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Atividade Prática 1 – Direito Adm II

Grupo 1- Serviços públicos: Apresentar brevemente o conceito de serviços públicos;


Pesquisar informações sobre a Eletrobrás; Apresentar as principais ideias da reportagem.;

https://www.brasildefato.com.br/2023/06/09/entenda-qual-e-a-relacao-entre-a-privatizacao-da-
eletrobras-e-o-futuro-do-saneamento-no-brasil

Entenda qual é a relação entre a privatização da Eletrobras e o futuro do saneamento no


Brasil
Aumentos nos custos de energia podem afetar diretamente as despesas operacionais
das empresas de saneamento

Lucas Tonaco
Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
09 de Junho de 2023 às 08:50

Com base nas tecnologias atuais, o fornecimento de água potável e o tratamento de esgoto
requerem energia elétrica para funcionar adequadamente - ©Evaristo Sa / AFP
Muito têm se falado sobre o processo de privatização da Eletrobras. E as críticas são muitas,
vindas desde de Armínio Fraga até Lula, passando por Alexandre da Silveira, Ministro de Minas
e Energia, que explicitamente diz que o modelo é criminoso.

Ocorre que assim como no saneamento, no setor energético - ambos definidos pelo mercado
como Utilities ou simplesmente (Entidade de utilidade pública) - os processos de privatizações
são pautados em modelos. Na teoria econômica a “modelagem” seria o artifício metodológico
usado numa equação cujo o resultado seria a mudança de controle do capital e seus impactos.

Há diversos modelos de participação de empresas públicas e sua relação com capital privado,
alguns mais keynesianos - mais ligados à preocupação social - e outros mais neoliberais -
defendendo a menor participação possível do Estado em absolutamente tudo. Reagan,
Pinochet e Thatcher são deste modelo neoliberal.
:: Ação judicial do governo sobre Eletrobras pode inviabilizar privatização de outras
estatais ::
Um modelo econômico de privatização, como o de capitalização usado na Eletrobras, envolve
a transferência do controle e da propriedade de uma empresa estatal para o setor privado. A
empresa emite novas ações que são vendidas aos investidores, resultando em uma diluição da
participação do governo e uma maior entrada de recursos financeiros na empresa.

Esse modelo está na contramão do mundo. Para citar dois exemplos, o setor elétrico francês e
de gás alemão foram reestatizados em 2022. Na Alemanha, a iniciativa veio em decorrência
dos cortes de gás oriundos da Rússia. O governo alemão comprou a gigante de energia
Uniper, maior importadora de gás do país.

::Reestatização da Eletrobras é urgente, dizem membros da Transição::


Optar por uma modelagem de privatização para os setores de energia e saneamento é um erro
em um contexto de complexificação econômica mundial, de busca pela industrialização e
soberania energética.

Caso Eletrobras

Especificamente no caso da Eletrobras, a modelagem de capitalização permitiu que o governo


reduzisse sua participação na empresa de cerca de 65% para 43% e isso ocorreu por meio da
emissão de novas ações e da venda delas no mercado.

Com essa redução da participação governamental, abriu-se espaço para que acionistas
privados adquirissem uma parcela maior do controle da Eletrobras. A lei que permitiu a
privatização da Eletrobras limita o poder de voto do governo a apenas 10% das ações, mesmo
que ele detenha uma participação maior.

:: Privatização da Eletrobras ameaça maior centro de pesquisa do setor elétrico da


América Latina ::
Porém o modelo de capitalização usado na privatização da Eletrobras foi questionado
judicialmente pelo atual governo, via Advocacia Geral da União (AGU) que questionou a
privatização no Supremo Tribunal Federal (STF), argumentando que a venda da estatal viola
direitos políticos da União.

Esse modelo de privatização por capitalização, como ocorrido na Eletrobras, teoricamente


busca atrair investidores privados, injetar recursos na empresa e permitir uma gestão mais
eficiente e voltada para o mercado.

Eletrobras e Americanas: acionistas comuns

Após revelação do escândalo na Americanas, a Associação dos Empregados da Eletrobras


(AEEL) chamou a atenção para a interferência que o mesmo grupo de acionistas da varejista
tem na ex-estatal, a 3G Radar, maior acionista preferencialista da Eletrobras, tem como sócios
Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira, que são também os
principais acionistas da Americanas. Deixar o setor elétrico nacional nas mãos desse grupo
não é uma decisão inteligente.
A privatização da Eletrobras trará impactos na soberania energética, na qualidade dos serviços
prestados e no controle sobre um recurso estratégico para o desenvolvimento do país.
Também impactará em fatores como investimento em inovação e desenvolvimento tecnológico.
A Eletrobras teve sua competência formada por profissionais concursados, qualificados e
especializados em um know-how quase único, o que também ficará prejudicado.

::Contas terão aumento de até 36% por "rombo" deixado por Bolsonaro::
A relação entre energia e saneamento

Existe uma estreita relação entre energia e saneamento, e o custo e o controle da energia
podem ter um impacto significativo no setor de saneamento.

Com base nas tecnologias atuais, o fornecimento de água potável e o tratamento de esgoto
requerem energia elétrica para funcionar adequadamente - seja para o tratamento,
monitoramento da qualidade da água e vazão. No tratamento de esgoto, o uso de bombas e
turbinas é base para diversas tecnologias.

