Você está na página 1de 40

UNIVERSIDADE PAULISTA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ELISÂNGELA MARTINS BANDEIRA

O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM INFANTIL

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do
título de Pedagogia.
Universidade Paulista – Polo Diadema
Orientação: Professora Paula Martins da Silva

DIADEMA – SP
2017
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Rosângela Borges por todo seu apoio, incentivo e colaboração du-
rante todas as etapas do curso, à minha família, aos amigos de jornada de curso
durante nossos compartilhamentos de ideias na elaboração dos projetos.
Imensa gratidão à secretaria da Unip do polo Diadema, por toda sua contribuição,
colaboração, incentivo.
A todas as pessoas que fizeram parte deste período de formação, superação e
conquista.
EPÍGRAFE

“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e


não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram. ”
Jean Piaget
(Citado em " - Página 96, de Danilo Romeu
Streck - Vozes, 1994, ISBN 8532612164, 9788532612168 - 136 páginas)

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas no-
vas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam
criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes
que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se pro-
põe. ”
Jean Piaget

“Quando olho uma criança ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que é, e
respeito pelo que posso ser.”
Jean Piaget

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da
busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da
alegria”.
Paulo Freire

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. ”


Cora Coralina
RESUMO

O processo de aprendizagem caminha de mãos dadas à afetividade. A criança


ao ter uma relação de cordialidade e afetividade com seu professor torna-se um ser
humano mais sociável, conhecedor e apreciador do respeito mútuo, colaboração,
desenvolve a admiração pelo educador. A criança desenvolve melhor sua inteligên-
cia quando esta vem aliada à afetividade. Estudos já realizados por Jean Piaget
comprovam o quanto é importante aliar ao processo de aprendizagem da criança a
afetividade para o desenvolvimento mais completo da inteligência.
Considerar o meio social onde o aluno está inserido é de grande importância. A
escola tem a possibilidade de proporcionar em seu ambiente a construção de um
cidadão que reflita sobre o seu meio com olhar crítico e transformador, ampliando
sua visão de mundo através dos questionamentos, reflexões e presença da afetivi-
dade em todo este processo de construção e crescimento.

Palavras-chave: Processo de Aprendizagem. Afetividade. Mediação.


Desenvolvimento. Inteligência.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO 1 - AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM 8

1.1 - O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ATRAVÉS DA AFETIVIDADE 9

1.2 - A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NA CONSTRUÇÃO DO AFETO 11

1.3 - AMBIENTE ESCOLAR E O AFETO 12

1.4 - PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO 14

1.5 - APRENDIZAGEM DA CRIANÇA E AFETIVIDADE NO OLHAR DE PIAGET 15

1.6 - AFETIVIDADE NOS PRIMEIROS CONTATOS DA CRIANÇA 17

1.7 - ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO 19

1.8 - FORMAÇÃO DO JUÍZO MORAL 21

CAPÍTULO 2 - VYGOTSKY E A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 23

2.1 - A VISÃO DE WALLON SOBRE A AFETIVIDADE 27

2.2 - CRIANÇAS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM 30

2.3 - AFETIVIDADE E O CAMPO EDUCACIONAL NO OLHAR DE PIAGET 34

CAPÍTULO 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39
6

INTRODUÇÃO

O processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança está vinculado à


afetividade dentro do ambiente escolar. Esta ligação, associação é defendido por
teóricos como Piaget e Vygotsky dentre outros que comprovaram através de estudos
as influências da afetividade no processo de aprendizagem escolar da criança, sua
importância.
O desenvolvimento do processo cognitivo da criança dentro do ambiente escolar, se
dá através da interação que a mesma faz com os adultos que a cercam, onde o
professor assume o papel de mediador do conhecimento, auxiliando-a na
construção da aprendizagem e do conhecimento. Cada dia se torna mais evidente
sua presença.
O plano afetivo faz parte da organização interna do sujeito e as emoções se
manifestam a todo mometo através de posturas, comportamentos verbais. A
dimensão afetiva é composta por interesses, sentimentos, impulsos, tendências.
Através de pesquisas, constatei que o aspecto afetivo tem sua importância e auxilia
nos casos de dificuldade de aprendizagem.
Demonstrar através dos estudos e pesquisas os benefícios da relação de afetividade
entre professor e aluno durante o processo de aprendizagem.
Alicerçar nas obras dos pesquisadores mais importantes no assunto argumentos
que comprovem e reflitam a contribuição da relação de afetividade no ensino e na
formação do ser social.
A escola é sem dúvida, um ambiente de muita integração, socialização e presença
da afetividade durante todo este período. É muito importante que a criança se sinta
acolhida dentro deste novo ambiente social onde será alfabetizada, repleto de
crescimento e tantas experiências novas. Essa conquista só pode ser atingida se
utilizada a afeição como parte do novo aprendizado.
Podemos nos questionar de como a relação de afetividade pode contribuir no
processo de aprendizagem da criança aproximando professor e aluno em suas
relações dentro da escola de maneira positiva?
Aliar educação e afetividade na educação infantil mostra claramente o papel do
educador neste processo como um modelo de referência para a criança, que
necessita se sentir segura, acolhida, compreendida, fator que contribui para que a
mesma tenha maior interesse em aprender.
7

Através deste trabalho pretendo abordar os conceitos psicológicos encontrados nos


estudos de Piaget, Vygotsky, Wallon e outros autores renomados na mesma linha
que comprovam a importância e interligação da afetividade ao cognitivo na
construção do conhecimento. Eles acreditam que o ser humano deve ser olhado
de maneira completa e isto inclui seus aspectos psicológicos, suas emoções
juntamente com seu lado mais racional.
Piaget desenvolveu uma vasta pesquisa sobre este assunto que envolve a relação
entre a cognição e a afetividade, trazendo inúmeras contribuições. Acompanhando
suas considerações poderemos compreender melhor a conexão entre afetividade e
cognição no processo de aprendizagem e como estas considerações podem auxiliar
a educação.
Embora Piaget e seus estudos a respeito do assunto sejam a principal base para a
exploração do assunto neste trabalho, estarei adicionando outros pensadores
importantes que tenham a mesma linha de pesquisa e raciocínio de Piaget.
A primeira parte tratará da abordagem da afetividade e as considerações da
psicologia. Na segunda parte serão mostrados os estudos de Piaget a respeito, suas
principais pesquisas, além é claro, das contribuições e estudos de outros
pensadores importantes sobre o tema.
Com a exposição será possível repensar a abordagem do professor dentro da sala
de aula, agregando novas ferramentas ao seu papel tão importante de mediador do
conhecimento, o levando a refletir sobre o aspecto psicológico que não pode ser
ignorado.
8

CAPÍTULO 1

1.1 - AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM

O tema tem como maior objetivo reconhecer a importância de termos relações


sociais saudáveis dentro do ambiente escolar e como esta atitude se torna um
facilitador do processo de aprendizagem, desenvolvendo e melhorando o processo
cognitivo, socialização, respeito ao próximo, integração, aproxima afetivamente a
criança e professor dentro do ambiente escolar, contribuindo para um ambiente mais
saudável.
Mas o que é Afetividade? é a qualidade que contempla todos os fenômenos
afetivos. Pensando no campo da psicologia diz respeito a capacidade individual de
gozar de uma série de situações afetivas. Ela forma uma força exercida por sua
ação no caráter de uma pessoa. Possui importância única no processo de
aprendizagem por sua presença em todas as áreas da vida, influenciando de modo
profundo o desenvolvimento cognitivo.
Os principais estados afetivos são: emoções, sentimentos, inclinações e as
. A f ã ã u á Au é é “P . R ã
intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha de um
estado afetivo de cono ã u áv ”. P u v
plena e equilibrada é necessário aprender a cuidar de todas estas emoções. Os
laços afetivos valorizam tudo o que faz parte de nossa vida, como acontecimentos
do passado e nossas perspectivas do futuro.
Através da Afetividade temos a possibilidade do laço de se relacionar e se
identificar com outras pessoas, fazendo parte do processo de comunicação,
socialização e interação.
Quando falta este tipo de laço dentro do lar, a criança tem dificuldade em se
relacionar com outras pessoas, comprometendo sua participação no processo de
ensino aprendizagem. Normalmente problemas com indisciplina, alunos com
dificuldades para aprender, atos de agressividade na sala de aula revelam uma
família desestruturada, que desconsidera a importância da educação e falta de laços
de amor, afeição.
9

Muitas vezes, a criança cria uma expectativa muito grande de encontrar esta
afeição, amor, carinho dentro do ambiente escolar. Quando isso não ocorre, pode
haver o desinteresse pelo ambiente escolar.

