defesas do psiquismo ajudam a criança


a separar o que é seu do que é do outro, além de proteger seu
psiquismo de situações consideradas intoleráveis.

Assim, alguns dos mecanismos de defesa como a


negação, a dissociação a conversão etc., formam um sistema de
defesa eficiente.

Esse sistema é definido por Donald Woods Winnicot,


pediatra e psicanalista inglês, como sistema do “Falso Self”, que está
representado pela organização total da atitude social polida e amável,
de não demonstrar abertamente seus sentimentos.
Durante a terapia, demora muito até o indivíduo aceitar se
desfazer do “falso Self” e da fantasia de onipotência, e assumir sua
falibilidade.

Importante lembrar que assumir sua fragilidade não


significa se esconder atrás dela. O terapeuta precisa mostrar ao
paciente que ele possui sim armas a fim de lutar e evoluir
emocionalmente. E quando essas armas estão “enferrujadas”, ajuda-
lo a torná-las mais eficazes.

A criança cria uma forma alternativa


de ser, uma espécie de máscara,
negando ou substituindo as próprias
emoções, na tentativa de esconder sua
condição de abandono e falta de valor.

Com isto, espera ser mais valorizada e aceita pelas


pessoas de seu convívio, deixando de lado (camuflados) a vergonha e
os defeitos antes sentidos.

Segundo Winnicot, na patologia do falso self, há um grande


leque de doenças, como as psicoses, os quadros borderline, a
depressão e o comportamento suicida.

Nas doenças, constatamos os aspectos menos autênticos


(mais falsos) da personalidade, inclusive nas neuroses.

Por isso muitos estudantes de psicologia ou psiquiatria


inicialmente se identificam com todos os transtornos dos livros.
Porque os transtornos nada mais são do que a exacerbação de traços
normais.

Porém, é importante destacar que nem todas as pessoas


que apresentam falso self manifestam os transtornos graves
mencionados por Winnicott.
Nos dias atuais podemos identificar nas redes sociais
pessoas com características do falso self, quando estas expõem uma
vida perfeita, onde vivem em um mundo fantasioso, cercadas por
festas, gente bonita e ostentação.

Essas pessoas não postam frases introspectivas,


momentos negativos ou de conflitos, mas apenas vendem a imagem
de um ser feliz e realizado, ou seja, o que acham que os outros
esperam delas.

E, pior do que isso, é que muitas dessas pessoas com o


tempo passam a acreditar na imagem que criaram.

Se formos investigar mais a fundo, muitos desses adultos


“perfeitos” possuem uma história na infância de sentimentos de
fracasso e rejeição.

Quando falo em sentimento, é porque mesmo que o adulto


ame e valorize seu filho, se ele não conseguir demonstrar esses
sentimentos, a criança pode crescer acreditando não ter sido amada.

Cukier destaca como características do falso self sua


rigidez, pois assim que este se estrutura, o verdadeiro self passa a ser
esquecido, e, com o tempo, a pessoa perde a noção de quem
realmente era, além da lembrança de que ela própria criou um
personagem para si.

E ainda, o falso self possui um sistema de auto-observação


e vigilância permanente, já que é necessário ficar atento para que as
partes rejeitadas não apareçam e façam ressurgir todo o sentimento
de vergonha e inferioridade de antes.

Outro transtorno gerado por um grande trauma é o


Transtorno da Personalidade Borderline ou Emocionalmente Instável.

Você já deve ter observado que existem pessoas que


provocam raiva e até medo por seu comportamento instável,
explosivo e beligerante.

Muitas vezes apresentam acesso de fúria e reclamam das


situações em que se encontram.

Tal transtorno é tão emblemático como originado pela


criança interior ferida que merece um capítulo à parte.

4. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE
BORDERLINE
O Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) pode ser
caracterizado pela notável instabilidade em muitos, senão em todos
os aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo nos
relacionamentos, autoimagem, afeto e comportamento.

O termo borderline, que no português quer dizer fronteiriço


ou limítrofe, foi usado pela primeira vez em 1938, por Adolf Stern,
para descrever um grupo de pacientes que não era favorecido pela
psicanálise clássica e, também, não se enquadrava como neurótico
ou psicótico, possuindo características de ambos os transtornos.

Atualmente considera-se que, além da predisposição


genética, a etiologia desse transtorno está em grandes traumas
sofridos na infância, os quais o indivíduo nunca conseguiu processar.

Devido a essa estreita correlação com traumas de grande


magnitude para a criança, é considerado por alguns pesquisadores
um tipo de Transtorno do Estresse Pós-traumático, pois ocorre
quando a criança é submetida a um trauma violento, uma catástrofe à
qual ela não consegue processar emocionalmente, temendo pela
própria sobrevivência física ou emocional.

Acredito que o outro extremo desse distúrbio seja o


Transtorno de Personalidade Anti-social, mais conhecido como
sociopatia ou psicopatia.

Dentro dessa linha de pensamento, haveria duas reações


extremas ao estresse intenso, o qual a criança não consegue
processar de maneira saudável, gerando o Transtorno do estresse
pós-traumático:

1. Na primeira reação, a criança pode perder sua


“pele emocional” e tornar-se extremamente
sensível e reativa ao mínimo fator de
sofrimento, tornando-se um adulto borderline.
2. Na segunda reação, ela pode desenvolver
uma “carapaça emocional” e daí tornar-se
completamente insensível, principalmente ao
sofrimento alheio, que vem a constituir a
estrutura psíquica do sociopata e do psicopata.

Então, segundo minha teoria, o psicopata e o borderline,


dois transtornos de personalidade tão extremamente diferentes,
seriam duas faces de uma mesma moeda.

O diagnóstico do TPB não é dos mais fáceis, já que esse


distúrbio é compatível com várias outras patologias, chegando a
confundir-se com elas

Judith Herman, psiquiatra norte americana, a partir de


estudos realizados em sobreviventes de vários tipos de traumas, ao
qual denominou de “Síndrome Complexa do Estresse Pós-
traumático”, ratifica que o diagnóstico de “personalidade borderline”
tem causado mais prejuízo do que benefício para o estudo dos
distúrbios de personalidade.

Isso pois, tal como o termo “histérico”, cuja conotação


negativa e pejorativa acabou se tornando um jargão na psiquiatria, a
palavra “borderline” passou a significar, nos últimos anos, manipulador
e criador de casos.

Isso fez com que os pacientes de TPB fossem vistos como


pessoas manipuladoras, quando são verdadeiros heróis que
sobreviveram a fortes traumas na infância, e cujas atitudes de
manipulação são uma busca desesperada de amor, aceitação, e de
aliviar sua dor interna.

É muito comum no consultório


observar que uma adolescente
borderline possui uma mãe igualmente
borderline, ainda que na maioria das
vezes não diagnosticada.
É mais uma vez o ciclo abusado/abusador do qual falei
anteriormente.

Os atos desesperados como as tentativas de suicídio e as


crises de agressividade são gritos de socorro de alguém que se sente
abandonado e perdido.

Quando se encontram em situações-limite, esses


pacientes, inconscientemente, tomam atitudes que ameaçam sua
dignidade e segurança, tais como: dissociação, intrusão, irritabilidade,
impulsividade, fortes mudanças de humor, automutilação, tentativas
de suicídio etc.

O lema interno do paciente borderline


é: “Te odeio, por favor, não me
abandone!”.

Isto porque o indivíduo sente um imenso vazio interior que


não consegue suprir, um sentimento de rejeição e solidão, que o
fazem agir de forma dita “manipuladora”, instável e desesperada,
sensível aos mínimos sinais do que pensa ser rejeição, agredindo as
pessoas que ama a fim de provar sua ideia de que será abandonado.
E obviamente tais atitudes acabam por amedrontar e afastar as
pessoas, confirmando sua teoria.

Quanto á etiologia, o TPB, pode ser causado por fatores


constitucionais e fatores socioculturais.

Quanto aos fatores constitucionais que levam ao TPB, não


há nada consistente na literatura.

Podem estar associados á hereditariedade, pois é bastante


significativa a presença de pais que sofrem do transtorno no histórico
do paciente.

Porém não há como determinar se realmente seria uma


herança biológica ou psicológica (comportamento aprendido), visto
que pais que sofreram grandes traumas na infância e são
emocionalmente instáveis podem vir a infringir involuntariamente
traumas semelhantes em seus filhos, mormente os primogênitos,
época em que esses pais ainda são inexperientes e inseguros na
educação infantil.

Pais que sofreram grandes traumas na


infância e são emocionalmente
instáveis costumam infringir
involuntariamente traumas
semelhantes em seus filhos.

A medicação utilizada pelos pacientes boderline no


tratamento dos sintomas depressivos, apesar do efeito de alívio, não
provoca nenhuma mudança em sua personalidade.

As terapias têm resultados erráticos, geralmente com


pouca melhora do quadro. E o abandono do tratamento, tanto
medicamentoso quanto psicoterapeutico é muito comum.

Segundo pesquisas, a TCC (Terapia Cognitiva


Comportamental) é a que apresenta melhores resultados.

Aos fatores socioculturais, estão relacionados, entre outras


coisas, a falta de uma família estruturada e sólida, uma vez que os
pais atualmente passam cada vez menos tempo cuidando de suas
crianças.

Outrora, o pai saía para trabalhar e a mãe ficava em casa


cuidando dos filhos.

Contudo, as mudanças no comportamento feminino


levaram a mãe ao mercado de trabalho, sem a contrapartida da
redução da carga horária para ambos os pais, fazendo com que, cada
vez mais, o cuidado das crianças fique ao encargo de outras pessoas,
frequentemente pouco preparadas para lidar com as demandas
emocionais da infância, e trazendo elas mesma suas feridas
emocionais.

Portanto, esses fatores contribuem para o TPB, que pode


levar o indivíduo a agir com agressividade verbal ou até mesmo física
contra si e contra as pessoas a sua volta, em determinadas situações.

Essa atitude agressiva nada mais é do que autodefesa,


pois quando o border se identifica com o agressor, ele tende a
antecipar os atos de agressão, disparando contra o mesmo o que ele
acredita que certamente sofreria. É a estratégia de atacar/agredir
antes de ser atacado.

Anna Freud ilustra esse mecanismo de defesa com o


seguinte caso:

“Um menino de 5 anos, normalmente tímido e inibido, tornou-se


completamente agressivo quando pressentiu que a analista ia tocar no
assunto de masturbação. Então ele levantou-se e, de punho com uma
vara e um canivete que sempre trazia consigo, começou a rugir como
leão e atacar a analista. Esta tornara-se uma atitude frequente do
menino, que já tentara agredir a mãe e a avó em casa. E também já
mexia nas facas da cozinha, acenando em atitude ameaçadora. A
análise mostrou que, na verdade, o menino sofria de angústia e, ao
pensar que seria obrigado a confessar todas as suas fantasias e
atividades sexuais, imaginou que seria punido. Daí ele introjetava uma
autodefesa, pois sabia que crianças que faziam tais práticas eram
severamente castigadas pelos adultos, que além de gritar, desferiam
bofetões ou batiam com uma vara, restando ainda a possibilidade de
cortarem alguma parte do corpo (daí o canivete). Portanto, quando o
pequeno paciente assumiu o papel de leão feroz e ameaçou a
terapeuta com uma vara e um canivete, estava dramatizando,
colocando-se no papel do agressor e antecipando a tão temida
punição.”

Os pacientes acometidos por TPB despertaram-nos a


curiosidade científica e a vontade de poder ajudá-los através do
estudo mais aprofundado da origem de seus problemas.

Entretando, o tratamento desse transtorno é extremamente


complexo, exigindo dos profissionais envolvidos uma expertise
específica.

Nesta patologia, os progressos terapêuticos geralmente


são pouco significativos e lentos. Os pacientes geralmente passam
por uma infinidade de médicos sem que tenham algum progresso, o
que pode deixar a família sem esperança de conseguir uma ajuda
concreta.

Conquanto a psicóloga norte-americana Marsha Linehan


tenha desenvolvido a Terapia Comportamental Dialética, a partir de
seu treinamento em Terapia Comportamental e Terapia Cognitivo-
Comportamental, sendo por pesquisadores considerado padrão-ouro
no tratamento de pessoas com TPB. Ainda assim, a abordagem
causa extremo sofrimento ao paciente que acaba por apresentar
muita resistência a ele, com altas taxas de abandono do tratamento.

É exatamente aqui que podemos observar o diferencial do


psicodrama em relação às demais terapias, pois trabalhando com
elementos lúdicos, pode-se retornar à infância de forma espontânea,
rematrizando os traumas vivenciados, sem que o paciente perceba
exatamente pelo que está passando.

Desse modo, a pessoa não se dá conta de que através de


jogos e brincadeiras está se despindo e interpretando suas dores,
traumas e anseios, em direção à cura.

Falar de seus traumas causa um sofrimento dilacerante,


por isso os pacientes com TPB fogem das demais terapias.

Vivenciar esses traumas através do psicodrama torna-se,


portanto, uma abordagem mais leve, menos dolorosa, onde o
paciente sente-se protegido pelo aspecto lúdico da terapia, com
menor taxa de abandono e melhor participação, tornando-se dessa
forma curativo.

