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TRIBUNAIS

ANALISTA JUDICIÁRIO

CAPÍTULO 2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Evolução Jurídica e Legislativa do Direito Ambiental 

Capítulo 2 (você está aqui) – Conceitos Gerais de Direito Ambiental 

Capítulo 3 – Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) 

Capítulo 4 – Bens Ambientais 


Capítulo 5 – Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 
Capítulo 6 – Licenciamento Ambiental 

Capítulo 7 – Estudo de Impacto Ambiental (EIA) 

Capítulo 8 – Zoneamento Ambiental 

Capítulo 9 – O Dano Ambiental 

Capítulo 10 – Meios Processuais para Defesa Ambiental 


Capítulo 11 – Crimes contra o Meio Ambiente 

Capítulo 12 – O Direito Ambiental Internacional 


Capítulo 13 – Política Nacional de Recursos Hídricos - Lei nº

9.433/1997
Capítulo 14 – Política Nacional de Saneamento Básico - Lei nº

11.445/2007 – Alterado pela Lei nº 14.026, de 2020
Capítulo 15 – Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº

12.305/2010
Capítulo 16 – Poluição 
Capítulo 17 – Bioética e Biodireito - Lei 11.105/2005 
Capítulo 18 – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC (Lei nº 9.985/200) – Espaços territoriais 
especialmente protegidos
Capítulo 19 – Código Florestal - Lei nº 12.651/2012 
Capítulo 20 – Lei da Mata Atlântica - Lei nº 11.428/2006 
Capítulo 21 – Política Nacional de Mudanças do Clima – Lei nº

12187/2009

2
Capítulo 22 – Lei dos Agrotóxicos - Lei nº 7802/1989 

3
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Vamos abordar, nesse capítulo, temas fundamentais e de extrema importância em matéria

ambiental, muito cobrados nas provas de concursos, que são:

o Conceitos;
o Ética;
o Princípios;
o Competências.

O conteúdo foi elaborado de forma objetiva, simples e prática, apesar de um pouco


extenso quanto aos assuntos, mas de extrema importância para sua prova.

As carreiras jurídicas que já cobraram os assuntos desse capítulo foram as de Procuradoria,


Promotoria e de Juiz. Ainda não houve recorrência para carreiras policiais.

O mais indicado para estudar esses assuntos é ler o material todo com utilização da lei

seca ao lado, fazer a leitura da parte de doutrina ao final, bem como, das jurisprudências
selecionadas mais utilizadas pelas bancas, e realizar os testes para se familiarizar com a cobrança
do assunto.

Para facilitar sua memorização e fazer um resumo da matéria, utilize os quadros e mapas
mentais disponíveis no seu material, esses temas merecem sua atenção.

Esse capítulo é cobrado nas questões através da doutrina, jurisprudência e lei seca.

Agora, você está preparado! Todo o material elaborado nesse capítulo é suficiente para

responder as questões, é só seguir as indicações que o sucesso será certo!

4
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL............................................................................................................................... 7

Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 7

2. Conceitos Gerais de Direito Ambiental ........................................................................................ 8

2.1 Conceito de Meio Ambiente ............................................................................................................................8

2.1.1 Meio Ambiente Natural ................................................................................................................................... 11

2.1.2 Meio Ambiente Cultural .................................................................................................................................. 11

2.1.3 Meio Ambiente Artificial ................................................................................................................................. 12

2.1.4 Meio Ambiente do Trabalho ......................................................................................................................... 13

2.2 Conceito de Poluidor e Poluição................................................................................................................. 14

2.3 Direito de Terceira Geração ........................................................................................................................... 16

2.4 Ética Ambiental ................................................................................................................................................... 19

2.5 Fontes do Direito Ambiental ......................................................................................................................... 20

2.6 Princípios de Direito Ambiental ................................................................................................................... 20

2.6.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ............................................................................................. 21

2.6.2 Princípio da Solidariedade Intergeracional ............................................................................................. 25

2.6.3 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado .............................................................. 26

2.6.4 Princípios da Prevenção e da Precaução ................................................................................................. 28

2.6.5 Princípio do Poluidor Pagador ..................................................................................................................... 29

2.6.6 Princípio do Usuário Pagador ....................................................................................................................... 30

2.6.7 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal ........................................................................ 31

2.6.8 Princípio da Participação Comunitária ...................................................................................................... 31

2.6.9 Princípio da Informação .................................................................................................................................. 32

2.6.10 Princípio da Educação Ambiental ............................................................................................................... 33

5
2.6.11 Princípio da Função Sócio Ambiental da Propriedade ...................................................................... 34

2.6.12 Princípio da Cooperação entre os Povos ................................................................................................ 35

2.6.13 Princípio da Ubiquidade .................................................................................................................................. 35

2.6.14 Princípio do Limite ............................................................................................................................................. 36

2.6.15 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet Ambiental) ............................. 36

2.6.16 Princípio do Protetor-Recebedor ................................................................................................................ 37

2.6.17 Responsabilidades Comuns, porém diferenciadas .............................................................................. 37

2.6.18 Responsabilização Integral ............................................................................................................................. 38

2.7 Competências Ambientais .............................................................................................................................. 39

2.7.1 Competência Legislativa Privativa ............................................................................................................... 41

2.7.2 Competência Legislativa Exclusiva .............................................................................................................. 42

2.7.3 Competência Legislativa Remanescente .................................................................................................. 43

2.7.4 Competência Legislativa Concorrente ....................................................................................................... 44

2.7.5 Competência Material Exclusiva................................................................................................................... 46

2.7.6 Competência Material Comum .................................................................................................................... 47

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................52

QUESTÕES COMENTADAS ...................................................................................................................56

GABARITO................................................................................................................................................73

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................74

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ...........................................................................................................75

LEGISLAÇÃO COMPILADA ....................................................................................................................78

JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................................................79

DOUTRINA ...............................................................................................................................................91

MAPA MENTAL.......................................................................................................................................94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................................95


6
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 2

Conforme estudamos a evolução jurídica e legislativa do Direito Ambiental no capítulo anterior,


foi com a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/81, que na normativa brasileira

implementou conceitos gerais em Direito Ambiental, que são bases para a compreensão dos
demais instrumentos de proteção ambiental no nosso ordenamento.

O meio ambiente ganhou status constitucional e sua conceituação é muito importante para

definição desse novo direito fundamental difuso, assunto que vamos abordar nesse capítulo.

Nessa esteira, visto que houve uma mudança de comportamento humano em face do mundo
natural e seus recursos, assim como no Direito, essa relação também ocorre com a Moral ou

Ética, construindo uma nova moralidade, que no direito ambiental está sempre em constante
mudança, então vamos abordar esse aspecto cobrado em questões, também nesse capítulo de

forma bem simplificada.

Outro pronto muito cobrado são os princípios jurídicos, que com a evolução da ciência jurídica,
passaram de meras fontes de integração para normativas positivas a meios essenciais ao

exercício do direito ambiental, reconhecendo valores fundamentais a toda sociedade e ao direito


de forma integrada com a natureza, formando uma verdadeira base para todo nosso

ordenamento.

Por último vamos abordar outro tema muito importante, as competências em matéria ambiental,
atribuídas pela Constituição Federal, que adota o federalismo coopreativo, com estados-

membros dotados de autonomia, possuindo suas próprias competências definidas e repartidas


no texto legal, mas que sempre estão em uma linha horizontal sem nenhuma hierarquia.

7
2. Conceitos Gerais de Direito Ambiental

2.1 Conceito de Meio Ambiente

O conceito de meio ambiente, que vamos iniciar, tem por base a Lei Nacional do Meio

Ambiente nº 6.938/81, art. 3º, I:

“Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (...)”

As palavras “meio” e “ambiente” formam uma conceituação muito mais ampla do que, na
verdade, parece ser uma total redundância. Mas, de maneira contrária, compreende um conjunto
de relações entre seres vivos (bióticos) e não vivos (abióticos), partes de um sistema integrado

e responsáveis pela vida de todos que vivem nele.

O meio ambiente se resume na integração do espaço de interação de todas as formas


de vida e não vida, para que todos possam ter garantida sua qualidade de vida e sua proteção,

mantendo o equilíbrio ecológico fundamental a todos.

Assim, é possível compreender que a legislação tem como finalidade resguardar o


equilíbrio ecológico do planeta através do conjunto “de condições, leis, influências e interações

de ordem física, química e biológica”.

A norma demonstra uma visão ecocêntrica ao conceituar o meio ambiente de forma


jurídica e ecossistêmica, desconsiderando o homem como centro de tudo, e apresentando uma

visão integrada com a natureza.

Nesse diapasão, necessário se faz destacar também a definição que a Resolução


306/2002 – CONAMA nos traz com relação a meio ambiente:

8
“Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas;”1

 Direito Público
 Conjunto de leis, regras, princípios, objetivos
 Resguardar o equilíbrio ecológico
 Desenvolvimento sustentável
 Seres bióticos e abióticos
 Meio ambiente natural, cultural, urbanístico e laboral
 Transindividual

Você pode se perguntar, qual a diferença dessa definição?

Nessa definição, o CONAMA adicionou os aspectos sociais, culturais e urbanísticos à


definição anterior de meio ambiente. O que é muito cobrado nas questões de concurso,
então vamos nos aprofundar!

A doutrina e a jurisprudência suscitam quatro classificações de meio ambiente, aceitas


pelo STF na ADI nº 3.540/MC-DF: “A incolumidade do meio ambiente não pode ser
comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole
meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada
a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele

1
Vide Questão 6.
9
que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e
abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio
ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral.“

 Meio Ambiente Natural;


 Meio Ambiente Cultural;
 Meio Ambiente Artificial;
 Meio Ambiente do Trabalho ou Laboral.

O bem ambiental tem caráter difuso, já que não pode ser determinado o sujeito a quem
se destina; indeterminável, pois é um bem de todos e o constituinte não definiu à quem se
destina, ou seja, sem excludentes.
Também se caracteriza como um direito transindividual, já que se destina a coletividade
e ao particular da mesma forma.
Outra característica importante é sua imprescritibilidade, haja vista que a
responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva e sua reparação é obrigatória para a
manutenção do direito de todos ao meio ambiente equilibrado, não comprometendo as futuras
gerações.

Você sabe qual a diferença de um bem difuso e um bem coletivo?


A resposta podemos fundamentar com base no art. 81 do Código de Defesa do
Consumidor. Nele podemos verificar a definição de direito difuso, com pessoas
indeterminadas, e do direito coletivo, com um grupo ou categoria de pessoas ligadas a um bem
jurídico tutelado:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas
e ligadas por circunstâncias de fato;

10
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

2.1.1 Meio Ambiente Natural

O meio ambiente natural está diretamente ligado aos recursos naturais, bióticos e
abióticos. No art. 3º, V, da Lei Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/81, está previsto
expressamente os componentes do meio ambiente natural:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Todos esses elementos são fundamentais para a existência, são elementos precedentes
da existência da humanidade e equilibram todo o sistema entre os seres vivos e o meio em que
vivem.
Assim, o meio ambiente natural é aquele que é formado sem interferência humana, pela
própria natureza de forma primitiva e natural.

2.1.2 Meio Ambiente Cultural

Todo o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico, científico e turístico,

configura o meio ambiente cultural. Composto por bens materiais e imateriais, que são aqueles
que integram a cultura brasileira, não considerados de interesse particular.

No art. 216, V, da CF, há um conceito legal de meio ambiente cultural:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

11
No art. 23, III, da CF e no art. 1º, da Lei de Ação Civil Pública nº 7.347/85, também

temos a proteção ao meio ambiente cultural:

CF - Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...) III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;

Lei de Ação Civil Pública - Lei 7.347/85 - Art. 1ºRegem-se pelas disposições desta Lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011). l - ao meio-ambiente; ll - ao
consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

Em análise do dispositivo supracitado, podemos observar que o constituinte não


discriminou os bens materiais e imateriais, individuais ou coletivos, móveis ou imóveis. Logo,
são protegidos de forma igual, sendo criados por intervenção humana ou não.

2.1.3 Meio Ambiente Artificial

O meio ambiente artificial se define pela ação humana em áreas naturais, convertendo-
as em áreas urbanas artificiais, sendo elas rurais ou urbanas. Classificados em ambientes
abertos, ruas, praças, avenidas; e fechados, casa, clubes, shoppings. Considerado uma dimensão
de ambiente humano, sendo tutelado nos dispositivos arts. 182, 183 e 225, da CF/88, bem
como, pelo Estatuto da Cidade - Lei nº 10.257/01:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
(...)

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.(...)

Estatuto da Cidade- Lei 10.257/01 Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam
os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.

12
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade,
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade
urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como
do equilíbrio ambiental.

2.1.4 Meio Ambiente do Trabalho

O meio ambiente laboral ou do trabalho se configura no local em que os indivíduos

trabalham, de forma remunerada ou não. Ele se materializa nas condições que buscam tutelar
o exercício digno e seguro das atividades laborais dos trabalhadores.

Devido às mudanças que os trabalhadores estão passando, o meio ambiente de trabalho

não se restringe ao espaço físico dentro das empresas e, sim, ao próprio local de trabalho em
suas residências, ou mesmo em rodovias e grandes avenidas, como os condutores de transporte

público ou caminhoneiros.

A tutela do meio ambiente do trabalho está disposta no art. 200, VIII da CF:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

13
Meio
ambiente
Natural☼

Meio
ambinete
Meio Meio
ambiente
Cultural♬ Ambiente artificial $

Meio
ambiente
do
trabalho☎

2.2 Conceito de Poluidor e Poluição

Quando o art. 225 da CF estabelece ao poder público e a coletividade direitos positivos

e negativos quanto ao meio ambiente, como um bem difuso, deixa claro quem pode assumir o
papel na condição de poluidor.

Por sua vez, a Lei nº 6.938/81 - Política Nacional do Meio Ambiente, em seu art. 3º, IV,

conceitua o poluidor como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividades causadoras de degradação ambiental”.2

Com base nesse conceito e no art. 225 da CF, o poder público ou a coletividade podem

ser poluidores e responder nas esferas civil, penal ou administrativa, nos termos do art. 225,
§3º, da CF.

2
Vide Questão 5.
14
Quando o art. 3º, IV, da Lei nº 6.93881, estabelece que o poluidor responderá em caso

de dano direto ou indireto, está intimamente ligado à responsabilidade objetiva ambiental, já


que, na maioria das vezes, é quase impossível comprovar quem causou o dano ambiental. O

que é necessário é o nexo causal, a relação da atividade com a degradação.

Outra regra é a da responsabilidade solidária, que compreende todos que, de alguma


forma, contribuíram para a causa do dano ambiental, sendo conjuntamente responsáveis pelo

desequilíbrio ecológico. Nesse sentido, é o entendimento do STJ:

AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL (LEI


9.985/00). OCUPAÇÃO E CONSTRUÇÃO ILEGAL POR PARTICULAR NO PARQUE
ESTADUAL DE JACUPIRANGA. TURBAÇÃO E ESBULHO DE BEM PÚBLICO.
DEVER-PODER DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO. OMISSÃO.
ART. 70, § 1º, DA LEI 9.605/1998. DESFORÇO IMEDIATO. ART. 1.210, §
1º, DO CÓDIGO CIVIL. ARTIGOS 2º, I E V, 3º, IV, 6º E 14, § 1º, DA
LEI 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE). CONCEITO
DE POLUIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DE NATUREZA SOLIDÁRIA,
OBJETIVA, ILIMITADA E DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA. LITISCONSÓRCIO
FACULTATIVO.(...) 11. O conceito de poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo,
confundindo-se, por expressa disposição legal, com o de degradador da qualidade
ambiental, isto é, toda e qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental?
(art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981, grifo adicionado). 12. Para o fim de apuração do nexo de
causalidade no dano urbanístico-ambiental e de eventual solidariedade passiva,
equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem não se importa que
façam, quem cala quando lhe cabe denunciar, quem financia para que façam e quem se
beneficia quando outros fazem.” (STJ, 2ª Turma, Resp 1.071.741/SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, julg. 16.12.2010)

A tendência é que os Tribunais Superiores entendam sempre pela ampliação do conceito


de poluidor, visto que, a busca é pela maior proteção ambiental, mas desde que seja

comprovado sempre o nexo causal da atividade com o dano.

