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PDF OAB

Direito Ambiental
Capítulos 1 ao 8
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você
não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que
você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua
atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é
escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum,
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF Ad Verum!

Bons estudos 

1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Ambiental da seguinte forma:

RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos
objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda
diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com
base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina!

Sistema Nacional de
Unidades de
Conservação da
Natureza
12%
Política Nacional do
Meio Ambiente
33%

Estudo de
Impacto
Ambiental -
EIA
24%

Ação Civil Pública


12%

Responsabilidade
ambiental
6%

Política Nacional do Meio Ambiente


Ação Civil Pública
Responsabilidade ambiental
Estudo de Impacto Ambiental - EIA
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

2
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Princípios do Direito Ambiental.

Capítulo 2 – Tutela Constitucional do Meio Ambiente e Responsabilidade Ambiental Civil e


Administrativa.

Capítulo 3 – Política Nacional do Meio Ambiente.

Capítulo 4 – Licença Ambiental.

Capítulo 5 – Código Florestal.

Capítulo 6 – Unidades de Conservação da Natureza.

Capítulo 7 – Política Nacional de Recursos Hídricos e Os Recursos Minerais.

Capítulo 8 – Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente e Tutela Penal e Processual Penal do
Meio Ambiente.

3
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL, Capítulo 1 ................................................................................................................................ 6

1. Princípios do Direito Ambiental .......................................................................................................................... 6

1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ................................................................................................................. 6

1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado .................................................................................. 8

1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução...................................................................................................................... 9

1.4 Princípio do Poluidor Pagador ........................................................................................................................................10

1.5 Princípio do Usuário Pagador..........................................................................................................................................12

1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal ...........................................................................................12

1.7 Princípio da Participação Comunitária.........................................................................................................................13

1.8 Princípio da Informação .....................................................................................................................................................13

1.9 Princípio da Educação Ambiental ..................................................................................................................................14

1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade...........................................................................................14

1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos ...................................................................................................................15

1.12 Princípio do Limite................................................................................................................................................................16

1.13 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet Ambiental) ...............................................16

1.14 Princípio do Protetor-Recebedor ...................................................................................................................................16

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 17

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 28

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 32

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 41

4
Olá, futuro advogado! Tudo bem?

Antes de começar o estudo, precisamos fazer algumas considerações a respeito da apostila de


nº 01 do nosso curso, tá?

Em primeiro turno, Princípios do Direito Ambiental não costuma ser cobrado no exame de
ordem!

-Mas professora, por que incluí-lo nas apostilas, então?

Bom, como é de conhecimento geral, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível,
e o nosso objetivo é deixar você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na
prova!

Então, achamos pertinente abranger o máximo de conteúdo possível! 😊

Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior
aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá?

Vamos juntos!

5
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 1

1. Princípios do Direito Ambiental

Apesar de parecer uma matéria interdisciplinar, o Direito Ambiental é dotado de


autonomia científica, obedece a princípios específicos, sem os quais dificilmente seria capaz de
tutelar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Não há consenso na doutrina sobre os
princípios do Direito Ambiental, portanto, vamos elencá-los da forma mais objetiva possível para
os seus estudos, ok?

1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

É um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental. O desenvolvimento


sustentável visa harmonizar o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade
social1. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabelece o seguinte
conceito para desenvolvimento sustentável:

“Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”.

1
Vide questão 8 desse material.
6
Nesse contexto, o princípio quarto da Declaração da Rio 92 aduz que “para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”.

Enquanto isso, o princípio quinto da mesma declaração aduz: “todos os Estados e todos
os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem
cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos
padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo”.

O princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na nossa Constituição Federal,


em seu art. 170, II, III, VI e VII, quando estabelece como princípios da ordem econômica,
respectivamente: a propriedade privada, como um incentivo ao crescimento econômico; a função
social da propriedade, que representa a responsabilidade social; a defesa do meio ambiente; e
a redução das desigualdades regionais e sociais.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...)

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade; (...)

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o


impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais; (...)

Além do art. 170, a Constituição prevê o princípio do desenvolvimento sustentável no


caput do art. 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

7
Alguns doutrinadores afirmam que do fato de a Constituição Federal estabelecer que
cabe ao Poder Público e à coletividade defender e preservar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado para as futuras gerações, surge o princípio da equidade intergeracional, ou
princípio da solidariedade intergeracional.

1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado

A Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972


reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental do
homem – direitos humanos de terceira geração.

Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na
legislação infraconstitucional podemos destacar os artigos 2º e 40 da Lei 6.938/81 que trata da
Política Nacional do Meio Ambiente.

Vale destacar que o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Por isso,
o STJ já decidiu que esse direito essencial deve ser imprescritível.

ACP. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL. Cuida-se, originariamente, de ação civil pública


(ACP) com pedido de reparação dos prejuízos causados pelos ora recorrentes à comunidade
indígena, tendo em vista os danos materiais e morais decorrentes da extração ilegal de madeira

8
indígena. (...) Do ponto de vista do sujeito passivo (causador de eventual dano), a prescrição cria
em seu favor a faculdade de articular (usar da ferramenta) exceção substancial peremptória. A
prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como mecanismo de
segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco
a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito
difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande
amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco
ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do
dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade
hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de
direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente
de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional
em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade
com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo,
indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida,
nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela
imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja
genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o
montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009).

1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução

Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir
sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução,
extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos
visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?2

2
Vide questões 2, 3, 4, 7, 8 e 9 desse material.
9
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
A aplicação do princípio da prevenção ocorre A aplicação do princípio da precaução ocorre
na certeza científica do impacto ambiental da na constatação de potenciais riscos de
atividade. impacto ambiental da atividade, que no
Conhecendo os danos que determinada momento não podem ser cientificamente
atividade causa ao meio ambiente, podemos comprovados. É um dever de cautela.
impor medidas preventivas para minimizar ou
eliminar esses efeitos.

Princípio décimo quinto da Declaração do Rio 92 – “Com o fim de proteger o meio


ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério da precaução de acordo com suas
capacidades. Quando haja perigo de dano grave e irreversível, a falta de certeza científica
absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes
para impedir a degradação do meio ambiente”.

Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de
provar que as ações não são danosas é do acusado interessado3. Mas atenção: a aplicação do
princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena
de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de
risco ambiental.

1.4 Princípio do Poluidor Pagador

O princípio do poluidor pagador, usado como um instrumento econômico de política


ambiental, exige que o poluidor suporte as despesas de prevenção, reparação e repressão dos
seus danos ambientais4.

Aplicando o princípio do poluidor pagador, os custos sociais externos do processo de


produção devem ser internalizados pelo empreendedor da atividade, procurando corrigir o
prejuízo que a sociedade tem com o seu processo produtivo5.

3
Vide questão 7 desse material.
4
Vide questões 1 e 10 desse material.
5
Vide questão 6 desse material.
10
Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva6 do degradador ambiental que,
independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua
atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a atividade
do agente.

Veremos a responsabilidade civil ambiental de forma bem mais aprofundada em capítulo


próprio, mas, desde já, saiba que o degradador ambiental pode responder nas esferas civil,
administrativa e penal, de forma simultânea e independente, pelo menos dano ao meio
ambiente. Portanto, no direito ambiental temos a tríplice responsabilização do degradador,
que materializa o princípio da proteção integral do meio ambiente7.

Especificamente quanto ao princípio do poluidor-pagador, podemos analisá-lo de duas


formas compatíveis e complementares:

 Reparação – o poluidor deve assumir as consequências do dano ambiental que causou.


Nesse aspecto o princípio do poluidor pagador também é chamado de princípio da
reparação ou de princípio da responsabilidade;
 Prevenção – o poluidor deve seguir as políticas públicas e considerar os custos sociais
da degradação ambiental. Trata-se de um incentivo dissuasivo para quem pretende atuar
de forma lesiva ao meio ambiente8.

Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente
equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do
direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao
direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que

6
Vide questões 5, 8 e 10 desse material.
7
Vide questão 4 desse material.
8
Vide questões 9 e 10 desse material.
11
se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à
compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção.

1.5 Princípio do Usuário Pagador

Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar
o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por
eles, mesmo que a sua atividade seja lícita9. É uma forma de evolução e de complementar o
princípio do poluidor pagador.

O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve
ser revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da
ocorrência de efetivo dano ambiental e de qualquer ilicitude no comportamento do usuário.

1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal

Também conhecido como princípio da atuação obrigatória do Estado e como princípio


da natureza pública da proteção ambiental, está previsto no art. 255 da CF/88 que, em seu
caput, estabelece que é um dever do Poder Público (e da coletividade) defender e preservar o
meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

A atuação obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza


indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa humana.

Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito
da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções
administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses
exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a
preservação do meio ambiente.

Para terminar, preste atenção: o dever do Estado de preservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado não atribuído apenas ao Poder Executivo. Por exemplo, cabe ao

9
Vide questão 8 e 9 desse material.
12
Poder Legislativo elaborar leis que visem esse objetivo. Portanto, o dever de intervenção para a
preservação do meio ambiente cabe a todos os Poderes da República, em todas as suas esferas
de atuação.

1.7 Princípio da Participação Comunitária

Também chamado de princípio da participação popular e de princípio democrático,


estabelece, de acordo com o caput do art. 255 da CF, que o cidadão tem o direito (e o dever)
de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente.

Com isso, a sociedade passou a dispor de alguns mecanismos de participação democrática


direta, destacando-se: iniciativa popular de lei, participação em audiência pública, participação
de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de
políticas públicas e possibilidade de propor ação popular.

1.8 Princípio da Informação

O princípio da participação comunitária pressupõe o direito de informação, pois só o


cidadão informado pode atuar de forma eficaz.

Exemplo da aplicação do princípio da informação está disposto no art. 255, IV da CF/88,


que exige a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental. Ademais, você verá ao longo
do curso que todas as normas infraconstitucionais em matéria ambiental privilegiam o princípio
da informação.

Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.

Os dados referentes ao meio ambiente devem ser amplamente divulgados à sociedade


civil, salvo matérias que envolvam segredo industrial ou do Estado. Nesse ponto, vale ressaltar
que, apesar de o artigo acima citado dispor que é obrigação dos órgãos públicos prestar as

13
informações à sociedade, as entidades privadas também estão sujeitas à incidência do princípio
da informação ambiental10, devendo, muitas vezes, elaborar relatórios periódicos.

Claramente as informações relativas ao meio ambiente são de interesse coletivo ou geral,


pois trata-se de um interesse difuso. Portanto, em regra, qualquer pessoa pode ter acesso às
informações que tratam do meio ambiente sem precisar comprovar interesse específico.

Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de
forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a
adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades.

Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja
verdade, ampla, tempestiva e acessível.

1.9 Princípio da Educação Ambiental

A educação ambiental é um instrumento para esclarecer e envolver a sociedade com a


proteção do meio ambiente, possibilitando, assim como o princípio da informação, a
participação ativa do cidadão na democracia.

Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público
o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.

É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação
Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade

De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a
quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade

10
Vide questão 4 desse material.
14
perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da
sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo11.

Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como
titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à
sua tutela.

Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais,
de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos

A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade está prevista como um


dos princípios da República Federativa do Brasil nas relações internacionais pelo art. 4º, IX da
CF/88. Como os danos ambientais podem tomar grandes proporções, atingindo mais de um
país, esse princípio ganha relevância no direito ambiental.

O princípio da cooperação consiste na necessidade de uma troca mútua de


conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de tecnologias para manter
o equilíbrio ambiental.

1.12 Princípio da ubiquidade

Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio
ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar
reflexos em todo o planeta12.

11
Vide questão 4 desse material.
12
Vide questão 9 desse material.
15
1.13 Princípio do Limite

Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste
no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no
âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do
meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível13.

1.14 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet


Ambiental)

Como visto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito


fundamental e, por isso, não é possível recuar quanto às suas garantias já consolidadas no
ordenamento jurídico.

Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente,
ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares.

É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos
direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas
garantias.

1.15 Princípio do Protetor-Recebedor

Esse princípio funciona como um instrumento econômico de proteção ambiental que visa
incentivar as iniciativas para proteção do meio ambiente por meio de recompensas econômicas.
Essas recompensas devem ser custeadas pela pessoa física, jurídica ou pela coletividade que se
beneficia da iniciativa do protetor.

13
Vide questão 9 desse material.
16
QUADRO SINÓTICO

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


Desenvolvimento sustentável é aquele que harmoniza o crescimento
PRINCÍPIO DO
econômico, a preservação ambiental e a equidade social. É o princípio que
DESENVOLVIMENTO
garante as necessidades das gerações presentes e futuras – princípio da
SUSTENTÁVEL
solidariedade intergeracional.
PRINCÍPIO DO MEIO O equilíbrio ecológico é o estado do meio ambiente que garante as condições
AMBIENTE adequadas para a qualidade de vida. Trata-se de um direito fundamental do
ECOLOGICAMENTE homem, pois está ligado intrinsecamente ao direito à vida.
EQUILIBRADO
Apoiado na certeza científica, o princípio da prevenção visa evitar que o dano
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
ambiental seja produzido por meio de medidas preventivas.
Segundo o princípio da precaução, o dano ambiental deve ser evitado, mesmo
que o seu risco não seja comprovado cientificamente. É a garantia contra os
riscos potenciais, pois a ausência de comprovação científica no atual estágio
de conhecimento não pode servir de argumento para negligenciar a proteção
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO do meio ambiente.
Pelo princípio da precaução, a incerteza científica deve ser interpretada a favor
do meio ambiente. Por isso, inverte-se o ônus da prova, cabe ao interessado
demonstrar que a atividade que pretende exercer não é capaz de gerar dano
ambiental.
O poluidor deve suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão
PRINCÍPIO DO POLUIDOR dos danos ambientais. Além de indenizar o dano causado, o poluidor deve
PAGADOR internalizar as externalidades negativas das suas atividades poluidoras, para
evitar a socialização dos prejuízos.
PRINCÍPIO DO USUÁRIO O usuário de recursos naturais deve pagar pela sua utilização, promovendo,
PAGADOR assim, a racionalização do seu uso. Não é uma punição.
O Poder Público tem o dever imposto constitucionalmente e defender e
PRINCÍPIO DA
preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
OBRIGATORIEDADE DA
futuras gerações. Para tanto, deve se valer, por exemplo, de políticas públicas
INTERVENÇÃO ESTATAL
e do seu poder de polícia ambiental.
PRINCÍPIO DA A Constituição Federal também estabelece a coletividade como detentora do
PARTICIPAÇÃO dever de preservar o equilíbrio ecológico ambiental para as presentes e futuras
COMUNITÁRIA gerações. Portanto, é direito do cidadão participar das práticas que visam a

17
proteção ambiental, como as decisões públicas e a fiscalização das suas
execuções.
As informações sobre o meio ambiente devem ser disponibilizadas para todos
os interessados. O direito à informação sobre matéria ambiental é um
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
desdobramento lógico do princípio da participação comunitária, pois o cidadão
só poderá participar se tiver informação.
PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO Incumbe ao Poder Público promover em todos os níveis de ensino a educação
AMBIENTAL ambiental e a conscientização pública para preservar o meio ambiente.
O direito de propriedade está condicionado à observância da sua função social.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que
SOCIOAMBIENTAL DA
tem como titular a coletividade, evidentemente que a função social da
PROPRIEDADE
propriedade está condicionada à sua tutela.
A poluição ambiental não fica limitada apenas a um território, portanto, as
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
nações precisam cooperar entre si para proteger o equilíbrio do meio
ENTRE OS POVOS
ambiente.
Cabe ao Poder Público impor limites, controlar a produção, a comercialização
PRINCÍPIO DO LIMITE e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que gerem risco à vida, à
qualidade de vida e ao meio ambiente.
Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO fundamental, quando conquistadas garantias de proteção ambiental, a
RETROCESSO ECOLÓGICO sociedade não pode retroagir para níveis de proteção inferiores sem que as
circunstâncias fáticas sejam substancialmente alteradas.
PRINCÍPIO DO PROTETOR Segundo o princípio do protetor recebedor, as condutas de proteção ambiental
RECEBEDOR relevantes devem ser compensadas com benefícios econômicos.

18
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) No Direito Ambiental, o dever de


recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados refere-se ao princípio
A) do poluidor-pagador.
B) do desenvolvimento sustentável.
C) do equilíbrio.
D) do limite.
E) da prevenção.

Comentário:

O princípio do poluidor-pagador orienta que o poluidor deve internalizar as despesas de


prevenção, reparação e repressão dos seus danos ambientais, gerando o dever de
recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados, como afirma a
questão. Lembre-se: o princípio do desenvolvimento sustentável busca harmonizar o
crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social; o princípio do
equilíbrio visa defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado, diretamente ligado
à defesa da vida e da dignidade da pessoa humana; o princípio do limite incumbe ao Poder
Público o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e
substâncias que gerem risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente; e o princípio
da prevenção busca aplicar medidas preventivas para evitar qualquer dano ambiental que
seja cientificamente comprovado.

19
Questão 2

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça) O princípio ambiental da prevenção não se


confunde com o princípio ambiental da precaução. O princípio da prevenção se aplica quando
existem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é perigosa, sendo que
têm por objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, por meio da imposição de
medidas acautelatórias antes da implantação de empreendimentos e atividades consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

De fato, os princípios da prevenção e da precaução não se confundem. Ambos procuram


evitar danos ambientais, entretanto, enquanto o princípio da prevenção se aplica quando
há certeza científica de que a atividade é ambientalmente danosa, o princípio da precaução
se aplica quando, apesar de não existir certeza científica, há riscos potenciais da atividade.

Questão 3

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Uma associação de moradores de um bairro de


determinado município da Federação propôs uma ação civil pública (ACP) em desfavor da
concessionária de energia local, para que seja determinada a redução do campo eletromagnético
em linhas de transmissão de energia elétrica localizadas nas proximidades das residências dos
moradores do bairro, alegando eventuais efeitos nocivos à saúde humana em decorrência desse
campo eletromagnético. Apesar de estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde
afirmarem a inexistência de evidências científicas convincentes que confirmem a relação entre a
exposição humana a valores de campos eletromagnéticos acima dos limites estabelecidos e
efeitos adversos à saúde, a entidade defende que há incertezas científicas sobre a possibilidade
de esse serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde humana, o que exige análise
dos riscos.

20
Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio
ambiental
A) da precaução.
B) da proporcionalidade.
C) da equidade.
D) do poluidor-pagador.
E) do desenvolvimento sustentável.

Comentário:

A questão narra uma situação em que não há estudos conclusivos sobre uma determinada
atividade produzir ou não danos ambientais. Pelo princípio da precaução, a falta de certeza
científica milita em favor do meio ambiente, portanto, isso não deve ser um pretexto para
a negligenciar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental.

Questão 4

(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Sobre os princípios constitucionais


ambientais, é correto afirmar que
A) o princípio da responsabilização integral envolve o dever do poluidor, pessoa física ou jurídica,
de arcar com as consequências de sua conduta lesiva contra o meio ambiente, tanto na seara
civil e administrativa, quanto na penal.
B) as entidades privadas não estão sujeitas ao princípio da informação no que se relaciona à
matéria ambiental.
C) o princípio da função socioambiental da propriedade possui caráter de dever individual,
estando o direito à propriedade garantido se sua função social for cumprida.
D) o princípio da prevenção implica a adoção de medidas previamente à ocorrência de um dano
concreto, embora ausente a certeza científica, com o fim de evitar a verificação desses danos.

Comentário:

21
De acordo com o art. 225, §3º da Constituição Federal, as pessoas físicas e jurídicas estão
sujeitas à sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados, quando as suas condutas e atividades forem nocivas ao meio ambiente.
No direito ambiental, portanto, há uma TRIPLA RESPONSABILIZAÇÃO do poluidor. A
alternativa “B” está incorreta porque as entidades privadas também devem observar o
princípio da informação ambiental, pelo qual todo cidadão tem o direito às informações
que julgar necessárias sobre o meio ambiente, pois trata-se de um direito difuso, que
interessa à toda coletividade. A alternativa “C” está incorreta porque o princípio da função
socioambiental da propriedade possui caráter de dever coletivo. A alternativa “D” está
incorreta porque troca o conceito do princípio da prevenção com o do princípio da
precaução.

Questão 5

(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) A responsabilidade civil do poluidor-pagador


A) é de natureza subjetiva.
B) é de natureza objetiva.
C) nunca exige demonstração do dano causado.
D) nunca exige demonstração do nexo causal.

Comentário:

De acordo com o princípio do poluidor-pagador, no direito ambiental, o agente poluidor,


independentemente da existência de culpa, é obrigado a reparar ou indenizar os danos
causados por sua atividade. Portanto, a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Mas,
atenção: a responsabilidade penal e administrativa em matéria ambiental é subjetiva!

22
Questão 6

(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) A internalização do custo ambiental, transformando


a externalidade negativa, ou custo social, num custo privado, visa impedir a socialização do
prejuízo e a privatização dos lucros. Este é o objetivo do princípio
A) do poluidor-pagador.
B) da função social da propriedade.
C) da prevenção.
D) da precaução.
E) da cooperação.

Comentário:

Observe como o princípio do poluidor-pagador é um tema recorrente em provas. O


enunciado da questão definiu o seu objetivo, agora vamos ver os objetivos dos princípios
das outras alternativas: princípio da função social da propriedade – objetiva condicionar o
exercício do direito de propriedade ao cumprimento da sua função social ambiental;
princípio da prevenção – objetiva evitar danos ambientais por meio de medidas preventivas
apoiadas em certezas científicas; princípio da precaução – objetiva evitar potenciais danos
ambientais, que o conhecimento científico atual não comprova, mas também não descarta;
princípio da cooperação – objetiva unir as nações para preservar o meio ambiente, já que
os danos ambientais podem gerar efeitos negativos em todo o planeta.

Questão 7

(IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito do princípio da precaução
em relação ao Direito Ambiental, é correto afirmar que:
A) o ônus da prova sobre a ocorrência do dano ambiental e sua autoria é do autor da ação civil
pública.
B) os riscos são certos e o perigo de dano é concreto.
C) o Poder Público deve comprovar que os riscos existem, e que a pessoa que explora a atividade
foi a causadora do dano.
23
D) ele se confunde com o princípio da prevenção.
E) compete a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou
ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.

Comentário:

A adoção do princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus da prova. Portanto,


cabe ao réu, suposto poluidor, comprovar que não lesou o meio ambiente, conforme
disposto na alternativa “E”. Ademais, como visto, o princípio da precaução se aplica quando
não temos certeza científica quanto à potencialidade poluidora de determinada atividade,
que é o que o diferencia do princípio da prevenção.

Questão 8

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito dos princípios
que sustentam o direito ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que:
A) O princípio do desenvolvimento sustentável envolve a substituição de norma de expansão
quantitativa por uma melhoria qualitativa como caminho para o progresso, trazendo a
integração entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico para o benefício das
presentes e futuras gerações.
B) O princípio usuário-pagador pressupõe uma prática ilícita daquele que utiliza o recurso
ambiental, sendo possível a exigência de pagamento quando houver o cometimento de faltas
ou infrações.
C) O princípio da precaução contido no artigo 225 da Constituição Federal impõe ao Poder
Público a obrigação de controlar atividades de risco quando importarem ameaças de danos
irreversíveis e conhecidos pela ciência, sendo liberada a atividade se não houver prova do
prejuízo.
D) A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente obriga a reparação dos danos causados pelo
poluidor à fauna, à flora e ao meio ambiente, devendo ser demonstrada a culpa em sua conduta,
exceto em caso de prejuízo causado pela atividade nuclear.

24
Comentário:

O desenvolvimento sustentável consiste na harmonização do crescimento econômico com


a preservação do meio ambiente e com a equidade social. O princípio em questão,
relacionado com o princípio da solidariedade intergeracional, visa um progresso de
qualidade para preservar a capacidade de satisfação das necessidades das presentes e
futuras gerações. A alternativa “B” está incorreta porque o princípio do usuário-pagador é
aplicado em práticas lícitas; a alternativa “C” está incorreta porque o princípio da precaução
é aplicado no controle de atividades potencialmente danosas, em que não haja certeza
científica. Ademais, por esse princípio inverte-se o ônus da prova. Portanto, não é possível
liberar a atividade se não houver prova do prejuízo, sendo a dúvida interpretada pro natura;
a alternativa “D” está incorreta porque a obrigação de indenizar ou reparar os danos
ambientais é de responsabilidade objetiva, independentemente da demonstração de culpa
do poluidor. A responsabilidade por dano nuclear citada na alternativa também é objetiva,
entretanto, é fundamentada na teoria do risco integral.

Questão 9

(MPE-MS - 2018 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto) Considere as assertivas a seguir:


I. Uma das facetas do princípio do poluidor-pagador é evitar as externalidades negativas.

II. Para a maioria da doutrina que faz a diferenciação entre estes dois princípios, o princípio da
precaução é aplicável aos casos em que os impactos ambientais são conhecidos e devem ser
evitados ou mitigados, enquanto o princípio da prevenção é aplicável aos casos em que não há
certeza científica sobre os riscos e os impactos ambientais da atividade a ser exercida.

III. As Resoluções do CONAMA que tratam de padrões máximos de emissão de poluentes têm
por fundamento o princípio do limite ou controle.

25
IV. O princípio da Ubiquidade é aquele segundo o qual as presentes gerações não podem utilizar
os recursos ambientais de maneira irracional, de modo a privar as gerações futuras de um
ambiente ecologicamente equilibrado.

V. A cobrança pelo uso da água prevista na Lei de Recursos Hídricos e a compensação ambiental
prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são exemplos de aplicação
prática do princípio do usuário-pagador.

Em atenção aos princípios do Direito Ambiental, assinale a alternativa correta:

A) Todas as assertivas estão corretas.


B) Somente as assertivas I, III e V estão corretas.
C) Somente as assertivas I, II, IV e V estão corretas.
D) Somente as assertivas II, III, IV e V estão corretas.
E) Somente as assertivas II, III e IV estão corretas.

Comentário:

A assertiva II está incorreta porque inverte o conceito dos princípios da precaução e da


prevenção; a assertiva IV está incorreta porque o princípio da ubiquidade estabelece que
o bem ambiental é onipresente e, por isso, qualquer forma e lugar de agressão ao meio
ambiente atinge todo o planeta com reflexos negativos. Entretanto, o princípio conceituado
na questão é da solidariedade intergeracional, relacionado com o princípio do
desenvolvimento sustentável.

26
Questão 10

(PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) SOBRE O PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR


É CORRETO AFIRMAR:
A) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em
termos repressivos: o dano ambiental consumado deve ser plenamente ressarcido.
B) O princípio do poluidor pagador não elide a responsabilidade pela prevenção ao dano
ambiental.
C) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em
termos subjetivos: deve reparar o dano ambiental quem tem culpa.
D) O princípio do poluidor pagador refere-se à recuperação ambiental mais próxima das
condições originais e elide o ressarcimento.

Comentário:

Pelo princípio do poluidor-pagador, o sujeito que praticar atividade que cause ou possa
causar dano ambiental deve ser responsável pelas despesas de prevenção, reparação e
repressão desse dano. Portanto, a responsabilidade pela prevenção ao dano ambiental está
incluída na esfera de atuação do princípio do poluidor-pagador. A alternativa “A” está
incorreta porque o princípio em análise não se resume a medidas repressivas, ao contrário,
deve-se privilegiar as medidas preventivas; a alternativa “C” está incorreta porque a
reponsabilidade do poluidor-pagador é objetiva, deve reparar o dano causado por sua
atividade independentemente de culpa; e a alternativa “D” está incorreta porque a
recuperação ambiental próxima das condições originais não exclui o dever de
ressarcimento, inclusive as despesas de prevenção, reparação e repressão podem ser
acumuladas.

27
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - CERTO

Questão 3 - A

Questão 4 - A

Questão 5 - B

Questão 6 - A

Questão 7 - E

Questão 8 - A

Questão 9 - B

Questão 10 - B

28
QUESTÃO DESAFIO

Diferencie os princípios do poluidor pagador e do usuário pagador

à luz da legislação pertinente.

Máximo de 5 linhas

29
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

O princípio do poluidor-pagador é instrumento econômico que exige do poluidor que arque com
os danos causados pela sua atividade, com base no art. 225, § 3º, da CF. Já o princípio do usuário-

pagador, previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938, prevê a cobrança pelo uso dos recursos naturais.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Poluidor-pagador

O princípio do poluidor- pagador busca a reparação ambiental. Isso porque toda atividade
poluidora gera um dano ao meio ambiente, de modo que aquele que polui estará obrigado a
pagar pelos danos suportados pela sociedade. Explica AMADO, Frederico. Resumo Direito
Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São Paulo. Método. 2015, p. 39: “(...) diga-se que a poluição
amparada em regular licença ou autorização ambiental não desonerará o poluidor de reparar
os danos ambientais, pois não se trata de uma penalidade, e sim de um ressarcimento ao meio
ambiente, em aplicação ao princípio do poluidor- pagador.

 Usuário-pagador

Uma vez que os recursos naturais são limitados, o legislador passou a prever, inclusive como
instrumento da política nacional do meio ambiente, a possibilidade de se realizar cobrança pelo
uso dos recursos. Isso porque, além de limitar o seu uso, garante que os indivíduos consumirão
os bens naturais de maneira mais consciente, visto que estarão pagando pelo seu uso. Nesse
sentido, preceitua AMADO, Frederico. Resumo Direito Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São
Paulo. Método. 2015, p. 41: “Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar
pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso racional da água (...) há
uma progressiva tendência mundial na cobrança pelo uso dos recursos naturais, notadamente
os mais escassos, a fim de racionalizar a sua utilização e funcionar como medida educativa para
inibir o desperdício (...)”

 Art. 225, § 3º, CF e art. 4º, VII, PNMA

Art. 225, § 3º, CF. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados. Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente

30
visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar
os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos. Jurisprudência Correlata: ADI 3378. (...)Também considerou que o dispositivo
hostilizado densifica o princípio do usuário-pagador, que impõe ao empreendedor a obrigação
de responder pelas medidas de prevenção de impactos ambientais que possam decorrer da
implementação da atividade econômica (...)

31
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Princípios do Direito Ambiental:

 CF/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XIII, XXXIII, 170 e 225;
 PNMA: art. 2º e 40;
 Código Civil: art. 1.228, §1º.

32
JURISPRUDÊNCIA

Princípios do Direito Ambiental

 STF. ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/02/06

O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado caráter eminentemente constitucional, encontra

suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de
obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação

desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos

direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que se traduz bem de uso comum da generalidade
de pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.

 STJ. REsp 1.120-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009 (Informativo 415, STJ)

O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular

do bem ambiental que constitui direito difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental

assumiu grande amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato

da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. O direito ao pedido de reparação
de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade,

por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de
estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador

do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e
tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais

direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo
pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja genérico, havendo
elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação.

 STF. ADI 3510. Rel. Min. Ayres Britto. DJe 28/05/2010.

Quando se cogita da preservação da vida numa escala mais ampla, ou seja, no plano coletivo, não apenas nacional,
mas inclusive planetário, vem à baila o chamado "princípio da precaução", que hoje norteia as condutas de todos
aqueles que atuam no campo da proteção do meio ambiente e da saúde pública. Ainda que não expressamente
formulado, encontra abrigo nos arts. 196 e 225 de nossa Constituição. O princípio da precaução foi explicitado, de

33
forma pioneira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro, em 1992, da qual resultou a Agenda 21, que, em seu item 15, estabeleceu que, diante de uma ameaça

de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o

adiamento de medidas viáveis para prevenir a degradação ambiental. (...) Dentre os principais elementos que
integram tal princípio figuram: i) a precaução diante de incertezas científicas; ii) a exploração de alternativas a ações
potencialmente prejudiciais, inclusive a da não-ação; iii) a transferência do ônus da prova aos seus proponentes e
não às vítimas ou possíveis vítimas; e iv) o emprego de processos democráticos de decisão e acompanhamento
dessas ações, com destaque para o direito subjetivo ao consentimento informado.

 STJ. REsp 1049822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª Turma, DJe 18/05/2009.

Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal
contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva. Cabível, na hipótese, a
inversão o ônus da prova que, em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou
compensada a eventual prática lesiva ao meio ambiente.

 STJ. R.E. 2003/0195051-9. Rel. orig. Min. José Delgado, rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 18/08/2005.
Publ. 17/10/2005, p. 179.

O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CRFB/1988, art. 225,

§3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do
poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os destinatários (Estado e comunidade), deveres

e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e não fazer), bem

como de pagar quantia (indenização dos danos insuscetíveis de recomposição in natura), prestações essas que
não se excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso.

 STJ. REsp 217.858, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ 19/12/2003

É de elementar inferência, dessarte, que a obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante


ao adquirente, independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Mais a mais, a doutrina

tem entendido, à luz do dispositivo referido, que a manutenção da área destinada à reserva legal é obrigação
propter rem, ou seja, decorre da relação existente entre o devedor e a coisa, de modo que o ônus de conservação
do imóvel é automaticamente transferido do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter
responsabilidade pelo dano ambiental. Eventual prejuízo deverá ser discutido, por meio de ação própria entre o
adquirente e o alienante que efetivamente provocou o dano.

 STJ. Resp 302.906/SP. Min. Herman Benjamin. Dje 01/12/2010

O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato
jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no
Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdades e dilapidação da qualidade de vida
nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, princípio da
34
proibição do retrocesso), garantia de que os avanços urbanísticos-ambientais conquistados no passado não serão
diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes.

 Súmula 654, STF

Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Direito Constitucional e Ambiental. Acórdão do tribunal de
origem que, além de impor normativa alienígena, desprezou norma técnica mundialmente aceita. Conteúdo jurídico
do princípio da precaução. Ausência, por ora, de fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de

energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar
legal. Presunção de constitucionalidade não elidida. Recurso provido. Ações civis públicas julgadas improcedentes.
1. O assunto corresponde ao Tema nº 479 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet

e trata, à luz dos arts. 5º, caput e inciso II, e 225, da Constituição Federal, da possibilidade, ou não, de se impor a

concessionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, por observância ao princípio da precaução, a
obrigação de reduzir o campo eletromagnético de suas linhas de transmissão, de acordo com padrões internacionais
de segurança, em face de eventuais efeitos nocivos à saúde da população. 2. O princípio da precaução é um critério

de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto,
evento ou serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o estado analise
os riscos, avalie os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão

decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais. 3. Não há vedação
para o controle jurisdicional das políticas públicas sobre a aplicação do princípio da precaução, desde que a decisão
judicial não se afaste da análise formal dos limites desses parâmetros e que privilegie a opção democrática das

escolhas discricionárias feitas pelo legislador e pela Administração Pública. 4. Por ora, não existem fundamentos
fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas

de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar legal fixado. 5. Por força da repercussão geral, é fixada a
seguinte tese: no atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da

exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por
sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos
pela Organização Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009. 6. Recurso extraordinário provido
para o fim de julgar improcedentes ambas as ações civis públicas, sem a fixação de verbas de sucumbência.

 STJ. Resp 1.164.630-MG. Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2010

DANO AMBIENTAL. MORTANDADE. PÁSSAROS. O MP estadual, recorrido, ajuizou, na origem, ação civil pública em
desfavor da empresa agrícola, recorrente, sob a alegação de que essa seria responsável por dano ambiental por
uso de agrotóxico ilegal, o que teria causado grande mortandade de pássaros. A recorrente, em contestação, entre
outras alegações, sustentou a descaracterização do mencionado dano, arguindo que pouco mais de trezentas aves
teriam morrido, sem que tenha havido efetivo comprometimento do meio ambiente. A sentença julgou procedente
a ação, condenando a recorrente a pagar a importância de R$ 150 mil em indenização a ser revertida para o meio
ambiente local, em recomposição do dano ambiental causado com a morte de 1.300 pássaros da fauna silvestre, o

35
que se manteve em grau de apelação. Nesta instância especial, ao apreciar a controvérsia, consignou o Min. Relator
que a existência de um dano ambiental não só encerra a necessidade de reconstituição do meio ambiente no que

for possível, com a necessária punição do poluidor (princípio do poluidor-pagador), mas também traz em seu bojo

a necessidade de evitar que o fato venha a repetir-se, o que justifica medidas coercitivas e punições que terão,
inclusive, natureza educativa. Observou não haver como fracionar o meio ambiente e, dessa forma, deve ser
responsabilizado o agente pela morte dos pássaros em decorrência de sua ação poluidora. Quanto ao valor
estabelecido na condenação, entendeu que o pleito da recorrente para que se tome como base de cálculo o valor
unitário de cada pássaro não pode prosperar, já que a mensuração do dano ecológico não se exaure na simples
recomposição numérica dos animais mortos, devendo-se também considerar os nefastos efeitos decorrentes do
desequilíbrio ecológico em face da ação praticada pela recorrente. Diante desses fundamentos, entre outros, a

Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 1.120.117-AC, DJe 19/11/2009, e REsp 1.114.893-

MG.

 STF. ADI 3540 MC/DF. Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/09/2005

EMENTA: MEIO AMBIENTE – DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) – PRERROGATIVA

QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE – DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE

NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE – NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE


A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS
INTERGENERACIONAIS – ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) –

ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE – MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO

CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI – SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


– POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR

OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA,
QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL –

RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) – COLISÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES
CONSTITUCIONAIS RELEVANTES – OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES
(FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) – A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA


(CF, ART. 170, VI) – DECISÃO NÃO REFERENDADA – CONSEQUENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA

CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM


DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que
assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial

obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade
coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável,

representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais

36
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de
uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM

DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A

incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de
motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que
privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente
laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela
efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que

provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além

de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A
QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO

FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O

princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra


suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de

obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação
desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição

inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas
alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art.
225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das

atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias
e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora
propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. -

Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos
qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio

da reserva legal. - É lícito ao Poder Público – qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na
estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) – autorizar, licenciar ou permitir a

execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde
que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico
de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).

37
 STF. ADPF 101/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia, 11/03/2009.

EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL: ADEQUAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO

PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE. ARTS. 170, 196 E 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.


CONSTITUCIONALIDADE DE ATOS NORMATIVOS PROIBITIVOS DA IMPORTAÇÃO DE PNEUS USADOS. RECICLAGEM

DE PNEUS USADOS: AUSÊNCIA DE ELIMINAÇÃO TOTAL DE SEUS EFEITOS NOCIVOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE

EQUILIBRADO. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE


ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. COISA JULGADA COM CONTEÚDO EXECUTADO OU EXAURIDO:
IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO. DECISÕES JUDICIAIS COM CONTEÚDO INDETERMINADO NO TEMPO:
PROIBIÇÃO DE NOVOS EFEITOS A PARTIR DO JULGAMENTO. ARGUIÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Adequação da arguição pela correta indicação de preceitos fundamentais atingidos, a saber, o direito à saúde,

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituição Brasileira) e a busca de
desenvolvimento econômico sustentável: princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comércio
interpretados e aplicados em harmonia com o do desenvolvimento social saudável. Multiplicidade de ações judiciais,
nos diversos graus de jurisdição, nas quais se têm interpretações e decisões divergentes sobre a matéria: situação

de insegurança jurídica acrescida da ausência de outro meio processual hábil para solucionar a polêmica pendente:
observância do princípio da subsidiariedade. Cabimento da presente ação. 2. Arguição de descumprimento dos
preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de

pneus usados de Países que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do

Comércio – OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. 3. Crescente
aumento da frota de veículos no mundo a acarretar também aumento de pneus novos e, consequentemente,

necessidade de sua substituição em decorrência do seu desgaste. Necessidade de destinação ecologicamente


correta dos pneus usados para submissão dos procedimentos às normas constitucionais e legais vigentes. Ausência

de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente:
demonstração pelos dados. 4. Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da

equidade e responsabilidade intergeracional. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: preservação para a

geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com garantia
paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das
necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e respeito às gerações futuras.

Atendimento ao princípio da precaução, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais princípios da

ordem social e econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a falta de utilização
dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de disseminação de doenças tropicais. Legitimidade e
razoabilidade da atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem
causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não patrimonial, cuja tutela se impõe
de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados, idêntico procedimento adotado
pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. (...) 8. Demonstração de que: a) os elementos que compõem o
pneus, dando-lhe durabilidade, é responsável pela demora na sua decomposição quando descartado em aterros;
b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e cancerígenas no

38
ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície,
ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis e

descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico

dos pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto se tornam focos de incêndio
difíceis de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo
suficiente para abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria prima a impedir
a atividade econômica. Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação de pneus
usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil).

 STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837)

É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir,

através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena
- multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os

programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado

pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).

39
ESTUDO COMPLEMENTAR

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40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Juspodivm, 2018.

LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

41
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 2
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL ......................................................................................................................... 4

2. Direito Ambiental na Constituição Federal ............................................................................. 4

2.1 Breve histórico .................................................................................................................................................................. 4

2.2 Direito de terceira geração .......................................................................................................................................... 5

2.3 Proteção do meio ambiente no art. 225 da CF/88 ............................................................................................. 6

2.4 Ações constitucionais................................................................................................................................................... 16

2.5 Domínio eminente dos bens pelo Estado ............................................................................................................ 16

2.5.1 Recursos naturais .......................................................................................................................................................... 17

2.6 Competências em matéria ambiental .................................................................................................................... 24

2.6.1 Competência legislativa privativa ............................................................................................................................ 25

2.6.2 Competência legislativa exclusiva ........................................................................................................................... 25

2.6.3 Competência legislativa remanescente ................................................................................................................. 26

2.6.4 Competência legislativa concorrente ..................................................................................................................... 26

2.6.5 Competência material exclusiva ............................................................................................................................... 28

2.6.6 Competência material comum ................................................................................................................................. 29

3. Responsabilidade Ambiental ................................................................................................... 31

3.1 Responsabilidade civil.................................................................................................................................................. 31

3.1.1 Responsabilidade civil por dano ambiental ......................................................................................................... 32

3.1.2 Responsabilidade civil do Estado por dano ambiental ................................................................................... 37

3.2 Responsabilidade administrativa.............................................................................................................................. 39

3.2.1 Poder de polícia ambiental........................................................................................................................................ 39

3.2.2 Infrações e sanções ambientais ............................................................................................................................... 40

3.2.3 Decadência e prescrição administrativa ................................................................................................................ 49

QUADRO SINÓTICO ......................................................................................................................... 50

QUESTÕES COMENTADAS .............................................................................................................. 56

GABARITO.......................................................................................................................................... 68

1
QUESTÃO DESAFIO .......................................................................................................................... 69

GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO................................................................................................ 70

LEGISLAÇÃO COMPILADA ............................................................................................................... 72

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 73

ESTUDO COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................... 83

2
E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre Direito Ambiental
da Constituição Federal e Responsabilidade ambiental.

Agora, vamos as nossas considerações:

“Direito Ambiental na Constituição Federal” não teve recorrência nos últimos três anos no exame

de ordem! No entanto, por sabermos que a FGV costuma ser bastante imprevisível e este assunto

ser bastante cobrado em diversos concursos públicos, achamos melhor acrescentá-lo na sua

apostila para que assim, possam ser abrangidos o máximo de conteúdo possível. Dessa forma,
acrescentamos também algumas questões que abordaram o referido tema. Não deixe de

responde-las, ok? 😉

“Responsabilidade Ambiental” apareceu 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um

assunto de alta recorrência no Exame de Ordem. Nem preciso falar que o estudo deste assunto
é essencial, não é mesmo? Então, mãos à obra! As questões 06 a 09 tratam sobre o tema em

questão.

A banca costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será
cobrado do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

3
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 2

2. Direito Ambiental na Constituição Federal

2.1 Breve histórico

Antes da Constituição Federal de 1988 o meio ambiente era visto apenas como um recurso
que poderia ser explorado economicamente. Naquele momento histórico, a abundância d a

natureza e a sua aparente infinidade não preocupava a sociedade com a necessidade de sua
preservação. Era uma visão utilitarista do meio ambiente, que vigorou até meados dos anos 70

em todo o planeta.

Uma série de fatores começaram a influenciar a sociedade para a necessidade de proteger

o meio ambiente. Descobertas científicas, movimentos populares e tragédias ambientais


provocadas pelo homem deram início a uma crise ambiental e, com ela, surgiram os primeiros

princípios ambientais.

Foi em 1972, na Conferência de Estocolmo, que teve início a visão protecionista do meio

ambiente. Essa percepção influenciou diversos ordenamentos jurídicos, inclusive o brasileiro que,
em sede infraconstitucional, criou a Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, em 1973, e a Política

Nacional do Meio Ambiente – PNMA, em 1981.

Mas foi apenas com a Constituição de 1988 que a proteção do meio ambiente ganha

status constitucional. Com a sua constitucionalização, os princípios ambientais são elevados ao


patamar dos direitos fundamentais.

Dentre as vantagens de constitucionalizar a tutela do meio ambiente, destacamos a


possibilidade do controle de constitucionalidade de atos normativos que sejam

hierarquicamente inferiores e que eventualmente causem danos ambientais. Além disso, com a

4
previsão constitucional, a proteção ambiental passa a ser uma obrigação do Poder Público, que
deve atuar sempre observando como diretriz o princípio do desenvolvimento sustentável.

Vale lembrar que a forma como o meio ambiente está tutelado pela Constituição de 1988

pressupõe um direito e uma obrigação ao mesmo tempo. O meio ambiente ecologicamente


equilibrado é um direito de todos, mas também é um dever de todos a sua proteção.

Quando a Constituição Federal, em seu art. 225, afirma que “todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado”, estabelece que se trata de um direito transindividual, de

titularidade coletiva. Por isso, podemos afirmar que qualquer pessoa, residente ou não no

Brasil, é titular do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é visto como um direito

fundamental material. Apesar de não está no rol do Título II da CF/88, que trata especificamente

dos direitos fundamentais, alguns direitos, como o agora estudado, possuem matéria de direito

fundamental, ou seja, influenciam diretamente na estrutura do Estado e da sociedade, é o que

a doutrina chama de fundamentalidade material.

2.2 Direito de terceira geração

Os constitucionalistas classificam os direitos fundamentais em gerações, ou dimensões. A

primeira geração de direitos fundamentais surgiu com a constituição norte-americana de 1787

e com a constituição francesa de 1791, contrapondo o absolutismo e fundando o

constitucionalismo liberal. Nesse contexto, os direitos fundamentais eram estabelecidos como


limites ao Estado, protegiam o individualismo e a propriedade privada, chamados de “liberdades

clássicas”.

A segunda geração de direitos fundamentais surgiu através da constituição do México de

1917 e da constituição da Alemanha de 1919. Nesse contexto, o liberalismo econômico havia


fracassado, e para reorganizar a economia e as relações empregatícias, o Estado foi chamado a

intervir. Os direitos de segunda geração são os direitos de igualdade – direitos sociais, culturais
e econômicos.

Quando os direitos de liberdade e de igualdade já estavam consolidados, surge a noção


de sociedade de massa. A coletividade é colocada em evidência e novos direitos dotados de
5
humanismo e universalidade passam a ser exigidos. São os direitos de terceira geração,
chamados de direitos de fraternidade ou de solidariedade. Tais direitos se destacam porque não

visam a proteção de interesses individuais, mas sim dos interesses da humanidade.

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um exemplo de direito humano 1 de


terceira geração, pois trata-se de um direito coletivo difuso. Mas o que isso significa?

Primeiramente precisamos entender que existem várias formas de direitos coletivos, ou

seja, direitos que possuem uma coletividade em um dos polos da relação jurídica. Eles podem

ser direitos difusos, direitos coletivos propriamente ditos, ou direitos individuais homogêneos.

O que os diferencia? Basicamente possibilidade de determinar os seus titulares, de dividir o

objeto da tutela e a forma como os polos da relação jurídica estão ligados. O Código de Defesa

do Consumidor nos oferece as seguintes definições:

Art. 81. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

Portanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado enquadra-se como um

direito difuso por ser indivisível, com titulares indeterminados (toda a coletividade), ligados por

uma circunstância de fato, e não de direito.

2.3 Proteção do meio ambiente no art. 225 da CF/88

A Constituição Federal de 1988 inaugurou na história das constituições brasileiras um

capítulo específico para a tutela do meio ambiente (Capítulo VI, inserido no Título VIII – Da
Ordem Social).

1
Vide questão 4 desse material.
6
É de extrema importância para o nosso estudo entender as disposições ali escritas, pois
elas devem guiar todo o raciocínio dentro da matéria, então leia o texto da Constituição com

atenção:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar


as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização


pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.

7
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os


infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal


Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações


discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos.

 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso


comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações;

O art. 225 da CF/88 dispõe de diversos aspectos e princípios que devem ser observados
em todo o estudo do direito ambiental. Primeiramente, temos a definição do bem jurídico

tutelado: o meio ambiente ecologicamente equilibrado; depois, podemos extrair da norma que

ele se trata de um bem difuso, pois pertence a “todos” e é “de uso comum do povo”; ainda,

extraímos o caráter de direito fundamental do meio ambiente ecologicamente equilibrado


quando a própria Constituição o define como “essencial à sadia qualidade de vida”; também

vislumbramos que é um dever do Poder público defender e preservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado e isso deve guiar todas as ações do Estado; que o dever de defesa
8
e preservação do equilíbrio ambiental imposto à coletividade pressupõe do direito de
informação ambiental e de participação democrática da sociedade nos assuntos referentes ao

meio ambiente, principalmente naqueles ameaçadores; por fim, surge o princípio da


solidariedade intergeracional quando o legislador constituinte estabelece que o meio ambiente

ecologicamente equilibrado é um direito das presentes e futuras gerações, ou seja, a geração

atual deve cuidar do equilíbrio ambiental para si pensando na manutenção desse equilíbrio no

futuro.

 § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

A seguir, o legislador constituinte elencou diversas obrigações do Poder Público para

efetivar a proteção ambiental.

O fato de a Constituição atribuir expressamente ao Poder Público diversas obrigações para


que possa assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, não retira da

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, em suas

interações normais. Ou seja, interações sociais que firam esse direito devem ser condenadas de
acordo com o caput do art. 225 da CF/88.

 I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas 2;

Em primeiro lugar, cabe diferenciar preservação de restauração. A primeira compreende

um conjunto de ações para proteger o meio ambiente, que ainda não foi degradado; enquanto

a restauração consiste em ações para restituir o meio ambiente já degradado ao mais próximo

possível da sua condição original.

Portanto, de acordo com o §1º, I, do art. 225 da CF/88, incumbe ao Poder Público proteger
o meio ambiente e, caso ocorra um dano, restituí-lo da forma mais completa possível.

Processos ecológicos essenciais são os processos vitais, que tornam possíveis as relações
entre os seres vivos e o meio ambiente, como as cadeias alimentares, o ciclo da água, do

oxigênio, a produção de alimentos, de energia...

2
Vide questão 5 desse material.
9
Por sua vez, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas significa que o Poder Público
deve administrar a biodiversidade das espécies vivas e dos seus respectivos ecossistemas.

 II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e


fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético 3;

A Lei 13.123/15 define patrimônio genético como “informação de origem genética de


espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluído substâncias

oriundas do metabolismo destes seres vivos”.

A Lei 11.105/05 define normas de segurança e de fiscalização das atividades que envolvem

organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados. Para tanto, cria o Conselho
Nacional de Biossegurança e a Política Nacional de Biossegurança.

A Lei 9.985/00, por fim, cria a área ambientalmente protegida, importante instrumento de
preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético do país.

 III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção 4;

A Constituição institui como obrigação do Poder Público a definição de espaços territoriais


que devem ser protegidos devido à relevância dos seus atributos ambientais.

Essa reserva de território deve ser feita em todas as unidades da Federação por meio de

lei ou decreto do Poder Executivo, entretanto, uma vez estabelecida, a sua redução ou supressão

só pode ser feita através de lei. Evidente é o intuito do legislador constituinte: facilitar a criação
de áreas ambientalmente protegidas e dificultar a sua supressão.

 IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade 5;

3
Vide questões 3 e 5 desse material.
4
Vide questões 2 e 3 desse material.
5
Vide questões 2 e 3 desse material.
10
O estudo prévio de impacto ambiental, que chamaremos de EIA, é uma forma de avaliar o
impacto que determinada atividade pode causar ao meio ambiente. Ele serve para subsidiar o

procedimento de licenciamento ambiental de obras e atividades (públicas ou privadas)


potencialmente causadoras de significativo dano ao meio ambiente, portanto, o estudo é

realizado de forma prévia.

Além da realização do EIA, a Constituição exige que a ele seja dada publicidade,

prestigiando o princípio da informação. Com isso, qualquer interessado pode tomar

providências administrativas e judiciais caso encontre alguma irregularidade na atividade.

 V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente 6;

Esse dispositivo constitucionaliza a gestão dos riscos em matéria ambiental. Portanto,

qualquer atividade potencialmente danosa para a vida, para a qualidade de vida e para o meio

ambiente, deve ser controlada pelo Poder Público para afastar ou diminuir os seus riscos.

O Estado, através do seu poder de polícia, deve fiscalizar e orientar a produção,

comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias potencialmente danosas,


sempre ressaltando o bem-estar da coletividade. É o que estudamos como princípio do limite.

 VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente 7;

A educação ambiental é um dos mais importantes instrumentos para envolver a sociedade

com a responsabilidade pela preservação do meio ambiente. Para tanto, foi instituída a Política

Nacional de Educação Ambiental, pela Lei 9.795/99, que conceitua a educação ambiental como
“processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio


ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade”.

6
Vide questões 3 e 5 desse material.
7
Vide questão 5 desse material.
11
 VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade 8;

Há diversos diplomas legais que, com base no dispositivo da Constituição, visam a proteção

dos animais e das plantas no ecossistema equilibrado, inclusive tipificando como crime a
conduta danosa a esses bens.

Por exemplo, a Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 32, define como crime “praticar ato
de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos

ou exóticos”; e em seu §1º, o mesmo artigo tipifica a realização de experiencia dolorosa ou cruel

em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando há recurso alternativo.

É para cumprir esse preceito constitucional que a Lei 11.794/08 estabelece regras para os
procedimentos científicos e de aprendizagem que utilizam animais. Fica reservado o uso de

animais vivos, em experiencias que possam causar dor ou angústia, aos casos inevitáveis. Nesses

casos, é preciso desenvolver a pesquisa sob sedação, analgesia ou anestesia adequada e que o

animal seja sacrificado antes de recobrar a consciência – morte por meios humanitários.

Nesse contexto, o STF já se ocupou de analisar a constitucionalidade de diversas normas


estaduais que regulamentavam atividades com animais vivos. A decisão que mais se destacou

foi a que trata da farra do boi, prática catarinense, com contexto religioso, em que o participante

fazia “pegas e correrias de boi” para depois sacrificar o animal e oferecer à comunidade como

hóstia.

A controvérsia girava em torno do direito à manifestação cultural, protegido

constitucionalmente (art. 215), e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, neste

caso, representado pela proteção da fauna, também previsto constitucionalmente.

Para o Supremo, a farra do boi não se tratava apenas de uma manifestação cultural, mas
sim de uma prática violenta e cruel para com os animais (RE 153.531/SC). As manifestações

culturais no Brasil não podem ser exercidas de forma absoluta, elas encontram limites, e o limite

8
Vide questões 3 e 5 desse material.
12
no caso era a crueldade contra os animais. Portanto, por maioria, a Corte deu provimento ao
recurso, proibindo a realização da farra do boi.

O mesmo entendimento foi adotado quando o Supremo julgou a ADI 4883 e declarou a

inconstitucionalidade de uma lei estadual do Ceará que regulamentava a prática da vaquejada.


Para o STF, “a crueldade intrínseca à ‘vaquejada’ não permite a prevalência do valor cultural

como resultado desejado pelo sistema de direitos fundamentais”.

Entretanto, o desfecho da declaração de inconstitucionalidade da vaqueja foi outro. Os que

consideram a atividade como legítima manifestação cultural protestaram e viram ser aprovada

a Emenda Constitucional nº 96/17, que acrescentou o §7º ao art. 255 da CF/88. A alteração do

texto constitucional passa a reconhecer práticas desportivas que utilizam animais e que sejam

manifestações culturais como não cruéis.

Portanto, atualmente atividades como a vaquejada e o rodeio não podem ser consideradas

inconstitucionais de acordo com o disposto no inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88 e a decisão

do STF ficou sem efeito.

 § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio


ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei;

Trata-se do princípio do poluidor-pagador, que exige do sujeito que gerou o dano


ambiental a responsabilidade quanto à todas as consequências que a sua atividade causou.

No §2º do art. 225, a Constituição destaca a exploração dos recursos minerais porque essa
atividade gera relevantes impactos ao meio ambiente e tem uma expressiva importância

econômica e social.

 § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os


infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados;

O dispositivo trata da tríplice responsabilização do poluidor. A Constituição permite que,

em decorrência de um único dano ambiental, o seu causador, pessoa física ou jurídica, de direito

13
público ou privado, possa ser responsabilizada penal, administrativa e civilmente de forma
simultânea e independente.

A responsabilidade civil do ente público por dano ambiental pode ser, inclusive,

decorrente da sua omissão ou da sua atuação insuficiente, e, nesses casos, como veremos

mais adiante neste capítulo, solidária 9.

 § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal


Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-
á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais 10;

Com esse dispositivo, a Constituição Federal quis enfatizar a importância ambiental desses
ecossistemas, transformando-os em patrimônio nacional. Mas, atenção: a previsão constitucional

não transforma esses biomas em bens da União. O que podemos extrair do §4º é que a Floresta
Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona

Costeira, por serem patrimônio nacional, não admitem qualquer tipo de internacionalização.

As áreas não são bens da União, mas o status de patrimônio nacional garante aos biomas

um regime especial de utilização, que deve ser voltado para a preservação dos respectivos
atributos naturais e para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.

 § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações


discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais;

9
Vide questão 1 desse material.
10
Vide questão 2 desse material.
14
As terras devolutas são aqueles territórios que não pertencem legitimamente a nenhum
particular e as, incorporadas no patrimônio público, não são afetadas a qualquer uso. Em regra,

são bens públicos dominicais e, por isso, alienáveis.

Entretanto, as terras devolutas necessárias à proteção do meio ambiente possuem


tratamento jurídico diferenciado pela CF/88: são bens da União e devem ser consideradas como

bens públicos de uso especial, pois estão afetados à uma destinação pública específica – a

proteção dos ecossistemas naturais e, portanto, bens indisponíveis.

 § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas 11;

Toda a atividade nuclear brasileira está centralizada exclusivamente na competência da

União, devendo ser usada para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional (com

exceção dos radioisótopos, cuja produção, comercialização e utilização podem ser autorizadas

sob o regime de permissão).

 § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos12.

Como já demonstrado nos comentários do inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88, o
legislador constituinte derivado passou a entender que práticas desportivas que utilizem animais,

como por exemplo, a vaquejada, são permitidas desde que configurem manifestações culturais
registradas como patrimônio público cultural brasileiro de natureza imaterial.

Para harmonizar tais práticas com a proteção do meio ambiente prevista no inciso VII do
§1º do art. 225 da CF/88, a atividade deve ser regulamentada por lei específica que tenha como

fim evitar a crueldade contra os animais usados.

11
Vide questão 2 desse material.
12
Vide questão 2 desse material.
15
2.4 Ações constitucionais

O sistema processual civil que existia na época da promulgação da Constituição de 1988

não era preparado para tutelar direitos transindividuais. Suas características individualistas eram

incompatíveis e insuficientes para assegurar direitos difusos como o meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

Para privilegiar o princípio do acesso à justiça, surge em nosso ordenamento jurídico a


jurisdição civil coletiva, com o intuito de atender as peculiaridades das ações que tratam de

interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Para tanto, a Constituição de 1988

estabelece expressamente a Ação Civil Pública e a Ação Popular como instrumentos para garantir
a proteção dos direitos transindividuais.

 Ação Civil Pública: é um instrumento processual que serve para condenar o agente
causador de dano ambiental a cessar ato lesivo ao meio ambiente, recuperar as áreas
degradadas e/ou pagar reparação pecuniária. A Ação Civil Pública – ACP – está
regulamentada pela Lei 7.347/85. Nesta lei, temos um rol taxativo de legitimados a
propor a ACP, mas entre eles não encontramos o cidadão. 13

 Ação Popular: é o instrumento processual utilizado pelo cidadão para fazer um controle
de legalidade e de lesividade de atos, e proteger interesses transindividuais, entre eles,
o meio ambiente. É uma forma de exercer a democracia direta e, portanto, o seu titular
deve ter capacidade eleitoral ativa. Por isso, a pessoa jurídica não é legitimada a propor
Ação Popular (Súmula 265, STF).

As ações em destaque serão abordadas de forma aprofundada neste curso em capítulo

próprio da tutela processual do meio ambiente.

2.5 Domínio eminente dos bens pelo Estado

O Poder Público exerce um domínio eminente sobre todos os bens situados no território

brasileiro. Não se trata de um domínio patrimonial, é um poder que decorre da soberania do

Estado, que o permite submeter, de forma geral, à sua vontade todos os bens situados em seu

13
Vide questão 09 e 08
16
território, sejam eles públicos, privados ou não sujeitos ao regime normal de propriedade, como
a água.

É por esse domínio eminente dos bens pelo Estado que os recursos ambientais podem

sofrer intervenções do Poder Público, mesmo que ele não seja o proprietário.

2.5.1 Recursos naturais

De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente, prevista na Lei 6.938/81, são recursos
ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar

territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

O Estado exerce a função de gestor e assegurador desses recursos ambientais, que são

classificados como patrimônio público em sentido amplo, tendo em vista o seu uso coletivo.

Quanto à sua destinação, os recursos naturais podem ser classificados como bens públicos

de uso comum do povo, de acordo com a divisão de bens públicos do art. 99 do Código Civil.
Portanto, os bens naturais podem ser utilizados por todos, igualmente, sem necessidade de

autorização da Administração Pública; são afetados e indisponíveis. Exemplos: rios e mares.


Alguns bens naturais são classificados como bens de uso especial, quando possuem destinação
pública específica, como por exemplo, as terras ocupadas por índios.

Não podemos confundir o termo “bem de uso comum do povo” usado no caput do art.

225 da CF/88 com a classificação do CC/02. O intuito do legislador constituinte ao usar essa

expressão foi de intensificar a ideia de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um


bem transindividual.

A doutrina administrativista tem uma percepção diferente. Por ela, é permitido que os bens
de uso comum do povo sejam desafetados, o que é impossível de acontecer com os bens

naturais, devido à titularidade difusa dada pela Constituição. Ademais, como visto, os bens
naturais eventualmente afetados podem ser classificados administrativamente como “bens de

uso especial”, mas não perdem a característica de bem de uso comum do povo no sentido dado

pela Constituição.

17
Quanto à titularidade, os recursos naturais podem ser classificados em federais, estaduais,
distritais ou municipais. Vale lembrar que ao dar a titularidade dos recursos naturais aos entes

federados, a Constituição não está dando a propriedade ou o domínio desses bens. A União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios atuam como gestores responsáveis pela preservação

e adequada utilização desses bens.

A Constituição enumera os bens da União em seu art. 20, nos seguintes temos:

Art. 20. São bens da União:

I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e


construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,
definidas em lei;

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;

IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II;

IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental
federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
46, de 2005)

V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;

VI - o mar territorial;

VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;

VIII - os potenciais de energia hidráulica;

IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;

XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

18
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais
no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras


terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.

Por ser um tema de direito constitucional, vamos tratá-lo de forma objetiva aqui na matéria

de direito ambiental, revisando e destacando os pontos que interessam à nossa disciplina, ok?

 As terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental.

As terras devolutas são aquelas que não são de propriedade particular e aquelas que,

incorporadas ao domínio público, ainda não foram afetadas a qualquer uso. Em geral elas são
classificadas como bens públicos dominicais. Em regra, os bens dominicais são disponíveis,

entretanto, quando as terras devolutas são indispensáveis para a preservação ambiental, há uma

exceção quanto a sua disponibilidade: o art. 225, §5º da própria CF/88 estabelece a

indisponibilidade das terras devolutas necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

Concluindo, as terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental são bens da União,

excepcionalmente classificadas como bens públicos de uso especial devido à destinação pública
que receberam da Constituição.

 Os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que


banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as
praias fluviais.

Para classificar os cursos d’água como bens da União, devemos observar a sua extensão e

o critério da segurança nacional. Para aferir no caso concreto se o bem é federal, estadual ou
distrital, a Agência Nacional de Águas – ANA – definiu 5 critérios na Resolução n. 399/04:

5. CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA

5.1. Cada curso d’água, desde a sua foz até a sua nascente, será considerado como
unidade indivisível, para fins de classificação quanto ao domínio.

19
5.2. Os sistemas hidrográficos serão estudados, examinando-se as suas correntes de água
sempre de jusante para montante e iniciando-se pela identificação do seu curso principal.

5.3. Em cada confluência será considerado curso d’água principal aquele cuja bacia
hidrográfica tiver a maior área de drenagem.

5.4. A determinação das áreas de drenagem será feita com base na Cartografia Sistemática
Terrestre Básica.

5.5. Os braços de rios, paranás, igarapés e alagados não serão classificados em separado,
uma vez que são considerados parte integrante do curso d'água principal.

Por esses critérios, os trechos de rios que compõem os cursos principais das bacias

hidrográficas que transpassam ou compõem limites estaduais, são bens da União (STJ,
informativo 398).

 As ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras.

Entretanto, própria Constituição estabelece que não são bens de União as áreas que sejam
de domínio do estado membro ou que sejam sede de Município (salvo as áreas afetadas ao

serviço público e unidade ambiental federal).

A Lei 9.985/00, que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

(SNUC), estabelece que as ilhas oceânicas e costeiras são ambientalmente relevantes porque se
destinam prioritariamente à proteção da natureza. Ainda, define que outra destinação dessas

ilhas deve ser precedida de autorização de órgão ambiental competente, tendo em vista que a

estabilidade da fauna e da flora desses ambientes insulares é frágil.

As praias marítimas são as áreas periodicamente cobertas e descobertas pelas águas,


acrescida da faixa de areia/ cascalho/ pedregulhos... até o início da vegetação natural ou, não
existindo, até o início de outro ecossistema. Por serem bens de uso comum do povo, as praias

marítimas devem ter acesso livre, salvo quando a sua área for de interesse para segurança
nacional ou protegida por lei.

 Os recursos naturais da plataforma continental, da zona econômica exclusiva e o


mar territorial.

20
Em 1982 ocorreu a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, na Jamaica.
Nessa convenção foram estabelecidos os princípios gerais para a exploração dos recursos

naturais do mar e os conceitos de plataforma continental e de zona econômica exclusiva. O


Brasil ratificou a Convenção em 1988 e regulamentou o direito do mar com a Lei 8.617/93.

O mar territorial brasileiro é um bem da União por ser de interesse para a segurança

nacional, pois a soberania do Brasil se estende por ele, por seu espaço aéreo, por seu leito e

por seu subsolo. O mar territorial compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura

(mais ou menos 22km), medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular.

Lembre-se que a soberania nacional na área de mar territorial e seus respectivos espaços

sobrejacentes e subjacentes não é absoluta, como no caso do território interno. Devemos

sempre lembrar do direito de passagem inocente para os navios de qualquer outro Estado

soberano.

Mas o direito de passagem inocente pode ser exercido de qualquer forma? Claro que não!

O Estado que possui o mar territorial que é área para a passagem inocente tem o direito de

regulamentar essa prática para a segurança da navegação, para a proteção de instalações ou

equipamentos, para a proteção do meio ambiente e para prevenir infrações.

A Zona Econômica Exclusiva, que vamos chamar apenas de “ZEE”, compreende uma faixa
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para

medir a largura do mar territorial.

A ZEE dá ao país direitos de soberania para fins de exploração, aproveitamento,


conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não, das águas sobrejacentes, do leito do

mar e do seu subsolo. Por força da Constituição, os recursos naturais encontrados na ZEE são

considerados bens da União, a quem também cabe regulamentar matérias como a investigação

científica na ZEE, a proteção e a preservação do mar marítimo, as ilhas artificiais, qualquer

instalação ou estrutura.

O fato de o Brasil ter soberania para explorar e aproveitar os recursos naturais da ZEE

brasileira não retira o direito dos demais Estados ao gozo de liberdades como a navegação e o

sobrevoo.

21
Por fim, devemos conceituar a plataforma continental como o leito e o subsolo das áreas
submarinas além do mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do território

terrestre ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base.

A União, por força do art. 20, V, da CF/88, tem o direito exclusivo de autorizar e
regulamentar perfurações na plataforma continental, mas é importante destacar que é

reconhecido a todos os Estados o direito de instalar cabos e dutos na plataforma continental

brasileira.

 Potenciais de energia hidráulica.

Os recursos naturais com potencial energético são em regra bens da União, tendo em vista

a sua relevância econômica. Mesmo que esteja localizado em curso d’água estadual, a área de

potencial de energia hidráulica será sempre bem da União, que tem competência para explorar,
diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços e instalações de

energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água.

 Recursos minerais, inclusive os do subsolo.

O nosso ordenamento jurídico estabelece uma separação jurídica entre a propriedade do

solo e a propriedade dos seus recursos minerais. Esses últimos não integram o patrimônio do

particular proprietário da superfície. É a União a titular da propriedade mineral para efeitos de


exploração econômica e/ou de aproveitamento industrial.

Art. 1.230, do Código Civil – A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de


emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação
industrial, obedecido o disposto em lei especial.

Vale ressaltar que, todavia, o proprietário do solo em que se encontram os recursos

minerais da União tem direito à participação nos resultados da lavra.

 Cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos.

As cavidades naturais subterrâneas são espaços subterrâneos acessíveis pelo ser humano,

popularmente conhecidos como caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou buraco. Inclui-se no
22
conceito de cavidades naturais subterrâneas o seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna
e a flora e o corpo rochoso, desde que tenham se formado por processos naturais,

independentemente das dimensões e tipo de rocha encaixante.

Os sítios arqueológicos são locais onde se encontram vestígios de ocupação humana no


passado. Ambas as áreas são de interesse público nacional, que constituem o patrimônio cultural

brasileiro, o que justifica a titularidade da União.

 Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

O dispositivo aduz às terras ocupadas permanentemente pelos índios, utilizadas para suas

atividades produtivas, imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários para o

seu bem-estar e necessidades de reprodução e conservação da cultura, segundo os seus usos,

costumes e tradições.

As terras ocupadas tradicionalmente pelos índios são de titularidade da União, mas são

caracterizadas como posse permanente do povo indígena, cabendo a eles o usufruto


exclusivo do solo, rios e lagos nelas existentes.

Muito importante destacar que o STF entende que a Constituição de 1988 reconheceu os

direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e não simplesmente outorgou

as eles esse direito. Ou seja, isso quer dizer que o ato de demarcação de terras indígenas tem

natureza declaratória e não constitutiva. Trata-se de um direito originário, mais antigo do que
qualquer outro, que prepondera mesmo diante de pretensos direitos adquiridos materializados

em escrituras públicas ou título de legitimação de posse de pessoa não-índio, que são atos

nulos e extintos pela Constituição.

23
Por fim, vale lembrar que as terras indígenas são bens públicos de uso especial, pois têm
destinação pública definida (estão afetadas). Isso implica na inalienabilidade, indisponibilidade

e na imprescritibilidade desses bens.

Quanto aos bens estaduais, a Constituição estabelece um critério nitidamente subsidiário


e traça um rol exemplificativo no seu art. 26, os enumerando da seguinte forma:

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,


neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas
aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;

III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;

IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

Para Carvalho Filho, as regras do art. 26 devem ser estendidas ao Distrito Federal, tendo
em vista a sua aproximação com os estados membros pela disciplina constitucional.

Os municípios foram excluídos da partilha de bens constitucional! Mas isso não significa
que eles não tenham titularidade de bens! As ruas, praças, jardins públicos, edifícios públicos

municipais e unidades de conservação ambiental municipais são exemplos de bens de


titularidade municipal. 😉

2.6 Competências em matéria ambiental

A Constituição de 1988 adotou o federalismo cooperativo, estabelecendo uma repartição

de competências entre os entes federados em uma relação de coordenação. Na repartição de


competências legislativas, a CF/88 usa o critério da predominância de interesse, pelo qual à

União cabe legislar sobre matérias de interesse nacional, aos estados cabe legislar sobre matérias

de interesse regional e aos municípios cabe legislar sobre matérias de interesse local.

A competência ambiental material, por sua vez, atribui aos entes federados o poder de
execução da lei, de colocá-la em prática independentemente de provocação, e se subdivide em

exclusiva e comum.

24
2.6.1 Competência legislativa privativa

É a competência outorgada pela Constituição (art. 22) à União para legislar sobre
determinados assuntos, entre eles: águas, energia, regime de portos, navegação lacustre, fluvial

e marítima, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, sistema de geologia

nacional e atividades nucleares de qualquer natureza.

Segundo o parágrafo único do art. 22 da CF/88, essas matérias de competência legislativa

privativa da União podem ser delegadas para os estados da federação mediante autorização
por meio de lei complementar.

Ademais, não custa nada lembrar que o fato de a competência legislativa ser privativa da

União, não significa que só ela tenha o poder de fiscalizar. Guarde essa informação. 😉

2.6.2 Competência legislativa exclusiva

A competência legislativa exclusiva é aquela que, diferentemente da competência privativa,


não pode ser delegada a outro ente.

Os estados federados possuem sua competência legislativa exclusiva prevista nos §2º e §3º

do art. 25 da CF/88.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.

(...)

§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais


de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,


aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas
de interesse comum.

Quanto aos municípios, apesar de não terem sido expressamente contemplados por
competências legislativas exclusivas em matéria ambiental pela Constituição, podemos extrair

do art. 30, I da CF/88 que esses entes podem legislar sobre assuntos de interesse local, desde

25
que comprovado o interesse restrito ao âmbito territorial do município. Esse “interesse local”
não significa ausência de interesse regional ou nacional. Para detectar se a matéria é de

competência do município devemos usar o critério da predominância de interesse.

2.6.3 Competência legislativa remanescente

De acordo com o art. 25, §1º da Constituição Federal, são reservadas aos Estados as

competências que não lhes sejam por ela vedadas. É o que chamamos de competência

remanescente ou reservada, que visa preencher eventuais lacunas na repartição de competências


entre os entes. Em razão da competência remanescente temos, por exemplo, a competência dos

estados para legislar sobre o transporte intermunicipal.

2.6.4 Competência legislativa concorrente

A competência legislativa concorrente está prevista no art. 24 da Constituição Federal. Nele

são elencadas matérias legislativas que cabem a todos os entes da federação. No contexto

ambiental, destaca-se:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

(...)

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos


recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos


de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IX - educação, cultura, ensino e desporto;

IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento


e inovação; (...)

No âmbito da legislação concorrente, como todos os entes possuem competência

legislativa, é preciso estabelecer algumas regras para evitar conflitos. A mais importante é a
prevista no §1º do art. 24 da CF/88, que limita a competência da União a estabelecer normas
26
gerais sobre essas matérias, que devem ser observadas pelos estados, DF e municípios. Normas
gerais são aquelas que estabelecem conceitos, princípios e procedimentos básicos para serem

observados nas normas dos demais entes.

A inércia da União em editar a norma geral faz surgir a competência legislativa supletiva

ou plena para os estados e para o DF, como dispõe o §3º do art. 24 da CF/88, que passam a
poder editar normas gerais e normas específicas sobre os assuntos concorrentes.

Se após exercida a competência legislativa supletiva pelo estado ou pelo DF, a União editar

a norma geral, ela irá suspender a eficácia da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária.

Atenção: a lei geral editada pela União supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva
editada pelo estado ou pelo DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES

FEDERATIVOS DISTINTOS! Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editada a

partir da competência legislativa supletiva não contrarie a norma geral editada


supervenientemente pela União.

E os municípios? Bem, o art. 24 da CF/88 não atribui nenhuma competência legislativa aos
municípios, por isso, a doutrina majoritária não considera que eles tenham competência

concorrente. Mas o art. 30, I e II da CF/88 afirma que cabe ao município “legislar sobre assuntos

de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”! Isso não é

uma competência concorrente implícita??? Não! O inciso I é uma competência exclusiva do


município, enquanto o inciso II trata-se do que a doutrina chama de competência legislativa

suplementar.

A competência legislativa suplementar ou complementar pode ser vista como um

desdobramento da competência concorrente, e está prevista no art. 24, §2º da CF/88 da seguinte

forma: “a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência

27
suplementar dos estados”. Portanto, os estados e o DF podem suplementar as normas gerais
editadas pela União, claro, sem confrontá-las.

Também podemos afirmar que os municípios possuem competência legislativa

suplementar com base no art. 30, II da CF/88, desde que a norma trate de interesse local. Com
isso, preenchemos eventuais lacunas na divisão constitucional de competências legislativas.

2.6.5 Competência material exclusiva

O art. 21 da CF/88 elenca várias competências materiais exclusivas da União. O critério

utilizado pelo constituinte para definir quais assuntos seriam incluídos nesse rol foi o interesse

geral. Entre esses assuntos destacamos, em matéria ambiental:

Art. 21. Compete à União:

(...)

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de


desenvolvimento econômico e social;

(...)

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

(...)

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos


cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos;

(...)

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios


de outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento


básico e transportes urbanos;

(...)

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer


monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:

28
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos
e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de


radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de


radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;

(...)

XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem,


em forma associativa.

Notou alguma coisa no inciso XII acima citado? Observe que ele autoriza a exploração

dos serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de


água diretamente pela União ou mediante autorização, concessão ou permissão. Trata-se,

portanto, de uma possibilidade de delegação do exercício dessa competência. Ok, mas e daí?
Daí que esse inciso especificamente deixa de ser classificado como uma competência material

exclusiva e passa a ser considerado uma competência material privativa da União que, como

vimos, são aquelas matérias que podem ser delegadas.

2.6.6 Competência material comum

Segundo o art. 23 da CF/88, algumas matérias são de competência de todos os entes


federativos conjuntamente, ao mesmo tempo. No âmbito do direito ambiental, a competência

comum basicamente visa a proteção ambiental e o exercício do poder de polícia em cooperação.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:

29
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;

(...)

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à


pesquisa e à inovação;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições


habitacionais e de saneamento básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a


integração social dos setores desfavorecidos;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração


de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

(...)

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Para regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei Complementar 140/11, que será
aprofundada adiante, com o intuito de estabelecer uma gestão descentralizada das questões

ambientais, harmonizar políticas públicas e ações administrativas entre as esferas de governo.

30
3. Responsabilidade Ambiental

Como vimos, o art. 225, §3º da CF/88 estabelece que “as condutas e atividades

consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a

sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos


causados”. Temos a previsão constitucional da tríplice responsabilização, que engloba o âmbito

penal, administrativo e civil.

Portanto, o poluidor – pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, responsável

direta ou indiretamente pela atividade que causou o dano ambiental – pode ser responsabilizado

nas três esferas de forma independente.

No presente capítulo abordaremos a responsabilidade civil e administrativa, deixando a


responsabilidade penal por dano ao meio ambiente para um capítulo específico.

3.1 Responsabilidade civil

Responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo de reparar, recuperar, compensar, ou


simplesmente pagar por prejuízo decorrente da violação de um dever jurídico originário. A

responsabilização visa restabelecer o status quo ante entre o agente e a vítima.

Quando o dever de indenizar decorre de um contrato inadimplido, temos a

responsabilidade contratual. Mas se o dever de indenizar surge a partir de uma lesão a um

direito subjetivo da vítima, sem que preexista relação jurídica entre ela e o agente, temos a

responsabilidade extracontratual (que decorre de uma lei ou de um preceito geral de direito).

A responsabilidade civil extracontratual pode ser subjetiva ou objetiva. Por subjetiva

entendemos aquela responsabilidade fundada na culpa do agente, seus pressupostos, previstos

nos artigos 927 e 186 do Código Civil, são: ato ilícito (com dolo ou culpa) + dano + nexo causal.

Quando falamos em culpa no direito civil temos que entendê-la como qualquer

comportamento contrário ao direito, intencional ou não. Quanto ao dano, trata-se de um


elemento essencial à responsabilização civil, pois sem ele não há o que indenizar, certo? Assim,

mesmo se a conduta do agente for dolosa ou culposa, se ela não gerar dano à vítima, não

31
falamos em responsabilidade civil. Por fim, o nexo causal é a relação entre a conduta do agente
e o dano causado à vítima. É uma relação de causa e efeito. Para a responsabilização de alguém,

é preciso provar que ele deu causa ao resultado, não basta que o agente tenha praticado
conduta ilícita e que a vítima tenha sofrido um dano, é preciso estabelecer uma relação casuística

entre os dois.

Já que estamos tratando do nexo causal, é importante lembrar a você que existem situações

excludentes do nexo causal: caso fortuito ou caso de força maior; fato exclusivo da vítima; e

fato de terceiro.

A responsabilidade objetiva, por sua vez, exige apenas dois pressupostos: a dano e nexo

causal. A teoria objetiva baseia-se no risco da atividade e, por isso, não se interessa com o

elemento subjetivo (dolo ou culpa). Portanto, quando dizemos que a responsabilidade é objetiva,

significa que, independente de dolo ou culpa, se houve dano e se esse dano decorreu de

conduta lícita ou ilícita do agente (nexo causal), ele deve ser responsabilizado pelos prejuízos

causados.

A regra civil é que a responsabilidade seja subjetiva, sendo a teoria objetiva aplicada apenas

em casos excepcionais, como é o caso da responsabilização por danos ambientais.

Art. 14, §1º, da Lei 6.938/81 – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 14

3.1.1 Responsabilidade civil por dano ambiental

O foco na responsabilidade civil ambiental é a integral reparação do meio ambiente

degradado por meio de uma tutela específica. Por isso, em regra, cabe ao poluidor a obrigação

de recuperar o meio ambiente, restaurando o seu status quo ante. Subsidiariamente, apenas se

o dano for irreparável, é que caberá ao poluidor indenizar os danos causados em dinheiro,

revertido à preservação ambiental.

14
Vide questão 7
32
Ademais, a recuperação do meio ambiente pode ser conjugada com a indenização
pecuniária, pois o princípio da reparação integral visa a mais completa restauração do

equilíbrio ambiental. Nesse sentido, se, em caso de dano, o poluidor reparar de forma completa
e imediata o meio ambiente, não há o que se falar em indenização.

Vale lembrar que a responsabilização do poluidor na esfera civil não visa puni-lo, mas

apenas reparar o dano causado. Nesse sentido, o STJ afirma que “é inadequado pretender

conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é

função que incumbe ao direito penal e administrativo” (REsp. 1.345.536/SE).

Como vimos, a responsabilidade ambiental segue a teoria objetiva. Com isso, não é

preciso comprovar a vontade de causar o dano (dolo) ou a negligência, imprudência ou imperícia

(culpa) do poluidor. Basta que se constate do efetivo dano ambiental e a relação entre ele e a

conduta do agente (nexo causal) para que exista a responsabilização.

