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ANALISTA JUDICIÁRIO
CAPÍTULO 2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;
1
CAPÍTULOS
2
Capítulo 22 – Lei dos Agrotóxicos - Lei nº 7802/1989
3
SOBRE ESTE CAPÍTULO
o Conceitos;
o Ética;
o Princípios;
o Competências.
O mais indicado para estudar esses assuntos é ler o material todo com utilização da lei
seca ao lado, fazer a leitura da parte de doutrina ao final, bem como, das jurisprudências
selecionadas mais utilizadas pelas bancas, e realizar os testes para se familiarizar com a cobrança
do assunto.
Para facilitar sua memorização e fazer um resumo da matéria, utilize os quadros e mapas
mentais disponíveis no seu material, esses temas merecem sua atenção.
Esse capítulo é cobrado nas questões através da doutrina, jurisprudência e lei seca.
Agora, você está preparado! Todo o material elaborado nesse capítulo é suficiente para
4
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL............................................................................................................................... 7
Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 7
5
2.6.11 Princípio da Função Sócio Ambiental da Propriedade ...................................................................... 34
GABARITO................................................................................................................................................73
JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................................................79
DOUTRINA ...............................................................................................................................................91
MAPA MENTAL.......................................................................................................................................94
Capítulo 2
implementou conceitos gerais em Direito Ambiental, que são bases para a compreensão dos
demais instrumentos de proteção ambiental no nosso ordenamento.
O meio ambiente ganhou status constitucional e sua conceituação é muito importante para
definição desse novo direito fundamental difuso, assunto que vamos abordar nesse capítulo.
Nessa esteira, visto que houve uma mudança de comportamento humano em face do mundo
natural e seus recursos, assim como no Direito, essa relação também ocorre com a Moral ou
Ética, construindo uma nova moralidade, que no direito ambiental está sempre em constante
mudança, então vamos abordar esse aspecto cobrado em questões, também nesse capítulo de
Outro pronto muito cobrado são os princípios jurídicos, que com a evolução da ciência jurídica,
passaram de meras fontes de integração para normativas positivas a meios essenciais ao
ordenamento.
Por último vamos abordar outro tema muito importante, as competências em matéria ambiental,
atribuídas pela Constituição Federal, que adota o federalismo coopreativo, com estados-
7
2. Conceitos Gerais de Direito Ambiental
O conceito de meio ambiente, que vamos iniciar, tem por base a Lei Nacional do Meio
As palavras “meio” e “ambiente” formam uma conceituação muito mais ampla do que, na
verdade, parece ser uma total redundância. Mas, de maneira contrária, compreende um conjunto
de relações entre seres vivos (bióticos) e não vivos (abióticos), partes de um sistema integrado
8
“Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas;”1
Direito Público
Conjunto de leis, regras, princípios, objetivos
Resguardar o equilíbrio ecológico
Desenvolvimento sustentável
Seres bióticos e abióticos
Meio ambiente natural, cultural, urbanístico e laboral
Transindividual
1
Vide Questão 6.
9
que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e
abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio
ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral.“
O bem ambiental tem caráter difuso, já que não pode ser determinado o sujeito a quem
se destina; indeterminável, pois é um bem de todos e o constituinte não definiu à quem se
destina, ou seja, sem excludentes.
Também se caracteriza como um direito transindividual, já que se destina a coletividade
e ao particular da mesma forma.
Outra característica importante é sua imprescritibilidade, haja vista que a
responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva e sua reparação é obrigatória para a
manutenção do direito de todos ao meio ambiente equilibrado, não comprometendo as futuras
gerações.
10
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
O meio ambiente natural está diretamente ligado aos recursos naturais, bióticos e
abióticos. No art. 3º, V, da Lei Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/81, está previsto
expressamente os componentes do meio ambiente natural:
Todos esses elementos são fundamentais para a existência, são elementos precedentes
da existência da humanidade e equilibram todo o sistema entre os seres vivos e o meio em que
vivem.
Assim, o meio ambiente natural é aquele que é formado sem interferência humana, pela
própria natureza de forma primitiva e natural.
configura o meio ambiente cultural. Composto por bens materiais e imateriais, que são aqueles
que integram a cultura brasileira, não considerados de interesse particular.
11
No art. 23, III, da CF e no art. 1º, da Lei de Ação Civil Pública nº 7.347/85, também
CF - Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...) III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
Lei de Ação Civil Pública - Lei 7.347/85 - Art. 1ºRegem-se pelas disposições desta Lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011). l - ao meio-ambiente; ll - ao
consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
O meio ambiente artificial se define pela ação humana em áreas naturais, convertendo-
as em áreas urbanas artificiais, sendo elas rurais ou urbanas. Classificados em ambientes
abertos, ruas, praças, avenidas; e fechados, casa, clubes, shoppings. Considerado uma dimensão
de ambiente humano, sendo tutelado nos dispositivos arts. 182, 183 e 225, da CF/88, bem
como, pelo Estatuto da Cidade - Lei nº 10.257/01:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
(...)
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.(...)
Estatuto da Cidade- Lei 10.257/01 Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam
os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.
12
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade,
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade
urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como
do equilíbrio ambiental.
trabalham, de forma remunerada ou não. Ele se materializa nas condições que buscam tutelar
o exercício digno e seguro das atividades laborais dos trabalhadores.
não se restringe ao espaço físico dentro das empresas e, sim, ao próprio local de trabalho em
suas residências, ou mesmo em rodovias e grandes avenidas, como os condutores de transporte
público ou caminhoneiros.
A tutela do meio ambiente do trabalho está disposta no art. 200, VIII da CF:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
13
Meio
ambiente
Natural☼
Meio
ambinete
Meio Meio
ambiente
Cultural♬ Ambiente artificial $
Meio
ambiente
do
trabalho☎
e negativos quanto ao meio ambiente, como um bem difuso, deixa claro quem pode assumir o
papel na condição de poluidor.
Por sua vez, a Lei nº 6.938/81 - Política Nacional do Meio Ambiente, em seu art. 3º, IV,
Com base nesse conceito e no art. 225 da CF, o poder público ou a coletividade podem
ser poluidores e responder nas esferas civil, penal ou administrativa, nos termos do art. 225,
§3º, da CF.
2
Vide Questão 5.
14
Quando o art. 3º, IV, da Lei nº 6.93881, estabelece que o poluidor responderá em caso
Informativo 190, STJ: Trata-se de propriedade rural para atividade agropastoril em reserva
legal, sendo que o terreno, quando adquirido, já se encontrava desmatado. A Turma deu
provimento ao REsp interposto pelo MP em ação civil pública, reconhecendo a
legitimidade passiva ad causam do adquirente do imóvel. O Min. Relator ressaltou: aquele
que perpetua a lesão ao meio ambiente cometida por outrem, ele mesmo está praticando
o ilícito, e a obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao
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adquirente, independentemente desse último ter responsabilidade pelo dano ambiental.
Precedente citado: REsp 343.741-PR, DJ 7/10/2002. REsp 217.858-PR, Rel. Min. Franciulli
Netto, julgado em 4/11/2003.
Vale ressaltar, que o conceito de poluidor está sempre ligado à atividade humana, os
danos ambientais causados naturalmente não são atos de poluição, ou seja, nem toda
degradação é poluição!! Outro ponto é quanto à licitude da atividade degradadora, não
importa para sua responsabilização, sendo lícita ou ilícita, será responsável pelo dano.
Não há como não relacionar meio ambiente com poluição, importante também
conceituar poluição, como estabelece o legislador no art. 3º, III, da PNMA:
Nessa conceituação, devemos entender que o caput e o inciso III tratam do conceito, e
as alíneas dos efeitos da poluição ao meio ambiente. É evidente a visão antropocêntrica dessa
norma, ao demonstrar efeitos prejudiciais somente ao ser humano quanto à poluição causada
ao meio ambiente, mas a visão ecocêntrica nas decisões de demais normas jurídicas buscam a
tutela e a manutenção do sistema como um todo, portanto, não se deve analisar o dispositivo
com efeitos taxativos ao meio ambiente.
16
constitucionalismo liberal. Nesse contexto, os direitos fundamentais eram estabelecidos como
limites ao Estado, protegiam o individualismo e a propriedade privada, chamados de “liberdades
clássicas”.
17
1ª 2ª 3ª
Geração Geração Geração
Estado Liberal Estado Social Estado social
democrático
Revolução Francesa Revolução Industrial Modernidade
Direitos de fraternidade
Direitos de Igualdade, e solidariedade, direitos
Direitos de Liberade,
direitos sociais, culturais difusos, direito do
direitos negativos,
e econômicos, direitos consumidor, dos
direitos civis e políticos
coletivos, trabalhistas animais, direito à paz, ao
meio ambiente
18
Aplicabilidade imediata: efetividade, aplicação imediata da norma;
Constitucionalização: é por meio dela que se faz a distinção dos direitos
fundamentais.
sociedade.