1.1 - 0 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ATRAVÉS DA


AFETIVIDADE

Algumas teorias explicam a relação entre o desenvolvimento cognitivo e afetivo


considerando a parte psicológica que influencia no processo de educação nos
fazendo compreender como isso ocorre.
Teóricos já enfatizaram a importância da afetividade no processo de
aprendizagem, como Piaget, Vygotsky, Wallon, Fernández, o que foi comprovado
através de diversos estudos realizados ao longo do tempo como uma influência
muito positiva na formação destes pequenos cidadãos e inclusive de seus valores
morais, princípios éticos. Para ter uma noção abaixo segue o esboço da visões de
Piaget, Vygotsky e Wallon.

“A f v , qu v ã , qu R zã qu
possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas
”P (1992). S u P f v éu v ã v a-
de cognitiva, sendo que razão e afetividade se completam.
A interpretação de Taille da teoria piagetiana é de que moral e afeto se complemen-
tam e se unem.

“Não assistimos a uma luta entre afetividade e moral [...] Pelo contrário, nas
suas análises, vemos afeto e moral se conjugarem em harmonia: o sujeito
autônomo não é um "reprimido", mas sim um homem livre, pois livremente
convencido de que o respeito mútuo é bom e legítimo. Tal liberdade lhe vem
u R zã , u f v u ”
(Taille,1992).
10

Na abordagem de Vygotsky, o mesmo explica a relação entre o afeto e o intelecto


e argumenta com questionamentos da separação entre o afetivo e cognitivo do psi-
cológico. Na sua visão, os aspectos intelectuais e afetivos são inseparáveis. Oliveira
coloca sobre a visão de Vygotsky:

“Vygotsky menciona, explicitamente, que um dos principais defeitos da psi-


cologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um
lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da unida-
de entre esses processos. Coloca que o pensamento tem sua origem na es-
fera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, im-
pulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do pensamento
e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possí-
vel quando se compreende sua base afetivo-volit v . ” (1992, p.76).

Na visão de Wallon a afetividade é o fator principal. Para ele, o


desenvolvimento humano deve levar em consideração as emoções e esta é uma de
suas maiores contribuições. Denota-se a presença das emoções desde o início da
vida humana, apontando as necessidades individuais, sendo as mesmas primordiais.
A afirmação de Dantas sobre a teoria de Wallon é de que a partir da atividade
emocional que se

“realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cogniti-


va racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto
é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge
da vida orgânica: corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vínculo
imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao
universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao
longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de pos-
se dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste
sentido, ela lhe dá origem” (1992, p.85).

Para Galvão, considerando a teoria de Wallon, dentro do ambiente escolar e


sua rotina, quanto mais o professor estiver a par dos fatores que geram os conflitos,
terá maiores condições de controlar as manifestações das reações emocionais e até
buscar alternativas para solucionar os problemas que surgirem. (1998, p. 113).
11

1.2 - A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DO AFETO

O afeto está ligado à emoção e é determinante na maneira de ver as situações e


modo de se manifestar a cada momento. Para a criança, é na infância que a
autoestima é construída através da afetividade. Sem dúvida, uma criança que
recebe amor, carinho, cresce muito mais determinada e segura.
Chalita afirma que a família é áv “P ã v , f ã
, u ã ã b f í ” (2004, .21). Ou
seja o papel da família é muito importante para a construção da personalidade,
valores de uma pessoa.
Não há como substituir a importância da base familiar e seus laços de afeto. Onde
isso não existe, a pessoa pode preencher de outras formas esta carência.
Hoje temos uma realidade de muitas famílias desestruturadas, onde não existe a
consciência dos pais de seu papel importante de afeto, amor, cuidados, proteção aos
filhos garantindo seu crescimento e desenvolvimento da maneira mais saudável
possível. Todas estas questões estão ligadas ao educar.
É muito importante que haja interesse dos pais unindo forças com a escola no
acompanhamento da vida de seus filhos, cada momento, necessidades,
dificuldades. Na família, especialmente na figura dos pais, é que a criança busca sua
segurança, alento.
É citado por Chalita uma triste realidade relacionada a este assunto:

“Do outro lado, há o grupo imenso que não dispõe desses cuida-
dos todos. São os chamados excluídos. Que triste é essa consta-
tação: um mundo de incluídos e de excluídos. Alguns são criados
como em uma redoma de vidro, separados de tudo que possa vir
a contaminá-los, e outros, a grande maioria, são lançados à pró-
pria S . ” (2004, p.26).

É importante lembrar do papel dos pais na educação de seus filhos, formação da


personalidade, valores, caráter e que estes valores não podem ser transferidos para
12

a escola, como muitos tentam fazer. O que pode ser feito é estas duas engrenagens
unirem forças e trabalharem juntas, evitando problemas futuros com drogas, crime
por falta de orientação e atenção da família.
Faz-se necessário acompanhar de perto, assumir o papel de educar e participar da
vida dos filhos, dar limites, corrigir, dizer não quando preciso, ter parâmetros, con-
versar, demonstrar afeto, ouvir com atenção e assim mostrar aos filhos o quanto são
importantes.

1.3 - AMBIENTE ESCOLAR E O AFETO

A afetividade é um aliado na aprendizagem da criança. Este elemento unido


aos livros, escrita, diálogos e toda interação social torna a aprendizagem mais
significativa, fortalecendo laços de socialização plantados nesta pequena semente
tão especial. Um ambiente escolar acolhedor transmitirá maior bem estar a criança
que ficará grande parte do seu dia na escola e muitas vezes, tem a expectativa de
suprir suas carências afetivas na escola, buscando referências inclusive em seus
professores. A criança tem a necessidade de sentir segurança para o
desenvolvimento de seu aprendizado e por isso é tão importante que o professor
tenha total consciência de que suas atitudes são muito significativas neste processo.
O desenvolvimento da criança é obtido através de sua interação pessoal aos
objetos de seu meio, convivência com as pessoas e contato com o mundo com os
quais realiza ligações afetivas e emocionais. (Oliveira).
O afeto é fundamental para todo o funcionamento de nosso corpo, nos dando
motivação, coragem, interesse e auxiliando em nosso desenvolvimento.
Sendo assim, não há como ignorar a presença marcante da afetividade dentro
da escola, na sala de aula, junto dos conteúdos, através das relações, expressão de
sentimentos.
Dentro da sala de aula, quando o aluno observa o professor irritado,
impaciente, grosseiro, não reagirá provavelmente com afeto e dedicação. Esta
situação criará uma barreira nas relações. Se depara-se com um professor alegre,
solícito, disposto, paciente, agirá de acordo com situação encontrada com maior
cordialidade.
13

Pensando nas emoções, uma relação de cordialidade e afetividade melhora a


autoestima, laços de amizade, clima agradável,segurança, prazer. Neste clima, o
aprendizado se desenvolve de maneira natural e satisfatória.
Em contrapartida, em ambiente hostil, gerador de baixa autoestima, tristeza,
incerteza, as preocupações, o medo tomam conta do ambiente e comprometem o
aprendizado, ocasionando inclusive conflitos em sala de aula.
Segundo Cury:

“O elogio alivia as feridas da alma, educa a emoção e a autoestima. E-


logiar é encorajar e realçar as características positivas. Há pais e pro-
f qu u u f h u ” (2003, . 143).