Um caso clínico que ilustra bem o sucesso do psicodrama


é o da paciente Lúcia, nome que lhe atribuímos a fim de resguardar
sua identidade. Essa paciente possuía traços de personalidade
borderline, mas era uma profissional bem-sucedida até vivenciar um
forte trauma e ser afastada do seu trabalho, o que desencadeou uma
depressão profunda. Veja o caso:
Lúcia chega ao consultório, como de forma habitual,
apresentando soluços e suspiros involuntários, tremores em todo o
corpo, e a expressão corporal encurvada com os braços
semiflexionados na frágil aparência de um bichinho assustado ou um
bebê desejando retornar ao útero. Conta que seu marido chegou em
casa e, vendo sobre a mesa um cartão de crédito ainda bloqueado que
havia acabado de chegar no nome dela, esbravejou dizendo que a
mesma já estava com a intenção de iniciar novos gastos e que ele não
iria permitir. Nesse ponto a paciente começa a chorar convulsivamente
e repetir: “Eu jamais faria isso com ele, eu confiava nele, eu sempre
dizia que assinaria um cheque em branco pra ele. Como ele foi cruel e
ninguém me defendeu!” A terapeuta (T) pediu gentilmente que
começasse a caminhar lentamente pela sala e fez uma breve
entrevista: T: “O que você está sentindo?” E ela respondeu: “Medo...
medo e solidão”. T: ”Consegue identificar em que parte de seu corpo
está esse medo?” E ela: “Aqui e aqui”, aponta o peito e a garganta. T:
“Que forma tem esse medo? E ela: “Parece uma bola cheia de
espinhos me espetando”. T: “Lembra quando foi a primeira vez que
sentiu esse medo e solidão?. Essa bola de espinho?” A paciente pára
de caminhar, olha ao longe e diz: “Quando meu pai saiu de casa. E
quando meu padrasto faleceu. Por que ele me abandonou?” diz
referindo-se ao padrasto e começa a chorar se encurvando quase ao
chão. T pergunta se quer conversar em pé ou se prefere ficar em uma
posição mais confortável. Ela se deita sobre as almofadas quase em
posição fetal e continua: “Se ele estivesse vivo ele teria me defendido.
“João não teria feito isso comigo”. Nesse momento, a terapeuta coloca
a mão em suas costas, transmitindo-lhe apoio e acolhimento, o que aos
poucos diminui seu choro. Pergunta se ela quer encenar o momento do
seu primeiro conflito com João, seu marido, três anos antes, quando
ele bloqueou sua conta no banco, seu acesso à empresa onde ambos
trabalhavam como sócios, e passou a deixá-la praticamente restrita à
casa, sem dinheiro nem para um táxi. Acena a cabeça que não, mas
quer conversar com o padrasto a quem chama de pai. T pede que
monte a cena do local em que está com seu “pai” e ela inicia colocando
uma almofada em sua frente e pedindo-lhe que relate a longa história
do abuso que estava sofrendo por parte do marido. Então T coloca-se
no lugar da almofada e, substituindo-a, repete a última frase: “Pai, ele
não tinha o direito de fazer isso comigo. Ele não é o João que eu
conhecia”. E ela responde no papel de pai: “Filhinha, pode deixar que
eu vou falar sério com ele. Isso não vai ficar assim!”. Nesse momento,
T repete a cena e no papel do pai abraça a paciente, dando o
acolhimento necessário. Em seguida, T pede que monte a cena do
local em que o pai se encontra com João. Lúcia escolhe sala de sua
casa, João sentado e o pai em pé, em atitude de autoridade. Ao
assumir o lugar do pai, conversa pacificamente com João, dizendo que
o mesmo não deveria ter feito isso com sua filha. Repete-se a cena,
desta vez ela como João e a terapeuta na posição de seu pai. João
responde que teve seus motivos para agir assim. Inverte-se novamente
a cena e a paciente no lugar do pai responde:” Nada justifica uma
atitude dessas”. E retira-se da sala. A paciente é entrevistada no papel
de pai e questionada se o mesmo não deveria ser mais agressivo com
João, dado todo o mal que o mesmo causou a sua filha. Nesse
momento, a paciente sai do papel e responde:”Não. Ele não era
agressivo. Ele só conversaria”. Pede-se que volte ao papel de pai e
converse com a almofada representando Lúcia. A paciente mostra-se
firme ao falar: “Filhinha, seu pai vai estar sempre ao seu lado. Se
quiser, pode vir morar conosco. Você não precisa passar por isso se
não quiser”. Repete-se a cena, desta vez com a terapeuta no papel de
pai. A paciente se emociona, chora aliviada e abraça seu “pai”. Após
esse momento de catarse, a terapeuta faz um gesto de entrega e diz:
“Toma Lúcia, coloca esse pai dentro de você. Na verdade, ele nunca
saiu daí. Ele sempre esteve cuidando de você. Você é que não o
estava sentindo. E agora? Você pode senti-lo?” E ela responde: “Sim.
Eu sinto meu pai comigo. Na verdade, ele sempre esteve aqui (coloca
as mãos no peito). Mas agora eu posso sentir”. A partir desse momento
seu rosto passou a irradiar uma luz especial, de alegria e leveza, e
abriu um sorriso. Seus ombros se ergueram, seus soluços e suspiros
cederam, ela se reaproximou da mãe e das irmãs, começou a sair de
casa, caminhar na praia, dirigir e inclusive planejar abrir um restaurante
com o apoio financeiro da mãe. João, a princípio resistiu a essas
mudanças, mas acabou por respeitar, tornou-se mais carinhoso e
maleável, apesar de não a apoiar financeiramente, porém Lúcia
aprendeu que não precisava mais contar só com ele.

Os pacientes com TPB são geralmente inteligentes e


talentosos, porém, devido ao transtorno, muitas vezes não
conseguem se desenvolver e apresentam dificuldades em concluir os
estudos.

Por isso, não costumam trabalhar e, quando o fazem,


ocupam funções muito abaixo de suas capacidades. Esses pacientes
costumam apresentar crises relacionais, alguns até causam
ferimentos em si mesmos e abusam de medicamentos.

É o caso da paciente Luísa:


Luísa (nome fictício), médica cirurgiã, 35 anos mãe de 3 meninas,
etilismo pesado (ingere diariamente cerveja ou qualquer bebida
alcoólica até “apagar”). Também faz uso diário de cocaína a fim de se
concentrar no trabalho e maconha a fim de dormir. Chegou ao
consultório após uma tentativa de suicídio. Relatou que sua vida estava
se destruindo, que não conseguia mais pagar as contas, organizar as
finanças, nem mesmo ir aos plantões, os quais estava repassando para
colegas. Também cancelava com frequência as consultas e cirurgias de
sua clínica privada, o que estava afastando os pacientes. Acreditava
ainda estar cuidando adequadamente das filhas pois, segundo a
mesma, as meninas não percebiam seu estado de consciência alterada
pelas drogas, e elas conversavam e brincavam normalmente até, como
disse, “apagar”. Na primeira consulta relatou que teria um curso, nos
Estados Unidos, de uma semana no mês seguinte e que iria cancelar,
apesar de já estar aguardando há mais de um ano ansiosamente, por
ser de uma Escola Acadêmica renomada. Pedi que não cancelasse de
imediato, pois juntas tentaríamos melhorar seu quadro a tempo. Com a
medicação, a dieta e a terapia, em 3 semanas a paciente estava,
segundo a mesma, “90% melhor!”. Havia por recomendação tirado
“férias” de seus trabalhos, visto que por não ser funcionária não teria
direito a licença, e estava se preparando para o tão sonhado curso!

Bom lembrar que normalmente casos de tentativa de


suicídio são mantidos em observação por algum tempo, mas, nesse,
em específico, os motivadores sociais me deram a tranquilidade de
que a paciente não faria uma nova tentativa, portanto me senti à
vontade para liberá-la, desde que viajasse acompanhada pela
genitora.

O TPB é o exemplo mais marcante de como as feridas na


infância podem prejudicar a vida adulta. Tal transtorno ocorre em 2%
da população mundial, sendo 75% mulheres.

Um número expressivamente maior de indivíduos sofre


traumas de menores proporções e/ou processa melhor esses
traumas, o que gera transtornos menos incapacitantes ou mais
adaptativos.

É importante ter em mente que, somente identificando a


origem do trauma, o médico ou terapeuta poderá abordá-lo e tratá-lo
adequadamente.
5. AS FASES DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL

Os primeiros anos de vida de uma pessoa são marcados


por grandes transformações e descobertas. Aos poucos, a criança
começa a entender o mundo em que vive e aprende a lidar consigo
mesma e com aqueles que a cercam.
O psiquiatra infantil Fábio Barbirato descreveu com
maestria essas fases do desenvolvimento.

Segundo Barbirato, o bebê passa por várias


transformações desde seu nascimento. De 1 a 4 meses essas
transformações são bastante significativas. Portanto, é importante que
os pais saibam perceber os sinais de satisfação e insatisfação, e não
devem se preocupar se o bebê passa horas olhando as mãos e
observando seus próprios movimentos.

Também costuma ficar horas observando e ouvindo os


movimentos das pessoas ao seu redor, pois começa a entender que
são elas que irão atender às suas necessidades, e a presença dessas
pessoas se torna reconfortante.

Nessa fase, o choro tem vários significados e é um forte


aliado para ter seus desejos satisfeitos. Segundo o autor:

“O choro é a primeira forma de comunicação do bebê com o mundo. É


o modo mais poderoso e eficaz de conseguir chamar a atenção dos
outros, não apenas porque está com fome ou dor. Cada bebê reage de
um modo, mas o choro sempre significa alguma necessidade: fome,
cólica, estar sujo ou molhado, com roupa desconfortável, sono, frio ou
calor e excesso de estímulo são as opções mais prováveis”.

Há uma grande necessidade de estabelecimento de


contato e de laços emocionais entre o bebê e a figura materna, o que
figura como um fenômeno biologicamente determinado.

A comunicação afetiva que se estabelece entre mãe e filho


é de grande relevância no desenvolvimento infantil, no que diz
respeito a aprendizagem.

Essa comunicação, no começo da vida, influencia a forma


como a criança (e, futuramente, o adolescente e o adulto) se relaciona
com as pessoas, tornando-a mais confiante e capaz de ver o mundo
com confiança e otimismo, ou, ao contrário, tornando-a insegura e
propensa à desconfiança e ao pessimismo.
Diante disto, pode-se afirmar que a relação entre mãe e
filho terá grande significância no processo do desenvolvimento infantil
(personalidade, autoestima, aprendizagem).

Na verdade, mesmo crianças que, por algum motivo,


perderam suas mães, são capazes de gerar grande empatia em seus
cuidadores despertando o que costumamos chamar de “instinto
maternal”, o que, do ponto de vista antropológico, continua sendo um
belíssimo mecanismo de sobrevivência do bebê, pois consegue
despertar até em estranhos o instinto de cuidado e proteção. Tal
instinto ocorre até mesmo entre animais de diferentes espécies como
entre homo sapiens, canis familiaris, felis catus, chipanzés ou outros
animais.

O crescimento cerebral é estimulado até os três meses de


idade. Para isso são necessários cuidados como:

1. Não deixar de consultar o pediatra.


2. Favorecer contato físico para que o bebê se
sinta seguro.
3. Contar histórias para o bebê.
4. Disponibilizar objetos coloridos no quarto da
criança (não precisa ser brinquedos).
5. Aprender a decifrar seus gestos, e demonstrar
amor e carinho pelo bebê.

É aqui que você vai aprender a cuidar de sua criança


interior. Sabe aquele momento em que você se sente desconfortável?
É porque certamente seu bebê interior está sentindo alguma
necessidade básica: fome, sede, atenção... Geralmente não damos
importância a esse desconforto.

Para cuidar de nossa criança interior, é


necessário valorizar os sinais de
desconforto e dialogar com nosso
bebê, a fim de confortá-lo.
No período entre 4 e 7 meses o bebê está aprendendo a
combinar as habilidades perceptivas com a capacidade motora.

Lá pelos 5 meses ele começa a perceber o mundo em sua


volta e seus limites corporais. Também passa a se comunicar através
de sorrisos e perceber o princípio da causa e efeito.

Para estimular o crescimento cerebral do bebê nesse


período, é importante que:

1. Tenha contato fisico para ele sentir-se amado e


protegido.
2. A mãe leia historinhas, onde ele a observará e
gostará de ser observado.
3. Faça movimentos rítmicos para ele.
4. Deixe-o perto de outros bebês.
5. Dê-lhe jogos de encaixar.

Se você tiver uma criança interior


ferida nessa fase você deverá amá-la e
protegê-la, brincando com ela através
de jogos, música, dança, esportes,
ajudá-la a fazer amigos...

Pois é o que os adultos fazem intuitivamente quando vão a


festas e participam de atividades esportivas.

Dos 8 meses a 1 ano o bebê já se movimenta sozinho.

Começa a engatinhar aos 8 meses, adquirindo habilidade


necessária para uma separação física da mãe.

Por outro lado, nessa fase, o bebê fica mais angustiado e


pode apresentar dificuldades para dormir e falta de apetite, entre
outras coisas.
Essa angústia explica-se pelo fato dele ainda não estar
preparado para uma separação por não ter gravado a imagem da
mãe. Daí, sente sua ausência quando esta se afasta.

Porém, à medida que o bebê cresce e amadurece,


consegue gravar a imagem da mãe, o que lhe garante uma maior
estabilidade emocional.

Se sua criança foi ferida nessa fase,


você apresentará dependência
emocional, com dificuldade em
superar perdas. Trate-a através da
rematrização, ou seja, seu EU adulto
precisará cuidar de sua criança
interior ferida, mostrando que sempre
estará ao seu lado e nunca a
abandonará. Mas também a ajude a
tornar-se autossuficiente e fazer
amigos.

Para estimular o crescimento cerebral da criança até os 12


meses, é importante que a mãe desenvolva algumas ações como:

1. Ler todos os dias.


2. Conversarcom ela.
3. Fazer brincadeiras que estimulem a memória e
as habilidades motoras finas.
4. Permitir que ela brinque com outras crianças e
conheça novos adultos, além dos familiares.

De 1 a 2 anos a criança, depois de engatinhar, começa a


caminhar e a falar, ganhando cada vez mais independência.

É quando passa a conhecer seus próprios limites e a testar


o dos pais. Esse momento se repete na adolescência e por isso o
modo de tratar sua criança nessas duas fases guarda bastante
semelhanças.
Nesta fase, a criança é curiosa e está pronta para conhecer
muitas coisas do mundo através da exploração do meio que a cerca,
da imitação e de muita imaginação.

O desenvolvimento cerebral e a coordenação fina dos seus


movimentos ocorrem através da estimulação da fala, dos movimentos
e das descobertas que a criança faz nessa fase, o que a levará a
comportar-se de maneira confiante.

Emocionalmente, a criança de 1 a 2 anos apresenta-se


bastante desenvolvida, pois já percebe os estados emocionais de
quem está próximo a ela, sobretudo os pais, mesmo que não os
compreenda.

Nessa fase, os pais devem agir de forma mais severa (sem deixar de
ser amorosos) para impor limites quando a criança insistir em não
obedecer. Porém, jamais fazer uso de violência física ou verbal.

Um tom de voz mais firme, ou uma expressão facial, são o suficiente


pra criança perceber que é hora de ceder. E, mais do que nunca, é
necessário que os pais sejam coerentes em seu comportamento.

Quando advertida da forma adequada, a criança reage


naturalmente e entende o limite ou a crítica que está sendo imposto,
bem como compreende que a crítica é à sua atitude, não à sua
pessoa.

Porém, se essa advertência vier junto a algum tipo de


violência física ou verbal, provavelmente se desencadeará um trauma
pois a criança se sentirá envergonhada, desvalorizada, defeituosa e
inadequada, e, portanto, seu adulto ficará emocionalmente instável
sempre que imaginar-se criticado.

Caso sua criança tenha sido ferida


nessa fase, converse com ela
carinhosamente, fazendo-a entender
que a punição é apenas pela sua
atitude, mas que ela é perfeita, e
apenas está aprendendo novas formas
de comportamento. Mas seja firme e
coerente.

Aos 3 anos de idade a criança já se encontra


emocionalmente mais segura e até ajuda os pais a estabelecer
limites.

É a fase chamada estágio de dependência volitiva, onde as


crianças são capazes de controlar suas necessidades.

Essa fase de limites é importante e deve ser seguida com


firmeza, pois se os pais não o fizerem, a criança poderá se tornrar um
adulto com dificuldades de limites.

Muitos pais fracassam nessa tarefa por carregarem consigo


seus próprios problemas relacionados a limites, quando vivem e
revivem a forma como estes lhes foram passados.

Nessa fase da vida, elas costumam provocar os adultos,


que deverão saber controlar sua agressividade sem ceder às suas
birras.

Elas agem agressivamente quando são contrariadas, e


fazem isso porque ainda não têm o autocontrole do impulso
agressivo, cabendo aos pais instruí-las a controlar e soltar tais
impulsos na hora adequada.

Ou seja, você deve mostrar que compreende que a criança


tem o direito de ficar agressiva em determinados momentos, porém
nem sempre tal comportamento fará com que consiga obter o
desejado.

Existem dois comportamentos igualmente destrutivos por


parte dos pais:
1. Agredir a criança e puni-la por sua birra,
desvalorizando o sentimento dela.
2. Ceder à sua birra, oferecendo a ela o que deseja a
fim de acalmá-la.

Os pais devem permanecer ao lado da criança, conversar


calmamente com ela, mostrar que entendem sua raiva, mas que ela
precisa aprender a controlar sua agressividade, pois com essa reação
ela não conseguirá o que tanto deseja.

Se sua criança foi ferida nessa idade,


converse carinhosamente, diga que
ela tem o direito de se irritar, mas
precisa aprender a se acalmar pois
não irá conseguir o que deseja com
agressividade.

Dos 3 aos 6 anos a criança passa por uma explosão de


descobertas!

Deixa as fraldas, começa o período pré-escolar, os padrões


socioculturais de comportamento se solidificam aos poucos, e o
desenvolvimento físico, motor e intelectual tem um grande progresso!

A criança já é capaz e ir e vir de acordo com sua vontade,


de se expressar usando símbolos e até gostar ou não das pessoas.

Essa é a fase dos “por quês”. A criança quer conhecer


tudo, descobrir tudo, pois existe muita coisa no mundo a ser
descoberta.

Essa curiosidade espontânea só é possível porque a


criança sente-se bem-vinda, confia no mundo e acredita que todas as
suas necessidades serão acolhidas e respeitadas.