Informativo 190, STJ: Trata-se de propriedade rural para atividade agropastoril em reserva
legal, sendo que o terreno, quando adquirido, já se encontrava desmatado. A Turma deu
provimento ao REsp interposto pelo MP em ação civil pública, reconhecendo a
legitimidade passiva ad causam do adquirente do imóvel. O Min. Relator ressaltou: aquele
que perpetua a lesão ao meio ambiente cometida por outrem, ele mesmo está praticando
o ilícito, e a obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao

15
adquirente, independentemente desse último ter responsabilidade pelo dano ambiental.
Precedente citado: REsp 343.741-PR, DJ 7/10/2002. REsp 217.858-PR, Rel. Min. Franciulli
Netto, julgado em 4/11/2003.

Vale ressaltar, que o conceito de poluidor está sempre ligado à atividade humana, os
danos ambientais causados naturalmente não são atos de poluição, ou seja, nem toda
degradação é poluição!! Outro ponto é quanto à licitude da atividade degradadora, não

importa para sua responsabilização, sendo lícita ou ilícita, será responsável pelo dano.

Não há como não relacionar meio ambiente com poluição, importante também
conceituar poluição, como estabelece o legislador no art. 3º, III, da PNMA:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

Nessa conceituação, devemos entender que o caput e o inciso III tratam do conceito, e
as alíneas dos efeitos da poluição ao meio ambiente. É evidente a visão antropocêntrica dessa
norma, ao demonstrar efeitos prejudiciais somente ao ser humano quanto à poluição causada
ao meio ambiente, mas a visão ecocêntrica nas decisões de demais normas jurídicas buscam a
tutela e a manutenção do sistema como um todo, portanto, não se deve analisar o dispositivo
com efeitos taxativos ao meio ambiente.

Vamos tratar do tema POLUIÇÃO em um capítulo específico, para maior aprofundamento


nesse conteúdo muito vasto e importante para sua prova.

2.3 Direito de Terceira Geração

Os constitucionalistas classificam os direitos fundamentais em gerações ou dimensões. A


primeira geração de direitos fundamentais surgiu com a constituição norte-americana de 1787
e com a constituição francesa de 1791, contrapondo o absolutismo e fundando o

16
constitucionalismo liberal. Nesse contexto, os direitos fundamentais eram estabelecidos como
limites ao Estado, protegiam o individualismo e a propriedade privada, chamados de “liberdades
clássicas”.

A segunda geração de direitos fundamentais surgiu através da constituição do México de


1917 e da constituição da Alemanha de 1919. Nesse contexto, o liberalismo econômico havia
fracassado e, para reorganizar a economia e as relações empregatícias, o Estado foi chamado a
intervir. Os direitos de segunda geração são os direitos de igualdade – direitos sociais, culturais
e econômicos.

Quando os direitos de liberdade e de igualdade já estavam consolidados, surge a noção


de sociedade de massa. A coletividade é colocada em evidência e novos direitos dotados de
humanismo e universalidade passam a ser exigidos. São os direitos de terceira geração,
chamados de direitos de fraternidade ou de solidariedade. Tais direitos se destacam porque
não visam a proteção de interesses individuais, mas sim dos interesses da humanidade.

Tendo em vista a terceira geração de direitos fundamentais, na qual a titularidade é difusa,


indefinida, indeterminável e transindividual, o Estado torna-se um dos garantidores de sua
defesa e efetivação, através de normas protetivas e punitivas, e a posição da sociedade detentora
desses direitos também é como sua protetora, visto que esse direito está diretamente ligado ao
direito à vida.

17
1ª 2ª 3ª
Geração Geração Geração
Estado Liberal Estado Social Estado social
democrático
Revolução Francesa Revolução Industrial Modernidade

Direitos de fraternidade
Direitos de Igualdade, e solidariedade, direitos
Direitos de Liberade,
direitos sociais, culturais difusos, direito do
direitos negativos,
e econômicos, direitos consumidor, dos
direitos civis e políticos
coletivos, trabalhistas animais, direito à paz, ao
meio ambiente

O direito ambiental, como um direito fundamental constitucional que é, também possui


características constitucionais importantes para sua conceituação e base para tutela jurisdicional:

 Universalidade: sujeito ativo, todos de forma indeterminada;


 Indivisibilidade: devem ser analisados de forma sistêmica;
 Interdependência: os direitos estão interligados;
 Inter-relacionariedade: proteção global e regional para tutela dos direitos;
 Imprescritibilidade: não são atingidos pela prescrição;
 Inalienabilidade: estão fora de comércio;
 Historicidade: fruto de evolução e desenvolvimento histórico;
 Irrenunciabilidade: não podem ser disponíveis por seus titulares;
 Vedação ao retrocesso: não podem sofrer diminuição de proteção já positivada;
 Efetividade: o Estado deve garantir ao máximo sua efetividade;
 Relatividade: não será absoluto, devendo ser aplicado ao caso concreto;
 Inviolabilidade: impossibilidade de não serem observados por atos ou dispositivos
jurídicos;
 Concorrência: podem ser exercidos cumulativamente;
 Complementariedade: devem ser interpretados em conjunto;

18
 Aplicabilidade imediata: efetividade, aplicação imediata da norma;
 Constitucionalização: é por meio dela que se faz a distinção dos direitos
fundamentais.

2.4 Ética Ambiental

Como apresentamos a vocês na parte histórica, a visão do homem em relação à natureza


nos últimos anos mudou totalmente, impondo novas normas de conduta aos indivíduos e à

sociedade.

Assim, com um novo comportamento humano, com uma nova forma de entender como
se coloca em relação à natureza, o mesmo aconteceu com relação à Ética, já que assim se
constrói uma nova moralidade, não mais como um homem explorador, antropocentrista, e, sim,
com um ecocentrismo, uma visão integrada, uma compreensão de dependência. A ética

ambiental ecocentrista admite essa relação de dependência com a natureza. “A ética


ambiental estuda o juízo de valor da conduta humana em relação ao meio ambiente” (Paulo

Sirvinkas – Manual de Direito Ambiental, 2018, pg.78).

O valor moral que conduz a ética era baseado em decisões racionais e religiosas na idade
média, o que é, na modernidade, baseado na ciência e no art. 225 da CF, ao consignar que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A ética ambiental, por sua vez, é construída com base na ciência natural, biológica,
ecológica, geológica etc. Portanto, fundamenta-se na existência de valores ecológicos, na

natureza como um todo, reconhecendo a dignidade dos seres vivos e respeitando os valores da
natureza, que existem independentemente da existência humana.

O que se pretende, é formar uma nova consciência ambiental que limite a conduta

humana, para que se entenda o ser humano responsável pelos seres ao seu redor.

19
2.5 Fontes do Direito Ambiental

Como todo o ramo do Direito, as fontes podem ser materiais ou formais. Sendo as fontes
materiais aquelas provenientes da manifestação popular, de forma individual ou coletiva, através

de descobertas científicas e das doutrinas nacionais e internacionais. Já as fontes formais são


aquelas decorrentes do nosso ordenamento jurídico, da positivação pelo legislador, ou seja, da

Constituição, das normas infraconstitucionais, convenções, tratados, resoluções, jurisprudências


etc.

Fontes Materiais Fontes Formais


• Manifestações Populares • Legislação
• Descobertas científicas • Convenções
• Doutrinas • Tratados nacionais e
internacionais
• Jurisprudências

2.6 Princípios de Direito Ambiental

Hoje, não se nega mais a força jurídico-normativa, presente em diversas decisões, que os
princípios de Direito Ambiental exercem na tutela jurisdicional. São reconhecidos como

verdadeiras normas jurídicas, criando direitos, obrigações etc., nas mais variadas situações
concretas.

Os princípios consideram valores essenciais à manutenção do meio ambiente ecologicamente

equilibrado como bem comum de todos, valores esses conceituados nos princípios que vamos
aprender a seguir.

20
Vamos estudar os princípios específicos do Direito Ambiental. Por ser uma ciência autônoma,

possui seus próprios princípios. Vale ressaltar que todos os valores relacionados à vida também
estão relacionados ao Direito Ambiental, mas vamos nos aprofundar no que é mais cobrado em

provas de concurso.

Todos os princípios estão enraizados na Constituição Federal, deles decorrem ou lhes são
derivados. Essa é uma classificação acadêmica, utilizada pelos doutrinadores e juristas, mas o

legislador não os definiu expressamente.

2.6.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

É um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental.

Conforme exposto ao longo desse material, o ser humano sempre está disposto a se
desenvolver, aumentando e expandindo-se no aspecto social e econômico, portanto, na

Declaração sobre o Desenvolvimento a ONU determinou:

“O direito do Desenvolvimento é um inalienável direito humano, em virtude do qual toda


pessoa humana e todos os povos tem reconhecido seu direito de participar do
desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar; e
no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente
realizados. O direito humano ao desenvolvimento também implica a plena realização do
direito dos povos à autodeterminação, que inclui o exercício de seu direito inalienável de
soberania plena sobre todas as suas riquezas e recursos naturais”.

Com o desenvolvimento econômico e tecnológico, o homem transformou os recursos

naturais que compõem o meio ambiente em sua matéria-prima, direta ou indiretamente.

Mas com a ideia de finitude dos recursos naturais e a conscientização de sua necessidade
para manutenção da vida em sua qualidade e forma, entra a ideia de sustentabilidade, formando,

então, o necessário desenvolvimento sustentável.

21
Assim, a visão sustentável está relacionada à qualidade de vida por meio da conservação

dos bens ambientais que são necessários, ao mesmo tempo, ao desenvolvimento e à preservação
de todos os ecossistemas.

O desenvolvimento sustentável visa harmonizar o crescimento econômico, a

preservação ambiental e a equidade social. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e


Desenvolvimento então estabelece o seguinte conceito para desenvolvimento sustentável:

“Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer
a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”.

Foi então que, com a presidência da Primeira Ministra da Noruega, Gron Harlem
Brundtland, os trabalhos para formulação de novas políticas para o meio ambiente internacional,
com base nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, resultaram no “Relatório Nosso Futuro
Comum” ou “Relatório Brundland”, em 1987, afirmando essa necessidade de uma nova visão
sustentável, onde o crescimento econômico fosse possível com base na prática de conservação
dos recursos naturais.

Esse relatório foi um marco de extrema notoriedade, ao expor a opinião das pessoas de
vários países em audiências públicas, sobre vários temas ambientais e de desenvolvimento,
consagrando essa ideia sustentável. Um verdadeiro desafio global, que não poderia mais ser
postergado.

Nesse contexto, o princípio 4º da Declaração da Rio 92 aduz que “para se alcançar o


desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”.

Enquanto isso, o princípio 5º da mesma declaração aduz: “todos os Estados e todos os


indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar
22
na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de
vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo”.

O princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na nossa Constituição Federal,


em seu art. 170, II, III, VI e VII, quando estabelece como princípios da ordem econômica,
respectivamente: a propriedade privada, como um incentivo ao crescimento econômico; a função
social da propriedade, que representa a responsabilidade social; a defesa do meio ambiente; e
a redução das desigualdades regionais e sociais.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...)
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade; (...)
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; (...)

Além do art. 170, a Constituição prevê o princípio do desenvolvimento sustentável no


caput do art. 225:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Por conta da aplicação desse princípio à atividade econômica, a doutrina procura a


conscientização em três ideias básicas:

23
Evitar a produção de
bens superfúlos e
agressivos ao meio
ambiente

Convencer o Estimular o uso de


consumidor da tecnologias limpas
necessidade de no exercício da
evitar o consumo atividade
de bens inimigos econômica
do meio ambiente

Não se pode afirmar que o princípio do desenvolvimento sustentável aceita que o


desenvolvimento econômico inevitavelmente irá degradar o meio ambiente, pelo contrário,
temos que entender que não se podem realizar atividades impactantes ao meio ambiente sem
que sejam previstas medidas reparatórias ou compensatórias para mitigar o dano ocorrido.

Só podemos pensar na aplicação do verdadeiro desenvolvimento sustentável quando se


puder utilizar os recursos naturais como matéria-prima de forma renovável, ou que possa ser
renovado dentro de um prazo razoável para uma nova utilização. Assim, ser renovável é
fundamental para que a atividade possa ser implementada, não sendo o bem ambiental
renovável não poderá haver a atividade sustentável.

O princípio também está positivado na norma infraconstitucional, como um dos objetivos


da PNMA (art. 2º). Também podemos encontrar no Código Florestal esse princípio fundamental
expressamente, como um dos objetivos para compatibilizar o desenvolvimento ao equilíbrio
ecológico:

Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de
Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento
de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle
e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros
para o alcance de seus objetivos.

24
Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá
aos seguintes princípios:

Bem como, na Lei de Resíduos Sólidos nº 12.305/12, art. 6, IV:

Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


IV- o desenvolvimento sustentável;”

Em resumo: esse princípio busca o progresso econômico e social, em integração ao


uso racional dos recursos naturais, buscando preservar as necessidades de todas as
gerações!3

2.6.2 Princípio da Solidariedade Intergeracional

Este princípio, por sua vez, busca assegurar a solidariedade das presentes gerações em

relação às futuras, para que todos possam usufruir, de forma sustentável, do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, como prevê o final do art. 225 da Constituição:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Fique atento a esse dispositivo! Esse princípio foi ressaltado, primeiramente, na Declaração de Estocolmo,
em 1972. Preocupados com a finitude dos recursos naturais, em seu Princípio 2 estabeleceu a preservação
para as gerações atuais e futuras. Por igual, na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, em
1992, novamente ressaltou-se essa dimensão como Princípio 3º: “devendo ser exercido de modo a
permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades (...) das gerações atuais e futuras”, surge,

3
Vide Questão 13 e 14.
25
portanto, com o art. 225, caput, da CF/88, o princípio da equidade intergeracional, ou princípio da

solidariedade intergeracional, que está firmado em nosso ordenamento pátrio como supracitado.

2.6.3 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado

A Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972

reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental do


homem – direitos humanos de terceira geração, conforme princípio 1:

“O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições


de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma
vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o
meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que
promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão
colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e
devem ser eliminadas.”

Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na

legislação infraconstitucional podemos destacar os artigos 2º e 4º da Lei 6.938/81, que trata da


Política Nacional do Meio Ambiente:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da
qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

26
Nesse sentido, no julgamento da ADI 4.066/DF, a Min. Rosa Weber apontou o art. 225

como: “cláusula proclamadora de um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado como essencial à sadia qualidade de vida”.

Vale destacar que o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Por isso, o STJ já
decidiu que esse direito essencial deve ser imprescritível.

ACP. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL. Cuida-se, originariamente, de ação civil pública


(ACP) com pedido de reparação dos prejuízos causados pelos ora recorrentes à comunidade
indígena, tendo em vista os danos materiais e morais decorrentes da extração ilegal de madeira
indígena. (...) Do ponto de vista do sujeito passivo (causador de eventual dano), a prescrição cria
em seu favor a faculdade de articular (usar da ferramenta) exceção substancial peremptória. A
prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como mecanismo de
segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco
a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito
difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande
amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco
ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do
dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade
hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de
direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente
de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional
em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade
com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo,
indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida,

27
nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela
imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja
genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o
montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009).