O papel do educador é muito importante, pois todos os dias se depara com alunos
buscando esperanças, alegrias. Então gestos como incentivar, apoiar, elogiar suas
qualidades promovem grande mudança, melhorando a autoestima.
Ao se deparar com alunos com dificuldade de aprendizagem, nota-se que esta
vem ligada à questões emocionais. Estes conflitos emocionais interferem de maneira
muito intensa na aprendizagem.
Deste modo, o aspecto intelectual/cognitivo vem junto com a afetividade. O
aluno dentro da sala de aula é um ser completo, onde sua complexidade inclui seus
aspectos emocionais, racionais, intelectuais numa única pessoa.
O principal objetivo deste trabalho é unir como parte todos os elementos
necessários ao desenvolvimento do processo de aprendizagem da criança para uma
educação mais completa e eficiente, que integra os elementos, utilizando as
ferramentas disponíveis através dos estudos de grandes escritores especialistas no
assunto. Utilizar estas informações pode representar um transformação muito
positiva na aprendizagem infantil.
O ambiente escolar deve proporcionar uma reflexão completa sobre a vida do
aluno, auxiliando-o no desenvolvimento de sua consciência. Os parâmetros
curriculares do Mec já consideram como fundamentais a dignidade, igualdade,
respeito. Estes valores atribuem o aprendizado da moral, respeito mútuo,
solidariedade, justiça, respeito aos diferentes tipos de expressão.
14

1. 4 – PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

“P h ju .P , h
sentimentos requer ações cognitivas, onde estas ações cognitivas tem a presença
f v ”. E é u v f u V é
A A (2002), v “A f v á u ã ”.
Para esta autora, quando o aluno entra no ambiente escolar, traz consigo todos
os aspectos psicológicos que compõem sua personalidade, na interação com
objetos do conhecimento, integra afeto e intelecto nas suas interações, no agir e no
pensar. Deste modo, pensar e agir nos obriga a unificar nas explicações sobre o
raciocínio humano as partes emotiva e racional do que foi construído.
Pensando no campo da Psicologia, há uma vertente que separa emoção de parte
racional e outra que considera a integração afetiva/cognitiva como parte de uma
mesma força na responsabilidade pelo funcionamento psicológico humano.
Há dentre os autores que consideram a afetividade como importante no processo,
o norte-americano Gagnè. Ele criou uma teoria sobre as condições que favorecem a
aprendizagem. Através de suas pesquisas, Gagné acredita que durante o processo
de aprendizagem se desenvolvem habilidades, raciocínios, aspirações, atitudes e
valores do homem.
Os próprios parâmetros curriculares nacionais em suas diretrizes, mencionam que
uma educação de qualidade deve proporcionar nos aprendizes, o desenvolvimento
de diferentes capacidades: cognitivas, afetivas, éticas, estéticas, físicas, de inserção
social e relação interpessoal. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) esperam
que com o desenvolvimento destas habilidades possa ser formado um cidadão
capaz de se relacionar, dialogar com a comunidade, respeitar e ser respeitado,
reivindicar direitos e cumprir seus deveres.
Afirma que “A z éu f ã ã u
do homem, modificação essa que pode ser retirada e que não pode ser simplesmen-
buí ” (Gagné, 1971, p.03).
Propõe que a motivação aliada às relações afetivas com indivíduos e com o meio
proporciona condições iniciais de aprendizagem facilitando as situações que ga-
rantam a transferência do conhecimento. Considera o aspecto afetivo como impor-
15

tante força que impulsiona o aluno a estar presente na escola e envolvido com todo
o meio de estudo.
O resultado da aprendizagem ocorre através de diversos fatores, como o plane-
jamento das condições de ensino, definição de objetivos, observação e relevância
do intelecto e do emocional envolvido.
Os estímulos podem vir através de palavras, orientação do comportamento, feed-
back da performance do aluno.

“Através da aprendizagem o homem transforma o meio onde está inseri-


do. A aprendizagem é um processo contínuo, global e dinâmico. Ela de-
pende da maturidade do indivíduo, condições físicas e psicológicas, por
estar ligada à motivação, sua construção interna ao se movimentar e di-
recionar na ação de aprendizagem. As condições do ambiente como um
local adequado favorece e auxilia que o processo flua, além das condi-
ções . ” (O livro “Psicologia e Educação: o Significado do
Aprender”, organizado por Jorge La Rosa traz este assuto sob vários
aspectos.

1.5 - APRENDIZAGEM DA CRIANÇA E A AFETIVIDADE NO OLHAR


DE PIAGET

Agora, vamos buscar compreender um pouco mais as pesquisas de Piaget sobre


a afetividade e sua visão em como a mesma ajuda no processo cognitivo,
aprendizagem e desenvolvimento da criança. Para isso, vamos conhecer um pouco
sobre a trajetória deste pesquisador. Este grande estudioso contribuiu imensamente
na área da Pedagogia infantil e trouxe conceitos revolucionários sobre o
desenvolvimento cognitivo e a inteligência.
16

Vida e Trajetória

Nascido na Suíca, em 9 de Agosto de 1986 na cidade de Neuchâtel, Jean Piaget


desde pequeno demonstrou habilidade para observação e a escrita.
Com 11 anos, escreveu um texto sobre o pardal albino, demonstrando sua
capacidade descritiva. Dedicou-se desde jovem a pesquisas sobre o conhecimento
humano, demonstrando grande habilidade de raciocínio, originalidade e inteligência.
Desde muito jovem foi um grande observador do desenvolvimento infantil. Tanto
que através de suas observações e avaliações percebeu que crianças da mesma
idade repetiam os mesmos erros e concluiu que o raciocínio lógico ocorria
gradualmente. A partir de então passou a estudar as habilidades cognitivas infantis.
Retornou à Suiça em 1921 e assumiu o cargo de diretor do Instituto Jean-Jacque
Rosseau, na Universidade de Genebra. Se tornou doutor aos 22 anos em Ciências
naturais na Universidade de Neuchâtel. Alguns anos depois estudou Psicologia e
Psicanálise.
D , ub u “A L u P ”. u-
se em 1924 com Valentine Châtenay. Teve três filhas. Estas foram muito importantes
para o aprimoramento e progresso de suas pesquisas. Através da observação
analítica das próprias filhas e outras crianças ele fundamenta a Teoria Cognitiva que
divide em quatro estágios o desenvolvimento cognitivo humano.
N 1924 ub u “ Juíz R í M ”.
Foi premiado em 1936 com título de Doutor pela Universidade de Harvard, com o
íu “D u H u ”.
Neste momento, ele amplia seus estudos tendo como foco temas diversos
envolvendo a criança, o que resulta em algumas publicações de toda esta pesquisa,
“A ã (1946)”, “A â
(1948)”, “A ê uu (1959)”.
Mesmo com sua grande dedicação à pesquisa, Piaget continuou atuando como
professor de Psicologia Experimental e Sociologia na Universidade de Lausanne
(1938-1951) e na Universidade de Genebra.
Criou em 1955 o Centro Internacional para Epistemologia Genética.
No campo da Educação, a contribuição de Piaget é importantíssima e
revolucionária se contrapondo ao ensino tradicional. Isto se dá através de sua Teoria
dos Estágios.
17

Ele relata através de seus estudos todo o processo de desenvolvimento cognitivo


onde pode detalhar como esta capacidade se aprimora e desenvolve. Três
publicações são fundamentais para fundamentar seus argumentos e vasta pesquisa.
Sã u v “O ê ”, “A construção do real na
criança” “A f ã í b .”
O pensamento de Piaget b v é qu “ h
ã uj ” u bj , ã
objeto e sujeito.
Realizou contribuição imensa para a pedagogia atravésde suas pesquisas e a
teoria da construção do conhecimento, a Epistemologia Genética. A mesma explica
que o conhecimento inicia-se na nossa primeira infância e se estende até a idade
adulta do homem. Piaget é reconhecido e respeitado em todo o mundo por sua obra
valiosa que nos faz compreender um pouco mais sobre a construção da inteligência
e sua origem.
Conhecendo sua teoria surgiram diversas propostas de educação diferenciadas
respeitando as fases da criança com o objetivo de melhorar o seu desenvolvimento.
Jean Piaget é autor de cerca de 100 livros e mais de 500 artigos científicos.
Faleceu em Genebra no ano de 1980.
.

