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RESENHA
Filme: Democracia em Vertigem
Volta Redonda
2021
1. DEMOCRACIA EM VERTIGEM
O documentário “Democracia em vertigem” é uma produção de 2019 realizada por
Petra Costa, a qual teve seus direitos de distribuição adquiridos pela Netflix em 19 de junho de
2019. O filme acorre a vida da cineasta produtora de maneira íntima e pessoal, relatando fatos
marcantes da política brasileira, desde o primeiro mandato do presidente Lula (2002 a 2006)
até o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Ainda, o longa-
metragem é um dos cinco documentários indicados para concorrer ao Oscar em 2020,
concorrendo com o American Factory (Indústria Americana), The Cave, For Sama e
Honeyland.
Eis que em 1985 a Ditadura Militar sofre sua queda, com a entrada de José Sarney na
presidência e, em 5 de outubro 1988 é promulgada a nova Constituição Federal, que restaurava
e ampliava direitos dos cidadãos, como liberdade de expressão, liberdade política, liberdade
política e econômica entre outros, assim, estava instaurada a democracia.
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No entanto, o que parecia o caminho ideal para a libertação, após 21 anos de repressão,
tomou rumos até os dias atuais que veem colocando em cheque se de fato, os brasileiros vivem
uma democracia ou se, o formato seria apenas uma vertigem de democracia, um sistema
estruturado por interesses políticos e camuflado de poder do povo.
No entanto Lula com sua coalizão não tem maioria no Congresso e em pouco tempo
estoura o mensalão, o partido foi acusado de compra de votos para aprovar projetos e seus
ministros renunciam, além disso se juntam ao PMDB, que representa a oligarquia da época.
Após suas duas candidaturas seguidas, Dilma assume em 2012 e em 2013, através de
diversas insatisfações da população, tanto com medidas sociais, quanto a perda de apoio se
iniciam manifestações por todo o país, o que gerou uma imensa fissura no país e, na própria
democracia que dividiu a população do país.
Assim, Dilma foi perdendo sua legitimidade e apoio dos mais diversos setores do país
e, para tentar contornar sua falta de aprovação, aprovou diversas medidas, como a de
anticorrupção, como Lava Jato e a Delação Premiada, que apurou fraudes de diversas empresas,
como a Petrobras, políticos recebendo propinas a cada acordo fechado. Nesse viés, os
escândalos foram sendo associados ao governo do PT.
Paralelamente a isso, Aécio Neves que havia perdido a eleição para Dilma em 2012,
faz a incitação do impeachment após perder eleições, enquanto o Governo de Dilma era acusada
de pedaladas fiscais e sem maioria no Congresso. No entanto, vale ressaltar que suas acusações
de pedaladas fiscais eram práticas comuns realizados por presidentes anteriores.
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Dilma, sem o apoio da maioria do Congresso, além de Cunha, que tinha interesses
pessoais com sua queda, além da somatização da insatisfação da oligarquia com a e com uma
coalizão enfraquecida, sofre seu impeachment. Assume então, seu vice Michel Temer, que logo
discursa sobre reorganizar novamente o país, não apresentando nenhum apoio à Dilma.
Após esse episódio, vaza áudio de Cunha demonstrando que foi estratégia política
retirar a Dilma do poder, pois pairava uma investigação sobre ele e demais políticos e ele tinha
a intenção de interrompe-la.
Como percepção o cenário político, a democracia foi se perdendo aos poucos, num
jogo político de interesses pessoais, quando se observa a metade do Congresso que votou pelo
impeachment, estava sendo investigada por crimes de corrupção e não a supremacia do bem
comum, com um Congresso que liga e desliga presidentes de acordo com os interesses políticos.
Foi percebido também que a Lava Jato, apesar de seus benefícios, foi utilizada como
instrumento de perseguição política. Além disso, é observado um juiz que acusa e julga. Ainda,
decreta prisão sem ter provas suficientes e acusa o réu da falta de provas, significar uma prova
de ocultação de bens, como foi o caso do tríplex de Lula.