Ela busca entender quem é, e o que deseja fazer da sua


vida. A criança até então era egocêntrica, não egoísta, ou seja,
incapaz de entender o mundo segundo o ponto de vista da outra
pessoa. Não conseguia ficar no papel do outro.

Aqui há pais que irão argumentar: “Mas meu filho de 3 anos


sente quando eu estou triste ou com raiva”. Sim, ele percebe suas
emoções, mas não consegue se colocar no seu lugar. Quando ele as
acolhe é à fim de preservar sua própria necessidade de segurança,
amor e conforto.

É somente nesta fase dos 3 aos 6 anos que a criança


começa a aprender a se colocar no papel do outro, entender a sua
dor, e passa a interagir verdadeiramente, no sentido de reciprocidade.

Se a criança for ferida nessa fase, ela se tornará tímida e


insegura, ou não empática, pois não aprenderá a se colocar no lugar
do outro.

Mostre à sua criança ferida que ela é


amada e tem muito valor. Que ela
precisa aprender a reconhecer e
cuidar de seus sentimentos. Assim,
com o tempo, aprenderá a desenvolver
empatia.

Como pode-se observar, a fase compreendida entre o


nascimento e os seis anos mostra-se de grande importância para a
formação da personalidade da criança.

Nesse período, todas as experiências serão decisivas e


poderão ocasionar sequelas no equilíbrio, coordenação e organização
de ideias, caso suas necessidades não sejam supridas
adequadamente.

E por adequadamente, devemos entender, sem excesso e


de maneira coerente.
Esta é a principal fase da vida de uma pessoa, pois o que
acontece nesse período fica guardado para sempre. E os
comportamentos disfuncionais adquiridos se repetem instintivamente
para o resto de sua vida, como um disco arranhado.

Portanto, se vivenciar boas experiências, boa alimentação,


carinho e estimulação sem excessos, com certeza a criança tornar-se-
á futuramente um adulto mais ajustado e coerente, preservando e
aprendendo a adequar sua criatividade e sua espontaneidade.

Quando a criança nasce, ela rompe uma barreira,


passando da matriz materna para um universo novo e diferente, o
qual Moreno denominou Matriz de Identidade, onde é oferecida à
criança uma nova placenta, constituída pelos vínculos com os pais ou
cuidadores e pelas pessoas e coisas significativas que a cercam.

Assim, Matriz de Identidade é o conjunto de condições


psicológicas e sociais no qual a criança é inserida ao nascer, e a partir
da qual se desenvolve dos pontos de vista psíquico e social.

É a placenta social, onde o recém-nascido implanta-se no


grupo social do qual depende para suas necessidades fisiológicas,
psicológicas e sociais do mesmo modo que o ovo, o embrião e,
posteriormente, o feto se implantam na placenta e dela se nutrem e
dependem.

A criança já possui um papel antes mesmo de nascer, ou


seja, ela já tem um lugar na matriz a que pertence. A partir do
nascimento ela receberá toda a herança cultural de sua matriz (grupo
familiar), transmitida de forma a prepará-la para ser inserida no meio
social.

Ao longo de seu desenvolvimento emocional e construção


de sua identidade, a criança passa por cinco fases, assim descritas
por Moreno:
Indiferenciação: é o momento evolutivo em que a criança
ainda não se diferencia das pessoas com quem interage e não
consegue distinguir o que é dela e o que é do outro. É a busca da
identidade.

Reconhecimento do eu: aqui a criança está focada em si,


nos contornos de seu corpo e no reconhecimento de sua imagem no
espelho. Ela passa a se concentrar e explorar o reconhecimento de
suas fronteiras ao perceber que seu corpo está separado da mãe, das
pessoas, dos objetos. Aqui, o Tu serve apenas como instrumento no
processo de reconhecimento do eu.

Reconhecimento do tu: nessa fase a criança já consegue


diferenciar o outro de si, e passa a explorar o que é diferente do eu,
fortalecendo sua identidade. É a fase da exploração do mundo, do
diferente, da descoberta de que o outro tem comportamento
diferenciado do dela. É quando a criança passa verdadeiramente a
diferenciar o Tu.

Pré-inversão: é a fase em que a criança começa a


experimentar se colocar no lugar do outro, porém não consegue ver
outra pessoa em seu lugar. É a fase da imitação, do faz-de-conta,
uma espécie de ensaio e preparação para uma futura inversão,
quando será possível uma reciprocidade. Nessa fase a criança gosta
de imitar, mas detesta ser imitada.

Inversão de papéis: essa fase indica o amadurecimento


emocional da criança, onde ela não apenas consegue se ver
separada do outro como também compreender suas diferenças. Aqui
acontece a inversão de papéis, ou seja, o indivíduo joga o papel do
outro e o outro joga seu papel, com empatia, possibilitando as
condições necessárias para que se realize um verdadeiro encontro,
uma experiência produtora de crescimento e fortalecedora do vínculo
para as duas partes.

Esse conhecimento que a criança vai adquirindo de si


própria, diferenciando-se do grupo, vai proporcionar-lhe sua
percepção enquanto indivíduo no grupo familiar e mais tarde no
social.

Portanto, se essas fases não se desenvolverem


satisfatoriamente, o indivíduo terá dificuldade em cultivar sua
espontaneidade e criatividade no grupo, encontrando empecilhos em
sua vivência no mundo.

Quando a criança atinge o último estágio na Matriz de


Identidade, desenvolve mais dois tipos de papéis: os papéis sociais e
os papéis psicodramáticos.

O primeiro corresponde à dimensão da interação social,


que assume fundamentalmente a função de realidade e forma o eu
parcial social.

Já o segundo equivale à dimensão da fantasia, e mais


individual da vida psíquica, formam o eu parcial psicológico, onde os
papéis sociais existem antes do individual no qual são
desempenhados.

Moreno relacionou as três técnicas


básicas do psicodrama com os três
estágios da Matriz Identidade.

A primeira fase, a da Indiferenciação, está relacionada á


técnica do Duplo ou Dublê, pois nos primeiros meses o bebê é
incapaz de se fazer comunicar por si só, apresentando dependência
total dos ego-auxiliares, no caso a mãe, que serve como mediador, ou
duplo, entre ele e o mundo.

Em uma cena psicodramática, quando o protagonista não


consegue se expressar, o Ego-auxiliar entra na cena e fala por ele,
exprimindo seu desejo ou necessidade subconsciente.

A fase do Reconhecimento do Eu, corresponde à técnica


do Espelho e representa um marco importante no desenvolvimento
da criança.

É quando ela descobre a própria imagem e é acometida


por um misto de estranhamento e êxtase!

Na técnica do espelho, primeiramente o protagonista


encena uma situação, a qual será posteriormente reproduzida por
outra pessoa, enquanto ele assiste no papel de espectador passivo.

Nessa técnica, o indivíduo vê sua imagem representada no


palco, o que causa um estranhamento inicial, assim como o bebê
estranha quando vê sua imagem no espelho. Em seguida vem o
encantamento ou êxtase, no qual o indivíduo se reconhece e passa a
avaliar seus atos do ponto de vista de um observador.

Essa técnica é perfeita e costuma ser utilizada inúmeras


vezes em uma sessão, pois ajuda o personagem a se encontrar na
cena e enxergá-la de forma objetiva. Assim, muitos insights são
obtidos unicamente com o uso dessa técnica fantástica!

Finalmente, Moreno relaciona a fase do Reconhecimento


do Tu, à Inversão de Papéis, que pode ser feita somente quando a
criança for capaz de reconhecer o outro.

Nesta técnica, o protagonista encena com outra pessoa,


onde eles trocam de papéis, de forma que este sinta como é estar no
lugar do outro.

A técnica de inversão de papéis é utilizada no psicodrama


a fim de que o individuo possa atingir a perspectiva do outro, sendo
capaz de captar seu ponto de vista e o dele mesmo, tendo assim
atingido uma importante etapa do seu desenvolvimento emocional.

Porém, quando tratamos de casos de abuso, é necessário


avaliar cuidadosamente a possibilidade de inverter os papéis com o
agressor, pois isso poderá reforçar a identificação com o mesmo e
solidificar a relação de dependência.
Moreno descreve essa técnica em seu poema:
"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres
perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E
arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus. Então, ver-te-
ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."
(Jacob Levy Moreno)

6. COMO A CRIANÇA FERIDA SE MANIFESTA

De acordo com Bradshaw, quando uma criança tem seus


sentimentos reprimidos, especialmente de dor e raiva, ela tem seu
desenvolvimento prejudicado, e cresce com uma criança ferida dentro
de si, a qual futuramente irá contaminar seu comportamento quando
adulto.

Precisamos ver essa colocação dentro de um momento


histórico, pós-guerra, onde a sociedade clamava pela não-repressão.

Hoje sabemos que uma visão radical sobre o tema causou


aos bebês pós-guerra (baby boomers), e se globalizou para todas as
próximas gerações no mundo inteiro, até as atuais, um estilo de
comportamento destrutivo onde o indivíduo se tornou supersensível
as críticas, facilmente traumatizável e hiper-reativo. Vemos essas
manifestações de fragilidade pipocarem a todo momento nas redes
sociais.

Pessoas que se sentem ofendidas por fatos triviais, que


levantam bandeiras como se estivessem em guerra com o resto do
mundo, que choram por se sentirem rejeitadas de alguma forma
quando em muitos casos o observador externo, conquanto fique
sensibilizado com tal sofrimento, não consegue identificar um fato real
que o tenha desencadeado, pois que está localizado unicamente no
interior do indivíduo que sofre.

O medo de traumatizar nossos filhos


gerou o trauma do trauma!
Infelizmente, reproduzimos gerações
de pessoas hiper-reativas, atualmente
conhecidas como Geração Nutella.

Nem a repressão, nem a vitimização. Hoje chegamos ao


consenso de que as filosofias orientais estão muito mais à nossa
frente quando se trata de comportamento humano. O “Caminho do
Meio” é sempre o mais coerente, e, portanto, o mais acertado.

Os traumas da infância podem contaminar a vida do adulto


quando sua criança interior ferida manifesta-se afetando sua vida com
birras, reações exageradas, problemas conjugais, vícios, vergonha
tóxica e relacionamentos prejudiciais entre outras manifestações de
disfuncionalidade.

Uma criança interior outrora negligenciada e ferida consiste


na maior fonte da infelicidade humana.

Sabemos que algumas formas de comportamentos


contaminados são: co-dependência, comportamentos criminosos,
transtornos narcisistas, questões de confiança, atuações impulsivas,
tanto explosivas quanto implosivas, pensamentos mágicos, distúrbios
da intimidade, comportamentos indisciplinados, comportamentos
aditivos ou compulsivos, distorções do pensamento, depressão e
apatia.

Aqui, quando falamos em depressão, nos referimos ao


aspecto não genético, mas desencadeada pelo meio ambiente e pelo
aprendizado social.

Codependência: é uma doença gerada pela perda da identidade. É


estar fora de contato com seus próprios sentimentos, necessidades e
desejos. E caracterizada pela dependência de um indivíduo. Nele,
o codependente não consegue se desvincular ou mesmo estabelecer
um relacionamento saudável com uma determinada pessoa,
geralmente um dependente químico.

Esse comportamento indica que as necessidades pessoais


da criança foram negligenciadas e ela não consegue saber quem ela
é. Portanto enxerga-se pelos olhos do outro.

Dessa forma, as crianças necessitam de um modelo seguro


e saudável de emoções (a fim de entender seus próprios sinais
internos).

Elas também precisam de ajuda para separar seus


pensamentos de seus sentimentos.
Quando o ambiente familiar é preenchido com violência
(emocional, física e/ou sexual), a criança precisa focar somente no
mundo exterior, mantendo-se em alerta a fim de sobreviver, o que
impede seu desenvolvimento (e prejudica sua sobrevivência)
emocional.

Ao longo do tempo, ela perde a habilidade de gerar


autoestima a partir de dentro (de si).

Sem uma vida interna saudável, sua emoção é


compartimentalizada ou isolada para tentar encontrar satisfação no
mundo exterior.

Os codependentes são pessoas cuja baixa autoestima e


sentimento de culpa fazem com que vivam em função da pessoa ou
situação problemática, tornando esse comportamento obsessivo a
razão de suas vidas, sentindo-se úteis e com objetivos somente
quando estão envoltos com algum problema.

Comportamentos criminosos ou agressivos: quando a


criança presencia certas cenas de violência, isso desencadeia
sentimentos de medo e impotência. O adulto que vivenciou tais
traumas, quando exposto a situações que de alguma forma o
remetam às experiências vivenciadas, pode, então, tornar-se tão
brutal quanto seu agressor de outrora. Afinal, em seu subconsciente,
identificar-se com o agressor evitará que o mesmo o extermine.

É o que acontece, por exemplo, com os molestradores de


crianças, que muitas das vezes estão reencenando a experiência de
abuso sofrida na infância.

Porém, nem sempre os abusos são consequências de


experiências semelhantes vividas na infância.

Pais indulgentes ou submissos podem


mimar seus filhos, fazendo com que
estes acreditem serem superiores aos
outros, desrespeitando a opinião e
sentimentos dos demais, tratando-os
como objetos.

Tal modelo de educação também pode gerar adultos


agressivos e abusadores.

Transtorno narcisista: a criança precisa saber que é


amada e se sentir protegida por seus cuidadores, de forma completa
e incondicional. Se essas necessidades narcisísticas não forem
atendidas, seu senso de “EU SOU”, será prejudicado.

A criança é carente por natureza e não por escolha (visto


que ela nasce totalmente vulnerável e dependente do adulto),
portanto, sua necessidade de dependência precisa ser atendida.

Caso contrário, se tornará um adulto com uma fome


insaciável de amor e autoestima, o que desencadeará
comportamentos como desapontamentos em suas relações, busca do
par perfeito, compulsão por sexo, drogas, compras, jogos etc., bem
como necessidade de chamar atenção.

Há pessoas que se tornam atletas e atores, ou políticos,


com o objetivo de terem suas necessidades narcisísticas satisfeitas, o
que Freud define como um mecanismo de defesa do Ego chamado
Sublimação.

O adulto que sofre esse tipo de transtorno procura dar a


seus filhos o amor e admiração que nunca tiveram, mas em troca
deseja que os filhos nunca o deixem, sobrecarregando-os de
cobranças e causando-lhes profundos danos emocionais, gerando
assim outra criança interior ferida.
Tive uma paciente, Ana (nome fictício), a qual era uma moça muito
bonita, vaidosa e inteligente, porém insegura e dependente emocional
dos pais, os quais sempre a mimaram, porém tolheram sua
independência, causando-lhe crises depressivas com tentativas de
suicídio. A mesma era médica veterinária e com auxílio financeiro dos
pais comprou uma clínica franquiada. Com o sucesso da clínica, os
pais se incomodaram e passaram a reclamar que a clínica dava muitas
despesas, e que a filha, por suas crises depressivas que não raras
vezes a deixavam prostrada por um ou dois dias, não daria conta de
ser uma empresária de sucesso. Ana viu sua clínica ser fechada e só
não afundou em depressão pois à época fazia terapia. A moça possuía
uma filha pequena, fruto de um namoro na adolescência. Era sua
companheirinha e “confidente”. Ana passou a namorar um rapaz o qual
apenas estudava e os pais não consideravam uma ameaça, mas, com
suas idéias de independência, os pais proibiram-na de continuar sua
terapia e a mesma se recolheu ao convívio familiar. Algum tempo
depois eu soube que rapaz foi aprovado em um concurso fantástico e
viu-se em uma situação financeira extremamente confortável. Comprou
um apartamento de luxo na nova cidade, o qual Ana ajudou a decorar
com todo seu bom gosto. Porém, Ana não aceitou seu pedido de
casamento, alegando que precisava cuidar dos pais (os quais ainda
eram bem jovens e saudáveis, na verdade). Pouco tempo depois,
recebi outra informação. Ana havia cometido suicídio! Segundo sua
jovem e sofrida filha, agora adolescente, a mãe, enfim, havia
conseguido se libertar! Não sei exatamente o que sua filha quis dizer
com tal afirmação, mas essa frase me marcou profundamente...