Assim, com um novo comportamento humano, com uma nova forma de entender como
se coloca em relação à natureza, o mesmo aconteceu com relação à Ética, já que assim se
constrói uma nova moralidade, não mais como um homem explorador, antropocentrista, e, sim,
com um ecocentrismo, uma visão integrada, uma compreensão de dependência. A ética
O valor moral que conduz a ética era baseado em decisões racionais e religiosas na idade
média, o que é, na modernidade, baseado na ciência e no art. 225 da CF, ao consignar que
A ética ambiental, por sua vez, é construída com base na ciência natural, biológica,
ecológica, geológica etc. Portanto, fundamenta-se na existência de valores ecológicos, na
natureza como um todo, reconhecendo a dignidade dos seres vivos e respeitando os valores da
natureza, que existem independentemente da existência humana.
O que se pretende, é formar uma nova consciência ambiental que limite a conduta
humana, para que se entenda o ser humano responsável pelos seres ao seu redor.
19
2.5 Fontes do Direito Ambiental
Como todo o ramo do Direito, as fontes podem ser materiais ou formais. Sendo as fontes
materiais aquelas provenientes da manifestação popular, de forma individual ou coletiva, através
Hoje, não se nega mais a força jurídico-normativa, presente em diversas decisões, que os
princípios de Direito Ambiental exercem na tutela jurisdicional. São reconhecidos como
verdadeiras normas jurídicas, criando direitos, obrigações etc., nas mais variadas situações
concretas.
equilibrado como bem comum de todos, valores esses conceituados nos princípios que vamos
aprender a seguir.
20
Vamos estudar os princípios específicos do Direito Ambiental. Por ser uma ciência autônoma,
possui seus próprios princípios. Vale ressaltar que todos os valores relacionados à vida também
estão relacionados ao Direito Ambiental, mas vamos nos aprofundar no que é mais cobrado em
provas de concurso.
Todos os princípios estão enraizados na Constituição Federal, deles decorrem ou lhes são
derivados. Essa é uma classificação acadêmica, utilizada pelos doutrinadores e juristas, mas o
Conforme exposto ao longo desse material, o ser humano sempre está disposto a se
desenvolver, aumentando e expandindo-se no aspecto social e econômico, portanto, na
Mas com a ideia de finitude dos recursos naturais e a conscientização de sua necessidade
para manutenção da vida em sua qualidade e forma, entra a ideia de sustentabilidade, formando,
21
Assim, a visão sustentável está relacionada à qualidade de vida por meio da conservação
dos bens ambientais que são necessários, ao mesmo tempo, ao desenvolvimento e à preservação
de todos os ecossistemas.
“Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer
a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”.
Foi então que, com a presidência da Primeira Ministra da Noruega, Gron Harlem
Brundtland, os trabalhos para formulação de novas políticas para o meio ambiente internacional,
com base nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, resultaram no “Relatório Nosso Futuro
Comum” ou “Relatório Brundland”, em 1987, afirmando essa necessidade de uma nova visão
sustentável, onde o crescimento econômico fosse possível com base na prática de conservação
dos recursos naturais.
Esse relatório foi um marco de extrema notoriedade, ao expor a opinião das pessoas de
vários países em audiências públicas, sobre vários temas ambientais e de desenvolvimento,
consagrando essa ideia sustentável. Um verdadeiro desafio global, que não poderia mais ser
postergado.
23
Evitar a produção de
bens superfúlos e
agressivos ao meio
ambiente
Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de
Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento
de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle
e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros
para o alcance de seus objetivos.
24
Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá
aos seguintes princípios:
Este princípio, por sua vez, busca assegurar a solidariedade das presentes gerações em
relação às futuras, para que todos possam usufruir, de forma sustentável, do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, como prevê o final do art. 225 da Constituição:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Fique atento a esse dispositivo! Esse princípio foi ressaltado, primeiramente, na Declaração de Estocolmo,
em 1972. Preocupados com a finitude dos recursos naturais, em seu Princípio 2 estabeleceu a preservação
para as gerações atuais e futuras. Por igual, na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, em
1992, novamente ressaltou-se essa dimensão como Princípio 3º: “devendo ser exercido de modo a
permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades (...) das gerações atuais e futuras”, surge,
3
Vide Questão 13 e 14.
25
portanto, com o art. 225, caput, da CF/88, o princípio da equidade intergeracional, ou princípio da
solidariedade intergeracional, que está firmado em nosso ordenamento pátrio como supracitado.
Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na
Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
26
Nesse sentido, no julgamento da ADI 4.066/DF, a Min. Rosa Weber apontou o art. 225
está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Por isso, o STJ já
decidiu que esse direito essencial deve ser imprescritível.
27
nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela
imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja
genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o
montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009).
Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir
sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução,
extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos
visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?
4
Vide Questão 7.
5
Vide Questão 4 e 8.
28
Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de
provar que as ações não são danosas é do acusado interessado. Mas atenção: a aplicação do
princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena
de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de
risco ambiental.
Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva do degradador ambiental que,
independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a
sua atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a
atividade do agente.
29
Prevenção – o poluidor deve seguir as políticas públicas e considerar os custos sociais
Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente
equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do
direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao
direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que
se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à
compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção.
Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar
o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por
eles, mesmo que a sua atividade seja lícita. É uma forma de evolução e de complementar o
princípio do poluidor pagador.
O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve ser
revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da ocorrência
6
Vide Questão 2 e 4.
7
Vide Questão 4.
30
2.6.7 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal
Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito
da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções
administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses
exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a
preservação do meio ambiente.
31
de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de
políticas públicas e possibilidade de propor ação popular.
Exemplo da aplicação do princípio da informação está disposto no art. 255, IV, da CF/88,
que exige a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental. Ademais, você verá ao longo
do curso que todas as normas infraconstitucionais em matéria ambiental privilegiam o princípio
da informação.
Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.
Esse princípio foi regulamentado por meio da Lei nº 10.650/2003, que dispõe quanto ao
acesso público a dados e informações ambientais nos órgãos e entidades do Sisnama. A
solicitação deve ser feita por escrito e não ter fins comerciais, podendo ser requerida por
qualquer cidadão independente de comprovação de interesse específico, e deve ser prestada
no prazo de 30 dias, nos termos do art. 2º, §5º, da Lei nº 10.650/2003:
32
à incidência do princípio da informação ambiental, devendo, muitas vezes, elaborar
relatórios periódicos:
Art. 4º Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis, no respectivo órgão,
em local de fácil acesso ao público, listagens e relações contendo os dados referentes
aos seguintes assuntos:
I - pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;
II - pedidos e licenças para supressão de vegetação;
III - autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos ambientais;
IV - lavratura de termos de compromisso de ajustamento de conduta;
V - reincidências em infrações ambientais;
VI - recursos interpostos em processo administrativo ambiental e respectivas decisões;
VII - registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e sua aprovação ou
rejeição.
Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de
forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a
adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades.
Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja
verdade, ampla, tempestiva e acessível.
Esse princípio foi introduzido por meio do item 19 da Declaração de Estocolmo de 1972
e permitiu, com o passar dos anos, o desenvolvimento de uma nova concepção dos seres
humanos para com o meio ambiente, fortalecendo a cidadania ambiental (Rafael Matthes,
Manual de Direito Ambiental, pg. 47, 2020).
33
Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público
o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.
É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação
Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a
quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade
perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da
sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo.
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como
titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à
sua tutela.
Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 8
8
Vide Questão 3.
34
2.6.12 Princípio da Cooperação entre os Povos
É necessário muito mais que uma simples política nacional para tutelar um direito
planetário. Cada vez mais é necessário que se estabeleça uma conexão entre políticas de
proteção e preservação do meio ambiente, para que estabeleçam regras e objetivos mundiais
acima de qualquer interesse nacional, com o objetivo de garantir a todos uma boa qualidade
de vida e um equilíbrio ecológico.
Importante destacar que todo dano ambiental afeta o ecossistema do planeta, não há
como proteger uma parte e não se preocupar com a outra, os benefícios e males causados pela
interferência humana no meio ambiente são globais e não estão delimitados geograficamente.
Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio
ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar
reflexos em todo o planeta.
Nessa esteira, por sua característica difusa, onipresente e fluida, o bem ambiental não fica
delimitado geograficamente, já que é comum acontecer danos ambientais em outros países que
podem atingir todo o planeta, e esse dano será sentido por muitas gerações.
O STJ já reconheceu esse princípio no RESP 588.022/SC, Rel. Min. José Delgado:
35
(...) A Conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências
históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece
fronteiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. (...)
Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste
no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no
âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do
meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível.
Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente,
ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares.
É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos
direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas
garantias.
36
Pela interpretação do STF, o correto seria o princípio de vedação ao retrocesso da
sustentabilidade, já que aponta como constitucionais normas que, apesar de não trazerem
ganhos maiores para o Direito Ambiental, permitem maior desenvolvimento econômico e social.
Esse princípio é resultado de uma evolução maior, de uma educação ambiental em esfera
global. Com base na educação ambiental, a figura do protetor ganhou destaque nos encontros
internacionais.
Logo após, duas importantes normas foram criadas: Lei nº 12.305/10 - Política Nacional
de Resíduos Sólidos, e a Lei nº 12.641/12 - Novo Código Florestal, em ambas temos a figura do
poluidor e do protetor.10
9
Vide Questão 4.
10
Vide Questão 4.
37
Os Estados deverão cooperar com espírito de solidariedade mundial para conservar,
proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Considerando
que têm contribuído em diferente medida à degradação do meio ambiente mundial, os
Estados têm responsabilidades comuns mas diferenciadas. Os países desenvolvidos
reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento
sustentável, em vista das pressões que suas sociedades exercem no meio ambiente
mundial e das tecnologias e dos recursos financeiros de que dispõem.
Reconhecendo que o Direito Ambiental não possui fronteiras, sendo necessário uma
monitoria global, alguns reconhecem também que há uma dívida histórica quanto aos países
que se desenvolveram antes de outros e, portanto, também se industrializaram e deixaram danos
ambientais históricos, dado o nível tecnológico de cada um.
Com base no disposto no art. 225, §3º, da CF, “as condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, temos a
tripla responsabilização do infrator ambiental, devendo responder na esfera civil,
administrativa e penal. O STF já reconhece essa responsabilidade objetiva e tríplice como a
teoria do risco.
Essa teoria dispõe quanto a situações onde a pessoa deve reparar o dano, mesmo sem ter
a culpa comprovada, visto a responsabilidade objetiva, apenas com a presença do nexo causal,
o dano deve ser indenizado e reparado independentemente de culpa.11
11
Questão 9.
38
2.7 Competências Ambientais
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VIII - responsabilidade por
dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.”
39
A competência ambiental material, por sua vez, atribui aos entes federados o poder de
execução da lei, de colocá-la em prática independentemente de provocação, e se subdivide em
exclusiva e comum.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros
bens de valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Não se preocupe, vamos abordar cada uma dessas competências de forma prática para
facilitar a sua compreensão e fixar essa matéria, que é bem recorrente nas questões de concurso.
40
•Privativa= União (Estados/DF por Lei
Competência Complentar )
•Exclusiva= Estados/DF
Legilslativa •Concorrente=União/Estados/DF
•Remanescente= Estados
(legislar) •Suplementar= Municípios
•Exclusiva= União
Competência •Comum= União /Estados/DF/ Municípios
Material
(fiscalizar)
É a competência outorgada pela Constituição, no art. 22, à União para legislar sobre
determinados assuntos, entre eles: águas, energia, regime de portos, navegação lacustre,
fluvial e marítima, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, sistema
de geologia nacional e atividades nucleares de qualquer natureza:
41
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de
profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e
da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e
mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as
administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização
nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.”
Ademais, não custa nada lembrar que o fato de a competência legislativa ser privativa da
União, não significa que só ela tenha o poder de fiscalizar. Guarde essa informação!
Os estados federados possuem sua competência legislativa exclusiva prevista nos §2º e §3º
do art. 25 da CF/88.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
42
(...)
Quanto aos municípios, apesar de não terem sido expressamente contemplados por
competências legislativas exclusivas em matéria ambiental pela Constituição, podemos extrair
do art. 30, I da CF/88 que esses entes podem legislar sobre assuntos de interesse local, desde
que comprovado o interesse restrito ao âmbito territorial do município. Esse “interesse local
” não significa ausência de interesse regional ou nacional. Para detectar se a matéria é de
competência do município devemos usar o critério da predominância de interesse.
De acordo com o art. 25, §1º da Constituição Federal, são reservadas aos Estados as
competências que não lhes sejam por ela vedadas. É o que chamamos de competência
remanescente ou reservada, que visa preencher eventuais lacunas na repartição de competências
entre os entes. Em razão da competência remanescente temos, por exemplo, a competência dos
estados para legislar sobre o transporte intermunicipal.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.
43
2.7.4 Competência Legislativa Concorrente
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
(...)
12
Vide Questão 10.
44
A inércia da União em editar a norma geral faz surgir a competência legislativa supletiva
ou plena para os estados e para o DF, como dispõe o §3º do art. 24 da CF/88, que passam a
poder editar normas gerais e normas específicas sobre os assuntos concorrentes.
Se após exercida a competência legislativa supletiva pelo estado ou pelo DF, a União editar
a norma geral, ela irá suspender a eficácia13 da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária.
Atenção: a lei geral editada pela União supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva
editada pelo estado ou pelo DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES
FEDERATIVOS DISTINTOS! Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editada a
partir da competência legislativa supletiva não contrarie a norma geral editada
supervenientemente pela União.
E os municípios? Bem, o art. 24 da CF/88 não atribui nenhuma competência legislativa aos
municípios, por isso, a doutrina majoritária não considera que eles tenham competência
concorrente. Mas o art. 30, I e II da CF/88 afirma que cabe ao município “legislar sobre assuntos
de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”! Isso não é
uma competência concorrente implícita??? Não! O inciso I é uma competência exclusiva do
município, enquanto o inciso II trata-se do que a doutrina chama de competência legislativa
suplementar.
13
Vide Questão 12 e 15.
14
Vide Questão 1.
45
2.7.5 Competência Material Exclusiva
46
Notou alguma coisa no inciso XII acima citado? Observe que ele autoriza a exploração
dos serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água diretamente pela União ou mediante autorização, concessão ou permissão. Trata-se,
portanto, de uma possibilidade de delegação do exercício dessa competência. Ok, mas e daí?
Daí que esse inciso especificamente deixa de ser classificado como uma competência material
exclusiva e passa a ser considerado uma competência material privativa da União que, como
vimos, são aquelas matérias que podem ser delegadas.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;
(...)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
47
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
(...)
Para regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei Complementar 140/11, que será
aprofundada adiante, com o intuito de estabelecer uma gestão descentralizada das questões
ambientais, harmonizar políticas públicas e ações administrativas entre as esferas de governo,
os artigos iniciais são bastante cobrados:
Art. 1º Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e
do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do
exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora.
48
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei
Complementar:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio
ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a
redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação
entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma
atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as
peculiaridades regionais e locais.15
Para exercer esse poder de polícia, que realiza atos como de licenciamentos, fiscalização,
sanções administrativas etc., todos podem atuar de forma conjunta. O problema é: quem será
o ente competente para aplicar determinada multa?
Mais uma vez, vamos utilizar a predominância do interesse, ou seja, aquele que possuir
interesse dominante em uma dada matéria será competente para praticar os atos
administrativos.
Com base no princípio da legalidade (art. 37 da CF), é que a administração pública atua,
quando um ente tem determinada competência para legislar sobre determinado assunto, detém
maior interesse em tratar da matéria de forma administrativa.
Mas, visto que se deve aplicar a forma cooperativa, poderá perfeitamente o Município atuar
de forma administrativa em uma lei federal, com multas, licenciamentos, estudos de impacto
ambiental, embora não seja de interesse local, caso seja para tornar o ato mais eficiente.
Assim se posiciona o STJ, no sentido de que qualquer integrante do Sisnama pode atuar
para fiscalizar uma atividade:
15
Vide Questão 11.
49
contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorga da licença,
portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada à esfera do ente
federal que a outorgou. 3. O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes
da federação para proteger o meio ambiente através da fiscalização.4. A competência
constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos do meio ambiente das diversas
esferas da federação, inclusive o art.76 da Lei Federal n. 9.605/98 prevê a possibilidade
de atuação concomitante dos integrantes do SISNAMA.5. Atividade desenvolvida com
risco de dano ambiental a bem da União pode ser fiscalizada pelo IBAMA, ainda que a
competência para licenciar seja de outro ente federado. Agravo Regimental provido.
(AgRg no REsp 711.405/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 28/04/2009, DJe 15/05/2009)
50
mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de prévios EIA/RIMA.