1. 6 - A AFETIVIDADE NOS PRIMEIROS CONTATOS DA CRIANÇA

Partindo da definição do conceito de AFETIVIDADE, pode-se dizer que representa


a manifestação intensa das emoções, sentimentos que o ser humano pode ter.
Afetividade é a combinação de muitos sentimentos diferentes. Estas emoções se
forem cuidadas, compreendidas podem fazer com que tenha um equilibrio emocional
maior.
Será abordada a Psicologia do Desenvolvimento infantil, juntamente com o
desenvolvimento cognitivo, baseado nos estudos de Jean Piaget.
A infância é um período de fundamental importância para o desenvolvimento da
criança, envolvendo o meio social, físico, mental que serão alicerces para o
formação dos valores. É através do afeto que a criança pode seus desejos e
vontades, sendo ela fundamental para o desenvolvimento da pessoa.
18

Para Piaget a afetividade é fator principal na socialização humana. A ausência de


afetividade pode comprometer o desempenho cognitivo.
Pela afetividade há a possibilidade de contribuição com o desenvolvimento do
indivíduo, pois esta atitude melhora consideravelmente a autoestima e possibilita a
criação de laços de uma convivência harmoniosa. Problemas educacionais ou
emocionais, muitas vezes podem ser resolvidos através de atitudes de afeto,
atenção, compreensão. Para Piaget o conhecimento é fruto da interação entre objeto
e sujeito e esta interação acontece pelas ações naturais do organismo e estímulos
externos. A afetividade funciona como uma energia que move as ações humanas e
sem a sua presença não há interesse e muito menos motivação para a
aprendizagem.
O escritor Maldonado chama nossa atenção à reflexão sobre os fatores que
prejudicam o relacionamento interpessoal, colocando que o afeto pode estar
mascarado sob camadas de medo, desconfiança, tristeza, mágoa, ressentimento,
raiva, decepção, vergonha e desconfiança. Alerta que muitas vezes, atitudes
ríspidas, podem se manifestar quando há a necessidade de se proteger contra o
medo da rejeição, falta de amor, ocasionando o bloqueio emocional para diversos
tipos de relacionamento.
A criança aprende melhor e mais rápido quando se sente amada, segura e é
tratada com todo respeito que merece.
Tudo isso leva a conclusão de que o professor é uma peça chave na construção
do ser humano nesta relação entre aluno-professor, pois sendo o professor um
facilitador do aprendizado pode potencializar as habilidades que seus alunos
possuem participando do crescimento do indivíduo por inteiro.
Através de sua abordagem construtivista do processo de aprendizagem, Piaget
considera que o conhecimento é gerado nas interações do sujeito com o meio.
A formação da inteligência na criança ocorre através de dois processos que se
complementam: acomodação e assimilação.
A assimilação é agregar novos conhecimentos unindo-os ao que já existe.
Piaget define a assimilação da seguinte forma:

(...) “uma integração às estruturas prévias, que podem permanecer inva-


riáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração,
19

mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem


destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação. ”
(PIAGET, 1996, p. 13).

A acomodação consiste num momento de ajuste das informações exteriores no


sujeito, onde ele modifica suas estruturas cognitivas para melhor compreensão dos
novos saberes. Um processo depende do outro.
N u v “A f ã ímbolo d ” ele expõe sua tese que relaciona
afetividade e inteligência como partes integradas e indissociadas no desenvolvimen-
to psicológico da criança, não sendo possível separá-las.
Mas de onde surgiu este interesse tão grande sobre este assunto tão polêmico e
discutido?
Isso ocorreu durante o período em que ministrou cursos na Sorbornne
(1953/1954), “R f v ê v v n-
”, u f b socialização, afetividade,
vontade e moral. Ele expôs como ocorre a construção dos valores morais, ideais e
sentimentos na criança. Dividiu o curso em três partes. Sua abordagem foi da inter-
ferência frequente da afetividade no funcionamento da inteligência, seu estímulo ou
perturbação, como também aceleramento ou retardamento. Ele deixa claro nesta
exposição que afetividade abrange motivação, tendências e vontades.
Aborda sentimentos de sucesso e fracasso impactando no desempenho e na apren-
dizagem.
Piaget apresenta a ligação entre os desenvolvimentos afetivo e cognitivo, mos-
trando o resultado destas construções. Aborda a questão do jogo e do símbolo.

1.7 - Estágios do Desenvolvimento Cognitivo e Afetivo


20

Através de seus estudos Piaget defendeu a teoria de que a criança passa por
diferentes estágios de desenvolvimento, responsáveis pela formação de diferentes
estruturas mentais e novas possibilidades de compreensão do mundo e atuação no
mesmo.
Os fatores de inteligência e a afetividade, segundo Piaget iniciam-se de forma
hereditária apoiada aos reflexos e instintos; os sentimentos tem como base as
tendências hereditárias. Ou seja, primeiro vem as influências hereditárias e num
segundo momento há a interferência do ambiente, responsáveis por hábitos e
percepções diferentes.
A criança assimila as experiências afetivas da mesma forma que assimila
experiências cognitivas.
O fator afetivo influencia o desenvolvimento intelectual havendo aceleração ou
lentidão no ritmo do desenvolvimento. Quando motivada, a criança progride. Em
contrapartida, a criança que se sente inferior ou incapaz não progride.
Piaget criou um longo estudo sobre o desenvolvimento cognitivo considerando os
campos motor e afetivo. Toda criança deve passar pelos estágios de
desenvolvimento na mesma sequência, porém a velocidade em que passam pelos
estágios pode não ser igual devido a fatores experienciais ou hereditários.Organizou
os estágios do desenvolvimento em quatro fases:

 Sensório-motor:
(De 0 a 2 anos) caracterizada pelo exercício dos reflexos, interligar as relações com
as transformações provocadas pelas mesmas com o ambiente, consciência da
existência de objetos. É neste momento que a criança começa a diferenciar os
objetos do próprio corpo.

 Pré-operatório
(De 2 a 7 anos) caracterizada pelo início da interiorização da representação através
da linguagem, imitação, jogo; exposição dos pensamentos (egocentrismo, intuição).
Nesta fase o pensamento da criança centraliza-se nela mesma. É a fase da
21

inteligência simbólica e intuitiva onde se inicia o surgimento da linguagem,


dramatização, socialização através da fala , dos desehos.

 Operatório concreto
(De 7 a 11 anos) Desenvolvimento das noções de tempo, espaço, velocidade,
estados lógicos como raciocínio e pensamento tornam-se mais estáveis, capacidade
de representar ação no sentido inverso. Pensamento menos egocêntrico e mais
lógico com julgamento mais correto das situações. Esta é uma fase de transição,
criação de ideias e hipoteses do pensamento.

 Operatório formal
(12 anos) Desenvolvimento de conceitos como liberdade, justiça,criar teorias sobre o
mundo, deduzir através do raciocínio de forma concreta e abstrata, maturidade. Tem
estruturas cognitivas formadas para pensar como adulto.

1.8 - Formação do Juízo Moral

Acompanham as fases do desenvolvimento da criança a construção dos valores


intelectuais.
Citação:
“Toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda
moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por
”. (O juíz ).
Estão divididas em 3 etapas as relacionadas à consciência de regras pelas
crianças.São elas:

 Anomia
Ausência de regras de conduta, onde a criança segue suas próprias vontades, não
se segue regras coletivas.