Hoje, segundo o Ministério de Minas e Energia, nas companhias de saneamento, esse


consumo representa, em média, 12,2% dos gastos, chegando, em alguns casos, a 23,8% nas
operações para tratamento de água e esgoto - agora, imagine este impacto acrescido de 25%
com a privatização - essa percentual é uma projeção de especialistas como Fabiola Latino
Antezana (CNU/STIU-DF) e Gilberto Cervinski (MAB).
Aumentos nos custos de energia podem afetar diretamente as despesas operacionais das
empresas de saneamento, tornando mais difícil a manutenção dos serviços e o investimento
em infraestrutura. Além disso, o controle da energia também é um fator importante, pois a
dependência de fontes energéticas externas ou de empresas privadas pode levar a aumentos
de custos e falta de autonomia para as empresas de saneamento.

:: Com privatização da Eletrobras, Brasil compra energia mais cara e poluente de


termelétricas ::
Na perspectiva do custo final ao consumidor, este custo poderá aumentar as contas de água.

Além, claro, de que os trabalhadores do setor de saneamento, podem ter seus aumentos
ameaçados. Afinal os sindicatos têm negociações coletivas atuais muito duras contra as
políticas de arrocho salarial. Um aumento no custo global seria um prato cheio para os
defensores do lucro máximo.

Sustentabilidade

A sustentabilidade é um aspecto crucial a ser considerado na interação entre energia e


saneamento.

A busca por soluções energéticas sustentáveis, como o uso de fontes renováveis, é


fundamental para preservar o meio ambiente e garantir um fornecimento de energia mais limpo
e seguro. A adoção de práticas sustentáveis no tratamento de água e esgoto contribui para a
preservação dos recursos hídricos e redução dos impactos ambientais.
A eficiência energética nos processos de tratamento também é importante para otimizar o uso
de energia e reduzir os custos operacionais das empresas de saneamento, promovendo um
desenvolvimento mais sustentável e equilibrado.

Barrar as privatizações no saneamento

A privatização da Eletrobras tem um impacto direto no setor de saneamento, e barrar essa


privatização é fundamental para proteger o acesso à água e ao saneamento básico, proteger
os trabalhadores dessas empresas contra redução de direitos e proteger uma complexificação
econômica mais estável na interoperabilidade do setor de utilities.

A infraestrutura energética desempenha um papel crucial no fornecimento de água e no


tratamento de esgoto e é essencial garantir o controle e a gestão eficiente da energia para
manter a qualidade e a disponibilidade dos serviços de saneamento.

Com a Eletrobras privatizada, inseriu-se a possibilidade de interesses privados priorizarem


lucros em detrimento da prestação de serviços essenciais, o que pode comprometer o acesso
da população ao saneamento adequado.

Barrar a privatização da Eletrobras é um passo importante para impedir privatizações no setor


de saneamento. O questionamento do governo em relação à privatização da Eletrobras abre
precedentes legais que podem impactar diretamente outras privatizações, incluindo as
empresas de saneamento.

Se a ação judicial for favorável ao governo e for considerada inconstitucional a limitação do


poder de voto da União após a privatização da Eletrobras, essa decisão pode ser estendida a
outras estatais. E isso cria um cenário em que as privatizações no setor de saneamento podem
ser revisadas e impedidas, preservando o acesso da população aos serviços essenciais de
água e saneamento e maiores investimentos, com contas mais baratas e com uma qualidade
maior.

Restando, portanto, que sociedade civil organizada - especialmente sindicatos, movimentos


sociais e políticos com responsabilidade e ética com comprometimento aos direitos sociais - se
mobilizem ao máximo para reestatização da Eletrobras. Criando um efeito dominó sobre outros
setores, especialmente o de saneamento.

Uma luta puxa a outra. O combate às ideias nocivas de um determinado setor é, portanto, o
combate a ideias nocivas a toda a sociedade.

* Lucas Tonaco é acadêmico na área de antropologia social e ciências humanas na


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), secretário de comunicação da Federação
Nacional dos Urbanitários (FNU), diretor de comunicação do Sindágua-MG e membro fundador
da Frente de Comunicação Urbanitária.
** Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha
editorial do jornal.
*** Leia outros artigos da Coluna Saneamento é Básico aqui!
Edição: Elis Almeida
Grupo 2 - Servidores Públicos: Apresentar o conceito de servidor público; Pesquisar e
apresentar diferenças entre servidor público efetivo e comissionado; Apresentar principais
pontos da reportagem.

Por que estabilidade no serviço público foi considerada fundamental em caso de joias
para Michelle Bolsonaro
Para especialistas, trata-se de medida fundamental na administração pública. Mas ao longo
das décadas, a estabilidade de servidores já foi alvo de inúmeras discussões.

BBC News Brasil

13/03/2023 07:02 - atualizado 13/03/2023 09:28

Estabilidade de servidores públicos costuma ser alvo de discussões frequentes(foto:


Divulgação/Receita Federal)

A estabilidade dos servidores públicos voltou a ser alvo de discussão nos últimos dias, após o
caso das joias avaliadas em cerca de R$ 16,5 milhões que foram enviadas da Arábia Saudita
ao Brasil e teriam como destinatária a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
De acordo com reportagem da TV Globo, aliados do então presidente Jair Bolsonaro chegaram
a tentar liberar as peças, mas foram impedidos por auditores da Receita Federal, que
apontaram a falta de uma série de requisitos formais no pedido de liberação.
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Essas joias (um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes)
foram apreendidas em outubro passado, após serem confiscadas ao chegar ao país com um
integrante da comitiva do Ministério de Minas e Energia que desembarcou no Aeroporto de
Guarulhos.
Elas foram apreendidas, conforme revelado primeiramente pelo jornal O Estado de S.Paulo,
porque não foram declaradas nem como itens pessoais, sujeitos a pagamento de impostos,
nem como presente oficial para o Estado brasileiro.