Há um paradoxo entre até que ponto iam os poderes de moro na ideia de freios e
contrapesos e até que ponto era má fé de Lula, pois apesar de qualquer erro cometido, os poderes
deveriam ser respeitados e não ter meios que justifiquem o fim, de forma errônea.
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Um dos momentos marcantes durante o documentário é marcado pelo ponto de
inflexão havido nas ações/falas de Cunha no que tange ao processo de impeachment da
presidenta Dilma. De início cunha mostrou-se contrário à argumentação de que as pedaladas
fiscais eram motivo suficiente para que o impeachment fosse consumado, entretanto,
posteriormente, cunha adota uma nova fala e passa a agir de modo diverso. Este ponto de
inflexão deve-se em grande parte ao fato de que Cunha havia solicitado ajuda ao Partido dos
Trabalhadores (PT) para a manutenção de seu mandato e como tal ajuda lhe foi negada pelos
deputados do referido partido, Cunha retaliou e imediatamente abre o processo de impeachment
contra Dilma. Nesta altura do documentário, é possível analisar como a cultura política do
Brasil vem sendo desenhada ao longo da história, pois nota-se que os interesses ali defendidos
não refletem o interesse da população, mas tão somente aos interesses dos que pretendem a
manutenção de seu status quo na direção da república. E neste mesmo contexto, há que se
ressaltar também a informação de que Cunha havia financiado a campanha de diversos
parlamentares e acabou por gerar nestes o dever de apoiá-lo no que fosse necessário, tal
situação, portanto, conferiu a cunha maior poder para golpear a democracia e fazer com que os
interesses privados prevalecessem.
Ainda no que tange à cultura política brasileira, tem-se que o Estado brasileiro
desenvolveu-se calcado no patrimonialismo que, segundo Junquilho (2010, p. 46) caracteriza-
se, “principalmente, pela não separação entre os patrimônios pessoais do monarca e o público,
pois todos os aparelhamentos estatais eram tomados como algo extensivo ao seu poder”. Esta
tipologia da administração pública cunhou o Estado brasileiro desde a colonização até o fim da
primeira república. E dentro deste contexto patrimonial, em que o público é tomado de assalto
pelo privado, pode-se observar práticas clientelistas que se estendem não só às relações entre
eleitores e representantes, mas também às relações entre Executivo e Legislativo, nesta senda,
conforme preceitua Limongi (2006, p. 36) ao citar Abranches
Concluindo o tema, o referido autor nos traz que a problemática é de ordem sociológica
e não institucional, pois repousa na “sobrevivência dessas formas oligárquicas de dominação
política em vários subsistemas políticos no país”.
O documentário retrata um momento da fala de Dilma em que a mesma diz que durante
o ano de 2015 ela não conseguia governar, pois Cunha ao eleger-se presidente da câmara monta
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toda a estrutura do golpe e faz com que a hegemonia de direita crescesse, impedindo a
governabilidade. Outro momento importante de ser ressaltado é o momento em que Paulo Maluf
diz a seguinte frase “eu posso dizer que a Dilma era honesta, mas a boa cozinheira não é aquela
que bota comida ao seu gosto, mas aquela que bota comida ao gosto de quem ia comer”. Estas
duas passagens retratam de forma explícita o que Sérgio Henrique Abranches chamou de
presidencialismo de coalizão que, em síntese, trata-se de uma combinação no caso brasileiro
de que a proporcionalidade, ou multipartidarismo e o presidencialismo imperial, organiza o
executivo com base em grandes coalizões. Assim, esse presidencialismo de coalizão, faz com
que o executivo atue em uma base de coalizões, que traz um alto risco, uma instabilidade, uma
sustentação baseada em uma situação permanente e esta, por último está vinculada ao que foi
extraído do ente federal com os governadores e as diversidades dos estados.
Assim, ele chama a atenção defendendo que o plenário é previsível. Ele diz não ter
motivos para criticar a democracia, mas sim compreender o presidencialismo contemporâneo,
tendo um peso muito grande, não pelas coalizões feitas, mas sim por serem instituídas desde a
Constituição de 1988.
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quebra de padrões institucionais viciados e baseados em uma história carente de cidadania de
fato.
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BIBLIOGRAFIA