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Gabinete do Subprocurador-Geral
LUCAS ROCHA FURTADO
REPRESENTAÇÃO,
- II –
Em 08/04/2021, o site da revista Veja divulgou matéria com o título
“Acusações do passado envolvem ONG administrada por Flávia Arruda”, nos
seguintes termos:
Acusações do passado envolvem ONG administrada por Flávia Arruda
A aliança de Jair Bolsonaro com o chamado Centrão avança em etapas. Primeiro, o
presidente abandonou sua promessa de campanha de não negociar com os partidos desse
grupo, que eram considerados por ele a essência do fisiologismo. Depois, ele distribuiu
cargos às legendas e apoiou a eleição de um expoente do bloco, o deputado Arthur Lira
(PP-AL), para a presidência da Câmara. O ato mais recente foi ainda mais ousado.
Bolsonaro levou o Centrão para dentro do Palácio do Planalto ao nomear Flávia Arruda
(PL-DF) para o cargo de ministra da Secretaria de Governo, pasta que cuida da
articulação política e da relação com o Congresso. Deputada de primeiro mandato,
Flávia tomou posse na terça-feira 6, numa solenidade reservada, diante do olhar atento
dos principais responsáveis por sua indicação, entre eles o ex-deputado e mandachuva
do PL Valdemar Costa Neto, que, apesar de ter passado uma temporada na cadeia após
ser condenado no processo do mensalão, se tornou o mais novo aliado de Bolsonaro.
Ao escalar Flávia para a sua equipe, o presidente desatou vários nós. Com 42 deputados,
o PL reclamava de não ter uma pasta na Esplanada dos Ministérios. Essa questão foi
superada. A escolha da deputada também ajudou a baixar a fervura de outro ponto
considerado crucial. Havia tempos que o Centrão queria que um dos seus quadros
assumisse a Secretaria de Governo e a coordenação de uma de suas principais
atribuições: a distribuição de cargos e emendas parlamentares. Com a passagem de
bastão para o Centrão, Bolsonaro deu mais um passo em sua tentativa de amarrar o
grupo a seu projeto de reeleição. A aliança está bem encaminhada, mas há obstáculos
pelo caminho. Uma das primeiras missões de Flávia agora é tentar costurar um acordo
entre seus colegas parlamentares, sobretudo os colegas de Centrão, e o Ministério da
Economia, que duelam sobre o montante de emendas parlamentares que deve ser
preservado no Orçamento da União deste ano.
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Flávia não foi formalmente investigada por “falta de indícios suficientes” para processá-
la, segundo promotores do DF. Na verdade, nem ela nem o marido foram indiciados ou
ouvidos para esclarecer os fatos envolvendo o Instituto Fraterna. “Ao final de toda a
investigação se percebeu que alguns fatos apontados pelo delator não tinham prova
nenhuma”, disse a VEJA o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende a família do
ex-governador. Em nota, a ministra afirmou que “as investigações do Ministério Público
do Distrito Federal não apontaram qualquer irregularidade, motivo pelo qual o caso foi
arquivado”. O ex-governador foi condenado a onze anos de prisão por corrupção e
falsidade ideológica em dois processos, mas recorre em liberdade. Sua carreira sofreu
um sério abalo. Mas a da sua mulher, definitivamente, está em franca ascensão.1
Caixa de Pandora, o que abre antecedentes perigosos, sobretudo num período em que o
governo tenta acabar com a Lava Jato e afrouxar o combate à corrupção. Não é um bom
sinal.
Valdemar
Além de ser bancada por Lira, réu por corrupção, Flávia é do PL, partido comandado
por Valdemar da Costa Neto. O ex-deputado esteve preso até recentemente por causa do
mensalão, acusado de embolsar verbas públicas para apoiar Lula. Sua ex-mulher,
Christina Mendes Caldeira, está escondida nos EUA desde 2017, temendo ser morta: ela
sabe muito.
Até tu, Lira
Não convidem Paulo Guedes e Arthur Lira para a mesma mesa. O ministro está batendo
de frente com o presidente da Câmara, repetindo as trombadas com Rodrigo Maia. Lira
já reclamou do ministro a Bolsonaro, dizendo que ele perdeu as condições de gestão da
economia. Pede sua cabeça, dizendo que o fracasso da economia será fatal para a
reeleição.