No âmbito da responsabilidade civil ambiental, não cabe ao autor da ação comprovar o

dano e o nexo causal entre ele e a atividade do acusado. De acordo com o enunciado da Súmula

618 do STJ, “a inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental”. Esse

entendimento se baseia no in dubio pro nature, pois o aplicador do direito deve sempre
interpretar os fatos em favor da tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A partir desse raciocínio, nas ações de responsabilização ambiental, transfere-se ao suposto

infrator a atribuição de demonstrar que não praticou a atividade lesiva a ele imputada, ou que

a atividade que ele praticou não é capaz de gerar dano ambiental.

Quanto às excludentes do nexo causal em sede de responsabilidade civil objetiva

ambiental, a doutrina diverge. Alguns entendem que a teoria objetiva, baseada na teoria do

33
risco, deve admitir a prova de excludente de responsabilidade. Para eles, a pessoa que assume
o risco de uma atividade deve assumir os seus ônus, exceto os absolutamente imprevisíveis.

Estes excluem o nexo causal e, consequentemente, a responsabilidade civil.

Entretanto, o entendimento majoritário da doutrina, que é adotado pela jurisprudência,


baseia-se na teoria do risco integral. Essa teoria criou uma espécie de responsabilidade civil

objetiva agravada, que não admite as excludentes do nexo causal.

Para os que defendem esse posicionamento, o dever de indenizar surge apenas com o

dano, ainda que ele seja causado por culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito

ou de força maior, pois o simples fato de exercer a atividade potencialmente poluidora produz

o dever de reparar seus eventuais danos.

Portanto, para a teoria do risco integral, só se exclui a responsabilidade civil caso seja

comprovado que o dano não existiu ou que o dano não está relacionado com a atividade que

o agente exerce.

É uma teoria extremamente rigorosa e, por isso, é adotada no Brasil apenas nos casos de

dano ambiental e de dano nuclear.

Além de ser objetiva e pautada na teoria do risco integral, a responsabilidade civil por

dano ambiental também é solidária. A solidariedade é um artifício técnico usado para facilitar

o cumprimento de uma obrigação, que poderá ser reclamada em sua totalidade por qualquer
dos credores a qualquer dos devedores.

Para fins de solidariedade ambiental, equiparam-se como poluidores quem faz, quem não

faz quando deveria fazer, quem faz mal feito, quem não se importa que façam, quem financia

para que façam e quem se beneficia quando outros fazem.

Assim, existindo mais de um agente poluidor, direto ou indireto, a responsabilidade

solidária faz com que todos eles devam responder através de seus bens por todo os prejuízos
causados pelo dano, independentemente do seu grau de culpabilidade. Portanto, a formação

34
de litisconsórcio não é obrigatória, os responsáveis solidários podem ser acionados
conjuntamente ou de forma individual.

Como vimos, a responsabilidade objetiva ambiental requer apenas a comprovação do dano

e do nexo causal entre ele e a atividade do poluidor. Entretanto, o STJ excetua essa regra,
dispensando a comprovação do nexo causal, no caso de responsabilidade por degradação

ambiental de imóvel rural.

A preservação de área ambientalmente protegida é uma obrigação de natureza real, que

adere ao título e se transfere ao sucessor. Visto isso, a responsabilidade de recuperar o meio


ambiente degradado é do atual proprietário do imóvel rural, mesmo que ele não tenha causado
o dano (mesmo sem nexo causal).

Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo

admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

Não custa nada reforçar, tendo em vista a importância do tema, que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é imprescritível. Diante do conflito entre a segurança

jurídica do poluidor com a prescrição e a melhor tutela do bem jurídico ambiental, que é
coletivo, indisponível, fundamental e antecede todos os demais direitos (pois sem ele não há

35
vida), o último prevalece sobre o primeiro e a reparação do dano ambiental é considerada
imprescritível.

Em 31 de maio de 2018, o Supremo Tribunal Federal reconheceu Repercussão Geral da

matéria, nos autos do Recurso Especial 654.833. Sob a relatoria do Ministro Alexandre de Moraes,
os autos foram julgados, definitivamente, em 20 de abril de 2020, ratificando, por maioria de

votos, o posicionamento do STJ sobre a imprescritibilidade

É possível a responsabilidade civil por dano extrapatrimonial em razão da degradação

ambiental? É possível que um dano ao meio ambiente, direito difuso, cause dano moral

individual? E dano moral coletivo?

Todas das respostas são positivas. A degradação do meio ambiente pode causar um dano

extrapatrimonial a um indivíduo, a alguns indivíduos ou à toda coletividade. Por exemplo, um


dano ambiental pode causar dificuldade ou impossibilitar o exercício de determinada profissão,

isso gera dano moral aos respectivos profissionais.

Com a crise ambiental e a sociedade de massa em que vivemos, é preciso dar um enfoque
mais abrangente à responsabilidade civil. Normalmente a responsabilização extrapatrimonial

está relacionada aos direitos de personalidade, vinculados a uma pessoa física e até mesmo

jurídica. Entretanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ter a sua

face individual, apresenta-se como um direito difuso, transindividual. Se o indivíduo pode ser
indenizado por dano moral, também deve ser admitido o dano moral da coletividade, caso

contrário restaria um dano sem a respectiva obrigação de compensar.

Seguindo esse entendimento, o STJ demonstra que admite o dano moral coletivo em

matéria ambiental na decisão do REsp. 1.114.839: “a reparação ambiental deve ser feita de forma
mais completa possível, de modo que a condenação a recuperar a área lesionada não exclui o

dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno

restabelecimento do meio ambiente afetado (dano interino ou intermediário), bem como pelo

dano moral coletivo e pelo dano residual (degradação ambiental que subsiste, não obstante

todos os esforços de restauração)”.

36
Ademais, na decisão do REsp. 1.367.923, o STJ deixou claro que existe um paradoxo na
admissão de dano moral individual sem que fosse possível o mesmo tratamento à coletividade.

E ainda, que a degradação do meio ambiente causa dano moral coletivo, mesmo que de forma
reflexa.

3.1.2 Responsabilidade civil do Estado por dano ambiental

De acordo com o art. 37, §6º da CF/88, “as pessoas jurídicas de direito público e as de

direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável

nos casos de dolo ou culpa”.

O Código Civil, nesse contexto, dispõe no seu art. 43 que “as pessoas jurídicas de direito
público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade

causa a terceiros, ressalvado direito de regresso contra os causadores do dano, se houver, por

parte destes, culpa ou dolo”.

Com fundamento na teoria do risco administrativo, o Estado tem responsabilidade

objetiva pelo dano causado ao meio ambiente por seus agentes, no desempenho de suas
funções ou em razão delas.

A teoria do risco administrativo não se confunde com a teoria do risco integral. Ambas
adotam a responsabilidade objetiva, dispensando a comprovação de dolo ou culpa do agente.

Entretanto, pela teoria do risco integral não é possível reconhecer as causas excludentes de nexo
causal e, já na teoria do risco administrativo, admite-se que o Estado afaste a sua

responsabilidade nos casos de fato exclusivo da vítima, caso exclusivo de terceiro, caso fortuito
e força maior.

37
No direito administrativo, aplicamos a teoria do risco administrativo quando estamos diante
de um ato comissivo do agente público, mas ela convive perfeitamente com a teoria da culpa

do serviço, que prevê a responsabilidade subjetiva do Estado nos casos de danos decorrentes
da sua omissão.

Na teoria da culpa do serviço é admitida a aplicação da culpa anônima, ou a culpa do

serviço. Portanto, não é preciso indicar o sujeito que se omitiu por dolo ou culpa e gerou o

dano a terceiro, basta que fique comprovado que o Estado não agiu, ou que agiu de forma

insuficiente.

No direito ambiental, entretanto, o STJ entende que a responsabilidade do Estado é

objetiva, mesmo em dano causado de forma omissiva. O julgado ainda destaca a

responsabilidade solidária do Poder Público nos casos em que figura como poluidor por

omissão.

A responsabilização ambiental do Estado nesses moldes se fundamenta na imposição

constitucional do dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado

para as presentes e futuras gerações (art. 225 da CF/88).

Apesar disso, em razão do regime especial que rege os créditos públicos, a

responsabilidade civil ambiental da Administração Pública quando se omite do seu dever


constitucional é de execução subsidiária (mas não perde seu caráter de solidária). Ademais, a

subsidiariedade da responsabilização estatal se justifica porque a sociedade não deve ser

duplamente onerada – com o dano ambiental e com o pagamento respectivo feito com dinheiro
público.

Em caso de dano ambiental com omissão do Estado, incumbe ao degradador principal

recuperar o meio ambiente e/ou indenizar os prejuízos causados. Se eventualmente ele for

insolvente, a Administração Pública será responsabilizada como devedora subsidiária e terá

direito de regresso contra o responsável principal. Isso quer dizer que o Estado integra o título

executivo como um “devedor reserva”, e só é chamado a pagar se o devedor principal não o

fizer.

38
RESPONSABILIDADE
OBJETIVA
(TEORIA DO RISCO ADM.)
RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO
RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA
(POLUIDOR POR OMISSÃO)

3.2 Responsabilidade administrativa

Além da responsabilidade civil, o poluidor pode ser responsabilizado administrativamente

pelos danos que causou ao meio ambiente. A Administração Pública deve fiscalizaras atividades,

apurar eventuais infrações e impor as respectivas sanções ao degradador no âmbito

administrativo, exercendo o seu poder de polícia ambiental.

Como se trata de uma competência material comum aos entes federados, essa atividade

é atribuída aos órgãos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, dentro das

suas respectivas competências.

3.2.1 Poder de polícia ambiental

Através do exercício do poder de polícia, o ente público interfere no interesse privado,

limitando direitos individuais, para tutelar interesse público. Para tanto, são usadas normas
limitadoras e sancionadoras.

O poder de polícia ambiental se fundamenta no art. 225 da CF/88, que determina ser um
dever do Poder Público e da coletividade a defesa e a preservação do meio ambiente

ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. A atuação do Estado é


obrigatória, decorrente da natureza indisponível do meio ambiente.

O Poder Público exerce o poder de polícia ambiental através do seu órgão ambiental
competente, que deve atuar sempre nos limites da lei, observando o devido processo legal e,

quando se deparar com um ato discricionário, agir sem abuso ou desvio de poder.

39
O processo administrativo federal para apuração de infrações relativas ao meio ambiente
pode ser sintetizado da seguinte forma:

Em 2019, o Decreto 6.514/08 sofreu alteração, com a inclusão da audiência de conciliação

no processo administrativo. Trata-se de uma fase obrigatória que deve ser observada pela

autoridade administrativa, logo após a aplicação do auto de infração. Importante destacar que
a conciliação administrativa não tem o objetivo de reparar o dano, mas sim, de conferir

alternativas para quitação da multa ambiental aplicada (pagamento com desconto, parcelamento
ou conversão da multa em serviços ambientais fora da área degradada). Caso o autuado não
compareça à audiência, não ocorrerá revelia

A lei complementar 140/11 dispõe que qualquer pessoa que seja legalmente identificada

pode representar infração ambiental ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização


ambiental. Já a autoridade ambiental é obrigada a agir quando se deparar com a infração,
promovendo a sua apuração imediata, sob pena de corresponsabilidade.

3.2.2 Infrações e sanções ambientais

A infração ambiental administrativa é toda ação ou omissão que violar as normas de


uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

A aplicação das sanções administrativas ambientais independe de manifestação judicial,

deve ser determinada e executada pela própria Administração Pública, pois as principais

características do poder de polícia são a autoexecutoriedade e a coercibilidade.

40
A responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva, ou seja, diferentemente da
responsabilidade civil, adotamos aqui a teoria da culpabilidade, avaliando o elemento subjetivo

do poluidor (dolo ou culpa) para a sua condenação, além, é claro, do efetivo dano e do nexo
causal entre ele e a conduta. Isso se justifica porque a responsabilização administrativa do

poluidor visa precipuamente a sua punição, ao contrário da responsabilização civil, que visa a

reparação do dano causado.

Por esse mesmo fundamento, as infrações ambientais administrativas são tipificadas. Ou

seja, se determinada conduta causadora de dano ambiental não for prevista nas normas de

proteção ao meio ambiente, não haverá responsabilidade administrativa do respectivo poluidor

– princípio da estrita legalidade.

Veja bem: uma mesma conduta pode ser tipificada como infração administrativa ao mesmo

tempo que está tipificada como crime, ok? Mas se uma conduta estiver tipificada somente como

crime, ela também pode ser sancionada administrativamente! Se uma pessoa violou bem jurídico

tutelado pelo direito penal, consequentemente ela violou uma regra jurídica de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

O agente público que autuar o poluidor, ao lavrar o auto de infração, deve indicar as
sanções aplicadas ao caso concreto seguindo os critérios de: gravidade dos fatos, antecedentes

do infrator e sua situação econômica.

A gravidade dos fatos deve levar em consideração os motivos da infração e as

consequências que o dano causou; o agente também deve apurar se o poluidor autuado possui
antecedentes quanto ao cumprimento da legislação ambiental; e, no caso de multa, a situação

econômica em que o infrator se encontra.

Art. 72 da Lei 9.605/98 – As infrações administrativas são punidas com as seguintes


sanções, observado o disposto no art. 6º:

I - advertência;

II - multa simples;

III - multa diária;

IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,


petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
41
V - destruição ou inutilização do produto;

VI - suspensão de venda e fabricação do produto;

VII - embargo de obra ou atividade;

VIII - demolição de obra;

IX - suspensão parcial ou total de atividades;

X – (VETADO)

XI - restritiva de direitos.

§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas,


cumulativamente, as sanções a elas cominadas.

A lei 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e

atividades lesivas ao meio ambiente, as quais estudaremos a seguir individualmente.

 Advertência

A sanção de advertência é a repreensão decorrente de um ato lesivo ou de um risco de

um ato lesivo ao meio ambiente. Aplicando a advertência, o Poder Público objetiva que o agente
tome as devidas providências para cessar ou impedir a degradação ambiental.

Segundo o §2º do art. 72 supracitado, a advertência será aplicada pela inobservância das

disposições da lei 9.605/98 e da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem

prejuízo das demais sanções previstas no respectivo artigo.

Aplica-se a advertência aos casos de infrações ambientais administrativas de menor


lesividade, que são aquelas em que a multa máxima cominada não ultrapassa mil reais, por

meio de lavratura de auto de infração, garantido o devido processo legal, com contraditório e

ampla defesa.

Com o auto de infração, deve ser estabelecido um prazo para que a irregularidade seja
sanada. Caso decorra o prazo fixado sem a devida regularização, o agente público autuante

deve certificar os fatos e aplicar a respectiva multa.

42
Por fim, vale salientar que o STJ entende que as demais sanções podem ser aplicadas
independentemente da advertência prévia, pois o agente público deve levar em consideração

a gravidade dos fatos e os antecedentes do infrator no momento da aplicação da sanção.

 Multa simples

A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: advertido
por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por

órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; ou

opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do

Ministério da Marinha.

Como já foi mencionado, o agente público, ao fixar o valor da multa, deve observar a

situação econômica do infrator além dos seus antecedentes e da gravidade dos fatos.

O valor da multa será no mínimo de R$ 50,00 e no máximo 50 milhões de reais, e terá

como base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma, metro de carvão-mdc, estéreo, metro
quadrado, dúzia, estipe, cento, milheiros ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto

jurídico lesado.

Os valores arrecadados a título de multa ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do

Meio Ambiente, ao Fundo Naval, a fundos ambientais estaduais ou municipais, conforme

dispuser o órgão arrecadador.

A autoridade ambiental federal pode converter multa simples em serviços de preservação,


melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, caso em que será celebrado um termo

de compromisso, cuja assinatura implica na renúncia ao direito de recorrer administrativamente

e na suspensão da exigibilidade da multa aplicada.

A celebração do termo de compromisso não extingue o processo administrativo que


aplicou a multa ambiental. O Poder Público deve monitorar e avaliar se as obrigações
estabelecidas estão sendo cumpridas.

O descumprimento desse termo de compromisso implica na inscrição imediata do débito

em dívida ativa e na execução imediata das obrigações pactuadas, tendo em vista o seu caráter

de título executivo extrajudicial.


43
 Multa diária

A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo.
Ela deve ser imposta até que a infração seja cessada ou até a celebração de termo de

compromisso de reparação ou de cessação dos danos.

Cabe ao agente público estabelecer o valor do dia-multa ao lavrar o auto de infração. Esse
valor não pode ser inferior a R$ 50,00 e nem superior a 10% do valor da multa simples cominada

para a infração.

Os valores arrecadados a título de multa ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do

Meio Ambiente, ao Fundo Naval, a fundos ambientais estaduais ou municipais, conforme

dispuser o órgão arrecadador.

Atenção: de acordo com o art. 76 da lei 9.605/98, o pagamento da multa imposta pela
administração estadual, distrital, municipal ou do território, substitui a multa federal quando

tiver a mesma hipótese de incidência. Observe que somente o pagamento da multa gera a
substituição. A celebração de acordos para ajustamento de conduta não possui esse condão,

salvo se o órgão ambiental federal compôs esse compromisso.

 Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e da flora, instrumentos,


petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração

Ao contrário do determinado pelo Código Penal, no caso específico de infrações

ambientais, é permitido o confisco de qualquer instrumento, lícito ou ilícito, empregado


usualmente na prática de violação ambiental. Por exemplo, um caminhão que usualmente
transporta madeira ilegal pode ser confiscado, mesmo sendo um objeto lícito.

Em regra, a apreensão dos instrumentos e produtos do crime é um efeito da condenação.

Mas, no caso de crimes ambientais, não é preciso esperar a condenação do infrator para

realizar a apreensão desses instrumentos e produtos, que deve ser feita logo que verificada a
infração e providenciada a correta destinação.

Quanto à apreensão dos animais, temos as seguintes regras: os animais silvestres devem

ser libertados em seu habitat ou entregues a zoológicos, fundações, entidades científicas, centros

de triagem, criadouros regulares ou entidades semelhantes, sob responsabilidade de técnicos

44
habilitados, ou ainda entregues à guarda doméstica provisória. Os animais domésticos e os
animais exóticos serão apreendidos quando forem encontrados no interior de unidade de

conservação de proteção integral, em área de preservação permanente ou quando impedirem


a regeneração natural de vegetação cujo corte não tenha sido autorizado, se houve embargo

prévio e notificação do proprietário para que remova os animais do local no prazo fixado pela

autoridade ambiental competente.

Os animais domésticos e os animais exóticos que forem apreendidos poderão ser vendidos

ou doados pela autoridade ambiental competente para órgãos e entidades públicas de caráter

científico, cultural, educacional, hospitalar, penal, militar ou social, bem como para entidades

sem fins lucrativos de caráter beneficente.

Quanto aos produtos e subprodutos da fauna e da flora, destacamos que a Lei de Crimes

Ambientais determina que os perecíveis ou as madeiras apreendidas serão avaliados e doados

a instituições científicas, hospitalares, penais ou às instituições beneficentes. Os produtos não

perecíveis apreendidos, como a pele, o pelo, a pena, o chifre e o osso do animal, devem ser
destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.

Finalmente, quanto aos instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos utilizados na


prática da infração ambiental, quando apreendidos, devem ser vendidos, garantida a

descaracterização por meio de reciclagem quando puder ser usado para nova infração.

As vendas serão feitas mediante leilão, nos termos da lei 8.666/93, e os custos operacionais

de depósito, remoção, transporte, beneficiamento e demais encargos legais devem ser arcados
pelo adquirente. Outra possibilidade é a doação desses bens ou a utilização deles pela própria

administração, conforme decisão motivada da autoridade competente que demonstre haver


necessidade.

Em todos os casos de apreensão, se houver doação, ficará vedada a transferência a

terceiros, a qualquer título, dos animais, produtos, subprodutos, instrumentos, petrechos,

equipamentos e veículos objetos de infração ambiental. Apenas em situações especiais a

autoridade ambiental competente poderá autorizar a transferência desses bens doados a

terceiros, fundamentando a medida como a mais adequada para a execução dos fins

institucionais dos beneficiários.

45
 Destruição ou inutilização do produto

A destruição ou a inutilização do produto apreendido, que foi utilizado na prática de


infração ambiental, pode ocorrer quando: a) a medida for necessária para evitar o seu uso e

aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis no caso

concreto; ou b) possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou comprometer a

segurança da população e dos agentes públicos.

Presente uma dessas circunstâncias, o termo de destruição ou de inutilização deve ser

instruído com as condições anteriores e posteriores do produto, bem como com a respectiva

avaliação.

Em casos de produtos tóxicos, perigosos ou nocivos ao ser humano ou ao meio ambiente,

as medidas de destruição ou inutilização determinadas pela autoridade pública competente


devem ser feitas às custas do infrator.

 Suspensão de venda e fabricação do produto

Trata-se de uma penalidade aplicada ao produtor que não seguir as normas legais e os

regulamentos aplicáveis ao produto. Serve para impedir que o produto e o subproduto de uma

infração ambiental cheguem ao mercado consumidor.

 Embargo da obra ou atividade

É uma sanção que visa impedir a continuidade de um dano ambiental, propiciar a

regeneração do meio ambiente e viabilizar a recuperação da área degradada. Portanto, essa


penalidade só deve ser aplicada nos casos em que é possível a adequação da obra ou da

atividade às normas ambientais.

O embargo deve ser limitado ao local onde de fato ocorreu a infração ambiental. Se existem

outras atividades exercidas na propriedade do embargo, elas não devem ser alcançadas. Ou
seja, a sanção não impede atividades não relacionadas com a infração, mesmo que funcione no
mesmo local da embargada.

O embargado deve apresentar à autoridade ambiental competente, que decidirá sobre a

cessação da penalidade, documento que comprove a regularização da obra ou da atividade. No

caso de descumprimento total ou parcial do embargo, aplica-se cumulativamente ao infrator:


46
multa de 10 mil reais a 1 milhão de reais, suspensão da atividade que originou a infração e da
venda de produtos ou subprodutos criados ou produzidos na área ou local objeto do embargo

infringido e o cancelamento de registros, licenças ou autorizações de funcionamento da


atividade econômica junto aos órgãos ambientais e de fiscalização.

Além dessas medidas, a autoridade ambiental competente deve comunicar o caso ao

Ministério Público em até 72 horas para que seja apurado se houve infração penal; e promover

a divulgação dos dados do bem embargado e do seu titular em lista oficial, especificando o

local embargado e se o respectivo auto de infração está julgado ou se ainda está pendente.

 Demolição de obra

A demolição de obra deve ser aplicada, após o exercício do contraditório e da ampla

defesa, quando for verificada a construção de obra em área ambientalmente protegida em


desacordo com a legislação ambiental, ou quando a obra ou construção realizada não atenda

às condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização.

A sanção pode ser executada pela administração ou pelo próprio infrator, em prazo fixado

após o julgamento do auto de infração. Mesmo que seja executada pela Administração, as
despesas da demolição devem ser do infrator.

Ademais, não deve ocorrer a demolição quando, por laudo técnico, ficar demonstrado

que a sua execução pode acarretar mais impactos ao meio ambiente do que a sua

manutenção. Nesses casos, a autoridade ambiental, sem prejuízo das demais sanções
administrativas cabíveis, deve determinar de forma justificada outras medidas para cessar ou

mitigar o dano ambiental.

A demolição sempre observará o contraditório e a ampla defesa? Em regra, sim. Mas, em


situações excepcionais, a demolição pode ser feita no próprio ato de fiscalização. É uma medida

extrema, que só pode ser tomada quando o agente público autuante estiver diante de um grave

risco à saúde humana ou de risco de agravamento de dano ambiental que não sejam sanáveis.

Nesses casos, a demolição poderá ser executada pelo próprio agente público, por quem

ele autorizar ou pelo infrator, e sempre às custas deste último. Ademais, em situações assim,

cabe ao representante do Poder Público descrever e documentar a ação, inclusive com fotos.

47
Vale ressaltar que o Decreto 6.514/08, que faz todas essas regulamentações, veda
expressamente a demolição de edificações residenciais que, segundo o STJ, só podem ser

feitas com autorização do Poder Judiciário.

 Suspensão parcial ou total de atividades

A sanção de suspensão parcial ou total de atividades é aplicada quando o produto, a obra,


a atividade ou o estabelecimento não estiverem de acordo com lei ou com regulamentações

ambientais.

Como a legislação elenca como sanção administrativa a suspensão total ou parcial, a

autoridade administrativa não precisa suspender toda a atividade de uma empresa. A

Administração poderá sustar apenas as atividades em desconformidade com a norma,

permitindo que a empresa siga atuando em suas atividades regulares.

Essa suspensão visa romper a continuidade do processo produtivo em desacordo com as

normas, portanto, não há prazo definido para sua cessação. Se o infrator autuado demonstrar
que regularizou o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento que sofreu a suspensão, a

sanção deve acabar – mas isso depende de uma decisão administrativa da autoridade pública
ambiental competente.

 Restritiva de direitos

Segundo o §8º do art. 72 da Lei 9.605/98, as sanções restritivas de direito são: I - suspensão

de registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III -

perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação


em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar

com a Administração Pública, pelo período de até três anos.

A suspensão do registro, licença ou autorização ocorre até que o infrator adeque as suas

atividades às condicionantes ambientais determinadas pela Administração. O registro, a licença


ou autorização também podem ser cancelados quando for descumpridas as condições que

permitam a manutenção do ato.

A perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais, assim como a perda ou suspensão

de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito, são

48
exemplos de instrumentos econômicos para promover a preservação ambiental. Essas sanções
atingem atividades econômicas que violam as normas ambientais e, nada mais do que justo que

o Poder Público, garantidor do meio ambiente ecologicamente equilibrado, não conceda


benefícios a esses infratores.

As sanções restritivas de direitos devem ter um período de vigência, estabelecido pela

autoridade ambiental autuante, de no máximo um ano, salvo nos casos de proibição de

contratar com a Administração Pública, que tem um prazo de até 3 anos. Entretanto, a

extinção da restritiva de direitos só ocorrerá com o fim do prazo fixado se o infrator

comprovar a regularização da sua atividade.

3.2.3 Decadência e prescrição administrativa

O Decreto 6.514/08 tratou dos institutos de decadência e de prescrição como um só,

chamando apenas de prescrição. É importante que você não confunda: o prazo para a

administração apurar uma infração ambiental é decadencial, apesar do termo “prescrição” usado
na lei; o prazo para a apuração do auto de infração é prescrição intercorrente; e o prazo para

executar a sanção imposta é prescricional.

Apesar da falta de técnica legislativa do Decreto 6.514/08, “prescreve” (decai, na verdade)

em 5 anos a ação administrativa de apuração de infração contra o meio ambiente, contados da


data do ato infracional ou, no caso de infração permanente ou continuada, da data em que ela

estiver cessada.

Segundo o art. 22 do Decreto 6.514/08, interrompe-se a “prescrição” (que na verdade é

decadência): I) pelo recebimento do auto de infração ou pela cientificação do infrator por


qualquer outro meio, inclusive por edital; II) por qualquer ato inequívoco da administração que
importe apuração do fato; e III) pela decisão condenatória recorrível.

Art. 21 do Decreto 6.514/08 – Prescreve em cinco anos a ação da administração


objetivando apurar a prática de infrações contra o meio ambiente, contada da data da
prática do ato, ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que esta
tiver cessado.

§ 1º Considera-se iniciada a ação de apuração de infração ambiental pela administração


com a lavratura do auto de infração.

49
Se a infração também for considerada crime, devemos usar o prazo prescricional do
Código Penal para reger essa situação administrativa.

A prescrição é um instituto que impede o exercício de uma pretensão devido a inércia

durante determinado prazo legal. A prescrição limita a ação do Estado e privilegia a segurança
jurídica do administrado.

O artigo supracitado também dispõe sobre a prescrição intercorrente nos termos do seu

§2º: incide a prescrição no procedimento de apuração do auto de infração paralisado por mais

de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou

mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade

funcional decorrente da paralisação.

Apurada a infração e encerrado o processo administrativo que impôs a respectiva sanção,

começa a fluir um prazo prescricional de 5 anos para que a Administração Pública execute a

penalidade. Nesse contexto, a Súmula 467 do STJ: “prescreve em cinco anos, contados do

término do processo administrativo, a pretensão da administração pública de promover a

execução da multa por infração ambiental”.

QUADRO SINÓTICO

DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


Interesses ou direitos difusos, são os transindividuais, de natureza
DIREITO DIFUSO indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato.
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
ART. 225, CAPUT, de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
DA CF/88 se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.

50
 O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de
todos (transindividual).
 É um direito fundamental.
 O meio ambiente é um bem de uso comum do povo – podem ser
usados por todos, em igualdade de condições, sem necessidade
de consentimento individualizado por parte da Administração
Pública. São bens públicos afetados e, portanto, indisponíveis.
 Princípio do desenvolvimento sustentável – defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
futuras gerações.
 Princípio democrático: o dever de defender e preservar o meio
ambiente para as presentes e futuras gerações também pertence
à coletividade.
ART. 225, §1º DA Princípio da obrigatoriedade de atuação estatal – para assegurar a
CF/88 efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
ART. 225, §1º, I, Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
DA CF/88 manejo ecológico das espécies e ecossistemas (princípio da prevenção)
Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País
ART. 225, §1º, II,
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
DA CF/88
genético.
Em todas as unidades da Federação devem ser definidos espaços
territoriais e seus componentes para serem especialmente protegidos,
ART. 225, §1º, III, sendo vedada qualquer forma de utilização que comprometa a
DA CF/88 integridade dos atributos que justifiquem essa proteção.
Esses espaços protegidos podem ser criados por meio de lei ou de
decreto, mas só podem ser alterados ou suprimidos por meio de lei.
Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
ART. 225, §1º, IV, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade – a
DA CF/88 publicidade do EIA é essencial para o princípio da informação e,
consequentemente, para a participação da sociedade nas questões
ambientais.
controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
ART. 225, §1º, V,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
DA CF/88
vida e o meio ambiente (lembre-se do poder de polícia ambiental).

51
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
ART. 225, §1º, VI,
pública para a preservação do meio ambiente – é uma forma de viabilizar
DA CF/88
o princípio democrático.
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
ART. 225, §1º,
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
VII, DA CF/88
espécies ou submetam os animais a crueldade.
Princípio do poluidor-pagador: aquele que explorar recursos minerais
fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado [lembre-se que a
ART. 225, §2º DA
prioridade da reparação é in natura, se não for possível, o degradador
CF/88
deve indenizar em pecúnia], de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
ART. 225, §3º DA Tríplice responsabilização: os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
CF/88 estão sujeitos à responsabilidade penal, administrativa e civil.
Patrimônio nacional: Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira.
ART. 225, §4º DA
Sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
CF/88
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.
ART. 225, §5º DA As terras necessárias (afetadas) à proteção do meio ambiente são
CF/88 indisponíveis.
ART. 225, §6º DA O local das usinas nucleares deve ser definido por lei federal.
CF/88
VAQUEJADA: não se consideram cruéis as práticas desportivas que
utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, registradas
ART. 225, §7º DA
como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
CF/88
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure
o bem-estar dos animais envolvidos.
AÇÕES  Ação Civil Pública
CONSTITUCIONAI  Ação Popular
S
Competência legislativa Competência material
Estado
União Estado e DF Municípios União Municípios
COMPETÊNCIAS e DF
Privativa Exclusiva Exclusiva Comum Comum
Exclusiva
art. 22 art. 30, I art. 21 art. 23 art. 23

52
Concorrente art. 25, §2º e Suplementar Comum
art. 24 §3º art. 30, II art. 23
Remanescente
art. 25, §1º
Concorrente
art. 24
Suplementar
art. 24, §2º
Supletiva
art. 24, §3º

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Responsabilidade civil
ART. 225, §3º DA CF/88 Obrigação do poluidor de recuperar ou
ART. 4º, VII DA LEI 6.938/81 indenizar os danos causados.
Independentemente da existência de dolo ou
culpa, o poluidor é obrigado a indenizar e
reparar os danos decorrentes de sua atividade
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
causados ao meio ambiente e a terceiros.
Basta a comprovação do dano e o nexo causal
entre ele e a atividade do poluidor.
Na responsabilidade objetiva ambiental não
cabe a invocação de causa excludente do
nexo de causalidade para afastar a
TEORIA DO RISCO INTEGRAL responsabilização.
Excludentes de nexo causal: caso fortuito,
força maior, culpa exclusiva da vítima e fato
de terceiro.
É possível acumular na mesma condenação
REPARAÇÃO INTEGRAL DO MEIO
obrigação de fazer, de não fazer e de
AMBIENTE
indenizar.
É uma responsabilidade extracontratual –
RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR emana da lei/Constituição.
DANO AMBIENTAL Há responsabilidade civil ambiental do Estado
quando a sua omissão na fiscalização for

53
determinante para que o dano ocorra ou para
a sua maior gravidade.
Nesses casos a responsabilidade civil da
Administração Pública é solidária, mas de
execução subsidiária.
Responsabilidade administrativa
Considera-se infração administrativa
ambiental toda ação ou omissão que viole as
ART. 70 DA LEI 9.605/98
regras jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA Dolo/culpa + dano + nexo causal
 Advertência
 Multa simples
 Multa diária
 Apreensão dos animais, produtos e
subprodutos da fauna e da flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos
ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração
SANÇÕES AMBIENTAIS ADMINISTRATIVAS
 Destruição ou inutilização do produto
 Suspensão de venda e fabricação do
produto
 Embargo de obra ou atividade
 Demolição da obra
 Suspensão parcial ou total das
atividades
 Restritiva de direitos
Para apurar a prática de infração ambiental: 5
anos contados da data da prática do ato, ou,
no caso de infração permanente ou
continuada, do dia em que esta estiver
PRESCRIÇÃO
cessado.
Se a infração administrativa também for um
crime, o prazo para a apuração deve ser o
mesmo prazo prescricional da lei penal.

54
Prescrição intercorrente: procedimento de
apuração do auto de infração paralisado por
mais de 3 anos, pendente de julgamento ou
despacho. Os autos serão arquivados de ofício
ou mediante requerimento da parte
interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional pela paralização.

Súmula 467, STJ: prescreve em cinco anos,


contados do término do processo
administrativo, a pretensão da administração
pública de promover a execução da multa por
infração ambiental.

55
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Segundo prevê o art. 225 da

Constituição Federal “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Nesse

caso,

A) degradação ambiental e poluição são expressões que se equivalem.

B) como cabe ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente, jamais poderá ser

responsabilizado por sua degradação.

C) o poluidor será sempre a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável, direta ou
indiretamente, pela degradação ambiental.

D) o poluidor será a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta

ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.


E) a poluição será sempre ilícita.

Comentário:

A Lei 6.938/81, em seu art. 3º, faz algumas conceituações importantes. Entre elas, está a

de degradação e de poluição, que não se confundem. Degradação é a alteração adversa


das características do meio ambiente, enquanto poluição é a degradação da qualidade

ambiental “qualificada” por atividades que resultem direta ou indiretamente em prejuízos

à saúde, segurança e bem-estar da população; que criem condições adversas às atividades

sociais e econômicas; que afetem desfavoravelmente a biota; que afetem as condições

56
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; ou que lancem matérias ou energia em desacordo
com os padrões ambientais estabelecidos.

O mesmo artigo ainda define “poluidor” como: “pessoa jurídica, de direito público ou

privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação


ambiental.

Veja que, de acordo com a definição legal de poluidor, o próprio Poder Público pode ser

responsabilizado pela degradação que seja causada direta ou indiretamente por sua

atividade, mesmo sendo garantidor do meio ambiente.

Por fim, destacamos que a poluição pode ser lícita! O uso de recursos naturais, mesmo
dentro das normas regulamentares, causa danos ao meio ambiente.

Questão 2

(MPE-BA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto) No que se refere ao dever

imposto ao Poder Público e à coletividade quanto a defender e preservar o meio ambiente para

as presentes e futuras gerações, é correto afirmar que

A) os Estados e o Distrito Federal estabelecerão, por meio de lei, a localização, em seus

territórios, em que poderão ser instaladas usinas que operem com reator nuclear, excluídas as

áreas necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

B) a Floresta Amazônica brasileira, a Serra do Mar e a Zona Costeira são patrimônio nacional,

devendo sua utilização econômica ser feita dentro de condições que assegurem a preservação

do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais, sendo exigido prévio depósito,

nos casos de risco previsível, para fins de reparação.

C) a Constituição Federal autoriza práticas desportivas em que são utilizados animais, desde que
sejam manifestações culturais registradas como bem de natureza imaterial, devendo ainda ser

regulamentadas por lei específica, a fim de evitar a crueldade contra os animais.

D) é dever do Poder Público exigir, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental,

57
cabendo ao órgão ambiental responsável pela análise a guarda dos documentos, a fim de que
seja preservado o sigilo das informações.

E) compete privativamente à União definir os espaços territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei.

Comentário:

É uma questão bem interessante porque aborda vários assuntos do art. 225 da CF/88. Em

primeiro lugar, as localizações das usinas que operem com reator nuclear devem ser

definidas por meio de lei complementar federal, de acordo com os termos do §6º: “as

usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal,

sem o que não poderão ser instaladas”.

A Floresta Amazônica brasileira, a Serra do Mar e a Zona Costeira, bem como a Mata

Atlântica e o Pantanal Mato-Grossense, de fato, são definidas como patrimônio nacional

pelo §4º, devendo sua utilização econômica ser feita na forma da lei, dentro das condições

que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais. Entretanto, não é exigido prévio depósito para fins de reparação nos casos de
risco previsível.

De acordo com o §7º, ficam autorizada as práticas desportivas em que são utilizados
animais, desde que sejam manifestações culturais registradas como bem de natureza

imaterial, devendo ainda ser regulamentadas por lei específica, a fim de evitar a crueldade
contra os animais.

É dever do Poder Público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio


de impacto ambiental. No direito ambiental consagra-se o princípio da informação, sem o

qual seria praticamente impossível a participação da coletividade na preservação do meio


ambiente. Portanto, os estudos prévios de impacto ambiental devem ser publicados e não

sigilosos.

58
Por fim, a definição de espaços territoriais e de seus componentes a serem especialmente
protegidos é uma competência material comum entre os entes da federação.

Questão 3

(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) O artigo 225 da Constituição Federal impõe ao

Poder Público diversas incumbências destinadas a assegurar a efetividade do direito de todos a


um meio ambiente sadio. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

A) definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem


especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas segundo regras do

Conama, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que

justifiquem sua proteção.


B) exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de

significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade.

C) regulamentar os critérios de diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

limitar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

D) proteger a fauna e a flora, autorizadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, desde que não provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais à crueldade.

E) vedar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que

comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Comentário:

De acordo com o §1º, III, do art. 225 da CF/88, incumbe ao Poder Público definir, em todas

as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente

protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada

qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua

proteção.

59
O inciso seguinte dispõe sobre a exigência, na forma da lei, do estudo prévio de impacto
ambiental para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente. A esse estudo prévio de impacto ambiental – EIA deve ser
dada publicidade, o que permitirá o conhecimento de dados técnicos pelos interessados e

pela população em geral, garantindo a participação do cidadão na preservação do meio

ambiente.

Ao Poder Público não cabe regulamentar os critérios de diversidade e a integralidade do

patrimônio genético do País, nem limitar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação

de material genético. Cabe ao Poder Público, segundo o inciso II do §1º do art. 225 da

CF/88, preservar a diversidade e a integralidade do patrimônio genético do País e fiscalizar


as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

O inciso VII do mesmo dispositivo define como um dever do Poder Público na tutela do

meio ambiente ecologicamente equilibrado “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma

da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade”.

Por fim, incumbe ao Poder Público controlar, e não vedar, a produção, a comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a

qualidade de vida e o meio ambiente, de acordo com o disposto no art. 225, §1º, V da
CF/88.

Questão 4

(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) A Declaração de Estocolmo, marco na abordagem


do meio ambiente como um todo e objeto de preocupação de toda humanidade, estabeleceu

26 princípios. No princípio 1, fixa-se a obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para

as gerações presentes e futuras, inspirando o caput do artigo 225 da Constituição Federal de

1988, que trata do meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, impondo-

60
se ao poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. O princípio aí tratado identifica-se com o

A) do planejamento racional.
B) da soberania territorial.

C) do combate à pobreza.

D) de guerra e paz.

E) do meio ambiente como um direito humano.

Comentário:

A Declaração de Estocolmo resultou da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio


Ambiente Humano, em 1972. No seu princípio 1, dispõe que o homem tem direito

fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em

um meio ambiente de qualidade, que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-

estar.

Questão 5

(IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) “Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”
(trecho do art. 225, da Constituição Federal). De modo a assegurar o cumprimento e a

efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

A) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País, ressalvada a

fiscalização das entidades de pesquisa de material genético.

B) controlar apenas a comercialização de substâncias que comportem risco para a vida e o meio

ambiente, mas não sua produção.

C) preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das

espécies e ecossistemas.

61
D) promover a educação ambiental exclusivamente no nível fundamental de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

E) proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma de regulamento, as práticas que coloquem em


risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à

experimentação.

Comentário:

Mais uma vez o examinador cobrou do candidato o conhecimento da literalidade do art.


225 da CF/88. O referido artigo, em seu §1º, atribui como dever do Poder Público “preservar

a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades


dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético”, ou seja, sem ressalvas, o Poder

Público deve fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético.

O Poder Público também tem a incumbência de controlar a comercialização de substâncias

que comportem risco para a vida e o meio ambiente, assim como também tem o dever

de controlar a produção, a comercialização e o emprego dessas substâncias e de técnicas

e métodos que também possam colocar a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente
em risco.