A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva. Somente o estudo e o
acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos ambientais públicos e
privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado pelas dragagens no rio,
pelo depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes marítimas, sobre a orla
litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o homem que vive e depende
do rio, do mar e do mangue nessa região.5. Recursos especiais improvidos. (REsp
588.022/SC, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2004, DJ
05/04/2004, p. 217)
51
QUADRO SINÓPTICO
52
Terceira geração de direitos fundamentais, onde a titularidade é difusa,
indefinida, indeterminável e transindividual, isso torna o Estado um dos
protetores para sua defesa e efetivação, através de normas protetivas e
punitivas, e a posição da sociedade detentora desses direitos também
como sua protetora, visto que esse direito está diretamente ligado ao
direito à vida. Direito ao meio ambiente, direito dos animais etc.
Universalidade: sujeito ativo, todos de forma indeterminada;
Indivisibilidade: devem ser analisados de forma sistêmica;
Interdependência: os direitos estão interligados;
Inter-relacionariedade: proteção global e regional para tutela dos
direitos;
Imprescritibilidade: não são atingidos pela prescrição;
Inalienabilidade: estão fora de comércio;
Historicidade: fruto de evolução e desenvolvimento histórico;
Irrenunciabilidade: não podem ser disponíveis por seus titulares;
Vedação ao retrocesso: não podem sofrer diminuição de proteção já
Direito Fundamental positivada;
Efetividade: o Estado deve garantir ao máximo sua efetividade;
Relatividade: não será absoluto, devendo ser aplicado ao caso concreto;
Inviolabilidade: impossibilidade de não serem observados por atos ou
dispositivos jurídicos;
Concorrência: podem ser exercidos cumulativamente;
Complementariedade: devem ser interpretados em conjunto;
Aplicabilidade imediata: efetividade, aplicação imediata da norma;
Constitucionalização: é por meio dela que se faz a distinção dos direitos
fundamentais.
53
Direito capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias
necessidades”.
Ambiental
Princípio da Solidariedade Intergeracional: ou Princípio da equidade
intergeracional, estabeleceu a preservação para as gerações atuais e
futuras.
Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
de todos e está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à
dignidade humana.
Princípios da Prevenção e da Precaução:
Prevenção: certeza científica do impacto ambiental da atividade, impor
medidas preventivas para minimizar ou eliminar esses efeitos.
Precaução: potenciais riscos de impacto ambiental da atividade, que no
momento não podem ser cientificamente comprovados. É um dever de
cautela.
Princípio do Poluidor pagador: responsabilidade civil objetiva do
degradador ambiental que, independentemente de agir com dolo ou
culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua atividade causou
ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a
atividade do agente com reparação e prevenção.
Princípio do Usuário Pagador: o princípio do usuário pagador não é
uma sanção e sim uma valoração econômica aos recursos naturais para
racionalizar o seu uso, evitando o seu desperdício.
Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal: a atuação
obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza
indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa
humana.
Princípio da Participação Comunitária: o cidadão tem o direito e o dever
de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente.
Princípio da Informação: todos têm direito a receber dos órgãos
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.
Princípio da Educação Ambiental: o poder público tem o dever de
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Princípio da Função Sócio Ambiental da Propriedade: que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna,
54
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Princípio da Cooperação entre os Povos: uma troca mútua de
conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de
tecnologias para manter o equilíbrio ambiental.
Princípio da Ubiquidade: tendo em vista que o meio ambiente é
onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz
de gerar reflexos em todo o planeta.
Princípio do Limite: Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir
de forma necessária no âmbito particular para fiscalizar, orientar e
conscientizar quanto aos limites da exploração do meio ambiente, à sua
importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível.
Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico: Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido
progressivo na proteção dos direitos fundamentais, jamais recuando,
suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas garantias.
Princípio do Protetor-Recebedor: incentivar e facilitar as produções e
padrões sustentáveis por meio de instrumentos econômicos e políticas
públicas.
Responsabilidades Comuns, porém, diferenciadas: “Os Estados deverão
cooperar com espírito de solidariedade mundial para conservar, proteger
e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra.
Considerando que têm contribuído em diferente medida à degradação
do meio ambiente mundial, os Estados têm responsabilidades comuns,
mas diferenciadas“.
Responsabilização Integral: Toda atividade deve indenizar o dano
ambiental caso comprovado o nexo causal, não é necessário ser
comprovada culpa. Aplica-se a Teoria do risco. Responsabilização tríplice:
civil, penal e administrativa.
Competência Legislativa:
Privativa = União (Estados/DF por Lei Complementar)
Exclusiva = Estados/DF
Competências Concorrente = União/Estados/DF
em Remanescente= Estados
Direito Suplementar = Municípios
Competência Material ou Administrativa:
Ambiental
Exclusiva = União
Comum = União/Estados/DF/Municípios
55
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
Letra C
56
Questão 2
(VUNESP – JUIZ - 2019) Determinada indústria química elimina seus rejeitos no rio que abastece
uma cidade, alterando as características do meio ambiente e prejudicando a segurança e o bem-
estar da população. Nesse caso, o princípio ambiental que visa à internalização das
externalidades ambientais negativas e busca impedir a socialização dos custos ambientais é o
princípio
A) do poluidor-pagador.
B) da participação social.
C) da ubiquidade.
D) da precaução.
E) do usuário-pagador
Comentário:
Letra A
57
Questão 3
(FUNDEPES – TJMG - 2014) Com relação aos princípios do direito ambiental, analise as
afirmativas, assinalando com V as verdadeiras com F as falsas.
( ) O estudo prévio de impacto ambiental constitui exigência feita pelo poder público em
cumprimento ao princípio da prevenção, de ordem constitucional.
( ) O princípio da reparação tem por fundamento a responsabilidade subjetiva do agente. Logo,
se afastada a ilicitude administrativa de um ato lesivo ao meio ambiente, não haverá a
correspondente responsabilidade civil pelos danos causados.
( ) Na aplicação do princípio do poluidor-pagador, a cobrança de um preço pelos danos
causados ao meio ambiente só pode ser efetuada sobre fatos que tenham respaldo em lei, sob
pena de se outorgar ao agente o direito de poluir.
( ) O princípio da função socioambiental da propriedade determina que o seu uso seja
condicionado ao bem-estar social, sem, contudo, impor comportamentos positivos ao
proprietário para o exercício de seu direito.
A) F F V V.
B) V V F F.
C) F V F V.
D) V F V F.
Comentário:
Letra D
( V ) O estudo prévio de impacto ambiental constitui exigência feita pelo poder público
58
Incorreta: A responsabilidade por dano ambiental é objetiva e pautada no risco integral,
poluidor-pagador).
Questão 4
59
II - “Objetiva internalizar nas práticas produtivas (em última instância, no preço dos produtos e
serviços) os custos ecológicos, evitando-se que os mesmos sejam suportados de modo
indiscriminado (e, portanto, injusto) por toda a sociedade” (SARLET & FENSTERSEIFER).
III - “Incentiva economicamente quem protege uma área, deixando de utilizar seus recursos,
estimulando assim a preservação” (RIBEIRO).
IV - “...apesar de não se encontrar, com nome e sobrenome, consagrado na nossa Constituição,
nem em normas infraconstitucionais, e não obstante sua relativa imprecisão - compreensível em
institutos de formulação recente e ainda em pleno processo de consolidação -, transformou-se
em princípio geral de Direito Ambiental, a ser invocado na avaliação da legitimidade de
iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de tutela legal do meio ambiente”
(BENJAMIN).
V - “visa proteger a quantidade dos bens ambientais, estabelecendo uma consciência ambiental
de uso racional dos mesmos, permitindo uma socialização justa e igualitária de seu uso”
(RODRIGUES).
Comentário:
Letra D
60
Poluidor pagador: guarda relação com atividade ambiental degradadora ao meio
ambiente.
Protetor recebedor: guarda relação com o incentivo a atividades sustentáveis e
desenvolvimento sustentável com a utilização de matérias primas e tecnologias
verdes.
Vedação de retrocesso ambiental: guarda relação com a proteção ambiental
adquirida na legislação que não pode ser suprimida posteriormente.
Usuário pagador: guarda relação com os custos sociais pagos pela utilização dos
recursos naturais de forma consciente.
Questão 5
(FCC – PROCURADOR - 2010) Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), estabelecida pela
Lei Federal n. 6.938/81, NÃO
Comentário:
61
Letra C
Questão 6
(CESPE – JUIZ SUBSTITUTO - 2011) Com relação ao conceito de meio ambiente e dano
ambiental, assinale a opção correta.
Comentário:
Letra E
62
A alternativa correta é a letra E: definição nos termos do art. 3º da lei 6938/81 PNMA.
A alternativa A está incorreta: a definição não é conforme o protocolo de Cartagena
e sim conforme a PNMA e a Resolução do CONAMA, ademais a segunda parte não
trata do conceito de dano ambiental.
A alternativa B está incorreta: pois no final da alternativa o texto fala em sistemas
autopoiéticos, e na verdade o correto é ecossistemas.