Questões de confiança: a criança desenvolve um


profundo senso de desconfiança quando seus cuidadores agem com
desonestidade, fazendo com que o mundo lhe pareça hostil,
imprevisível e perigoso.

O adulto com problemas de confiança acredita que precisa


ter o controle de tudo para que ninguém o machuque.

A primeira tarefa na vida de uma criança é aprender o


senso básico de confiança.

É preciso aprender que os pais são confiáveis, a fim de


poder confiar em si próprio, suas capacidades pessoais, percepções,
sensações e desejos, além de poder confiar nas pessoas à sua volta.

Quem não se sentiu protegido, dificilmente conseguirá


confiar em alguém, pois mantém a convicção de que precisa ser
completamente autossuficiente, com dificuldade em pedir ajuda ou até
mesmo trabalhar em equipe.
Acting Out/Acting In (atuações impulsivas explosivas/
implosivas): a principal força que move a vida do homem é a
emoção, que faz com que a pessoa se defenda e tenha suas
necessidades atendidas.

O medo leva a fugir do perigo e o choro caracteriza um


pedido de ajuda e desperta solidariedade.

Vivenciando a tristeza, há o processamento das perdas e a


liberação da energia para viver o presente.

Sem essa capacidade, a pessoa revive continuamente,


através de situações conflitivas atuais, seus traumas de infância,
vivenciando a dor como se ela estivesse ocorrendo no aqui-agora.

No Acting Out, pode haver o reencenamento da reação à


violência emocional, física ou sexual em suas relações com outras
pessoas, inclusive filhos. A pessoa pode apresentar regressões
espontâneas a comportamentos infantis como birras e gritos,
rebeldias inapropriadas etc.

No Acting In, temos autopunições, como a autocrítica,


autossabotagem, e as somatizações (problemas gastointestinais,
dores de cabeça, dores musculares etc.).

Pensamentos mágicos: as crianças são mágicas, elas


acreditam na literalidade das palavras, não são capazes de entender
a linguagem figurada.

Elas vivem no mundo ilógico e, à medida em que crescem,


vão desenvolvendo um raciocínio abstrato.

A criança ferida dentro do adulto continua pensando de


forma literal. Por exemplo: se eu tiver dinheiro eu estarei bem! um
diploma me fará inteligente! se eu lutar muito o mundo me
recompensará! se meu amor me deixar eu vou morrer!
A criança que cresce com essa ferida torna-se um adulto
inseguro e propenso a decepções, porque possui crenças ilógicas e
irreais. Qualquer pequena frustração abala sua autoconfiança e/ou
confiança no outro e no mundo como um todo.

Distúrbios da intimidade: muitos adultos regridem devido


ao medo do abandono ou o medo de serem sufocados, daí eles vivem
relações destrutivas ou se isolam, ou ainda, na maioria das vezes,
oscilam entre os dois extremos.

A intimidade requer que a pessoa respeite a individualidade


do companheiro, caso contrário, fará do mesmo um objeto, o que o
tornará codependente, uma que vez o relacionamento não está
ocorrendo embasado em sua parte adulta, e sim em sua criança
interior ferida.

Em outras palavras, em uma relação madura, a pessoa


respeita as características individuais do outro, não tenta impor nem
aceita que lhe seja imposto comportamento que não seja seu.

Comportamento indisciplinado: a disciplina é o modo de


reduzir o sofrimento da vida.

Dessa forma, quando o modelo dos pais é falho, a criança


torna-se indisciplinada, protela, berra, suborna, é impulsiva, recusa-se
a adiar gratificações.

Por outro lado, quando agem com muita rigidez, a criança


torna-se excessivamente disciplinada, obsessiva, submissa,
exageradamente obediente, excessivamente agradável, e perturbada
por vergonha e culpa.

Os pais devem educar seus filhos com amor e paciência,


mostrando o que é o certo, evitando críticas ferinas e punições
abusivas. Mas também evitando excesso de mimos e superproteção.
Mesmo quando punem, devem mostrar que é o
comportamento da criança que foi inadequado, e não a própria
criança, dessa forma, mostram aceitação e acolhimento e a criança
percebe que, apesar de seu erro, continua sendo amada.

Na verdade, a criança precisa entender


que ela é um ser especial, mágico,
mas que está em processo de
aprendizado, e todo aprendizado é
feito de erros e acertos. Assim,
estaremos gerando adultos que se
aceitam, e aceitam os erros, como
parte do processo de aprendizado.

Comportamento adictivo-compulsivo: a criança que não


se sente amada pelos pais torna-se uma criança ferida com
necessidades insaciáveis, e irá tentar preencher esse vazio interior
com comportamentos adictivos (de compulsão ou repetição).

A adicção é uma forma de fugir da dor e do sofrimento


através de comportamento autodestrutivo repetitivo ou envolvendo-se
em relacionamento abusivo.

Alguns tipos de comportamentos adictivo-compulsivos são


as compulsões (exemplos: sexo, comida, compras, drogas, álcool,
trabalho, atividades físicas, organização, limpeza etc.). São
comportamentos ocasionados por alterações do humor como tristeza
ou alegria, ou ainda por decepção, com consequências muito
prejudiciais à vida.

Distorção de pensamento: as crianças são extremistas e


costumam confundir seus pensamentos com a realidade.

Na teoria comportamental isso é chamado de pensamento


tudo ou nada. Ou seja, “se você não me ama então você me odeia”.
Ou “se você não quer agora, então você não quer (nunca)”.
O adulto com essa distorção de pensamento costuma, por
exemplo, sentir-se cobrado e alimentar um complexo de inferioridade,
sempre se colocando em desvantagem quando sabe que não pode
atender às necessidades de outra pessoa.

As crianças confundem seus


sentimentos com pensamentos, se
elas se sentem culpadas, pensam que
são crianças más.

No adulto, isso se manifesta através de emoções


negativas, aparentemente sem motivos, que surgem quando
lembranças ruins do passado vêm à tona, ainda que de forma
subconsciente.

Depressão/apatia: quando a criança tem seu


comportamento reprimido, sendo obrigada a ser uma “criança
boazinha”, ela deixa de ser seu verdadeiro EU e passa a representar
o que as pessoas esperam dela.

Isso pode levar a um baixo grau de depressão crônica,


conhecido por Distimia.

A adoção do falso self no adulto gera um sentimento de


apatia, solidão, inferioridade, confusão emocional.

Um caso exemplar é o do João (nome fictício). João chegou ao


consultório apresentando olhar sem brilho, pálpebras e comissuras
labiais rebaixadas, pele pálida e opaca, fala lentificada, e em seu
discurso observou-se ausência de estímulo ou perspectiva de futuro.
Na verdade, ele se encontrava apático e perdido. Apesar de ser
extremamente inteligente, considerado gênio para os padrões da
ciência, ele desde a infância anulara suas intenções de ser jogador de
futebol (habilidade que manteve até a época da faculdade) para tornar-
se médico e realizar o sonho dos pais. Após casar-se com o grande
amor de sua vida, seu comportamento tornou-se mais assertivo, tornou-
se mais forte e dedicado, porém os problemas do relacionamento o
fizeram desacreditar novamente em si mesmo e ele foi se apagando
aos poucos, se anulando e entristecendo. Como a base do seu
tratamento seria a psicoterapia, porém, o mesmo estava de mudança
para outro país, foram feitas algumas orientações e prescrito
medicamento antidepressivo, o qual inicialmente não surtiu o efeito
esperado. Após alguns anos tive notícias de João, já divorciado, porém
não reconstruiu sua vida. Continuando com o ar apático e sem brilho
nos olhos, relatou que não havia se encontrado nas terapias no país
em que está residindo. Infelizmente um caso que ficou sem solução e
uma vida que permaneceu em sofrimento! Atualmente, com a terapia
online, isso não teria acontecido!

Essas são, portanto, algumas formas de comportamentos


que podem contaminar a vida de um adulto.

Assim, você precisa resgatar e curar sua criança ferida,


caso contrário ela permanecerá agindo de forma inadequada e
prejudicando sua vida.

7. COMO IDENTIFICAR EM QUE FASE SUA


CRIANÇA INTERIOR FOI FERIDA
Primeiramente, é importante levar em consideração o que
foi dito no início deste livro: que somos feitos de camadas emocionais.

Portanto, podemos carregar várias crianças feridas em


diversas fases da vida.

Lembre-se: Se você já iniciou o tratamento de uma criança


ferida, NUNCA inicie o tratamento da próxima criança ferida sem
antes encerrar o tratamento da criança anterior.

Isso poderá aprofundar feridas e revivescer dores sem


causar um resultado positivo.

Seu objetivo é tratar sua criança ferida e não apenas trazê-


la à tona.

O entendimento das fases do desenvolvimento infantil e da


Matriz de Identidade auxilia a identificar a fase ou as fases em que
sua criança interior foi ferida.

Porém, a fim de facilitar ainda mais essa identificação, no


livro Homecoming: Reclaiming and Healing Your Inner, Bradshaw
descreve uma série de questionários que serão traduzidos e
reproduzidos neste capítulo, a fim de que você possa, identificando
sua criança ferida, resgatá-la e curá-la.

Importante lembrar que o tratamento com profissionais


especialistas como psicólogo e psiquiatra são importantes e
necessários. Porém, uma vez que você inicie este processo de
autocura, ele irá continuar se desenvolvendo dentro de você por toda
sua vida. Isso porque, neste caso, será seu Eu Adulto que irá se
responsabilizar por cuidar de sua Criança Interior Ferida.

Levar este processo ao conhecimento do profissional que o


acompanha irá enriquecer seu tratamento pois ele poderá orientar
você nas diversas fases do processo terapêutico.

Questionários

Os questionários que você lerá a seguir foram extraídos do


livro Homecoming: Reclaiming and Healing Your Inner, em suas
versões original e traduzida para o português. Eles irão identificar a
fase em que sua Criança Maravilhosa foi ferida em seu narcisismo, e
passou a desenvolver traumas e defesas, os quais atualmente
refletem em sua vida adulta, prejudicando suas relações pessoais e
profissionais, e mesmo sua autoestima.

Cada questionário deve ser avaliado individualmente.


Bradshaw utilizou o termo “índice de suspeita”, pois cada quesito que
você responda “sim” aumenta a probabilidade de você ter sofrido um
trauma naquela fase da vida correspondente ao questionário, bem
como quanto mais respostas positivas, maior a intensidade do trauma
sofrido.

“ÍNDICE DE SUSPEITA. Depois de ler cada


pergunta, espere e entre em contato com o que está sentindo. Se sentir
uma forte energia para o sim, responda sim — para o não, responda
não. Se responder sim a qualquer pergunta, pode suspeitar que sua
criança interior maravilhosa foi ferida. Há vários graus de ferimento.
Você está em algum lugar em uma escala de um a cem. Quanto maior
o número de perguntas às quais você sente que deve dizer sim, mais
profundo é o ferimento da criança que vive no seu íntimo. (Tirei a ideia
do “índice de suspeita” do trabalho pioneiro do falecido Hugh Missildine
no seu livro clássico Your Inner Child of the Past. O Dr. Missildine era
meu amigo e me encorajou muito para prosseguir neste trabalho).”
John Branshaw (1993)
(traduzido)

1. Questionário 0 a 9 meses:
Bradshaw, John. 1993. p.110

1. Você tem ou teve no passado algum vício ingestivo (comer


demais, beber demais ou usar drogas)?
Sim...... Não......
2. Tem dificuldade para confiar na sua habilidade de atender
suas necessidades? Acha que precisa encontrar alguém
para atendê-las?
Sim...... Não......
3. Acha difícil confiar nas pessoas? Acha que deve estar no
controle o tempo todo?
Sim...... Não......
4. Deixa de reconhecer os sinais de necessidades físicas do
seu corpo? Por exemplo, come quando não tem fome? Ou
nunca percebe que está cansado?
Sim...... Não......
5. Negligência suas necessidades físicas? Ignora a boa
nutrição ou não faz exercício suficiente? Procura o médico ou
o dentista só em uma emergência?
Sim...... Não......
6. Sente medo de ser abandonado/a? Sente-se ou já se sentiu
desesperado/a com o fim de um relacionamento?
Sim...... Não......
7. Já pensou em suicídio por causa do fim de um
relacionamento amoroso (seu companheiro/a o/a
abandonou, seu marido/sua mulher pediu divórcio)?
Sim...... Não......
8. Sente com frequência que não se encaixa ou não pertence a
um lugar? Sente que as pessoas não o/a recebem bem ou
que não desejam sua presença?
Sim...... Não......
9. Em situações sociais, tenta ficar invisível para que ninguém
note sua presença?
Sim...... Não......
10. Procura ser tão prestativo (até mesmo indispensável)
nos seus relacionamentos para que a outra pessoa (amigo/a,
amante, esposo/a, filho/a, pais) não possa deixálo/a?
Sim...... Não......
11. O sexo oral é o que domina suas fantasias e o que
você mais deseja?
Sim...... Não......
12. Tem grande necessidade de ser tocado/a e
abraçado/a? (Isto geralmente se manifesta pela necessidade
que você tem de tocar ou abraçar os outros sem saber se
eles querem.)
Sim...... Não......
13. Tem uma necessidade constante de ser valorizado/a
e de que precisem de você?
Sim...... Não......
14. É quase sempre mordaz e sarcástico com os outros?
Sim...... Não......
15. Isola-se e passa muito tempo sozinho/a? Quase
sempre acha que não vale a pena tentar um
relacionamento?
Sim...... Não......
16. Você é geralmente crédulo/a? Aceita as opiniões dos
outros ou “engole tudo que ouve” sem pensar no assunto?
Sim...... Não......