Em rede social, Michelle Bolsonaro afirmou que não tinha conhecimento das joias.
À rede CNN Brasil, o ex-presidente disse que incorporou ao acervo privado um outro estojo
presenteado pelos sauditas com caneta, anel, relógio, um par de abotoaduras e um terço, mas
negou irregularidades. Ele negou conhecimento dos objetos que teriam sido destinados a
Michelle.
Em meio à repercussão do caso, um dos fatos que chamou a atenção foi a importância da
estabilidade dos servidores da Receita Federal para impedir a liberação da entrada do material
valioso no país.
Essa estabilidade costuma ser alvo de discussões frequentes. Enquanto há quem a defenda
como medida fundamental para a administração pública, outros afirmam que é uma forma de
desmotivar esses trabalhadores ou até mesmo tornar o serviço público ineficiente.

Joias avaliadas em cerca de R$ 16,5 milhões foram enviadas pelo governo da Arábia Saudita
quando Michelle ainda era primeira-dama(foto: Reuters)

Garantida pela Constituição desde 1934


A estabilidade no serviço público é assegurada na Constituição Federal desde 1934 e sofreu
alterações pontuais ao longo das décadas. Atualmente, ela tem início após o servidor
concursado passar por um período de três anos exercendo a sua função de modo adequado.
Esse recurso tem o objetivo principal de defender a administração pública. Isso serve para
tentar evitar que a máquina pública seja usada para fins políticos, apontam os especialistas.
“É um mecanismo de proteção que permite aos servidores dizerem não e barrarem atitudes de
governantes que possam ser contrários aos procedimentos e à legalidade”, diz Gabriela Lotta,
professora de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O caso das joias barradas no aeroporto passou a ser usado como exemplo sobre a relevância
dessa estabilidade.
"É um exemplo muito claro de que a estabilidade protege a sociedade e não o servidor público
em si. É uma proteção maior para o Estado brasileiro", diz Mauro Silva, presidente da
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco).
"Justamente para que uma chefia A ou B ou um chefe do governo não fique à vontade para
pressionar o servidor. É o caso das joias em que os auditores não se sentiram pressionados
porque estavam fazendo o que a lei manda", acrescenta Silva.
Para o presidente da Unafisco, caso não houvesse a estabilidade no serviço público, o fim da
história das joias poderia ser outro. “Sem essa estabilidade o servidor poderia se sentir
ameaçado de demissão por causa dessas insinuações (feitas para liberar as joias), que não
foram poucas. É exatamente para evitar isso que existe a estabilidade”, diz.

Congresso Nacional já discutiu propostas para alterar a estabilidade concedida a


servidores(foto: AGÊNCIA BRASIL)

Pelo mundo, inúmeros países também adotam a estabilidade no funcionalismo público.


“As grandes democracias asseguram a lógica de estabilidade para seus servidores, incluindo
os EUA, que é um país bastante liberal. Durante as últimas décadas houve um movimento de
diminuição do número de servidores públicos em vários destes países também, processo
vinculado às chamadas reformas gerenciais ou neoliberais”, explica Gabriela Lotta.
O que ocorreu nesses países que fizeram reforma relacionada ao funcionalismo público, diz
Lotta, foi uma diminuição principalmente de estabilidade a servidores que prestavam serviços
diretos aos cidadãos — como profissionais de saúde. Já os servidores de áreas sensíveis e
que podem sofrer pressões políticas, como área fiscal e de regulação, continuaram com a
estabilidade.
No Brasil, os servidores somente perdem seus cargos em razão de infração considerada grave,
após processo judicial ou administrativo, no qual há a chance de ampla defesa.

As críticas à estabilidade
Presidente da Unafisco Nacional, Mauro Silva defende estabilidade de servidores como
fundamental para o país(foto: Divulgação/Unafisco)

Nas últimas décadas, houve diversas tentativas de reduzir ao máximo a estabilidade concedida
no serviço público brasileiro.
Há quem defenda o fim dessa estabilidade, sob o argumento de que essa medida é prejudicial
e afeta funções importantes porque faz com que os trabalhadores se sintam desmotivados a
prestar um bom serviço.
Essa ideia de que servidores com estabilidade têm um desempenho inferior, pois muitos
podem se sentir acomodados, é criticada por Gabriela Lotta.
“Essa lógica não se comprova assim. O que os estudos mostram é que vários fatores impactam
no desempenho (inclusive o acesso a recursos, a possibilidade de crescimento na carreira, o
ambiente de trabalho etc). E sem considerar estes vários fatores, não dá para fazer uma
associação direta entre desempenho e estabilidade”, diz.
Lotta ressalta que a estabilidade no funcionalismo público brasileiro “não é irrestrita” e que há
situações em que é possível haver demissões em alguns casos.
“Por exemplo, quando há abandono de cargo, falta injustificada, crime de corrupção ativa e
passiva, prevaricação e outros. Centenas de servidores públicos são exonerados por ano. Mas
esse processo não é uma decisão hierárquica unilateral, ela pressupõe um processo e várias
instâncias recursivas justamente para garantir ampla defesa para o servidor e protegê-lo de
perseguições, por exemplo”, afirma.
O governo Bolsonaro, crítico ferrenho da estabilidade no funcionalismo público, chegou a
apresentar uma proposta por meio da reforma administrativa para alterar a estabilidade e
deixá-la na forma atual somente a algumas carreiras, como aquelas que são consideradas
estratégicas para a administração pública.
Mas a proposta não seguiu como o governo Bolsonaro esperava no Congresso. Especialistas
ouvidos pela reportagem acreditam que as chances de haver qualquer medida de retirada da
estabilidade de servidores públicos, como já discutido em décadas passadas, é quase nula.
“Não vejo com bons olhos o fim da estabilidade, pois a máquina pública, mais especificamente
a brasileira, não está preparada para isso. A perda da estabilidade geraria uma série de
demissões com caráter político e a finalidade pública estaria comprometida. A estabilidade tem
previsão constitucional e o seu desmonte é uma ruptura caótica”, afirma o advogado Felipe
Carvalho, especialista em Direito Público, Eleitoral e Administrativo.
Carvalho acredita que a estabilidade do serviço traz “um comodismo ao servidor (não todos)”,
que, segundo ele, “poderia ser enfrentado se os entes públicos tivessem sistemas de
avaliações realmente bons, delimitados e amplamente divulgados”.
Para o presidente da Unafisco, Mauro Silva, tentar colocar um fim na estabilidade é uma
ameaça ao país por parte “daqueles políticos que querem se aproveitar do Estado brasileiro”.
“Quem impede esse político que quer trazer o patrimônio público para o privado é o servidor
público com estabilidade. E o mau político que quer se aproveitar tem todo o interesse de
retirar a estabilidade do servidor para eliminar aquele que está na frente para impedir”, declara
Silva.