Ainda, cabe ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; além de promover a educação

ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação


do meio ambiente.

Por fim, a proteção da fauna e da flora é mais um dever do Poder Público elencado pelo

art. 225 da CF/88, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. As

práticas experimentais com animais não são completamente vedadas. Quando for inevitável

o uso de animais vivos em experimentos, se causarem dor ou angústia, devem ser

realizados sob sedação, analgesia ou anestesia. Essa entre outras normas buscam

62
regulamentar práticas científicas e educacionais com o mínimo de sofrimento para o animal
envolvido.

Questão 6

(XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020) Seguindo plano de expansão de seu parque industrial
para a produção de bebidas, o conselho de administração da sociedade empresária Frescor S/A

autoriza a destruição de parte de floresta inserida em Área de Preservação Permanente, medida


que se consuma na implantação de nova fábrica.

Sobre responsabilidade ambiental, tendo como referência a hipótese narrada, assinale a

afirmativa correta.
A) Frescor S/A responde civil e administrativamente, sendo excluída a responsabilidade penal

por ter a decisão sido tomada por órgão colegiado da sociedade.


B) Frescor S/A responde civil e administrativamente, uma vez que não há tipificação criminal

para casos de destruição de Área de Preservação Permanente, mas apenas de Unidades de

Conservação.

C) Frescor S/A responde civil, administrativa e penalmente, sendo a ação penal pública,
condicionada à prévia apuração pela autoridade ambiental competente.
D) Frescor S/A responde civil, administrativa e penalmente, sendo agravante da pena a intenção

de obtenção de vantagem pecuniária.

Comentário:

Lei 9.605/98 - Lei dos Crimes Ambientais

Dos Crimes contra a Flora:

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em

formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
63
II - ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária;

Questão 7

(XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Tendo em vista a infestação de percevejo-castanho-

da-raiz, praga que causa imensos danos à sua lavoura de soja, Nelson, produtor rural,

desenvolveu e produziu de forma artesanal, em sua fazenda, agrotóxico que combate a aludida

praga. Mesmo sem registro formal, Nelson continuou a usar o produto por meses, o que

ocasionou grave intoxicação em Beto, lavrador da fazenda, que trabalhava sem qualquer
equipamento de proteção. Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.

A) Não há qualquer responsabilidade de Nelson, que não produziu o agrotóxico de forma

comercial, mas para uso próprio.

B) Nelson somente responde civilmente pelos danos causados, pelo não fornecimento de
equipamentos de proteção a Beto.

C) Nelson responde civil e criminalmente pelos danos causados, ainda que não tenha produzido

o agrotóxico com finalidade comercial.


D) Nelson somente responde administrativamente perante o Poder Público pela utilização de

agrotóxico sem registro formal.

Comentário:

•Lei 6938/81, Art. 14 § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o

poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos

causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por

danos causados ao meio ambiente.

• Lei 7.802/89, Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à
saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização,

64
transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não
cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: (...)

e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes


do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação

às embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente; (Redação dada pela Lei nº

9.974, de 2000)

Questão 8

(XX EXAME DE ORDEM – FGV- 2016) No curso de obra pública de construção de represa para

fins de geração de energia hidrelétrica em rio que corta dois estados da Federação, a associação

privada Sorrio propõe ação civil pública buscando a reconstituição do ambiente ao status quo

anterior ao do início da construção, por supostos danos ao meio ambiente.


Considerando a hipótese, assinale a afirmativa correta.

A) Caso a associação Sorrio abandone a ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá

a titularidade ativa.
B) Caso haja inquérito civil público em curso, proposto pelo Ministério Público, a ação civil

pública será suspensa pelo prazo de até 1 (um) ano.

C) Como o bem público objeto da tutela judicial está localizado em mais de um estado da

federação, a legitimidade ativa exclusiva para propositura da ação civil pública é do Ministério
Público Federal.

D) Caso o pedido seja julgado improcedente por insuficiência de provas, não será possível a

propositura de nova demanda com o mesmo pedido.

Comentário:

Lei nº 7.347: Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico (VETADO) e dá outras providências.

65
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao

meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos

raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o

Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial

do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,

hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,

valendo-se de nova prova.

Questão 9

(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Pedro, em visita a determinado Município do interior

do Estado do Rio de Janeiro, decide pichar e deteriorar a fachada de uma Igreja local tombada,
por seu valor histórico e cultural, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico-Cultural –

INEPAC, autarquia estadual. Considerando o caso em tela, assinale a afirmativa correta.

A) Pedro será responsabilizado apenas administrativamente, com pena de multa, uma vez que
os bens integrantes do patrimônio cultural brasileiro não se sujeitam, para fins de tutela, ao

regime de responsabilidade civil ambiental, que trata somente do meio ambiente natural.

B) Pedro será responsabilizado administrativa e penalmente, não podendo ser responsabilizado

civilmente, pois o dano, além de não poder ser considerado de natureza ambiental, não pode
ser objeto de simultânea recuperação e indenização.

C) Pedro, por ter causado danos ao meio ambiente cultural, poderá ser responsabilizado

administrativa, penal e civilmente, sendo admissível o manejo de ação civil pública pelo
66
Ministério Público, demandando a condenação em dinheiro e o cumprimento de obrigação de
fazer.

D) Pedro, além de responder administrativa e penalmente, será solidariamente responsável com


o INEPAC pela recuperação e indenização do dano, sendo certo que ambos responderão de

forma subjetiva, havendo necessidade de inequívoca demonstração de dolo ou culpa por parte

de Pedro e dos servidores públicos responsáveis.

Comentário:

Lei nº 7347, de 1985, art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada

pela Lei nº 12.529, de 2011).

(...)

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Lei nº 7347, de 1985, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

(Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

I - o Ministério Público;

67
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - C

Questão 3 - B

Questão 4 - E

Questão 5 - C

Questão 6 - D

Questão 7 - C

Questão 8 - A

Questão 9 - C

68
QUESTÃO DESAFIO

Aplica-se a teoria da dupla imputação nos crimes ambientais?

Máximo de 5 linhas

69
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Pela teoria da dupla imputação, para que haja a responsabilização penal de uma pessoa jurídica
pela prática de crime ambiental, é necessária a concomitante imputação à pessoa física por ela
responsável. Atualmente, tanto o STF quanto o STJ não aplicam a dupla imputação aos crimes
ambientais.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Concomitante imputação à pessoa física e jurídica

Nos termos do art. 225, §3º, da CF, “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Ainda, também prevendo a
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, o art. 3º, da Lei 9605/98, dispõe que “as pessoas jurídicas
serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em
que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”. Dito isto, pode-se concluir que a lei prevê dois
requisitos para a responsabilização criminal das pessoas jurídicas pela prática de crimes ambientais: 1) a
infração criminal deve ter sido cometida por decisão do seu representante legal; 2) a infração criminal
deve ter sido praticada no interesse ou benefício da entidade. Todavia, segundo Márcio André Cavalcante,
apesar dos dispositivos citados, ainda é grande a discussão doutrinária acerca da possibilidade de
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, existindo, basicamente, quatro correntes quanto ao
tema: 1) a primeira corrente afirma que a Constituição Federal nem sequer previu a responsabilização
criminal das pessoas jurídicas, mas apenas sua responsabilidade administrativa; 2) a segunda corrente,
por sua vez, afirma que a ideia de responsabilidade criminal da pessoa jurídica é incompatível com a
teoria do crime adotada no Brasil; 3) para a terceira corrente é plenamente possível a responsabilização
penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais, uma vez que assim determinou o § 3º do art.
225 da CF/88. Assim, a pessoa jurídica poderia ser punida penalmente por crimes ambientais, ainda que
não houvesse a responsabilização de pessoas físicas; 4) e a quarta corrente, que traz a teoria da dupla
imputação, que afirma pela possibilidade da responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em
conjunto com uma pessoa física. Desta forma, para a teoria da dupla imputação, a denúncia concomitante
da pessoa física e da pessoa jurídica é pressuposto para que o processo-crime se desenvolva
corretamente.

 STF e STJ não aplicam a dupla imputação

70
Durante muitos anos, o STJ posicionava-se no sentido de exigir a dupla imputação para a
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, enquanto que o STF, desde 2013, já afirmava pela
desvinculação entre as denúncias imputadas às pessoas físicas e às pessoas jurídicas. Apenas em 2015,
o STJ, em julgado importantíssimo, resolveu aderir ao entendimento do STF, abandonando a teoria da
dupla imputação. Segue abaixo trecho do citado acórdão: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL:
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA. 1.
Conforme orientação da 1ª Turma do STF, “O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária
dupla imputação.” (RE 548181, Relatora Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão
eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014, public. 30/10/2014). 2. Tem-se, assim, que é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. 3. A
personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática de condutas
espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se
nega provimento. (RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 06/08/2015, DJe 13/08/2015).

71
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Direito Ambiental na Constituição Federal:

 CF/88: Art. 5º, LXXII, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 30, 129, III, 225
 CDC: Art. 81;
 Súmula: 365, STF.

Responsabilidade Ambiental:

 CF/88: Art. 37, §6º, 225, §3º;


 Lei 6.938/81: Art. 2º, 3º, 4º, 14;
 CC: Art. 186, 187, 393, 927;
 Lei 9.605/98: Art. 6º, 25, 52, 70, 72, 73, 76,146;
 Decreto 6.514/08: Art. 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10, 12, 15-A, 15-B, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 79,
92, 103, 107, 108, 109, 110,111, 112, 134, 135, 136, 137, 138, 149;
 CTN: Art. 78;
 LC 140/11: Art. 17;
 Súmula: 467 e 623, STJ.

72
JURISPRUDÊNCIA

Direito Ambiental na Constituição Federal

 STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 2/5/2017 (Info 863)

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE, SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO
DOS ARTS. 4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO

INTEGRAL, DO POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD
PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI DE
INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL.

1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
causados pela supressão de vegetação nativa e edificação irregular em Área de Preservação Permanente. O juiz de
primeiro grau e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o
réu a repará-lo; porém, julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residua l.

2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei 6.938/81, de
cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (...)

3. Recurso Especial parcialmente provido para reconhecer a possibilidade de cumulação de indenização


pecuniária com as obrigações de fazer e não fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado,
devolvendo-se os autos ao Tribunal de origem para que fixe, in casu, o quantum debeatur reparatório do dano já
reconhecido no acórdão recorrido.

 STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e 30/6/2016 (Info 832).

Impossibilidade do Poder Judiciário interferir, no mérito, na elaboração das leis orçamentárias Salvo em situações

graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de violação ao princípio da separação de Poderes,
interferir na função do Poder Legislativo de definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando
projetos de leis orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da Constituição
Federal.

73
 STF. MS 28845/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 21.11.2017. (MS-28845)

Descabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente administrativas, o controle de
controvérsia submetida à apreciação do Poder Judiciário. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma indeferiu
mandado de segurança impetrado contra o ato, por meio do qual o CNJ determinou o arquivamento de processo
administrativo, ante a alegada inviabilidade de controle, pelo Órgão, de questão submetida ao crivo do Supremo

Tribunal Federal (STF). A impetrante postulava no CNJ a sua recondução à titularidade interina de Tabelionato de
Notas e Ofício de Protesto de Títulos e o consequente afastamento de aprovado em concurso público que assumiu
o acervo do cartório. Afirmava o descumprimento da decisão liminar em mandado de segurança que suspendeu o
mencionado certame. A Turma considerou, inicialmente, que o eventual descumprimento de decisão proferida pelo

STF não se resolve na seara do CNJ, mas, sim, na do próprio Tribunal, mediante reclamação. Entendeu, ademais,
que o CNJ observou, com acerto, o fato de a controvérsia estar submetida ao Judiciário, quadro impeditivo da
própria atuação, tendo em conta o disposto nos parágrafos 4º e 5º do artigo 103-B da Constituição Federal.

 Pet 5.714 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 28-11-2017, 1ª T, DJE de 13-12-2017

Deputado federal. Crime contra a honra. Nexo de implicação entre as declarações e o exercício do mandato.
Imunidade parlamentar material. Alcance. Art. 53, caput, da CF. (...) A verbalização da representação parlamentar
não contempla ofensas pessoais, via achincalhamentos ou licenciosidade da fala. Placita, contudo, modelo de
expressão não protocolar, ou mesmo desabrido, em manifestações muitas vezes ácidas, jocosas, mordazes, ou até
impiedosas, em que o vernáculo contundente, ainda que acaso deplorável no patamar de respeito mútuo a que se
aspira em uma sociedade civilizada, embala a exposição do ponto de vista do orador.

 MS 32.033, rel. p/ o ac. min. Teori Zavascki, j. 20-6-2013, P, DJE de 18-2-2014

O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar mandado de segurança
com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis
com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo

Responsabilidade Ambiental

 STJ. REsp. 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/05/2013

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE, SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO
DOS ARTS. 4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO
INTEGRAL, DO POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO

DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD


PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI DE
INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL.

74
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
causados pela supressão de vegetação nativa e edificação irregular em Área de Preservação Permanente. O juiz de

primeiro grau e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o
réu a repará-lo; porém, julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual.

2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei 6.938/81, de
cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (...)

3. Recurso Especial parcialmente provido para reconhecer a possibilidade de cumulação de indenização


pecuniária com as obrigações de fazer e não fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado,
devolvendo-se os autos ao Tribunal de origem para que fixe, in casu, o quantum debeatur reparatório do dano já
reconhecido no acórdão recorrido.

 STJ - REsp: 1357614 SE 2012/0259765-2, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Publicação: DJ 11/05/2015

(...) RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO
RIO SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE 2008. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
NÃO CONFIGURADA. DANO PATRIMONIAL. SÚMULA 283/STF. DANO MORAL. SÚMULA 284/STF. RAZOABILIDADE.
RECURSO NÃO PROVIDO. (...) 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) para demonstração da

legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental que resultou na redução da pesca na área atingida, o
registro de pescador profissional e a habilitação ao benefício do seguro-desemprego, durante o período de defeso,
somados a outros elementos de prova que permitam o convencimento do magistrado acerca do exercício dessa
atividade, são idôneos à sua comprovação; b) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela

teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre
na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de
excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que

incumbe ao direito penal e administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e homogeneidade dos efeitos
do dano ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando significativamente, por cerca de seis meses,
o volume pescado e a renda dos pescadores na região afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora
para mitigação dos danos morais experimentados e demonstrados por aqueles que extraem o sustento da pesca

profissional, não se justifica, em sede de recurso especial, a revisão do quantum arbitrado, a título de compensação
por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o dano material somente é indenizável mediante prova efetiva
de sua ocorrência, não havendo falar em indenização por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente
demonstrado nos autos; assim, se durante o interregno em que foram experimentados os efeitos do dano ambiental
houve o período de "defeso" - incidindo a proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em
indenização por lucros cessantes durante essa vedação (...).

75
 STJ - REsp: 578797 RS 2003/0162662-0, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento:
05/08/2004, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 20/09/2004 p. 196)

DANO AMBIENTAL. CORTE DE ÁRVORES NATIVAS EM ÁREA DE PROTEÇÃOAMBIENTAL. RESPONSABILIDADE


OBJETIVA. 1. Controvérsia adstrita à legalidade da imposição de multa, por danos causados ao meio ambiente, com
respaldo na responsabilidade objetiva, consubstanciada no corte de árvores nativas. 2. A Lei de Política Nacional

do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) adotou a sistemática da responsabilidade civil objetiva (art. 14, parágrafo1º.) e
foi integralmente recepcionada pela ordem jurídica atual, de sorte que é irrelevante e impertinente a discussão da
conduta do agente (culpa ou dolo) para atribuição do dever de indenizar. 3. A adoção pela lei da responsabilidade
civil objetiva, significou apreciável avanço no combate a devastação do meio ambiente, uma vez que, sob esse
sistema, não se leva em conta, subjetivamente, a conduta do causador do dano, mas a ocorrência do resultado
prejudicial ao homem e ao ambiente. Assim sendo, para que se observe a obrigatoriedade da reparação do dano
é suficiente, apenas, que se demonstre o nexo causal entre a lesão infligida ao meio ambiente e a ação ou omissão
do responsável pelo dano. 4. O art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/81 prevê expressamente o dever do poluidor ou predador

de recuperar e/ou indenizar os danos causados, além de possibilitar o reconhecimento da responsabilidade, repise-
se, objetiva, do poluidor em indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente ou aos terceiros afetados
por sua atividade, como dito, independentemente da existência de culpa., consoante se infere do art. 14, § 1º, da
citada lei. 6. A aplicação de multa, na hipótese de dano ambiental, decorre do poder de polícia - mecanismo de
frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter ou coibir atividades dos particulares que se revelarem
nocivas, inconvenientes ao bem-estar social, ao desenvolvimento e à segurança nacional, como sói acontecer na
degradação ambiental.7. Recurso especial provido.

 STJ - REsp: 442586 SP 2002/0075602-3, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento:
26/11/2002, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 24/02/2003 p. 196REVJMG vol.
163 p. 825RSTJ vol. 173 p. 136

ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. SANÇÃO ADMINISTRATIVA. IMPOSIÇÃO DE MULTA. EXECUÇÃO FISCAL. 1.


Para fins da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 3º, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais

e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio


ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; 2. Destarte, é
poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental; 3. O poluidor, por seu turno, com base na mesma legislação, art. 14 - "sem
obstar a aplicação das penalidades administrativas" é obrigado, "independentemente da existência de culpa", a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, "afetados por sua atividade". 4. Depreende-
se do texto legal a sua responsabilidade pelo risco integral, por isso que em demanda infensa a administração,

76
poderá, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo evento. 5. Considerando que a lei legitima o Ministério
Público da União e do Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos

causados ao meio ambiente, é inequívoco que o Estado não pode inscrever sel-executing, sem acesso à justiça,
quantum indenizatório, posto ser imprescindível ação de cognição, mesmo para imposição de indenização, o que
não se confunde com a multa, em obediência aos cânones do devido processo legal e da inafastabilidade da
jurisdição. 6. In casu, discute-se tão-somente a aplicação da multa, vedada a incursão na questão da
responsabilidade fática por força da Súmula 07/STJ. 5. Recurso improvido.

 STJ - REsp: 1114398 PR 2009/0067989-1, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:
08/02/2012, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 16/02/2012

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A PESCADORES CAUSADOSPOR POLUIÇÃO AMBIENTAL

POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DECOLISÃO DO NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ
(...) c) Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro, ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de
culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante
a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da
CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-
pagador. d) Configuração de dano moral - Patente o sofrimento intenso de pescador profissional artesanal, causado
pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização
por dano moral, fixada, por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. e) termo inicial de incidência dos

juros moratórios na data do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir
da data do fato, no tocante aos valores devidos a título de dano material e moral; (...).

 STJ - REsp: 650728 SC 2003/0221786-0, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de


Julgamento: 23/10/2007, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/12/2009

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. NATUREZA JURÍDICA DOS MANGUEZAIS E MARISMAS. TERRENOS DE MARINHA.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ATERRO ILEGAL DE LIXO. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. NEXO DE CAUSALIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. PAPEL DO
JUIZ NA IMPLEMENTAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL. ATIVISMO JUDICIAL. MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

DESAFETAÇÃO OU DESCLASSIFICAÇÃO JURÍDICA TÁCITA. SÚMULA 282/STF. VIOLAÇÃO DO ART. 397 DO CPC NÃO
CONFIGURADA. ART. 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981. (...) 2. Por séculos prevaleceu entre nós a concepção cultural
distorcida que enxergava nos manguezais lato sensu (= manguezais stricto sensu e marismas) o modelo consumado
do feio, do fétido e do insalubre, uma modalidade de patinho-feio dos ecossistemas ou antítese do Jardim do

Éden. 3. Ecossistema-transição entre o ambiente marinho, fluvial e terrestre, os manguezais foram menosprezados,
popular e juridicamente, e por isso mesmo considerados terra improdutiva e de ninguém, associados à procriação
de mosquitos transmissores de doenças graves, como a malária e a febre amarela. Um ambiente desprezível, tanto
que ocupado pela população mais humilde, na forma de palafitas, e sinônimo de pobreza, sujeira e párias sociais

(como zonas de prostituição e outras atividades ilícitas). 4. Dar cabo dos manguezais, sobretudo os urbanos em
época de epidemias, era favor prestado pelos particulares e dever do Estado, percepção incorporada tanto no
77
sentimento do povo como em leis sanitárias promulgadas nos vários níveis de governo. 5. Benfeitor-modernizador,
o adversário do manguezal era incentivado pela Administração e contava com a leniência do Judiciário, pois

ninguém haveria de obstaculizar a ação de quem era socialmente abraçado como exemplo do empreendedor a
serviço da urbanização civilizadora e do saneamento purificador do corpo e do espírito. 6. Destruir manguezal
impunha-se como recuperação e cura de uma anomalia da Natureza, convertendo a aberração natural pela
humanização, saneamento e expurgo de suas características ecológicas no Jardim do Éden de que nunca fizera
parte. 7. No Brasil, ao contrário de outros países, o juiz não cria obrigações de proteção do meio ambiente. Elas
jorram da lei, após terem passado pelo crivo do Poder Legislativo. Daí não precisarmos de juízes a tivistas, pois o
ativismo é da lei e do texto constitucional. Felizmente nosso Judiciário não é assombrado por um oceano de lacunas
ou um festival de meias-palavras legislativas. Se lacuna existe, não é por falta de lei, nem mesmo por defeito na

lei; é por ausência ou deficiência de implementação administrativa e judicial dos inequívocos deveres ambientais
estabelecidos pelo legislador. 8. A legislação brasileira atual reflete a transformação científica, ética, política e jurídica
que reposicionou os manguezais, levando-os da condição de risco à saúde pública ao patamar de ecossistema
criticamente ameaçado. Objetivando resguardar suas funções ecológicas, econômicas e sociais, o legislador atribuiu-
lhes o regime jurídico de Área de Preservação Permanente. 9. É dever de todos, proprietários ou não, zelar pela
preservação dos manguezais, necessidade cada vez maior, sobretudo em época de mudanças climáticas e aumento
do nível do mar. Destruí-los para uso econômico direto, sob o permanente incentivo do lucro fácil e de benefícios
de curto prazo, drená-los ou aterrá-los para a especulação imobiliária ou exploração do solo, ou transformá-los em
depósito de lixo caracterizam ofensa grave ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao bem-estar da
coletividade, comportamento que deve ser pronta e energicamente coibido e apenado pela Administração e pelo
Judiciário. 10. Na forma do art. 225, caput, da Constituição de 1988, o manguezal é bem de uso comum do povo,
marcado pela imprescritibilidade e inalienabilidade. Logo, o resultado de aterramento, drenagem e degradação

ilegais de manguezal não se equipara ao instituto do acrescido a terreno de marinha, previsto no art. 20, inciso VII,
do texto constitucional. 11. É incompatível com o Direito brasileiro a chamada desafetação ou desclassificação
jurídica tácita em razão do fato consumado. 12. As obrigações ambientais derivadas do depósito ilegal de lixo ou
resíduos no solo são de natureza propter rem, o que significa dizer que aderem ao título e se transferem ao futuro
proprietário, prescindindo-se de debate sobre a boa ou má-fé do adquirente, pois não se está no âmbito da
responsabilidade subjetiva, baseada em culpa. 13. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano
ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se
importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem. 14. Constatado

o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes com o dano ambiental em questão, surge, objetivamente,
o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes, na forma do art.
14, § 1º, da Lei 6.938/81 (...).

 STJ - REsp: 67285 SP 1995/0027385-3, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento:
03/06/2004, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 03/09/2007 p. 154

78
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PRECEDENTES. 1. Mostra-se induvidosa a responsabilidade solidária e objetiva

da recorrente, consoante entenderam as instâncias ordinárias, pelo que seria meramente facultativa a denunciação
da lide, pois nada impede que a contratante se volte, posteriormente, contra a contratada, ou outra pessoa jurídica
ou física, para o ressarcimento da reparação a que vier a ser condenada. 2. Precedentes desta Corte. 3. Recurso
Especial improvido.

 STJ - REsp: 880160 RJ 2006/0182866-7, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 04/05/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/05/2010

AMBIENTAL. DRENAGEM DE BREJO. DANO AO MEIO AMBIENTE. ATIVIDADE DEGRADANTE INICIADA PELO PODER
PÚBLICO E CONTINUADA PELA PARTE RECORRIDA. NULIDADE DA SENTENÇA. PARTE DOS AGENTES POLUIDORES

QUE NÃO PARTICIPARAM FEITO. INOCORRÊNCIA DE VÍCIOS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO.


SOLIDARIEDADE PELA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE SEPARAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE DOS AGENTES NO TEMPO PARA FINS DE CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE FAZER
(REPARAÇÃO DO NICHO). ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DE "POLUIDOR" ADOTADO PELA LEI N. 6.938/81. DIVISÃO
DOS CUSTOS ENTRE OS POLUIDORES QUE DEVE SER APURADO EM OUTRA SEDE. 1. Na origem, cuida-se de ação
civil pública intentada em face de usina por ter ficado constatado que a empresa levava a cabo a drenagem de
reservatório natural de localidade do interior do Rio de Janeiro conhecida como "Brejo Lameiro". Sentença e acórdão
que entenderam pela improcedência dos pedidos do Parquet em razão de a atividade de drenagem ter sido iniciada

pelo Poder Público e apenas continuada pela empresa ora recorrida. 2. Preliminar levantada pelo MPF em seu
parecer - nulidade da sentença em razão da necessidade de integração da lide pelo Departamento Nacional de
Obras e Saneamento - DNOS, extinto órgão federal, ou por quem lhe faça as vezes -, rejeitada, pois é pacífica a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que, mesmo na existência de múltiplos agentes poluidores, não

existe obrigatoriedade na formação do litisconsórcio, uma vez que a responsabilidade entre eles é solidária pela
reparação integral do dano ambiental (possibilidade se demandar de qualquer um deles, isoladamente ou em
conjunto, pelo todo). Precedente. 3. Também é remansosa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pela
impossibilidade de que qualquer dos envolvidos alegue, como forma de se isentar do dever de reparação, a não-

contribuição direta e própria para o dano ambiental, considerando justamente que a degradação ambiental impõe,
entre aqueles que para ela concorrem, a solidariedade da reparação integral do dano. 4. Na espécie, ficou assentado
tanto pela sentença (fl. 268), como pelo acórdão recorrido (fl. 365), que a parte recorrida continuou as atividades
degradantes iniciadas pelo Poder Público, aumentando a lesão ao meio ambiente. Inclusive, registrou-se que,
embora lesivas ao brejo, a atuação da usina recorrida é importante para a preservação da rodovia construída sobre
um aterro contíguo ao brejeiro - a ausência de drenagem poderia acarretar a erosão da base da estrada pelo
rompimento do aterro. 5. Inexiste, nesta esteira, dúvidas acerca da caracterização do dano ambiental e da
contribuição da parte recorrida para isto - embora reconheçam as instâncias ordinárias que também o DNOS é

agente degradador (a título inicial). 6. Aplicáveis, assim, os arts. 3º, inc. IV, e 4º, inc. VII, da Lei n. 6.938/81. 7. Óbvio,
portanto, que, sendo demandada pela integralidade de um dano que não lhe é totalmente atribuível, a parte

79
recorrida poderá, em outra sede, cobrar de quem considere cabível a parte das despesas com a recuperação que
lhe serão atribuídas nestes autos. 8. Recurso especial provido.

 STJ - REsp: 1056540 GO 2008/0102625-1, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
25/08/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 14/09/2009

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA. ARTS. 3º, INC. IV, E 14, § 1º, DA LEI 6.398/1981. IRRETROATIVIDADE
DA LEI. PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO:
SÚMULA 284/STF. INADMISSIBILIDADE. 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não
exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra,
dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de imóvel já danificado porque,

independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao novo proprietário
a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. 3. A solidariedade nessa hipótese decorre da dicção dos arts.
3º, inc. IV, e 14, § 1º, da Lei 6.398/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). 4. Se possível identificar o real
causador do desastre ambiental, a ele cabe a responsabilidade de reparar o dano, ainda que solidariamente com
o atual proprietário do imóvel danificado. 5. Comprovado que a empresa Furnas foi responsável pelo ato lesivo ao
meio ambiente a ela cabe a reparação, apesar de o imóvel já ser de propriedade de outra pessoa jurídica. 6. É
inadmissível discutir em recurso especial questão não decidida pelo Tribunal de origem, pela ausência de
prequestionamento. 7. É deficiente a fundamentação do especial que não demonstra contrariedade ou negativa de

vigência a tratado ou lei federal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.

 STJ - REsp: 1120117 AC 2009/0074033-7, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
10/11/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 19/11/2009

ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL – IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL – PEDIDO GENÉRICO – ARBITRAMENTO
DO QUANTUM DEBEATUR NA SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 7/STJ. 1.É da
competência da Justiça Federal o processo e julgamento de Ação Civil Pública visando indenizar a comunidade
indígena Ashaninka-Kampa do rio Amônia. 2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência

territorial e funcional, eis que o dano ambiental não integra apenas o foro estadual da Comarca local, sendo bem
mais abrangente espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de competência do Juiz Federal.
3. Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na extração ilegal de madeira da área indígena. 4.
O dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que lhe está próximo, a comunidade indígena,

também atinge a todos os integrantes do Estado, espraiando-se para toda a comunidade local, não indígena e
para futuras gerações pela irreversibilidade do mal ocasionado. 5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil
assume grande amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é
objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente

causador do dano. 6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica,
está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial
80
à afirmação dos povos, independentemente de não estar expresso em texto legal. 7. Em matéria de prescrição
cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações

indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem
ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível o direito à reparação. 8. O dano
ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da
imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental. 9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado
determinar, desde já, o montante da reparação, havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ. 10.
Inviável, no presente recurso especial modificar o entendimento adotado pela instância ordinária, no que tange aos
valores arbitrados a título de indenização, por incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ. 11. Recurso especial
parcialmente conhecido e não provido.

81
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82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

83
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 3
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 2

4. Política Nacional do Meio Ambiente ........................................................................................... 2

4.1 Introdução .................................................................................................................................................................................. 2

4.2 Princípios e objetivos ............................................................................................................................................................ 2

4.3 Conceitos importantes .......................................................................................................................................................... 7

4.4 Sistema Nacional do Meio Ambiente -SISNAMA..................................................................................................... 9

4.5 Instrumentos da PNMA ......................................................................................................................................................13

4.6 Taxa de controle e fiscalização ambiental - TCFA .................................................................................................27

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 30

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 35

GABARITO ............................................................................................................................................... 45

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 46

JURISPRUDÊNCIA..................................................................................................................................... 47

ESTUDO COMPLEMENTAR................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 51

1
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 3

4. Política Nacional do Meio Ambiente

4.1 Introdução

A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA foi instituída no Brasil em 1981 através da
Lei 6.938, influenciada pelas normas de direito ambiental internacional e recepcionada pela

Constituição de 1988. Essa lei é um dos principais instrumentos legais de regulamentação


ambiental no nosso país, pois funciona como uma regra norteadora da proteção ambiental,
institui princípios, objetivos, instrumentos e o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

A PNMA regulamenta a competência material comum em matéria administrativa ambiental


dos entes federados, prevista no art. 23, VI e VII da CF/88, estabelecendo padrões mínimos
gerais que devem ser especificados no âmbito do território de cada ente, de acordo com as

peculiaridades inerentes a cada um.

Portanto, cabe à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios implementar a
PNMA e exercer a atividade pública de acordo com os seus princípios e objetivos, utilizando de

seus instrumentos, especificando as suas regras de acordo com os interesses próprios.

4.2 Princípios e objetivos

Segundo o art. 2º da PNMA, a Lei tem como objetivos a preservação, a melhoria e a


recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Ainda, visa assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da

dignidade da vida humana.

2
Em seguida, o mesmo dispositivo enumera princípios 1 norteadores que devem ser

atendidos nas ações para implementar a PNMA:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional
e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio


ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras2;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e


a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,


objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Perceba que os princípios estabelecidos na PNMA não se confundem com os princípios do


Direito Ambiental geralmente indicados pela doutrina, mas neles se fundamentam. Eles não são

contraditórios, ao contrário, eles convergem para manter o meio ambiente ecologicamente


equilibrado. Inclusive, é possível traçar o seguinte paralelo:

Ação governamental na manutenção do Princípio da obrigatoriedade de


equilíbrio ecológico, considerando o meio intervenção estatal

ambiente como um patrimônio público a ser

1
Vide questão 5 desse material.
2
Vide questão 10 desse material.
3
necessariamente assegurado e protegido, tendo
em vista o uso coletivo

Racionalização do uso do solo, do subsolo, da Princípio da prevenção


água e do ar
Planejamento e fiscalização do uso dos recursos Princípio da obrigatoriedade de
ambientais intervenção estatal
Proteção dos ecossistemas, com a preservação Princípio da prevenção
de áreas representativas
Controle e zoneamento das atividades potencial Princípio da obrigatoriedade de
ou efetivamente poluidoras intervenção estatal
Incentivos ao estudo e à pesquisa de
tecnologias orientadas para o uso racional e a Princípio da educação ambiental
proteção dos recursos ambientais
Acompanhamento do estado da qualidade Princípio da obrigatoriedade de
ambiental intervenção estatal
Recuperação de áreas degradadas Princípio do poluidor-pagador
Proteção de áreas ameaçadas de degradação Princípio da prevenção e princípio da
precaução
Educação ambiental a todos os níveis de
ensino, inclusive a educação da comunidade,
Princípio da educação ambiental
objetivando capacitá-la para participação ativa
na defesa do meio ambiente

A doutrina chama os objetivos previstos no caput do art. 2º da PNMA de objetivos gerais;


e de objetivos específicos aqueles previstos no art. 4º da mesma lei, que se referem a

procedimentos que devem ser realizados para alcançar o resultado esperado, qual seja, os
objetivos gerais.

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da


qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

4
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao
equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas


relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso


racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e


informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade
de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização


racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio
ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar


os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais
com fins econômicos.

 compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da


qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico3

O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como a união do desenvolvimento

econômico com equidade social e a preservação ambiental. O inciso I do art. 4º da PNMA dispõe
exatamente sobre isso quando afirma que a Lei visará “à compatibilização do desenvolvimento
econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”.

 definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao


equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios

No inciso II temos o princípio da obrigatoriedade de intervenção estatal. De acordo com a


PNMA, o Poder Público deve definir as áreas que trabalhará com prioridade nas ações
ambientais.

 estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas


ao uso e manejo de recursos ambientais

3
Vide questão 2 desse material.
5
Ao estabelecer critérios e padrões de qualidade ambiental e normas regulamentadoras do

uso e manejo dos recursos naturais, a PNMA passa a tolerar determinados impactos ambientais.
Com isso, podemos afirmar que o impacto ambiental causado por determinada atividade que

cumpra as normas ambientais é permitido. O que diferencia esse impacto do dano ambiental é
exatamente a atividade fora dos critérios e padrões de qualidade estabelecidos.

 desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso


racional de recursos ambientais

O inciso IV dispõe que é um objetivo da PNMA que a Administração Pública desenvolva


tecnologias para que as atividades que usam recursos ambientais possam ser exercidas de forma

racional4.

 difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgação de dados e


informações ambientais e formação de uma consciência pública sobre a necessidade
de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico

Esse objetivo da PNMA está consubstanciado nos princípios da informação, da educação


ambiental e da participação democrática. A sociedade deve atuar junto ao Estado na preservação

do meio ambiente, mas, para tanto, ela precisa ter uma consciência pública de democracia e
acesso a dados e informações sobre a qualidade ambiental e sobre o equilíbrio ecológico.

 preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização


racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do
equilíbrio ecológico propício à vida

Aplica-se a esse objetivo da PNMA os princípios da precaução, da prevenção e, no caso


de dano, o princípio da restauração, que deve ser a mais abrangente possível, visando o mais
próximo da condição original.

 à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar


os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos
ambientais com fins econômicos.

4
Vide questão 10 desse material.
6
Em caso de dano ao meio ambiente, cabe ao poluidor restaurar a sua condição anterior.

Caso isso não seja possível, o poluidor deverá recuperar os danos que causou, deixando o
ecossistema em condição de equilíbrio ambiental, mesmo que diferente da condição original.

Geralmente os danos ambientais não são reversíveis por completo. Por isso, a

recomposição do meio ambiente pode ser cumulada com a indenização.

A preferência é pela tutela específica de recuperar os danos causados, mas, caso isso não
seja possível, haverá a imposição de obrigação de indenizar ao poluidor, que deve ser revertido

à preservação do meio ambiente. Estamos diante do princípio do poluidor-pagador.

Ao final, o inciso VII trata do princípio do usuário-pagador. O usuário-pagador não comete


nenhum ilícito ambiental, o intuito do princípio é racionalizar o uso do meio ambiente, evitando

o seu desperdício e mantendo a sua forma preservada. Para tanto, é definido um valor
econômico ao bem natural.

4.3 Conceitos importantes

O art. 3º da PNMA define diversos conceitos importantes para o nosso estudo. Essa
conceituação se aplica à toda matéria ambiental e não somente à lei em análise.

conjunto de condições, leis, influências e


interações de ordem física, química e
Meio ambiente
biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas.
a alteração adversa das características do
Degradação
meio ambiente.
degradação da qualidade ambiental
resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
Poluição5
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população;

5
Vide questões 3, 6 e 10 desse material.
7
b) criem condições adversas às atividades
sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias


do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo


com os padrões ambientais estabelecidos
pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente,
Poluidor
por atividade causadora de degradação
ambiental
a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
Recursos ambientais
solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora.

O conceito de meio ambiente apresentado pela Lei 6.938/81 trata apenas dos seus aspectos
naturais, mas ele não se resume a isso na sociedade atual. De acordo com a Constituição de

1988 e com o princípio do desenvolvimento sustentável, devemos acrescentar ao conceito de


meio ambiente os aspectos sociais, culturais e econômicos. O conceito de meio ambiente deve

ser amplo, assim como o previsto na Resolução 306/2002 do CONAMA: “conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Portanto, temos como meio ambiente
os seguintes patrimônios:

8
Natural Cultural
é constituído pelo patrimônio histórico,
também chamado de meio ambiente artístico, arqueológico, paisagístico e
físico, composto pelo solo, pela água, turístico.
ar, fauna, flora...
art. 215 e 216 da CF/88

MEIO
AMBIENTE

Artificial Do trabalho
deve garantir ao homem proteção em
é o espaço urbano, composto de seu local de trabalho.
edificações, ruas, praças...
art. 200, VIII da CF/88

O conceito de degradação ambiental e o conceito de poluição especificados no art. 3º da


PNMA devem ser analisados em conjunto. Tenha em mente que a degradação é um gênero do

qual a poluição faz parte. A degradação do meio ambiente pode ocorrer por causas naturais ou
artificiais. No primeiro caso, não acarretará nenhuma implicação jurídica. Entretanto, quando a

degradação ambiental ocorre por causas artificiais, por ação humana, estamos falando de
poluição.

4.4 Sistema Nacional do Meio Ambiente -SISNAMA

O SISNAMA é uma rede governamental, formada pelos diversos níveis da federação, que
visa implementar a Política Nacional do Meio Ambiente de forma eficiente.

9
 Estrutura do SISNAMA6

Órgão Superior - Conselho de


Governo

Órgão Consultivo e Deliberativo -


CONAMA

Órgão Central - Ministério do Meio


Ambiente

Órgãos Executores - IBAMA e


ICMBio

Órgãos Seccionais - órgãos e


entidades estatais

Órgãos Locais - órgãos e entidades


municipais

O órgão superior do SISNAMA é o Conselho de Governo. Ele tem como função o

assessoramento imediato ao Presidente da República na formulação da política nacional e


nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais. O Conselho de

Governo é presidido pelo Presidente da República, que pode determinar a sua substituição pelo
Ministro de Estado Chefe da Casa Civil; e composto por Ministros de Estado e o titular do

Gabinete Pessoal do Presidente da República.

O órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA é o Conselho Nacional do Meio Ambiente,


mais conhecido como CONAMA. Tem como finalidade o assessoramento, estudo e proposta ao

Conselho de Governo de diretrizes para as políticas governamentais para o meio ambiente e os


recursos naturais; e deliberação, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões

compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sabia qualidade de


vida.

De acordo com o Decreto 99.274/90, o CONAMA compõe-se de: Plenário; Comitê de


Integração de Políticas Ambientais; Câmaras Técnicas; Grupos de Trabalho; e Grupos Assessores.

6
Vide questão 1 desse material.
10
Integram o Plenário do CONAMA: I – o Ministro de Estado do Meio Ambiente, que o

presidirá; II – o Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente, que será o seu Secretário-


Executivo; III – o Presidente do Ibama; IV – um representante dos seguintes Ministérios, indicados

pelos titulares das respectivas Pastas: a) Casa Civil da Presidência da República; b) Ministério da
Economia; c) Ministério da Infraestrutura; d) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

e) Ministério de Minas e Energia; f) Ministério do Desenvolvimento Regional; e g) Secretaria de


Governo da Presidência da República; V – um representante de cada região geográfica do País
indicado pelo governo estadual; VI - dois representantes de Governos municipais, dentre as

capitais dos Estados; VII - quatro representantes de entidades ambientalistas de âmbito nacional
inscritas, há, no mínimo, um ano, no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas – CNEA,

mediante carta registrada ou protocolizada junto ao CONAMA; e VIII - dois representantes


indicados pelas seguintes entidades empresariais: a) Confederação Nacional da Indústria; b)
Confederação Nacional do Comércio; c) Confederação Nacional de Serviços; d) Confederação
Nacional da Agricultura; e e) Confederação Nacional do Transporte.

