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Deltan se aliou a bolsonaristas, fez oposição a Lula e apresentou 3

projetos em 4 meses de Câmara


História por Levy Teles e Tácio Lorran • Há 5 h
Fonte (links): Como explicar para a sociedade que Lula é elegível e o Deltan inelegível?

Deltan se aliou a bolsonaristas, fez oposição a Lula e apresentou 3 projetos em 4 meses de Câmara

BRASÍLIA – Até ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado Deltan
Dallagnol (Podemos-PR) atuava como uma das principais vozes de oposição ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara. Em quatro meses de mandato, Dallagnol
apresentou três projetos de lei, foi coautor de mais dois, assumiu três relatorias, elaborou
21 requerimentos de informação para cobrar dados e respostas do governo e se
aproximou de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Das poucas pautas caras a Lula já votadas na Câmara, Dallagnol se posicionou contra
todas. O deputado cassado se opôs à urgência para a votação do arcabouço fiscal e
do Projeto de Lei das Fake News, votou para derrubar decreto de Lula para alterar regras
do Marco Legal do Saneamento e rejeitou o projeto que equipara o salário entre homens e
mulheres.

Deltan Dallagnol reuniu colegas e concedeu entrevista coletiva no dia 17 de maio, na Câmara, após ser cassado pelo TSE;
ex-procurador disse ao 'Estadão' que vai 'lutar até o fim' para recuperar mandato Foto: Wilton Júnior/Estadão

© Fornecido por Estadão


“Nós temos um governo que tem a faca e o queijo na mão, que já ultrapassou todas as
barreiras da história, passando por cima de regras anticorrupção, sendo amigo de
ditadores, e que tem a faca e o queijo na mão para amordaçar o Brasil”, discursou
Dallagnol ao defender seu posicionamento contra o PL das Fake News.

Integrante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o ex-procurador da Lava Jato


estava entre os dez deputados que votaram contra a PEC da Anistia, que perdoa multas e
crimes eleitorais cometidos pelos partidos nas últimas eleições. Como mostrou
o Estadão, a mesma PEC, agora, é vista por defensores de Dallagnol como um texto que
pode ser ajustado para incluir um dispositivo capaz também de anistiá-lo.

A Câmara dos Deputados foi notificada da decisão do TSE na noite de quarta-feira, 17. No
dia seguinte, um emissário da Corregedoria da Câmara esteve no gabinete de Deltan, mas
ele não estava presente. A partir do momento em que receba pessoalmente a notificação,
ele terá cinco dias para apresentar sua defesa. Após a elaboração do relatório pelo
corregedor, deputado Domingos Neto (PSD-CE), o processo é remetido à Mesa Diretora,
que precisa dar seguimento (ou não) à perda de mandato. Ou seja, na prática, a decisão do
TSE ainda não foi aplicada.

Enquanto isso, a mobilização em torno do ex-procurador para tentar salvar o mandato,


aumenta. Na tarde deste domingo, 21, está prevista uma manifestação em favor do
deputado cassado na frente do Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba, onde ele
atuou contra Lula na força-tarefa da Lava Jato.

Veja as iniciativas de Dallagnol na Câmara:


Projetos de lei
Individual

1. Castigo físico: o projeto prevê a obrigação de serviços públicos ou privados de


saúde de comunicar a conselhos tutelares ou à polícia indícios de castigo físico,
tratamento cruel ou degradante e maus-tratos contra criança e adolescente

2. Espectro autista: a proposta estabelece prazo indeterminado para laudo médico


que ateste transtorno do espectro autista. Apresentado em fevereiro, o PL 590/23
acabou apensado (incluído para tramitação conjunta) em outro texto, o PL
507/2023, e aprovado em plenário da Câmara no dia 10. A proposta seguiu para
análise no Senado.
3. Auxílio a mulheres: a iniciativa prevê que bares, restaurantes e casas noturnas
adotem obrigatoriamente medidas de auxílio a mulheres que se sintam em
situação de risco.