 Grupo 3 Bens Públicos – Apresentar conceito e diferenças entre bens públicos de uso
especial, comum ou dominial. Apresentar principais pontos da reportagem.

PEC 03/2022 pode privatizar terrenos de marinha

Lu Sudré
18 de agosto de 2023 • Leitura de 3 minutos • 1 Comentários
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A proposta, em tramitação no Senado, possibilita que áreas públicas nas costas e nos litorais
possam ser destinadas para uso privado

Projeto de emenda constitucional pode fomentar privatização de praias e áreas costeiras (Foto:
Diego Grandi)
Os terrenos de marinha são áreas próximas à costa marítima que incluem praias, ilhas,
mangues, assim como margens de rios e lagoas que sofrem influência da maré. Segundo a
Constituição Federal de 1988, os terrenos de marinha são bens da União, ou seja, bens
públicos de uso coletivo com finalidade socioambiental.

No entanto, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 03/2022, que pode ser votada em
breve no Senado, quer mudar essa realidade.

A proposta transfere o domínio das áreas para estados e municípios, mas também para
“foreiros, cessionários e ocupantes”, o que abre margem para a expansão de propriedades
particulares.

Movimentos de pescadores, acadêmicos e ativistas ambientais denunciam que a PEC –


aprovada ano passado na Câmara – pode impulsionar a criação de praias privadas e a
especulação imobiliária, principalmente considerando o interesse do setor hoteleiro.

Os pequenos comércios locais e iniciativas de turismo de base comunitária, por exemplo,


também podem ser diretamente afetados por esse processo.

Entenda o que está em jogo

Em nota técnica, o Grupo de Trabalho para Uso e Conservação Marinha (GT-Mar), ligado à
Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional, se posicionou contra a aprovação da
PEC e alerta que o que aparentemente pode ser uma simples mudança de titularidade,
esconde uma grande ameaça.

Além de ressaltar o uso público e coletivo das áreas como uma garantia constitucional, o
documento destaca que os terrenos marinhos são aliados estratégicos para adaptação à
crise climática. A gestão e preservação das áreas também é importante para a redução da
vulnerabilidade da zona costeira frente a eventos extremos e ao aumento do nível do mar.

Isabelle de Silveira, assessora do GT-Mar, detalha que, à primeira vista, a PEC 03/2022 parece
tratar da transferência de títulos imobiliários, contemplando uma demanda de ocupantes das
áreas de terreno de marinha que se sentem insatisfeitos em pagar taxas para a União.
Contudo, há muito mais a ser considerado.

“A PEC coloca em risco áreas relevantes para o enfrentamento das mudanças climáticas e
abre caminho para graves impactos socioambientais relacionados à privatização de
praias, degradação ambiental, especulação imobiliária, vulnerabilização e expulsão de povos
tradicionais de seus territórios”, reitera.
Comunidades pesqueiras podem ser impactadas caso o PEC 03/2022 seja aprovada (Foto:
Rodrigo Paiva/Greenpeace)

De acordo com a nota técnica do GT-Mar, uma possível aprovação da PEC significaria o
crescimento exponencial de conflitos diante do “grande incentivo à invasão de terras públicas –
urbanas e rurais – apenas pela sugestão de possibilidade de privatização dessas áreas”.

Na análise de Silveira, a alteração pode ser o início de um processo extremamente nocivo ao


meio ambiente.

“A aprovação da PEC poderá facilitar a aprovação de Projetos de Lei que visam privatizar
uma porcentagem de nossas praias e facilitar a construção de grande resorts e
cassinos. Seria perigoso olhar para o cenário de maneira simplista”, complementa.

Para o GT-Mar, o processo de fiscalização das áreas também pode ser fragilizado com a PEC,
o que ameaçaria ainda mais a biodiversidade costeira – sem os devidos cuidados, as funções
ecológicas originais desses terrenos podem ser alteradas e o processo de contenção do
aumento do nível do mar, por exemplo, pode ser enfraquecido.

Tramitação

A PEC 03/2022 está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal,


sob relatoria de Flávio Bolsonaro. Embora estivesse prevista para entrar na pauta da última
quarta-feira (16), a votação da proposta foi adiada após apresentação de requerimento de
audiência pública feito pelo senador Rogério Carvalho, agendada para 24 de agosto.