Ademais, o Ministério Público Federal poderá indicar um representante, titular e suplente,

para participar do Plenário do CONAMA na qualidade de membro convidado, sem direito a


voto.

A participação dos membros do CONAMA é considerada serviço de natureza relevante e

não será remunerada.

O Plenário do CONAMA reunir-se-á, em caráter ordinário, a cada três meses, no Distrito


Federal, e, extraordinariamente, sempre que convocado pelo seu Presidente, por iniciativa

própria ou a requerimento de pelo menos dois terços de seus membros.

As reuniões do Plenário serão públicas, e devem contar com pelo menos a metade mais
um dos seus membros. As deliberações devem ser feitas por maioria simples dos membros

presentes na sessão, cabendo ao Presidente o voto de qualidade, além do seu voto pessoal.

Também poderão ser realizadas reuniões regionais, de caráter não deliberativo, com a
participação de representantes dos Estados, do Distrito Federal e das capitais dos Estados das
respectivas regiões.

11
O art. 7º do Decreto 99.274/90 define as competências do CONAMA, entre elas,

destacamos: estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento


de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pela União, Estados, Distrito

Federal e Municípios e supervisionada pelo referido Instituto; estabelecer, privativamente,


normas e padrões nacionais de controle da poluição causada por veículos automotores,

aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; estabelecer normas,


critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com
vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos; assessorar, estudar e

propor ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e


os recursos naturais; deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões

compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de


vida; e deliberar, sob a forma de resoluções, proposições, recomendações e moções, visando o
cumprimento dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente.

Devemos lembrar que competência normativa do CONAMA decorre do poder


regulamentar da Administração Pública. Portanto, as normas editadas por este órgão devem ser

complementares à lei, com o objetivo de viabilizar a sua fiel execução.

O órgão central do SISNAMA é o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de


planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as

diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.

Obs.: na literalidade da Lei 6.938/81, você vai encontrar “Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República”, mas em 1992 ela foi transformada em Ministério do Meio Ambiente.

Os órgãos executores do SISNAMA são o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da


Biodiversidade – ICMBio7.

O IBAMA é uma autarquia federal de regime especial, vinculada ao Ministério do Meio

Ambiente. Tem autonomia administrativa e financeira; atua em todo o território nacional; e é


administrada por um presidente e cinco diretores.

7
Vide questão 8 desse material.
12
O Instituto Chico Mendes também é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do

Meio Ambiente. Tem como atribuição a execução das ações federais que tratam sobre a política
nacional de unidades de conservação da natureza. Em caso de omissão do Instituto Chico

Mendes quanto às suas atribuições, o IBAMA pode, de forma supletiva, exercer o seu poder
de polícia ambiental.

Os órgãos seccionais do SISNAMA são os órgãos ou entidades estaduais. Eles são

responsáveis pela execução de programas, projetos, controle e fiscalização de atividades capazes


de provocar degradação ambiental8.

Os órgãos locais do SISNAMA são os órgãos ou entidades municipais. São responsáveis

pelo controle e pela fiscalização das atividades capazes de provocar degradação ambiental, nas
suas respectivas jurisdições.

4.5 Instrumentos da PNMA

Para que os órgãos ambientais possam efetivar a PNMA seguindo os seus princípios para
alcançar os objetivos elencados, a Lei 6.938/81 estabeleceu em seu art. 9º alguns instrumentos9.

Art. 9º da PNMA – São Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de


tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,


estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse
ecológico e reservas extrativistas;

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

8
Vide questão 4 desse material.
9
Vide questão 7 desse material.
13
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas


necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente


pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o


Poder Público a produzí-las, quando inexistentes;

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras


dos recursos ambientais.

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro


ambiental e outros.

Vejamos detalhadamente os instrumentos mais importantes da PNAM:

 Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental

Praticamente todas as atividades humanas causam algum tipo de impacto ambiental, que
é definido pela Resolução 01/86 do CONAMA como “qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança

e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições


estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais”.

Portanto, é preciso estabelecer, através de análises técnicas e científicas, quais os limites

socialmente aceitáveis para os impactos ambientais de determinas atividades. A definição desses


limites configura o padrão de qualidade ambiental.

 Zoneamento ambiental

O zoneamento ambiental é conhecido como Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE. Ele


decorre de estudos técnicos e científicos das características do meio ambiente em um

determinado espaço geográfico, que tem como objetivo conhecer a vocação ambiental e
econômica de cada região10.

10
Vide questão 9 desse material.
14
O ZEE procura dividir o território em zonas de acordo com as necessidades de proteção,

conservação e recuperação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável.

A distribuição espacial das atividades econômicas no ZEE deve considerar a importância


ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, e o zoneamento deve estabelecer

vedações, restrições e alternativas de exploração da área e, quando for o caso, a mudança de


local de atividades incompatíveis com as suas diretrizes gerais.

De acordo com a Lei Complementar 140/11, é de competência da União elaborar o

zoneamento ambiental de âmbito nacional ou regional; de competência dos estados elaborar o


zoneamento ambiental de âmbito estadual; e de competência dos municípios elaborar o Plano

Diretor, que deve ser compatível com os zoneamentos dos demais entes.

 Avaliação de impactos ambientais

Qualquer atividade que causa impacto ambiental deve passar por uma avaliação prévia

para que a Administração possa autorizar ou não o empreendimento e exigir do empreendedor


as medidas necessárias para corrigir, mitigar e/ou compensar os impactos negativos ao

ecossistema que elas podem gerar.

A Avaliação de Impactos Ambientais – AIA é um instrumento da PNMA que consiste em


procedimento para examinar os impactos ambientais de uma atividade e suas alternativas. Os

seus resultados devem ser públicos, em prestígio ao princípio da informação e da participação


democrática.

O Princípio 17 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

dispõe sobre a AIA nos seguintes termos “a Avaliação de Impacto Ambiental deve ser
empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável

sobre o meio ambiente, e que dependem de uma decisão de autoridade nacional competente”.

Como existem diversos níveis de impactos ambientais, também existem diversas formas de
AIA, com avaliações menos complexas para atividades que gerem baixo impacto e avaliações

mais complexas para atividades que gerem significativa degradação ambiental.

15
EIA

Plano de manejo

Relatório ambiental

Plano e projeto de controle ambiental

Plano de recuperação de área degradada

Relatório ambiental preliminar


Diagnóstico ambiental

A imagem acima mostra os tipos de AIA de acordo com a sua complexidade, quanto maior
o círculo, mais complexa a avaliação, que deve ser feita nos casos de maiores riscos ambientais.

O Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA deve ser feito para subsidiar o licenciamento

de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras que causem significativa degradação


ambiental. É um instrumento previsto na PNMA, mas que também tem fundamento

constitucional (art. 225, §1º, IV).

Para que seja concedida a licença ambiental para uma atividade (pública ou privada) que
apresente grande potencial de degradação do meio ambiente, deve ser realizado previamente
o EIA. Nesse sentido, a Resolução 237/97 do CONAMA:

Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou


potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio
estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente
(EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas,
quando couber, de acordo com a regulamentação.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou


empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de
licenciamento.

16
Mas quais seriam essas atividades causadoras ou potencialmente causadoras de

significativos danos ambientais? O CONAMA, em sua Resolução 01/86, elenca um rol


exemplificativo dessas atividades:

I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II - Ferrovias;

III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de


18.11.66;

V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos


sanitários;

VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;

VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para
fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais
para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e
embocaduras, transposição de bacias, diques;

VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;

X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;

XI - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária,


acima de 10MW;

XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos,


cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);

XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou


menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do
ponto de vista ambiental;

XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante


interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;

XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez
toneladas por dia., entre elas encontramos as estradas de rodagem com duas ou mais

17
faixas de rolamento, as ferrovias, portos e terminais de minério, petróleo e produtos
químicos, oleodutos, gasodutos e mineradouros. Todas as atividades que constam nesse
rol são, portanto, presumidamente causadoras de significativa degradação ambiental.

Todas essas atividades supracitadas são presumidamente causadoras de significativo dano

ambiental. Por se tratar de um rol exemplificativo, a autoridade ambiental licenciadora, dentro


do seu poder discricionário, também pode exigir a realização do EIA no caso concreto para

atividades que não constem na lista do CONAMA, mas que considere potencialmente poluidora.

Segundo a mesma resolução do CONAMA, a elaboração do EIA deve conter


obrigatoriamente:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise


dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a
situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a


topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as
correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies


indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas
de extinção e as áreas de preservação permanente;

c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-


economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da
comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais
e a potencial utilização futura desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de


identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis
impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e
adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a
distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência
de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos


positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

18
A realização do EIA deve ser feita pelo sujeito interessado em exercer a atividade que será

licenciada, que também deve arcar com todos os seus custos. Para tanto, o empreendedor
poderá contratar uma empresa de consultoria cujos membros sejam inscritos no Cadastro

Técnico Federal de Atividades.

Atenção: é muito importante você saber que o EIA não vincula a decisão do órgão
ambiental11.

O EIA é dotado de linguagem técnica, muitas vezes incompreensível para a sociedade. Para

prestigiar o princípio da informação e o princípio da participação democrática, a legislação exige


que também seja elaborado um o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, com uma linguagem

mais acessível que demonstre as conclusões do EIA, as vantagens e as desvantagens do projeto


e as consequências ambientais da sua implementação12.

Artigo 9º da Resolução 01/86 do CONAMA - O relatório de impacto ambiental - RIMA


refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas


setoriais, planos e programas governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando


para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias
primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os
prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a
serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência
do projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da


atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência
dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação,
quantificação e interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as


diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese
de sua não realização;

11
Vide questão 9 desse material.
12
Vide questão 9 desse material.
19
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de
alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de


ordem geral).

Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas
por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo
que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

A publicidade dada ao EIA e ao RIMA tem como principal fundamento proporcionar a


participação da sociedade nas questões ambientais, para tanto, eles e as suas respectivas

aprovações ou rejeições devem ser publicados no Diário Oficial e disponibilizados no órgão


licenciador em local de fácil acesso ao público. Lembre-se que, apesar da ampla publicidade

dada às avaliações ambientais, deve ser respeitado sigilo industrial.

Ainda em relação à publicidade do EIA e do RIMA, o órgão competente deverá promover


audiência pública para informar e debater o projeto e seus impactos ambientais, sempre que

julgar necessário, quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público ou por
cinquenta ou mais cidadãos.

A audiência pública é tão relevante que, se solicitada e não realizada, a licença ambiental

concedida não terá validade!

Por fim, a elaboração ou apresentação de qualquer avaliação de impacto ambiental total


ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão, configura crime previsto no art. 69-

A da Lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais, com pena de reclusão de 3 a 6 anos e multa,
se doloso, e de detenção de 1 a 3 anos, se culposo. Ademais, a pena deve ser aumentada de

1/3 até 2/3 se em decorrência do crime ocorre dano significativo ao meio ambiente.

 Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras 13

13
Vide questão 9 desse material.
20
O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo feito pelo órgão ambiental

competente para autorizar a localização, a instalação, ampliação e operação de atividade efetiva


ou potencialmente poluidora que utilize recursos ambientais e as que, de qualquer forma,

possam causar degradação ambiental.

Todas as atividades e empreendimentos precisam de licenciamento ambiental? NÃO!


Apenas aquelas que utilizem recursos naturais e as que possam causar degradação ambiental.

As etapas do procedimento de licenciamento serão estudadas em tópico próprio mais

adiante no nosso curso, ok? Mas você já pode ir se familiarizando com os tipos de licenças
ambientais que existem no ordenamento jurídico:

LICENÇA LICENÇA DE LICENÇA DE


PRÉVIA INSTALAÇÃO OPERAÇÃO
Prazo de até Prazo de até Prazo de 4 a
5 anos 6 anos 10 anos

A licença prévia autoriza o projeto arquitetônico do empreendimento. Quando emitida, o


órgão pode estabelecer várias condicionantes que devem ser cumpridas na fase do projeto.

Cumpridas todas as condicionantes da licença prévia dentro do prazo de até 5 anos, o

empreendedor poderá solicitar a licença de instalação, que permite a construção do


empreendimento. Durante o prazo da licença de instalação, o empreendedor também deve
cumprir condicionantes impostas pelo Poder Público, como por exemplo, instalar filtros nas
chaminés de uma fábrica.

21
Se todas as condicionantes forem cumpridas no prazo de 6 anos, o interessado poderá

solicitar a licença de operação, permitindo que o empreendedor exerça a sua atividade, mas
nela também podem ser previstas condicionantes, que devem ser cumpridas até o momento da

sua renovação.

A licença de operação pode ser concedida por 4 até 10 anos. Depois desse prazo será
necessário requerer uma prorrogação. O prazo para solicitar essa prorrogação é de até 120 dias

antes do fim do prazo de validade. Se o órgão público demorar mais tempo para avaliar a
concessão da prorrogação, a licença fica automaticamente renovada até a manifestação

definitiva da Administração.

 Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,


estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse
ecológico e reservas extrativistas 14

Existem vários tipos de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público,
como por exemplo as Áreas de Preservação Permanente – APP, as Áreas de Reserva Legal e as

Unidades de Conservação da Natureza. Todos os entes da federação são competentes para


instituir a proteção ambiental especial para espaços territoriais importantes e para seus
componentes.

 Sistema Nacional de Informações Sobre o Meio Ambiente – SINIMA

O SINIMA é o instrumento responsável pela gestão da informação dentro do SISNAMA. É

de extrema importância, pois mantêm as informações ambientais integradas nacionalmente,


permitindo uma melhor gestão ambiental para o Poder Público e subsídio para que a sociedade
possa participar ativamente na proteção ao meio ambiente.

De acordo com a LC 140/11, a organização e a manutenção do SINIMA são de competência


da União, com colaboração dos órgãos e entidades da Administração Pública dos estados, DF e
municípios.

14
Vide questão 9 desse material.
22
Os estados devem fornecer informações ambientais à União para a formação e atualização

do SINIMA e organizar e manter, com a colaboração dos seus respectivos municípios, um


Sistema Estadual de Informações sobre o meio ambiente.

Por sua vez, o município deve prestar as suas informações ambientais ao seu respectivo

estado e à União para formar e atualizar o Sistema Estadual de Informação sobre o meio
ambiente e o SINIMA.

 Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental

De acordo com o art. 17 da PNMA, o Cadastro Técnico Federal de Atividades e


Instrumentos de Defesa Ambiental serve para o registro obrigatório de pessoas físicas ou

jurídicas que se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à


indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de

atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.

Os órgãos ambientais só podem aceitar avaliações técnicas como o EIA que tenham sido
elaborados por profissionais, empresas ou sociedades civis registradas no Cadastro Técnico

Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental.

O cadastro deve ser administrado pelo IBAMA e possui o objetivo de relacionar e tonar
público quais são os profissionais dedicados a prestar consultoria ambiental, as suas habilitações

técnicas e as tecnologias de controle da poluição, além de contribuir para a formação do SINIMA.

 penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas


necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental

Como já vimos neste curso, o Poder Público deve proceder a fiscalização das atividades
que utilizam recursos naturais por meio do seu poder de polícia ambiental. Diante de ação ou
omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio

ambiente, o agente público competente deve autuar o infrator ambiental, responsabilizando-o


administrativamente.

As penalidades administrativas são instrumentos fundamentais para a efetivação da PNMA,


para mais detalhes, o aluno deve retomar o capítulo sobre responsabilidade ambiental.

23
 Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras
dos recursos ambientais.

O Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras de

Recursos Ambientais, segundo o art. 17 da PNMA, serve para o registro obrigatório de pessoas
físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração,
produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio

ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora.

É um cadastro administrado pelo IBAMA e serve para integrar as informações dos entes
federados em matéria ambiental, assim como o Cadastro Técnico de Atividade e Instrumentos

de Defesa Ambiental e o SINIMA.

O Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos


Recursos Naturais serve especificamente para listar as pessoas físicas ou jurídicas potencialmente

poluidoras e facilitar a fiscalização delas pelos órgãos públicos e pela sociedade.

 Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro


ambiental e outros

Na prática, a simples fiscalização e controle das atividades potencialmente poluidoras do


meio ambiente é muito difícil e ineficaz, tendo em vista o vasto território brasileiro e os

diferentes ecossistemas que nele se encontram, cada um com as suas peculiaridades.

Nesse contexto, foram criados mecanismos complementares para efetivar a PNMA, como
os instrumentos econômicos, a concessão florestal, a servidão ambiental e o seguro ambiental.

O intuito é incentivar uma gestão ecológica das áreas ambientalmente relevantes. Para

tanto, são usados benefícios econômicos para aqueles que preservam o meio ambiente, como
a servidão ambiental e o ICMS ecológico; as atividades poluidoras são desestimuladas com o

aumento de tributos ou com a redução de subsídios governamentais; e são asseguradas a


reparação de danos ambientais por meio seguro ambiental.

A servidão ambiental está prevista a partir do art. 9º-A da PNMA. Por ela, o proprietário
ou possuidor de imóvel rural, pessoa natural ou jurídica, voluntariamente, pode, por
instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante

24
do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar,

conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes.

No caso das florestas, a servidão deve se referir à vegetação localizada fora da Reserva
Legal mínima exigida e das Áreas de Preservação Permanente – APP, que veremos mais adiante.

Mas, desde já, guarde a informação que a proteção desses espaços decorre da lei.

Mas a quem interessa a servidão ambiental? A propriedade rural precisa ter um percentual
de área ambientalmente protegida, ok? Ok! Mas se uma propriedade não atingir esse percentual

mínimo de área protegida estipulado nas normas ambientais, pode compensar esse déficit com
outras propriedades em que há proteção ambiental além dos limites legais, por meio da

servidão. 😉

Entendeu agora? A servidão poderá ser negociada com os proprietários ou possuidores de


terras deficitárias.

O regime de utilização da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo,

o mesmo estabelecido para a área de Reserva Legal.

Art. 9º-A, § 1º da PNMA – O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental


deve incluir, no mínimo, os seguintes itens:

I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto


de amarração georreferenciado;

II - objeto da servidão ambiental;

III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor;

IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.

A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, além de perpétua ou temporária15.

No último caso, deve ter prazo de, no mínimo 15 anos. Caso haja transmissão, desmembramento
ou retificação dos limites do imóvel, é vedada a alteração da destinação da área de servidão

ambiental durante o prazo de sua vigência.

15
Vide questão 10 desse material.
25
A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos

recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN.

O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou


parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário

ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social.

Para comprovar a servidão ambiental, o instrumento de sua instituição, o respectivo


contrato de alienação, cessão ou transferência devem objeto de averbação nas matrículas de

todos os imóveis envolvidos, nos respectivos registros de imóveis competentes.

Art. 9º-C da PNMA – O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão


ambiental deve ser averbado na matrícula do imóvel.

§ 1o O contrato referido no caput deve conter, no mínimo, os seguintes itens:

I - a delimitação da área submetida a preservação, conservação ou recuperação ambiental;

II - o objeto da servidão ambiental;

III - os direitos e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes ou


sucessores;

IV - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental;

V - os benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão ambiental;

VI - a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusive medidas judiciais


necessárias, em caso de ser descumprido.

São deveres do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações estipuladas no


contrato, manter e proteger a área sob servidão ambiental, prestar contas ao detentor da
servidão ambiental sobre as condições dos recursos naturais ou artificiais da área, permitir a

inspeção e a fiscalização do local pelo detentor da servidão ambiental, e defender a posse da


área serviente, por todos os meios em direito admitidos.

Por outro lado, são deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações

estipuladas no contrato, documentar as características ambientais da propriedade, monitorar


periodicamente a propriedade para verificar se a servidão ambiental está sendo mantida, prestar
informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos sucessores da

26
propriedade, manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da

servidão e defender judicialmente a servidão ambiental.

Os incentivos governamentais é um dos instrumentos econômicos que servem para


efetivar a PNMA, induzindo comportamentos ambientalmente corretos. O art. 12 da PNMA

estabelece como condição para a aprovação de projeto habilitado para receber benefícios
concedidos pelas entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais o seu

licenciamento ambiental e o cumprimento das normas, critérios e padrões estabelecidos pelo


CONAMA.

Art 12 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais


condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento,
na forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos
pelo CONAMA.

Parágrafo único - As entidades e órgãos referidos no "caput" deste artigo deverão fazer
constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao
controle de degradação ambiental e à melhoria da qualidade do meio ambiente.

Nesse sentido, foi elaborado um documento internacional chamado de “Princípios do


Equador”, que define critérios socioambientais mínimos para a concessão de crédito para

financiamento de projetos. As instituições financeiras devem adotar os Princípios do Equador de


forma voluntária, de acordo com as suas políticas internas. O objetivo é não fornecer empréstimo
para projetos cujo solicitante não respeite as normas e políticas nacionais de proteção ambiental.

4.6 Taxa de controle e fiscalização ambiental - TCFA

A PNMA institui em seu art. 17-B a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA,

devida ao IBAMA em razão do seu exercício de poder de polícia ambiental no controle e


fiscalização das atividades potencialmente poluidoras que utilizam recursos naturais.

Antes desse tributo, foi criada a Taxa de Fiscalização Ambiental, muito criticada na doutrina

e declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 2178/DF. Segundo o


Supremo, a Taxa de Fiscalização Ambiental não tinha como fato gerador um serviço prestado
ou posto à disposição do contribuinte, pelo ente público, no exercício do poder de polícia. O

27
fato gerador da antiga Taxa de Fiscalização Ambiental era simplesmente a atividade exercida

pelo próprio contribuinte.

Depois da declaração de inconstitucionalidade da Taxa de Fiscalização Ambiental, foi


sancionada a Lei 10.165/00 que alterou a PNMA para instituir a Taxa de Controle e Fiscalização

Ambiental – TCFA que, sanando a inconstitucionalidade do antigo tributo, trouxe como fato
gerador o serviço de controle das atividades potencialmente poluidoras e a fiscalização da

utilização dos recursos naturais.

Ao declarar a constitucionalidade da nova exação, o STF entendeu que não fere o princípio
da isonomia o fato de o valor da TCFA ser calculado em função da potencialidade poluidora da

atividade exercida pelo contribuinte, e não com base em sua receita.

Inclusive, na ocasião do julgamento do RE 416.601, a Corte especificou que a referida taxa


não deve ficar restrita aos contribuintes cujos estabelecimentos forem efetivamente

visitados pela fiscalização. É suficiente que o órgão de controle seja mantido em


funcionamento, pois com as alternativas tecnológicas e as facilidades de compartilhamento de

informações, a fiscalização “porta a porta” fica cada vez mais rara e sem sentido prático.

O pagamento da TCFA deve ser feito trimestralmente e o seu valor é definido pelo
cruzamento do grau de poluição e utilização ambiental com o porte da empresa, nos termos

da PNMA. Portanto, quanto maior o porte do empreendimento e o grau de poluição da sua


atividade, consequentemente, maior será o valor da taxa devida. Isso se justifica porque a
cobrança deve ser maior daqueles contribuintes que exigem mais intensidade na atividade de

controle e fiscalização prestada pelo IBAMA.

Caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização, pagará a taxa
relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado. Os recursos arrecadados com a

TCFA terão utilização restrita em atividades de controle e fiscalização ambiental.

O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano
relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo IBAMA, para

o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização.

28
São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e

municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as


populações tradicionais.

E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 03 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre a PNMA.

Agora, vamos as nossas considerações:

“PNMA” apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de baixa
recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos achar que esse assunto

é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o seu aprendizado se torna
essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam sobre esse tema para que
você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

29
QUADRO SINÓTICO

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - PNMA


OBJETIVOS GEAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Preservação, melhoria e recuperação da I - à compatibilização do
qualidade ambiental propícia à vida, desenvolvimento econômico-
visando assegurar, no País, condições ao social com a preservação da
desenvolvimento socioeconômico, aos qualidade do meio ambiente e
interesses da segurança nacional e à do equilíbrio ecológico;
proteção da dignidade da vida humana II - à definição de áreas
prioritárias de ação
governamental relativa à
qualidade e ao equilíbrio
ecológico, atendendo aos
interesses da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos
OBJETIVOS Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de
critérios e padrões de qualidade
ambiental e de normas relativas
ao uso e manejo de recursos
ambientais;
IV - ao desenvolvimento de
pesquisas e de tecnologias
nacionais orientadas para o uso
racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de
manejo do meio ambiente, à
divulgação de dados e
informações ambientais e à

30
formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio
ecológico;
VI - à preservação e restauração
dos recursos ambientais com
vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente,
concorrendo para a manutenção
do equilíbrio ecológico propício à
vida;
VII - à imposição, ao poluidor e
ao predador, da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os
danos causados e, ao usuário, da
contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins
econômicos.
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
PRINCÍPIOS
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente.

31
Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
MEIO AMBIENTE
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
DEGRADAÇÃO A alteração adversa das características do meio ambiente
Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
POLUIÇÃO
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
POLUIDOR
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental
RECURSOS A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o
NATURAIS mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente:
IMPACTO  A saúde, a segurança, e o bem-estar da população;
AMBIENTAL  As atividades sociais e econômicas;
 A biota;
 As condições estéticas e sanitárias ambientais;
 A qualidade dos recursos ambientais.
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


INSTRUMENTOS poluidoras;
DA PNMA V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

32
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa
Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,
seguro ambiental e outros.
Deve ser feito pelo agente interessado, através de empresas de consultoria
ambiental cadastradas no órgão competente, para subsidiar o licenciamento
EIA
de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras que causem significativa
degradação ambiental.
Para prestigiar o princípio da informação e o princípio da participação
democrática, a legislação exige que também seja elaborado um o Relatório
RIMA de Impacto Ambiental – RIMA, com uma linguagem mais acessível que
demonstre as conclusões do EIA, as vantagens e as desvantagens do projeto
e as consequências ambientais da sua implementação.
LICENÇA PRÉVIA: até 5 anos
LICENÇA DE INSTALAÇÃO: até 6 anos
LICENÇA DE OPERAÇÃO: de 4 a 10 anos
LICENCIAMENTO
RENOVAÇÃO DA LICENÇA: requisitada até 120 dias antes de terminar a o
prazo da licença de operação anterior e automaticamente renovada enquanto
a Administração não se manifestar.
O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por
instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado
SERVIDÃO perante órgão integrante do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua
propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os
recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.

33
A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à
Reserva Legal mínima exigida.
A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão
ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.
A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou
perpétua. Sendo temporária, deve ter o prazo mínimo de 15 anos.
O instrumento ou termo que instituir a servidão e o seu contrato de
alienação, cessão ou transferência precisam ser averbados na matrícula dos
imóveis envolvidos.
Tem por fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao
IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras
e utilizadoras de recursos naturais. A TCFA é devida trimestralmente e seus
recursos devem ser utilizados restritamente nas atividades de controle e
TCFA
fiscalização ambiental.
São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais,
estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam
agricultura de subsistência e as populações tradicionais.

34
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Renato, proprietário de terra rural inserida no Município

X, pretende promover a queimada da vegetação existente para o cultivo de cana-de-açúcar.


Assim, consulta seu advogado, indagando sobre a possibilidade da realização da queimada.
Sobre o caso narrado, assinale a afirmativa correta.

A) A queimada poderá ser autorizada pelo órgão estadual ambiental competente do SISNAMA,
caso as peculiaridades dos locais justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou

florestais.
B) A queimada poderá ser autorizada pelo órgão municipal ambiental competente, após

audiência pública realizada pelo Município X no âmbito do SISNAMA.


C) A queimada não pode ser realizada, constituindo, ainda, ato tipificado como crime ambiental

caso a área esteja inserida em Unidade de Conservação.


D) A queimada não dependerá de autorização, caso Renato comprove a manutenção da área
mínima de cobertura de vegetação nativa, a título de reserva legal.

Comentário:

Fundamento legal: art. 38, I, Lei 12.651/12, Código Florestal

CAPÍTULO IX

DA PROIBIÇÃO DO USO DE FOGO E DO CONTROLE DOS INCÊNDIOS

Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:

35
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas

agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental


competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, que

estabelecerá os critérios de monitoramento e controle;

(...)

______________________________________

→ O Código Florestal (Lei 12.651/12) permite o uso do fogo apenas nas seguintes situações:

I – quando autorizado pelo órgão estadual ambiental competente em práticas

agropastoris ou florestais;

II – quando aprovado pelo órgão gestor da Unidade de Conservação e previsto em seu


plano de manejo, observada a caracterização de seu emprego como prática

conservacionista da vegetação nativa da UC, nos casos em que características ecológicas


estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;

III – quando autorizado pelo órgão estadual ambiental competente para realização de

atividades de pesquisa científica.

______________________________________

→ Quando não autorizada, a prática de queimadas constitui crime previsto na Lei 9605/98
(Lei de Crimes Ambientais):

Art. 41 Provocar incêndio em mata ou floresta.

Pena – reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único: Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e


multa.

36
Questão 2

(FAFIPA - 2019 - Prefeitura de Foz do Iguaçu - PR - Procurador do Município Júnior) Em


relação à Lei 6.938/81, é CORRETO afirmar que se caracteriza como um dos objetivos legalmente

previstos pela Política Nacional de Meio Ambiente o seguinte:


A) A proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas.

B) A ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente


como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o

uso coletivo.
C) O controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras.

D) Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,


objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
E) A compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade

do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

Comentário:

Na questão proposta, o examinador exige do candidato a diferenciação entre os princípios


e objetivos da PNMA. Segundo o seu art. 4º, I, a PNMA visará à compatibilização do

desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e


do equilíbrio ecológico. As demais alternativas se referem aos seus princípios.

Questão 3

(CESPE - 2019 - PGM - Campo Grande - MS - Procurador Municipal) Considerando os


aspectos constitucionais relacionados ao direito ambiental, a Lei n.º 6.938/1981, que dispõe

sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei n.º 12.651/2012, que estabelece prescrições
acerca do Código Florestal e as resoluções do CONAMA, julgue o item a seguir.

Poluição é a alteração adversa das características do meio ambiente mediante o lançamento de


matérias ou energia em desacordo com padrões ambientais estabelecidos.

37
( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

De acordo com o art. 3º da PNMA, que estabelece conceitos importantes para toda a

matéria de Direito Ambiental, entende-se por poluição a degradação da qualidade


ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a

segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e


econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias

do meio ambiente; ou lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões


ambientais estabelecidos.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina

(IMA/SC) é o órgão ambiental da esfera estadual catarinense responsável pela execução de


programas e projetos de proteção ambiental, bem como pelo controle e pela fiscalização de

atividades potencialmente causadoras de degradação ambiental. De acordo com a Lei n.º


6.938/1981, o IMA/SC compõe o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) na qualidade
de

A) órgão superior.
B) órgão supervisor.

C) órgão local.
D) órgão seccional.

E) órgão consultivo e deliberativo.

38
Comentário:

Mais uma questão que trata sobre a estrutura do SISNAMA. De forma contextualizada, mas

sem grandes mistérios, o examinador quer que o candidato saiba qual a qualidade de um
órgão estadual dentro da estrutura do SISNAMA. Como vimos, todos os órgãos estaduais

são considerados órgãos seccionais. Não confunda com os órgãos locais, que são todos
os órgãos municipais.

Questão 5

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Os princípios expressos na Lei n.º 6.938/1981 —

Política Nacional do Meio Ambiente — incluem


A) o estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao

uso e manejo de recursos ambientais.


B) a racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar e a recuperação de áreas

degradadas.
C) o desenvolvimento sustentável e o poluidor pagador.
D) o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional

de recursos ambientais.

Comentário:

São princípios da PNMA: ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; racionalização do uso do solo, do

subsolo, da água e do ar; planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;


proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; controle e

zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; incentivos ao estudo e à


pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos

39
ambientais; acompanhamento do estado da qualidade ambiental; recuperação de áreas

degradadas; proteção de áreas ameaçadas de degradação; e educação ambiental a todos


os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para

participação ativa na defesa do meio ambiente.

O estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao


uso e manejo de recursos ambientais, assim como o desenvolvimento de pesquisas e de

tecnologias nacionais orientadas para o uso de recursos ambientais são objetivos da PNMA,
enquanto o desenvolvimento sustentável e o poluidor pagador são princípios do Direito

Ambiental.

Questão 6

(FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público) Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente, é
considerada degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou

indiretamente afetem desfavoravelmente a biota,


A) o meio ambiente degradado.
B) a servidão ambiental.

C) a exploração da vegetação.
D) o desequilíbrio ecológico.

E) a poluição.

Comentário:

Segundo o art. 3º da PNMA, poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante

de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-


estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem

desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;


ou lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

40
Questão 7

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) De acordo com o artigo

9o da Lei nº 6.938/81, NÃO são instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:


A) O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zoneamento e a avaliação de

impactos ambientais.
B) Os órgãos e entidades que constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

C) Os incentivos à criação de tecnologia voltados para a melhoria da qualidade ambiental e os


instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental e seguro ambiental.
D) O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente e o Cadastro Técnico Federal de

Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental.

Comentário:

De acordo com o art. 9º da Lei 6.938/, são instrumentos da PNMA o estabelecimento de


padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impactos
ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de


tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; a criação de espaços

territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais
como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; o Cadastro Técnico Federal de


Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; as penalidades disciplinares ou

compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção


da degradação ambiental; a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais

Renováveis – IBAMA; a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; o Cadastro Técnico

41
Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;

instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental


e outros.

Questão 8

(CESPE - 2018 - PGM - Manaus - AM - Procurador do Município) Considerando as normas

aplicáveis ao SISNAMA e as Resoluções CONAMA n.º 237/1997 e n.º 378/2006, julgue o item
seguinte.

O IBAMA e o ICMBio são considerados órgãos superiores do SISNAMA.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

Já comentamos a estrutura do SISNAMA e vimos que o IBAMA e o ICMBio são os seus


órgãos executores. O órgão superior do SISNAMA é o Conselho de Governo.

Questão 9

(VUNESP - 2017 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Procurador) Sobre os

instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, afirma-se corretamente que


A) o zoneamento consiste no estudo e diagnóstico ambiental da área de influência do projeto,

completa descrição e análise dos recursos ambientais.


B) o EIA tem caráter vinculante, eis que representa um parecer técnico essencial para a concessão
da licença ambiental.

42
C) o RIMA consiste no estudo de impacto prévio ambiental elaborado e custeado pelo

empreendedor e que envolve atividades técnicas.


D) constitui uma de suas espécies a criação de espaços territoriais, especialmente protegidos

pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como área de proteção ambiental, de
relevante interesse ecológico e de reservas extrativistas.

E) o licenciamento e a revisão de atividades potencialmente poluidoras ocorrerão quando


obedecidos os requisitos constantes em rol taxativo previsto em resolução do CONAMA.

Comentário:

São instrumentos da PNMA: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o


zoneamento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de

atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalação de


equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da
qualidade ambiental; a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo

Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; o sistema nacional de

informações sobre o meio ambiente; o Cadastro Técnico Federal de Atividades e


Instrumentos de Defesa Ambiental; as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental; a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado

anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis –


IBAMA; a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se
o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; o Cadastro Técnico Federal de

atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;


instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental

e outros.

O zoneamento não está vinculado a um projeto específico, a alternativa “A” está se


referindo ao EIA, que consiste no estudo prévio de impacto ambiental, elaborado e

custeado pelo empreendedor e que envolve atividades técnicas (o RIMA é o “resumo” do

43
EIA com linguagem mais acessível). Quando apresentado, o EIA/RIMA não vincula a

autoridade pública.

Por fim, o rol que estabelece os requisitos para o licenciamento e a revisão de atividades
potencialmente poluidoras é exemplificativo.

Questão 10

(MPE-PR - 2017 - MPE-PR - Promotor Substituto) Assinale a alternativa incorreta:

A) A fabricação de equipamentos antipoluidores deve ser incentivada pelo Poder Executivo.


B) A servidão ambiental não pode ser instituída de forma perpétua.

C) Compõe o conceito de poluição a degradação da qualidade ambiental resultante de


atividades que indiretamente criem condições adversas às atividades econômicas.

D) Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras é um dos


princípios da Política Nacional do Meio Ambiente.

E) A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser,
no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.

Comentário:

A servidão ambiental consiste em um dos instrumentos da PNMA e ocorre quando o


proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, por instrumento público

ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do SISNAMA,


limita o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou
recuperar os recursos ambientais existentes. Segundo o art. 9º-B da PNMA, a servidão

ambiental pode ser onerosa, gratuita, temporária ou perpétua.

44
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - CERTO

Questão 4 - D

Questão 5 - B

Questão 6 - E

Questão 7 - B

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - D

Questão 10 -B

45
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA

 CF/88: Art. 23, VI e VII, 225


 Lei 6.938/81
 Resolução do CONAMA: 01/86, 237/97 e 306/02
 Decreto 99.274/90
 LC 140/11

46
JURISPRUDÊNCIA

Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA

 STF - ADI-MC: 3540 DF, Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 01/09/2005, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528

MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225)- PRERROGATIVA QUALIFICADA
POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO)
QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE
DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS
TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III)- ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME
JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI -
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES
NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS
ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II,
C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225)- COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE
SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS
DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161)
- A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI)- DECISÃO NÃO REFERENDADA -
CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO
AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS
PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de
terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao
Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras
gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse
encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves
conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na
proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO

47
PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO
MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais
nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a
atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios
gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e
abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial
(espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza
constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e
os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura,
trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado
este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A
NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS
DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA . - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da
ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre
valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o
conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente,
que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras
gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO
EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE . - A Medida Provisória nº 2.166-67, de
24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de
comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário,
mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de
preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação
de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com
o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão . - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico
pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art.
225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal . - É lícito ao Poder Público -
qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros,
Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços
no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições,
limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos
que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º,
III).

48
 STJ - REsp: 994881 SC 2007/0236340-0, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de
Julgamento: 16/12/2008, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 09/09/2009

PROCESSUAL CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. OBRA EMBARGADA
PELO IBAMA, COM FUNDAMENTO NA RESOLUÇÃO DO CONAMA N. 303/2002. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. EXCESSO REGULAMENTAR. NÃO-OCORRÊNCIA. ART. 2º, ALÍNEA 'F', DO CÓDIGO FLORESTAL NÃO-
VIOLADO. LOCAL DA ÁREA EMBARGADA. PRETENSÃO DE ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 7 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHECIDO. 1. O fundamento jurídico da impetração repousa
na ilegalidade da Resolução do Conama n. 303/2002, a qual não teria legitimidade jurídica para prever restrição ao
direito de propriedade, como aquele que delimita como área de preservação permanente a faixa de 300 metros
medidos a partir da linha de preamar máxima. 2. Pelo exame da legislação que regula a matéria (Leis 6.938/81 e
4.771/65), verifica-se que possui o Conama autorização legal para editar resoluções que visem à proteção do
meio ambiente e dos recurso naturais, inclusive mediante a fixação de parâmetros, definições e limites de
Áreas de Preservação Permanente, não havendo o que se falar em excesso regulamentar. 3. Assim, dentro do
contexto fático delineado no acórdão recorrido, e, ainda, com fundamento no que dispõe a Lei n. 6.938/81 e o
artigo 2º, f, da Lei n. 4.771/65, devidamente regulamentada pela Resolução Conama n. 303/2002, é inafastável a
conclusão a que chegou o Tribunal de origem, no sentido de que os limites traçados pela norma regulamentadora
para a construção em áreas de preservação ambiental devem ser obedecidos. 4. É incontroverso nos autos que as
construções sub judice foram implementadas em área de restinga, bem como que a distância das edificações está
em desacordo com a regulamentação da Resolução Conama n. 303/2002. Para se aferir se o embargo à área em
comento se deu apenas em razão de sua vegetação restinga ou se, além disso, visou à proteção da fixação de
dunas e mangues, revela-se indispensável a reapreciação do conjunto probatório existente no processo, o que é
vedado em sede de recurso especial em virtude do preceituado na Súmula n. 7, desta Corte. 5. Recurso especial
não-conhecido.

49
ESTUDO COMPLEMENTAR

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50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

51
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 4
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 3

5. Licença Ambiental ............................................................................................................................ 3

5.1 Introdução .................................................................................................................................................................................. 3

5.2 O licenciamento ambiental ................................................................................................................................................. 3

5.3 A licença ambiental ................................................................................................................................................................ 8

5.4 Tipos de licença ambiental ................................................................................................................................................. 9

5.4.1 Licença prévia ........................................................................................................................................................................... 9

5.4.2 Licença de instalação...........................................................................................................................................................10

5.4.3 Licença de operação ............................................................................................................................................................11

5.5 Condicionantes socioambientais ....................................................................................................................................12

5.6 Prazos de validade das licenças .....................................................................................................................................13

5.7 Competência............................................................................................................................................................................14

5.7.1 Critérios de fixação de competência ............................................................................................................................15

5.7.2 Competência para fiscalizar..............................................................................................................................................18

5.8 Taxa de licenciamento ambiental ..................................................................................................................................19

5.9 Publicidade ...............................................................................................................................................................................20

5.10 Modificação, suspensão e cancelamento da licença ambiental ......................................................................20

5.11 Regularização de empreendimentos e atividades sem licença ambiental..................................................21

5.12 Servidão Ambiental e Concessão Florestal................................................................................................................22

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 23

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 27

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 42

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 43

ESTUDO COMPLEMENTAR .......................................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 45

1
E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 04 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre a Licenciamento


ambiental.