2.6.4 Princípios da Prevenção e da Precaução

Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir
sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução,
extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos
visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?

PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO


A aplicação do princípio da prevenção A aplicação do princípio da precaução ocorre na
ocorre na certeza científica do impacto constatação de potenciais riscos de impacto
ambiental da atividade. ambiental da atividade, que no momento não
Conhecendo os danos que determinada podem ser cientificamente comprovados. É um
atividade causa ao meio ambiente, dever de cautela.5
podemos impor medidas preventivas
para minimizar ou eliminar esses
efeitos.4

Princípio décimo quinto da Declaração do Rio 92 – “Com o fim de proteger o meio


ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério da precaução de acordo com suas
capacidades. Quando haja perigo de dano grave e irreversível, a falta de certeza científica
absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes
para impedir a degradação do meio ambiente”.

4
Vide Questão 7.
5
Vide Questão 4 e 8.
28
Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de
provar que as ações não são danosas é do acusado interessado. Mas atenção: a aplicação do
princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena
de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de
risco ambiental.

2.6.5 Princípio do Poluidor Pagador

O princípio do poluidor pagador, usado como um instrumento econômico de política


ambiental exige que o poluidor suporte as despesas de prevenção, reparação e repressão dos
seus danos ambientais.

Aplicando o princípio do poluidor pagador, os custos sociais externos do processo de


produção devem ser internalizados pelo empreendedor da atividade, procurando corrigir o
prejuízo que a sociedade tem com o seu processo produtivo.

Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva do degradador ambiental que,
independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a
sua atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a
atividade do agente.

Veremos a responsabilidade civil ambiental de forma bem mais aprofundada em capítulo


próprio, mas, desde já, saiba que o degradador ambiental pode responder nas esferas civil,
administrativa e penal, de forma simultânea e independente, pelo menos dano ao meio
ambiente. Portanto, no direito ambiental temos a tríplice responsabilização do degradador,
que materializa o princípio da proteção integral do meio ambiente.

Especificamente quanto ao princípio do poluidor-pagador, podemos analisá-lo de duas


formas compatíveis e complementares:

 Reparação – o poluidor deve assumir as consequências do dano ambiental que causou.

Nesse aspecto o princípio do poluidor pagador também é chamado de princípio da


reparação ou de princípio da responsabilidade;

29
 Prevenção – o poluidor deve seguir as políticas públicas e considerar os custos sociais

da degradação ambiental. Trata-se de um incentivo dissuasivo para quem pretende atuar


de forma lesiva ao meio ambiente.6

Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente
equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do
direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao
direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que
se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à
compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção.

2.6.6 Princípio do Usuário Pagador

Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar
o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por
eles, mesmo que a sua atividade seja lícita. É uma forma de evolução e de complementar o
princípio do poluidor pagador.

O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve ser
revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da ocorrência

de efetivo dano ambiental e de qualquer ilicitude no comportamento do usuário. 7

6
Vide Questão 2 e 4.
7
Vide Questão 4.
30
2.6.7 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal

Também conhecido como princípio da atuação obrigatória do Estado e como princípio


da natureza pública da proteção ambiental, está previsto no art. 255 da CF/88 que, em seu
caput, estabelece que é um dever do Poder Público (e da coletividade) defender e preservar o
meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

A atuação obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza


indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa humana.

Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito
da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções
administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses
exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a
preservação do meio ambiente.

Para terminar, preste atenção: o dever do Estado de preservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado não atribuído apenas ao Poder Executivo. Por exemplo, cabe ao
Poder Legislativo elaborar leis que visem esse objetivo. Portanto, o dever de intervenção para a
preservação do meio ambiente cabe a todos os Poderes da República, em todas as suas esferas
de atuação.

2.6.8 Princípio da Participação Comunitária

Também chamado de princípio da participação popular e de princípio democrático,


estabelece, de acordo com o caput do art. 255 da CF, que o cidadão tem o direito (e o dever)
de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente.

Importante destacar que também guarda relação com o Princípio 10 da Declaração do


Rio de 92: “a melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no
nível apropriado, de todos os cidadãos interessados”.

Com isso, a sociedade passou a dispor de alguns mecanismos de participação democrática


direta, destacando-se: iniciativa popular de lei, participação em audiência pública, participação

31
de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de
políticas públicas e possibilidade de propor ação popular.

2.6.9 Princípio da Informação

O princípio da participação comunitária pressupõe o direito de informação, pois só o


cidadão informado pode atuar de forma eficaz.

Exemplo da aplicação do princípio da informação está disposto no art. 255, IV, da CF/88,
que exige a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental. Ademais, você verá ao longo
do curso que todas as normas infraconstitucionais em matéria ambiental privilegiam o princípio
da informação.

Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.

Esse princípio foi regulamentado por meio da Lei nº 10.650/2003, que dispõe quanto ao
acesso público a dados e informações ambientais nos órgãos e entidades do Sisnama. A
solicitação deve ser feita por escrito e não ter fins comerciais, podendo ser requerida por
qualquer cidadão independente de comprovação de interesse específico, e deve ser prestada
no prazo de 30 dias, nos termos do art. 2º, §5º, da Lei nº 10.650/2003:

Art. 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional,


integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos,
expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer
todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual,
sonoro ou eletrônico, especialmente as relativas a: (...)§ 5o No prazo de trinta dias, contado
da data do pedido, deverá ser prestada a informação ou facultada a consulta, nos termos
deste artigo.

Os dados referentes ao meio ambiente devem ser amplamente divulgados à


sociedade civil, salvo matérias que envolvam segredo industrial ou do Estado. Nesse ponto,
vale ressaltar que, apesar de o artigo acima citado dispor que é obrigação dos órgãos
públicos prestar as informações à sociedade, as entidades privadas também estão sujeitas

32
à incidência do princípio da informação ambiental, devendo, muitas vezes, elaborar
relatórios periódicos:

Art. 4º Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis, no respectivo órgão,
em local de fácil acesso ao público, listagens e relações contendo os dados referentes
aos seguintes assuntos:
I - pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;
II - pedidos e licenças para supressão de vegetação;
III - autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos ambientais;
IV - lavratura de termos de compromisso de ajustamento de conduta;
V - reincidências em infrações ambientais;
VI - recursos interpostos em processo administrativo ambiental e respectivas decisões;
VII - registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e sua aprovação ou
rejeição.

Claramente, as informações relativas ao meio ambiente são de interesse coletivo ou geral,


pois se trata de um interesse difuso. Portanto, em regra, qualquer pessoa pode ter acesso às
informações que tratam do meio ambiente, sem precisar comprovar interesse específico.

Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de
forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a
adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades.

Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja
verdade, ampla, tempestiva e acessível.

2.6.10 Princípio da Educação Ambiental

Esse princípio foi introduzido por meio do item 19 da Declaração de Estocolmo de 1972
e permitiu, com o passar dos anos, o desenvolvimento de uma nova concepção dos seres
humanos para com o meio ambiente, fortalecendo a cidadania ambiental (Rafael Matthes,
Manual de Direito Ambiental, pg. 47, 2020).

A educação ambiental é um instrumento para esclarecer e envolver a sociedade com a


proteção do meio ambiente, possibilitando, assim como o princípio da informação, a
participação ativa do cidadão na democracia.

33
Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público
o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.

É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação
Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

2.6.11 Princípio da Função Sócio Ambiental da Propriedade

De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a
quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade
perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da
sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo.

Com relação à propriedade urbana, o legislador estabeleceu a função social quando


respeitadas as regras de direito urbanístico, previstas no Plano Diretor, previsão do art. 182, §2º,
da CF. Quanto à propriedade rural, o dispositivo que regula sua função social é o art. 186, II, CF,
limitando o direito de propriedade com institutos como os relacionados às áreas de preservação
permanente - APP e Reserva Legal.

Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como
titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à
sua tutela.

Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 8

8
Vide Questão 3.
34
2.6.12 Princípio da Cooperação entre os Povos

A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade está prevista como um


dos princípios da República Federativa do Brasil nas relações internacionais pelo art. 4º, IX da
CF/88. Como os danos ambientais podem tomar grandes proporções, atingindo mais de um
país, esse princípio ganha relevância no direito ambiental.

O princípio da cooperação consiste na necessidade de uma troca mútua de


conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de tecnologias para manter
o equilíbrio ambiental.

É necessário muito mais que uma simples política nacional para tutelar um direito
planetário. Cada vez mais é necessário que se estabeleça uma conexão entre políticas de
proteção e preservação do meio ambiente, para que estabeleçam regras e objetivos mundiais
acima de qualquer interesse nacional, com o objetivo de garantir a todos uma boa qualidade
de vida e um equilíbrio ecológico.

Importante destacar que todo dano ambiental afeta o ecossistema do planeta, não há
como proteger uma parte e não se preocupar com a outra, os benefícios e males causados pela
interferência humana no meio ambiente são globais e não estão delimitados geograficamente.

2.6.13 Princípio da Ubiquidade

Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio
ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar
reflexos em todo o planeta.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está diretamente ligado ao direito


à vida, bem como, à dignidade humana, não só humana mas como todas as formas de vida, art.
3º, I, da Lei nº6.938/81.

Nessa esteira, por sua característica difusa, onipresente e fluida, o bem ambiental não fica
delimitado geograficamente, já que é comum acontecer danos ambientais em outros países que
podem atingir todo o planeta, e esse dano será sentido por muitas gerações.

O STJ já reconheceu esse princípio no RESP 588.022/SC, Rel. Min. José Delgado:

35
(...) A Conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências
históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece
fronteiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. (...)

Igualmente, não é possível mensurar um dano ambiental quanto à sua extensão e,


portanto, sua reparação deve ser sempre mais ampla, já que não se podem calcular quantos
sistemas serão prejudicados por aquele dano, direta ou indiretamente, sofrendo consequências
negativas que não podemos calcular para gerações atuais e futuras.

2.6.14 Princípio do Limite

Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste
no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no
âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do
meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível.

2.6.15 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito


Cliquet Ambiental)

Como visto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito


fundamental e, por isso, não é possível recuar quanto às suas garantias já consolidadas no
ordenamento jurídico.

Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente,
ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares.

É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos
direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas
garantias.

36
Pela interpretação do STF, o correto seria o princípio de vedação ao retrocesso da
sustentabilidade, já que aponta como constitucionais normas que, apesar de não trazerem
ganhos maiores para o Direito Ambiental, permitem maior desenvolvimento econômico e social.

Nesse sentido, é a decisão no RE 586.224, reconhecendo a inconstitucionalidade de lei


municipal que era, aparentemente, mais protetiva ao meio ambiente, proibindo as queimadas
da palha da cana-de-açúcar, diante de uma lei estadual que acomodava a formulação da política
pública, com interesses igualmente legítimos, a exemplo: efeitos sobre o mercado de trabalho
e a impossibilidade de manejo de máquinas nas áreas de cultivo acidentadas.9

2.6.16 Princípio do Protetor-Recebedor

Esse princípio é resultado de uma evolução maior, de uma educação ambiental em esfera
global. Com base na educação ambiental, a figura do protetor ganhou destaque nos encontros
internacionais.

Com a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2012, a


figura do recebedor foi destaque e a economia verde, no contexto do desenvolvimento
sustentável, ganhou importância, com incentivos para que empresas privadas trabalhassem em
cooperação.

O Brasil adotou a posição de incentivar e facilitar as produções e padrões sustentáveis


por meio de instrumentos econômicos e políticas públicas, através do intitulado documento de
Contribuição Brasileira à Conferência RIO+20.

Logo após, duas importantes normas foram criadas: Lei nº 12.305/10 - Política Nacional
de Resíduos Sólidos, e a Lei nº 12.641/12 - Novo Código Florestal, em ambas temos a figura do
poluidor e do protetor.10

2.6.17 Responsabilidades Comuns, porém, diferenciadas

Tem previsão inicial no Princípio 7º da Declaração do Rio:

9
Vide Questão 4.
10
Vide Questão 4.
37
Os Estados deverão cooperar com espírito de solidariedade mundial para conservar,
proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Considerando
que têm contribuído em diferente medida à degradação do meio ambiente mundial, os
Estados têm responsabilidades comuns mas diferenciadas. Os países desenvolvidos
reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento
sustentável, em vista das pressões que suas sociedades exercem no meio ambiente
mundial e das tecnologias e dos recursos financeiros de que dispõem.

Reconhecendo que o Direito Ambiental não possui fronteiras, sendo necessário uma
monitoria global, alguns reconhecem também que há uma dívida histórica quanto aos países
que se desenvolveram antes de outros e, portanto, também se industrializaram e deixaram danos
ambientais históricos, dado o nível tecnológico de cada um.

Portanto, todos são responsáveis pela proteção e manutenção do meio ambiente


ecologicamente equilibrado, mas, visto que alguns países desenvolvidos foram causadores
de danos ambientais anteriores, sua dívida é diferente da de países subdesenvolvidos que
participaram para a proteção e regulação de normas protetivas ao tempo do seu
desenvolvimento industrial, causando, portanto, danos por vezes menores.

2.6.18 Responsabilização Integral

Com base no disposto no art. 225, §3º, da CF, “as condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, temos a
tripla responsabilização do infrator ambiental, devendo responder na esfera civil,
administrativa e penal. O STF já reconhece essa responsabilidade objetiva e tríplice como a
teoria do risco.

Essa teoria dispõe quanto a situações onde a pessoa deve reparar o dano, mesmo sem ter
a culpa comprovada, visto a responsabilidade objetiva, apenas com a presença do nexo causal,
o dano deve ser indenizado e reparado independentemente de culpa.11

11
Questão 9.
38
2.7 Competências Ambientais

A Constituição de 1988 adotou o federalismo cooperativo, estabelecendo uma repartição


de competências entre os entes federados, em uma relação de coordenação. Na repartição de
competências legislativas, a CF define em seus arts. 22, I; 24, VI, VIII e XVI; e 30, I e II, as
competências legislativas em matéria ambiental:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VIII - responsabilidade por
dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.”

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Importante frisar, as normas de caráter suplementar deverão sempre, obedecer às diretrizes


trançadas pelas normas gerais. Podemos adotar conforme preconizou JOSÉ AFONSO DA SILVA,
o princípio da predominância dos interesses.

 União: caso o interesse seja de todo o país, ou importe a mais de um estado;


 Estado: se o interesse for do Estado ou de mais de um município;
 Município: se não transbordar os interesses locais de um município.

39
A competência ambiental material, por sua vez, atribui aos entes federados o poder de
execução da lei, de colocá-la em prática independentemente de provocação, e se subdivide em
exclusiva e comum.

O art. 23 da CF, disciplina as competências materiais e comuns de direito ambiental:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros
bens de valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

O artigo 21 da CF dispõe quanto à competência exclusiva da União, e o art. 30 da CF,


quanto à competência exclusiva dos municípios:

Art. 21. Compete à União: (...)


IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de
desenvolvimento econômico e social;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios
de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento
básico e transportes urbanos;

Art. 30. Compete aos Municípios:


VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação
e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Não se preocupe, vamos abordar cada uma dessas competências de forma prática para
facilitar a sua compreensão e fixar essa matéria, que é bem recorrente nas questões de concurso.

40
•Privativa= União (Estados/DF por Lei
Competência Complentar )
•Exclusiva= Estados/DF
Legilslativa •Concorrente=União/Estados/DF
•Remanescente= Estados
(legislar) •Suplementar= Municípios

•Exclusiva= União
Competência •Comum= União /Estados/DF/ Municípios

Material
(fiscalizar)

2.7.1 Competência Legislativa Privativa

É a competência outorgada pela Constituição, no art. 22, à União para legislar sobre
determinados assuntos, entre eles: águas, energia, regime de portos, navegação lacustre,
fluvial e marítima, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, sistema
de geologia nacional e atividades nucleares de qualquer natureza:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;

41
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de
profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e
da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e
mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as
administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização
nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.”