A alternativa D está incorreta: a definição de meio ambiente não está no texto
constitucional e sim na PNMA e na Resolução CONAMA como descrito na alternativa
E.
A alternativa E está errada: a primeira parte da alternativa quanto à definição de
meio ambiente está correta, mas a definição de dano ambiental não está, se
subentende pelo conceito de degradação ambiental, no art. 3º, II da Lei nº
6.938/1981: “a alteração adversa das características do meio ambiente”, dentro dessa
conceituação temos poluição, mas nem toda degradação é por poluição, logo, dano
ambiental não está ligado a poluição somente e sim com a degradação.
Questão 7
Considerando-se que, nessa situação hipotética, o risco de exposição ao agrotóxico possa ser
mensurado, é correto afirmar, com base na jurisprudência do STF, que a decisão do órgão
ambiental está pautada no princípio
A) da precaução.
B) da prevenção.
C) do limite.
D) da equidade.
E) do usuário-pagador.
63
Comentário:
Letra B
A alternativa correta é a letra B: esse princípio tem por base o estudo científico
prévio para determinada atividade que possa oferecer potencial risco à saúde
humana ou ao meio ambiente, nesse caso o agrotóxico, que teve por base estudos
científico e, portanto, justifica a aplicação do princípio da prevenção.
A alternativa A está incorreta: pois o princípio da precaução é um dever de cautela
quando determinada atividade possa oferecer riscos ao meio ambiente, mas não há
estudos científicos que comprovem esses riscos, mesmo assim, devem ser mitigados
de alguma forma.
A alternativa C está incorreta: o princípio do limite trata do dever estatal em zelar
pela efetividade das normas ambientais afim de não comprometer o equilíbrio
ambiental.
A alternativa D está incorreta: esse princípio guarda relação com a onipresença do
direito ambiental, que não pode ser visto como delimitação geográfica e sim como
um sistema global.
A alternativa E está errada: esse princípio trata do custo que arcamos pela utilização
dos recursos naturais de forma a não desperdiça-los.
Questão 8
Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio
ambiental
A) da precaução.
B) da proporcionalidade.
C) da equidade.
D) do poluidor-pagador.
E) do desenvolvimento sustentável.
Comentário:
Letra A
65
Questão 9
Comentário:
Letra A
66
Questão 10
A) Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre proteção
do meio ambiente.
B) Compete privativamente à União legislar sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente.
C) As condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
exclusivamente pessoas físicas, a sanções penais e administrativas.
D) Os Estados poderão legislar sobre proteção do meio ambiente, desde que autorizados por
Lei Complementar.
E) É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios legislar
sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente.
Comentário:
Letra A
A alternativa correta é a letra A: nos termos do art. 24. da CF: “Compete à União,
aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente (...)”
A alternativa B está incorreta: a competência é concorrente e não privativa, nos
termos do art. 24. da CF “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico”.
A alternativa C está incorreta: a responsabilidade objetiva ambiental está relacionada
a todos, pessoas físicas e jurídicas, por responsabilização tríplice.
A alternativa D está incorreta: não há necessidade de nenhuma legislação tendo em
vista que a constituição assim dispõe: art. 24. da CF “Compete à União, aos Estados
e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VIII - responsabilidade por
dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico”.
67
A alternativa E está incorreta: não nenhuma menção quanto aos municípios, portanto
sua competência é suplementar somente.
Questão 11
(FCC – JUIZ SUBSTITUTO - 2015) Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum, conforme
regulamentação da Lei Complementar n° 140/2011,
Comentário:
Letra E
68
A alternativa C está incorreta: a única palavra que está errada no texto da alternativa
é erradicação no lugar de diminuição da pobreza. Art. 3, II, da LC 140/2011.
A alternativa D está incorreta: o texto correto do art. 3, IV da LC 140/2011, fala em
uniformidade da política ambiental, e não em caráter plural e não uniforme.
Questão 12
(FCC – JUIZ SUBSTITUTO - 2015) Determinado Estado da Federação possui uma legislação
sobre flora. A União, após intenso debate legislativo, trouxe em lei federal normas gerais sobre
a mesma matéria tratada na lei estadual. A lei estadual
Comentário:
Letra E
Questão 13
69
(TRF 3ºR – JUIZ SUBSTITUTO - 2018) A respeito dos princípios que sustentam o direito
ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que:
Comentário:
Letra A
Questão 14
(TJ-PR – JUIZ - 2011) Quanto aos princípios fundamentais do Direito Ambiental, é CORRETO
afirmar que:
I. A afirmação: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o
desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com o
meio ambiente” (princípio 1 – Rio 92), nos leva a reconhecer o princípio da dignidade da pessoa
humana como um dos mais relevantes aplicáveis ao Direito Ambiental.
II. O princípio da prevenção caracteriza-se pela ausência de absoluta certeza científica acerca do
dano ambiental causado por determinado empreendimento.
Comentário:
Letra C
A alternativa correta é a letra C: a única afirmativa que está errada é a II, já que se trata do
princípio da precaução a falta de certeza científica e não o da prevenção.
71
Questão 15
A) A União detém competência privativa para legislar sobre jazidas, minas, caça, pesca e
atividades nucleares de qualquer natureza, nos termos da Carta Magna.
B) As normas gerais no âmbito da competência concorrente são atribuídas à União.
C) Compete exclusivamente à União legislar acerca da responsabilidade por dano ao meio
ambiente.
D) No âmbito da legislação concorrente, os estados não podem legislar sobre matéria ainda não
tratada pela União.
E) Mesmo que exista atuação normativa geral por parte da União, o estado-membro pode tratar,
em caráter pleno, das normas gerais.
Comentário:
Letra B
72
A alternativa E está incorreta: Mesmo que exista atuação normativa geral por parte
da União, o estado-membro pode tratar, em caráter suplementar, das normas gerais
(art. 24, §2º, CF).
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - A
Questão 3 - D
Questão 4 - D
Questão 5 - C
Questão 6 - E
Questão 7 - B
73
Questão 8 - A
Questão 9 - A
Questão 10 – A
Questão 11 – E
Questão 12 – E
Questão 13 – A
Questão 14 – C
Questão 15 – B
QUESTÃO DESAFIO
74
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
danos.
De acordo com WEDY (WEDY, Gabriel. Precaução no Direito Ambiental não quer dizer o
mesmo que prevenção. Consultor Jurídico. 2014. Disponível em: <
https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-direito-ambiental-nao-
prevencao > Acesso em: 09/10/2020.), a distinção entre o princípio da precaução e prevenção,
todavia, deve avançar das distinções semânticas e linguísticas para o campo da prática e da
efetividade. A diferenciação inicia pelo fato de que o princípio da precaução, quando aplicado,
trata-se de uma medida para evitar o mero risco, e o princípio da prevenção é aplicado para
evitar diretamente o dano. O risco pode ser entendido como a possibilidade de ocorrência de
uma situação de perigo. Já o perigo nada mais é do que a possibilidade de ocorrência de dano.
ART. 225, CF – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
75
Segundo Frederico Amado (Sinopses para Concursos - v.30 - Direito Ambiental / Frederico
Amado - Salvador: Editora JusPodivm, 2020 pág. 55), sobre o princípio da Prevenção, já se tem
base científica para prever os impactos ambientais negativos decorrentes de determinada
empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou irreversíveis, contudo, inexiste certeza
científica quanto aos efetivos danos e a sua extensão, mas há base científica razoável fundada
em juízo de probabilidade não remoto da sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser
compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a
população.
De origem alemã, não tem previsão literal na Constituição, mas pode-se afirmar que
foi implicitamente consagrado no seu artigo 225, conforme reconhecido pelo Ministro Carlos
Britto, no julgamento da ACO 876 MC-AGR, pelo STF.