Agora, vamos as nossas considerações:

“Licenciamento Ambiental” apareceu apenas 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado

um assunto de alta recorrência no Exame de Ordem. Nem preciso dizer que esse assunto é
muito importante para sua preparação, não é mesmo? Adicionamos questões de outros

concursos que versam sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

2
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 4

5. Licença Ambiental

5.1 Introdução

O meio ambiente é um bem de uso comum do povo, patrimônio público de uso coletivo
que deve ser protegido e assegurado pelo Poder Público. Visto isso, a utilização dos seus

recursos naturais depende de consentimento do Estado, inexistindo direito subjetivo à sua livre
utilização.

Esse consentimento do Estado é feito por meio da licença ambiental, instrumento de

gestão ambiental previsto na PNMA, que visa o controle prévio das atividades potencialmente
poluidoras. É uma forma de exercer os postulados do desenvolvimento sustentável, da
preservação, da precaução, do limite e da obrigatoriedade da intervenção estatal.

O licenciamento ambiental é uma forma de tutelar de forma preventiva o meio ambiente,


prevenindo impactos ambientais negativos ou mitigando-os ao máximo por meio de
condicionantes ao exercício da atividade.

Como você já pode ter percebido, o licenciamento ambiental decorre do poder de polícia
ambiental da Administração Pública, que é a prerrogativa pública que a autoriza restringir o
uso e o gozo da liberdade e da propriedade privada em favor do interesse público da

coletividade.

5.2 O licenciamento ambiental1

De acordo com o art. 2º da LC 140/11, licenciamento ambiental é o “procedimento


administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos

1
Vide Questão 02
3
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar

degradação ambiental”2.

E de acordo com a Resolução 237/97 do CONAMA, o licenciamento ambiental é o


“procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização,

instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos


ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer

forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e


regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso”.

Portanto, podemos dizer que o licenciamento ambiental tem natureza de procedimento

administrativo – composto por diversas formalidades e etapas previstas na Resolução 237/97


do CONAMA3:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor,


dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de
licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos


documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos documentos,
projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando
necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente,


integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos,
projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração
da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido
satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente,


decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da
solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

2
Vide questão 9 desse material.
3
Vide questão 9 desse material.
4
VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.

§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,


obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo
de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável
ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de
vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes.

§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto ambiental


- EIA, se verificada a necessidade de nova complementação em decorrência de
esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o órgão ambiental competente,
mediante decisão motivada e com a participação do empreendedor, poderá formular
novo pedido de complementação.

Observe o dispositivo elencado: antes do requerimento da licença, o órgão ambiental,


com participação do empreendedor que pretende requerer a licença, definirá os documentos,

projetos e estudos que devem instruir o respectivo requerimento. Nos casos de


empreendimentos e atividades com potencial de significativo impacto ambiental, deve ser feito

o Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA e o seu respectivo relatório, o RIMA.

Ressalta-se o disposto no §1º do dispositivo supracitado que exige a apresentação de uma


certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou

atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e,


quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água,

emitidas pelos órgãos competentes.

Depois de produzir todos os documentos, projetos e estudos necessários, o empreendedor


deve requerer a licença ambiental e a esse requerimento dar-se-á publicidade. Feito o

requerimento, cabe a análise dos documentos, projetos e estudos por um órgão ambiental
integrante do SISNAMA que, quando for necessário, fará vistorias técnicas.

Se no momento dessa análise a autoridade licenciante ficar com alguma dúvida, poderá

solicitar esclarecimentos e complementações. Essa solicitação só poderá ser feita uma vez, mas
se a resposta do empreendedor não for satisfatória, a mesma solicitação poderá ser reiterada.

5
A regra da única complementação é excetuada nos casos de empreendimentos e atividades

sujeitos ao EIA, conforme o §2º do dispositivo citado. Nesses casos, se verificada a necessidade
de uma nova complementação depois dos esclarecimentos já prestados, o órgão ambiental

pode formular um novo pedido mediante decisão motivada que deve contar com a participação
do empreendedor.

O prazo de resposta do empreendedor é de no máximo 4 meses a contar do recebimento

da notificação. Esse prazo poderá ser prorrogado se houver justificativa e concordância entre o
empreendedor e o órgão ambiental.

Também poderá ser feita uma audiência pública para debater com a sociedade o

licenciamento ambiental analisado, dirimir dúvidas e ouvir críticas e sugestões populares e


científicas, prestigiando o princípio da participação comunitária.

Os apontamentos feitos em audiência pública possuem caráter consultivo e não vinculam

a decisão da Administração. Entretanto, caso a autoridade ambiental licenciante discorde das


manifestações, deverá apresentar argumentos técnicos para adotar posicionamento diverso.

Quanto às atividades que estão sujeitas ao EIA, a audiência pública no procedimento de

licenciamento ambiental pode ser feita por determinação do próprio órgão ambiental, se julgar
necessário, ou mediante solicitação de entidade civil, do Ministério Público ou de cinquenta ou

mais cidadãos. Se, quando solicitada, a audiência pública não for realizada, a licença ambiental
concedida ao final do procedimento não terá validade.

Concluída a análise e, quando couber, a audiência pública, haverá a emissão de um parecer

técnico conclusivo (sempre) e, quando couber, um parecer jurídico. Por fim, a autoridade
competente deve deferir ou indeferir o pedido de licença ambiental e dar a sua devida
publicidade.

Como a exigência de licença ambiental é uma limitação ao livre exercício da atividade


econômica, o procedimento de análise da licença deve ter um prazo para ser exercido.

O prazo deve ser estabelecido em cada caso pela autoridade competente, a depender das
peculiaridades da atividade ou do empreendimento, observado o prazo máximo de 6 meses,

6
contados do protocolo de requerimento até o deferimento (salvo nos casos em que houver

EIA/RIMA e/ou audiência pública, que teremos o prazo de até 12 meses).

Os prazos máximos de 6 ou 12 meses ainda poderão ser alterados quando houver


concordância entre o empreendedor e o órgão licenciante e a decisão for devidamente

justificada.

A contagem do prazo de análise será suspensa durante o período que o empreendedor


estiver preparando as informações ou esclarecimentos solicitados pelo órgão ambiental.
Simplificando para você: o prazo só é contado quando a providência de impulsionar o

procedimento é da Administração.

Não existe o licenciamento tácito no direito ambiental, caso a Administração não cumpra
o prazo estipulado para o licenciamento ambiental, o procedimento ficará sujeito à ação de
órgão que detenha competência supletiva. Caso o empreendedor não cumpra o prazo para
ele estabelecido, o seu pedido de licença deve ser arquivado.

Obs.: o arquivamento do procedimento de licenciamento não impede que o empreendedor

faça um novo requerimento, mediante novo pagamento de custo de análise4.

Em algumas situações poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as


atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental, que deverão ser

aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente.

Ainda, poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para pequenos
empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles integrantes de planos de

4
Vide questão 6 desse material.
7
desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente, desde que

definida a responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos ou atividades.

5.3 A licença ambiental

Concluído o procedimento administrativo de licenciamento ambiental, a Administração

Pública expedirá a licença ambiental, que consiste em um ato administrativo do órgão


ambiental competente com condições, restrições e medidas de controle ambiental para que o

empreendedor possa exercer a sua atividade.

Licenciamento Licença ambiental


ambiental (é o ato
(é o procedimento) administrativo)

Quem deve ter licença ambiental? nem toda atividade ou empreendimento precisa de
uma licença ambiental. Ela é obrigatória para qualquer atividade que possa causar degradação

ao meio ambiente, independentemente de ser pública ou privada. Portanto, ela é exigida


para a instalação, localização, ampliação e operação de empreendimento que utilize recursos

naturais e exerça atividades potencialmente poluidoras.

O Anexo I da Resolução 237/97 do CONAMA elenca várias atividades para as quais a


licença ambiental é obrigatória, como a extração e tratamento de minerais, indústria metalúrgica,

mecânica, de material elétrico, eletrônico e comunicações, de madeira, borracha, couros e peles,


química, de matéria plástica, têxtil, de alimentos e bebidas, de fumo, obras civis, transportes,

turismo, atividades agropecuárias, entre outras. Esse rol de atividades eleitas pelo CONAMA é
meramente exemplificativo, servindo como auxílio para a atuação dos órgãos ambientais.

8
Dependendo da natureza do empreendimento e dos recursos naturais envolvidos, a licença

ambiental não exime o empreendedor de outras autorizações ambientais específicas, como a


outorga pelo uso de recursos hídricos, prevista na Lei 9.433/97.

5.4 Tipos de licença ambiental

Para que um empreendimento ou atividade potencialmente poluidora possa funcionar, é


preciso passar por duas fases de licenciamentos: a primeira é composta pelas licenças

preliminares, que são as licenças prévia e de instalação; e a segunda fase é composta pela
licença final, que é a licença de operação.

A concessão de cada licença depende da verificação do cumprimento de exigências

condicionantes previstas na licença antecedente, dentro do prazo legal, nesta ordem:

LICENÇA LICENÇA DE LICENÇA DE


PRÉVIA INSTALAÇÃO OPERAÇÃO
até 5 anos até 6 anos 4 a 10 anos

5.4.1 Licença prévia

De acordo com o art. 8º da Resolução 237/97 do CONAMA, o Poder Público, no exercício


de sua competência de controle, expedirá a Licença Prévia (LP), que é “concedida na fase

preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e


concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e

condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação”.

Quando o interessado manifesta a sua intenção de realizar determinado empreendimento


ou atividade na fase inicial do licenciamento, a Administração deve analisar a sua localização e

concepção para atestar se existe viabilidade ambiental. Existindo, a autoridade pública licenciante

5
Vide questões 6 desse material.
9
deve conceder a licença ambiental prévia, e nela estabelecer requisitos básicos e condicionantes

para as próximas fases.

Concedida a Licença Prévia, o empreendedor deve elaborar um Projeto Básico do seu


empreendimento obedecendo às medidas de controle ambiental e às condicionantes previstas

na licença. Ele deve conter todos os elementos necessários e suficientes para caracterizar a obra
ou o serviço, assegurar a sua viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental.

Ademais, o Projeto Básico deve possibilitar a avaliação dos custos da obra e definir os métodos
e prazos de sua execução.

5.4.2 Licença de instalação6

A Licença de Instalação (LI) “autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de

acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo
as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo

determinante” (art. 8º da Resolução 237/97 do CONAMA).

Nessa fase do licenciamento deve ser elaborado o Projeto Executivo, que consiste em
uma revisão do Projeto Básico, enriquecido com detalhes técnicos. O foco desse projeto é

compatibilizar a instalação do empreendimento com a proteção do meio ambiente.

Verificado o atendimento das condicionantes estabelecidas na Licença Prévia e aprovado


o Projeto Executivo, a Administração Pública expedirá a Licença de Instalação. Com isso, o

empreendedor fica autorizado a iniciar as obras.

Ademais, com a expedição da Licença de Instalação, a Administração deve estabelecer


medidas de controle ambiental, para que a implementação do empreendimento obedeça aos

padrões de qualidade ambiental, e condicionantes, que são medidas mitigadoras e/ou


compensatórias de impactos ambientais.

O cumprimento das medidas e das condicionantes é essencial para a solicitação e para a

obtenção da próxima licença – a Licença de Operação.

6
Vide questões 5 desse material.
10
Atenção: a Licença de Instalação não autoriza qualquer tipo de operação do

empreendimento, nem mesmo para testes.

5.4.3 Licença de operação7

Na fase de licença final, temos a Licença de Operação (LO), que “autoriza a operação da
atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das

licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para


a operação”.

Após a instalação, a Administração Pública deve fazer uma vistoria na obra para verificar a

adoção das exigências determinadas nas etapas anteriores.

Ao requerer a Licença de Operação, e mesmo antes da sua expedição, é possível que o


empreendedor realize testes pré-operacionais com autorização do órgão ambiental competente.

A Licença de Operação tem o intuito de aprovar a harmonização entre o exercício da

atividade e o meio ambiente, estabelecendo condicionantes para o início e a continuidade da


sua operação, que devem ser cumpridas até o momento da sua prorrogação.

7
Vide questões 8 desse material.
11
Vamos fazer um link com Direito Administrativo?

Como a licença ambiental prévia vem antes da elaboração do Projeto Básico, o Tribunal de
Contas da União – TCU entende que é um indício de irregularidade grave para efeito de

suspensão de repasses de recursos federais a contratação de obras pela Administração Pública


com base em Projeto Básico elaborado sem a respectiva licença ambiental prévia.

Também é considerado indício de irregularidade grave, capaz e ensejar a interrupção do


repasse de recursos financeiros federais, além de ser crime ambiental, o início das obras sem
Licença de Instalação.

Da mesma forma, o início da operação da atividade ou do empreendimento sem a devida

Licença de Operação é indício de grave irregularidade administrativa, que deve interromper o


repasse de recursos financeiros federais.

5.5 Condicionantes socioambientais

As condicionantes socioambientais são exigências do órgão licenciador, que devem ser


obedecidas pelo empreendedor, para direcionar e regularizar a atividade ou o empreendimento.

São condições, restrições e medidas preventivas, mitigadoras e compensatórias, previstas na


licença ambiental, com base na avaliação de impacto ao meio ambiente.

Elas são chamadas de condições socioambientais porque condicionam a emissão da

licença subsequente e, no caso da Licença de Operação, condicionam a licitude da atividade


ou do empreendimento.

As medidas preventivas visam evitar dano ambiental, exigindo do empreendedor ações

ou omissões que não gerem agressão ao meio ambiente.

12
Quando o empreendimento tem como característica intrínseca um impacto negativo ao

meio ambiente, devem ser adotadas medidas mitigadoras do dano. São exigências feitas pelo
órgão ambiental licenciador para que o empreendedor minimize o impacto ambiental da sua

atividade ou empreendimento.

Quando não for possível medidas preventivas ou medidas mitigadoras do dano ambiental,
o órgão licenciador deve exigir do empreendedor medidas compensatórias. Nesse caso, cabe

ao responsável pelo impacto ambiental adotar medidas que causem efeitos ambientais positivos,
buscando um reequilíbrio.

Atenção: as medidas compensatórias não precisam ser relacionadas diretamente com a

atividade ou com o empreendimento objeto da licença.

5.6 Prazos de validade das licenças

De acordo com o art. 18 da Resolução 237/97 do CONAMA, o órgão ambiental competente

deve estabelecer prazo de validade para cada licença, especificando-o no respectivo documento.

O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo
cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou

atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.

O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido


pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a

6 (seis) anos.

13
A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os prazos de validade

prorrogados no caso concreto, desde que não ultrapassem os prazos máximos de 5 e 6 anos,
respectivamente.

O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de controle

ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos.

O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de validade específicos para a


Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e

peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores.

Como a Licença de Operação tem um prazo determinado de validade, ela precisa ser
renovada. Na sua renovação, o órgão ambiental competente poderá, mediante decisão

motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do desempenho


ambiental da atividade ou empreendimento no período de vigência anterior, respeitados os

limites de no mínimo 4 e no máximo 10 anos.

A renovação da Licença de Operação de uma atividade ou empreendimento deverá ser


requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo

de validade, fixado na respectiva licença8, que fica automaticamente prorrogada até a


manifestação definitiva do órgão ambiental competente, pois o empreendedor diligente não

pode ser penalizado pela morosidade da Administração Pública.

5.7 Competência

A Constituição Federal, em seu art. 23, VI, estabelece a competência material comum para

a matéria ambiental. Assim, todos os entes federados devem atuar administrativamente na


proteção do meio ambiente, desde que a sua atuação não viole a competência de outro ente.

De acordo com a Lei Complementar 140/11, tanto a União, como os estados, o Distrito

Federal e os municípios são competentes para licenciar atividades e empreendimentos que

8
Vide questão 6 desse material.
14
gerem impactos ambientais, mas, no caso concreto, apenas um dos entes será competente, pois

não existe licenciamento simultâneo 9.

Art. 13 da LC 140/11 – Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,


ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições
estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.

Art. 7º da Resolução 237/97 do CONAMA – Os empreendimentos e atividades serão


licenciados em um único nível de competência, conforme estabelecido nos artigos
anteriores.

Mesmo que dois ou mais entes sejam interessados no licenciamento, apenas um será o

competente para tanto. O(s) outro(s) interessado(s) pode(m) se manifestar no procedimento de


licenciamento, de forma meramente opinativa, sem caráter vinculante.

5.7.1 Critérios de fixação de competência

A Lei Complementar 140/11 estabeleceu em seus artigos 7º, XIV, 8º, XIV, XV, e 9º, XIV, as

competências dos entes federativos em matéria de licenciamento ambiental. Para tanto, o


legislador usou diversos critérios que veremos a seguir.

Ao estabelecer a competência da União para o licenciamento ambiental, foram usados os

seguintes critérios:

 a soberania nacional, quando o empreendimento ou atividade está localizada ou


desenvolvida conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
 o domínio do bem nos casos de atividades ou empreendimentos localizados ou
desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica
exclusiva e em terras indígenas;
 o critério do instituidor da UC – unidade de conservação da natureza – exceto no
caso de APA;
 o critério geográfico, que determina a competência da União para licenciar as
atividades e empreendimentos localizados ou desenvolvidos em dois ou mais
estados, mesmo que de pequeno porte;
 o critério do monopólio da União para o licenciamento de atividades ou
empreendimentos que tratem de material radioativo ou usem energia nuclear;

9
Vide questões 4, 7 e 9 desse material.
15
 o critério de segurança nacional para o licenciamento de atividades de caráter
militar; e
 os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento, que são critérios objetivos usados para estabelecer tipologias de
empreendimentos e atividades que devem ser licenciados por órgão federal.

Art. 7º São ações administrativas da União:

(...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades10:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;

b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona


econômica exclusiva;

c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;

d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União,


exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;

f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do


Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme
disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor


material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer
de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(Cnen); ou

h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;

Ao estabelecer a competência dos estados para o licenciamento ambiental, o legislador

usou um critério residual e o critério de instituidor da UC, exceto em APA.

Art. 8º São ações administrativas dos Estados:

10
Vide questão 7 desse material.
16
(...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores


de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o;

XV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados


ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas
de Proteção Ambiental (APAs);

Para a competência dos municípios, o legislador usou o critério do porte, potencial


poluidor e natureza da atividade e o critério do instituidor da UC, exceto APA.

Art. 9º São ações administrativas dos Municípios:

(...)

XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei
Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito locaL, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou

b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas


de Proteção Ambiental (APAs);

Futuramente, ainda neste curso, vamos estudar as Unidades de Conservação. Mas nesse
momento você precisa saber que “Unidades de Conservação” é um gênero do qual a Área de

Proteção Ambiental (APA) é espécie.

Em regra, a competência para licenciar empreendimento ou atividade localizada ou


desenvolvida em UC é do ente federado que a instituiu. A exceção encontra-se na APA. O órgão

ambiental competente para licenciar empreendimento ou atividade localizada ou


desenvolvida em APA não será, necessariamente, órgão do seu ente instituidor.

Art. 12. Para fins de licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos


utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental, e para autorização de supressão e
manejo de vegetação, o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservação
não será aplicado às Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

17
Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e
autorização a que se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas
alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV do art. 8o e na alínea
“a” do inciso XIV do art. 9o.

Portanto, será de competência da União o licenciamento ambiental de atividades ou


empreendimentos localizados ou desenvolvidos em APA, independentemente de quem seja o
seu instituidor:

 localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;


 localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na
zona econômica exclusiva;
 localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
 de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do
Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas,
conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;
 que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de
proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um
membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento

Caberá aos estados o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades


localizadas ou desenvolvidas em APA quando a competência não couber a outro ente. E caberá
aos municípios o licenciamento quando o empreendimento ou a atividade cause ou possa causar

impacto ambiental de âmbito local11.

5.7.2 Competência para fiscalizar

De acordo com a LC 140/11, a fiscalização, que faz parte do exercício do poder de polícia
ambiental da Administração Pública, deve ser feita pelo órgão responsável pelo licenciamento.

Entretanto, a norma não impede que a fiscalização seja feita pelos outros entes federados
no exercício das suas competências materiais comuns estabelecidas pela CF/88. Caso o ente

11
Vide questão 7 desse material.
18
licenciador fique inerte, outro pode fiscalizar de forma supletiva o empreendimento ou a

atividade.

Esse é o entendimento do STJ, que afirma não existir competência exclusiva de um ente
da federação para promover medidas protetivas ao meio ambiente. Entretanto, caso haja

atuação de mais de um órgão ambiental, o auto de infração lavrado pelo órgão que tem
competência para o licenciamento deve prevalecer.

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o


caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas
pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.

§ 1º Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente


de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput,
para efeito do exercício de seu poder de polícia.

§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente


federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer
cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as
providências cabíveis.

§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

5.8 Taxa de licenciamento ambiental

A taxa de licenciamento ambiental é uma forma de o empreendedor ressarcir o Estado

pelos valores gastos para a análise ambiental do seu empreendimento ou atividade. Trata-se de
um requisito para a instauração e para o andamento do procedimento de licenciamento

ambiental.

Como o objetivo da taxa é ressarcir o Estado pelos gastos com o procedimento de


licenciamento ambiental, a respectiva taxa deve ser individualizada e corresponder aos valores
específicos de cada empreendimento ou atividade.

19
Ainda, cada tipo de licença pode ter um valor de taxa diferenciado, proporcionais ao custo

e à complexidade do serviço prestado.

Por fim, a taxa de licenciamento ambiental não se confunde com a Taxa de Controle e
Fiscalização Ambiental – TCFA, que é cobrada da atividade ou do empreendimento já licenciado

e em operação. A TCFA tem como fato gerador o serviço de controle e fiscalização, enquanto a
taca de licenciamento ambiental tem como fato gerador o procedimento de licenciamento.

5.9 Publicidade

A publicidade da licença ambiental e do procedimento de licenciamento visam a


concretização do princípio da informação, possibilitando a participação da sociedade. Trata-se

de uma exigência legal que, se desrespeitada, tornará inválida a licença por vício de legalidade.

Resguardado o sigilo industrial, de acordo com a PNMA, os pedidos de licenciamento, de


renovação e as respectivas concessões devem ser publicadas no jornal oficial e em periódico

regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo


órgão ambiental competente, às custas do empreendedor requerente12.

5.10 Modificação, suspensão e cancelamento da licença


ambiental

A extinção natural da licença ambiental ocorre com o fim do seu prazo de validade.
Entretanto, antes do fim desse prazo, o órgão ambiental competente, mediante decisão
motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender

ou cancelar uma licença expedida, nas seguintes hipóteses:

 Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.


 Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição
da licença.
 Superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

12
Vide questão 9 desse material.
20
A modificação de uma licença ambiental ocorre, por exemplo, com a constatação de uma

nova situação, imprevisível no momento em que a licença foi expedida e que agora torna o seu
conteúdo inadequado.

A suspensão de uma licença ambiental ocorre pelo período que o empreendedor leva para

adequar a atividade ou o empreendimento às condicionantes determinadas pela Administração


Pública. É possível vislumbrar a suspensão da licença nos casos de omissão ou falsa descrição

de informações relevantes para a expedição da licença e nos casos de superveniência de graves


riscos ambientais e de saúde que, logicamente, possam ser superados com a adoção de medidas

de controle e adequação.

O cancelamento da licença ambiental é o desfazimento do ato por vontade da


Administração Pública. O cancelamento ocorrerá por meio de cassação, invalidação ou

revogação. A licença será cassada quando verificada a violação de condicionante que permitia
a subsistência do ato. A licença será anulada (invalidada) quando houver ilegalidade na sua
concessão, ou seja, por violação de normas legais ou por falsa descrição de informações

relevantes para a expedição da licença. Por fim, a licença pode ser revogada, que é a retirada
do ato administrativo por conveniência e oportunidade da Administração Pública. A revogação

pode ocorrer, por exemplo, nos casos de superveniência de graves riscos ambientais e à saúde,
desde que insuperáveis com medidas de controle e adequação.

5.11 Regularização de empreendimentos e atividades sem


licença ambiental

Em regra, o licenciamento ambiental é feito antes do funcionamento da atividade ou do

empreendimento. Isso ocorre em decorrência lógica do seu objetivo, que é evitar, minimizar
e/ou compensar o impacto ambiental de atividades potencialmente poluidoras.

Entretanto, na prática encontramos diversos casos de instalação e operação de

empreendimentos e atividades irregulares, sem as devidas licenças ambientais. Quando nos


deparamos com essa situação, a exigência de licenciamento ambiental para regularizar o
empreendimento ou atividade pode ser feita a qualquer momento, desde que cumpridas as
exigências e condições estabelecidas pelo órgão licenciador.

21
Não podemos falar em direito adquirido do empreendimento e da atividade não

licenciados. Mesmo aqueles que não estejam regularizados devem renovar a licença ambiental
periodicamente.

Devemos destacar que, em determinadas situações, não é possível a regularização

ambiental da atividade ou empreendimento. Em casos de afronta direta à legislação, a única


alternativa é a paralização imediata da operação. Exemplo: empresa que opera dentro de UC de

proteção integral.

5.12 Servidão Ambiental e Concessão Florestal

Servidão administrativa é o direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre

imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por delegados, em
favor de um serviço público ou de um bem que foi destinado à utilidade pública.

A MP 2.166-67/01 instituiu a servidão florestal. Seria uma maneira de proceder à

compensação florestal. Assim, o proprietário rural poderá instituir a servidão, mediante a qual
voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou

exploração da vegetação nativa, que seja localizada na parte exterior da reserva legal e da área
com vegetação de preservação permanente.

Concessão florestal é a delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de


praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de
manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências

do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta
e risco e por prazo determinado

Este instrumento tem como objetivo estabelecer um método adequado do uso correto de

recursos ambientais.

22
QUADRO SINÓTICO

LICENÇA AMBIENTAL
É o procedimento administrativo que ao final deferirá ou não uma licença
ambiental (ato administrativo) para atividades ou empreendimentos que
utilizem recursos naturais, efetiva ou potencialmente poluidores do meio
ambiente.
LICENCIAMENTO
Deve ter duração de no máximo 6 meses, contados a partir do protocolo
do requerimento do empreendedor.
Em casos de atividades potencialmente causadoras de significativo dano
ambiental, o licenciamento pode durar até 12 meses.
Concedida na fase preliminar de planejamento. Visa aprovar a localização
e a concepção da atividade ou empreendimento, atestando a sua
LICENÇA PRÉVIA
viabilidade ambiental e estabelecendo condicionantes para serem
atendidas nas licenças seguintes.
Após a licença prévia, atendidas as suas condicionantes e com base nos
planos, programas e projetos aprovados, deve ser expedida a licença de
LICENÇA DE
instalação. Essa licença permite que o requerente instale o seu
INSTALAÇÃO
empreendimento (pode construir). Ela deve conter requisitos básicos e
condicionantes para que se possa requerer a próxima licença.
É a autorização para que a atividade ou o empreendimento possa
começar a operar (produzir). Ela deve ser expedida após verificadas todas
LICENÇA DE
as condicionantes das licenças anteriores e deve prever medidas de
OPERAÇÃO
controle ambiental e condicionantes para a operação. Ela não é perpétua,
deve ser renovada periodicamente.
 LICENÇA PRÉVIA – até 5 anos.
PRAZOS DE
 LICENÇA DE INSTALAÇÃO – até 6 anos.
VALIDADE
 LICENÇA DE OPERAÇÃO – de 4 a 10 anos.

23
Deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias
da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença de
RENOVAÇÃO DA
operação.
LICENÇA
A licença fica automaticamente prorrogada até a manifestação definitiva
do órgão ambiental competente.
UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS
Promover o Promover o Observadas as
licenciamento licenciamento atribuições dos
ambiental de ambiental de demais entes
empreendimentos e atividades ou federativos, promover
atividades: empreendimentos o licenciamento
utilizadores de ambiental das
a) localizados ou recursos ambientais, atividades ou
desenvolvidos efetiva ou empreendimentos:
conjuntamente no potencialmente
Brasil e em país poluidores ou capazes, a) que causem ou
limítrofe; sob qualquer forma, possam causar
de causar degradação impacto ambiental de
b) localizados ou ambiental, ressalvada âmbito local, conforme
desenvolvidos no mar a competência da tipologia definida
COMPETÊNCIA
territorial, na União e dos pelos respectivos
plataforma continental municípios; Conselhos Estaduais
ou na zona econômica de Meio Ambiente,
exclusiva; Promover o considerados os
licenciamento critérios de porte,
c) localizados ou ambiental de potencial poluidor e
desenvolvidos em atividades ou natureza da atividade;
terras indígenas; empreendimentos ou
localizados ou
d) localizados ou desenvolvidos em b) localizados em
desenvolvidos em unidades de unidades de
unidades de conservação conservação
conservação instituídas pelo instituídas pelo
instituídas pela União, Estado, exceto em Município, exceto em
exceto em Áreas de

24
Proteção Ambiental Áreas de Proteção Áreas de Proteção
(APAs); Ambiental (APAs) Ambiental (APAs);

e) localizados ou
desenvolvidos em 2
(dois) ou mais
Estados;

f) de caráter militar,
excetuando-se do
licenciamento
ambiental, nos termos
de ato do Poder
Executivo, aqueles
previstos no preparo e
emprego das Forças
Armadas, conforme
disposto na Lei
Complementar no 97,
de 9 de junho de
1999;

g) destinados a
pesquisar, lavrar,
produzir, beneficiar,
transportar, armazenar
e dispor material
radioativo, em
qualquer estágio, ou
que utilizem energia
nuclear em qualquer
de suas formas e
aplicações, mediante
parecer da Comissão

25
Nacional de Energia
Nuclear (Cnen); ou

h) que atendam
tipologia estabelecida
por ato do Poder
Executivo, a partir de
proposição da
Comissão Tripartite
Nacional, assegurada
a participação de um
membro do Conselho
Nacional do Meio
Ambiente (Conama), e
considerados os
critérios de porte,
potencial poluidor e
natureza da atividade
ou empreendimento;

26
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) A sociedade empresária Asfalto Joia S/A, vencedora de

licitação realizada pela União, irá construir uma rodovia com quatro pistas de rolamento, ligando
cinco estados da Federação. Sobre o licenciamento ambiental e o estudo de impacto ambiental
dessa obra, assinale a afirmativa correta.

A) Em caso de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa


degradação do meio ambiente, é exigível a realização de Estudo prévio de Impacto Ambiental

(EIA), sem o qual não é possível se licenciar nesta hipótese.


B) O licenciamento ambiental dessa obra é facultativo, podendo ser realizado com outros

estudos ambientais diferentes do Estudo prévio de Impacto Ambiental (EIA), visto que ela se
realiza em mais de uma unidade da Federação.

C) O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), gerado no âmbito do Estudo prévio de Impacto


Ambiental (EIA), deve ser apresentado com rigor científico e linguagem técnica, a fim de permitir,
quando da sua divulgação, a informação adequada para o público externo.

D) Qualquer atividade ou obra, para ser instalada, dependerá da realização de Estudo prévio de
Impacto Ambiental (EIA), ainda que não seja potencialmente causadora de significativa

degradação ambiental.

Comentário:

artigo 225. 1º, IV da Constituição Federal de 1988 nos seguintes termos: Art. 225. 1º, IV -
exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se

dará publicidade.

27
Questão 2

(XXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) A sociedade empresária Xique-Xique S.A. pretende
instalar uma unidade industrial metalúrgica de grande porte em uma determinada cidade. Ela

possui outras unidades industriais do mesmo porte em outras localidades.


Sobre o licenciamento ambiental dessa iniciativa, assinale a afirmativa correta.

A) Como a sociedade empresária já possui outras unidades industriais do mesmo porte e da


mesma natureza, não será necessário outro licenciamento ambiental para a nova atividade

utilizadora de recursos ambientais, se efetiva ou potencialmente poluidora.


B) Para uma nova atividade industrial utilizadora de recursos ambientais, se efetiva ou

potencialmente poluidora, é necessária a obtenção da licença ambiental, por meio do


procedimento administrativo denominado licenciamento ambiental.
C) Se a sociedade empresária já possui outras unidades industriais do mesmo porte, poderá ser

exigido outro licenciamento ambiental para a nova atividade utilizadora de recursos ambientais,
se efetiva ou potencialmente poluidora, mas será dispensada a realização de qualquer estudo

ambiental, inclusive o de impacto ambiental, no processo de licenciamento.


D) A sociedade empresária só necessitará do alvará da prefeitura municipal autorizando seu

funcionamento, sendo incabível a exigência de licenciamento ambiental para atividades de


metalurgia.

Comentário:

Resolução CONAMA 1/86:

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório


de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual
competente, e do IBAMA e em caráter supletivo, o licenciamento de atividades

modificadoras do meio ambiente, tais como:

28
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos,

cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);

Questão 3

(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV- 2019) Pedro, proprietário de fazenda com grande diversidade

florestal, decide preservar os recursos ambientais nela existentes, limitando, de forma perpétua,
o uso de parcela de sua propriedade por parte de outros possuidores a qualquer título, o que

realiza por meio de instrumento particular, averbado na matrícula do imóvel no registro de


imóveis competente.

Assinale a opção que indica o instrumento jurídico a que se refere o caso descrito.

A) Zoneamento Ambiental.
B) Servidão Ambiental.
C) Área Ambiental Restrita.

D) Área de Relevante Interesse Ecológico.

Comentário:

A servidão ambiental é instituída de forma voluntária pelo dono da propriedade


Pode ser onerosa ou gratuita, perpétua ou temporária (no mínimo 15 anos).

Não se aplica a área de preservação permanente e as reservas legais mínimas.

Questão 4

(XXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) O Governo Federal, tendo em vista a grande dificuldade

em conter o desmatamento irregular em florestas públicas, iniciou procedimento de concessão


florestal para que particulares possam explorar produtos e serviços florestais.

Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.


29
A) Essa concessão é antijurídica, uma vez que o dever de tutela do meio ambiente
ecologicamente equilibrado é intransferível a inalienável.

B) Essa concessão, que tem como objeto o manejo florestal sustentável, deve ser precedida de
licitação na modalidade de concorrência.

C) Essa concessão somente é possível para fins de exploração de recursos minerais pelo
concessionário.
D) Essa concessão somente incide sobre florestas públicas estaduais e, por isso, a competência

para sua delegação é exclusiva dos Estados, o que torna ilegal sua implementação pelo IBAMA.

Comentário:

LEI Nº 11.284, DE 2 DE MARÇO DE 2006 - fundamento art. 3º, VII c/c art. 13
Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a gestão de florestas públicas para produção sustentável, institui o

Serviço Florestal Brasileiro - SFB, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, e cria o Fundo
Nacional de Desenvolvimento Florestal - FNDF.

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


VII - concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de
praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de
manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências

do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta
e risco e por prazo determinado;
Art. 13. As licitações para concessão florestal observarão os termos desta Lei e, supletivamente,

da legislação própria, respeitados os princípios da legalidade, moralidade, publicidade,


igualdade, do julgamento por critérios objetivos e da vinculação ao instrumento convocatório.

§ 1º As licitações para concessão florestal serão realizadas na modalidade concorrência e


outorgadas a título oneroso.

30
Questão 5

(CESPE - 2018 - PGM - Manaus - AM - Procurador do Município) Considerando as normas


aplicáveis ao SISNAMA e as Resoluções CONAMA n.º 237/1997 e n.º 378/2006, julgue o item

seguinte.
Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento, a licença de instalação

atesta a viabilidade ambiental e estabelece os requisitos básicos e condicionantes a serem


atendidos nas próximas fases de implementação do projeto.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

A assertiva em questão conceitua a Licença Prévia. A Licença de Instalação autoriza a


instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes

dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental


e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante.

Questão 6

(VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto) Quanto ao licenciamento ambiental,

assinale a alternativa correta.


A) O prazo de validade da Licença Prévia (LP) não pode ser superior a 3 (três) anos.

B) A renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendimento deverá ser


requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de
validade, fixado na respectiva licença.

C) Considera-se Impacto Ambiental Regional todo e qualquer impacto ambiental que afete
diretamente (a área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois
ou mais Municípios.

31
D) O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a apresentação de novo

requerimento de licença, ficando isento de novo pagamento de custo de análise.


E) O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser o estabelecido pelo cronograma

de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.

Comentário:

Apesar de tratarem do licenciamento ambiental, as alternativas dispõem de tópicos

distintos, por isso vamos tratá-las individualmente. Quanto à alternativa “A”, o prazo de
validade da Licença Prévia já foi repetidamente exposto nesse curso: será de no máximo 5

anos, portanto, pode ser superior a 3 anos. Não custa nada lembrar, e já esclarecendo a
alternativa “E”, que o prazo máximo da Licença de Instalação será de 6 anos e o prazo de

validade da Licença de Operação será de no mínimo 4 anos e no máximo 10 anos.

Falando de Licença de Operação, devemos destacar que ela não é perpétua, deve ser
renovada periodicamente. O empreendedor deve requerer essa renovação com

antecedência mínima de 120 dias antes da respectiva expiração. Caso a Administração


Pública demore para analisar o pedido e passe do prazo de validade, a licença estará
renovada automaticamente até a apreciação do Poder Público.

Quanto à alternativa “C”, devemos corrigir o seu enunciado afirmando que considera-se
Impacto Ambiental Regional todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (a
área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais

estados, e não municípios.

A alternativa “D” trata do arquivamento do processo de licenciamento, que ocorre quando


o empreendedor não cumprir algum prazo estabelecido pela Administração. Arquivado o

processo, o interessado poderá requerer nova licença, entretanto, ao contrário do que o


examinador afirma, deverá arcar novamente com os custos de análise.

32
Questão 7

(FCC - 2018 - PGE-TO - Procurador do Estado) De acordo com o disposto na Lei Complementar
no 140/2011, a atividade de licenciamento é realizada pelos entes federados

A) observando-se a competência primária dos Municípios, pelo critério do interesse local,


delegando-se aos Estados as atividades que aqueles entes não consideram de sua competência

e, em caráter excepcional, à União somente os casos em que o empreendimento exceder o


território nacional.

B) de forma concorrente, fixando-se a competência de acordo com o requerimento formulado


pelo empreendedor, independentemente da natureza ou finalidade de seu projeto.

C) observada a hierarquia entre os entes federados, de modo que o Município é competente


para licenciar as atividades que a União e Estados, nessa ordem, permitirem.
D) com base na definição das atividades expressamente atribuídas a cada ente federado em

decreto federal.
E) considerando-se, entre outros aspectos, a inserção em unidades de conservação instituídas

por União, Estados e Municípios e a natureza da atividade, conforme definição dos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente.

Comentário:

Como visto no presente capítulo, existem vários critérios para estabelecer a competência
de um ente para o licenciamento ambiental de uma atividade ou empreendimento. De

acordo com o disposto na Lei Complementar no 140/2011, um desses critérios é a


instituição da Unidade de Conservação, exceto APA. Portanto, em regra, o ente que institui

a UC é o responsável pelo licenciamento ambiental de atividade ou empreendimento nela


localizado ou desenvolvido.

A LC 140/11 também estabelece como critério de definição de competência para o

licenciamento ambiental a natureza da atividade. São critérios objetivos de porte, potencial


poluidor e natureza da atividade ou do empreendimento usados para tipificar, por meio
de ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional,

33
assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente

(Conama), as atividades e empreendimentos que devem ser licenciados pela União.

Questão 8

(CESPE - 2017 - PGE-SE - Procurador do Estado) Caio deseja iniciar uma criação de pacas
(Cuniculus paca), com um plantel de quatro animais, para o fornecimento de carnes a um

mercado consumidor desejoso de novidades. Para tanto, Caio apresentou ao órgão ambiental
competente um pedido de licenciamento ambiental.

Nesse caso, Caio poderá iniciar a atividade


A) automaticamente após apresentar aos órgãos responsáveis o estudo de impacto ambiental e

o relatório de impacto ambiental.


B) imediatamente após a concessão do licenciamento ambiental por ele requerido.
C) imediatamente após protocolar o pedido de licenciamento ambiental no órgão competente.

D) automaticamente, após o prazo de cento e vinte dias, caso o órgão ambiental se mantenha
omisso na apreciação do pedido apresentado por ele.

E) imediatamente após protocolar novo pedido, a outro órgão ambiental, caso ocorra demora
na análise do pedido apresentado originalmente.

Comentário:

Quando um empreendedor pretende exercer uma atividade que utilize recursos naturais,

efetiva ou potencialmente causadora de danos ambientais, ele deve requerer a licença


ambiental perante o órgão competente da Administração Pública. Apenas depois de
concluído todo o processo de licenciamento, com a concessão da Licença de Operação, é

que a atividade poderá ser exercida.

34
Diante da alternativa “D”, vale a pena reforçar que não existe licenciamento ambiental

tácito. Se o órgão competente não cumpriu com o prazo estipulado para a análise da
licença ambiental, o processo deve ser remetido a um órgão com competência supletiva.

Questão 9

(VUNESP - 2017 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Procurador) Acerca do

licenciamento ambiental, afirma-se corretamente que


A) o seu pedido, sua renovação e sua respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do

Estado.
B) compete à SEMA propor ao CONAMA normas e padrões para implementação,

acompanhamento e para sua fiscalização.


C) caberá a sua concessão exclusivamente ao Poder Executivo Federal, ouvidos os governos
estadual e municipal interessados no licenciamento ambiental.

D) a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades


utilizadoras de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, ou capazes, sob

qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento


ambiental.

E) as entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a


aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento e ao cumprimento das

normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo SEMA.