 Heteronomia
As atividades são realizadas de forma coletiva com regras, onde as crianças
participam lado a lado. As regras devem ser seguidas.
22

 Autonomia
Nesta fase possui-se um posicionamento independente, a regra é fruto do acordo
entre os participantes e deve ser respeitada.

Desenvolve-se por aí o juízo de valor, respeito as regras, uma atitude moral que
reflete na consideração e honestidade para com os parceiros de jogo, onde são
estabelecidos limites.
A aprendizagem acontece quando temos a presença do lúdico e do afeto.
A presença do jogo dentro do processo de aprendizagem transforma a atividade
em algo mais prazeroso, ocorrre o exercício das regras, integração social e a
compreensão do mundo. Faz-se uso da imaginação, criatividade, regras, imitação. O
brinquedo também está presente dentro deste processo como companheiro
inseparável da criança e estimula a expressão de sua afetividade, emoções e
também suas carências. É interessante a prática de atividades lúdicas dentro do
processo de educação para o desenvolvimento completo dos alunos.
Tendo ciência de que crianças e o adolescentes tem fases semelhantes ligadas
ao seu desenvolvimento moral, é importante da parte do professor o tato para lidar
com diferentes faixas de idade e situações, além é claro, de compreender o que está
ocorrendo. Ele precisa conduzir a criança em sua transição da anomia para
heteronomia, onde a mesma a partir daí seguirá para a próxima fase onde
desenvolverá sua autonomia moral e intelectual de maneira natural.
Segundo Piaget, a moral é aprendida no decorrer da vida em todos os ambientes
.E u v “ O juíz ” (1932), P ta que a moral se
desenvolve gradual e progressivamente desde a heteronomia até a autonomia. Suas
teorias concluem que é possível estimular cognitivamente as pessoas para atingirem
o mais alto estágio de raciocínio moral, superando o que se encontram. Levando
este tema para o prisma da educação na escola, a sua contribuição no
desenvolvimento do juizo moral pode ser atingido através da mediação do professor,
cooperação, respeito, salientação dos princípios universais de justiça ao invés de
coagir ou agir de maneira totalmente autoritária com imposição de valores.
23

CAPÍTULO 2.

VYGOTSKY E A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Vygotsky defende que o homem tem caracteristica social em sua natureza, por
surgir em ambiente repleto de valores culturais. A relação humana com o mundo é
uma relação mediada. Quando a criança nasce nos primeiros anos de existência
desenvolve movimentos sistemáticos, cérebro, percepção, mãos, seu corpo inteiro.
Ao crescer um pouco mais, ela agrega novas ações que complementam as já
adquiridas. O meio de contato social com outras pessoas é representado pelas
crianças atavés dos signos e palvras. A utilização da fala juntamente com outros
instrumentos usados pela criança causam impactos em diversas funções
psicológicas, em especial a percepção. Através desta percepção que se desenvolve,
a criança passa a observar alem de si, agora considerando tudo o que está a sua
volta, ocorre uma melhora considerável em sua atenção para aquilo que lhe
interessar particularmente. Neste momento, ela irá passar pela aquisição,
aprendizado da linguagem que está disponível no seu ambiente. A linguagem é
muito importante pois faz parte da estrutura do pensamento ao qual está ligada a
construção do conhecimento. Como consequência ocorre gradualmente o
desenvolvimento da fala responsável pelo amadurecimento da parte cognitiva e
organização das funções psicológicas.
Para seu desenvolvimento e transformações, é primordial a convivência social,
onde o mesmo pode desenvolver, passar pelo processo de transformação de ser
biológico para ser social e, levando o enfoque para a criança que nasce com funções
psicológicas elementares, através do aprendizado da cultura evolua para funções
psicológicas superiores. Esta transformação só pode ser realizada através da
mediação entre adulto e crianças a partir do qual é construído o conhecimento social
e histórico que lhe darão bases.
Segundo a visão de Vygotsky, a mediação caracteriza-se pelo processo de
interação social do homem com o mundo, através de signos, símbolos, que
interligam objeto de interação e sujeito no objetivo de novas aprendizagens e
24

aprimoramento através do desenvolvimento. Para Vygotsky, a criança internaliza o


conhecimento pelo movimento de interação com outras pessoas juntamente com
objetos existentes no seu ambiente sócio-histórico. É onde a criança ganha
habilidades primordiais para sua sobrevivência na interação afetiva com as pessoas
que fazem parte de seu meio sócio-cultural, reforçando a importância da afetividade
na aprendizagem geral.
Na presença do afeto e do lúdico a aprendizagem ocorre de maneira mais
completa. Através do jogo, brincadeira é possível desenvolver a aprendizagem, pois
nele estão inseridos a regra, imaginação e a imitação, segundo Vygotsky (1991).
Todos os tipos de brincadeiras infantis tem estes elementos presentes.
Através do jogo, da brincadeira, há o exercício de algo muito importante: a
interação. Abre-se espaço para a socialização e uso da criatividade, promovendo um
bom relacionamento entre as pessoas participantes da atividade.
O brinquedo tem uma importância primordial na vida da criança e se a ele o
professor unir o trabalho pedagógico poderá impulsionar a afetividade na criança,
onde através desta atividade é possível observar na criança seus sentimentos e
aspirações. Então é muito importante que o professor acrescente em seus projetos
atividades lúdicas, jogos, brincadeiras
É fundamental a presença da empatia entre professor e aluno. Com relação ao
professor, através da empatia ele será capaz de enxergar qual atividade é ideal
naquele momento e corresponde à realidade do aluno.
Todos estes cuidados estreitam as relações pessoais, demonstram maior
comprometimento do professor junto ao aluno trazendo aproximação, atitude de
interesse, fatores estes que farão com que o aluno se sinta motivado na realização
de suas atividades escolares.
A escola segundo sua linha de estudos, tem um importante papel no
desenvolvimento cultural, intelectual, da construção do conhecimento e dos
conceitos que a criança adquire. Ocorrre uma interação entre os conhecimentos que
a criança já possui ao qual é adicionado o desenvolvimento do pensamento e a
construção de novos conhecimentos de maneira compartilhada.
O erro deve ser encarado pelo professor dentro do processo de aprendizagem
como parte do processo ensino-aprendizagem. Vygotsky complementa ressaltando
que isso não quer dizer que o erro deva ser ignorado. A consciência do erro deve ser
mostrada através da correção mostrando ao aluno a necessidade de melhorar e se
25

empenhar nas áreas em que ele tenha dificuldade e não domina. Uma boa
alternativa neste caso, é a realização de trabalhos em grupo que contribuirão para
amadurecimento, aprimoramento de ideias e conhecimentos, além da interação
social. Complementando este momento, é necessário haver o trabalho individual
envolvendo alunos e professor, onde o educador será capaz de enxergar com
clareza o desenvolvimento real e proximal de seus alunos.
Outra ferramenta de desenvolvimento colocada por Vygotsky é o brinquedo, “f z
”. Através das brincadeiras acessam-se zonas de desenvolvimento proximal,
realizada através de situações de repetição de valores, regras sociais, imitação de
papéis, exercitando na criança diversas possibilidades. No brinquedo a criança é
impulsionada a ações além de seu comportamento normal. Ela utiliza a criação de
uma situação imaginária, onde há presença de limites ou formasde agir baseadas no
seu mundo externo, maior observação dos fatos que ocorrem, aparecimento de
regras e modelos que correspondem ao mundo real ao qual elas devem seguir para
assumir um personagem, um papel. É o momento onde se envolve num mundo
ilusório repleto de questões as quais ela quer responder, desejos realizados ou não.
Para ele, a formação educacional do homem está baseada na cultura,linguagem e
relações sociais, possibitando um indivíduo com suas capacidades plenamente
desenvolvidas, onde as relações e interações com outros indivíduos, sua cultura,
contexto histórico, estão a todo momento se construindo e modificando-se em
constante evolução.
Através da interações culturais, o indivíduo vai evoluindo da formas elementares
do pensar para as abstratas, que auxiliarão no conhecimento de sua realidade e
controle.
Facci (2004) enfatiza que os processos mediados transformam as funções
psicológicas superiores, como memória, abstração, comportamento
intencional.Todos estes são o resultado da interação da pessoa com o meio em que
vive.
Para Vygotsky o desenvolvimento é dividido nos níveis:

 Desenvolvimento Real
Representado por tudo aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha.