EMENTA Agravo regimental. Medida liminar indeferida. Ação civil originária. Projeto de
Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Periculum in mora não evidenciado. 1. Como assentado na decisão agravada, a Ordem
dos Advogados do Brasil - Seção da Bahia, AATR - Associação de Advogados de
Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia, GAMBA - Grupo Ambientalista da Bahia, IAMBA
- Instituto de Ação Ambiental da Bahia, Associação Movimento Paulo Jackson - Ética,
Justiça e Cidadania, PANGEA - Centro de Estudos Socioambientais e da AEABA - Associação
dos Engenheiros Agrônomos da Bahia, não detêm legitimidade ativa para a ação prevista
no art. 102, I, "f", da Constituição Federal. 2. A Licença de Instalação levou em conta o fato
de que as condicionantes para a Licença Prévia estão sendo cumpridas, tendo o IBAMA
apresentado programas e planos relevantes para o sucesso da obra, dos quais resultaram
novas condicionantes para a validade da referida Licença de Instalação. A correta execução
do projeto depende, primordialmente, da efetiva fiscalização e empenho do Estado para
proteger o meio ambiente e as sociedades próximas. 3. Havendo, tão-somente, a
construção de canal passando dentro de terra indígena, sem evidência maior de que
recursos naturais hídricos serão utilizados, não há necessidade da autorização do
Congresso Nacional. 4. O meio ambiente não é incompatível com projetos de
desenvolvimento econômico e social que cuidem de preservá-lo como patrimônio da
humanidade. Com isso, pode-se afirmar que o meio ambiente pode ser palco para a
promoção do homem todo e de todos os homens. 5. Se não é possível considerar o
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projeto como inviável do ponto de vista ambiental, ausente nesta fase processual qualquer
violação de norma constitucional ou legal, potente para o deferimento da cautela
pretendida, a opção por esse projeto escapa inteiramente do âmbito desta Suprema Corte.
Dizer sim ou não à transposição não compete ao Juiz, que se limita a examinar os aspectos
normativos, no caso, para proteger o meio ambiente. 6. Agravos regimentais desprovidos.
(ACO 876 MC-AgR/BA, rel. Min. Menezes Direito, 19.12.2007. (ACO-876)
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição Federal/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XXIII, §2º, 21º, 22º, I, 23º, 24º, VI, VII, XVI,
25º, §§1º, 2º e 3º, 30º, I, II, 37º, 170º, II, III, VI, VII,182º, 183º, 200º, VIII, 216º, V, e 225º.
Bases constitucionais importantes para definição de princípios, objetivos, conceitos,
proteção e deveres em direito ambiental.
PNMA Lei nº 6.938/81: art. 2º, 3º, I, III, V, IV e 4º.
Esses artigos são muito importantes para a definição de conceitos.
Código Florestal Lei nº 12.651/2012: art. 1-A, parágrafo único, VI, 41, I, II e III.
Esses artigos são importantes para compreensão e proteção do objetivo do
desenvolvimento sustentável.
PNRS Lei nº 12.305/2010: art. 4º, art. 6º, I, II e IV.
Esses artigos mencionam princípios de direito ambiental.
Lei nº 10.650/2003: art. 2º, 4º.
Esses artigos dispõe quanto ao princípio da informação.
LC 140/2011
Essa lei dispõe quanto a cooperação dos entes federativos e é muito cobrada em seu
conteúdo todo, importante à leitura com atenção.
Lei nº7347/85: art. 1º
Esse artigo dispõe quanto ao direito a Ação Popular.
CDC Lei nº 8.078/90: art. 81, parágrafo único, I e II
Esse artigo defini a defesa dos direitos difusos.
CC Lei nº 10.406/2002: art. 99, I, II e III, parágrafo único; 100, 101, 102 e 103, 1.228,
§1º
Esses artigos definem bens públicos.
Resolução Conama 306/2012: art. 2, XII:
XII - Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem
física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas.
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Declaração Rio 92: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-
content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf
Leitura importante para compreensão dos princípios de direito ambiental.
JURISPRUDÊNCIA
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STF, Tribunal Pleno, ADI 3336, Rel. Min. Dias Toffoli, jul. 14/02/2020
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 4.247, de 16 de dezembro de 2003, do Estado do Rio de Janeiro, a
qual dispõe sobre a cobrança pela utilização dos recursos hídricos de domínio do Estado e organiza o sistema
administrativo de gestão e execução da referida atividade. Conhecimento parcial da ação direta, a qual, quanto à
parte de que se conhece, é julgada improcedente. 1. Pertinência temática e legitimidade ativa da requerente.
Relação de pertinência temática entre o objeto da ação e as finalidades institucionais perseguidas pela entidade
sindical autora, na medida que o vício da legislação, se existente, atingiria necessariamente o setor econômico
representado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), já que os industriais figuram como sujeitos passivos
da cobrança pelo uso da água, insumo utilizado em sua atividade produtiva. 2. Existência de conflito de índole
constitucional. A apreciação da compatibilidade entre a legislação geral federal e as normas estaduais editadas
sob o pálio da competência concorrente reflete nítida situação de conflito legislativo de índole constitucional,
ensejando a análise eventual ofensa direta às regras constitucionais de repartição da competência legislativa.
3. Prejudicialidade parcial da ação. Tendo em vista a alteração substancial realizada pela Lei estadual nº 5.234/08,
resta prejudicada a ação no tocante aos arts. 11, incisos I, III, IV e V; e 24 da Lei nº 4.247, de 2003. 4. Política de
cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos e suposta violação
da lei geral federal. Constitucionalidade dos arts. 1º, 3º, 5º, 7º, 11, II, 18, da Lei fluminense nº 4.247/03. Embora a
União detenha a competência exclusiva para “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos
e definir critérios de outorga de direitos de seu uso” (art. 21, XIX, da CF/88), além de competência privativa
para legislar sobre águas (art. 22, IV, da CF/88), não se há de olvidar que aos estados-membros compete, de
forma concorrente, legislar sobre proteção ao meio ambiente (art. 24, VI e VIII, CF), o que inclui,
evidentemente, a proteção dos recursos hídricos. Esse entendimento mostra-se consentâneo, inclusive, com a
previsão constitucional que defere aos estados-membros o domínio das águas superficiais ou subterrâneas.
A legislação impugnada está em conformidade com a Constituição Federal, na medida em que regulamentou, em
nível estadual, a cobrança pelo uso da água, sem incorrer em violação do texto constitucional ou em invasão de
competência legislativa própria da União. Embora a União detenha a competência para definir as normas gerais
sobre a utilização dos recursos hídricos e a Lei Federal nº 9.433/97 tenha estabelecido o arcabouço institucional da
Política Nacional de Recursos Hídricos, o arranjo institucional e as competências dos órgãos estaduais integrantes
do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos deve obedecer aos ditames das leis estaduais, pois os
estados-membros têm autonomia constitucional para formular suas leis de organização administrativa, inclusive
para o setor de recursos hídricos. Pela análise da Lei Federal nº 9.433/97, verifica-se que essa não detalha – como
não poderia fazer, sob pena de extrapolar a competência legislativa da União para editar normas gerais - as
competências dos órgãos estaduais responsáveis pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. O
Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI), em consonância com as competências definidas pela Lei Federal
nº 9.433/97 para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (art. 35), possui atribuições de natureza normativa,
consultiva e deliberativa (arts. 44 e 45 da Lei estadual nº 3.239/99), o que não impede que os estados-membros
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disponham de um órgão específico responsável pela gestão e pela execução da política em questão, atuando em
consonância com as normas e as deliberações do conselho, o qual também fará parte do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, a teor do inciso IV do art. 33 da Lei Federal nº 9.433/97. Da mesma forma,
os comitês de bacia hidrográfica, conforme explicita o art. 52 da Lei estadual nº 3.239/99, “são entidades colegiadas,
com atribuições normativa, deliberativa e consultiva, reconhecidos e qualificados por ato do Poder Executivo,
mediante proposta do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI)”, o que está em consonância com as
atribuições definidas na Lei Federal nº 9.433/97. A Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA),
entidade da administração indireta, foi criada para exercer as funções de entidade administrativa executora da
política pública, possuindo atribuições administrativas de arrecadação, cobrança e aplicação dos recursos, a teor
dos arts. 1º e 3º da lei estadual. Por se tratar de órgão técnico, com atribuições executivas, deve atuar de acordo
com as orientações e diretrizes fixadas pelos órgãos colegiados (Conselho Estadual dos Recursos Hídricos e Comitês
de Bacia Hidrográfica). Não há disposição na Lei Federal nº 9.433/97 que atribua aos conselhos estaduais a
competência para conceder as respectivas outorgas, restringindo-se a dispor no art. 14 que “a outorga efetivar-se-
á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal”. 5. A atuação
do órgão de execução prevista nos arts. 22, § 3º, e 23, parágrafo único, da Lei nº 3.239/99, alterados pela Lei nº
4.247/03, é supletiva, somente no caso de ausência de disposição específica no Plano Estadual de Recursos Hídricos
ou do Plano da Bacia Hidrográfica. Trata-se de norma transitória, cuja aplicabilidade tem vez enquanto não for
implementada a totalidade da política estadual de recursos hídricos e constituídos todos os comitês de bacia. Não
fosse a norma de transição, a atividade de outorga - conforme expressa no art. 23, caput, da Lei nº 3.239/99 - e as
concessões de outorga para a geração de energia elétrica (art. 22, § 3º) estariam impedidas, diante da falta de
criação de comitês de bacia e do correspondente plano de bacia hidrográfica. 6. Quanto aos arts. 19 e 20 da Lei
estadual nº 4.247/03, a definição dos aspectos técnicos da cobrança e a determinação das vazões consideradas
insignificantes são matérias fáticas, adstritas à margem de análise técnica do legislador, não havendo como declarar
inconstitucionais esses dispositivos sob o fundamento do princípio da razoabilidade, tendo em vista que configuram
aspecto nitidamente concreto das normas impugnadas. 7. Política de aplicação dos recursos do Fundo Estadual de
Recursos Hídricos. Constitucionalidade dos arts. 10, parágrafo único, parte final; 11, inciso II; e 23, na parte que
altera o art. 49 da Lei nº 3.239/99, todos da Lei nº 4.247/03. A lei estadual priorizou a aplicação dos valores
arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica respectiva, reservando a ela
noventa por cento da arrecadação. Por sua vez, o inciso II do art. 49, na parte que limita o uso dos recursos com
a máquina administrativa e as despesas de pagamento de perícias a dez por cento do total arrecadado está em
consonância com a autonomia financeira de que goza o Estado, em que pese a previsão contida no art. 22, § 1º,
da Lei Federal nº 9.433/97, a qual limita esse tipo de aplicação a sete e meio por cento do arrecadado. Embora
detenha a União a competência para legislar sobre recursos hídricos, a legislação federal deve ficar restrita às
normas gerais, não podendo pormenorizar ao ponto de determinar como os estados-membros devem gerir
seus próprios bens e aplicar seus recursos. 8. Regime de cobrança e de sanções administrativas relativas ao uso
da água. Constitucionalidade dos arts. 15; 16, inciso II; e 17 da Lei estadual nº 4.247/03. Ausência de afronta do
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princípio da legalidade. Não se tem, no caso, exercício do poder de polícia administrativa a ensejar, em
consequência, a cobrança de taxa (exação de natureza tributária) -, mas sim uma relação de natureza negocial entre
o concedente e o usuário, a qual enseja a cobrança de preço público e a imposição de sanções contratuais
decorrentes do não cumprimento das obrigações impostas no ato de outorga. As disposições da lei fluminense,
além de terem delimitado os elementos essenciais das sanções, deixando para a regulamentação somente questões
secundárias, estão ainda em consonância com a Lei Federal nº 9.433/97. Ademais, a vinculação da multa aos
preceitos da Lei Federal nº 9.605/98 (art. 13, Lei nº 4.247/03) não ofende o princípio da autonomia federativa.