Comentário:

Os pedidos de licenciamento, de renovação e a sua respectiva concessão, de fato, devem

ser publicados no jornal oficial, bem como no periódico regional ou local de grande
circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental
competente. A alternativa “A” está, portanto, incompleta.

35
Quanto à alternativa “B”, cabe ao IBAMA, e não à SEMA propor ao CONAMA normas e

padrões para implementação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento ambiental.

Ainda, a concessão da licença ambiental é competência constitucionalmente comum à


todos os entes federados, não se podendo falar em concessão exclusivamente pelo Poder

Executivo federal, como disposto na alternativa “C”.

Conforme o art. 10 da PNMA, a construção, instalação, ampliação e funcionamento de


estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou

potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação


ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. Portanto, a alternativa “D”

contém a literalidade da lei.

Por fim, segundo o art. 12 da PNMA, as entidades e órgãos de financiamento e incentivos


governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao

licenciamento e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo
CONAMA, e não pelo SEMA como afirma a alternativa “E”.

Questão 10

(VUNESP - 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) O licenciamento ambiental legalmente deferido ao

empreendedor
A) o desonera da responsabilidade administrativa.

B) o desonera de responsabilidade por eventuais danos ambientais, ante a licitude da sua


atividade.
C) não desonera, mas mitiga a sua responsabilidade civil pelos danos ambientais, uma vez que

sua atividade foi autorizada pela administração pública.


D) o desonera da responsabilidade civil, uma vez que sua atividade foi expressamente autorizada

pela Administração Pública, sendo, portanto, lícita.

36
Comentário:

Revisando a responsabilidade ambiental: o direito ambiental adota a teoria do risco integral

para a responsabilização civil do empreendedor. Portanto, mesmo que a sua atividade ou


o seu empreendimento esteja funcionando de forma licenciada e legal, caso gere dano

ambiental, o responsável será civilmente responsabilizado, independentemente de dolo ou


culpa.

Portanto, a licença ambiental não desonera e nem mitiga a responsabilidade civil do

empreendedor, que deve assumir todos os riscos de sua atividade.

37
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 -B

Questão 3 - B

Questão 4 - B

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - B

Questão 7 - E

Questão 8 - B

Questão 9 - D

Questão 10 - A

38
QUESTÃO DESAFIO

O licenciamento ambiental de empreendimento poderá ser


realizado por mais de um ente federativo ou pela União, pois a
competência é comum entre os entes na proteção do meio
ambiente?

Máximo de 5 linhas

39
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Não, a resolução 237/97 do CONAMA define o que compete ao órgão executor do


SISNAMA licenciar, o que cabe ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal licenciar
e ao que cabe ao órgão ambiental municipal licenciar.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Órgão ambiental federal

Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

- IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10


da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo

impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber: I - localizadas ou desenvolvidas


conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na
zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da

União. II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; III - cujos impactos ambientais
diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV - destinados a

pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em


qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,

mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V- bases ou


empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica. § 1º - O IBAMA

fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos
órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento,
bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento. § 2º - O


IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o licenciamento de

atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando


possível, as exigências.

 Órgão ambiental estadual

Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental


dos empreendimentos e atividades: I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município

40
ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; II - localizados ou

desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente


relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim

forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais; III - cujos impactos ambientais
diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios; IV – delegados pela União

aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio. Parágrafo único. O órgão
ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo após
considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se

localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, oparecer dos demais
órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no

procedimento de licenciamento.

 Órgão ambiental municipal

Art. 6o Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos

Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos


e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio.

41
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Licença Ambiental:

 CF/88: art. 24 e 225;


 Lei Complementar 140 de 2011;
 Resolução 237/97 do CONAMA;
 PNMA: art. 9º, 10, 11 e 12.

42
JURISPRUDÊNCIA

Licença Ambiental

 STJ. REsp 1479316/SE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 01/09/2015

(...) PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. ÁREA PRIVADA. MATA ATLÂNTICA. DESMATAMENTO.
IBAMA. PODER FISCALIZATÓRIO. POSSIBILIDADE. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. EXISTÊNCIA. PRECEDENTES. 1. Não há falar em competência exclusiva de um
ente da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido
pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo, bem
como da competência para o licenciamento. 2. A dominialidade da área em que o dano ou o risco de dano se
manifesta é apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do Parquet Federal. 3. A atividade
fiscalizatória das atividades nocivas ao meio ambiente concede ao IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer
seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja competência para o
licenciamento seja do município ou do estado, o que, juntamente com a legitimidade ad causam do Ministério
Público Federal, define a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do feito.

 STF - ADI: 3252 RO, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 06/04/2005, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008

Medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei nº 1.315/2004, do Estado de Rondônia, que exige
autorização prévia da Assembleia Legislativa para o licenciamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais
consideradas efetivas e potencialmente poluidoras, bem como capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental. 3. Condicionar a aprovação de licenciamento ambiental à prévia autorização da Assembleia Legislativa
implica indevida interferência do Poder Legislativo na atuação do Poder Executivo, não autorizada pelo art. 2º da
Constituição. Precedente: ADI nº 1.505. 4. Compete à União legislar sobre normas gerais em matéria de
licenciamento ambiental (art. 24, VI, da Constituição. 5. Medida cautelar deferida.

43
ESTUDO COMPLEMENTAR

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44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

45
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 5
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 4

6. Código Florestal ................................................................................................................................ 4

6.1 Introdução .................................................................................................................................................................................. 4

6.1.1 Contexto histórico................................................................................................................................................................... 5

6.2 O Código Florestal Brasileiro ............................................................................................................................................. 7

6.2.1 Princípios do Código Florestal .......................................................................................................................................... 8

6.2.2 Conceitos importantes .......................................................................................................................................................... 9

6.3 Área de Preservação Permanente – APP ..................................................................................................................12

6.3.1 Instituição da APP .................................................................................................................................................................12

6.3.2 Alteração e supressão da APP ........................................................................................................................................21

6.3.3 APP e desapropriação .........................................................................................................................................................22

6.4 Área de Reserva Legal – RL ..............................................................................................................................................23

6.4.1 Manejo sustentável...............................................................................................................................................................26

6.4.2 Cadastro Ambiental Rural - CAR....................................................................................................................................28

6.4.3 Reserva Legal condominial ...............................................................................................................................................29

6.5 Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal ..............................................................................30

6.6 Áreas de Uso Restrito .........................................................................................................................................................31

6.7 Áreas Verdes Urbanas .........................................................................................................................................................31

6.8 Uso ecologicamente sustentável dos apicuns e salgados .................................................................................32

6.9 Supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo ..........................................................................33

6.10 Exploração florestal ..............................................................................................................................................................34

6.10.1 Plano de Suprimento Sustentável – PSS ....................................................................................................................37

6.10.2 Controle da origem dos produtos florestais ............................................................................................................38

6.11 Uso de fogo e o controle de incêndios .....................................................................................................................39

6.12 Programa de Apoio e Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente ..............................41

6.13 Cota de Reserva Ambiental – CRA................................................................................................................................43

6.14 O controle do desmatamento .........................................................................................................................................46

6.15 A agricultura familiar ...........................................................................................................................................................46


1
6.16 Regularização ambiental ....................................................................................................................................................48

6.16.1 Áreas de Preservação Permanente - APPs ................................................................................................................50

6.16.2 Áreas de Reserva Legal – RL ..........................................................................................................................................54

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 58

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 66

GABARITO ............................................................................................................................................... 77

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 81

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................................................ 82

ESTUDO COMPLEMENTAR................................................................................................................... 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 87

2
E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 05 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre o Código Florestal.

Agora, vamos as nossas considerações:

Este assunto apareceu apenas 3 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de
média recorrência no Exame de Ordem. Assim, podemos constatar que este assunto é muito

importante para o seu estudo! Adicionamos também questões de outros concursos que versam
sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado

do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

3
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 5

6. Código Florestal

6.1 Introdução

O Código Florestal foi instituído pela Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Trata-se de uma
norma geral editada pela União no âmbito da sua competência legislativa concorrente prevista

no art. 24, §1º da CF/88.

O objetivo do Código Florestal é a proteção e o uso sustentável das florestas e demais


formas de vegetação nativa. Para tanto, conceitua elementos importantes, estabelece princípios

e procedimentos que devem ser observados pelos demais entes federados no exercício das suas
respectivas competências.

A necessidade do homem por desenvolvimento econômico ameaça diretamente as

florestas que, paradoxalmente, são essenciais para a nossa sobrevivência. Elas possuem funções
altamente relevantes, como a manutenção da diversidade genética, a regeneração do solo, a
manutenção do ciclo da água, da umidade do ar, o amortecimento da variação climática, entre

outras coisas.

Entretanto, é alarmante a devastação dos ecossistemas naturais que presenciamos hoje,


principalmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, a maior parte do

desmatamento das florestas tem o intuito de servir ao agronegócio.

Visto isso, durante décadas a sociedade busca compatibilizar o uso dos recursos naturais
das florestas com a sua preservação. O objetivo não é manter o ecossistema florestal intocado,

mas achar um equilíbrio entre a ação humana e a proteção da natureza.

4
6.1.1 Contexto histórico

No período colonial do Brasil não houve qualquer preocupação com a proteção das

florestas ou da natureza em geral. Como é de conhecimento geral, tivemos uma política de


colonização extrativista, cuja principal atividade econômica era a extração da madeira.

Para as Constituições de 1824 e de 1891, influenciadas pelo liberalismo econômico, essa

concepção colonial sobre a natureza não mudou. O meio ambiente era apenas um recurso
inesgotável a serviço da humanidade.

Com o fracasso do liberalismo econômico, e sob a influência da constituição alemã, a

Constituição brasileira de 1934 passou a prever a intervenção do Estado no domínio econômico


e, em decorrência disso, surge a ideia de função social da propriedade, subordinando o direito

de propriedade ao interesse social. Também foi assim nas constituições brasileiras seguintes,
que continuaram a prever o princípio da função social da propriedade, o que foi fundamental

para as futuras normas de proteção ambiental.

No âmbito internacional, o meio ambiente passou a fazer parte de discussões, embora


ainda o tratassem como um recurso econômico.

Em 1965 surgiu o Código Florestal Brasileiro através da Lei 4.771/65. Foi um marco para a

proteção ambiental no nosso país, pois a norma era avançada e instituía, por exemplo, a
possibilidade de existir áreas de preservação ambiental, como as Áreas de Preservação

Permanente – APP e as Áreas de Reserva Legal – RL.

Em 1972, a Declaração de Estocolmo afirmou que “o homem tem a responsabilidade


especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio representado pela flora e pela

fauna silvestres, bem assim o seu habitat, que se encontram atualmente em grave perigo por
combinação de fatores adversos. Em consequência, ao planejar o desenvolvimento econômico,
deve ser dada a devida importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna

silvestres”. Ainda bem atual, não é mesmo?

Com o advento da Constituição Federal de 1988, passou a ser um dever do Poder Público
proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em risco as suas funções

ecológicas, provoquem a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade.


5
Segundo o art. 23 do texto constitucional, é competência material comum dos entes

federados, entre outras matérias ambientais, preservar as florestas, a fauna e a flora. Esse
comando constitucional deve ser exercido pelos entes em cooperação. E, segundo o art. 24 da

CF/88, a competência legislativa em relação às florestas será concorrente entre a União, os


estados e o Distrito Federal.

A CF/88 ainda estabeleceu um tratamento especial para a Floresta Amazônica brasileira,

para a Mata Atlântica, para a Serra do Mar, para o Pantanal Mato-Grossense e para a Zona
Costeira. Esses ecossistemas são considerados patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,

na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.

Posteriormente, a Agenda 21, elaborada na Conferência ECO 92, dispõe que as florestas

são essenciais para o desenvolvimento econômico e para a manutenção de todas as formas de


vida. E na Conferência Rio+20, foram destacados os benefícios sociais, econômicos e ambientais
que as florestas podem nos proporcionar, ressaltando o apoio às políticas intersetoriais e

interinstitucionais que promovam o manejo sustentável.

Como já mencionado, em 2012 foi publicado o novo Código Florestal, muito polêmico por
beneficiar vários indivíduos que foram degradadores do meio ambiente até 22 de julho de 2008,

e que será estudado no presente capítulo.

6
6.2 O Código Florestal Brasileiro

Para estudar o nosso Código Florestal você precisa ter em mente que, apesar do nome,
ele não se refere apenas às florestas. A lei estabelece normas gerais sobre a proteção da

vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal,


o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o

controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros


para o alcance de seus objetivos.

O Código Florestal Brasileiro visa a proteção das florestas e de todas as formas de

vegetação nativa.

O objetivo do Código Florestal não é a preservação do meio ambiental de forma que ele
fique intocado pelo homem, mas sim o desenvolvimento sustentável da humanidade,

explorando os recursos naturais com equilíbrio. É uma norma que reafirma o compromisso do
Brasil de preservar as florestas e a vegetação nativa ao mesmo tempo que enaltece a
importância da atividade agropecuária para o nosso país.

Também podemos observar que o Código Florestal está em consonância com o art. 225
da CF/88, pois trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito difuso,

considerando as florestas como bens de interesse comum de todos os habitantes do país;


reconhece a sua importância para vida humana e pressupõe a responsabilidade de todos os

entes pela fiscalização ambiental.

Para ressaltar a importância das florestas, elas podem induzir limitações ao direito de
propriedade. Nesse ponto, devemos ter em mente que as obrigações previstas no Código
7
Florestal são de natureza real (propter rem), transmitidas ao atual proprietário ou possuidor do

bem imóvel, independentemente de ele ter ou não dado causa ao dano.

Por fim, a norma em análise utiliza instrumentos econômicos para fomentar a preservação
do meio ambiente. Ou seja, existindo o protetor ambiental, ele deve receber vantagens

econômicas por todos os seus serviços prestados ao meio ambiente.

6.2.1 Princípios do Código Florestal

O art. 1º-A do Código Florestal define como objetivo da lei o desenvolvimento


sustentável e elenca os seguintes princípios:

 I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas


florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do
solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar
das gerações presentes e futuras;
 II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e
do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no
crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira
e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e
bioenergia;
 III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o
compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo
da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação;
 IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em
colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e
restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas
urbanas e rurais;
 V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso
sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas e demais
formas de vegetação nativa;
 VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e
a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de
atividades produtivas sustentáveis.

8
Esses princípios norteadores visam compatibilizar o desenvolvimento econômico com a

proteção do meio ambiente.

Ainda podemos citar o princípio constitucional da função social da propriedade, que no


âmbito ambiental chamamos de princípio da função socioambiental da propriedade, disposto

no caput do art. 2º do Código Florestal nos seguintes termos:

Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação


nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a
todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações
que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

Por esse princípio, o direito de propriedade não é absoluto, pois sofre limitações legais,

como as estabelecidas no Código Florestal. As Áreas de Preservação Permanente – APP e as


Áreas de Reserva Legal – RL são exemplos de limitações impostas por essa lei. Elas se justificam
porque o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito difuso e inerente à vida, ou

seja, nitidamente de interesse público.

6.2.2 Conceitos importantes

Assim como a PNMA, o Código Florestal elenca alguns conceitos importantes para o estudo
da matéria. Destacamos alguns deles:

Acre
Pará
Amazonas
Roraima
AMAZÔNIA
Rondônia
LEGAL
Amapá
Mato Grosso
Norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás
Oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão
Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ÁREA DE
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
PRESERVAÇÃO
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
PERMANENTE
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

9
Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a
função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
RESERVA LEGAL naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de
ÁREA RURAL julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
CONSOLIDADA agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de
pousio.
PEQUENA É aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar
PROPRIEDADE e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos
OU POSSE RURAL de reforma agrária.
FAMILIAR
Substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras
USO
coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de
ALTERNATIVO
geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte,
DO SOLO
assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.
Administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios
econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de
MANEJO sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,
SUSTENTÁVEL cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies
madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem
como a utilização de outros bens e serviços.
Fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente
VEREDA com a palmeira arbórea Mauritia flexuosa - buriti emergente, sem formar
dossel, em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas.
Ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das
marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se
associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como
MANGUEZAL
mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões
estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira,
entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina.
SALGADO OU Áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias
MARISMAS entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia

10
TROPICAIS entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde
HIPERSALINOS pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica.
Áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores,
inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade
APICUM
superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de
vegetação vascular.
Depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente
alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram
diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cobertura
RESTINGA
vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato
herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado.
Afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá
NASCENTE
início a um curso d’água.
OLHO D’ÁGUA Afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente.
A calha por onde correm regularmente as águas do curso d’água durante
LEITO REGULAR
o ano.
VÁRZEA DE Áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações
INUNDAÇÃO OU periódicas.
PLANÍCIE DE
INUNDAÇÃO
Prática de interrupção temporária de atividades ou usos agrícolas,
POUSIO pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 (cinco) anos, para possibilitar
a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo.
Pantanais e superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas,
ÁREAS ÚMIDAS cobertas originalmente por florestas ou outras formas de vegetação
adaptadas à inundação.
CRÉDITO DE Título de direito sobre bem intangível e incorpóreo transacionável.
CARBONO

11
6.3 Área de Preservação Permanente – APP 1

Como visto, a Área de Preservação Permanente é legalmente conceituada como “área


protegida, coberta ou não por vegetação nativa2, com a função ambiental de preservar os

recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico


de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (art. 3º, II,

do Código Florestal).

Trata-se de um espaço territorial especialmente protegido com base no art. 225, §1º, III
da CF/88: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o


dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Para assegurar a

efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

6.3.1 Instituição da APP

De acordo com o disposto nos arts. 4º e 6º do Código Florestal, as APPs podem ser criadas
em razão da localização ou da finalidade. São onze espécies de áreas que a legislação

considera como APP em razão da localização:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para


os efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos


os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)


metros de largura;

1
Vide questão 02
2
Vide questão 8 desse material.
12
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;

A primeira espécie de APP corresponde às matas ciliares, que são as faixas de terra
marginais dos cursos d’água. Note que a legislação estabeleceu um caráter progressivo para o
tamanho das APPs dependendo da largura do curso d’água que ela está relacionada, começando
por 30m, quando o curso d’água correspondente tiver menos de 10m de largura, e podendo
chegar a até 500m quando o curso d’água correspondente tiver largura superior a 600 metros,
como acontece em alguns trechos do Rio Amazonas e do Rio São Francisco.

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

Observe que só haverá APP nos casos de lagos e lagoas naturais e que o critério usado
para o seu tamanho é a localidade do lago ou lagoa correspondente, se em zona urbana ou
em zona rural. No caso das zonas rurais, a lei ainda usa como critério para definir o tamanho
da APP o tamanho da superfície do lago ou lagoa correspondente.

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento


ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do
empreendimento;

Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios artificiais


de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais (§1º) –
não há APP nos casos de barramento de cursos d’água artificiais. Ademais, note que o
dispositivo não define o tamanho da APP, que será definida caso a caso pelo órgão da
Administração competente para o licenciamento ambiental.

Somente em algumas situações o Código Florestal estabelece uma predefinição de


requisitos para o tamanho da APP nas margens dos barramentos. No caso de implantação de
reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, a APP
criada em seu entorno será estabelecida por meio da respectiva licença ambiental, que deverá

13
observar a faixa mínima de 30m e máxima de 100m em área rural e a faixa mínima de 15m e
máxima de 30m em área urbana.

Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare,
fica dispensada a instituição de APP na reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III
supracitados, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão
ambiental competente do SISNAMA (§4º).

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja
sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros 3;

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4.903, deu interpretação conforme a


Constituição ao dispositivo inserido no art. 4º, IV do Código Florestal acima transcrito. Para a
Suprema Corte, devem ser consideradas APPs as áreas no entorno das nascentes e dos olhos
d’água perenes ou intermitentes, atribuído ao meio ambiente uma proteção integral.

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a 100%


(cem por cento) na linha de maior declive;

Sempre que há fortes chuvas vemos nos noticiários casos de deslizamentos de encostas,
que muitas vezes destroem casas e fazem vítimas. A definição de APP nos declives com
inclinação superior a 45º visa evitar esse tipo de fenômeno com a preservação da totalidade de
sua vegetação. Não há um tamanho específico para a APP estabelecida em razão das encostas,
100% da sua vegetação deve ser preservada.

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues

VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

Da mesma forma, não há um tamanho específico para as APPs instituídas em razão da


restinga e dos manguezais. Toda a área de vegetação considerada fixadora de dunas ou
estabilizadora de mangues deve ser protegida por meio de APP.

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)
metros e inclinação média maior que 25º, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à
base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho

3
Vide questões 7 e 10 desse material.
14
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da
elevação;

Esclarecendo o inciso IX, não é qualquer morro (montes, montanhas e serras) que terá APP.
Deve existir APP apenas nos topos dos morros (montes, montanhas e serras), correspondente
ao seu 1/3 superior, e não em toda a sua área; quando eles possuírem altura mínima de 100m,
ou seja, um morro com menos de 100m de altura não terá APP (pelo inciso IX); e uma inclinação
média superior a 25º (lembre-se que as encostas possuem inclinação de 45º).

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja
a vegetação;

As áreas altas, que possuem altitude de 1.800m ou mais acima do nível do mar,
independentemente de qual seja a sua vegetação, deve ser protegida por APP. Nesses casos,
por ausência de previsão legal, o local protegido corresponderá à totalidade da área alta, sem
tamanho mínimo ou máximo especificado na legislação.

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50


(cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

(...)

§ 5º É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o


inciso V do art. 3º desta Lei, o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante
de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de vazante dos rios ou lagos,
desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa, seja
conservada a qualidade da água e do solo e seja protegida a fauna silvestre.

§ 6º Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas de
que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da aquicultura e a
infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:

I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de recursos hídricos,


garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo com norma dos Conselhos Estaduais
de Meio Ambiente;

II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gestão de recursos


hídricos;

III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;

IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR.

V - não implique novas supressões de vegetação nativa.

15
Como esclarecimento, vale destacar que a aquicultura e a produção de organismos

aquáticos, como crustáceos, peixes e anfíbios.

Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de


interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas
ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e


de rocha;

II - proteger as restingas ou veredas;

III - proteger várzeas;

IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;

V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;

VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

VII - assegurar condições de bem-estar público;

VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

Observe que nas hipóteses elencadas no art. 6º do Código Florestal, que se preocupa com
a função da área de preservação ambiental, as APPs podem ser instituídas mediante decreto

do Poder Executivo – federal, estadual, distrital ou municipal. Entretanto, nas hipóteses do art.
4º, em que as APPs são instituídas em razão da sua localização, devem ser criadas mediante lei.

16
APP APP

Em razão da Em razão da
LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO

CRIADA POR CRIADA POR


LEI DECRETO

Como você pode notar, a APP é uma limitação à propriedade. Em caso de APP que esteja

localizada em propriedade privada, não haverá desapropriação do bem, mas apenas uma
restrição para a sua utilização.

Nos casos de APPs instituídas por força de lei (hipóteses do art. 4º do Código Florestal),

que são aquelas áreas protegidas em razão da sua localização, não é cabível indenização ao
proprietário do local, mesmo que prejuízos econômicos sejam alegados. Esse tipo de limitação

da propriedade deve ser genérica, gratuita e unilateral, pois as características que a torna APP
são anteriores ao início da propriedade do imóvel.

Já no caso de APP instituída por meio de Decreto do Poder Executivo (hipóteses do art.

6º do Código Florestal) em razão da destinação de interesse social do local, será cabível


indenização ao proprietário ou ao possuidor do imóvel. Entretanto, essa indenização só será
devida se ficar comprovada a inviabilidade de utilização do bem em decorrência das limitações

trazidas pela instituição da APP.

A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo


proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito

público ou privado. Destaca-se novamente que a área qualificada como APP merece assim ser
tratada e protegida possuindo ou não vegetação. Portanto, caso não exista vegetação em local

17
com status de APP, ela deve ser recomposta sob pena de responsabilização penal, civil e

administrativa.

As Áreas de Preservação Permanente são locais especialmente destinados à proteção


ambiental onde, em regra geral, o ecossistema é intocável, vedado o seu uso econômico direto.

Independentemente se estar localizada em bem público ou privado, de pessoa física ou jurídica,


a observância da sua preservação faz parte da função socioambiental da propriedade.

Entretanto, temos algumas situações excepcionais em que as APPs podem sofrer

intervenções: situações de utilidade pública; de interesse social; ou em caso de atividade de


baixo impacto ambiental, todas elas previstas em lei.

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;


b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços
públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos
parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento,
energia, telecomunicações, radiodifusão, bem como mineração, exceto,
neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
UTILIDADE d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na
PÚBLICA proteção das funções ambientais de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica
e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe
do Poder Executivo federal.
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da
INTERESSE erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies
SOCIAL nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena
propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades

18
tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente
e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas no Código Florestal;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de
7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água
e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes
integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica
e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal.
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e
pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso
de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos
oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água
e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso
ATIVIDADES DE da água, quando couber;
BAIXO IMPACTO c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
AMBIENTAL4 d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno
ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais
em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço
próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;

4
Vide questão 5 desse material.
19
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros
requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e
produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a
legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas
e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da
vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e
familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros,
desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem
prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e
de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente.

Quanto à intervenção nas APPs, o art. 9º do Código Florestal permite o acesso de pessoas
e animais para a obtenção de água e realização de atividades de baixo impacto ambiental.

Vale destacar que a supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e


restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública; e que a intervenção ou

a supressão de vegetação nativa em APP, instituída em razão das restingas estabilizadoras de


mangues e em razão dos manguezais, poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde
a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais

e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas


urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda.

20
Por fim, é dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução,

em caráter de urgência, de atividade de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil


destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

6.3.2 Alteração e supressão da APP

Como vimos, a depender do fundamento legal para a criação de uma APP, ela deverá ser

feita mediante lei ou mediante decreto do Poder Executivo. Entretanto, para a sua alteração ou
supressão, se faz necessária uma lei formal.

Se o objeto da alteração for uma ampliação da APP, sem modificar a área original, ela
também poderá ser feita por meio de decreto do Poder Executivo nos casos do art. 6º do

Código Florestal – casos de instituição de APP em razão da destinação do local.

O legislador escolheu uma forma simples (ato administrativo) para proteger o meio
ambiente. Entretanto, optou por não seguir a simetria das formas nesses casos para dificultar

e ampliar o debate sobre as supressões da proteção. É o que podemos extrair do art. 225, §1º,
III da CF/88.

Diferentemente da supressão da APP, temos a supressão da vegetação em APP. Em regra,


a vegetação situada em Área de Preservação Permanente deve ser mantida pelo proprietário do
imóvel, seu possuidor ou ocupante a qualquer título (pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado).
21
Ocorrendo supressão da vegetação de uma APP, o seu proprietário, possuidor ou ocupante

a qualquer título é responsável por promover a sua recomposição. Essa obrigação tem natureza
real e, por isso, transfere-se ao sucessor do domínio ou posse do imóvel (obrigação propter

rem).

Entretanto, o Código Florestal, em seu art. 8º, estabelece que a intervenção ou a supressão
de vegetação nativa em APP pode ser autorizada pelo órgão ambiental competente nas

hipóteses de utilidade pública, interesse social ou de atividades de baixo impacto ambiental.

Quanto à supressão de vegetação nativa em APP, quando for protetora de nascentes,


dunas e restingas, somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

Por fim, é dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em

caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil


destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

6.3.3 APP e desapropriação

Como foi visto, a APP é uma limitação ao exercício da propriedade, afetando o seu caráter

absoluto. Entretanto, uma restrição como essa não retira do proprietário o domínio do imóvel.

Portanto, diante de uma desapropriação por utilidade pública de bem imóvel que tem em
sua extensão APP, essa área deve ser computada para o valor da respectiva indenização.

Segundo o STJ, mesmo que devida a indenização em relação imóvel com a limitação por
APP, não cabem quanto a essas áreas juros compensatórios. O Tribunal entende que se o
imóvel está impedido de ter exploração econômica por causa da APP, não há que se falar em

compensação ao seu proprietário. Admitir o contrário seria permitir o enriquecimento ilícito pelo
desapropriado.

22
Também segundo o STJ, nos casos das matas ciliares de rios navegáveis, os terrenos

reservados nas margens das correntes públicas são bens públicos dominiais e,
consequentemente, as APPs ali presentes também. Isso quer dizer que esses terrenos marginais

não compõem o valor da indenização nos casos de desapropriação.

Nesse contexto, o STF editou a Súmula 479 nos seguintes termos: “as margens dos rios
navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas

de indenização”.

6.4 Área de Reserva Legal – RL

A Área de Reserva Legal – RL, assim como a Área de Preservação Permanente – APP, é

uma limitação ao direito de propriedade fundamentada na sua função socioambiental.

De acordo com o conceito legal do art. 3º do Código Florestal, a Reserva Legal é a área
localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso

econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel, auxiliar a conservação e a


reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como

o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

23
Assegurar o uso
econômico de modo
sustentável dos
recursos naturais.

Auxiliar a
Abrigar e proteger a PARA QUE SERVE conservação e a
fauna silvestre e a
A RESERVA LEGAL? reabilitação dos
flora nativa
processos ecológicos

Promover a
conservação da
biodiversidade

Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de

Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente.
A área de RL específica de cada imóvel deve corresponder a um percentual mínimo estabelecido

por lei, que leva em consideração a totalidade da sua área5.

PERCENTUAIS MÍNIMOS DO IMÓVEL RURAL DESTINADO À RESERVA LEGAL


IMÓVEIS LOCALIZADOS NA AMAZÔNIA IMÓVEIS LOCALIZADOS NAS DEMAIS
LEGAL REGIÕES DO PAÍS.
80% (oitenta por cento), no imóvel situado em
área de florestas

35% (trinta e cinco por cento), no imóvel


20% (vinte por cento)
situado em área de cerrado

20% (vinte por cento), no imóvel situado em


área de campos gerais

5
Vide questão 9 desse material.
24
Como você pode ver na tabela, quando o cerrado está localizado na Amazônia Legal, os

imóveis ali situados devem ter 35% das suas áreas destinadas à RL. Entretanto, se o cerrado não
está localizado na Amazônia Legal, a área de RL dos imóveis ali situados deve seguir a regra

das demais regiões do país (20%).

Nos casos dos imóveis localizados na Amazônia Legal em área de floresta, o Poder Público
poderá reduzir os seus percentuais mínimos destinados à Reserva Legal para até 50% (cinquenta

por cento), para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por
cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e por

terras indígenas homologadas.

Também poderá ser reduzido para até 50% o percentual mínimo para a RL dos imóveis
localizados na área de floresta da Amazônia Legal quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-

Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por
unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por
terras indígenas homologadas.

Os parágrafos 6º, 7º e 8º do art. 12 do Código Florestal elencam algumas exceções, casos


em que o imóvel rural não precisará estabelecer RL:

 Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto


não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
 Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por
detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de
energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia
elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de
energia elétrica.
 Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com
o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.

25
A área destinada à RL dentro de cada propriedade ou posse rural, aonde se deve manter

a vegetação nativa preservada, não é de livre escolha do seu respectivo proprietário ou


possuidor. O órgão ambiental competente deve aprovar a sua localização.

Na avaliação da área destinada à RL, a Administração Pública deve levar em consideração

a função socioambiental da propriedade e priorizar a formação de corredores ecológicos, que


consistem na definição de uma RL como uma continuação de outras áreas protegidas. O

corredor ecológico serve para evitar que a vegetação nativa se fragmente, possibilitando o
abrigo e o deslocamento para a fauna silvestre.

Além disso, a localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em

consideração os seguintes estudos e critérios:

 I - o plano de bacia hidrográfica;


 II - o Zoneamento Ecológico-Econômico;
 III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de
Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área
legalmente protegida;
 IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
 V - as áreas de maior fragilidade ambiental.

O proprietário ou possuidor diligente não pode ser penalizado por eventual morosidade
da Administração. Portanto, protocolada a documentação exigida para a análise da localização

da área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção
administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente

integrante do SISNAMA, em razão da não formalização da área de Reserva Legal.

6.4.1 Manejo sustentável

Segundo o art. 3º do Código Florestal, manejo sustentável é a “administração da


vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-
se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,

26
cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de

múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços”.

Diferentemente do que vimos na APP, nas áreas de RL é possível o manejo sustentável dos
seus recursos naturais. O art. 20 do Código Florestal define duas modalidades de manejo

sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal: sem propósito comercial para consumo
na propriedade e com propósito comercial.

A primeira modalidade de manejo florestal sustentável, sem propósito comercial para

consumo na propriedade, não depende de autorização prévia da Administração Pública por


órgão integrante do SISNAMA. O proprietário ou possuidor deve declarar previamente ao órgão

ambiental competente apenas a motivação da exploração e o seu volume, que deve ser limitado
a 20m³ anuais.

No manejo florestal sustentável para fins comerciais, o proprietário ou possuidor precisa

de uma aprovação prévia do órgão ambiental competente integrante do SISNAMA, além de


observar as seguintes diretrizes:

 Não pode descaracterizar a cobertura vegetal;


 Não pode prejudicar a conservação da vegetação nativa da área;
 Deve assegurar a manutenção da diversidade das espécies; e
 Deve conduzir o manejo das espécies exóticas com adoção de medidas que
favoreçam a regeneração das espécies nativas.

Ainda sobre o manejo florestal sustentável das áreas destinadas à Reserva Legal, o art. 21
do Código Florestal define que é livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, como

frutos, cipós, folhas e sementes. Entretanto, devem ser observados os períodos de coleta e
volumes fixados nos regulamentos específicos, quando houver; a época de maturação dos frutos
e sementes; e as técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie

coletada o caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.

Por fim, quando tratamos de manejo de área de Reserva Legal na pequena propriedade

ou posse rural familiar, os órgãos integrantes do SISNAMA deverão estabelecer procedimentos


simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais planos de manejo.

27
6.4.2 Cadastro Ambiental Rural - CAR6

A localização da Reserva Legal só deve ser aprovada pelo órgão estadual integrante do

SISNAMA ou por instituição por ele habilitada após a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental
Rural – CAR, que é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório e com prazo

indeterminado para todos os imóveis rurais a partir da publicação da Lei 12.651/12.

O CAR é um cadastro feito no âmbito do SINIMA que serve para reunir as informações e
os dados ambientais das propriedades e posses rurais de todo o país. Com essas informações,

é possível melhorar o controle, o monitoramento, o planejamento ambiental e econômico e o


combate ao desmatamento.

Um dos principais objetivos do CAR é dar publicidade às informações ambientais, garantir

a segurança jurídica, ordem e estabilidade das relações pessoais. O cadastramento não será
considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse.

A inscrição no CAR deve ser feita perante a Administração Pública municipal ou estadual,

momento em que o proprietário ou possuidor rural deverá apresentar: identificação do


proprietário ou possuidor rural, comprovação da propriedade ou posse e a identificação do

imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas
geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a
localização dos remanescentes de vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito, das

áreas consolidadas e, caso existente, a localização da RL.

A pequena propriedade rural também é obrigada a se cadastrar no CAR, entretanto,


seguirá um procedimento simplificado, que exige apenas a identificação do proprietário ou

6
Questão 01
28
possuidor do imóvel rural, a comprovação de propriedade ou posse e um croqui identificando

o perímetro do imóvel, as eventuais APPs existentes e os remanescentes que formam a RL.

A área correspondente à Reserva Legal deve ser registrada no órgão ambiental competente
através da inscrição do imóvel no CAR, dispensada a averbação no registro do imóvel, vedada,

via de regra, a alteração da sua destinação nos casos de transmissão ou desmembramento do


bem.

Atualmente, após sucessivas modificações legislativas, não há mais prazo para que o

proprietário ou o possuidor rural faça a inscrição de seu imóvel perante o referido sistema
eletrônico. Com o advento da Lei 13.887/2019, apenas a adesão ao Programa de Regularização

Ambiental (PRA) passou a ter prazo de validade

6.4.3 Reserva Legal condominial

Se o imóvel rural possui área de reserva legal acima do mínimo exigido por lei, o respectivo
proprietário ou possuidor não está autorizado a suprimir a vegetação excedente, mas poderá

constituir servidão ambiental ou Cota de Reserva Ambiental, que poderão ser negociadas
economicamente com outros proprietários ou possuidores de imóveis rurais deficitários de

Reserva Legal.

Outro instrumento compensatório é a Reserva Legal condominial, que pode ser instituída
em casos de imóveis rurais contíguos, que derivaram da repartição de uma propriedade

original, de acordo com o art. 16 do Código Florestal:

Art. 16. Poderá ser instituído Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre
propriedades rurais, respeitado o percentual previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.

Parágrafo único. No parcelamento de imóveis rurais, a área de Reserva Legal poderá ser
agrupada em regime de condomínio entre os adquirentes.

Muitas vezes o proprietário de um grande imóvel rural dividia a sua área em vários outros
imóveis como uma forma de burlar as exigências para a instituição da Reserva Legal. Para evitar
essa prática, o legislador instituiu, no caso de parcelamento de imóveis rurais, a possibilidade

29
de as áreas de Reserva Legal dos imóveis desmembrados serem agrupadas em regime de

condomínio, levando em consideração a área do imóvel original antes do desmembramento.

Para que seja possível um condomínio de Reserva Legal, precisamos observar os seguintes
requisitos: os imóveis precisam ser contínuos, o percentual legal em relação a cada imóvel

precisa ser respeitado na totalidade da RL e os imóveis integrantes do condomínio precisam ser


inscritos no CAR.

6.5 Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal

Após estudar ambas as áreas de proteção ambiental descritas no Código Florestal,


podemos destacar as seguintes diferenças entre elas:

ÁREA DE PRESERVAÇÃO
ÁREA DE PROTEÇÃO RESERVA LEGAL
PERMANENTE
Área protegida, coberta ou não Área localizada no interior de
por vegetação nativa, com a uma propriedade ou posse
função ambiental de preservar rural, delimitada nos termos do
os recursos hídricos, a paisagem, art. 12, com a função de
a estabilidade geológica e a assegurar o uso econômico de
biodiversidade, facilitar o fluxo modo sustentável dos recursos
CONCEITO LEGAL gênico de fauna e flora, naturais do imóvel rural, auxiliar
proteger o solo e assegurar o a conservação e a reabilitação
bem-estar das populações dos processos ecológicos e
humanas. promover a conservação da
biodiversidade, bem como o
abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa
LOCAL Área urbana ou rural Área rural
PRESENÇA NA Nem todas as propriedades Todas as propriedades rurais
PROPRIEDADE RURAL rurais têm APP. precisam ter RL.

Apesar das diferenças, como você pode observar, podem existir situações em que uma
APP e uma RL estarão presentes simultaneamente em uma propriedade rural. Visto isso, o

30
Código Florestal permite ao proprietário/possuidor computar as APPs existentes em seu

imóvel no cálculo da respectiva Reserva Legal.

Para abater o tamanho da APP do valor mínimo necessário de RL exigido pela lei, devemos
observar os seguintes requisitos:

 Que esse benefício não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo
do solo. Ou seja, se a APP for usada no cômputo da área de Reserva legal, o
proprietário ou possuidor do bem não pode usar o local que seria de RL se não
existisse a APP para outras atividades com substituição da vegetação nativa por
outras coberturas do solo;
 A APP usada no cálculo do percentual mínimo de RL deve estar conservada ou em
processo de recuperação;
 O proprietário ou o possuidor precisa requerer a inclusão do imóvel no CAR.

Apesar de ser usada no cômputo da área de Reserva Legal, a APP não perde a sua natureza
e o seu regime de proteção para fins de intervenção humana ou supressão de vegetação.

6.6 Áreas de Uso Restrito

O Código Florestal ainda prevê outra espécie de área de proteção ambiental além das
APPs e das Reservas Legais. Segundo o seu art. 10, é permitida a exploração ecologicamente

sustentável nos pantanais e planícies pantaneiras, condicionadas à autorização do órgão


ambiental estadual, considerando as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa.

Ademais, nas Áreas de Uso Restrito com inclinação entre 25º e 45º, serão permitidos o

manejo florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a


manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas

boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses
de utilidade pública e interesse social.

6.7 Áreas Verdes Urbanas

Cabe ao Poder Público municipal estabelecer as Áreas Verdes Urbanas. Para tanto, contará
com os seguintes instrumentos:

31
 o exercício do direito de preempção para aquisição de remanescentes florestais
relevantes;
 a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas;
 o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos
comerciais e na implantação de infraestrutura; e
 aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da compensação ambiental.

6.8 Uso ecologicamente sustentável dos apicuns e salgados

Os apicuns e os salgados estão situados no litoral do país, onde existem os solos


hipersalinos. De acordo com o art. 225, §4º da CF/88, a Zona Costeira é um patrimônio nacional

e, portanto, a sua ocupação e exploração devem ocorrer de modo ecologicamente sustentável,


como afirma o art. 11-A do Código Florestal.

Nesse contexto, os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura

e salinas, desde que observados os seguintes requisitos:

 I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa
modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento)
no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas;
 II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos
ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica
e condição de berçário de recursos pesqueiros;
 III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual,
cientificado o IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da
União, realizada regularização prévia da titulação perante a União;
 IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos;
 V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas
de Preservação Permanente; e (
 VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais.

Por fim, fica assegurada a regularização das atividades e empreendimentos de


carcinicultura e salinas cuja ocupação e implantação tenham ocorrido antes de 22 de julho de

32
2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove sua localização em apicum

ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais


arbustivos adjacentes.