Segundo o parágrafo único, essas matérias de competência legislativa privativa da União


podem ser delegadas para os estados da federação mediante autorização por meio de lei
complementar.

Ademais, não custa nada lembrar que o fato de a competência legislativa ser privativa da
União, não significa que só ela tenha o poder de fiscalizar. Guarde essa informação!

2.7.2 Competência Legislativa Exclusiva

A competência legislativa exclusiva é aquela que, diferentemente da competência privativa,


não pode ser delegada a outro ente.

Os estados federados possuem sua competência legislativa exclusiva prevista nos §2º e §3º
do art. 25 da CF/88.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
42
(...)

§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais


de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,


aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas
de interesse comum.

Quanto aos municípios, apesar de não terem sido expressamente contemplados por
competências legislativas exclusivas em matéria ambiental pela Constituição, podemos extrair
do art. 30, I da CF/88 que esses entes podem legislar sobre assuntos de interesse local, desde
que comprovado o interesse restrito ao âmbito territorial do município. Esse “interesse local
” não significa ausência de interesse regional ou nacional. Para detectar se a matéria é de
competência do município devemos usar o critério da predominância de interesse.

2.7.3 Competência Legislativa Remanescente

De acordo com o art. 25, §1º da Constituição Federal, são reservadas aos Estados as
competências que não lhes sejam por ela vedadas. É o que chamamos de competência
remanescente ou reservada, que visa preencher eventuais lacunas na repartição de competências
entre os entes. Em razão da competência remanescente temos, por exemplo, a competência dos
estados para legislar sobre o transporte intermunicipal.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.

§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

43
2.7.4 Competência Legislativa Concorrente

A competência legislativa concorrente está prevista no art. 24 da Constituição Federal. Nele


são elencadas matérias legislativas que cabem a todos os entes da federação. No contexto
ambiental, destaca-se:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

(...)

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos


recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos


de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IX - educação, cultura, ensino e desporto;

IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento


e inovação; (...)

No âmbito da legislação concorrente, como todos os entes possuem competência


legislativa, é preciso estabelecer algumas regras para evitar conflitos. A mais importante é a
prevista no §1º do art. 24 da CF/88, que limita a competência da União a estabelecer normas
gerais sobre essas matérias, que devem ser observadas pelos estados, DF e municípios. Normas
gerais são aquelas que estabelecem conceitos, princípios e procedimentos básicos para serem
observados nas normas dos demais entes. 12

12
Vide Questão 10.
44
A inércia da União em editar a norma geral faz surgir a competência legislativa supletiva
ou plena para os estados e para o DF, como dispõe o §3º do art. 24 da CF/88, que passam a
poder editar normas gerais e normas específicas sobre os assuntos concorrentes.

Se após exercida a competência legislativa supletiva pelo estado ou pelo DF, a União editar
a norma geral, ela irá suspender a eficácia13 da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária.
Atenção: a lei geral editada pela União supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva
editada pelo estado ou pelo DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES
FEDERATIVOS DISTINTOS! Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editada a
partir da competência legislativa supletiva não contrarie a norma geral editada
supervenientemente pela União.

E os municípios? Bem, o art. 24 da CF/88 não atribui nenhuma competência legislativa aos
municípios, por isso, a doutrina majoritária não considera que eles tenham competência
concorrente. Mas o art. 30, I e II da CF/88 afirma que cabe ao município “legislar sobre assuntos
de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”! Isso não é
uma competência concorrente implícita??? Não! O inciso I é uma competência exclusiva do
município, enquanto o inciso II trata-se do que a doutrina chama de competência legislativa
suplementar.

A competência legislativa suplementar ou complementar pode ser vista como um


desdobramento da competência concorrente, e está prevista no art. 24, §2º da CF/88 da seguinte
forma: “a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos estados”. Portanto, os estados e o DF podem suplementar as normas gerais
editadas pela União, claro, sem confrontá-las. 14

Também podemos afirmar que os municípios possuem competência legislativa suplementar


com base no art. 30, II da CF/88, desde que a norma trate de interesse local. Com isso,
preenchemos eventuais lacunas na divisão constitucional de competências legislativas.

13
Vide Questão 12 e 15.
14
Vide Questão 1.
45
2.7.5 Competência Material Exclusiva

O art. 21 da CF/88 elenca várias competências materiais exclusivas da União. O critério


utilizado pelo constituinte para definir quais assuntos seriam incluídos nesse rol foi o interesse
geral. Entre esses assuntos destacamos, em matéria ambiental:

Art. 21. Compete à União: (...)


IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de
desenvolvimento econômico e social; (...)
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...)
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos
cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos; (...)
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios
de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento
básico e transportes urbanos; (...)
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos
e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de
radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de
radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (...)
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem,
em forma associativa.

46
Notou alguma coisa no inciso XII acima citado? Observe que ele autoriza a exploração
dos serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água diretamente pela União ou mediante autorização, concessão ou permissão. Trata-se,
portanto, de uma possibilidade de delegação do exercício dessa competência. Ok, mas e daí?
Daí que esse inciso especificamente deixa de ser classificado como uma competência material
exclusiva e passa a ser considerado uma competência material privativa da União que, como
vimos, são aquelas matérias que podem ser delegadas.

2.7.6 Competência Material Comum

Segundo o art. 23 da CF/88, algumas matérias são de competência de todos os entes


federativos conjuntamente, ao mesmo tempo. No âmbito do direito ambiental, a competência
comum basicamente visa à proteção ambiental e o exercício do poder de polícia em
cooperação.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;

(...)

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à


pesquisa e à inovação;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

47
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições


habitacionais e de saneamento básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a


integração social dos setores desfavorecidos;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração


de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

(...)

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a


União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Para regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei Complementar 140/11, que será
aprofundada adiante, com o intuito de estabelecer uma gestão descentralizada das questões
ambientais, harmonizar políticas públicas e ações administrativas entre as esferas de governo,
os artigos iniciais são bastante cobrados:

Art. 1º Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e
do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do
exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora.

Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental;
II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo
originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho
das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente
federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.

48
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei
Complementar:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio
ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a
redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação
entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma
atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as
peculiaridades regionais e locais.15

Para exercer esse poder de polícia, que realiza atos como de licenciamentos, fiscalização,
sanções administrativas etc., todos podem atuar de forma conjunta. O problema é: quem será
o ente competente para aplicar determinada multa?

Mais uma vez, vamos utilizar a predominância do interesse, ou seja, aquele que possuir
interesse dominante em uma dada matéria será competente para praticar os atos
administrativos.

Com base no princípio da legalidade (art. 37 da CF), é que a administração pública atua,
quando um ente tem determinada competência para legislar sobre determinado assunto, detém
maior interesse em tratar da matéria de forma administrativa.

Mas, visto que se deve aplicar a forma cooperativa, poderá perfeitamente o Município atuar
de forma administrativa em uma lei federal, com multas, licenciamentos, estudos de impacto
ambiental, embora não seja de interesse local, caso seja para tornar o ato mais eficiente.

Assim se posiciona o STJ, no sentido de que qualquer integrante do Sisnama pode atuar
para fiscalizar uma atividade:

PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - MULTA - CONFLITO DE


ATRIBUIÇÕES COMUNS - OMISSÃO DE ÓRGÃO ESTADUAL - POTENCIALIDADE DE DANO
AMBIENTAL A BEM DA UNIÃO - FISCALIZAÇÃO DO IBAMA - POSSIBILIDADE.1. Havendo
omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença
ambiental, pode o IBAMA exercer o seu poder de polícia administrativa, pois não há
confundir competência para licenciar com competência para fiscalizar.2. A

15
Vide Questão 11.
49
contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorga da licença,
portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada à esfera do ente
federal que a outorgou. 3. O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes
da federação para proteger o meio ambiente através da fiscalização.4. A competência
constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos do meio ambiente das diversas
esferas da federação, inclusive o art.76 da Lei Federal n. 9.605/98 prevê a possibilidade
de atuação concomitante dos integrantes do SISNAMA.5. Atividade desenvolvida com
risco de dano ambiental a bem da União pode ser fiscalizada pelo IBAMA, ainda que a
competência para licenciar seja de outro ente federado. Agravo Regimental provido.
(AgRg no REsp 711.405/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 28/04/2009, DJe 15/05/2009)

Quando ocorrer um conflito de atribuições, onde mais de um ente pretende atuar em


determinada situação concreta, não poderá ocorrer por óbvio o bis in idem, ou seja, uma dupla
sanção. Nesse caso, se aplica mais uma vez o princípio da predominância de interesse: interesse
local – Município, interesse regional – Estado, demais - União.

Em se tratando de licenciamento ambiental, todos os entes federados podem, conforme


seus interesses respectivos, exigir a proteção com procedimentos próprios, isso, sem dúvida,
também seria um bis in idem, mas em se tratando de meios de proteção ambiental é permitido
aos entes participarem em conjunto do procedimento de licenciamento.

O STF já se posicionou a esse respeito no sentido de entender ser possível a duplicidade


de licenciamento, com aplicação do princípio da ubiquidade:

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESASSOREAMENTO DO RIO


ITAJAÍ-AÇU. LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DO IBAMA. INTERESSE NACIONAL.1.
Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação e
para os Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.2. O
confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito ambiental deve
receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de preservar a
qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger patrimônio
pertencente às presentes e futuras gerações.3. Não merece relevo a discussão sobre ser
o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A conservação do meio ambiente não se prende
a situações geográficas ou referências históricas, extrapolando os limites impostos
pelo homem. A natureza desconhece fronteiras políticas. Os bens ambientais são
transnacionais. A preocupação que motiva a presente causa não é unicamente o rio,
mas, principalmente, o mar territorial afetado. O impacto será considerável sobre o
ecossistema marinho, o qual receberá milhões de toneladas de detritos.4. Está
diretamente afetada pelas obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu toda a zona costeira e o

50
mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de prévios EIA/RIMA.
A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva. Somente o estudo e o
acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos ambientais públicos e
privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado pelas dragagens no rio,
pelo depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes marítimas, sobre a orla
litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o homem que vive e depende
do rio, do mar e do mangue nessa região.5. Recursos especiais improvidos. (REsp
588.022/SC, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2004, DJ
05/04/2004, p. 217)

51
QUADRO SINÓPTICO

“Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de


ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas;”
Visão ecocêntrica: meio ambiente composto por seres bióticos +
Conceito de Meio
abióticos.
Ambiente  Meio Ambiente Natural;
 Meio Ambiente Cultural;
 Meio Ambiente Artificial; e
 Meio Ambiente do Trabalho ou Laboral.
Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
Meio Ambiente
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
Natural elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Meio Ambiente Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,


arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Cultural
Pela ação humana em áreas naturais convertendo-as em áreas urbanas
Meio Ambiente
artificiais, sendo elas rurais ou urbanas. Classificados em ambientes
Artificial abertos, ruas, praças, avenidas, e fechados, casa, clubes, shoppings.
Local em que os indivíduos trabalham de forma remunerada ou não.
Meio Ambiente do Não se restringe ao espaço físico dentro das empresas e, sim, ao próprio
Trabalho local de trabalhos em suas residências, ruas, estradas etc.
O Sistema Único de Saúde deve proteger o meio ambiente do trabalho.
Poluidor: “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
Conceito responsável, direta ou indiretamente, por atividades causadoras de
de degradação ambiental”.
Poluição Poluição: “poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, por
e Poluidor
exemplo”.
Primeira geração de direitos fundamentais surgiu com a constituição
norte-americana de 1787 e com a constituição francesa de 1791, limites
ao Estado, protegiam o individualismo e a propriedade privada,
Direitos de 3ª
chamados de “liberdades clássicas”;
Geração Segunda geração de direitos fundamentais surgiu através da constituição
do México de 1917 e da constituição da Alemanha de 1919, com direitos
de igualdade – direitos sociais, culturais e econômicos.

52
Terceira geração de direitos fundamentais, onde a titularidade é difusa,
indefinida, indeterminável e transindividual, isso torna o Estado um dos
protetores para sua defesa e efetivação, através de normas protetivas e
punitivas, e a posição da sociedade detentora desses direitos também
como sua protetora, visto que esse direito está diretamente ligado ao
direito à vida. Direito ao meio ambiente, direito dos animais etc.
Universalidade: sujeito ativo, todos de forma indeterminada;
Indivisibilidade: devem ser analisados de forma sistêmica;
Interdependência: os direitos estão interligados;
Inter-relacionariedade: proteção global e regional para tutela dos
direitos;
Imprescritibilidade: não são atingidos pela prescrição;
Inalienabilidade: estão fora de comércio;
Historicidade: fruto de evolução e desenvolvimento histórico;
Irrenunciabilidade: não podem ser disponíveis por seus titulares;
Vedação ao retrocesso: não podem sofrer diminuição de proteção já
Direito Fundamental positivada;
Efetividade: o Estado deve garantir ao máximo sua efetividade;
Relatividade: não será absoluto, devendo ser aplicado ao caso concreto;
Inviolabilidade: impossibilidade de não serem observados por atos ou
dispositivos jurídicos;
Concorrência: podem ser exercidos cumulativamente;
Complementariedade: devem ser interpretados em conjunto;
Aplicabilidade imediata: efetividade, aplicação imediata da norma;
Constitucionalização: é por meio dela que se faz a distinção dos direitos
fundamentais.

Ecocentrismo: uma visão integrada, uma compreensão de dependência.


É construída com base na ciência natural, biológica, ecológica, geológica
etc. Portanto, se fundamenta na existência de valores ecológicos, na
Ética
natureza como um todo, reconhecendo a dignidade dos seres vivos e
Ambiental respeitando os valores da natureza que existem independentemente da
existência humana.

Fontes Materiais: Manifestações Populares, Descobertas científicas e


Fontes de Direito Doutrinas
Ambiental Fontes Formais: Legislação, Convenções, Tratados nacionais e
internacionais e Jurisprudências

Princípios Princípio do desenvolvimento sustentável: “Um desenvolvimento que


faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer a
de

53
Direito capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias
necessidades”.
Ambiental
Princípio da Solidariedade Intergeracional: ou Princípio da equidade
intergeracional, estabeleceu a preservação para as gerações atuais e
futuras.
Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
de todos e está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à
dignidade humana.
Princípios da Prevenção e da Precaução:
Prevenção: certeza científica do impacto ambiental da atividade, impor
medidas preventivas para minimizar ou eliminar esses efeitos.
Precaução: potenciais riscos de impacto ambiental da atividade, que no
momento não podem ser cientificamente comprovados. É um dever de
cautela.
Princípio do Poluidor pagador: responsabilidade civil objetiva do
degradador ambiental que, independentemente de agir com dolo ou
culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua atividade causou
ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a
atividade do agente com reparação e prevenção.
Princípio do Usuário Pagador: o princípio do usuário pagador não é
uma sanção e sim uma valoração econômica aos recursos naturais para
racionalizar o seu uso, evitando o seu desperdício.
Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal: a atuação
obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza
indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa
humana.
Princípio da Participação Comunitária: o cidadão tem o direito e o dever
de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente.
Princípio da Informação: todos têm direito a receber dos órgãos
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.
Princípio da Educação Ambiental: o poder público tem o dever de
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Princípio da Função Sócio Ambiental da Propriedade: que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna,

54
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Princípio da Cooperação entre os Povos: uma troca mútua de
conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de
tecnologias para manter o equilíbrio ambiental.
Princípio da Ubiquidade: tendo em vista que o meio ambiente é
onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz
de gerar reflexos em todo o planeta.
Princípio do Limite: Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir
de forma necessária no âmbito particular para fiscalizar, orientar e
conscientizar quanto aos limites da exploração do meio ambiente, à sua
importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível.
Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico: Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido
progressivo na proteção dos direitos fundamentais, jamais recuando,
suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas garantias.
Princípio do Protetor-Recebedor: incentivar e facilitar as produções e
padrões sustentáveis por meio de instrumentos econômicos e políticas
públicas.
Responsabilidades Comuns, porém, diferenciadas: “Os Estados deverão
cooperar com espírito de solidariedade mundial para conservar, proteger
e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra.
Considerando que têm contribuído em diferente medida à degradação
do meio ambiente mundial, os Estados têm responsabilidades comuns,
mas diferenciadas“.
Responsabilização Integral: Toda atividade deve indenizar o dano
ambiental caso comprovado o nexo causal, não é necessário ser
comprovada culpa. Aplica-se a Teoria do risco. Responsabilização tríplice:
civil, penal e administrativa.
Competência Legislativa:
Privativa = União (Estados/DF por Lei Complementar)
Exclusiva = Estados/DF
Competências Concorrente = União/Estados/DF
em Remanescente= Estados
Direito Suplementar = Municípios
Competência Material ou Administrativa:
Ambiental
Exclusiva = União
Comum = União/Estados/DF/Municípios

55
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(IESES- PROCURADOR - 2019) Assinale a alternativa INCORRETA:


A) Em matéria urbanística, cabe aos Municípios suplementar a legislação federal e a estadual,
no que couber.