Consistindo a multa, no caso, em sanção contratual decorrente do descumprimento das regras referentes ao ato
de outorga, a legislação estadual estabeleceu somente um parâmetro para a aplicação da sanção pela entidade
governamental competente. No mais, a remissão à previsão contida na lei nacional de sanções penais e
administrativas de condutas lesivas ao meio ambiente não contrasta com a Lei Fundamental, já que a água também
é considerada bem ambiental, cuja tutela geral é estabelecida na legislação federal em comento. 9. Ação direta de
inconstitucionalidade prejudicada em relação aos arts. 11, incisos I, III, IV e V; e 24 da Lei nº 4.247, de 16 de
dezembro de 2003, do Estado do Rio de Janeiro. Quanto à parte de que se conhece, a ação é julgada improcedente.
Mais uma decisão onde podemos notar a posição do STF quanto à prevalência do
federalismo cooperativo entre os entes federados, onde a União detém a competência
privativa de legislar sobre os recursos hídricos de maneira geral, mas não podendo impedir
que o Estado possa legislar de forma complementar e concorrente para proteção do meio
ambiente regional, dentro do que a norma geral dispõe. Fala também do princípio do
usuário-pagador, ao dispor quanto ao custo do uso da água em nível estadual pela
normatização por ele estabelecida, sem ferir a norma geral estabelecida pela União.
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Trata-se de competência concorrente atribuída à União, aos Estados e Distrito Federal para legislar sobre
produção, consumo, proteção do meio ambiente e proteção e defesa da saúde, tendo os Municípios
competência para suplementar a legislação federal e estadual no que couber. 3. Espaço constitucional deferido
ao sentido do federalismo cooperativo inaugurado pela Constituição Federal de 1988. É possível que Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios, no exercício da competência que lhes são próprias, legislem com o fito de
expungirem vácuos normativos para atender a interesses que lhe são peculiares, haja vista que à União cabe editar
apenas normas gerais na espécie. 4. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada improcedente,
com a declaração incidental da inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/95.
Uma decisão que trata do tema competência ambiental. Nesse caso, a competência
legislativa do município em poder suplementar normas federais e estaduais nos assuntos
locais. Com base no federalismo cooperativo, esse é o entendimento das Supremas Cortes,
para que não ocorra nenhum caso de lacuna legal, cada ente federado possui autonomia
para legislar sobre os assuntos de sua competência.
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA. ESTADO DO PARÁ.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. EXISTÊNCIA DO
DANO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS. MAPAS E IMAGENS DE SATÉLITE. ART. 405
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. SÚMULA 7 DO STJ. 1. O Tribunal de origem afirma que a jurisprudência
do STJ atribui, sob o influxo da teoria do risco integral, natureza objetiva, ilimitada, solidária, propter rem e
imprescritível à responsabilidade civil ambiental. Nesse sentido: REsp 1.644.195/SC, Relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, DJe 8/5/2017; e AgRg no REsp 1421163/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 17/11/2014. Transcreve precedente da Segunda Turma: "a obrigação civil de reparar o dano ambiental
é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental,
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ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação ambiental (poluidor, pois)" (REsp
1.251.697/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 17/4/2012). 2. Segundo o acórdão
recorrido, inexiste direito adquirido à degradação. O novo proprietário assume o ônus de manter a integridade
do ecossistema protegido, tornando-se responsável pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para
o desmatamento ou destruição. Precedentes do STJ. 3. Quanto aos documentos apontados no recurso, forçoso
concluir que analisar as questões trazidas pela parte recorrente implica o revolvimento do conteúdo fático-
probatório dos autos, o que é vedado nesta estreita via, até a incidência da Súmula 7 do STJ: "A pretensão de
simples reexame de prova não enseja recurso especial." 4. Acrescente-se que, consoante o art. 405 do CPC/2015,
laudo, vistoria, relatório técnico, auto de infração, certidão, fotografia, vídeo, mapa, imagem de satélite, declaração
e outros atos elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção (relativa) de legalidade,
legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral de documento público. Tal qualidade jurídica
inverte o ônus da prova, sem impedir, por óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento
público ambiental, sobretudo auto de infração, não pode ser desconstituído por prova judicial inconclusiva, dúbia,
hesitante ou vaga, mais ainda quando realizada muito tempo após a ocorrência do comportamento de degradação
do meio ambiente. 5. Em época de grandes avanços tecnológicos, configuraria despropósito ou formalismo
supérfluo negar validade plena a imagens de satélite e mapas elaborados a partir delas. Ou, em casos de
desmatamento apontados por essas ferramentas altamente confiáveis, exigir a realização de prova
testemunhal ou pericial para corroborar a degradação ambiental. 6. Recurso Especial parcialmente conhecido e,
nessa parte, não provido.
STF, Tribunal Pleno. ADI3540/MC-DF, Rel. Min. Celso de Mello, jul. 01/09/2005
MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) - PRERROGATIVA
QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE
NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR
QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS
INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) -
ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO
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CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE -
POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU
PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO
A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES
ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS
RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES)
DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO
NÃO REFERENDADA - CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE
À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se
de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano
(RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar,
em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual
(RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se
instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de
solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral.
Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS
DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não
pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente
econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que
a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF,
art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para
que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável
comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves
danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO
DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO
MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO
DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do
desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte
legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do
justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
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inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas
alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art.
225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das
atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias
e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora
propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. -
Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos
qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio
da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na
estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a
execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde
que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico
de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).
Essa decisão demonstra como o Direito Ambiental é visto, frente às Cortes Superiores
quanto a ser um direito de 3ª geração, coletivo, transindividual, irrenunciável. Fala
também do princípio da sustentabilidade que relaciona o desenvolvimento econômico com
a proteção ao meio ambiente. Nos traz o conceito de meio ambiente como natural, cultural,
artificial e laboral. Essa decisão é muito conceitual e nos mostra como o STF se posiciona
quanto a esses temas. De forma protetiva aplica esses institutos legais e doutrinários para
proteger o meio ambiente e possibilitar um desenvolvimento sustentável, com base no
ordenamento constitucional e infraconstitucional.