Nos últimos dias, a mobilização em defesa do livre acesso às praias e áreas marinhas tem
crescido. Foi aberta uma consulta pública no site do Senado, onde você pode se manifestar
contra a proposta. Clique aqui e saiba mais.
 Grupo 4- Apresentar fundamentos da intervenção do Estado na propriedade para fins
de titulação quilombola. Apresentar principais pontos da reportagem.
https://www.terradedireitos.org.br/noticias/noticias/no-atual-ritmo-brasil-levara-2188-anos-para-
titular-todos-os-territorios-quilombolas-com-processos-no-incra/23871?
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No atual ritmo, Brasil levará 2.188 anos para titular todos os territórios quilombolas com
processos no Incra

12/05/2023

Morosidade, orçamento insuficiente e frágil política fundiária marcam o lento avanço do Estado
brasileiro em assegurar o direito aos territórios tradicionais.

As famílias da Comunidade Paiol de


Telha (PR) só obtiveram titulação parcial porque acionaram a justiça. Foto: Lizely Borges

Caso o Estado brasileiro mantenha o atual ritmo de regularização fundiária dos territórios
quilombolas serão necessários 2.188 anos para titular integralmente os 1.802 processos
abertos no momento no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Caso
sejam consideradas também as titulações parciais dos territórios quilombolas com processos
na autarquia federal, o tempo necessário é de 1.156 anos. É o que aponta levantamento
realizado pela Terra de Direitos.

Em 34 anos, desde que o direito ao território tradicional quilombola foi reconhecido na


Constituição Federal de 1988, apenas 54 territórios foram titulados (parcial ou total) pelo Incra,
órgão federal responsável pela regularização fundiária quilombola. Destes 54 territórios,
24 possuem títulos totais, ou seja, referente à todo território. O dado não contabiliza processos
de regularização fundiária quilombola de atribuição de estados e municípios ou de
comunidades que não tiveram certificação da Fundação Palmares e, portanto, não deram
entrada no processo administrativo no Incra. (Veja infográfico abaixo).

Dos 54 territórios titulados pelo Incra, 30 são titulações parciais, ou seja, o título compreende
apenas parte da área do território a que uma comunidade quilombola tem direito reconhecido
pelo Estado brasileiro. Em 11 destes 30 territórios com titulação parcial o título refere-se a
menos de 15% da área total de direito. É o caso do território tradicional Brejo dos Negros,
localizado em Brejo Grande (SE), que detém o título de apenas 0,24% do território apontado no
processo administrativo.

Com uma desigual estrutura fundiária marcada pela racialização do acesso à terra, a violação
do direito ao território tradicional para as comunidades negras rurais e urbanas com identidade
própria que lutam há séculos pela terra têm sido uma constante pelo Estado brasileiro. Ainda
que assegurado na Constituição Federal, regulamentado pelo Decreto 4.887/2003 e com
atribuições definidas aos diferentes órgãos de governo, a conclusão de um processo de
titulação quilombola dos territórios tradicionais pelo Incra costuma levar muitos anos, mesmo
décadas.

Ao observar o avanço na conclusão das seis etapas necessárias para um território quilombola
ter o título emitido, é possível identificar como poucos processos abertos no Incra chegam à
etapa final. De acordo com dados do Incra 2.849 comunidades foram certificadas pela
Fundação Cultural Palmares - etapa inicial, de autoreconhecimento pela comunidade. As
etapas seguintes, de atribuição da autarquia federal, apresentam números bem menores.
Apenas 307 territórios quilombolas foram identificados e delimitados (publicação do RTID), 164
foram reconhecidos por decreto, 89 declarados de interesse social (publicação de portaria) e
apenas 47 foram titulados (pós publicação Decreto 4.887/2003). Somado os 06 territórios
titulados entre o período anterior à publicação do Decreto (período de 1988 a 2003), o país
contabiliza apenas 53 territórios com título integral ou parcial. (Veja infográfico abaixo)

A Flourish bar chart race

O ônus da morosidade, apontam organizações, recai exclusivamente sob as comunidades


quilombolas. Sem o título, muitas políticas públicas necessárias para sobrevivência, trabalho e
permanência das famílias nas comunidades não chegam aos territórios. É o caso da emissão
da nota do produtor pela Comunidade quilombola de Gramadinho (PR). A Secretaria da
Fazendo do Estado do Paraná (Sefaz-PR) exige, como documento necessário para a
solicitação de inscrição do Cadastro do Produtor Rural (CAD/PRO), que uma comunidade
quilombola apresente o título de reconhecimento do território tradicional. Como a comunidade
não possui o título e, portanto, o cadastro, as famílias não conseguem emitir nota do produtor
para comercialização dos alimentos agroecológicos e sair assim da informalidade. A não
emissão da nota também afeta no acesso à direitos previdenciários, como aposentadoria, e na
arrecadação de tributos pelo estado e município. O processo de titulação do Quilombo do
Varzeão, em que tem Gramadinho como um dos seus núcleos, iniciou em 2004 e está
paralisado após publicação do relatório de identificação, a terceira etapa do processo. “Nossos
produtos apodrecem na terra ou temos que vender bem abaixo do valor pra podermos ter um
dinheiro”, destaca a liderança quilombola Laura Rosa.

As organizações sociais e comunidades defendem que a oferta de serviços essenciais e


políticas públicas às comunidades quilombolas independam do título, ainda mais considerando
que o Estado brasileiro tem sido moroso na regularização fundiária.

Além da dificuldade de acesso a políticas de moradia, educação, saneamento, assistência


técnica rural, entre outros, a ausência do título também amplia o risco de assédio das
comunidades pelos empreendimentos, como garimpo, monocultura, hidrelétricas, especulação
imobiliária, portos, entre outros.

“Não dá é a gente continuar sofrendo várias violações por conta da morosidade do processo,
que coloca as comunidades quilombolas numa situação de insegurança. Esta morosidade está
acarretando, inclusive, no assassinato de lideranças e conflitos nos nossos territórios. Está
mais do que na hora do estado brasileiro reconhecer o que está na Constituição Federal, que é
titular os territórios quilombolas e levar todas as políticas públicas para esses territórios”,
destaca o coordenador executivo da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Biko Rodrigues.