2. Questionário 9meses a 18 meses:


Bradshaw, John. 1993. p.137

1. Você tem dificuldade em saber o que quer?


Sim...... Não......
2. Tem medo de explorar quando chega a um lugar que não
conhece?
Sim...... Não......
3. Tem medo de tentar novas experiências? Quando tenta,
sente sempre que alguém já as tentou antes?
Sim...... Não......
4. Tem muito medo de ser abandonado/a?
Sim...... Não......
5. Em situações difíceis, você deseja que alguém lhe diga o
que fazer?
Sim...... Não......
6. Acha que tem sempre de aceitar as sugestões dos outros?
Sim...... Não......
7. Tem dificuldade em se concentrar na experiência do
momento? Por exemplo, quando está de férias, vendo algo
maravilhoso, preocupa-se com o que tem a fazer em casa?
Sim...... Não......
8. Está sempre preocupado/a com alguma coisa?
Sim...... Não......
9. Tem dificuldade em ser espontâneo/a? Por exemplo, não tem
coragem de cantar de felicidade na frente dos outros?
Sim...... Não......
10. Está sempre em conflito com representantes da
autoridade?
Sim...... Não......
11. Geralmente usa palavras relativas a defecar ou urinar
— como merda, mijo, etc.? Seu senso de humor se relaciona
sempre a piadas de banheiro?
Sim...... Não......
12. É obcecado/a por nádegas? Prefere fantasias sobre
sexo anal, ou a prática dessa forma de sexo a qualquer
outra?
Sim...... Não......
13. É frequentemente acusado/a de ser mesquinho com
dinheiro, amor, nas expressões de emoções ou em
demonstrações de afeição?
Sim...... Não......
14. Tem obsessão por limpeza e ordem?
Sim...... Não......
15. Sente a raiva das outras pessoas? De você mesmo?
Sim...... Não......
16. É capaz de qualquer coisa para evitar conflitos?
Sim...... Não......
17. Sente-se culpado/a, quando diz não a outra pessoa?
Sim...... Não......
18. Evita dizer não diretamente, mas quase sempre deixa
de fazer o que prometeu, fazendo uso de meios indiretos
passivos e manipuladores para justificar ou disfarçar seu
erro?
Sim...... Não......
19. Às vezes você “enlouquece” e se descontrola
completamente?
Sim...... Não......
20. Critica excessivamente as outras pessoas? Sim......
Não......
21. Você é amável com as pessoas e depois as critica e
fala mal delas quando se afastam?
Sim...... Não......
22. Quando é bem-sucedido em alguma coisa, tem
dificuldade em ficar satisfeito e acreditar no que conseguiu?
Sim...... Não......
3. Questionário 3 a 6 anos:

Bradshaw, John. 1993. p.155

1. Você tem graves problemas de identidade? (Para ajudar


nesta resposta, considere as perguntas seguintes: Quem é
você? A resposta vem com facilidade?)
Sim...... Não......
2. Independente das suas preferências sexuais, você sente que
é realmente um homem? Uma mulher? Você superdramatiza
seu sexo (tenta ser homem “macho” ou mulher “sexy”?)
Sim...... Não......
3. Mesmo quando faz sexo no contexto legítimo sente-se
culpado/a?
Sim...... Não......
4. Tem dificuldade em identificar o que está sentindo em um
determinado momento?
Sim...... Não......
5. Tem problemas de comunicação com as pessoas com as
quais convive? (cônjuge, filhos, patrão, amigos?)
Sim...... Não......
6. Tenta controlar seus sentimentos a maior parte do tempo?
Sim...... Não......
7. Tenta controlar os sentimentos das pessoas com quem
convive?
Sim...... Não......
8. Você chora quando fica zangado/a?
Sim...... Não......
9. Esbraveja quando tem medo ou quando é magoado?
Sim...... Não......
10. Sente dificuldade em expressar seus sentimentos?
Sim...... Não......
11. Acha que é responsável pelo comportamento ou
pelos sentimentos de outras pessoas? (Por exemplo, acha
que pode fazer as pessoas ficarem tristes ou zangadas?)
Sim...... Não......
12. Sente-se culpado/a por coisas que acontecem aos
membros da sua família?
Sim...... Não......
13. Acredita que se você agir de um certo modo pode
mudar o comportamento de outra pessoa?
Sim...... Não......
14. Acredita que desejar ou sentir alguma coisa pode
fazer com que se torne realidade?
Sim...... Não......
15. Você aceita mensagens confusas e comunicações
inconsistentes sem pedir explicação?
Sim...... Não......
16. Você age baseado/a em suposições não verificadas,
tratando-as como se fossem informação real?
Sim...... Não......
17. Sente-se responsável pelo problema conjugal dos
seus pais, ou pelo divórcio?
Sim...... Não......
18. Você procura o sucesso para que seus pais fiquem
satisfeitos com eles mesmos?
Sim...... Não......

4. Questionário 6 anos a 13 anos:


Bradshaw, John. 1993.
p.175

1. Costuma se comparar com outras pessoas e sempre se


sente inferior?
Sim...... Não......
2. Gostaria de ter amigos, de ambos os sexos?
Sim...... Não......
3. Costuma sentir-se pouco à vontade em situações sociais?
Sim...... Não......
4. Sente-se pouco à vontade fazendo parte de um grupo?
Sim...... Não...... (Sente-se melhor quando está sozinho/a?).
Sim...... Não......
5. Às vezes dizem que você é muito competitivo/a? Sente que
precisa ganhar?
Sim...... Não......
6. Frequentemente tem conflitos com seus companheiros de
trabalho?
Sim...... Não......
7. E com as pessoas da sua família?
Sim...... Não......
8. Em uma negociação, você (a) cede completamente ou (b)
insiste em fazer as coisas ao seu modo?
Sim...... Não......
9. Orgulha-se de ser rígido/a e literal, seguindo a lei ao pé da
letra?
Sim...... Não......
10. Você sempre procrastina as coisas?
Sim...... Não......
11. Tem dificuldade em terminar as coisas?
Sim...... Não......
12. Acha que devia saber fazer as coisas sem nenhuma
instrução?
Sim...... Não......
13. Tem muito medo de cometer erros?
Sim...... Não......
14. Sente-se extremamente humilhado/a quando é
obrigado/a a constatar os próprios erros?
Sim...... Não......
15. Fica zangado com frequência e critica muito as outras
pessoas?
Sim...... Não......
16. É deficiente nas aptidões básicas da vida (ler, falar
e/ou escrever gramaticalmente, fazer cálculos matemáticos)?
Sim...... Não......
17. Passa muito tempo analisando ou obcecado/a com
alguma coisa que disseram a seu respeito?
Sim...... Não......
18. Sente-se feio/a e inferior?
Sim...... Não......
19. Se respondeu sim, tenta disfarçar isso com roupas,
coisas, dinheiro ou maquiagem?
Sim...... Não......
20. Costuma mentir para você mesmo/a e para os outros
com frequência?
Sim...... Não......
21. Acredita que, por melhor que faça, nunca está
fazendo a coisa certa?
Sim...... Não......

5. Questionário 13 a 26 anos:
Bradshaw, John. 1993.
p.192

1. Você ainda tem problemas com a autoridade paterna ou


materna?
Sim...... Não......
2. Continua a experimentar empregos sem encontrar seu lugar
certo?
Sim...... Não......
3. Não sabe ao certo quem você é?
Sim...... Não......
4. Está comprometido com algum grupo ou causa?
Sim...... Não......
5. Considera-se desleal?
Sim...... Não......
6. Sente-se superior aos outros porque seu estilo de vida é
diferente e não conformista?
Sim...... Não......
7. Alguma vez abraçou alguma fé de sua escolha?
Sim...... Não......
8. Não tem amigos verdadeiros do mesmo sexo?
Sim...... Não......
9. Tem amigos do sexo oposto?
Sim...... Não......
10. Você é um/a sonhador/a, prefere ler livros românticos
e ficção científica a fazer alguma coisa em sua vida?
Sim...... Não......
11. Alguém já disse que você precisa crescer?
Sim...... Não......
12. Você é um/a conformista rígido?
Sim...... Não......
13. Alguma vez questionou a religião da sua juventude?
Sim...... Não......
14. Segue rigidamente algum tipo de guru ou herói?
Sim...... Não......
15. Você fala muito sobre as grandes coisas que vai
fazer, mas nunca faz realmente?
Sim...... Não......
16. Acredita que ninguém passou por tudo que você tem
passado, ou que ninguém pode jamais compreender sua dor
única?
Sim...... Não......

Bradshaw, John. 1993. p.207

PERDÃO

“A recuperação da sua criança interior ferida é um processo de perdão.


O perdão nos permite dar como antes. Cura o passado e liberta as
energias para o presente. O perdão não é um processo sentimental ou
superficial. Fomos realmente feridos e esse sofrimento deve ser
validado e legitimizado. Quando reconhecemos o mal que foi feito,
retiramos o manto mítico com que envolvíamos nossos pais. Nós os
vemos como os seres humanos feridos que realmente são (eram).
Vemos que são crianças adultas revivendo suas próprias
contaminações.”
John Bradshaw (1993)

Uma vez que você conseguiu identificar em quais fases sua


criança foi ferida, irei agora ensinar algumas técnicas de psicodrama
que considero de fácil aplicação e muito eficazes no tratamento dos
traumas da infância.

Mas antes de seguir em frente, peço que releia com


atenção o capítulo “As Fases do Desenvolvimento Infantil”, onde
falo sobre as fases da infância de um ponto de vista mais científico,
bem como da forma com a qual você deve dialogar com sua criança
interior em cada uma das fases, e descrevo as fases do
desenvolvimento segundo Moreno, e as técnicas de psicodrama
relacionadas a cada fase. Isso também ajudará você a entender e
saber se comunicar melhor com sua criança interior ferida.

Bradshaw acrescenta a fase dos 13 aos 26 anos como


adolescência. Isso porque ele considera uma fase em que a pessoa
deseja autonomia, mas, em muitos casos, ainda depende
financeiramente dos pais.
8. COMO RESGATAR E TRATAR A CRIANÇA
INTERIOR FERIDA

O Psicodrama é a forma mais eficaz de tratar a criança


interior ferida.

Para que você possa entender esse processo,


primeiramente explicarei o que é e como funciona esse tipo de
terapia.

O psicodrama foi criado por Jacob Levy Moreno, médico


psiquiatra que também foi o criador do Teatro Espontâneo e do
Sociodrama. Nascido na Romênia em 1892 e falecido nos EUA em
1974.

Para Moreno, o psicodrama procura, com a colaboração do


paciente, transferir a mente “para fora” do indivíduo, e objetivá-la
dentro de um universo tangível e controlável.

Isso quer dizer que o paciente, enxergando a cena


traumática de sua vida e seu comportamento disfuncional decorrente
desse trauma, pode ter um olhar objetivo, de observador externo, e, a
partir daí, modificar sua forma de interpretar os fatos e sua reação a
eles.

A partir da observação do comportamento da criança,


Moreno formulou a ideia de que o ser humano tem fome de ação
física e mental.

Essa fome faz com que as crianças aprendam muitas


coisas muito antes de começar a falar, vivendo e absorvendo o seu
meio intensamente.

Moreno atribuía a capacidade que a criança tem de


envolvimento alegre com a vida, à espontaneidade (Fator E) e à
criatividade (Fator C), que são os pilares da saúde mental e física.

A educação, pelos cuidadores, e


posteriormente a imposição da
sociedade, gera medo, limitações, e
perda da espontaneidade e da
criatividade. A perda dos fatores E e C
geram o adoecimento.

Esse é o problema central da humanidade, uma vez que o


ser humano tem que encarar a vida e seus obstáculos ultrapassando
barreiras, e isso exige flexibilidade, o oposto da conserva cultural
(termo usado quando uma ação espontânea passa a ser repetida com
finalidade específica, cristalizando aquela ação como resposta padrão
a determinado fato ou momento).

Se por um lado as “conservas” são necessárias pois


formam o conhecimento (exemplo: papel de médico, advogado,
motorista, professor), por outro, nos roubam os dois elementos
essenciais à saúde (E e C).

O psicodrama é um método que articula teoria e técnicas


do teatro, da psicologia e da sociologia.
Moreno descreve essa forma de teatro como o Teatro do
Êxtase, pois faz com que o indivíduo saia de seu mundo limitado e
ultrapasse as fronteiras.

As pessoas têm liberdade para atuar como desejarem,


deixando aflorar suas fantasias mais íntimas.

Nesse momento, por exemplo, os homens podem


desempenhar o papel de mulheres, e vice-versa, os jovens podem
representar os velhos, e vice-versa, uma pessoa pode ser um avião,
ou qualquer tipo de objeto, uma parte do corpo, uma idéia, ou mesmo
Deus!

Tudo isso ajuda a entender o outro, a vida, a situação, pois


como se disse, colocar-se no papel do outro é fundamental para o
desenvolvimento emocional.

Todos os possíveis personagens e sentimentos são


trazidos para o encontro com alguém ou alguma coisa, ou com partes
do self, havendo sempre uma relação entre eles.

Esse mundo sem limites, em que a pessoa fica liberada do


mundo real, é o que Moreno chama de “realidade suplementar”.

Através da dramatização, o psicodrama explora os


sintomas, os conflitos, os mecanismos de defesa, os acontecimentos
marcantes. Ou seja, investiga como a pessoa se sente no “aqui-e-
agora”, não só por meio da fala, mas da ação. E nada é mais
libertador do que a ação!

Contudo, a dramatização é o elemento essencial do


psicodrama, e tem como objetivo o resgate da espontaneidade-
criatividade, constituindo a primeira lição de espontaneidade.

Finalmente, a dramatização é uma forma de fuga da


realidade, na qual o contexto psicodramático possibilita reviver o
passado, clarear o presente e antecipar o futuro, e observar tudo “de
fora”, sem as dores tão intensas e as consequências da vida real.

A pessoa que sofreu um trauma na infância desenvolve


comportamentos prejudiciais a suas relações intra e interpessoais,
devido a papéis disfuncionais cristalizados ao longo do tempo e da
repetição.

É necessário na terapia desfazer esses comportamentos e


substituí-los por outros mais saudáveis. Por isso, no psicodrama, faz-
se tanto treinamento de papéis. Como nas faculdades atuais onde
existem disciplinas especialmente para o treinamento profissional.

Simular diversas vezes uma entrevista de emprego, ou um


diálogo com alguém, ajuda a escolher as melhores palavras e formas
de se atingir o objetivo, assim como analisar as palavras ou
comportamentos contraprodutivos, e avaliar o porquê de suas
manifestações.

O treinamento de papéis no psicodrama é uma ação onde


a ausência de limites reais de tempo e espaço é um recurso fértil para
a elaboração de conflitos, para preparar a espontaneidade-
criatividade e para corrigir as distorções cognitivas.

Afinal, a transformação se dá na própria consciência, já que


a consciência se dá no próprio ato!

O desempenho de papéis proporciona ao sujeito a


oportunidade de libertar as emoções e os sentimentos que estavam
aprisionados, impedidos de ser expressos por causa dos papéis
sociais cristalizados, rígidos.

A espontaneidade, para Moreno, é uma nova resposta a


uma velha situação uma ou uma resposta adequada a uma nova
situação.
A espontaneidade e a criatividade são recursos inatos,
fundamentais para o desenvolvimento saudável do homem.

A espontaneidade precisa estar vinculada à criatividade,


caso contrário, teremos o bobo espontâneo, incapaz de dar respostas
adequadas a situações ou o gênio criativo tolhido, enrijecido, incapaz
de ser espontâneo. Em ambos os casos não haverá um
comportamento construtivo e bem suscedido.

Na visão de Moreno, o homem é um ser social que, diante


de sua fragilidade biológica, precisa pertencer a um grupo para
satisfazer suas necessidades básicas, desde que nasce até seus
últimos dias de vida.

Segundo Rosa Cukier (1998), o drama da criança ferida,


que vive dentro de nós, fala de um momento na vida no qual nosso
narcisismo foi fragilizado e nosso psiquismo se mobilizou.

Então, a Criança Maravilhosa, com toda a sua


espontaneidade, criou um “remédio” específico para o mal que nos
acometia.

O problema é que esse “remédio” foi guardado, feito pedra


preciosa, a fim de ser usado cada vez que outra ameaça à nossa
autoestima aparecesse pelo caminho”.

Entretanto, o medicamento que serviu na infância não


surtirá o mesmo efeito no adulto, pois suas experiências de vida já o
transformaram e fortaleceram, e mesmo as vivências atuais, por mais
que lembrem as da infância, não são as mesmas e precisam ser
encaradas de uma nova perspectiva.

Como dito, esse comportamento “congelado”, ao contrário


da espontaneidade anterior, é um sinal de adoecimento.

Segundo Jacob Levi Moreno,


adoecemos quando perdemos nossa
espontaneidade e nossa criatividade.

Portanto, é preciso buscar uma solução para curar essa


criança ferida, a qual habita dentro de todos nós.

Cukier diz que o psicodrama tem representado, para a sua


vida, a melhor assistência técnica para discos rasurados, que jamais
obteve em lugar algum.

Isso porque o trauma gera comportamento repetitivo que


não se adequa à situação atual, como os discos rasurados ficam
repetindo o que está impresso no local da ranhura, mesmo aquele
segmento da música não se adequando ao contexto, se tornando
repetitivo, incômodo e indesejado.

Cukier acredita que o psiquismo humano se estrutura em


torno de uma economia narcísica, ou seja, desde o dia que nasce até
provavelmente a morte, o indivíduo busca determinar quem é
realmente e qual é o "valor" que tem para os outros e para si mesmo.