B) Os Municípios podem legislar sobre loteamentos de acesso controlados, também conhecidos


como “loteamentos fechados”.
C) Os Municípios possuem competência para a fiscalização, mas não para o licenciamento
ambiental.
D) Os Municípios possuem competência para legislar sobre o uso e a ocupação do solo urbano.

Comentário:

Letra C

 A alternativa incorreta é a letra C: uma vez que os Municípios possuem, sim,


competência para o licenciamento ambiental. Nesse sentido, deve-se observar a LC
140/2011, os incisos XIII e XIV, abaixo transcritos: “Art. 9 São ações administrativas
dos Municípios: XIII - exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos
cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for cometida ao
Município; XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas
nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito
local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio
Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da
atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

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Questão 2

(VUNESP – JUIZ - 2019) Determinada indústria química elimina seus rejeitos no rio que abastece
uma cidade, alterando as características do meio ambiente e prejudicando a segurança e o bem-
estar da população. Nesse caso, o princípio ambiental que visa à internalização das
externalidades ambientais negativas e busca impedir a socialização dos custos ambientais é o
princípio

A) do poluidor-pagador.
B) da participação social.
C) da ubiquidade.
D) da precaução.
E) do usuário-pagador

Comentário:

Letra A

 A alternativa correta é a letra A: o princípio do poluidor pagador está ligado à


atividade econômica que possa gerar um dano ambiental e que, portanto, deve
tentar diminuir seus impactos ambientais e em caso de degradação sua
responsabilização é objetiva.
 A alternativa B está errada: esse princípio está ligado à participação nas decisões em
relação ao meio ambiente e não quanto à degradação de uma atividade.
 A alternativa C está errada: esse princípio guarda relação com o reflexo da
degradação ambiental em todo o planeta.
 A alternativa D está errada: esse princípio está relacionado ao ato de cautela para
potenciais riscos de impacto ambiental de uma atividade.
 A alternativa E está errada: esse princípio está ligado ao custo do uso de recursos
naturais pela coletividade de forma a evitar o desperdício.

57
Questão 3

(FUNDEPES – TJMG - 2014) Com relação aos princípios do direito ambiental, analise as
afirmativas, assinalando com V as verdadeiras com F as falsas.

( ) O estudo prévio de impacto ambiental constitui exigência feita pelo poder público em
cumprimento ao princípio da prevenção, de ordem constitucional.
( ) O princípio da reparação tem por fundamento a responsabilidade subjetiva do agente. Logo,
se afastada a ilicitude administrativa de um ato lesivo ao meio ambiente, não haverá a
correspondente responsabilidade civil pelos danos causados.
( ) Na aplicação do princípio do poluidor-pagador, a cobrança de um preço pelos danos
causados ao meio ambiente só pode ser efetuada sobre fatos que tenham respaldo em lei, sob
pena de se outorgar ao agente o direito de poluir.
( ) O princípio da função socioambiental da propriedade determina que o seu uso seja
condicionado ao bem-estar social, sem, contudo, impor comportamentos positivos ao
proprietário para o exercício de seu direito.

A) F F V V.
B) V V F F.
C) F V F V.
D) V F V F.

Comentário:

Letra D

 A alternativa correta é a letra D: V, F, V, F:

( V ) O estudo prévio de impacto ambiental constitui exigência feita pelo poder público

em cumprimento ao princípio da prevenção, de ordem constitucional.

( F ) O princípio da reparação tem por fundamento a responsabilidade subjetiva do


agente. Logo, se afastada a ilicitude administrativa de um ato lesivo ao meio ambiente,

não haverá a correspondente responsabilidade civil pelos danos causados.

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Incorreta: A responsabilidade por dano ambiental é objetiva e pautada no risco integral,

não se admitindo a aplicação de excludentes de responsabilidade. Conforme a previsão


do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º e 3º, da CF, a

responsabilidade por dano ambiental, fundamentada na teoria do risco integral,


pressupõe a existência de uma atividade que implique riscos para a saúde e para o

meio ambiente, impondo-se ao empreendedor a obrigação de prevenir tais riscos


(princípio da prevenção) e de internalizá-los em seu processo produtivo (princípio do

poluidor-pagador).

( V ) Na aplicação do princípio do poluidor-pagador, a cobrança de um preço pelos


danos causados ao meio ambiente só pode ser efetuada sobre fatos que tenham

respaldo em lei, sob pena de se outorgar ao agente o direito de poluir.

( F ) O princípio da função socioambiental da propriedade determina que o seu uso


seja condicionado ao bem-estar social, sem, contudo, impor comportamentos positivos

ao proprietário para o exercício de seu direito.

Incorreta: O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas


finalidades econômicas e sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as

belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como


evitada a poluição do ar e das águas, ou seja, impõe comportamentos ao proprietário.

Questão 4

(FMP Concursos – PROCURADOR - 2017) Considerando os trechos a seguir reproduzidos,


identifique o princípio de direito ambiental a que cada um deles se refere.

I - “Sempre que houver perigo da ocorrência de um dano grave ou irreversível, a ausência de


certeza cientifica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção de
medidas eficazes a fim de impedir a degradação ambiental” (LEITE & AYALA).

59
II - “Objetiva internalizar nas práticas produtivas (em última instância, no preço dos produtos e
serviços) os custos ecológicos, evitando-se que os mesmos sejam suportados de modo
indiscriminado (e, portanto, injusto) por toda a sociedade” (SARLET & FENSTERSEIFER).
III - “Incentiva economicamente quem protege uma área, deixando de utilizar seus recursos,
estimulando assim a preservação” (RIBEIRO).
IV - “...apesar de não se encontrar, com nome e sobrenome, consagrado na nossa Constituição,
nem em normas infraconstitucionais, e não obstante sua relativa imprecisão - compreensível em
institutos de formulação recente e ainda em pleno processo de consolidação -, transformou-se
em princípio geral de Direito Ambiental, a ser invocado na avaliação da legitimidade de
iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de tutela legal do meio ambiente”
(BENJAMIN).
V - “visa proteger a quantidade dos bens ambientais, estabelecendo uma consciência ambiental
de uso racional dos mesmos, permitindo uma socialização justa e igualitária de seu uso”
(RODRIGUES).

Na sequência, faça a devida identificação do princípio explicitado em cada doutrina.


A) Prevenção, usuário-pagador, subsidiariedade, equidade intergeracional e poluidor-pagador.
B) Usuário-pagador, protetor-recebedor, cooperação, vedação de retrocesso ambiental e
sustentabilidade.
C) Precaução, usuário-pagador, protetor-recebedor, desenvolvimento sustentável e equidade
intergeracional.
D) Precaução, poluidor-pagador, protetor-recebedor, vedação de retrocesso ambiental e
usuário-pagador.
E) Precaução, poluidor-pagador, intervenção estatal obrigatória, vedação de retrocesso
ambiental.

Comentário:

Letra D

 A alternativa correta é a letra D:


Precaução: guarda relação com dever de cautela quando uma atividade for de
grande risco para o meio ambiente.

60
Poluidor pagador: guarda relação com atividade ambiental degradadora ao meio
ambiente.
Protetor recebedor: guarda relação com o incentivo a atividades sustentáveis e
desenvolvimento sustentável com a utilização de matérias primas e tecnologias
verdes.
Vedação de retrocesso ambiental: guarda relação com a proteção ambiental
adquirida na legislação que não pode ser suprimida posteriormente.
Usuário pagador: guarda relação com os custos sociais pagos pela utilização dos
recursos naturais de forma consciente.

Questão 5

(FCC – PROCURADOR - 2010) Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), estabelecida pela
Lei Federal n. 6.938/81, NÃO

A) adota instrumentos econômicos, como a concessão florestal, a servidão ambiental, o seguro


ambiental, entre outros.
B) tem por objetivo geral a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.
C) define que poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, apenas
diretamente responsável por atividade causadora de degradação ambiental.
D) define poluição como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que,
direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem
condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota;
afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
E) adota instrumentos de comando e controle como, por exemplo, a avaliação de impacto
ambiental, o zoneamento e o licenciamento.

Comentário:

61
Letra C

 A alternativa correta é a letra C: O erro está na expressão “apenas diretamente”,


quando, na verdade, o art. 3º, IV, da Lei n. 6.938/81 deixa claro que também é
poluidor aquele indiretamente responsável por atividade causadora de degradação
ambiental.

Questão 6

(CESPE – JUIZ SUBSTITUTO - 2011) Com relação ao conceito de meio ambiente e dano
ambiental, assinale a opção correta.

A) Conforme o Protocolo de Cartagena, dano ambiental é o prejuízo causado ao ambiente, que


é definido, segundo o referido acordo, como conjunto dinâmico e interativo que compreende a
cultura, a natureza e as construções humanas.
B) Dano ambiental é todo impacto causado ao ambiente, que é caracterizado como o conjunto
de elementos bióticos e abióticos que interagem e mutuamente influenciam a dinâmica dos
sistemas autopoiéticos.
C) Meio ambiente é definido como o conjunto de interações, condições, leis e influências físicas
e bioquímicas que origina e mantém a vida em todas as suas formas, e dano ambiental, como
o prejuízo transgeracional, de acordo com a PNMA.
D) A definição legal de meio ambiente encontra-se no próprio texto constitucional, que se refere
ao ambiente cultural, natural, artificial e do trabalho; o conceito legal de dano ambiental,
fundado na teoria do risco, materializa-se no conceito de ecocídio: sendo o direito ao ambiente
ecologicamente equilibrado direito fundamental do ser humano, as condutas lesivas ao ambiente
devem ser consideradas crimes contra a humanidade.
E) Meio ambiente é definido como o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; a
definição de dano ambiental infere-se a partir dos conceitos legais de poluição e degradação.

Comentário:

Letra E

62
 A alternativa correta é a letra E: definição nos termos do art. 3º da lei 6938/81 PNMA.
 A alternativa A está incorreta: a definição não é conforme o protocolo de Cartagena
e sim conforme a PNMA e a Resolução do CONAMA, ademais a segunda parte não
trata do conceito de dano ambiental.
 A alternativa B está incorreta: pois no final da alternativa o texto fala em sistemas
autopoiéticos, e na verdade o correto é ecossistemas.
 A alternativa D está incorreta: a definição de meio ambiente não está no texto
constitucional e sim na PNMA e na Resolução CONAMA como descrito na alternativa
E.
 A alternativa E está errada: a primeira parte da alternativa quanto à definição de
meio ambiente está correta, mas a definição de dano ambiental não está, se
subentende pelo conceito de degradação ambiental, no art. 3º, II da Lei nº
6.938/1981: “a alteração adversa das características do meio ambiente”, dentro dessa
conceituação temos poluição, mas nem toda degradação é por poluição, logo, dano
ambiental não está ligado a poluição somente e sim com a degradação.

Questão 7

(CESPE – PROMOTOR - 2020) Ao avaliar um pedido de autorização do uso de determinado


agrotóxico, o órgão ambiental competente, pautado em estudos científicos, autorizou o uso do
produto. Para decidir, considerou que, no atual estágio do conhecimento científico, inexiste
comprovação de efeitos nocivos à saúde humana decorrentes da exposição ao referido
agrotóxico, conforme parâmetros propostos pela Organização Mundial de Saúde.

Considerando-se que, nessa situação hipotética, o risco de exposição ao agrotóxico possa ser
mensurado, é correto afirmar, com base na jurisprudência do STF, que a decisão do órgão
ambiental está pautada no princípio

A) da precaução.
B) da prevenção.
C) do limite.
D) da equidade.
E) do usuário-pagador.

63
Comentário:

Letra B

 A alternativa correta é a letra B: esse princípio tem por base o estudo científico
prévio para determinada atividade que possa oferecer potencial risco à saúde
humana ou ao meio ambiente, nesse caso o agrotóxico, que teve por base estudos
científico e, portanto, justifica a aplicação do princípio da prevenção.
 A alternativa A está incorreta: pois o princípio da precaução é um dever de cautela
quando determinada atividade possa oferecer riscos ao meio ambiente, mas não há
estudos científicos que comprovem esses riscos, mesmo assim, devem ser mitigados
de alguma forma.
 A alternativa C está incorreta: o princípio do limite trata do dever estatal em zelar
pela efetividade das normas ambientais afim de não comprometer o equilíbrio
ambiental.
 A alternativa D está incorreta: esse princípio guarda relação com a onipresença do
direito ambiental, que não pode ser visto como delimitação geográfica e sim como
um sistema global.
 A alternativa E está errada: esse princípio trata do custo que arcamos pela utilização
dos recursos naturais de forma a não desperdiça-los.

Questão 8

(CESPE – JUIZ SUBISTITUTO - 2019) Uma associação de moradores de um bairro de


determinado município da Federação propôs uma ação civil pública (ACP) em desfavor da
concessionária de energia local, para que seja determinada a redução do campo eletromagnético
em linhas de transmissão de energia elétrica localizadas nas proximidades das residências dos
moradores do bairro, alegando eventuais efeitos nocivos à saúde humana em decorrência desse
campo eletromagnético. Apesar de estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde
afirmarem a inexistência de evidências científicas convincentes que confirmem a relação entre a
exposição humana a valores de campos eletromagnéticos acima dos limites estabelecidos e
efeitos adversos à saúde, a entidade defende que há incertezas científicas sobre a possibilidade
64
de esse serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde humana, o que exige análise
dos riscos.

Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio
ambiental

A) da precaução.
B) da proporcionalidade.
C) da equidade.
D) do poluidor-pagador.
E) do desenvolvimento sustentável.

Comentário:

Letra A

 A alternativa correta é a letra A: pois o princípio da precaução é um dever de cautela


quando determinada atividade possa oferecer riscos ao meio ambiente, mas não há
estudos científicos que comprovem esses riscos, mesmo assim, devem ser mitigados
de alguma forma.
 A alternativa B está incorreta: pois o princípio da proporcionalidade tem por
finalidade precípua equilibrar os direitos individuais com os anseios da sociedade.
 A alternativa C está incorreta: quanto ao princípio da equidade intergeracional, este
estabelece a preservação para as gerações atuais e futuras.
 A alternativa D está incorreta: esse princípio guarda relação com as atividades
econômicas que causem danos ao meio ambiente e que devem de alguma forma
serem responsabilizadas para restaurar o dano ambiental.
 A alternativa E está errada: esse princípio trata de equilibrar o desenvolvimento
econômico e social com a proteção ao meio ambiente, estimulando a
sustentabilidade das atividades para que utilizem suas matérias primas de formas
renováveis.