 Desenvolvimento Potencial
26

Representado por tudo o que a criança não realiza sozinha, mas que pode ser
atingido com a mediação de um adulto.

É fundamental que o professor conheça o aluno para mediar dentro destes dois
níveis de desenvolvimento, conhecido como zona de desenvolvimento proximal.
A Zona de desenvolvimento proximal é capaz de demonstrar aos educadores a
capacidade de desenvolvimento real do aluno e onde o mesmo pode chegar, seu
desenvolvimento potencial, se for estimulado. Constitui então em importante
ferramenta.
Vygotsky afirma que “ v v ã
aprendizagem. O caminhar do desenvolvimento é mais lento do que os processos
de aprendizagem”.
Ao nascer, a criança necessita da presença e mediação do adulto para garantir
sua sobrevivência e interação com o mundo ao seu redor. Por isso, a fala/linguagem
é o mediador principal que constrói as funções psicológicas superiores, por ser
responsável pela formação do pensamento e comunicação. A linguagem tem como
função principal o contato social. É usada como forma de expressão das idéias e
comunicação, onde linguagem e pensamento se tornam parte de uma mesma
faceta, sendo o pensamento verbal e a linguagem racional no seu caráter.
O pensamento verbal está ligado às atividades psicológicas. A linguagem está
ligada ao significado e sentido. O significado relacionado às relações objetivas
ocorridas na construção da palavra. Já o sentido ao lado afetivo da palavra para
cada pessoa, tendo um aspecto mais pessoal.
Vygotsky afirma que as interações sociais, mediação e internalização, sãos
aspectos fundamentais da aprendizagem, pois a construção do conhecimento
ocorre durante o processo de interação social.

“A ( u f )
passam a ser entendidas como condição necessária para a produção de
27

conhecimentos por parte dos alunos, particularmente aquelas que permi-


tem o diálogo, a cooperação e troca de informações mútuas, o confronto
de pontos de vista divergentes e que implicam na divisão de tarefas onde
cada um tem uma responsabilidade que, somadas, resultarão no alcance
de um objeto comum. Cabe, portanto, ao professor não somente permitir
que elas ocorram, como também promovê-las no cotidiano das salas de
u . ” (VYGOTSKY apud REGO, 1995, p.110)

Na visão do pensador Henry Wallon a afetividade e a inteligência são muito


importantes no processo de aprendizagem infantil. Segundo ele a afetividade faz
parte das primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança
experimenta, ainda num estágio mais simples e primitivo. Ao se aprimorar, a
afetividade sofre grande influência de ações do meio ambiente, com uma evolução
progressiva e gradual, onde as manifestações vão se separando da base orgânica e
estando cada vez mais próximas ao meio social. O papel do educador deve ser de
estimular o progresso da criança conhecendo bem seu lado emotivo e racional. A
interação através das relações sociais com enfoque na emoção selecionando
contatos de qualidade ajudarão a criança a expandir seus horizontes.

“A ã z ã u consciência
dos estados mentais e de uma primeira percepção das realidades exter-
nas. (...) sendo a vida emocional a condição primeira das relações inte-
rindividuais, podemos dizer que ela está também na origem da atividade
representativa, logo, da vida intelectual. (Galvão in Arantes, 2003, .74).

2. 1 - A VISÃO DE WALLON SOBRE A AFETIVIDADE

Wallon defende a grande importância da afetividade não só em relação a aprendi-


zagem, mas também no desenvolvimento e funcionamento do indivíduo. A afetivida-
de é muito importante por ser o meio de expressão dos desejos e vontades.
Ele acredita que o contato estabelecido pela criança ao nascer com as pessoas
ao seu redor é muito importante por envolver não só a cognição, mas também as
emoções. Através de sua teoria, afirma que existe uma intrínseca ligação entre e-
28

moção e razão na construção da inteligência e esta depende das manifestações e


construções afetivas. Para Wallon, a constituição biológica da criança, não será o
único fator de seu destino, pois ela passará por muitas modificações relacionadas as
circunstâncias da vida e suas escolhas pessoais. Pode-se concluir que o desenvol-
vimento da pessoa não está relacionado e dependente apenas do potencial heredi-
tário, mas também ligado ao meio a que pertence, gerando mudanças genotípicas.
Para ele as emoções estão presentes desde o nascimento e são mostradas através
da expressão corporal e motora bem como através da afetividade.
Wallon é responsável por grandes contribuições no campo da educação do siste-
ma educacional francês. Ele destaca três momentos importantes e marcantes, se-
quenciais na evolução da afetividade. São eles: emoção, sentimentos e a paixão.
Na emoção prevalece a ativação fisiológica; no sentimento a ativação representa-
cional e na paixão a ativação do autocontrole. Emoções são um conjunto de atitudes
reveladas pelo tônus muscular, alteram a respiração e os batimentos cardíacos. Ela
faz com que as respostas orgânicas sejam rápidas .
Já os sentimentos fazem parte da expressão que representa a afetividade, são
manifestações mais evoluídas e aparecem mais tarde nas crianças.
A paixão está atrelada ao ciúme, exclusividade, exigências e ´pode deixar a emo-
ção silenciosa, envolvendo autocontrole do comportamento.

A relação afetiva proporciona um primeiro contato com sua forma de consciência


e recurso de interação com seu meio social.
A afetividade influencia o processo cognitivo. A partir do desenvolvimento da inte-
ligência os estados emocionais crescem e se tornam mais complexos; ocorre o forta-
lecimento da linguagem e pensamento, favorecendo um maior controle das manifes-
tações das emoções no indivíduo.
Os avanços conquistados no campo cognitivo influenciam o campo afetivo e vice-
versa. Ele acredita que o professor tenha a responsabilidade de aprender a lidar
com o estado afetivo da criança para assim incentivar e estimular seu crescimento
individual.
O primeiro ambiente com o que a criança interage e sofre suas influências é o da
família. Em seguida, a escola tomará um grande espaço dando continuidade nesta
interação repleta de transformações, experiências novas. Este papel é ocupado pelo
29

professor. A criança na faixa de 8 anos gosta de ouvir os adultos, conversar,


observar suas expressões e está mais perto dele afetivamente. Souza afirma que:

“Para que haja um desenvolvimento harmonioso é importante satisfazer a


necessidade fundamental da criança que é o amor. (...) O professor, na sua
responsabilidade e no seu conhecimento da importância de sua atuação,
pode produzir modificações no comportamento infantil, transformando as
condições negativas através das experiências positivas que pode propor-
cionar. Estabelecerá, assim, de forma correta, o seu relacionamento com a
criança, levando-a a vencer suas dificuldades.” (página 10-11)

A escola após a família é o segundo ambiente de socialização para a criança e é


sem dúvida uma referência de aprendizagem. É de suma importância que a criança
se sinta segura, acolhida, protegida. O papel do professor é primordial na ação
transformadora e de construção dos valores da criança. Faz-se necessária muita
paciência, colaboração, participação, vontade de ajudar. Um ambiente de harmonia
faz toda a diferença.
É durante a infância, nesta fase que a criança está construindo gradualmente seu
próprio conhecimento, aprimorando sua compreensão emocional. Gostam de
participar, se comunicar, receber elogios pelo seu progresso, ligadas a professora e
aos colegas de sala. Por isso é tão importante este período de aprimoramento, onde
faz-se necessário conhecer os alunos, seus pontos positivos e negativos, ajudando-
os a superar suas dificuldades.
Propiciar fatores que promovam o bem estar auxilia e muito no desenvolvimento
normal e natural da personalidade da criança, lhe dando referências positivas e
criando nela estas qualidades.
30