Esses critérios de valor se modificam, ou não, com o


passar do tempo, mas seremos sempre pessoas em busca de nosso
valor.

O problema é que tal valor é buscado no outro. No que o


outro pensa de nós. Ou no que esperamos que o outro pense de nós,
por não confiarmos em nossa própria opinião ou por não acreditarmos
realmente possuir tal valor.

O psicodrama possui técnicas capazes de desprender você


de sua identidade básica, permitindo que veja além do que seus
próprios olhos podem ver, ao ocupar o papel do outro, ou ao sair do
seu papel e se colocar na posição de observador de sua própria cena.

Através do psicodrama, podemos caracterizar e concretizar


a criança interna, conversar com ela, trocar de papel etc.
A terapia só começa, de fato, quando
você identifica sua criança interior,
pois a partir desse momento, deixa de
transferir a culpa de seus problemas
aos outros, inclusive a seus pais, e
passa assumir sua responsabilidade
pelas próprias dificuldades.

Porém, é difícil para o paciente fazer acordo com sua


criança interna ferida, uma vez que esta tornou-se teimosa e
inflexível, disposta a não ceder enquanto não tiver suas vontades
satisfeitas.

Mas infelizmente, ninguém pode lhe devolver o passado,


que é justamente o que ela mais deseja.

Então, você, no papel de adulto, deve fazer acordos com


sua criança, ajudando-a a lidar com as frustrações e não agir com
uma agressividade ou passividade destrutiva diante de situações que
lhe desagradem, buscando soluções práticas e eficazes para suas
questões atuais.

Esse processo precisa ser compartilhado (sharing) com um


ouvinte, o qual pode ser um amigo ou um terapeuta que saiba validar
suas necessidades da infância. Mas é importante que esse ouvinte
não questione, argumente ou aconselhe, pois seu papel é apenas o
de apoiar através da escuta passiva.

Então, vamos à
ação!

Inicialmente, você precisa trazer de volta os sentimentos de


sua infância, o que pode ser feito através da observação de uma outra
criança ou ainda de uma foto de sua própria infância.

Procure sentir os verdadeiros sentimentos da infância,


como medo, dor, abandono e raiva, bem como os sentimentos de
alegria, fé, encantamento, sem tentar camuflá-los.

Faça esse trabalho até conseguir se projetar no passado e


se sentir como realmente sendo a criança que outrora você foi.

Quando perceber que entrou no papel de sua criança,


procure escrever cartas ou gravar áudios falando o que sente, o que
pensa, mesmo que seus pensamentos sejam confusos. Aqui é sua
criança se manifestando e dependendo da idade pode ser que sua
comunicação verbal não seja tão boa, assim como seu entendimento
da realidade externa.

Não tente seus pensamentos em ordem. Apenas expresse


o que sente sem medo de julgamentos e, principalmente, sem
autojulgamentos.

Concluída essa fase, volte para seu


“eu” atual e respire fundo, tome um
copo de água. Agora você irá entrar
em um outro papel!

Pense em alguém que você admira por sua sabedoria e


clareza de pensamento. Busque no seu convívio ou mesmo na
internet pessoas que você admira e confia. Busque também entre
conhecidos, próximos. Junte todas essas qualidades. Agora você
reunirá as melhores características dessas pessoas!

Feche os olhos e se imagine com mais idade, ou apenas


como alguém mais sábio, bondoso, amoroso, capaz de cuidar e
apoiar, defender, proteger e nutrir sua criança ferida e curar suas
dores.

Você se tornará a pessoa que vai cuidar da forma correta,


apoiar e amar de maneira incondicional, incentivar, ensinar, acalmar e
ajudar sua criança interior a amadurecer sem os traumas que ela
atualmente apresenta.
Isso no Psicodrama chamamos de rematrização. Pois você
irá reconstruir o papel da mãe assertiva à qual sua criança, em alguns
momentos cruciais, não teve acesso.

Agora, no papel de sábio(a), escreva cartas ou grave


áudios de apoio e carinho à sua criança interior e faça com que ela se
sinta querida. É importante que o adulto sábio reserve sempre um
tempo para meditar e dialogar com sua criança interior. Esse diálogo
deve acontecer não só durante a terapia mas por toda a vida, pois por
mais que você consiga curar sua criança, ela sempre continuará
existindo dentro de você. Já o adulto sábio você irá introjetar, para
que ele passe a fazer parte de sua personalidade, pois isso o ajudará
não só a lidar com sua criança, como também com outras situações
da vida.

Lembre-se: esse adulto sábio é você!


Com o tempo você irá introjetar toda
essa sabedoria e clareza de
pensamentos, a fim de guiar sua vida e
ajudar sua criança interior ferida
sempre que ela se manifestar (pois
isso ainda poderá acontecer ao longo
de meses ou até anos).

O Psicodrama não se limita apenas à compreensão do


passado, mas, além disso, integrá-lo ao presente e projetá-lo no
futuro.

Para tanto, utiliza-se da realidade suplementar, a qual inclui


algumas técnicas como: inversão de papéis, onirodrama, jogo de
Deus, projeção no futuro, loja mágica, etc.

A projeção do futuro é onde o paciente descreve e encena


como se imagina no futuro, representando seus desejos e projetos.

Através desta técnica é possível fazer um encontro entre o


"eu do futuro" e o "eu do presente", e ambos conversarem. Há
pessoas cujo “eu do futuro” dá conselhos de como agir ou para mudar
seu estilo de vida a fim de atingir um resultado melhor do que se
encontra no futuro.

Então, agora, você, como uma pessoa sábia, amorosa e


cuidadora, irá demonstrar à sua criança interior todo o amor que sente
por ela, e o quanto ela é importante e valiosa. Para isso, escreva uma
carta para ela ou deixe uma mensagem gravada em áudio.

Mas faça isso de forma que ela possa ler ou ouvir quantas
vezes quiser de agora em diante.

Você poderá gravar ou escrever quantas mensagens você


quiser, dizendo tudo que sente de bom e tudo que enxerga de bom
em sua criança.

Este é apenas um exemplo:


Agora respire fundo novamente, tome outro gole de água, pois
você irá viajar ao passado, e se tornar sua criança de outrora. Aquela
criança linda e perfeita que está sofrendo, confusa e ferida com o
mundo a seu redor.

No papel dessa criança, leia ou ouça a mensagem do seu


adulto. Mas faça isso com calma, com atenção, de coração aberto.
Esse adulto é diferente dos outros. Afinal ele conhece você
mais do que ninguém e sabe exatamente quais são suas
necessidades

Além disso, esse adulto é sábio, maduro, bondoso e


cuidadoso, e saberá tratar você com o amor, carinho e atenção que
você merece e precisa.

Após ler ou ouvir a mensagem, escreva algo para essa


pessoa tão sábia e amorosa, que está disposta a cuidar de você!

Você pode escrever qualquer coisa. Falar de seus medos e


desconfianças, falar o que aconteceu que deixou você assim tão
triste, até dizer que não confia nele, se for o caso.

Você precisa falar a verdade sem medo, pois será através


do diálogo que vocês irão se conhecer e formar um vínculo de
confiança.

Esse vínculo é fundamental para curar você!

Eis um exemplo de carta que alguém escreveu:


Cada criança tem sua forma de se expressar. Você pode ou
não confiar no adulto sábio, e precisa dizer o que pensa e sente, do
fundo do coração. Pode ser uma carta ou áudio breve ou curto. Não
importa. O que importa é que você manifeste seus sentimentos,
dúvidas, medos, desejos e esperanças.

Pronto! Agora que você falou tudo que precisava falar,


pode ficar tranquilo e sair do papel de criança.
Volte ao aqui-agora, volte a ser a pessoa que você é no
momento atual, respire fundo, e se prepare para assumir o papel do
seu adulto sábio e amoroso.

Mas não se preocupe, Tal processo de troca de mensagens


será longo e poderá demorar vários dias. Tire um momento do seu dia
para isso.

Marque um encontro entre sua criança e seu adulto sábio.

De preferência, deixe um momento diariamente pré-


reservado para que eles saibam o quanto você está envolvido e
empenhado em seu processo de cura!

Haverá trocas de mensagens até que sua criança se sinta


querida, protegida, amada e aceita. Ela deverá ter a certeza de que
seu cuidador sempre a defenderá e nunca a abandonará.

É muito importante que a criança ouça repetidamente


palavras de incentivo, conforto e segurança. É importante também
que a criança aprenda que ela pode expressar seus sentimentos
como raiva, angústia vergonha, vulnerabilidade e tristeza, pois o sábio
idoso será capaz de acalentá-la e enxugar suas lágrimas sem
recriminá-la.

Quando a pessoa tem sua criança ferida até os 9 meses,


não há lembranças dessa fase, porém muito pode ser descoberto
através de relatos de seus familiares.

Nos estágios de exploração (9 a 18 meses) e de separação


(18 meses a 3 anos), a pessoa já pode possuir algumas recordações,
e é necessário perguntar quem fazia parte de seu núcleo familiar,
quem o disciplinava, se havia irmãos mais velhos ou mais novos,
quem estava presente quando ela precisava, e se sentia nessa
pessoa acolhimento e proteção.
Nesse estágio, é importante também que a criança saiba
que não há nada de errado em depender de alguém e que ela não
precisa ter vergonha de expressar seus sentimentos.

Na fase da identificação sexual (dos 3 aos 6 anos de


idade), surgem muitos questionamentos. Famílias disfuncionais
costumam reprimir demasiadamente a criança, fazendo-a pensar que
seus questionamentos são inapropriados, gerando o que Bradshaw
denomina vergonha tóxica, que se configura como um sentimento
patológico de vergonha gerado por uma autocrítica exacerbada.

Outros fatores que podem causar vergonha tóxica são:


brincadeiras sexuais na infância, incesto físico ou emocional, modelo
pobre de intimidade, excesso de informações e atribuição de
sentimento de culpa.

Nessa fase também é fundamental que o idoso manifeste


seu apoio a criança interior ferida através de cartas. Exemplo:
Na fase dos 6 anos a puberdade, é onde se desenvolvem
as capacidades pessoais. A força do ego se encontra na
competência, e esta é adquirida através do estudo e do
conhecimento.

Os relacionamentos se tornam de extrema importância e,


como para desenvolvê-lo é necessário saber lidar com a
interdepedência e cooperação, pessoas com problemas de intimidade
terão dificuldade nessa fase, o que resultará em sentimento de
inferioridade e inadequação.

Esta é a fase em que a criança se encontra mais suscetível


ao abuso emocional. Um exemplo clássico do abuso ocorrido
frequentemente nessa idade é o bullying. Sendo envergonhada
publicamente por adultos ou por outras crianças na escola, na rua, na
igreja ou na sua própria casa, ela irá sentir-se inútil, inferior e
inadequada.

Quando a criança pertence a uma


família disfuncional, dificilmente suas
necessidades de afeto e segurança
serão supridas.

Através de terapia familiar, os aspectos disfuncionais


poderão ser trabalhados para que essa família possa realmente dar o
suporte do qual a criança necessita.

Porém, algumas vezes, esse trabalho com a família não é


possível, e nesses casos, é aconselhável manter uma distância
segura e procurar uma “família substituta” para lhe fornecer o devido
apoio, que pode ser um grupo de apoio, amigos, terapeuta, etc.

Tais casos são raros, mas existem, como crianças que


foram abusadas sexualmente por ambos os pais, e ao tornarem-se
adultas não conseguem refazer o vínculo afetivo e de confiança.

Como você pode perceber, o tratamento de sua criança


exige que esteja disposto a se submeter a um trabalho contínuo a fim
de tratá-la.

Não é difícil, mas demanda tempo, carinho e dedicação. Só


inicie quando você realmente estiver disposto a levar o processo até o
fim. Sua criança não pode sentir-se abandonada ou não amada de
novo!

Lembre-se dos passos:


1. Identificar sua criança interior ferida e em qual ou quais
fases ela sofreu o trauma. Para isso procure se lembrar,
pergunte a familiares e responda aos questionários das
fases. O conhecimento das fases do desenvolvimento infantil
é de extrema importância para identificar essas fases.
2. Resgatar essa criança. Lembrando que se for em várias
fases você precisa tratar uma criança de cada vez. Aqui, o
capítulo que fala das fases do desenvolvimento infantil
também será extremamente útil, dessa vez para que seu
adulto sábio possa entender como agir diante da criança,
qual a melhor abordagem e o que ela sente, a fim de que o
resultado seja mais satisfatório.
3. Tratar sua criança interior ferida. A troca de mensagens, o
uso de jogos, música, dança, brincadeiras, tudo que for
lúdico, irá estimular o tratamento. Lembre-se que você está
lidando com uma criança, mas mesmo adultos adoram jogos
e diversão. Afinal, e através deles que liberamos nossa
criatividade e espontaneidade, e restabelecemos nossa
saúde!

Ao final do tratamento, todo mundo consegue progresso na


cura da criança ferida, sendo que o progresso dependerá do momento
terapêutico em que você se encontra no processo de cicatrização.

Pois cada indivíduo possui suas próprias necessidades e


seu ritmo de cura, além do que algumas pessoas já fizeram bastante
progresso através de terapia, enquanto outras necessitam começar o
trabalho “do zero”, desde a construção dos seus alicerces.

Independente da fase em que a pessoa se encontra, todo


processo terapêutico é formado por etapas, as quais deverão ser
colocadas em prática até que o processo seja concluído.

O mais importante é que, se você colocar em prática o que


aprendeu nesse livro, irá, enfim, curar sua criança interior ferida,
possibilitando uma vida tranquila e emocionalmente saudável!
9. ETAPAS DO PROCESSO TERAPÊUTICO DA
CRIANÇA FERIDA

A partir da identificação das etapas do psicodrama, das


teorias do desenvolvimento infantil, bem como do modelo
psicodramático fundido ao modelo proposto por Bradshaw, bem como
minha experiência clínica, criei um quadro resumido para que você
siga facilmente seu trajeto de cura emocional. Veja:

Aquecimento inespecífico:

Ocorre através de músicas, contato visual e táctil, podendo-


se utilizar aromas, além de exercícios respiratórios (por exemplo
exercícios de Yoga) e alongamentos, tocar em objetos ou saborear
algo que lembre a infância, entre outros estímulos sensoriais.

Você pode acender velas, ligar um aromatizador, tomar um


banho morno ou frio relaxante, enfim, buscar formas de sentir-se
confortável e relaxado a fim de iniciar essa vivência. Gaste o tempo
necessário para atingir esse estado de relaxamento pois cada etapa é
de extrema importância.

Aquecimento específico da criança interior:

1. Reler o questionário relativo às fases em que se encontra a


criança interior ferida. (Você poderá consultar os
questionários no capítulo Como Identificar Em Que Fase Sua
Criança Interior Foi Ferida). Após identificar a/as fase/s em
que sua criança foi ferida, seu trabalho irá se iniciar pela fase
mais antiga, onde sua criança era mais novinha.
2. Sensibilização através de músicas, alimentos, jogos e
brincadeiras da sua infância, bem como imagens (fotografias
ou vídeos), a fim de despertar suas memórias. Ou ainda
observando alguma criança que se encontre nessa idade.

Demore o tempo que for necessário até conseguir acordar


sua criança interior, fazendo com que ela possa se manifestar
plenamente.

Você perceberá que isso aconteceu, quando as memórias


de sua infância se tornarem muito vívidas e carregadas de emoção.

Aquecimento específico do adulto sábio:

1. Utilizar o processo descrito onde você lembra de pessoas


que você admira pelo seu alto valor de serenidade, cuidado
para com o próximo, capacidade de amar e acolher,
coerência, sabedoria; e fazer uma fusão dessas pessoas,
criando para si um alter-ego que seria seu adulto mais sábio,
cuidador e amoroso do futuro.
2. Esse alter-ego deverá se apresentar a você, dizendo quem
é, como ele pensa, quais seus valores, o que ele faz e como
pretende cuidar de sua criança interior.