65
Questão 9

(VUNESP – JUIZ SUBSTITUTO - 2019) Sobre os princípios constitucionais ambientais, é correto


afirmar que

A) o princípio da responsabilização integral envolve o dever do poluidor, pessoa física ou jurídica,


de arcar com as consequências de sua conduta lesiva contra o meio ambiente, tanto na seara
civil e administrativa, quanto na penal.
B) as entidades privadas não estão sujeitas ao princípio da informação no que se relaciona à
matéria ambiental.
C) o princípio da função socioambiental da propriedade possui caráter de dever individual,
estando o direito à propriedade garantido se sua função social for cumprida.
D) o princípio da prevenção implica a adoção de medidas previamente à ocorrência de um dano
concreto, embora ausente a certeza científica, com o fim de evitar a verificação desses danos.

Comentário:

Letra A

 A alternativa correta é a letra A: pois o princípio da responsabilização integral está


ligado à responsabilização tríplice e a responsabilidade objetiva, art. 225, § 3º, da CF,
“as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
 A alternativa B está incorreta: todas as entidades estão sujeitas ao princípio da
informação, tanto públicas como privadas com relação à matéria ambiental.
 A alternativa C está incorreta: esse princípio possui caráter coletivo e não individual.
 A alternativa D está incorreta: O erro da questão é dizer que o princípio da prevenção
implica na adoção de medidas previamente à ocorrência de um dano concreto,
mesmo que ausente a certeza científica. Na verdade, o princípio da PREVENÇÃO
incide naquelas hipóteses em que os riscos são conhecidos e PREVISÍVEIS, gerando
o dever de o Estado exigir do responsável pela atividade a adoção de providências
buscando ou eliminar ou minimizar os danos causados ao meio ambiente.

66
Questão 10

(FMP – PROMOTOR SUBSTITUTO - 2017) Assinale a alternativa CORRETA.

A) Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre proteção
do meio ambiente.
B) Compete privativamente à União legislar sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente.
C) As condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
exclusivamente pessoas físicas, a sanções penais e administrativas.
D) Os Estados poderão legislar sobre proteção do meio ambiente, desde que autorizados por
Lei Complementar.
E) É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios legislar
sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente.

Comentário:

Letra A

 A alternativa correta é a letra A: nos termos do art. 24. da CF: “Compete à União,
aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente (...)”
 A alternativa B está incorreta: a competência é concorrente e não privativa, nos
termos do art. 24. da CF “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico”.
 A alternativa C está incorreta: a responsabilidade objetiva ambiental está relacionada
a todos, pessoas físicas e jurídicas, por responsabilização tríplice.
 A alternativa D está incorreta: não há necessidade de nenhuma legislação tendo em
vista que a constituição assim dispõe: art. 24. da CF “Compete à União, aos Estados
e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VIII - responsabilidade por
dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico”.
67
 A alternativa E está incorreta: não nenhuma menção quanto aos municípios, portanto
sua competência é suplementar somente.

Questão 11

(FCC – JUIZ SUBSTITUTO - 2015) Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum, conforme
regulamentação da Lei Complementar n° 140/2011,

A) garantir o escalonamento de importância dos biomas nacionais.


B) proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo
gestão centralizada, democrática e eficiente.
C) garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente,
observando a dignidade da pessoa humana, a diminuição da pobreza e a redução das
desigualdades sociais e regionais.
D) garantir o caráter plural e não uniforme da política ambiental brasileira.
E) harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre
os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação
administrativa eficiente.

Comentário:

Letra E

 A alternativa correta é a letra E: nos termos do art. 3, III da LC 140/2011: “III -


harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a SOBREPOSIÇÃO de
atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e
garantir uma atuação administrativa eficiente;”
 A alternativa A está incorreta: já que não escalonamento de importância de biomas,
já que tudo faz parte de um sistema integrado e todos são importantes.
 A alternativa B está incorreta: na parte do texto que fala na gestão centralizada, na
verdade é descentralizada, art. 3, I da LC 140/2011.

68
 A alternativa C está incorreta: a única palavra que está errada no texto da alternativa
é erradicação no lugar de diminuição da pobreza. Art. 3, II, da LC 140/2011.
 A alternativa D está incorreta: o texto correto do art. 3, IV da LC 140/2011, fala em
uniformidade da política ambiental, e não em caráter plural e não uniforme.

Questão 12

(FCC – JUIZ SUBSTITUTO - 2015) Determinado Estado da Federação possui uma legislação
sobre flora. A União, após intenso debate legislativo, trouxe em lei federal normas gerais sobre
a mesma matéria tratada na lei estadual. A lei estadual

A) fica revogada no que for contrário à legislação federal superveniente.


B) está automaticamente revogada.
C) pode ser revogada pelo Poder Legislativo Estadual.
D) continua em vigor, mesmo os dispositivos que sejam contrários ao texto da lei federal.
E) fica com a eficácia suspensa no que for contrário à legislação federal superveniente.

Comentário:

Letra E

 A alternativa correta é a letra E: Se após exercida a competência legislativa supletiva


pelo estado ou pelo DF, a União editar a norma geral, ela irá suspender a eficácia
da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária. A lei geral editada pela União
supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva editada pelo estado ou pelo
DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES FEDERATIVOS DISTINTOS!
Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editada a partir da
competência legislativa supletiva não contrarie a norma geral editada
supervenientemente pela União.

Questão 13
69
(TRF 3ºR – JUIZ SUBSTITUTO - 2018) A respeito dos princípios que sustentam o direito
ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que:

A) O princípio do desenvolvimento sustentável envolve a substituição de norma de expansão


quantitativa por uma melhoria qualitativa como caminho para o progresso, trazendo a
integração entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico para o benefício das
presentes e futuras gerações.
B) O princípio usuário-pagador pressupõe uma prática ilícita daquele que utiliza o recurso
ambiental, sendo possível a exigência de pagamento quando houver o cometimento de faltas
ou infrações.
C) O princípio da precaução contido no artigo 225 da Constituição Federal impõe ao Poder
Público a obrigação de controlar atividades de risco quando importarem ameaças de danos
irreversíveis e conhecidos pela ciência, sendo liberada a atividade se não houver prova do
prejuízo.
D) A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente obriga a reparação dos danos causados pelo
poluidor à fauna, à flora e ao meio ambiente, devendo ser demonstrada a culpa em sua conduta,
exceto em caso de prejuízo causado pela atividade nuclear.

Comentário:

Letra A

 A alternativa correta é a letra A: esse princípio busca o progresso econômico e social,


em integração ao uso racional dos recursos naturais, buscando preservar as
necessidades de todas as gerações.
 A alternativa B está incorreta: o princípio do usuário-pagador não pressupõe uma
prática ilícita e sim um custeio do uso dos recursos naturais pelo cidadão para evitar
o desperdício.
 A alternativa C está incorreta: o princípio mencionado está incorreto, esse é o
princípio da prevenção e não precaução.
 A alternativa D está incorreta: conforme já falado na matéria em direito ambiental a
responsabilidade é objetiva e não há necessidade de demonstração de culpa quanto
ao dano ambiental, somente a ligação com o nexo causal da atividade degradadora,
70
portanto, a alternativa está errada, a responsabilidade tríplice é com base na teoria
do risco, maior proteção ambiental visto o dever de todos em proteger o meio
ambiente.

Questão 14

(TJ-PR – JUIZ - 2011) Quanto aos princípios fundamentais do Direito Ambiental, é CORRETO
afirmar que:

I. A afirmação: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o
desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com o
meio ambiente” (princípio 1 – Rio 92), nos leva a reconhecer o princípio da dignidade da pessoa
humana como um dos mais relevantes aplicáveis ao Direito Ambiental.

II. O princípio da prevenção caracteriza-se pela ausência de absoluta certeza científica acerca do
dano ambiental causado por determinado empreendimento.

III. O caráter intergeracional do Direito Ambiental pode ser reconhecido no princípio do


desenvolvimento sustentável insculpido no caput do artigo 225, in fine da Constituição Federal.

A) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.


B) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
C) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
D) Todas as afirmativas são verdadeiras.

Comentário:

Letra C

A alternativa correta é a letra C: a única afirmativa que está errada é a II, já que se trata do
princípio da precaução a falta de certeza científica e não o da prevenção.

71
Questão 15

(Fundação CEFETBAHIA– PROMOTOR SUSBTITUTO - 2018) No que tange à temática


ambiental (competência ambiental), marque a alternativa correta:

A) A União detém competência privativa para legislar sobre jazidas, minas, caça, pesca e
atividades nucleares de qualquer natureza, nos termos da Carta Magna.
B) As normas gerais no âmbito da competência concorrente são atribuídas à União.
C) Compete exclusivamente à União legislar acerca da responsabilidade por dano ao meio
ambiente.
D) No âmbito da legislação concorrente, os estados não podem legislar sobre matéria ainda não
tratada pela União.
E) Mesmo que exista atuação normativa geral por parte da União, o estado-membro pode tratar,
em caráter pleno, das normas gerais.

Comentário:

Letra B

 A alternativa correta é a letra B: As normas gerais no âmbito da competência


concorrente são atribuídas à União (art. 24, § 1, CF).
 A alternativa A está incorreta: Competência privativa da União para legislar sobre
jazidas e minas (art. 22, XII, CF) e atividades nucleares (art. 22, XXVI); e competência
concorrente entre União, Estados e DF para legislar sobre caça e pesca (art. 24, VI,
CF).
 A alternativa C está incorreta: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente (art.
24, VII, CF).
 A alternativa D está incorreta: No âmbito da legislação concorrente, inexistindo lei
federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades (art. 24, § 3, CF).

72
 A alternativa E está incorreta: Mesmo que exista atuação normativa geral por parte
da União, o estado-membro pode tratar, em caráter suplementar, das normas gerais
(art. 24, §2º, CF).

GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - A

Questão 3 - D

Questão 4 - D

Questão 5 - C

Questão 6 - E

Questão 7 - B

73
Questão 8 - A

Questão 9 - A

Questão 10 – A

Questão 11 – E

Questão 12 – E

Questão 13 – A

Questão 14 – C

Questão 15 – B

QUESTÃO DESAFIO

Quais são as diferenças entre o Princípio da Prevenção e da


Precaução?

Responda em até 5 linhas

74
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

O princípio da prevenção visa a inibir o dano potencial sempre indesejável, e o princípio da


precaução visa a impedir o risco de perigo abstrato. Outra diferença substancial entre os dois é que
o princípio da prevenção está calcado em uma certeza científica que determinada atividade causará

danos.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Prevenção, inibir dano potencial indesejável

De acordo com WEDY (WEDY, Gabriel. Precaução no Direito Ambiental não quer dizer o
mesmo que prevenção. Consultor Jurídico. 2014. Disponível em: <

https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-direito-ambiental-nao-
prevencao > Acesso em: 09/10/2020.), a distinção entre o princípio da precaução e prevenção,

todavia, deve avançar das distinções semânticas e linguísticas para o campo da prática e da
efetividade. A diferenciação inicia pelo fato de que o princípio da precaução, quando aplicado,
trata-se de uma medida para evitar o mero risco, e o princípio da prevenção é aplicado para

evitar diretamente o dano. O risco pode ser entendido como a possibilidade de ocorrência de
uma situação de perigo. Já o perigo nada mais é do que a possibilidade de ocorrência de dano.

O princípio da Prevenção, implicitamente consagrado no artigo 225, da Constituição

Federal e presente em resoluções do CONAMA (a exemplo da Resolução CONAMA 306/2002,


que disciplina os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias

ambientais), dentre outros diplomas.

Diante disso, vejamos o que diz o aparato Constitucional:

ART. 225, CF – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

 Precaução, impedir risco de perigo abstrato.

75
Segundo Frederico Amado (Sinopses para Concursos - v.30 - Direito Ambiental / Frederico

Amado - Salvador: Editora JusPodivm, 2020 pág. 55), sobre o princípio da Prevenção, já se tem
base científica para prever os impactos ambientais negativos decorrentes de determinada

atividade lesiva ao meio ambiente, devendo-se impor ao empreendedor condicionantes no


licenciamento ambiental para mitigar ou elidir os prejuízos. Precaução, se determinado

empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou irreversíveis, contudo, inexiste certeza
científica quanto aos efetivos danos e a sua extensão, mas há base científica razoável fundada

em juízo de probabilidade não remoto da sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser
compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a
população.

De origem alemã, não tem previsão literal na Constituição, mas pode-se afirmar que
foi implicitamente consagrado no seu artigo 225, conforme reconhecido pelo Ministro Carlos
Britto, no julgamento da ACO 876 MC-AGR, pelo STF.

Diante disso, vejamos:

EMENTA Agravo regimental. Medida liminar indeferida. Ação civil originária. Projeto de
Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Periculum in mora não evidenciado. 1. Como assentado na decisão agravada, a Ordem
dos Advogados do Brasil - Seção da Bahia, AATR - Associação de Advogados de
Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia, GAMBA - Grupo Ambientalista da Bahia, IAMBA
- Instituto de Ação Ambiental da Bahia, Associação Movimento Paulo Jackson - Ética,
Justiça e Cidadania, PANGEA - Centro de Estudos Socioambientais e da AEABA - Associação
dos Engenheiros Agrônomos da Bahia, não detêm legitimidade ativa para a ação prevista
no art. 102, I, "f", da Constituição Federal. 2. A Licença de Instalação levou em conta o fato
de que as condicionantes para a Licença Prévia estão sendo cumpridas, tendo o IBAMA
apresentado programas e planos relevantes para o sucesso da obra, dos quais resultaram
novas condicionantes para a validade da referida Licença de Instalação. A correta execução
do projeto depende, primordialmente, da efetiva fiscalização e empenho do Estado para
proteger o meio ambiente e as sociedades próximas. 3. Havendo, tão-somente, a
construção de canal passando dentro de terra indígena, sem evidência maior de que
recursos naturais hídricos serão utilizados, não há necessidade da autorização do
Congresso Nacional. 4. O meio ambiente não é incompatível com projetos de
desenvolvimento econômico e social que cuidem de preservá-lo como patrimônio da
humanidade. Com isso, pode-se afirmar que o meio ambiente pode ser palco para a
promoção do homem todo e de todos os homens. 5. Se não é possível considerar o

76
projeto como inviável do ponto de vista ambiental, ausente nesta fase processual qualquer
violação de norma constitucional ou legal, potente para o deferimento da cautela
pretendida, a opção por esse projeto escapa inteiramente do âmbito desta Suprema Corte.
Dizer sim ou não à transposição não compete ao Juiz, que se limita a examinar os aspectos
normativos, no caso, para proteger o meio ambiente. 6. Agravos regimentais desprovidos.
(ACO 876 MC-AgR/BA, rel. Min. Menezes Direito, 19.12.2007. (ACO-876)

77
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Conceitos Gerais de Direito Ambiental

 Constituição Federal/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XXIII, §2º, 21º, 22º, I, 23º, 24º, VI, VII, XVI,
25º, §§1º, 2º e 3º, 30º, I, II, 37º, 170º, II, III, VI, VII,182º, 183º, 200º, VIII, 216º, V, e 225º.
Bases constitucionais importantes para definição de princípios, objetivos, conceitos,
proteção e deveres em direito ambiental.
 PNMA Lei nº 6.938/81: art. 2º, 3º, I, III, V, IV e 4º.
Esses artigos são muito importantes para a definição de conceitos.
 Código Florestal Lei nº 12.651/2012: art. 1-A, parágrafo único, VI, 41, I, II e III.
Esses artigos são importantes para compreensão e proteção do objetivo do
desenvolvimento sustentável.
 PNRS Lei nº 12.305/2010: art. 4º, art. 6º, I, II e IV.
Esses artigos mencionam princípios de direito ambiental.
 Lei nº 10.650/2003: art. 2º, 4º.
Esses artigos dispõe quanto ao princípio da informação.
 LC 140/2011
Essa lei dispõe quanto a cooperação dos entes federativos e é muito cobrada em seu
conteúdo todo, importante à leitura com atenção.
 Lei nº7347/85: art. 1º
Esse artigo dispõe quanto ao direito a Ação Popular.
 CDC Lei nº 8.078/90: art. 81, parágrafo único, I e II
Esse artigo defini a defesa dos direitos difusos.
 CC Lei nº 10.406/2002: art. 99, I, II e III, parágrafo único; 100, 101, 102 e 103, 1.228,
§1º
Esses artigos definem bens públicos.
 Resolução Conama 306/2012: art. 2, XII:
XII - Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem
física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas.