A organização ainda destaca que muitas comunidades quilombolas ainda nem solicitaram
certificação na Fundação Palmares – documento necessário apara abertura no Incra de
processo administrativo de titulação quilombola. Ou seja, são invisíveis ao Estado no processo
de regularização fundiária. A Conaq estima que o país contabilize 6 mil comunidades
quilombolas.

Oposição à titulação quilombola


A gestão de Jair Bolsonaro (PL) cumpriu as declarações feitas em 2018, pelo ainda candidato à
presidência, de não conceder nenhum centímetro de terra para territórios quilombolas e
indígenas. Ao longo dos quatro anos de gestão (2019-2020) a política quilombola ficou
marcada pela reconfiguração administrativa, contínuo esvaziamento orçamentário, pastas sob
comando de opositores à política de titulação e emissão de decretos de burocratização das
etapas de regularização, como a Instrução Normativa 128/2022, publicada na véspera das
eleições.

Logo no início da gestão o Incra foi realocado da Casa Civil da Presidência da República para
o Ministério da Agricultura, por meio da Medida Provisória n° 870/2019. Tanto o mais alto cargo
da pasta quanto a secretaria responsável pela titulação ficaram sob comandos de
representantes vinculados ao agronegócio e opositores à política de titulação quilombola: a
ministra de Tereza Cristina (PSL) e o ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR)
Nabhan Garcia, respectivamente.

As ações adotadas pelo governo tiveram reflexo direto nos números totais das etapas de
titulação quilombola, com forte queda do número em cada etapa. No último quadriênio 161
comunidades foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares, número distante do auge de
812 certificações pela primeira gestão de Lula. O número referente ao primeiro governo de Lula
contabiliza apenas os anos de 2004-2006 (não inclui dados de 2003), já que as atuais regras e
etapas para titulação passam a contar a partir da publicação do Decreto 4.887, em novembro
de 2003.

O governo sob comando de Bolsonaro também responde pela emissão de apenas 6 títulos
(todos parciais), em oposição ao maior número de títulos emitidos durante uma gestão - 14 no
primeiro governo de Dilma Rousseff.

O número de títulos emitidos durante o governo de Bolsonaro não foi menor apenas porque
todas as comunidades que tiveram seus territórios parcialmente titulados acionaram a justiça
em razão da lentidão do Estado brasileiro em titular os territórios tradicionais. Foi o que
aconteceu com a comunidade Paiol de Telha (PR). Única titulada das 38 comunidades
quilombolas do Paraná, a Comunidade Paiol de Telha segue na reivindicação para titulação da
totalidade do território. A ação movida pela Associação da Comunidade ainda inclui o pedido
de danos morais à comunidade pela morosidade do Estado em finalizar a titulação do território
tradicional.

“Diante da redução completa do orçamento para titulação quilombola, da fragilização da política


territorial e omissão do Estado nos últimos anos, as comunidades tiveram como única
alternativa o acionamento da justiça para avanço da regularização fundiária. Só houve seis
títulos emitidos no último quadriênio porque as comunidades acionaram a justiça que exigiu a
titulação pelo governo. Não foi Bolsonaro que cumpriu a Constituição em assegurar o direito
aos territórios tradicionais às famílias quilombolas, foi a justiça que efetivou este direito”,
destaca a assessora jurídica da Terra de Direitos, Kathleen Tiê.

Engessamento orçamentário
Na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2023 o orçamento previsto para o reconhecimento e
indenização dos territórios quilombolas é da ordem de apenas R$ 749 mil. O valor é distante do
recurso previsto para mesma rubrica no orçamento executado em 2014, ano de maior valor
registrado para a execução desta política pública.

De acordo com Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), 2014 totalizou R$75,8 milhões
de reais para aquisição de áreas privadas para fins de titulação quilombola. De acordo com
levantamento realizado pela organização, o orçamento para titulação quilombola vem sofrendo
uma queda acentuada desde 2015, com pior ano em 2022, com R$769,1 mil reais executados
para a política.

Na avaliação da Conaq, o orçamento previsto para 2023, proposto ainda na gestão anterior, é
forte obstáculo para avanço da política de regularização fundiária quilombola. Uma
possibilidade para engordar a rubrica e manter-se dentro dos limites da regra do teto de gastos
é o remanejamento de orçamento de outras pastas e conforme a necessidade de órgãos, como
determina o Ministério do Orçamento e Planejamento. De acordo com o Ministério os recursos
podem ser liberados por portarias, projetos de lei ou medidas provisórias. Emendas
parlamentares podem ser também uma alternativa.

Deste modo, a disputa do orçamento público 2023 segue ativa no governo. Um exemplo é o
assédio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) - entidade vinculada aos
interesses do agronegócio - ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para aumento do
recurso público para o Plano Safra 2022/2023 e 2023/2024. No início de maio o Ministério
anunciou injeção de mais R$ 200 milhões para complementação do Plano Safra 2022/2023.

Novo governo: expectativa e reivindicação


Durante o período de pouco mais de 120 dias, o novo governo adotou algumas medidas para a
proteção territorial quilombola. Recriado no primeiro dia de governo, o Ministério da Igualdade
Racial – pasta interministerial para a política de promoção da igualdade racial – conta com a
Secretaria de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz
Africana, Povos de Terreiros e Ciganos. Coordenada pelo quilombola e ex-membro da
coordenação da Conaq, Ronaldo dos Santos, a secretaria tem a tarefa de “assistir e
acompanhar as ações de regularização fundiária”.