Retrato falado
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, entende que a
tentativa de Bolsonaro de fazer uso político das Forças Armadas é mais um motivo para
ele sofrer processo de impeachment, além dos inúmeros crimes de responsabilidade
cometidos pela inação no combate à pandemia. Já são quase 100 pedidos de
impedimento contra ele na Câmara. “Se o Congresso não propuser sua saída, será
cúmplice da desgraça que se abate sobre Brasil”, diz o deputado...2
Se, por um lado, as notícias divulgadas, não se relevam, por si sós, como
atos flagrantemente ilegais - haja vista a possibilidade de ao menos formalmente se
enquadrarem nas hipóteses admitidas no ordenamento jurídico. Por outro lado,
demonstram total afronta aos princípios administrativos e desvio de finalidade no ato
praticado, uma vez que a nomeação de pessoa suspeita de corrupção demonstra
claramente a tentativa do presidente da república de agradar o presidente da Câmara
dos Deputados, Arthur Lira, réu por corrupção, que pode a qualquer momento colocar
em votação na Câmara assuntos que desagradam Bolsonaro, como os quase 100
pedidos de impedimento contra ele.
Sendo assim, por mais que se possa defender que a Secretaria de Governo é
um cargo de livre nomeação e de confiança do Presidente da República, a
discricionariedade dessa decisão não pode ser confundida com total liberdade de
decisão.
No âmbito público, não há de existir espaço para vontades particulares. O
agente público deve sempre agir buscando o interesse público e respeitando o
disposto em lei. Desse modo, o princípio da legalidade não serve para engessar o
administrador público, mas serve para guiá-lo na consecução do interesse público.
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Disponível em: < https://istoe.com.br/uma-senhora-encrenca/>. Acesso em 12.04.2021.
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Além disso, há que se lembrar que, conforme art. 37 da Constituição Federal de 1988,
a administração pública obedecerá ao princípio da legalidade, da impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência 3.
Dessa forma, no momento em que o Presidente da República nomeia como
ministra da Secretaria de Governo, para interlocução do governo com o congresso,
uma deputada de primeiro mandato, com suspeitas de corrupção ainda não
esclarecidas, para agradar interesses do presidente da Câmara dos Deputados, a meu
ver, existe claro desvio de finalidade no ato praticado, além de afronta ao princípio da
impessoalidade.
Cumpre notar que as notícias afirmam inexistir provas no âmbito judicial.
Contudo, tal decisão não vincula o Tribunal diante da independência das instâncias.
Conforme reiteradas decisões dessa Corte, a absolvição do responsável na esfera
penal por ausência de provas não repercute necessariamente na esfera
administrativa, uma vez que a inexistência dos pressupostos para a configuração
do tipo penal não implica a não configuração do tipo administrativo. A conduta
residual pode ser suficiente para a responsabilização do agente perante o TCU.
Cabe relembrar que suposta sentença absolutória em âmbito judicial
somente teria repercussão na instancia administrativa do TCU quando declarada a
inexistência do fato ou que o responsável não concorreu para a infração penal. E
sendo assim a insuficiência de provas na esfera judicial não impede a
responsabilização do gestor perante o TCU.
Nesse contexto, os acontecimentos acima relatados reclamam, a meu ver, a
pronta atuação do TCU, de modo a conhecer e a avaliar a nomeação da Deputada
Flávia Arruda como ministra da Secretaria de Governo, ante os indícios de
sobreposição de interesses particulares do Sr. Bolsonaro ao interesse público,
praticando ato em desvio de finalidade e com ofensa aos princípios constitucionais da
legalidade, da impessoalidade, moralidade e eficiência.
Reclamam ainda a investigação das suspeitas de corrupção no Instituto
Fraterna, ONG presidida pela então primeira-dama do DF, Sra. Flávia Arruda.
- III -
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artigos 237, inciso VII, do Regimento Interno do TCU, aprovado pela Resolução
155/2002, requer, pelas razões acima aduzidas, que o Tribunal conheça desta
representação para, no cumprimento de suas competências constitucionais de controle
externo de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da
Administração Pública Federal, decida pela adoção das medidas necessárias a
conhecer e a avaliar:
a) a nomeação da Deputada Flávia Arruda como ministra da Secretaria de
Governo, ante os indícios de sobreposição de interesses particulares do
Sr. Bolsonaro ao interesse público, praticando ato em desvio de
finalidade e com ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, da
impessoalidade, moralidade e eficiência e;
b) em caso de existência de recursos públicos federais envolvidos, as
suspeitas de corrupção no Instituto Fraterna, ONG presidida pela então
primeira-dama do DF, Sra. Flávia Arruda.