78
 Declaração Rio 92: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-
content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf
Leitura importante para compreensão dos princípios de direito ambiental.

 Declaração de Estocolmo: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-


Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-humano.html
Leitura importante para compreensão dos princípios de direito ambiental.

JURISPRUDÊNCIA

79
 STF, Tribunal Pleno, ADI 3336, Rel. Min. Dias Toffoli, jul. 14/02/2020

Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 4.247, de 16 de dezembro de 2003, do Estado do Rio de Janeiro, a
qual dispõe sobre a cobrança pela utilização dos recursos hídricos de domínio do Estado e organiza o sistema
administrativo de gestão e execução da referida atividade. Conhecimento parcial da ação direta, a qual, quanto à
parte de que se conhece, é julgada improcedente. 1. Pertinência temática e legitimidade ativa da requerente.
Relação de pertinência temática entre o objeto da ação e as finalidades institucionais perseguidas pela entidade
sindical autora, na medida que o vício da legislação, se existente, atingiria necessariamente o setor econômico
representado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), já que os industriais figuram como sujeitos passivos
da cobrança pelo uso da água, insumo utilizado em sua atividade produtiva. 2. Existência de conflito de índole
constitucional. A apreciação da compatibilidade entre a legislação geral federal e as normas estaduais editadas
sob o pálio da competência concorrente reflete nítida situação de conflito legislativo de índole constitucional,
ensejando a análise eventual ofensa direta às regras constitucionais de repartição da competência legislativa.
3. Prejudicialidade parcial da ação. Tendo em vista a alteração substancial realizada pela Lei estadual nº 5.234/08,
resta prejudicada a ação no tocante aos arts. 11, incisos I, III, IV e V; e 24 da Lei nº 4.247, de 2003. 4. Política de
cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos e suposta violação
da lei geral federal. Constitucionalidade dos arts. 1º, 3º, 5º, 7º, 11, II, 18, da Lei fluminense nº 4.247/03. Embora a
União detenha a competência exclusiva para “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos
e definir critérios de outorga de direitos de seu uso” (art. 21, XIX, da CF/88), além de competência privativa
para legislar sobre águas (art. 22, IV, da CF/88), não se há de olvidar que aos estados-membros compete, de
forma concorrente, legislar sobre proteção ao meio ambiente (art. 24, VI e VIII, CF), o que inclui,
evidentemente, a proteção dos recursos hídricos. Esse entendimento mostra-se consentâneo, inclusive, com a
previsão constitucional que defere aos estados-membros o domínio das águas superficiais ou subterrâneas.
A legislação impugnada está em conformidade com a Constituição Federal, na medida em que regulamentou, em
nível estadual, a cobrança pelo uso da água, sem incorrer em violação do texto constitucional ou em invasão de
competência legislativa própria da União. Embora a União detenha a competência para definir as normas gerais
sobre a utilização dos recursos hídricos e a Lei Federal nº 9.433/97 tenha estabelecido o arcabouço institucional da
Política Nacional de Recursos Hídricos, o arranjo institucional e as competências dos órgãos estaduais integrantes
do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos deve obedecer aos ditames das leis estaduais, pois os
estados-membros têm autonomia constitucional para formular suas leis de organização administrativa, inclusive
para o setor de recursos hídricos. Pela análise da Lei Federal nº 9.433/97, verifica-se que essa não detalha – como
não poderia fazer, sob pena de extrapolar a competência legislativa da União para editar normas gerais - as
competências dos órgãos estaduais responsáveis pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. O
Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI), em consonância com as competências definidas pela Lei Federal
nº 9.433/97 para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (art. 35), possui atribuições de natureza normativa,
consultiva e deliberativa (arts. 44 e 45 da Lei estadual nº 3.239/99), o que não impede que os estados-membros

80
disponham de um órgão específico responsável pela gestão e pela execução da política em questão, atuando em
consonância com as normas e as deliberações do conselho, o qual também fará parte do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, a teor do inciso IV do art. 33 da Lei Federal nº 9.433/97. Da mesma forma,
os comitês de bacia hidrográfica, conforme explicita o art. 52 da Lei estadual nº 3.239/99, “são entidades colegiadas,
com atribuições normativa, deliberativa e consultiva, reconhecidos e qualificados por ato do Poder Executivo,
mediante proposta do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI)”, o que está em consonância com as
atribuições definidas na Lei Federal nº 9.433/97. A Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA),
entidade da administração indireta, foi criada para exercer as funções de entidade administrativa executora da
política pública, possuindo atribuições administrativas de arrecadação, cobrança e aplicação dos recursos, a teor
dos arts. 1º e 3º da lei estadual. Por se tratar de órgão técnico, com atribuições executivas, deve atuar de acordo
com as orientações e diretrizes fixadas pelos órgãos colegiados (Conselho Estadual dos Recursos Hídricos e Comitês
de Bacia Hidrográfica). Não há disposição na Lei Federal nº 9.433/97 que atribua aos conselhos estaduais a
competência para conceder as respectivas outorgas, restringindo-se a dispor no art. 14 que “a outorga efetivar-se-
á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal”. 5. A atuação
do órgão de execução prevista nos arts. 22, § 3º, e 23, parágrafo único, da Lei nº 3.239/99, alterados pela Lei nº
4.247/03, é supletiva, somente no caso de ausência de disposição específica no Plano Estadual de Recursos Hídricos
ou do Plano da Bacia Hidrográfica. Trata-se de norma transitória, cuja aplicabilidade tem vez enquanto não for
implementada a totalidade da política estadual de recursos hídricos e constituídos todos os comitês de bacia. Não
fosse a norma de transição, a atividade de outorga - conforme expressa no art. 23, caput, da Lei nº 3.239/99 - e as
concessões de outorga para a geração de energia elétrica (art. 22, § 3º) estariam impedidas, diante da falta de
criação de comitês de bacia e do correspondente plano de bacia hidrográfica. 6. Quanto aos arts. 19 e 20 da Lei
estadual nº 4.247/03, a definição dos aspectos técnicos da cobrança e a determinação das vazões consideradas
insignificantes são matérias fáticas, adstritas à margem de análise técnica do legislador, não havendo como declarar
inconstitucionais esses dispositivos sob o fundamento do princípio da razoabilidade, tendo em vista que configuram
aspecto nitidamente concreto das normas impugnadas. 7. Política de aplicação dos recursos do Fundo Estadual de
Recursos Hídricos. Constitucionalidade dos arts. 10, parágrafo único, parte final; 11, inciso II; e 23, na parte que
altera o art. 49 da Lei nº 3.239/99, todos da Lei nº 4.247/03. A lei estadual priorizou a aplicação dos valores
arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica respectiva, reservando a ela
noventa por cento da arrecadação. Por sua vez, o inciso II do art. 49, na parte que limita o uso dos recursos com
a máquina administrativa e as despesas de pagamento de perícias a dez por cento do total arrecadado está em
consonância com a autonomia financeira de que goza o Estado, em que pese a previsão contida no art. 22, § 1º,
da Lei Federal nº 9.433/97, a qual limita esse tipo de aplicação a sete e meio por cento do arrecadado. Embora
detenha a União a competência para legislar sobre recursos hídricos, a legislação federal deve ficar restrita às
normas gerais, não podendo pormenorizar ao ponto de determinar como os estados-membros devem gerir
seus próprios bens e aplicar seus recursos. 8. Regime de cobrança e de sanções administrativas relativas ao uso
da água. Constitucionalidade dos arts. 15; 16, inciso II; e 17 da Lei estadual nº 4.247/03. Ausência de afronta do

81
princípio da legalidade. Não se tem, no caso, exercício do poder de polícia administrativa a ensejar, em
consequência, a cobrança de taxa (exação de natureza tributária) -, mas sim uma relação de natureza negocial entre
o concedente e o usuário, a qual enseja a cobrança de preço público e a imposição de sanções contratuais
decorrentes do não cumprimento das obrigações impostas no ato de outorga. As disposições da lei fluminense,
além de terem delimitado os elementos essenciais das sanções, deixando para a regulamentação somente questões
secundárias, estão ainda em consonância com a Lei Federal nº 9.433/97. Ademais, a vinculação da multa aos
preceitos da Lei Federal nº 9.605/98 (art. 13, Lei nº 4.247/03) não ofende o princípio da autonomia federativa.
Consistindo a multa, no caso, em sanção contratual decorrente do descumprimento das regras referentes ao ato
de outorga, a legislação estadual estabeleceu somente um parâmetro para a aplicação da sanção pela entidade
governamental competente. No mais, a remissão à previsão contida na lei nacional de sanções penais e
administrativas de condutas lesivas ao meio ambiente não contrasta com a Lei Fundamental, já que a água também
é considerada bem ambiental, cuja tutela geral é estabelecida na legislação federal em comento. 9. Ação direta de
inconstitucionalidade prejudicada em relação aos arts. 11, incisos I, III, IV e V; e 24 da Lei nº 4.247, de 16 de
dezembro de 2003, do Estado do Rio de Janeiro. Quanto à parte de que se conhece, a ação é julgada improcedente.

 STF, Tribunal Pleno, ADPF 109, Rel. Min. Edson Fachin

EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. DIREITO CONSTITUCIONAL. LEI


13.113/2001 E DECRETO 41.788/2002, QUE DISPÕE SOBRE A PROIBIÇÃO DO USO DE MATERIAIS, ELEMENTOS

Mais uma decisão onde podemos notar a posição do STF quanto à prevalência do
federalismo cooperativo entre os entes federados, onde a União detém a competência
privativa de legislar sobre os recursos hídricos de maneira geral, mas não podendo impedir
que o Estado possa legislar de forma complementar e concorrente para proteção do meio
ambiente regional, dentro do que a norma geral dispõe. Fala também do princípio do
usuário-pagador, ao dispor quanto ao custo do uso da água em nível estadual pela
normatização por ele estabelecida, sem ferir a norma geral estabelecida pela União.

CONSTRUTIVOS E EQUIPAMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL CONSTITUÍDOS DE AMIANTO NO MUNICÍPIO DE SÃO


PAULO. EXERCÍCIO LEGÍTIMO DA COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS PARA SUPLEMENTAREM A LEGISLAÇÃO
FEDERAL. ARGUIÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Ante a declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 2º
da Lei 9.055/95, não invade a competência da União prevista nos arts. 24, V, VI e XII, da Constituição da República,
a legislação municipal que, suplementando a lei federal, impõe regra restritiva de comercialização do amianto. 2.

82
Trata-se de competência concorrente atribuída à União, aos Estados e Distrito Federal para legislar sobre
produção, consumo, proteção do meio ambiente e proteção e defesa da saúde, tendo os Municípios
competência para suplementar a legislação federal e estadual no que couber. 3. Espaço constitucional deferido
ao sentido do federalismo cooperativo inaugurado pela Constituição Federal de 1988. É possível que Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios, no exercício da competência que lhes são próprias, legislem com o fito de
expungirem vácuos normativos para atender a interesses que lhe são peculiares, haja vista que à União cabe editar
apenas normas gerais na espécie. 4. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada improcedente,
com a declaração incidental da inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/95.

Uma decisão que trata do tema competência ambiental. Nesse caso, a competência
legislativa do município em poder suplementar normas federais e estaduais nos assuntos
locais. Com base no federalismo cooperativo, esse é o entendimento das Supremas Cortes,
para que não ocorra nenhum caso de lacuna legal, cada ente federado possui autonomia
para legislar sobre os assuntos de sua competência.

 STJ, 2ª Turma, RE 2018/0261005-0, Rel. Min. Herman Benjamin, jul. 10/09/2019

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA. ESTADO DO PARÁ.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. EXISTÊNCIA DO
DANO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS. MAPAS E IMAGENS DE SATÉLITE. ART. 405
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. SÚMULA 7 DO STJ. 1. O Tribunal de origem afirma que a jurisprudência
do STJ atribui, sob o influxo da teoria do risco integral, natureza objetiva, ilimitada, solidária, propter rem e
imprescritível à responsabilidade civil ambiental. Nesse sentido: REsp 1.644.195/SC, Relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, DJe 8/5/2017; e AgRg no REsp 1421163/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 17/11/2014. Transcreve precedente da Segunda Turma: "a obrigação civil de reparar o dano ambiental
é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental,

83
ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação ambiental (poluidor, pois)" (REsp
1.251.697/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 17/4/2012). 2. Segundo o acórdão
recorrido, inexiste direito adquirido à degradação. O novo proprietário assume o ônus de manter a integridade
do ecossistema protegido, tornando-se responsável pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para
o desmatamento ou destruição. Precedentes do STJ. 3. Quanto aos documentos apontados no recurso, forçoso
concluir que analisar as questões trazidas pela parte recorrente implica o revolvimento do conteúdo fático-
probatório dos autos, o que é vedado nesta estreita via, até a incidência da Súmula 7 do STJ: "A pretensão de
simples reexame de prova não enseja recurso especial." 4. Acrescente-se que, consoante o art. 405 do CPC/2015,
laudo, vistoria, relatório técnico, auto de infração, certidão, fotografia, vídeo, mapa, imagem de satélite, declaração
e outros atos elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção (relativa) de legalidade,
legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral de documento público. Tal qualidade jurídica
inverte o ônus da prova, sem impedir, por óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento
público ambiental, sobretudo auto de infração, não pode ser desconstituído por prova judicial inconclusiva, dúbia,
hesitante ou vaga, mais ainda quando realizada muito tempo após a ocorrência do comportamento de degradação
do meio ambiente. 5. Em época de grandes avanços tecnológicos, configuraria despropósito ou formalismo
supérfluo negar validade plena a imagens de satélite e mapas elaborados a partir delas. Ou, em casos de
desmatamento apontados por essas ferramentas altamente confiáveis, exigir a realização de prova
testemunhal ou pericial para corroborar a degradação ambiental. 6. Recurso Especial parcialmente conhecido e,
nessa parte, não provido.

Uma decisão muito importante para conceitos de poluidor, dano ambiental, e


responsabilidade objetiva ambiental. Nesse caso, podemos identificar que não importa
quem causou o dano, o simples nexo causal dele com a propriedade liga o atual proprietário
a essa reparação independente de culpa, ocorrendo a degradação ambiental, há o dever de
reparar.

 STF, Tribunal Pleno. ADI3540/MC-DF, Rel. Min. Celso de Mello, jul. 01/09/2005

MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) - PRERROGATIVA
QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE
NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR
QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS
INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) -
ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO

84
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE -
POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU
PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO
A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES
ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS
RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES)
DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO
NÃO REFERENDADA - CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE
À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se
de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano
(RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar,
em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual
(RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se
instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de
solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral.
Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS
DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não
pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente
econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que
a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF,
art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para
que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável
comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves
danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO
DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO
MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO
DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do
desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte
legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do
justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição

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inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas
alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art.
225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das
atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias
e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora
propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. -
Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos
qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio
da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na
estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a
execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde
que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico
de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).