Deltan Dallagnol nos corredores da Câmara, dia 17; ele foi notificado da decisão do TSE pela Corregedoria da Casa no dia
seguinte; a partir daí, tem início prazo de 5 dias para que ele apresente sua defesa ao corregedor, deputado Domingos Neto
(PSD-CE) Foto: Wilton Júnior/Estadão
© Fornecido por Estadão
Coautoria

• Plataformas: em parceria com apoiadores de Bolsonaro, elaborou proposta que


prevê como crime de responsabilidade, passível de impeachment, os crimes de
abuso de autoridade e de censura em caso de confisco e censura de uma
plataforma digital

• Calote: a outra iniciativa proíbe o financiamento de países inadimplentes com o


Brasil
Gastos e presença

• Gabinete: durante o período como deputado, Deltan gastou R$ 320.764,63 para


pagar os salários de 13 assessores por quatro meses e recebeu R$ 23 mil de
auxílio-moradia. De salário, foram cerca de R$ 40 mil por mês
• Cota parlamentar: o ex-procurador gastou R$ 82.910,61 da cota parlamentar. Do
montante, mais de R$ 5 mil foram com corridas por transporte por aplicativo.
Gastava ainda R$ 9,3 mil para manter o aluguel de estruturas de apoio
parlamentar no Paraná

• Assiduidade: o sistema de presença da Câmara registra que Dallagnol foi assíduo


durante as sessões em plenário. Sua presença foi marcada 40 vezes e só houve
uma ocasião de falta não justificada

Deltan se aliou a bolsonaristas, fez oposição a Lula e apresentou 3 projetos em 4 meses de Câmara
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Lei da Ficha Limpa levou à perda de apenas 7 mandatos e cassação de Deltan
expõe ponto fora da curva

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Cassação de Dallagnol revela vingança de Lula contra quem cumpriu a lei

Discursos

• 11 discursos

• 39 minutos no total
Essas foram as declarações, em 28 de fevereiro, na primeira vez em que usou o microfone
do plenário. O então recém-empossado deputado reclamou do afastamento de Marcelo
Bretas da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio. Ele era o responsável pelos processos derivados
da extinta Operação Lava Jato em andamento na cidade.

Em março, Dallagnol voltou à tribuna. Dessa vez para se queixar da intenção do presidente
Lula de indicar seu advogado Cristiano Zanin para uma vaga de ministro no Supremo
Tribunal Federal (STF). O deputado citou Zanin ao defender que não fosse aprovado o
projeto que dá ao réu a vitória sempre que um julgamento terminar empatado.

Essas foram as palavras de Dallagnol no último discurso em plenário, no dia 10 de maio.


Ele ainda saiu em defesa do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato,
em três discursos. Em duas ocasiões, tratou de quando o ex-magistrado foi alvo de
ameaças de morte. Na tribuna, ele criticou Lula pelo menos três vezes e manifestou
posicionamento contrário ao PL das Fake News.

Cardozo e Coppolla debatem se Dallagnol driblou lei da ficha limpa | O GRANDE


DEBATE

Requerimentos de informação
Dallagnol é autor ou coautor de 21 requerimentos de informação apresentados na
Câmara para cobrar dados e respostas do governo Lula sobre sigilos, gastos públicos e
medidas adotadas por ministros:

• Custos de viagens: em 12 de abril, Dallagnol e outros dez deputados do Novo,


PL, União Brasil, PP, Podemos e Patriotas pediram posicionamento do ministro-
chefe da Casa Civil, Rui Costa, sobre a negativa de acesso a dados de custos das
viagens nacionais e internacionais de Lula. O requerimento tem como base
reportagem do Estadão que revelou que o governo federal negou essas
informações no âmbito da Lei de Acesso à Informação (LAI) sob a justificativa
de que os dados podem colocar em risco a segurança do presidente e do vice-
presidente, Geraldo Alckmin, bem como de seus cônjuges e filhos

• Navios do Irã: antes, em março, Dallagnol e outros quatro deputados da


oposição procuraram entender o que motivou o governo brasileiro a autorizar
que navios de guerra do Irã atracassem no Rio. Os parlamentares questionaram,
por exemplo, se o Itamaraty considerou a possibilidade de que a concessão
produziria consequências negativas na relação diplomática do País com os
Estados Unidos

• Relatórios da Secom: O ex-procurador também solicitou informações sobre a


negativa de acesso a relatórios de monitoramento de redes sociais produzidos
pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), a compra de móveis sem
licitação pela Presidência da República e as medidas adotadas pela gestão petista
contra invasões de terra pelo Movimento dos Sem Terra (MST)

• TCU e corrupção: Doze dias antes de ser cassado, Dallagnol apresentou


requerimento de informações na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara
para cobrar explicações do Tribunal de Contas da União (TCU). Queria que a
Corte informasse quantos processos instaurou, quantas multas cobrou e o que
fez para dar desdobramento às investigações contra corrupção deflagradas nos
últimos dez anos. O foco principal das perguntas foi a Lava Jato. Dallagnol não
teve tempo de aguardar pela resposta. O pedido, embora já aprovado pela
comissão, ainda tramita na Câmara.

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