A pauta da titulação também figura com destaque no Programa Aquilomba Brasil, lançado em
21 de março. Como aperfeiçoamento do Programa Brasil Quilombola (2007), o novo Programa
tem como um dos eixos estruturantes o acesso à terra e ao território pelas comunidades. Na
ocasião a Presidência entregou os títulos parciais de três territórios quilombolas: Brejo dos
Crioulos (MG), Serra da Guia e Lagoa dos Campinhos, ambas de Sergipe. Ou seja, em 120
dias de gestão o governo Lula titulou a metade dos títulos emitidos por Bolsonaro durante toda
sua gestão.

Ainda que as ações sejam compreendidas como importantes acenos de compromisso federal
com a política de regularização fundiária, a Conaq destaca a necessidade de aceleração dos
processos. “Sabemos que viemos de um governo que pregava ódio contra comunidades
quilombolas. Disse que não iria demarcar nenhum centímetro para quilombolas e indígenas e
agora estamos em momento de reconstrução, mas esse momento de reconstrução precisa ser
trabalhado na velocidade das nossas demandas porque não dá para novamente sermos
marcados pela morosidade”, destaca Biko.

Atribuição de estados e municípios


A morosidade também marca o avanço nos processos de titulação pelos órgãos municipais e
estaduais. No Pará, por exemplo, a regularização fundiária quilombola é atribuição do Instituto
de Terras do Pará (Iterpa). Ainda que alguns processos em aberto estejam sob
responsabilidade do Incra (no estado são 67), a maior parte está sob alçada do órgão
estadual.
A Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará
(Malungu) estima que o estado concentre cerca de 600 comunidades quilombolas. No entanto,
até mesmo a avaliação do status de andamento dos processos encontra obstáculos. Em ofício
encaminhado em fevereiro de 2022 ao Iterpa, a Malungu solicitou informações da relação dos
processos abertos no órgão estadual e etapa da fase administrativa em que cada um se
encontra. Até o momento não recebeu a resposta do órgão.

“Além da morosidade na titulação de territórios, as comunidades quilombolas do Pará


enfrentam ainda a dificuldade de acesso à informação do andamento dos processos
administrativos no Instituto de Terras do Pará. Há caso de processos administrativos que
“desapareceram” da sede do ITERPA por mais de um ano, como é o caso do Território do Vale
do Acará -ARQVA, que luta pela titulação de cinco quilombos desde 2016. O próprio site de
consulta do ITERPA não gera espelho de movimentação do referido território, o que tem
dificultado o acompanhamento do andamento administrativo”, destaca a assessora jurídica da
Terra de Direitos, Selma Corrêa.

Enquanto esperam a demorada resposta sobre a titulação dos territórios pelo estado do Pará,
as comunidades do Vale do Acará vivem um intenso conflito com duas grandes empresas do
setor de monocultura do dendê - a Agropalma S.A e a Brasil BioFuels (BBF) - que têm violado
há anos os direitos territoriais dos povos tradicionais no nordeste paraense.

De acordo com a assessora um dos muitos exemplos de demora na titulação Quilombola pelo
Estado do Pará é o caso do território Quilombola de Umarizal (Município de Baião) que
aguarda titulação desde 2000, ou seja, mais de 23 anos de espera. “Tanto a morosidade na
titulação quanto a dificuldade de acesso à informação são formas de violação dos direitos
quilombolas que impedem o avanço da regularização fundiária”, destaca. A organização
assessora as comunidades nos processos.

 Grupo 5 – Apresentar noções gerais sobre o controle judicial da Administração Pública;


Apresentar os principais pontos da reportagem.

OPINIÃO
Nomeação de Ramagem no STF: o acerto jurídico da liminar
https://www.conjur.com.br/2020-mai-03/nomeacao-ramagem-stf-acerto-juridico-liminar
3 de maio de 2020, 15h31 Imprimir Enviar

Por José Eduardo Cardozo

Texto em coautoria com outros advogados[1]

Não é de hoje que manifestamos nosso inconformismo contra o ativismo judicial que tem
marcado a atuação de parte do Poder Judiciário. Direitos e garantias constitucionais têm sido
constantemente violados, sob pretextos retóricos e messiânicos, abalando o nosso Estado
Democrático de Direito.

Temos consciência plena do quanto fazem mal para a nossa jovem Democracia os processos
acentuados de politização do Judiciário e de judicialização da política. Contra eles, inclusive,
temos nos pronunciado frequentemente.

Não defendemos, com isso, o amesquinhamento do Poder Judiciário ou que ele abdique do
seu dever de aplicar as leis ou de fiscalizar e fazer aplicar a nossa Carta Constitucional de
1988.

Por isso, no momento em que se discute a correção jurídica da decisão do Ministro Alexandre
de Moraes, que concedeu liminar impedindo a posse de Alexandre Ramagem como Diretor-
Geral da Polícia Federal, convém firmarmos nossa posição.

É um debate polêmico, que divide e incendeia a comunidade jurídica.

Entendemos que a decisão foi correta e adequada aos princípios constitucionais e às regras
legais em vigor.

De acordo com a nossa Constituição, o Poder Judiciário pode e deve controlar a validade de
atos administrativos, a partir de seus requisitos eminentemente jurídicos, mesmo reconhecida a
liberdade de opção discricionária do administrador ao praticá-los.

No Estado de Direito, embora juízes estejam impedidos de adentrar ao campo valorativo


decisório de mérito das competências administrativas, desde que sejam provocados
legitimamente, poderão invalidar atos que ultrapassem esses limites de liberdade.