Essa decisão demonstra como o Direito Ambiental é visto, frente às Cortes Superiores
quanto a ser um direito de 3ª geração, coletivo, transindividual, irrenunciável. Fala
também do princípio da sustentabilidade que relaciona o desenvolvimento econômico com
a proteção ao meio ambiente. Nos traz o conceito de meio ambiente como natural, cultural,
artificial e laboral. Essa decisão é muito conceitual e nos mostra como o STF se posiciona
quanto a esses temas. De forma protetiva aplica esses institutos legais e doutrinários para
proteger o meio ambiente e possibilitar um desenvolvimento sustentável, com base no
ordenamento constitucional e infraconstitucional.

 STJ, 1ªTurma. AgInt no TP 2476 / RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, jul. 01/09/2020

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA TUTELA PROVISÓRIA. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. CONSTITUCIONAL. AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRACAUTELA. TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA. ART. 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REQUISITOS. PRESENÇA. DIREITO AO MEIO AMBIENTE

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ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. FUMUS BONI JURIS. INTERESSE DIFUSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E
PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO. SÚMULA N. 618/STJ. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA NA
ORIGEM. REVISÃO. SÚMULA N. 7/STJ. PERICULUM IN MORA EM FAVOR DA PROTEÇÃO AMBIENTAL. ARGUMENTOS
INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - A concessão de tutela provisória de urgência
é cabível no âmbito deste Tribunal Superior para atribuir efeito suspensivo ou antecipar a tutela em recursos ou
ações originárias de sua competência, devendo haver a satisfação simultânea dos requisitos da verossimilhança das
alegações e do perigo de lesão grave e de difícil reparação ao direito da parte, bem como para concessão de efeito
suspensivo a recurso especial interposto. III - O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, insculpido no caput do art. 225 da Constituição da República, é interesse difuso, de titularidade
transindividual, emergindo, nesse cenário, os princípios da precaução e da prevenção, os quais impõem a
priorização de medidas que previnam danos à vulnerável biota planetária, bem como a garantia contra perigos
latentes, ainda não identificados pela ciência. IV - Consoante o teor da Súmula n. 618/STJ, em homenagem
ao princípio da precaução, impõe-se a inversão do ônus da prova nas ações civis ambientais, de modo a
atribuir ao empreendedor a prova de que o meio ambiente permanece hígido, mesmo com o desenvolvimento
de sua atividade. Na espécie, não se extrai dos autos nenhuma comprovação, pelo Agravante, de que sua atividade
não causaria a degradação apontada na ação civil pública, constatando-se, na verdade, a iminente ameaça de
severos danos ambientais, bem como à saúde pública de um sem-número de pessoas, mormente pelo risco
concreto de contaminação do rio Paraíba do Sul. V - Rever o entendimento da Corte de origem, pela concessão
de medida liminar pleiteada pelo Parquet, demandaria necessário revolvimento de matéria fática, inviável em sede
de recurso especial, à luz do óbice contido na Súmula n. 07 desta Corte, circunstância que revela a presença do
fumus boni iuris necessário ao deferimento da tutela de urgência ora pleiteada. VII - Ainda à luz dos princípios
da precaução e da prevenção, é forçoso concluir que, no bojo do exame de medidas de urgência em matéria
ambiental, o periculum in mora milita em favor da proteção do meio ambiente, não sendo possível a adoção
de outra solução, senão o imediato resguardo da pessoa humana e do meio ambiente, mormente em quadros
fáticos críticos como o presente. VIII - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão
recorrida. IX - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil de
2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração
da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
V - Agravo Interno improvido.

87
Nessa decisão os princípios da precaução e da prevenção são citados, já que se trata de
uma atividade que pode gerar grande dano ambiental social e natural no local, e não há
estudos nem provas nos autos que provem o contrário, o que, portanto, leva a aplicação
dos princípios, dado que é de fácil constatação que haverá um grande impacto ambiental
com a atividade. Assim, para proteção da vida humana e do equilíbrio ecológico como
direito fundamental previsto em nossa Constituição, o pleito não é deferido nesse caso, pelo
dever de cautela ao meio ambiente.

 STJ, REsp 1612887 / PR, Rel. Min. Nancy Andrigui, jul. 28/04/2020 INFO 671

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E AMBIENTAL.RESPONSABILIDADE CIVIL. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DANO AMBIENTAL. TEORIA DO
RISCO INTEGRAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR. EXONERAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. NEXO CAUSAL.
ROMPIMENTO. ALEGAÇÃO.IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 211/STJ. MATA
ATLÂNTICA. VEGETAÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA. GRAUS MÉDIO E AVANÇADO DE REGENERAÇÃO. DEFINIÇÃO.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 2 DE MARÇO DE 1994.OFENSA REFLEXA. DESCABIMENTO. INTERESSE SOCIAL E
UTILIDADE PÚBLICA.REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ. VALOR DA INDENIZAÇÃO.DEFICIÊNCIA DA
FUNDAMENTAÇÃO RECURSAL. SÚMULA 284/STF.1. Ação civil pública por meio da qual se requer a indenização de
dano ambiental decorrente do corte indevido de vegetação para a instalação de um posto de combustíveis em
área de Mata Atlântica e a proibição da concessão de licenças ambientais em condições semelhantes.2. Recurso
especial interposto em: 28/09/2015; conclusos ao gabinete em: 1º/07/2019; aplicação do CPC/73.3. O propósito
recursal é determinar se: a) persistiu a negativa de prestação jurisdicional, por ter o Tribunal de origem se omitido
de examinar a tese de interrupção do nexo de causalidade; b) nos danos ambientais, é possível arguir causas de
exoneração da responsabilidade; c) as licenças ambientais foram concedidas de acordo com as normas pertinentes;
d) havia utilidade pública ou interesse social que autorizassem a supressão de vegetação da Mata Atlântica; e e) se
o valor da multa/reparação foi fixado de modo exorbitante.4. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC/73, rejeitam-
se os embargos de declaração.5. A exoneração da responsabilidade pela interrupção do nexo causal é admitida
na responsabilidade subjetiva e em algumas teorias do risco, que regem a responsabilidade objetiva, mas não
pode ser alegada quando se tratar de dano subordinado à teoria do risco integral.6. Os danos ambientais são
regidos pela teoria do risco integral, colocando-se aquele que explora a atividade econômica na posição de
garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à
atividade, descabendo questionar sobre a exclusão da responsabilidade pelo suposto rompimento do nexo
causal (fato exclusivo de terceiro ou força maior). Precedentes.7. Na hipótese concreta, mesmo que se considere
que a instalação do posto de combustíveis somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença

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ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade da recorrente, que gera o risco concretizado no
dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.8.
A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados, não obstante a interposição de
embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial, mas não prejudica o questionamento
posterior do direito de regresso da recorrente em face dos demais responsáveis, com fundamento no art.934 do
CC/02.9. A interposição de recurso especial não é cabível quando a violação apontada pelo recorrente se refira a
norma que não se enquadre no conceito de lei federal do art. 105, I, a, da CF/88, o que ocorre na espécie, em que
os conceitos de "vegetação primária e secundária" e "estágios avançado, médio e inicial de regeneração" se
encontram disciplinados em Resolução do CONAMA (Res. 2, de 18 de março de 1994).10. O reexame de fatos e
provas em recurso especial é inadmissível.11. A ausência de fundamentação ou a sua deficiência importa no não
conhecimento do recurso quanto ao tema.12. Recurso especial PARCIALMENTE CONHECIDO e, no ponto,
DESPROVIDO.

Essa decisão é um informativo do STJ, ou seja, de muita repercussão e muito importante


para sua prova.
Podemos identificar a aplicação de vários princípios, como o da responsabilidade objetiva
ambiental, teoria do risco quanto à atividade econômica, do poluidor-pagador, visto que
ocorreu um dano ambiental, comprovado o nexo causal, e da responsabilidade tríplice de
reparação. Portanto, vale a leitura, pois esse caso pode estar em sua prova!

 STF, ADI 5592 Tribunal Pleno. Rel. Min. Cármen Lúcia, jul. 11/09/2019 INFO 936

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. MEDIDAS DE CONTENÇÃO DAS


DOENÇAS CAUSADAS PELO AEDES AEGYPTI. ARTIGO 1º, §3º, INCISO IV DA LEI N. 13.301, DE 27 DE JUNHO DE
2016. PERMISSÃO DA INCORPORAÇÃO DE MECANISMOS DE CONTROLE VETORIAL POR MEIO DE DISPERSÃO POR
AERONAVES MEDIANTE APROVAÇÃO DAS AUTORIDADES SANITÁRIAS E DA COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DA
EFICÁCIA DA MEDIDA. POSSIBILIDADE DE INSUFICIÊNCIA DA PROTEÇÃO À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE. VOTO
MÉDIO. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. ARTIGOS 225, §1º, INCISOS V E VII, 6º E 196 DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INAFASTABILIDADE DA APROVAÇÃO PRÉVIA DA AUTORIDADE SANITÁRIA E DA
AUTORIDADE AMBIENTAL COMPETENTE. ATENDIMENTO ÀS PREVISÕES CONSTITUCIONAIS DO DIREITO À SAÚDE,
AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO E AOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL
DA AÇÃO. 1. Apesar de submeter a incorporação do mecanismo de dispersão de substâncias químicas por
aeronaves para combate ao mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chikungunya e do vírus da zika à

89
autorização da autoridade sanitária e à comprovação de eficácia da prática no combate ao mosquito, o legislador
assumiu a positivação do instrumento sem a realização prévia de estudos em obediência ao princípio da precaução,
o que pode levar à violação à sistemática de proteção ambiental contida no artigo 225 da Constituição Federal.
2. A previsão legal de medida sem a demonstração prévia de sua eficácia e segurança pode violar os princípios
da precaução e da prevenção, se se mostrar insuficiente o instrumento para a integral proteção ao meio
ambiente equilibrado e ao direito de todos à proteção da saúde. 3. O papel do Poder Judiciário em temas
que envolvem a necessidade de consenso mínimo da comunidade científica, a revelar a necessidade de
transferência do lócus da decisão definitiva para o campo técnico, revela-se no reconhecimento de que a lei,
se ausentes os estudos prévios que atestariam a segurança ambiental e sanitária, pode contrariar os
dispositivos constitucionais apontados pela Autora em sua exordial, necessitando, assim, de uma
hermenêutica constitucionalmente adequada, a assegurar a proteção da vida, da saúde e do meio ambiente.
4. Em atendimento aos princípios da precaução e da prevenção, bem como do direito à proteção da saúde,
portanto, confere-se interpretação conforme à Constituição, sem redução de texto, ao disposto no inciso IV
do §3º do artigo 1º da Lei nº 13.301/2016, para fixar o sentido segundo o qual a aprovação das autoridades
sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias
e inafastáveis à incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves, em
atendimento ao disposto nos artigos 225, §1º, incisos V e VII, 6º e 196 da Constituição da República. 5. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente.

Essa decisão é um informativo do STF, ou seja, de muita repercussão e muito importante


para sua prova! Trata do princípio da prevenção e da precaução como importantes
instrumentos para frear atividades de impacto ambiental e social, visto que a vida é um
direito fundamental constitucional e dever de proteção ao poder público que não pode
autorizar sem prévio estudo atividades que possam causar dano à saúde e ao meio
ambiente.

90
DOUTRINA

1. Conceito de Meio Ambiente

Abordamos esse assunto com base nas doutrinas e jurisprudências mais cobradas nas
provas de concursos para carreiras públicas. Visto que a doutrina é muito importante nessa

parte conceitual, vamos ressaltar aqui os doutrinadores mais citados em questões, para que o
candidato tenha uma melhor referência dessas visões conceituais e possa se familiarizar com

esses posicionamentos:

 ÉDIS MILARÉ: “complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades


humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua
dimensão global, visando a sua sustentabilidade para as futuras gerações”.

 MARIA LUIZA MACHADO GRANZIERA: “constitui o conjunto de regras jurídicas de direito


público que norteiam as atividades humanas, ora impondo limites, ora induzindo
comportamentos por meio de instrumentos econômicos, com o objetivo de garantir que
essas atividades não causem danos ao meio ambiente, impondo-se a responsabilização e
as consequentes sanções aos transgressores dessas normas”.

 PAULO AFFONSO LEME MACHADO: “O Direito Ambiental é um Direito sistematizador,


que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos
elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais
e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um Direito das Águas, um
Direito da Atmosfera, um Direito do Solo, um Direito Florestal, um Direito da Fauna ou
um Direito da Biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria tem de
específico, mas busca interligar estes temas com a argamassa da identidade dos
instrumentos jurídicos de prevenção e reparação, de informação, de monitoramento e de
participação”.

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 PAULO BESSA ANTUNES: “O Direito Ambiental pode ser definido como um direito que se
desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio
ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente”.

 FREDERICO AMADO: “O Direito Ambiental é o ramo do direito público composto por


princípios e regras que regulamentam as condutas humanas que afetem, potencial ou
efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o
artificial”.

Direito Público
Direito Ambinetal

Regras e Princípios

Limita a atividade humana

Integração do ser humano


com a natureza

Desenvolvimento
sustentável

Direito difuso

2. Ética Ambiental

Abordamos esse assunto com ênfase na ética ecocentrista, pois foi quando houve a
grande mudança de visão quanto à moral anteriormente antropocentrista, e que hoje é adotada

para a tutela do Direito Ambiental.

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Vamos abordar um pouco das éticas doutrinárias ambientais para que o candidato tenha

um conhecimento, caso alguma questão possa abordar esse assunto de forma conjunta ao
entendimento majoritário.

A ética antropocentrista parte de uma visão onde o meio ambiente é apenas um meio

para que o homem possa retirar os recursos naturais necessários para sua sobrevivência e
desenvolvimento. Todas as normas visam o homem como destinatário e o meio ambiente como

fornecedor de matéria-prima.

Apesar da evolução holística que temos hoje, com uma mitigação desse pensamento,
vale lembrar que ainda é de entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência que

esse pensamento antropocentrista prevalece na norma jurídica do art. 225 da CF, visto que
temos uma forma mitigada dessa visão, que antes era muito radical, mas que agora visa

proteger a natureza para proteção da vida humana!

A doutrina também aborda a ética do biocentrismo, na qual o homem e os demais seres


vivos devem ser vistos de forma integrada, mas não reconhece os seres não vivos como

tutelados desse direito. Entende o valor dos demais seres vivos, bem como, os direitos humanos
e que não são simples partes integrantes da natureza e, sim, dignos de direitos e proteção.

Embora no Brasil não se adote essa visão, os animais e as demais formas de vida dos nossos
ecossistemas já têm sua proteção positivada no sistema jurídico.

De outra banda, adotamos a evolução para o ecocentrismo que, como visto, adota a

proteção e preservação dos seres vivos e não vivos, bióticos e abióticos, e o homem também
é visto como mais um ser vivo parte desse sistema. Mas não se esqueça que ainda prevalece
na norma brasileira o antropocentrismo mitigado!

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MATTHES, Rafael Antonietti. Manual de Direito Ambiental. 1ª ed. São Paulo – Rideel, 2020.

ABELHA, Marcelo Abelha Rodrigues. Direito Ambiental Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.

SIRVINSKAS, Paulo. Manual de Direito Ambiental. 16ª ed. São Paulo – Saraiva Jur, 2018.

MILARE, Edis Milaré. Direito do Ambiente. 7ª ed. São Paulo – Revista dos Tribunais, 2011.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podium. 2018.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.

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