Você precisa ter a certeza de que esse adulto poderá defender e cuidar de sua
criança. Essa personalidade calma, sábia, cuidadora e amorosa precisa estar solidamente
construída antes que você inicie a dramatização em si.

Dramatização

Primeira fase:

1. Trazer, através da projeção de futuro, e fusão de


personagens, como já descrito, seu adulto talvez mais idoso,
e com certeza sábio e bondoso, capaz de acolher, amar,
cuidar, defender e educar sua criança ferida,
2. Converse com ele e explique a situação sobre sua criança
ferida, e deixe que a partir de agora ele cuide, resgate e cure
as feridas dessa infância, pois ele será o pai amoroso dela.
3. Durante o diálogo, trabalhe sempre com a inversão de
papéis: coloque uma almofada em sua frente, para que ela
represente o adulto sábio, e fale com ele. Após falar tudo que
deseja, inverta os papéis, troque de lado, e coloque a
almofada, agora representando você, enquanto você assume
o papel do sábio que irá conversar sobre o que pensa e
sente, e o que pretende fazer com respeito à sua criança
interior.
4. No papel de sábio, escreva cartas ou grave áudios de
carinho e apoio incondicional a essa criança, conquistando
sua confiança, a fim de apoiá-la e auxiliar em sua cura. Esse
sábio adulto é seu eu, e conhece sua criança ferida mais do
que ninguém. Então, ninguém melhor que ele para saber
exatamente o que sua criança precisa ouvir a fim de voltar a
sentir-se bem.
5. Deixe que ele fale com ela a vontade, até que ela se sinta
completamente acolhida.

Segunda fase:
1. Trazer, através da regressão à sua infância, a criança interior
ferida, conversar com ela, e explicar que agora ela terá um
adulto cuidador e amoroso que está preparado e deseja
cuidar dela com todo amor que ela merece, pois ela é
maravilhosa e merece esse cuidado;
2. Permita que ela fale com você, lhe faça perguntas, através
da inversão de papéis.

Terceira fase:

1. Quando ela entender e aceitar, deixe que ela se comunique


com o idoso através de cartas ou áudios (mesmo que na
idade em questão a criança não soubesse escrever, isso
torna-se possível através da realidade suplementar).
2. Você deve permitir-se trocar os papéis sucessivamente, a fim
de possibilitar a comunicação frente-a-frente entre os três
personagens até que o idoso consiga conquistar a confiança
de sua criança ferida.
3. O idoso deverá validar os sentimentos da criança, apoiá-la,
defendê-la através do trabalho psicodramático de cenas
traumáticas que deverão ser trazidas ao palco e
reencenadas quantas vezes for necessário até que a criança
consiga sentir-se adequadamente nutrida, rematrizando
assim os papéis originais cuidador-criança.

Lembre-se que se você preferir, poderá solicitar a ajuda de


seu terapeuta em algumas fases desse processo.

Uma observação é que, no trabalho com diretor e egos


auxiliares, (caso você decida fazer esse trabalho acompanhado por
um psicoterapeuta psicodramatista), pode-se usar as técnicas do
espelho, a fim de que o paciente reconheça seu idoso bem como sua
criança interior, e do duplo, a fim de auxiliar a criança a comunicar
seus medos e necessidades, quando ela estiver encontrando
dificuldade em fazê-lo.

Porém esse trabalho com egos auxiliares não é necessário


para o bom desenvolvimento desta autoterapia.
4. fechar cada cena com o idoso abraçando e reafirmando à
criança seu apoio, amor e proteção incondicionais. Você
deverá introjetar aos poucos o papel do idoso para que o
mesmo possa ser invocado sempre que sua criança ferida
vier a manifestar-se.

Não se esqueça de que sua criança passou muitos anos


ferida. Ela demandará tempo até sentir-se completamente curada. Os
resultados iniciais serão maravilhosos, mas só irão se consolidar com
o tempo.

5. Repita o processo da troca de cartas quantas vezes for


necessário, até que sua criança interior esteja
completamente curada.

4) Compartilhar – retornar ao papel atual, e conversar com


algum amigo íntimo ou com seu terapeuta, recebendo seu
acolhimento.

É importante, nesse momento, que essa pessoa não


manifeste opinião ou critique, mas apenas compartilhe suas próprias
experiências, para que você se sinta acolhido e compreendido, visto
que acabou de reviver seu drama e estará muito sensibilizado.

Existe uma tênue, porém muito importante diferença entre


o Psicodrama de Moreno, as técnicas de Bradshaw, e a que
desenvolvi.

Enquanto Moreno utiliza atores que fazem as trocas de


papéis, Bradshaw utiliza apenas um grupo de indivíduos durante a
encenação, visto que ele trabalha com workshops e não tem a
intensão de ser terapeuta.

Já em nosso trabalho, propomos que você trabalhe


individualmente, em busca de sua cura emocional, sendo que a única
segunda pessoa aparece na fase do compartilhar, no papel de
acolhimento e escuta passiva, no máximo dividindo com você a
história dela própria, empaticamente.

Conquanto seja mais fácil contracenar com vários atores do


que sozinho, no trabalho em grupo corre-se o rísco de você projetar
suas expectativas, relacionadas ao seu cuidador, no indivíduo que o
está representando. Isso acarretaria a formação de um vínculo de
dependência que não poderia sustentar-se após o término da terapia,
o que incorreria no risco de novo trauma.

Por outro lado, na proposta que estou trazendo, você


aprenderá a cuidar de si próprio, sem o risco de desenvolver uma
projeção e uma dependência patológica por outra pessoa.

Bem. Agora que você já possui todas as armas para


defender sua criança interior, bem como já possui em mãos o arsenal
terapêutico para sua cura, poderá enfim libertar-se de todo o
sofrimento imposto ao longo dos anos pelos comportamentos
impulsivos e disfuncionais gerados por essas feridas.

Mãos à obra!
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos, este livro trata sobre a criança interior ferida,


e o psicodrama como processo de cura.

Porém, há aqui uma nova abordagem, onde o psicodrama


é utilizado pelo próprio paciente em um processo de autocura.

Isso é extraordinário pois permite a todos, independente de


suas condições financeiras ou possibilidade de acesso a um processo
terapêutico, a chance de curar suas feridas da infância.

E claro que, como terapeuta, conheço o valor do


profissional, e sei que ele é insubstituível. Mas esse processo é mais
uma opção, e como dito, desde que levado a sério, traz resultados
maravilhosos na cura de sua criança interior.

Dentre todos os autores citados, destacam-se Moreno,


Barbirato, Cukier e Bradshaw, que tiveram bastante relevância no
estudo da criança ferida, ressaltando a forma como as feridas podem
comprometer a vida quando adulto, e o tratamento para a cura dessa
criança.
Cukier seguiu fielmente os estudos e ideias do pai do
psicodrama, Jacob Moreno. Já Bradshaw não mencionou as técnicas
criadas pelo médico romeno, embora não tenha ficado longe dos
métodos utilizados por ele na recuperação e tratamento da criança
ferida.

Rosa Cukier considera o psicodrama a melhor terapia para


restaurar discos arranhados. Segundo a autora, através das técnicas
do psicodrama, o indivíduo pode ver além dos próprios olhos e se
colocar no lugar do outro.

Porém, para a técnica funcionar, é necessário que o


paciente identifique sua criança interior e assuma as
responsabilidades de seus problemas, deixando, por fim, de culpar os
outros.

Dessa forma, para tentar entender que as feridas causadas


na infância podem ocorrer durante o desenvolvimento da criança,
descrevemos as fases e suas principais características baseado nos
conhecimentos de autores como Piaget e Barbirato, entre outros.

Isso nos possibilitou identificar as fases em que as crianças


ficam mais vulneráveis a determinadas feridas emocionais.

O indivíduo guarda outros Eus


infantis, que são produtos de
momentos negativos ou positivos,
porém emocionalmente intensos, que
permanecem imutáveis enquanto se
desenvolve e amadurece durante sua
vida adulta.

Portanto, para que se tenha um adulto confiante e


emocionalmente estável, é importante que este nunca deixe sua
criança interior de lado.
Contudo, idealmente, esta deve ser uma criança interior
feliz, que tenha conseguido lidar com os problemas sem transformá-
los em traumas, a fim de que se desenvolva um adulto com um Eu
mais maduro e responsável.

Diante do fato, os pais devem ficar atentos ao


desenvolvimento da criança, pois nessa etapa da vida podem ocorrer
traumas e frustrações, os quais causam feridas que possivelmente
afetarão sua vida quando adulto.

Na verdade, os pais devem proteger a amar a criança


durante todo seu desenvolvimento, passando-lhe a segurança
necessária para a fim de que ela se torne um adulto autoconfiante, ao
mesmo tempo em que devem educar, disciplinar e mostrar limites,
para que a criança aprenda a viver em sociedade.

Ou seja, os pais devem ler este e outros livros que falem


sobre a educação infantil e os traumas da infância, a fim de aprender
a curar sua criança interior e conseguir educar seus filhos, sem
causar-hes traumas profundos.

Nunca é demais lembrar que causar traumas quer dizer


gerar uma criança interior ferida. Porém, toda criança é naturalmente
resiliente e sabe lidar muito bem com os traumas comuns, portanto os
pais não devem sentir-se culpados quando estes ocorrem.

E mesmo quando o pai que não teve a oportunidade de


curar-se acaba por infringir a seus filhos algum trauma intenso, deverá
pedir desculpas e procurar corrigir seu erro, visto que todos somos
seres humanos passíveis de errar, e, ao invés de sentimento de culpa,
devemos primeiramente nos perdoar, para em seguida nos corrigir e
evoluir com nossas falhas.

Afinal, nossa grande missão é evoluir sempre, buscando a


cada dia desenvolver novas habilidades como seres humanos.
Sendo assim, é notável que este livro não só poderá ajudar
você a curar sua criança interior ferida, como também evitar repetir os
mesmos erros pelos quais sofreu, em relação à educação de seus
filhos.

Assim, é possível atingir o reconhecimento do drama


infantil, que deverá ser visto como algo concreto e clínico e ser
finalmente aceito e respeitado.

A partir daí, todo o processo de recuperação será facilitado,


tornando-o capaz de lidar com as feridas de sua criança interior, e
buscar novas formas de superar seus traumas e conviver consigo
mesmo e com os outros.

Pesquisar sobre a criança ferida e todos os problemas que


esta pode trazer na vida adulta foi bastante significativo.

A partir daí, foi possível detectar o quanto somos


vulneráveis e o quanto precisamos e dependemos de cuidados na
idade mais tenra de nossa vida: a infância.

Espero estar deixando um legado para os pesquisadores,


estudiosos e terapeutas, no intuito de contribuir para o tratamento
eficaz dos traumas emocionais gerados na infância, os quais sempre
repercutem de forma dramática e negativa por toda a vida adulta do
indivíduo.

Mas, principalmente, espero poder ajudar você a não só


curar sua criança ferida, como também evitar ou tratar a criança ferida
em seus filhos.
Como na Fábula “O jovem e as estrelas do mar”:

“Numa praia tranquila, junto a uma colônia de pescadores, morava um escritor.


Todas as manhãs, ele passeava pela praia, olhando as ondas. Assim ele se inspirava e, à tarde, ficava em casa,
escrevendo.
Um dia, caminhando pela areia, ele observou um vulto que parecia dançar. Chegou mais perto e viu que era um jovem
pegando, na areia, as estrelas-do-mar, uma por uma e jogando-as depois de volta ao oceano.
– E aí? – disse-lhe o jovem num sorriso, sem parar o que fazia.
– Por que você está fazendo isso? – perguntou o escritor, curioso.
– Não vê que a maré baixou e o Sol está brilhando forte? Se estas estrelas ficarem aqui na areia vão secar ao sol e
morrer!
O escritor até que achou bonita e louvável a intenção do garoto, mas deu um sorriso cético e comentou:
– Só que existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora, meu caro. Centenas de milhares de estrelas-
do-mar devem estar espalhadas por todas essas praias, trazidas pelas ondas. Você aqui, jogando umas poucas de volta
ao oceano, que diferença faz?
-Para esta, eu fiz diferença. – diz enquanto joga mais uma estrela ao mar.
Naquela tarde, o escritor não conseguiu escrever. De noite, mal conseguiu dormir. De manhãzinha, foi para a praia.
O jovem pegava as primeiras ondas do dia com sua prancha. Quando saiu do mar e foi para a areia, encontrou o
escritor. Juntos, com o Sol ainda manso e começando a subir, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano”.

“É necessário acreditar que estamos fazendo a diferença para alguém. Se todo mundo fizer a sua parte, teremos
um mundo com mais harmonia e paz.”
OUTROS MODELOS TEÓRICOS DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Sobre o desenvolvimento cognitivo da criança, Jean Piaget


demonstrou que esta, de acordo com a maturação, apresenta
estágios de desenvolvimentos que têm características perceptivas
para cada faixa etária.

1º. estágio sensório-motor: 0 aos 2 anos de idade.


2º. estágio pré-operatório: 2 aos 7 anos de idade.
3º. estágio de operações concretas: 7 aos 12 anos de idade.
4º. estágio de operações formais: a partir dos 12 anos de idade.

No estágio sensório-motor, que inicia desde o nascimento


até os dois anos de idade, a criança realiza movimentos direcionados
a obter os fins desejados.
Sua percepção está primeiramente ligada às sensações
motoras, e somente num segundo momento liga-se ao pensamento
visual.

Nessa fase, todo o conhecimento da criança é construído


por meio da manipulação de objetos, que para ela irão adquirir
significados de acordo com os fins obtidos por esses objetos, e pelo
constante domínio sobre o ambiente que a cerca.

Inicialmente, seu pensamento é concreto e imediatista. Só


reconhece a existência dos objetos (inclusive cuidadores) quando
estão dentro de seu campo visual.

Aos poucos, vai introjetando em sua mente os objetos, até o


ponto de perceber e sentir sua falta.

É no final desse período que a criança começa a adquirir a


consciência da existência de objetos que não estão presentes no seu
campo de visão.

Mais ou menos a partir dos dois anos de idade até sete


anos, no estágio de desenvolvimento infantil nomeado por Piaget
como pré-operatório, dá início a transição dos movimentos
sinestésicos (movimentos relacionados a sensação: visão, audição,
olfato, tato e paladar), para atividades simbólicas e de linguagem.

A expressão infantil, nessa fase, esta relacionada à


evolução da criança a um estágio que em há desenvolvimento do seu
pensamento enquanto linguagem oral e visual.

Entre dois e quatro anos, as crianças têm capacidade de


elaborar suas ações (mesmo que não sejam visualmente identificadas
pelos adultos) usando símbolos plásticos como rabiscos.

A psicologia aponta esse fato em decorrência do


desenvolvimento da linguagem oral que ganha maiores proporções,
mas não significa um amadurecimento simultâneo da simbologia
infantil.

É bastante comum a criança apresentar um bom


desenvolvimento na fala, no entanto, suas atividades simbólicas não
aceleram na mesma medida.

Como a linguagem é um fator de desenvolvimento mental, o


pensamento tende a acelerar, gradativamente, e acaba influenciando
a atividade perceptiva.

Porém, nem sempre o fato de a criança apresentar um bom


desempenho na linguagem implica que ela saiba identificar o
simbolismo por trás daquilo que fala.
Exemplo próprio da autora: recordo-me
perfeitamente de quando tinha por volta de três a quatro anos de
idade, e ouvia uma canção que dizia “você vai aturar os meus grilos,
você vai ser a mãe dos meus filhos, até a morte chegar...”. Então,
imaginava que estava sendo cantada para um grilo, dizendo para
uma grila que ela ia ter que aturar os grilinhos deles.