2.2 - CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Foi realizada uma observação em sala de aula do rendimento de crianças do


fundamental. Assistindo às aulas, constatou-se que algumas apresentavam
dificuldade na realização das atividades escolares, bem como na relação com os
colegas e professor.
Ao passar de alguns dias constatando o mesmo quadro, procurei a
coordenadora pedagógica e relatei minhas impressões em sala deste quadro.
Mostrei minhas anotações, nomes das crianças, idade e tipo de dificuldades, perfil
comportamental. A coordenadora me confidenciou que estas crianças tinham em
comum o aspecto de problemas afetivos familiares frequentes e recorrentes onde a
familia não participava da vida da criança com incentivos, gestos de afeição,
confiança, interesse, cuidados, enfim, amor. As mesmas demonstravam dificuldade
de relacionamento interpessoal com colegas, professores, dificuldades em assimilar
os conteúdos, de expressar afetividade.
Em relação a esta questão surge uma série de questões sobre que ação tomar
diante deste quadro. Até onde cobrar da família, quais as causas dos problemas
observados, o que se pode exigir do aluno. Por onde começar?
Num primeiro momento se faz necessário encontrar os pontos fortes e pontos
fracos que necessitam de estímulo.
Após muita observação e leitura sobre o assunto, cheguei a conclusão de que
um dos fatores que contribuem para este quadro são as situações negativas de
interação social registradas na infância. Aguns aspectos que podem ocasionar esta
realidade são:

 Separação familar, mudança inesperada de escola ou residência (cidade).

 Problemas emocionais e socio-culturais.

 Alto grau de exigência dos pais, excesso de atividades extra-curriculares,


desorganização familiar.
31

 Disturbio de aprendizagem que se tratam de um conjunto de alterações que


evidenciam dificuldades no uso da leitura, fala, escrita, raciocínio ou
habilidades para cálculos numéricos.

 Dislexia que se trata na dificuldade de fluência da leitura, memória limitada e


curta, dificuldade na diferenciação de sons.
 Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem origem
hereditária ou neurobiológicas que podem ser ocasionadas por complicações
na gestação ou parto, lesões cerebrais adquiridas, uso de drogas durante a
gestação, dentre outros.

 Super Habilidades podem ser constatadas por um mau desempenho escolar


por menosprezarem as atividades escolares, achando-as muito fáceis, onde
as mesmas têm comportamento distraído, desinteressado. Com isso pode
haver uma baixa auto estima devido aos resultados encontrados de fracasso.

 Sobrecarga está relacionada a crianças com uma agenda intensa de atividades


que resultam em baixo aproveitamento, stress e poucas horas de descanso.

Algumas medidas para auxiliar na transformação deste quadro envolvem a


atuação conjunta de diversas áreas e profissionais: neurologia, psicologia,
psicopedagogia. O apoio dos pais buscando acompanhar e dar suporte a criança,
além de ações de professor e coordenador pedagógico junto aos demais envolvidos
podem contribuir na busca de ir minimizando estas diferenças buscando que a
criança tenha um melhor aproveitamento de todas as suas habilidades e seja
incentivada a romper os desafios e dificuldades de aprendizagem, sentindo-se
apoiada, aprovada,valorizada e amparada. Podem ser desenvolvidas atividades
específicas e individuais que se voltem para o trabalho da deficiência identificada e
na superação da mesma.
O papel da escola após a avaliação individual do aluno é através da
compreensão de suas dificuldades criar uma estratégia que possa auxiliá-lo no
processo de aprendizagem.
32

Atitudes como as listadas abaixo podem auxiliar na resolução deste problema.


São elas:
 Desenvolvimento de Pequenos projetos: Selecionar a escolha de um tema e
buscar despertar a curiosidade dos alunos. Usar recursos como
dramatização, painel, exposição etc.

 Material didático mais acessível: facilitar a compreensão e interesse pelos


materiais didáticos, tornando-os mais simples e acessíveis, para que os
alunos com dificuldade possam compreendê-los melhor. Pode ser feito o
uso de ilustrações com enfase nos sentidos principais, separação de
informações em linhas, além de auxiliar a criança a encontrar estas
informações e a compreendê-las, interpretá-las.

 Uso de material concreto: utilização de blocos, brinquedos, moedas ajudam


a assimilação e associação no processo de aprendizagem.

 Diversificação: usar a criatividade a apresentar o mesmo conteúdo de


maneiras diferentes ajuda aos alunos com dificuldade ter maior
compreensão do assunto.

 Atividades lúdicas ou jogos: o jogo por ser uma atividade prazeirosa


promove a satisfação e ao mesmo tempo a construção do conhecimento.

Segundo Fernández (1991) o jogo possibilita o desenvolvimento da criatividade e


a construção do conhecimento ao mesmo tempo e faz com que a criança
estabeleça vínculos positivos com o ambiente da escola e seus conteúdos. Podem
ser exploradas diversas áreas do conhecimento através dos jogos.

Na superação de suas dificuldades é fundamental a participação ativa do


professor, muito tato e sensibilidade para perceber o que se esconde por trás de
certos comportamentos dos alunos como: rispidez, grosseria, gritos. Estes tipos de
atitudes podem representar problemas de auto-estima.
33

“O f ã h f ju u qu f
problemas emocionais ou interpessoais. Quando os alunos têm uma vida
familiar caótica e imprevisível, eles precisam de uma estrutura firme e atenta
na escola. Eles precisam de professores que estabeleçam limites claros, se-
jam consistentes, apliquem as regras firme, mas não punitivamente, respei-
tem os alunos e mostrem uma preocupação genuína com o seu bem-
estar. Como professor, você pode estar disponível para conversar sobre
b qu u u f ” (WOOLFOLK,
2000, p.47)

Segundo Fernández (1991):

“[...] é u qual a inteligência seria o


fio horizontal e o desejo o vertical. Ao mesmo tempo acontecem a
f ã b z ã b ” ( .
67)

Pode ocorrer desatenção pela falta de interesse nas atividades escolares pelo aluno,
as quais tem motivação em diversas origens como problemas na família, por
exemplo. Há a possibilidade de dificuldade na adaptação com a metodologia
utilizada na escola e a maneira de aprender da criança
34

2.3 - AFETIVIDADE E O CAMPO EDUCACIONAL NO OLHAR DE PIAGET

Pudemos perceber durante toda exposição do tema presença forte e histórica


da dicotomia em relação a aprendizagem e cognição. Boa parte dos trabalhos
realizados tratam os dois aspectos de forma separada ignorando a presença da
afetividade nas questões cognitivas e vice-versa.
Através do trabalho de Piaget e toda sua pesquisa, pudemos perceber o
quanto os dois aspectos estão interligados e fazem parte da formação e
desenvolvimento da pessoa como um todo. Ele mostra através de toda sua pesquisa
a importância do cuidado do aspecto afetivo dentro do processo de ensino-
aprendizagem.
Piaget propõe a reflexão sobre este assunto demonstrando que a afetividade é
uma das bases do progresso psicológico e da formação de conhecimentos
cognitivos; as formações intelectuais estão ligadas etapa a etapa ao aspecto afetivo.
Ele explica que nossos afetos podem vir a tona através de nossas emoções. Dentro
do ambiente escolar a aprendizagem é muito influenciada pelas relações afetivas
que envolvem todos os envolvidos no cenário. Dentro da escola o processo de
interação pode influenciar de maneira positiva a ação do aluno e uso de suas
capacidades, interferindo no seu pensamento, comportamentos (social, psicológico,
emocional) e automaticamente o desempenho escolar.
Segundo La Taille (1992), Piaget afirma que:

“O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motiva-


ção possa ser despertada por um número cada vez maior de objetivos
ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio bá-
sico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações,
e a razão está ao seu serviço (LA TAILLE, 1992, p:65).