STJ, 1ªTurma. AgInt no TP 2476 / RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, jul. 01/09/2020
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA TUTELA PROVISÓRIA. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. CONSTITUCIONAL. AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRACAUTELA. TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA. ART. 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REQUISITOS. PRESENÇA. DIREITO AO MEIO AMBIENTE
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ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. FUMUS BONI JURIS. INTERESSE DIFUSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E
PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO. SÚMULA N. 618/STJ. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA NA
ORIGEM. REVISÃO. SÚMULA N. 7/STJ. PERICULUM IN MORA EM FAVOR DA PROTEÇÃO AMBIENTAL. ARGUMENTOS
INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - A concessão de tutela provisória de urgência
é cabível no âmbito deste Tribunal Superior para atribuir efeito suspensivo ou antecipar a tutela em recursos ou
ações originárias de sua competência, devendo haver a satisfação simultânea dos requisitos da verossimilhança das
alegações e do perigo de lesão grave e de difícil reparação ao direito da parte, bem como para concessão de efeito
suspensivo a recurso especial interposto. III - O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, insculpido no caput do art. 225 da Constituição da República, é interesse difuso, de titularidade
transindividual, emergindo, nesse cenário, os princípios da precaução e da prevenção, os quais impõem a
priorização de medidas que previnam danos à vulnerável biota planetária, bem como a garantia contra perigos
latentes, ainda não identificados pela ciência. IV - Consoante o teor da Súmula n. 618/STJ, em homenagem
ao princípio da precaução, impõe-se a inversão do ônus da prova nas ações civis ambientais, de modo a
atribuir ao empreendedor a prova de que o meio ambiente permanece hígido, mesmo com o desenvolvimento
de sua atividade. Na espécie, não se extrai dos autos nenhuma comprovação, pelo Agravante, de que sua atividade
não causaria a degradação apontada na ação civil pública, constatando-se, na verdade, a iminente ameaça de
severos danos ambientais, bem como à saúde pública de um sem-número de pessoas, mormente pelo risco
concreto de contaminação do rio Paraíba do Sul. V - Rever o entendimento da Corte de origem, pela concessão
de medida liminar pleiteada pelo Parquet, demandaria necessário revolvimento de matéria fática, inviável em sede
de recurso especial, à luz do óbice contido na Súmula n. 07 desta Corte, circunstância que revela a presença do
fumus boni iuris necessário ao deferimento da tutela de urgência ora pleiteada. VII - Ainda à luz dos princípios
da precaução e da prevenção, é forçoso concluir que, no bojo do exame de medidas de urgência em matéria
ambiental, o periculum in mora milita em favor da proteção do meio ambiente, não sendo possível a adoção
de outra solução, senão o imediato resguardo da pessoa humana e do meio ambiente, mormente em quadros
fáticos críticos como o presente. VIII - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão
recorrida. IX - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil de
2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração
da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
V - Agravo Interno improvido.
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Nessa decisão os princípios da precaução e da prevenção são citados, já que se trata de
uma atividade que pode gerar grande dano ambiental social e natural no local, e não há
estudos nem provas nos autos que provem o contrário, o que, portanto, leva a aplicação
dos princípios, dado que é de fácil constatação que haverá um grande impacto ambiental
com a atividade. Assim, para proteção da vida humana e do equilíbrio ecológico como
direito fundamental previsto em nossa Constituição, o pleito não é deferido nesse caso, pelo
dever de cautela ao meio ambiente.
STJ, REsp 1612887 / PR, Rel. Min. Nancy Andrigui, jul. 28/04/2020 INFO 671
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ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade da recorrente, que gera o risco concretizado no
dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.8.
A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados, não obstante a interposição de
embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial, mas não prejudica o questionamento
posterior do direito de regresso da recorrente em face dos demais responsáveis, com fundamento no art.934 do
CC/02.9. A interposição de recurso especial não é cabível quando a violação apontada pelo recorrente se refira a
norma que não se enquadre no conceito de lei federal do art. 105, I, a, da CF/88, o que ocorre na espécie, em que
os conceitos de "vegetação primária e secundária" e "estágios avançado, médio e inicial de regeneração" se
encontram disciplinados em Resolução do CONAMA (Res. 2, de 18 de março de 1994).10. O reexame de fatos e
provas em recurso especial é inadmissível.11. A ausência de fundamentação ou a sua deficiência importa no não
conhecimento do recurso quanto ao tema.12. Recurso especial PARCIALMENTE CONHECIDO e, no ponto,
DESPROVIDO.
STF, ADI 5592 Tribunal Pleno. Rel. Min. Cármen Lúcia, jul. 11/09/2019 INFO 936
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autorização da autoridade sanitária e à comprovação de eficácia da prática no combate ao mosquito, o legislador
assumiu a positivação do instrumento sem a realização prévia de estudos em obediência ao princípio da precaução,
o que pode levar à violação à sistemática de proteção ambiental contida no artigo 225 da Constituição Federal.
2. A previsão legal de medida sem a demonstração prévia de sua eficácia e segurança pode violar os princípios
da precaução e da prevenção, se se mostrar insuficiente o instrumento para a integral proteção ao meio
ambiente equilibrado e ao direito de todos à proteção da saúde. 3. O papel do Poder Judiciário em temas
que envolvem a necessidade de consenso mínimo da comunidade científica, a revelar a necessidade de
transferência do lócus da decisão definitiva para o campo técnico, revela-se no reconhecimento de que a lei,
se ausentes os estudos prévios que atestariam a segurança ambiental e sanitária, pode contrariar os
dispositivos constitucionais apontados pela Autora em sua exordial, necessitando, assim, de uma
hermenêutica constitucionalmente adequada, a assegurar a proteção da vida, da saúde e do meio ambiente.
4. Em atendimento aos princípios da precaução e da prevenção, bem como do direito à proteção da saúde,
portanto, confere-se interpretação conforme à Constituição, sem redução de texto, ao disposto no inciso IV
do §3º do artigo 1º da Lei nº 13.301/2016, para fixar o sentido segundo o qual a aprovação das autoridades
sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias
e inafastáveis à incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves, em
atendimento ao disposto nos artigos 225, §1º, incisos V e VII, 6º e 196 da Constituição da República. 5. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente.
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DOUTRINA
Abordamos esse assunto com base nas doutrinas e jurisprudências mais cobradas nas
provas de concursos para carreiras públicas. Visto que a doutrina é muito importante nessa
parte conceitual, vamos ressaltar aqui os doutrinadores mais citados em questões, para que o
candidato tenha uma melhor referência dessas visões conceituais e possa se familiarizar com
esses posicionamentos:
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PAULO BESSA ANTUNES: “O Direito Ambiental pode ser definido como um direito que se
desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio
ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente”.
Direito Público
Direito Ambinetal
Regras e Princípios
Desenvolvimento
sustentável
Direito difuso
2. Ética Ambiental
Abordamos esse assunto com ênfase na ética ecocentrista, pois foi quando houve a
grande mudança de visão quanto à moral anteriormente antropocentrista, e que hoje é adotada
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Vamos abordar um pouco das éticas doutrinárias ambientais para que o candidato tenha
um conhecimento, caso alguma questão possa abordar esse assunto de forma conjunta ao
entendimento majoritário.
A ética antropocentrista parte de uma visão onde o meio ambiente é apenas um meio
para que o homem possa retirar os recursos naturais necessários para sua sobrevivência e
desenvolvimento. Todas as normas visam o homem como destinatário e o meio ambiente como
fornecedor de matéria-prima.
Apesar da evolução holística que temos hoje, com uma mitigação desse pensamento,
vale lembrar que ainda é de entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência que
esse pensamento antropocentrista prevalece na norma jurídica do art. 225 da CF, visto que
temos uma forma mitigada dessa visão, que antes era muito radical, mas que agora visa
tutelados desse direito. Entende o valor dos demais seres vivos, bem como, os direitos humanos
e que não são simples partes integrantes da natureza e, sim, dignos de direitos e proteção.
Embora no Brasil não se adote essa visão, os animais e as demais formas de vida dos nossos
ecossistemas já têm sua proteção positivada no sistema jurídico.
De outra banda, adotamos a evolução para o ecocentrismo que, como visto, adota a
proteção e preservação dos seres vivos e não vivos, bióticos e abióticos, e o homem também
é visto como mais um ser vivo parte desse sistema. Mas não se esqueça que ainda prevalece
na norma brasileira o antropocentrismo mitigado!
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MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATTHES, Rafael Antonietti. Manual de Direito Ambiental. 1ª ed. São Paulo – Rideel, 2020.
ABELHA, Marcelo Abelha Rodrigues. Direito Ambiental Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.
SIRVINSKAS, Paulo. Manual de Direito Ambiental. 16ª ed. São Paulo – Saraiva Jur, 2018.
MILARE, Edis Milaré. Direito do Ambiente. 7ª ed. São Paulo – Revista dos Tribunais, 2011.
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podium. 2018.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.
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