Vemos diariamente, nos Reality Shows, crianças muito


pequenas cantando ou declamando textos complexos ou mensagens
religiosas de sabedoria, ou ainda canções de conteúdo adulto ou até
sexual. Podemos até achar fofinho aquele comportamento de
miniadulto, mas será que acreditamos que essas crianças realmente
sabem o que estão falando?

Essa é a fase do aprendizado da linguagem simbólica por


imitação.

Entre quatro e sete anos a criança ainda está no estágio


pré-operatório, apresenta maturação mais completa, desenvolvendo
novas habilidades, realizando atividades que exijam mais
coordenação motora fina.
Quanto à percepção visual, a criança continua concebendo
as coisas apenas sob sua perspectiva, envolvendo os aspectos que
mais chamam sua atenção de acordo com suas experiências
(situações e objetos).

Nessa fase, há uma transformação no pensamento infantil,


intensificando a atividade criadora através do jogo simbólico, ou seja,
a criança cria a partir de suas fantasias e as utiliza como referência
para explicar a própria realidade.

É possível notar que a maturação proporciona à criança


atingir um nível mais elevado de relações, nomeando suas atividades
em relação aos seus significados simbólicos.

Um exemplo: uma amiga me contou um dia que quando era criança e morava no Interior, fazia dos armadores de
rede (que em sua região chamam de “escapa”) suas bonecas, com as quais brincava o dia todo.

Por volta dos sete anos ocorre o estágio de operações


concretas, que marca uma modificação decisiva no desenvolvimento
mental.

Nessa fase observa-se o aparecimento de novas formas de


organizações, garantindo um equilíbrio mais estável. É quando ocorre
o aparecimento de operações racionais, a afetividade e os
sentimentos morais.

E ainda ocorre os progressos da conduta, da socialização e


do pensamento.

Em alguns países, nessa fase da vida a criança já é


considerada capaz de responder por seus atos criminosos.

Finalmente vem o estágio das operações formais, que


acontece por volta dos 12 anos em diante.

Nessa fase da vida a criança já está se tornando um


adolescente, e a relação corpo, mente e sociedade passa por
mudanças significativas.
Essas mudanças exigem que a criança mostre a
capacidade de estabelecer relações mais complexas entre os objetos
físicos e sociais (já tem discernimento), além de tomar decisões a
respeito de si mesma, dos outros e do mundo (ssjulgamento crítico).

Nessa época, ocorre o desenvolvimento das operações de


raciocínio abstrato, onde a criança se liberta inteiramente do objeto,
passando inclusive a representá-lo, lidando agora com o conteúdo,
em vez da forma, situando o real em um conjunto de transformações.

É a fase da subjetividade, onde uma coisa pode ter vários


significados.

A partir dos 12 anos, os traços de personalidade e papeis


sociais já estão mais definidos e o indivíduo passa a assumir
paulatinamente responsabilidades sociais.

Porém, no Brasil, até os 18 anos, essa responsabilização


praticamente inexiste do ponto de vista legal.

Jacob Levi Moreno também estudou as fases do


desenvolvimento humano.

Segundo Moreno, na pré-escola a criança vai se socializar,


adquirir noção de tempo, espaço e direção, desenvolver a linguagem
e o pensamento lógico, vai aprender músicas e fazer artes, tudo isso
de uma forma lúdica e saudável.

É importante incentivar a criança em suas tarefas,


elogiando e falando bem da escola, a fim de que ela não veja esse
momento como algo estranho e difícil, pois certamente, nos primeiros
dias de aula, ela ficará ansiosa.

Segundo Moreno, devemos respeitar suas capacidades e


possibilidades, pois até os 4 anos a criança não tem desenvolvimento
para determinados aprendizados. Porém, quando completa 5 anos,
torna-se mais dona de si mesma.
Aos 6 anos, o mundo da criança não se limita apenas à
família. Ela passa a desejar a companhia de outras crianças.

Na atualidade, pode-se observar que as crianças já


procuram uma socialização precocemente, porem é nesta fase que se
torna mais evidente e possível identificar a existência de crianças
mais sociáveis e outras mais retraídas.

Até os 6 anos, a criança passa por etapas importantes para


seu desenvolvimento físico e emocional.

É importante que ela não pule nenhuma dessas etapas,


pois isso poderá afetar o futuro desempenho em suas relações
pessoais.

Estas relações, na visão de Moreno, são natas, pois logo


ao nascer a criança é inserida num conjunto de relações interpessoais
(mãe, pai, irmãos, avós, tios etc.), chamado de Matriz de Identidade.

O Ser Humano é um Ser social, porque nasce em


sociedade e necessita do outro para sobreviver.

Já Bradshaw, apesar de não se tratar de um cientista do


comportamento humano, considera o desenvolvimento infantil
constituído por seis etapas:

1. Primeira, etapa de 0 a 9 meses – caracterizada por uma ligação


simbiótica entre a criança e sua mãe. É a fase em que a criança
pensa “eu sou você” (o que Moreno denomina de
Indiferenciação). Neste período dá-se o desenvolvimento da
confiança básica versus a desconfiança, o que em uma infância
saudável gera uma autoconfiança, esperança e crença em seu
poder interior.

2. Segunda, etapa dos 9 aos 18 meses – caracterizada por uma


ligação oposicional da criança em relação aos demais. É a fase
de individualização, em que a criança pensa “eu sou eu e você é
você” ou o que acreditamos ser mais apropriado, diferencia o
“Eu” do “Não Eu”. É considerado o período exploratório. (em um
comparativo com a teoria moreniana, seria talvez a fase do
Reconhecimento do Eu).

3. Terceira etapa, dos 18 meses aos 3 anos – é o estágio de


separação. Nessa fase o ego desenvolve a força de vontade, ou
seja, a criança tem o poder de reagir aos estímulos externos. No
que diz respeito ao relacionamento, dá-se o nascimento
psicológico, onde a criança aprende tanto a depender quanto
contrariar, conforme suas necessidades. A princípio, ela deseja
tudo o que sente que é bom e prazeroso, porém os pais intervêm
e impõem limites. Ela precisa aprender que pode ficar com raiva,
e ainda assim seus pais continuarão ao seu lado (não a
abandonarão), e precisa atender que, mesmo quando eles não
satisfazem sua vontade, eles ainda a amam. Ainda fazendo um
paralelo com a teoria de Moreno, esta fase seria a do
Reconhecimento do Tu).

4. Quarta etapa, dos 3 aos 6 anos – é a fase escolar, onde a


criança descobre sua identidade sexual, identificando-se com seu
pai ou sua mãe. Nessa fase, há o desenvolvimento da polaridade
iniciativa versus culpa, e a criança torna-se mais objetiva,
desenvolvendo sua imaginação e seus sentimentos. Ela se torna
mais independente nos relacionamentos. Através de
brincadeiras, as crianças testam a realidade, e aprendem a
separá-la da fantasia. (Aqui ainda encontramos paralelo com o
que Moreno chama de Pré-inversão). A tarefa dos pais é ser um
modelo de relacionamento saudável. Nessa fase, o filho deve
aprender com o pai o comportamento masculino e com a mãe
como desenvolver um relacionamento íntimo saudável com o
sexo feminino. A filha, vice-versa. Acredito que a criança que não
encontra uma referência segura no cuidador do seu sexo, ou a
criança que se identifique com um modelo agressor do sexo
oposto, identifica-se com o cuidador mais forte e atuante,
podendo gerar meninos com forma de pensar e agir semelhantes
à sua cuidadora e meninas com atitudes e pensamentos
espelhados em seu cuidador. Talvez alguns modelos de
homossexualidade (mais especificamente os homens com
comportamento feminino e as mulheres com comportamento
masculino) possam nascer dessa identificação com o cuidador do
sexo oposto.

5. Quinta etapa, dos 6 aos 13 anos – nessa fase, a criança já tem


noção de utilidade, e pode tanto sentir-se útil quanto inútil.
Também aprende os conceitos de autoridade e relatividade,
podendo vir a considerar-se superior, igual ou inferior a
determinadas pessoas. A principal força do ego é a competência
e ela tem o poder do conhecimento e aprendizagem. Em seus
relacionamentos, baseia suas escolhas na interdependência e
cooperação. Aqui a criança deixa seu sistema familiar de lado e
entra em um novo estágio de socialização, passando a treinar
outros papéis. Moreno denominaria de Inversão de Papéis, em
que a criança começa a idealizar, abstrair e questionar os fatos,
passando a realmente colocar-se no lugar do outro, não só
fisicamente, mas também emocionalmente, fazendo a verdadeira
troca de papéis.

6. Sexta etapa, da adolescência aos 26 anos – o adolescente


pensa “eu sou único”. Nesta fase do desenvolvimento temos a
polarização entre a identidade e inversão de papéis. A maior
característica do adolescente é a fidelidade, e sua força consiste
no poder de reconstrução, onde ele busca tornar-se
independente de sua família. Nesse momento seu senso de “eu
sou” precisa ser reafirmado de duas maneiras: através de um
relacionamento amoroso significativo, e através do sucesso
profissional, ou seja, amor e trabalho, definidos por Freud como
os dois pilares da identidade do adulto. Aqui também é o
momento dos pais se mostrarem firmes, amorosos, coerentes, e
imporem limites sem colocar em risco a autoestima e
necessidade de desenvolver a autossuficiência do jovem. É, pois
um momento bem delicado para a educação emocional. Os pais
devem lembrar que, por mais independente que esse jovem seja,
enquanto não adquirir autossuficiência e continuar de alguma
forma morando com ou sendo sustentado por seus pais, deve
aos mesmos, algum tipo de obediência, desde que baseada em
responsabilidade e respeito mútuo.

Assim, após traçar um paralelo entre as teorias de Moreno


e Bradshaw sobre o desenvolvimento infantil, passaremos a outro
importante teórico do desenvolvimento, Erik Erickson (médico
psiquiatra judeu nascido na Alemanha em 1902).

Erickson classifica o desenvolvimento psicossocial em oito


estágios, que vão da infância à fase idosa. São eles:

1. Confiança x desconfiança (até um ano de idade) – nesse


estágio, a criança é totalmente dependente de seus cuidadores,
necessitando se sentir segura e amada, a fim de desenvolver
confiança nas pessoas e no mundo. Porém, essa dependência
poderá desencadear um ritualismo e sentimento de idolatria.
2. Autonomia x vergonha e dúvida (segundo e terceiro ano) – a
criança desenvolve gradativamente autonomia sobre suas
necessidades e higiene pessoal, com o controle das funções
fisiológicas, desenvolvendo confiança e liberdade para
experimentar o mundo sem medo de errar. Porém, caso seja
repreendida ou ridicularizada, poderá desenvolver a vergonha e a
dúvida, regredindo ao estágio anterior de dependência.
3. Iniciativa x culpa (quarto e quinto ano) – fase em que a criança
passa a perceber as diferenças entre homem e mulher, e tem
início a curiosidade sexual e intelectual, que, se for reprimida, vai
gerar culpa e inibir sua curiosidade e capacidade de explorar o
mundo.
4. Construtividade x inferioridade (do 6º ao 11º ano) – é um
período de socialização, onde na época de Erickon a criança
começava a freqüentar a escola. Porém, se apresentar
dificuldade de interação e sofrer críticas do grupo (bullying), ela
poderá desenvolver sentimento de inferiodade, ao invés de
sentir-se construtiva. Pensamos que, atualmente, apesar da
criança iniciar seu estudo por volta dos dois anos, é somente em
torno dos cinco anos que ela passa a observar as diferenças,
identificando, por exemplo, o alto/baixo, gordo/magro, pobre/rico
e etc. É nesse período que começam a se formar os “grupinhos”
e os comportamentos segregantes como o bullyung. Os pais
precisam ensinar seus filhos a respeitarem as diferenças.
5. Identidade x confusão de papéis (do 10º ao 18º ano) – nessa
fase o jovem está em busca de sua identidade nas relações com
os amigos e com o sexo oposto, e de uma formação profissional.
Poderá desenvolver um sentimento positivo de identidade ou
negativo, com perda de referência, sentindo-se vazio, isolado,
ansioso e deslocado no mundo adulto. É muito delicada a
questão da identidade de gênero, racial, religiosa, entre outras,
pois o jovem ainda está se definindo e pode se tornar mais
confuso ainda. Mas costuma ser a fase das experimentações e
de riqueza de aprendizado. Esse jovem precisa sentir amado
incondicionalmente. Deve-se permitir ao jovem experimentar,
sem necessitar fixar-se a uma escolha. Que será aceito e
respeitado, independente de suas escolha, e que essas escolhas
não precisam ser definitivas, que ele tem o direito de mudar de
ideia sem ser considerado indeciso ou inseguro.
6. Intimidade x isolamento (adulto jovem) – fase das relações
mais intimas, profundas e duradouras. Caso haja decepção
poderá isolar-se e desacreditar no valor dos relacionamentos. É
preciso apoiar sem criticar, tanto os relacionamentos quanto o
término deles. Deve-se auxiliar o jovem a enxergar os
relacionamentos com objetividade e racionalidade, sem abrir mão
do seu romantismo.
7. Produtividade x estagnação (meia idade) – a fase que está
voltada à busca do conforto e segurança, mas também a
realizações sociais. Nessa fase, o adulto está mais propenso a
transmitir valores e ensinamentos. Caso não consiga se realizar,
poderá desenvolver o autoritarismo.
8. Integridade x esperança (idoso) – fase do balanço da vida,
onde o indivíduo colherá os frutos de sua existência. Caso tenha
vivido sem grandes arrependimentos e erros”, poderá gozar de
uma velhice tranqüila e reconfortante. Do contrário, poderá
passar seus últimos anos de vida amargurado e com sensação
de fracasso. Bom trabalhar nessa fase a valorização do
aprendizado, das pequenas vitórias e conquistas, e de que a
pessoa ainda pode realizar muitas coisas, inclusive transmitir
seus aprendizados, que se deram através de erros e acertos, e
que os erros foram, também, uma forma de aprendizado.
Portanto, mais do que em qualquer fase, pode ser um período
muito produtivo, a menos que seu estado de saúde física ou
mental não permita.

Assim, de acordo com os autores supracitados, é dessa


forma que se dá o desenvolvimento do indivíduo, desde o seu
nascimento até a fase adulta.

O reconhecimento dessas fases da vida, portanto, pode ser


bastante relevante, quando se tenta identificar em que momento de
seu desenvolvimento a criança sofreu os traumas que lhe causam
problemas na vida adulta.

Ainda dentro do conceito de fases do desenvolvimento


infantil, devemos ressaltar a importância da matriz de identidade, que
é a placenta social onde o recém-nascido se insere.

É formada pelos pais ou cuidadores, irmãos, tios, primos e


pessoas que o cercam. A interação do recém-nascido com essa
matriz será responsável pela base emocional que vai gerar sua
própria identidade.

Daí a importância da matriz de identidade para o


desenvolvimento psicossocial do individuo.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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“O medo de traumatizar nossos filhos gerou o trauma do trauma!
Infelizmente, causou aos bebês pós-guerra (baby boomers), e se
globalizou para todas as próximas gerações no mundo inteiro,
pessoas hiper-reativas, atualmente conhecidas como Geração
Nutella!”
Table of Contents
PREFÁCIO DO AUTOR
APRESENTAÇÃO
1 . inTRODUÇÃO
2 . O CONCEITO DE CRIANÇA INTERIOR
3 . A CRIANÇA FERIDA QUE EXISTE DENTRO DE NÓS
4 . TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE
5 . AS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
6 . COMO A CRIANÇA FERIDA SE MANIFESTA
7 . COMO IDENTIFICAR EM QUE FASE SUA CRIANÇA
INTERIOR FOI FERIDA
8 . COMO RESGATAR E TRATAR A CRIANÇA INTERIOR
FERIDA
9 . ETAPAS DO PROCESSO TERAPÊUTICO DA CRIANÇA
FERIDA
10 . CONSIDERAÇÕES FINAIS
OUTROS MODELOS TEÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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