O papel do educador é de extrema importância para que a criança adquira o


conhecimento. Ele deve incentivá-la e impulsioná-la a ter experiências que explorem
seu lado cognitivo/afetivo a se desenvolver.
A afetividade tem influência decisiva no pensamento, vontades, ações,
percepção, memória e pode vir como um elemento essencial para o equilíbrio da
personalidade.
As concepçoes de Ribeiro e Jutras (2006) vem reforçar a importante
contribuição de relações afetivas positivas dentro da sala de aula, promovendo um
35

bom resultado no processo de aprendizagem,devido ao ambiente cultivado com


elementos que valorizam respeito mútuo, afeição, confiança, motivação. Eles
concluem que:
“Os resultados positivos de uma relação educativa movida pela afetivi-
dade opõem–se àqueles apresentados em situações em que existe ca-
rência esse componente. Assim, num ambiente afetivo, seguro, os alu-
nos mostram–se calmos e tranquilos, constroem uma autoimagem posi-
tiva, participam efetivamente das atividades propostas e contribuem para
o atendimento dos objetivos educativos. No caso contrário, o aluno rejei-
ta o professor e a disciplina por ele ministrada, perde o interesse em fre-
quentar a escola, contribuindo para seu fracasso escolar. O professor
que possui a competência afetiva é humano, percebe seu aluno em suas
múltiplas dimensões, complexidade e totalidade (RIBEIRO e JUTRAS,
2006).

Diante de tantas pesquisas e estudos, além de argumentos que consolidam as


teses colocadas, chegou-se a conclusão de que a afetividade é irmã da cognição
dentro do processo de aprendizagem, fazendo parte de sua essência, com grandes
contribuições no desenvolvimento cognitivo, social e moral da criança, favorecendo
as relações sociais e o desenvolvimento do indivíduo como um todo. A escola
através do educador e todos os seus personagens tem o importante papel de
grandes oportunidades de evolução progresso nos seus alunos.
36

CAPÍTULO 3

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste trabalho e pesquisa, o objetivo é de uma grande reflexão sobre a


relação entre afetividade e aprendizagem, deixando de lado a dicotomia, buscando
repensar a atuação dentro da sala de aula de forma mecância e distante.
As teorias e estudos de Piaget e outros importantes pesquisadores foram a
base de apoio para o estudo deste tema, alicerçando através da exposição das
pesquisas e influências os resultados comprovados que relacionam afetividade,
cognição, aprendizagem e educação.
É preciso considerar a criança como um todo, envolvendo seu lado afetivo e
cognitivo como faces de uma mesma moeda. A escola poderá a partir disso realizar
um trabalho pedagógico que considere a afetividade, a moral como ferramentas que
completam o trabalho cognitivo e intelectual, visando uma aprendizagem global,
integradora. O professor, em todo este processo é um mediador importante para a
transmissão do conhecimento, além de auxliar na formação do indivíduo e no seu
desenvolvimento.
A transmissão do conhecimento à criança e sua aprendizagem está ligada a
relação afetiva que envolve motivação, interação.
No aspecto moral, o respeito mútuo tão importante nas relações entre as
pessoas tem grande possibilidade de ser atingido através da afetividade.
Este respeito criará uma relação de confiança, admiração, obediência, carinho
clima que favorece a assimilação dos conteúdos e a aprendizagem na sala de aula.
Dentro do ambiente escolar, se não houver respeito, será muito difícil atingir os
objetivos relacionados ao processo de aprendizagem. A afetividade é responsável
pela construção de mundo da criança, suas percepções e sentimentos.
A relação no ambiente escolar entre aluno e professor envolve carinho,
respeito, admiração, confiança, valorização das qualidades, ouvir e falar,
aproximação e condições para que o aluno se desenvolva e expresse. Em ambiente
de hostilidade, desrespeito as condições de aprendizagem se tornam muito difíceis.
Há a necessidade de rever e renovar os processos de ensino-aprendizagem, ensino,
37

direção, avaliação, tratamento de conflitos, comunicação. É preciso refletir sobre a


separação entre razão e afeto. Os dois aspectos fazem parte de um mesmo conjunto
e o equilíbrio depende desta construção equilibrada por inteiro que possibilita o
aprendizado da convivência em sociedade. É preciso conciliar a relação de
igualdade e diferença, paz e violência trabalhando conjuntamente professor de forma
democrática junto aos alunos com desenvolvimento da criatividade deles, liberdade
de expressão, valorizando cada pessoa por sua característica individual. Afinal de
contas aprendemos de forma diferente, a comunicação tem suas particularidades, é
singular e cada um tem seu próprio tempo para absorver o conhecimento.
A teoria de Piaget contribui imensamente para o processo de aprendizagem e
está presente de maneira muito atual até hoje.
O professor tem o papel de mediador do conhecimento, mas acima de tudo de
um formador de conceitos, perspectivas, aprimoramento individual, incentivando,
reconhecendo os atributos, se aproximando, integrando aos conteúdos aspectos
sociais muito importantes na constituição do indivíduo como uma pessoa de valor.
A escola através de seus educadores deve valorizar e utilizar esta ferramenta
tão importante que complementa a aprendizagem baseada nos conteúdos, a
afetividade que pode transformar significativamente todo o ambiente escolar,
formando cidadãos melhores com maior consciência de mundo.
Esta pesquisa sobre a afetividade no processo de aprendizagem me fez
concluir que o afeto, a presença das emoções em todo o processo cognitivo, é algo
fundamental e importantíssimo para formar pessoas solidárias, críticas, atuantes,
criativas, inseridas na sociedade que saibam se relacionar. É muito importante a
participação da família junto à escola unindo forças para a construção desta
realidade. E um dos fatores mais importantes é que todo este trabalho mútuo
promova o crescimento e florescimento de sentimentos como o respeito, carinho,
amor, atenção, admiração, solidariedade, tolerância, compreensão na convivência.
Que estes valores sejam levados a todos os ambientes da vida dos atores
participantes deste processo de construção do conhecimento e do ser humano.
38

“APRENDIZAGEM...

"Aprender não significa adquirir mais informação, mas expandir


a capacidade de produzir os resultados que verdadeiramente
desejamos na vida."
Aprender não quer dizer fazer uma interpretação e representa-
ção interna da realidade ou informação externa, mas fazer uma
interpretação e representação pessoal de tal realidade. A intera-
ção pessoal e a construção individual juntas contribuem para
que o individuo obtenha uma aprendizagem unica! Ninguém po-
de aprender por nós. ”
39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, V. A. A afetividade no Cenário da Educação. In: OLIVEIRA, M. K;


SOUZA, D. T; REGO, t. (ORGS) Psicologia, Educação e as temáticas da vida
contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002, p. 159- 174.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de
Educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. p 107-108.

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 17. ed. São Paulo: Gente,
2004.

CUNHA, M. V. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

CURY, Augusto J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sex-


tante, 2003.

DANTAS, Heloysa. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de


Wallon. In: DE LA TAILLE, Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo: Summus, 1992.

DIAS, Marli Mendes. O lugar da afetividade no cotidiano escolar. São Paulo:


2007. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_opinião.php?. Acesso
em: 25 jun. 2009.

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 4


ed.
Petrópolis: Vozes, 1998.

LA TAILLE, Yves de et alii. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em


discussão. 8ª edição, São Paulo: Summus, 1992.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança, Coleção Plural nº 10, 1971

Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/ SFF,


Volume 1: Introdução, 1998.

http://desenvolvimento-infantil.blog.br/por-que-algumas-criancas-nao-conseguem-
aprender/
40

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/as-contribuicoes-
teoricas-de-lev-vygotsky-para-a-aprendizagem/32650

https://pt.wikiquote.org/wiki/Jean_Piaget

http://psicologiadoensino.blogspot.com.br/2011/05/

https://www.ebiografia.com/jean_piaget/

Você também pode gostar