Uma das razões pelas quais juízes podem anular atos administrativos se dá quando estes são
praticados em desacordo com a sua finalidade legal. Quer dizer: um ato administrativo deverá
ser anulado sempre que o poder do administrador de praticá-lo tiver sido desviado da finalidade
para a qual a lei admitia a sua prática. É o vício denominado de “desvio de poder”.

E foi o que inegavelmente ocorreu na nomeação em discussão. Um claro e inequívoco “desvio


de poder”.

Ao ser contrastado pelas denúncias do ex-Ministro Sérgio Moro de que a nomeação de


Ramagem visava a que a Polícia Federal atuasse de acordo com os interesses pessoais do
Chefe do Executivo, em uma coletiva de imprensa e em outras manifestações, o próprio
presidente confirmou esse fato, afirmando, inclusive, que já solicitara desse órgão a realização
de uma diligência destinada a obter um depoimento em favor de um de seus filhos.

Essa intenção presidencial de retirar a atuação da PF dos trilhos legais foi confirmada por
mensagens escritas divulgadas pelo próprio ex-ministro Sérgio Moro, ainda não contestadas, e,
também, pela notória relação de amizade que o nomeado mantém com o núcleo da família
Bolsonaro.

Não queremos dizer, com isso, que qualquer nomeação de um amigo para um cargo de
confiança seja ilícita. Cargos de confiança existem para serem ocupados por pessoas que
mantém uma relação de confiança com quem escolhe seus ocupantes. E é bom que seja
assim.

O que se afirma é que é ilegal nomear-se alguém para cumprir uma missão ilícita, qual seja, a
de fazer com que a Polícia Federal deixe de investigar parentes ou aliados do presidente da
República , ou ainda, que esse órgão rompa com o dever legal de sigilo, prestando
informações sobre investigações que, por lei, não podem ser prestadas.

Justamente por tal razão, não se afigura pertinente a pecha de incoerência da decisão liminar,
por ter vedado a nomeação de Alexandre Ramagem para a Direção Geral da Polícia Federal,
ao tempo em que o manteve no cargo de Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin). À Polícia Federal, que detém atribuições de polícia judiciária, cabe resguardar o
segredo quanto ao andamento de investigações em curso, mesmo ao presidente da República,
e sobretudo quando se tratar de apurações que envolvam seus familiares. Isso diferencia a
natureza do órgão em comparação com a Abin, cuja competência, aí sim, destina-se a suprir a
cúpula governamental com elementos informativos necessários à tomada de decisões de
gestão.

Nesse contexto, o rompimento do preceito constitucional da impessoalidade, admitido pelo


próprio presidente, traduz fato incontroverso que enseja a avaliação da ocorrência do desvio de
poder, facultando a impetração de mandado de segurança preventivo para conter o iminente
ato abusivo.

Por isso, temos como acertada a decisão do Ministro Alexandre de Moraes.

Uma liminar não é uma decisão definitiva e deve ser concedida sempre que a aparência do
direito é boa e a demora de uma decisão definitiva seja prejudicial.

Foi o que ocorreu, no caso, em face das próprias palavras do presidente e da urgência de se
evitar a posse daquele que, declaradamente, receberia do presidente da República a missão
de desviar a PF do seu dever de atuar de acordo com o princípio republicano.

Nos parece, assim, que a vedação da posse de Alexandre Ramagem na Direção-Geral da


Polícia Federal distingue-se essencialmente da liminar que impediu a posse do ex-presidente
Lula como ministro-chefe da Casa Civil no governo da presidenta Dilma Rousseff. Naquele
caso, tudo derivou de um áudio ilicitamente divulgado pelo então juiz federal Sergio Moro que,
apesar de imprestável como prova, induziu o STF a considerar haver uma tentativa de
obstrução de justiça, num clima midiático que inibiu o necessário choque de versões entre o
que alguns pretendiam extrair do diálogo mantido e a própria explicação dada pela então chefe
do Executivo. Isso eliminava, à época, ao nosso ver, a aparência da ilegalidade e a
possibilidade daquela matéria ser discutida pela via do mandado de segurança.

Ou seja: embora no plano do direito possam parecer situações análogas, a nomeação feita por
Dilma envolvia prova ilícita, contestada veementemente e, na soma, implicava , também,
versões fáticas discrepantes e ocultação intencional de fatos relevantes, manipulados com um
objetivo conhecido e inconfessável. A nomeação feita por Bolsonaro, por sua vez, diz respeito
à prova lícita e à narrativa do próprio Presidente, confirmando o desvio de finalidade em que
incorreu.

Entendemos, pois, que rejeitar nefastos ativismos ou abusos judiciais não significa defender
que o Poder Judiciário deva deixar de cumprir, dentro da lei e da Constituição, a sua importante
função de controlar atos administrativos abusivos praticados por um Chefe de Estado arbitrário
e que ignora a lei, as instituições e os interesses públicos.

Este é o desafio.

[1]

Weida Zancaner, advogada, mestre em Direito e professora de Direito Administrativo. Membro


do IDAP do IDID e do IBDA.

Fernando Hideo Lacerda, advogado criminalista, doutor e mestre em Direito.

Marco Aurélio de Carvalho, sócio fundador do Grupo Prerrogativas e da Associação Brasileira


de Juristas pela Democracia (ABJD). Conselheiro do Sindicato dos Advogados de São Paulo.
Sócio fundador do CM Advogados. Especialista em Direito Público

Carol Proner, advogada, professora de Direito Internacional da UFRJ, membro fundador da


ABJD.

Fabiano Silva dos Santos, advogado, mestre e doutorando em direito pela PUC/SP.

Mauro de Azevedo Menezes, advogado, mestre em Direito Público pela UFPE, ex-presidente
da Comissão de Ética Pública da Presidência da República.

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