6.9 Supressão de vegetação nativa para uso alternativo do


solo

O uso alternativo do solo consiste na substituição da vegetação nativa por outras formas

de cobertura do solo, como as atividades agropecuárias, indústrias, assentamentos urbanos,


entre outras formas de ocupação pelo homem.

Como já foi mencionado, o Código Florestal não visa a proteção integral da vegetação,

tornando-a intocável. O objetivo do Código é encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento


da sociedade e a preservação do meio ambiente. Portanto, é possível realizar a supressão da

vegetação nativa de forma legal, desde que atendidos alguns requisitos.

O art. 26 do Código Florestal estabelece condições para a supressão de vegetação nativa


para uso alternativo do solo, tanto de domínio público como de domínio privado. Essa prática

dependerá do cadastramento do imóvel no CAR e de prévia autorização do órgão estadual


competente do SISNAMA.

Para requerer a autorização da Administração para supressão da vegetação nativa, o

Código Florestal exige que o interessado demonstre:

 I - a localização do imóvel, das Áreas de Preservação Permanente, da Reserva Legal


e das áreas de uso restrito, por coordenada geográfica, com pelo menos um ponto
de amarração do perímetro do imóvel;
 II - a reposição ou compensação florestal;
 III - a utilização efetiva e sustentável das áreas já convertidas; e
 IV - o uso alternativo da área a ser desmatada.

Para a supressão da vegetação nativa, o Código ainda exige a adoção de medidas


compensatórias e mitigatórias que assegurem a conservação das espécies ameaçadas de
extinção e das espécies migratórias que fiquem abrigadas nas áreas passíveis de uso alternativo
do solo.
33
Além disso, em contrapartida à supressão da vegetação nativa para o uso alternativo do

solo, o proprietário ou possuidor deverá proceder a reposição florestal, que deve priorizar os
projetos que contemplem a utilização de espécies nativas do bioma em que ocorreu a supressão.

Ademais, a reposição florestal deve ser feita no mesmo estado em que ocorreu a supressão da
matéria-prima utilizada, facilitando a adaptação das espécies nativas ao solo, ao clima e à

biodiversidade.

Por fim, buscando racionalizar e otimizar o uso do meio ambiente, o Código Florestal veda
a conversão de vegetação nativa para um uso alternativo do solo quando o imóvel rural possuir

área já desmatada que se encontra abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada.

Cabe observar que é livre a extração de produtos florestais das florestas plantadas que
não estejam em APP ou em Reserva Legal. Como esclarecimento, as florestas plantadas são

aquelas áreas florestais compostas predominantemente de árvores semeadas ou plantadas,


cultivadas com enfoque econômico e com fins comerciais.

Ademais, o art. 33, §3º, do Código Florestal permite o corte ou a exploração de espécies

nativas plantadas em áreas de uso alternativo do solo independentemente de autorização


prévia do órgão ambiental competente, desde que o plantio ou reflorestamento esteja
previamente cadastrado na Administração Pública e a exploração previamente declarada para

fins de controle de origem.

6.10 Exploração florestal

As pessoas físicas ou jurídicas que utilizam matéria-prima florestal em suas atividades

devem suprir-se de recursos oriundos de:

 Florestas plantadas;

34
 Plano de Manejo Florestal Sustentável de floresta nativa aprovado pelo órgão
competente do SISNAMA;
 Supressão de vegetação nativa autorizada pelo órgão competente do SISNAMA; ou
 Outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão competente do SISNAMA.

A exploração das florestas naturais brasileiras, que sejam de domínio público ou


privado, dependerá de licença emitida pelo órgão ambiental competente integrante do
SISNAMA.

Para emitir tal licença, o interessado deve apresentar um Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, que deve ser previamente aprovado pela Administração. Nele devem
constar as técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os

variados ecossistemas que existam na floresta.

Para fins ambientais, manejo é todo e qualquer procedimento que vise assegurar a
conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. O manejo florestal sustentável consiste,

portanto, na administração da vegetação natural para obtenção de benefícios econômicos,


sociais e ambientais, respeitando os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do

manejo.

O PMFS é um importante instrumento para racionalizar o uso dos recursos florestais. Para
tanto, atenderá os seguintes fundamentos técnicos e científicos:

 I - caracterização dos meios físico e biológico;


 II - determinação do estoque existente;
 III - intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte ambiental
da floresta;
 IV - ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de
produto extraído da floresta;
 V - promoção da regeneração natural da floresta;
 VI - adoção de sistema silvicultural adequado;
 VII - adoção de sistema de exploração adequado;
 VIII - monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;
 IX - adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.

35
A simples aprovação do PMFS pelo órgão competente do SISNAMA confere ao seu

detentor a licença ambiental para a prática do manejo florestal sustentável, não se aplicando a
esse processo as outras etapas de licenciamento ambiental.

Quanto à competência para licenciar a exploração florestal, o Código Florestal é expresso

ao estabelecer que o órgão ambiental federal é competente para a aprovação de PMFS


incidentes em florestas públicas de domínio da União.

Emitida a licença para a exploração florestal, o responsável pelo PMFS fica obrigado a

encaminhar um relatório anual ao órgão ambiental competente com as informações sobre toda
a área de manejo florestal sustentável e a descrição das atividades realizadas. Além disso, o

PMFS será submetido a vistorias técnicas para fiscalizar as operações e atividades desenvolvidas
na área de manejo.

Segundo o art. 33, §1º, do Código Florestal, as pessoas físicas ou jurídicas que utilizem

matéria-prima florestal oriunda de supressão de vegetação nativa ou que detenham autorização


para a supressão dessa vegetação são obrigadas a fazer a reposição florestal.

A reposição florestal deve ser feita no estado de origem da matéria-prima utilizada,


mediante o plantio de espécies preferencialmente nativas, conforme determinações do órgão

competente do SISNAMA.

No parágrafo seguinte, o próprio Código Florestal, estabelece algumas exceções que estão
isentas da obrigação de reposição florestal. Entretanto, a isenção da obrigatoriedade da

reposição florestal não desobriga o interessado da comprovação perante a autoridade


competente da origem do recurso florestal utilizado.

36
Art. 33, §2º do Código Florestal - É isento da obrigatoriedade da reposição florestal aquele
que utilize:

I - costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da atividade industrial

II - matéria-prima florestal:

a) oriunda de PMFS;

b) oriunda de floresta plantada;

c) não madeireira.

O Chefe do Poder Executivo deve emitir um ato estabelecendo um regime diferenciado


para o PMFS empresarial, de pequena escala e comunitário. Para fins de manejo florestal na

pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos do SISNAMA deverão estabelecer


procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação dos referidos PMFS.

São isentos de PMFS:

 A supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do solo;


 O manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das APPs e de RL;
 A exploração florestal não comercial realizada nas pequenas propriedades ou posses
rurais familiares ou por populações tradicionais.

6.10.1 Plano de Suprimento Sustentável – PSS

As empresas industriais que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestal são


obrigadas a elaborar e implementar Plano de Suprimento Sustentável - PSS, a ser submetido
à aprovação do órgão competente do SISNAMA, com o objetivo de assegurar a produção

equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela atividade industrial.

Segundo o art. 34, §2º, o PSS incluirá, no mínimo:

 I - programação de suprimento de matéria-prima florestal


 II - indicação das áreas de origem da matéria-prima florestal georreferenciadas;
 III - cópia do contrato entre os particulares envolvidos, quando o PSS incluir
suprimento de matéria-prima florestal oriunda de terras pertencentes a terceiros.

37
Os parâmetros de utilização de matéria-prima florestal para fins de enquadramento das

empresas industriais devem ser estabelecidos em ato do Chefe do Poder Executivo.

O PSS de empresas siderúrgicas, metalúrgicas ou outras que consumam grandes


quantidades de carvão vegetal ou lenha estabelecerá a utilização exclusiva de matéria-prima

oriunda de florestas plantadas ou de PMFS e será parte integrante do processo de


licenciamento ambiental do empreendimento.

O Código Florestal admite o suprimento mediante matéria-prima em oferta no mercado

na fase inicial de instalação da atividade industrial, obedecidas as condições e durante o período


previsto no PSS, que não será superior a 10 anos, exceto quando houver contrato entre

particulares para o suprimento de matéria-prima florestal oriunda de terras pertencentes a


terceiros.

Também é admitido o suprimento por matéria-prima em oferta no mercado no caso de

aquisição de produtos provenientes do plantio de florestas exóticas, licenciadas por órgão


competente do SISNAMA. Esse suprimento deve ser comprovado posteriormente mediante

relatório anual em que conste a localização da floresta e as quantidades produzidas.

6.10.2 Controle da origem dos produtos florestais

O transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, lenha, carvão e outros


produtos ou subprodutos florestais provenientes de florestas de espécies nativas, usados para

fins comerciais ou industriais, precisam de licença do órgão competente do SISNAMA.

Essa licença será emitida por meio da emissão de Documento de Origem Florestal – DOF,
que deve acompanhar o material até o seu destino final. Para a emissão do DOF, a pessoa física

ou jurídica responsável deve ser registrada no Cadastro Técnico Federal de Atividades


Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.

No DOF deverão constar a especificação do material, sua volumetria e dados sobre sua

origem e destino. É obrigatória a exigência do DOF por aquele que recebe ou adquire o material,
seja ou não com fins comerciais. E o seu porte também é obrigatório até o beneficiamento final.

38
Segundo o art. 35 do Código Florestal, “o controle da origem da madeira, do carvão e de

outros produtos ou subprodutos florestais incluirá sistema nacional que integre os dados dos
diferentes entes federativos, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão federal

competente do SISNAMA”. Os dados e informações desse sistema serão disponibilizados para


acesso público por meio da rede mundial de computadores, prestigiando o princípio da

informação, da participação comunitária e da obrigatoriedade de intervenção do Estado.

Ainda quanto ao controle da exploração florestal, vale salientar algumas disposições


importantes do Capítulo VIII do Código Florestal. Primeiramente, o art. 35, §2º estabelece que é

livre a extração de lenha e demais produtos de florestas plantadas nas áreas não
consideradas Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal; em seguida, o §3º do mesmo
artigo afirma que o corte ou a exploração de espécies nativas plantadas em área de uso

alternativo do solo serão permitidos independentemente de autorização prévia, devendo o


plantio ou reflorestamento estar previamente cadastrado no órgão ambiental competente e a

exploração ser previamente declarada nele para fins de controle de origem.

Também para fins de controle de origem, o plantio ou reflorestamento com espécies


florestais nativas ou exóticas, que independem de autorização prévia desde que observadas

as limitações e condições previstas em lei, devem ser informados ao órgão competente, no


prazo de até 1 (um) ano.

Por fim, o controle do comércio de plantas vivas e outros produtos oriundos da flora

nativa será feito por meio de licença do órgão estadual competente do SISNAMA e de registro
no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de

Recursos Ambientais, sem prejuízo de outras exigências cabíveis.

Obs.: A exportação de plantas vivas e outros produtos da flora dependerá de licença do


órgão federal competente do SISNAMA.

6.11 Uso de fogo e o controle de incêndios

O uso de fogo na vegetação é, em regra, proibido pelo Código Florestal, que elenca as
seguintes exceções:

Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:

39
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em
práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual
ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada,
que estabelecerá os critérios de monitoramento e controle;

II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade


com o respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação do órgão gestor da
Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas
características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;

III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente


aprovado pelos órgãos competentes e realizada por instituição de pesquisa reconhecida,
mediante prévia aprovação do órgão ambiental competente do Sisnama.

(...)

§ 2º Excetuam-se da proibição constante no caput as práticas de prevenção e combate


aos incêndios e as de agricultura de subsistência exercidas pelas populações tradicionais
e indígenas.

No caso do inciso I, o órgão ambiental estadual integrante do SISNAMA competente para

o licenciamento da atividade rural deve exigir estudos que contenham o planejamento específico
para o emprego do fogo e para o controle de incêndios para a emissão da respectiva licença

ambiental.

Como exemplo da exceção elencada no inciso II, podemos citar a vegetação do cerrado,
que tem o fogo como um aliado para a germinação de sementes que precisam sofrer um

choque térmico para que haja a quebra de sua dormência vegetativa.

Para fins de responsabilização ambiental pelo uso irregular do fogo em terras públicas
ou particulares, a autoridade competente para fiscalizar e autuar o responsável deverá

demonstrar o nexo causal entre a ação do agente ou do seu preposto e o dano efetivamente
causado.

O art. 38 supracitado deve ser interpretado de acordo com os preceitos da CF/88 e com o

princípio da preservação e do desenvolvimento sustentável. Assim, a queimada controlada da


vegetação, mesmo nos casos das exceções legais, deve ser feita apenas nos casos em que não
haja alternativa técnica e científica. Portanto, existindo forma de substituir essa prática sem
inviabilizar a atividade econômica, ela deve ser adotada gradativamente.

40
Nesse contexto, o STF, ao admitir a continuidade da prática de queimada de palha de

cana-de-açúcar, considerou razoável que esse método seja substituído gradualmente pela
mecanização da colheita, sem determinar a proibição imediata da queima da cana-de-açúcar

por considerar os aspectos econômicos, sociais e políticos que envolvem a questão (RE
586.224/SP).

6.12 Programa de Apoio e Incentivo à Preservação e


Recuperação do Meio Ambiente

De acordo o art. 41 do Código Florestal, o Poder Executivo federal fica autorizado a

instituir, sem prejuízo do cumprimento da legislação ambiental, um programa de apoio e


incentivo para a conservação do meio ambiente, para a adoção de tecnologias e boas práticas

que equilibrem a produtividade agropecuária e a sustentabilidade florestal.

Esse programa de apoio visa a redução de impactos ambientais para o desenvolvimento


ecologicamente sustentável, observando a progressividade e abrangendo as seguintes linhas de

ação:

 I - pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária


ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem
serviços ambientais, tais como, isolada ou cumulativamente:

a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a


diminuição do fluxo de carbono;

b) a conservação da beleza cênica natural;

c) a conservação da biodiversidade;

d) a conservação das águas e dos serviços hídricos;

e) a regulação do clima;

f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico;

g) a conservação e o melhoramento do solo;

41
h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de

uso restrito;

Esse instrumento de apoio à conservação ambiental consiste no pagamento ou outra forma


de incentivo, monetário ou não, por serviços ambientais prestados pelo proprietário ou

possuidor de imóvel rico em recursos naturais, com o objetivo de protegê-los.

O programa relativo aos serviços ambientais deve integrar os sistemas nacionais e estaduais
com o objetivo de criar um mercado de serviços ambientais e os seus respectivos pagamentos

ou incentivos devem ser destinados prioritariamente aos agricultores familiares.

 II - compensação pelas medidas de conservação ambiental necessárias para o


cumprimento dos objetivos do Código Florestal, utilizando-se dos seguintes
instrumentos, dentre outros:

a) obtenção de crédito agrícola, em todas as suas modalidades, com taxas de


juros menores, bem como limites e prazos maiores que os praticados no mercado;

b) contratação do seguro agrícola em condições melhores que as praticadas

no mercado;

c) dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de


uso restrito da base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

- ITR, gerando créditos tributários;

d) destinação de parte dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso


da água, na forma da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para a manutenção,

recuperação ou recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva


Legal e de uso restrito na bacia de geração da receita;

e) linhas de financiamento para atender iniciativas de preservação voluntária

de vegetação nativa, proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção,


manejo florestal e agroflorestal sustentável realizados na propriedade ou posse rural,

ou recuperação de áreas degradadas;

42
f) isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais como:

fios de arame, postes de madeira tratada, bombas d’água, trado de perfuração de


solo, dentre outros utilizados para os processos de recuperação e manutenção das

Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito;

 III - incentivos para comercialização, inovação e aceleração das ações de


recuperação, conservação e uso sustentável das florestas e demais formas de
vegetação nativa, tais como:

a) participação preferencial nos programas de apoio à comercialização da


produção agrícola;

b) destinação de recursos para a pesquisa científica e tecnológica e a extensão

rural relacionadas à melhoria da qualidade ambiental.

Para financiar as atividades necessárias à regularização ambiental das propriedades rurais,


o programa poderá prever a destinação de recursos para a pesquisa científica e tecnológica e a

extensão rural relacionadas à melhoria da qualidade ambiental; a dedução da base de cálculo


do imposto de renda do proprietário ou possuidor de imóvel rural, pessoa física ou jurídica, de

parte dos gastos efetuados com a recomposição das APPs, de Reserva Legal e de áreas de uso
restrito, cujo desmatamento seja anterior a 22 de julho de 2008; e a utilização de fundos públicos

para concessão de créditos reembolsáveis e não reembolsáveis destinados à compensação,


recuperação ou recomposição das APPs, das Reservas Legais e das áreas de uso restrito, cujo
desmatamento seja anterior a 22 de julho de 2008.

Além disso, o programa de recuperação ambiental poderá estabelecer diferenciações


tributárias para empresas que industrializem ou comercializem produtos originários de
propriedades ou posses rurais que cumpram os padrões e limites estabelecidos no Código

Florestal, ou que estejam em processo para cumpri-los.

6.13 Cota de Reserva Ambiental – CRA

O Código Florestal, em seu art. 44, institui a Cota de Reserva Ambiental – CRA, que
consiste em um título nominativo que representa a área com vegetação nativa ou em

processo de recuperação

43
 Sob regime de servidão ambiental;
 Correspondente à área de Reserva Legal voluntária, protegida por Reserva
Particular do Patrimônio Natural; e
 Existente em propriedade rural, ainda não desapropriada, localizada em Unidade
de Conservação de domínio público.

Obs.: o §4º do art. 44 do Código Florestal ainda permite a instituição de CRA da vegetação
nativa que integra a Reserva Legal das pequenas propriedades ou posses rurais familiares.

A CRA será emitida pelo órgão competente do SISNAMA em favor de proprietário de

imóvel incluído no CAR que mantenha área nas condições acima descritas.

Cada CRA corresponderá a 1 hectare de área com vegetação nativa primária ou com
vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração ou recomposição; ou a 1 hectare de

área de recomposição mediante reflorestamento com espécies nativas. Apesar disso, a CRA não
poderá ser emitida quando a regeneração ou recomposição da área forem improváveis ou

inviáveis.

A emissão de CRA será feita mediante requerimento do proprietário, após inclusão do


imóvel no CAR e laudo comprobatório emitido pelo próprio órgão ambiental ou por entidade

credenciada.

O interessado na emissão da CRA deve apresentar ao órgão ambiental competente uma


proposta acompanhada de certidão atualizada da matrícula do imóvel expedida pelo registro

de imóveis competente; identidade do proprietário, quando for pessoa física, ou ato de


designação de responsável, quando for pessoa jurídica; certidão negativa de débitos do ITR; e

memorial descritivo do imóvel, com a indicação da área a ser vinculada ao título, contendo pelo
menos um ponto de amarração georreferenciado relativo ao perímetro do imóvel e um ponto
de amarração georreferenciado relativo à Reserva Legal.

Aprovada a proposta pela Administração, será emitida a CRA e o vínculo entre ela e a sua
respectiva área será averbado na matrícula do imóvel.

O órgão ambiental federal que é competente para emitir a CRA poderá delegar ao órgão
ambiental estadual atribuições para emissão, cancelamento e transferência da CRA, assegurada

44
a implementação de sistema único de controle. Em qualquer caso, deve ser assegurado o

controle do órgão federal competente do SISNAMA, na forma de ato do Chefe do Poder


Executivo.

Mas, afinal, para que serve a CRA? A CRA pode ser utilizada para compensar Reserva

Legal de imóvel rural deficitário situado no mesmo bioma da área à qual o título está
vinculado.

A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa física ou a pessoa

jurídica de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo
adquirente, que deve ser registrado no sistema único de controle como condição de eficácia da

transferência.

A utilização de CRA para compensação da Reserva Legal deve ser averbada na matrícula
do imóvel no qual se situa a área vinculada ao título e na matrícula do imóvel beneficiário da

compensação.

A transmissão inter vivos ou causa mortis do imóvel não elimina nem altera o vínculo de
área contida no imóvel à CRA.

Cabe ao proprietário do imóvel rural em que se situa a área vinculada à CRA a

responsabilidade plena pela manutenção das condições de conservação da vegetação nativa da


área que deu origem ao título.

A CRA somente poderá ser cancelada no caso de solicitação do proprietário rural,

quando há desistência de manter a área nas condições necessárias para a concessão de CRA;
automaticamente, em razão de término do prazo da servidão ambiental; ou por decisão do

órgão competente do SISNAMA, no caso de degradação da vegetação nativa da área


vinculada à CRA cujos custos e prazo de recuperação ambiental inviabilizem a continuidade do

vínculo entre a área e o título, o que não impede a aplicação das eventuais sanções
administrativas e penais.

O cancelamento da CRA utilizada para fins de compensação de Reserva Legal só pode ser
efetivado se assegurada Reserva Legal para o imóvel no qual a compensação foi aplicada. Nesses

45
casos, o cancelamento deve ser averbado na matrícula do imóvel no qual se situa a área

vinculada ao título e do imóvel no qual a compensação foi aplicada.

6.14 O controle do desmatamento

O órgão ambiental competente, ao tomar conhecimento do desmatamento em desacordo

com o disposto na legislação ambiental, deverá embargar a obra ou atividade que deu causa
ao uso alternativo do solo indevido, como medida administrativa voltada a impedir a

continuidade do dano ambiental, propiciar a regeneração do meio ambiente e dar viabilidade à


recuperação da área degradada.

Mas, atenção: o embargo restringe-se aos locais onde efetivamente ocorreu o

desmatamento ilegal, não alcançando as atividades de subsistência ou as demais atividades


realizadas no imóvel não relacionadas com a infração.

Em prestígio ao princípio da informação, O órgão ambiental responsável deverá

disponibilizar publicamente as informações sobre o imóvel embargado, inclusive por meio da


rede mundial de computadores, resguardados os dados protegidos por legislação específica,

caracterizando o exato local da área embargada e informando em que estágio se encontra o


respectivo procedimento administrativo.

6.15 A agricultura familiar

A agricultura familiar recebe uma série de benefícios legais para simplificar e facilitar a
manutenção da pequena propriedade ou posse rural familiar. Como exemplo clássico desses

benefícios temos o procedimento simplificado de inscrição no CAR, em que se exige apenas


a apresentação do documento de identificação do proprietário ou possuidor, a comprovação da

propriedade ou posse e um croqui indicando o perímetro do imóvel, eventuais APPs e


remanescentes que formam a Reserva Legal.

As pequenas propriedades ou posses rurais familiares também devem seguir um

procedimento simplificado no licenciamento ambiental de Plano de Manejo Florestal


Sustentável – PMFS comercial e o manejo florestal madeireiro sustentável da Reserva Legal com

46
propósito comercial direto ou indireto dependerá de uma simples autorização do órgão

ambiental competente.

Enquanto isso, o manejo sustentável da Reserva Legal para exploração florestal eventual,
sem propósito comercial direto ou indireto, para consumo no próprio imóvel caracterizado como

pequena propriedade ou posse rural familiar, independe de autorização dos órgãos ambientais
competentes. Esse manejo fica limitado à retirada anual de 2m³ por hectare de material lenhoso

e não pode comprometer mais de 15% da biomassa da Reserva Legal, nem ser superior a 15m³
de lenha para uso doméstico e uso energético por ano.

Obs.: esses limites de utilização, no caso de posse coletiva de populações tradicionais ou

de agricultura familiar, serão adotados por unidade familiar.

Outro benefício do regime ambiental especial para as pequenas propriedades e posses


rurais familiares é a desobrigação da reposição florestal se a matéria-prima florestal for

usada para consumo próprio.

A intervenção e a supressão de vegetação em APP e em Reserva Legal para atividades


eventuais ou de baixo impacto ambiental dependerão de uma simples declaração ao órgão

ambiental competente quando forem desenvolvidas em pequena propriedade ou posse rural


familiar devidamente inscrita no CAR.

O registro no CAR da Reserva Legal de imóvel que se caracteriza como pequena

propriedade ou posse rural familiar é gratuito, devendo o Poder Público prestar apoio técnico
e jurídico.

Para tanto, deve ser feita uma apresentação de dados que identifiquem a área proposta

para RL pelo respectivo proprietário ou possuidor, cabendo ao órgão do SISNAMA, ou instituição


por ele habilitada, realizar a captação das respectivas coordenadas geográficas.

Para o cumprimento da manutenção da área de Reserva Legal nas pequenas propriedades

ou posses rurais familiares, o Código Florestal autoriza o cômputo dos plantios de árvores
frutíferas, ornamentais ou industriais, espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em
consórcio com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais; além de garantir o apoio

47
técnico do Poder Público estadual para a recomposição da vegetação das Reservas Legais em

pequenas propriedades ou posses rurais familiares.

O Código Florestal ainda assegura o controle e a fiscalização pelos órgãos ambientais


competentes dos planos, projetos e obrigações do proprietário ou possuidor da pequena

propriedade ou posse rural familiar.

Por fim, o art. 58 estabelece que o Poder Público poderá instituir programa de apoio
técnico e incentivos financeiros, podendo incluir medidas indutoras e linhas de financiamento

para atender, prioritariamente, esse tipo de imóvel nas iniciativas dos elencadas em seus incisos.

Art. 58. Assegurado o controle e a fiscalização dos órgãos ambientais competentes dos
respectivos planos ou projetos, assim como as obrigações do detentor do imóvel, o poder
público poderá instituir programa de apoio técnico e incentivos financeiros, podendo
incluir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, os
imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3º , nas iniciativas de:

I - preservação voluntária de vegetação nativa acima dos limites estabelecidos no art. 12;

II - proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção;

III - implantação de sistemas agroflorestal e agrossilvipastoril;

IV - recuperação ambiental de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal;

V - recuperação de áreas degradadas;

VI - promoção de assistência técnica para regularização ambiental e recuperação de áreas


degradadas;

VII - produção de mudas e sementes;

VIII - pagamento por serviços ambientais.

6.16 Regularização ambiental

O Código Florestal estabelece regras de regularização ambiental que beneficiam as

atividades já realizadas e consolidadas em áreas rurais até 22 de julho de 2008 – que é a


data do Decreto 6.514/2008, que regulamenta a Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais e
Infrações Administrativas Ambientais).

48
Esta parte do Código Florestal é muito criticada por privilegiar os proprietários e

possuidores rurais que causaram danos ao meio ambiente antes de 22 de julho de 2008.

Para se regularizar usufruindo dos benefícios da lei, a propriedade ou posse rural


consolidada deve aderir ao Programa de Regularização Ambiental – PRA, que compreende

um conjunto de ações ou iniciativas a serem desenvolvidas por proprietários e posseiros rurais


com o objetivo de adequar e promover a regularização ambiental com vistas ao cumprimento

do disposto na legislação ambiental atual.

Cabe à União, aos estados e ao Distrito Federal implantar esses Programas de


Regularização Ambiental – PRAs de posses e propriedades rurais. A União deve estabelecer

normas gerais, mais amplas, enquanto os estados e o DF devem complementá-las, editando


normas de caráter específico, de acordo com as suas peculiaridades territoriais, climáticas,

históricas, culturais, econômicas e sociais.

Para regulamentar o Programa de Regularização Ambiental, foi elaborado o Decreto


7.830/12, que estabelece no parágrafo único do seu art. 9º os instrumentos do PRA:

 Cadastro Ambiental Rural – CAR;


 Termo de compromisso;
 Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas; E
 Cotas de Reserva Ambiental.

A inscrição do imóvel rural no CAR, condição obrigatória para a adesão ao PRA, deve ser

requerida em até o dia 31 de dezembro de 2020 para que se possa ter o direito de aderir ao
programa de regularização. Caso os Estados e o Distrito Federal não implantem o PRA até esta
mesma data, o proprietário ou possuidor de imóvel rural poderá aderir ao PRA implantado pela
União.

Para participar do PRA, o proprietário ou possuidor rural deverá fazer um requerimento de

adesão ao órgão competente integrante do SISNAMA, que convocará o interessado para assinar
um termo de compromisso, com natureza de título executivo extrajudicial.

O termo de compromisso é um documento formal de adesão ao Programa de


Regularização Ambiental – PRA, que contenha, no mínimo, os compromissos de manter,

49
recuperar ou recompor as áreas de preservação permanente, de reserva legal e de uso restrito

do imóvel rural, ou ainda de compensar áreas de reserva legal.

No período entre a publicação do Código Florestal e a implantação do PRA em cada Estado


e no Distrito Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo

cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por
infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação

em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.

Portanto, a partir da assinatura do termo de compromisso e enquanto ele estiver sendo


cumprido, serão suspensas as sanções administrativas decorrentes das infrações ambientais

cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em APP,


em Reserva Legal e em área de uso restrito.

Da mesma forma, a punibilidade de crimes ambientais previstos nos arts. 38, 39 e 48 da

Lei nº 9.605 de 1998 também ficará suspensa, e o respectivo prazo prescricional interrompido,
a partir da assinatura do termo de compromisso para a regularização de imóvel ou posse rural,

e enquanto ele estiver sendo cumprido. Extinguindo-se a punibilidade do agente com a


efetiva regularização.

Cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no termo de compromisso para a

regularização ambiental, nos prazos e condições neles estabelecidos, as multas serão


consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da
qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme

definido no PRA.

Além dessas vantagens, a propriedade ou posse rural inscrita em Programa de


Regularização Ambiental – PRA passa a observar regras diferenciadas para a recomposição da

vegetação de áreas especialmente protegidas:

6.16.1 Áreas de Preservação Permanente - APPs

Nas Áreas de Preservação Permanente é autorizada, exclusivamente, a continuidade das


atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas

até 22 de julho de 2008, que estejam inscritas no PRA.


50
Além disso, será admitida a manutenção de residências e da infraestrutura associada às

atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural, inclusive o acesso a essas


atividades, desde que não estejam em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das

pessoas.

Obviamente, a continuidade dessas atividades não autoriza a conversão de novas áreas


para uso alternativo do solo nas APPs.

No regime geral do Código Florestal, podemos ter APP em áreas urbanas e em áreas rurais.
Entretanto, as regras do regime de transição ora estudadas só se aplicam às áreas rurais

consolidadas. Ou seja, as áreas urbanas consolidadas até 22 de julho de 2008, que deveriam ser
caracterizadas como APP, não precisam ser regularizadas.

Ademais, ao contrário do regime transitório que admite a continuidade de determinadas

atividades em APP, no regime geral do Código Florestal só pode haver intervenção em APP nos
casos de utilidade pública, interesse social ou atividade de baixo impacto ambiental.

Em contrapartida à continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de


turismo rural em áreas rurais consolidadas, o Código Florestal prevê a obrigação de

recomposição parcial da vegetação da APP, variável de acordo com a extensão do imóvel e


com o tipo de APP.

As matas ciliares (vegetações das faixas marginais dos cursos d’água naturais) de imóveis

rurais que possuam áreas consolidadas em APP, devem ser recompostas observando as
seguintes regras:

Recomposição das faixas marginais aos cursos d’água naturais em imóveis rurais com
áreas consolidadas
51
Área do imóvel Recomposição
Até 1 módulo fiscal 5 metros
Superior a 1 módulo fiscal e de até 2
8 metros
módulos fiscais
Superior a 2 módulos fiscais e até 4 módulos
15 metros
fiscais
No mínimo 20 metros
No máximo 100 metros
Superior a 4 módulos
fiscais e até 10
módulos fiscais;
Nos demais casos
quando o curso
d’água for de até
Superior a 4 módulos fiscais
10m de largura
Metade da largura
do curso d’água,
observando o
20 metros
mínimo de 30 metros
e o máximo de 100
metros.

Observe que as áreas consolidadas são submetidas a condições bem mais brandas do que
as previstas no art. 4º, I, do Código Florestal como regra de extensão da APP nos casos das

matas ciliares. O dispositivo mencionado considera a largura do curso d’água para definir o
tamanho da APP e dispõe que a APP será de 30m para os cursos d’água com menos de 10m

de largura, por exemplo.

Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno


de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades

agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio


mínimo de 15 (quinze) metros. Note que a regra geral, prevista no art. 4º, IV do Código
Florestal, fixa o raio de 50 metros no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes como
APP.

52
A recomposição das APP em área rural consolidada no entorno de lagos e lagoas naturais

ocorrerá da seguinte forma:

Recomposição do entorno de lagos e lagoas naturais em imóveis rurais com áreas


consolidadas
Área do imóvel Recomposição
Até 1 módulo fiscal 5 metros
Superior a 1 módulo fiscal e de até 2
8 metros
módulos fiscais
Superior a 2 módulos fiscais e até 4 módulos
15 metros
fiscais
Superior a 4 módulos fiscais 30 metros

Ao contrário da regra geral, que leva em consideração o tamanho dos lagos e lagoas
naturais, o regime de transição ao qual as áreas rurais consolidadas estão submetidas leva em

consideração o tamanho da propriedade.

Nesse contexto, observe que o maior tamanho de recomposição de APP no regime


transitório (30m) é o menor tamanho de APP no entorno de lagos e lagoas naturais do regime

geral.

Nos casos de áreas rurais consolidadas em veredas, será obrigatória a recomposição das
faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado,

de largura mínima de:

Recomposição das veredas em imóveis rurais com áreas consolidadas


Área do imóvel Recomposição
Até 4 módulos fiscais 30 metros
Superior a 4 módulos fiscais 50 metros

Apenas esses tipos de APP sofrem alterações quando tratamos do regime transitório para

a regulamentação das áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Os demais tipos de

53
APP seguem as mesmas regras do regime geral do Código Florestal, mesmo quando em áreas

rurais consolidadas.

6.16.2 Áreas de Reserva Legal – RL 7

O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área


de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12 do Código Florestal, poderá

regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes


alternativas, isolada ou conjuntamente:

 Recompor a Reserva Legal;


 Permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal;
 Compensar a Reserva Legal.

A recomposição da área de Reserva Legal poderá ser realizada mediante o plantio

intercalado de espécies nativas com exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observando


os parâmetros legais do §3º do art. 66 do Código Florestal. Essa recomposição deve atender a

critérios estipulados pelo órgão competente integrante do SISNAMA e deve ser concluída em
até 20 anos, abrangendo, a cada 2 anos, o mínimo de 1/10 da área total final.

A compensação da área de Reserva Legal dependerá da inscrição prévia do imóvel no CAR

e poderá ser feita por meio de Cota de Reserva Ambiental – CRA; servidão ambiental; doação
ao Poder Público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público

pendente de regularização fundiária; ou cadastramento de outra área equivalente e excedente


à Reserva Legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, que
tenha vegetação nativa e seja localizada no mesmo bioma.

As áreas utilizadas para compensação devem ser equivalentes em extensão à área de


Reserva Legal a ser compensada; localizadas no mesmo bioma; e, se fora do mesmo estado,
caracterizadas como áreas prioritárias pela União ou pelos estados.

A definição dessas áreas prioritárias deve visar favorecer, entre outras coisas, a recuperação
de bacias hidrográficas excessivamente desmatadas, a criação de corredores ecológicos, a

7
Questão 03
54
conservação de grandes áreas protegidas e a conservação ou recuperação de ecossistemas ou

espécies ameaçados.

Quando a compensação for para regularizar a Reserva Legal de imóvel público, poderá
ser feita mediante concessão de direito real de uso ou doação, por parte da pessoa jurídica de

direito público proprietária de imóvel rural que não detém Reserva Legal em extensão suficiente,
ao órgão público responsável pela Unidade de Conservação de área localizada no interior de

Unidade de Conservação de domínio público, a ser criada ou pendente de regularização


fundiária.

Como não poderia ser diferente, as medidas de compensação de área de Reserva Legal

não poderão ser utilizadas como forma de viabilizar a conversão de novas áreas para uso
alternativo do solo.

Os proprietários ou possuidores do imóvel que optarem por regularizar a Reserva Legal

permitindo a regeneração natural da vegetação ou por meio de compensação, terão direito à


sua exploração econômica.

Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos
fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto

no art. 12 do Código Florestal, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a
vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso

alternativo do solo.

Nesses casos, o proprietário ou possuidor do imóvel não precisará regularizar a sua área
de Reserva legal, pois o próprio Código Florestal, em seu art. 67, considera regular a situação.

55
Para prestigiar a segurança jurídica, o art. 68 do Código Florestal determina que os

proprietários ou possuidores rurais que realizaram supressão da vegetação nativa respeitando


as normas ambientais em vigor da época em que ocorreu a supressão estão dispensados de

promove a regularização da área de Reserva Legal ora estudada.

Se em 22 de julho de 2008 foi verificada a degradação da vegetação nativa destinada à

área de Reserva Legal, o proprietário ou possuidor do respectivo imóvel fica obrigado a proceder
a sua regularização, nos termos do Código Florestal acima explanados, mesmo que não tenha

sido ele o responsável pela supressão irregular da vegetação.

A regularização da área de Reserva Legal é uma obrigação é propter rem, ou seja, tem
natureza real. Por isso, ela é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou

posse do imóvel rural.

Prescindindo-se o debate sobre a boa-fé ou má-fé do atual proprietário ou possuidor do


imóvel rural, ele será obrigado a regularizar a área, pois não estamos no âmbito da

responsabilidade subjetiva, baseada na culpa do agente.

Como estudamos neste curso, a responsabilidade civil ambiental é objetiva e, portanto, em


regra geral, deve ser comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a conduta do agente,
independentemente de dolo ou culpa.

56
Entretanto, em situações especiais, para garantir a proteção integral do meio ambiente, STJ

admite a dispensa de comprovação do nexo causal. É o caso ora estudado de imóvel rural
ambientalmente degradado, em que temos uma obrigação de natureza real, que adere ao título

e se transfere ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse. Portanto, nesses casos


é irrelevante a comprovação do nexo causal entre a conduta do atual proprietário e o dano

ambiental.

57
QUADRO SINÓTICO

CÓDIGO FLORESTAL
 Lei 12.651 de 25 de maio de 2012;
 É uma norma geral editada pela União;
INTRODUÇÃO
 Trata das florestas e das demais formas de vegetação nativa;
 Objetiva o desenvolvimento sustentável.
 Afirmação do compromisso soberano do Brasil com a
preservação das suas florestas e demais formas de vegetação
nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos
hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar
das gerações presentes e futuras – princípio da prevenção/
princípio da precaução/ princípio da solidariedade intergeracional;
 Reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de
vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento
econômico, na melhoria da qualidade de vida da população
brasileira e na presença do País nos mercados nacional e
PRINCÍPIOS
internacional de alimentos e bioenergia – princípio do
desenvolvimento sustentável;
 Ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e
harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da
água, do solo e da vegetação – princípio da obrigatoriedade da
intervenção do Estado;
 Responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação
de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa
e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais

58
– princípio da obrigatoriedade da intervenção do Estado/
princípio da participação democrática;
 Fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da
inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação
e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa
– princípio da obrigatoriedade da intervenção do Estado;
 Criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar
a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para
promover o desenvolvimento de atividades produtivas
sustentáveis – princípio da obrigatoriedade da intervenção do
Estado/ princípio do poluidor-pagador/ princípio do protetor-
recebedor.
 Função socioambiental da propriedade – o direito à propriedade
não é absoluto, pois sofre limitações legais, como as estabelecidas
no Código Florestal. Elas se justificam porque o meio ambiente
ecologicamente equilibrado é um direito difuso e inerente à vida,
ou seja, nitidamente de interesse público.
 Acre
 Pará
 Amazonas
 Roraima
AMAZÔNIA LEGAL  Rondônia
 Amapá
 Mato Grosso
 Norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás
 Oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão.

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
CONCEITO LEGAL
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
Em razão da localização: Art. 4º. Instituídas por Lei. NÃO cabe
INSTITUIÇÃO
indenização.

59
Em razão da finalidade: Art. 6º. Instituídas por Decreto do Poder
Executivo. Cabe indenização ao proprietário se, em razão da limitação
por APP, ficar comprovada a inviabilidade de utilização do bem.
Em regra, as APPs são intocáveis, vedado o seu uso econômico direto.
Exceções:
INTERVENÇÃO NA
 Utilidade pública;
APP
 Interesse social; e
 Atividade de baixo impacto ambiental.
ALTERAÇÃO OU Sempre que houver supressão ou alteração que modifique a área origina
SUPRESSÃO da APP, deverá ser feita mediante lei.

RESERVA LEGAL
Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a
função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
CONCEITO LEGAL naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

IMÓVEIS LOCALIZADOS NA IMÓVEIS LOCALIZADOS NAS


AMAZÔNIA LEGAL DEMAIS REGIÕES DO PAÍS

 80% (oitenta por cento), no


PERCENTUAIS imóvel situado em área de
MÍNIMOS DO florestas;
IMÓVEL RURAL  35% (trinta e cinco por cento),
DESTINADOS À no imóvel situado em área de 20% (vinte por cento)
RESERVA LEGAL cerrado; e
 20% (vinte por cento), no
imóvel situado em área de
campos gerais.
 Os empreendimentos de abastecimento público de água e
tratamento de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva
ISENÇÃO DE Legal.
RESERVA LEGAL  Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização
para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais

60
funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica,
subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de
distribuição de energia elétrica.
 Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de
capacidade de rodovias e ferrovias.

OUTRAS LIMITAÇÕES DO DIREITO DE PROPRIEDADE PARA PROTEÇÃO DO MEIO


AMBIENTE
Nas áreas de uso restrito é permitida a exploração ecologicamente
sustentável nos pantanais e planícies pantaneiras condicionadas à
autorização do órgão ambiental estadual, considerando as
recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa.

ÁREA DE USO
Ademais, nas Áreas de Uso Restrito com inclinação entre 25º e 45º, serão
RESTRITO
permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física
associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas
agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as
hipóteses de utilidade pública e interesse social.
São espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação,
preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano
Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município,
ÁREAS VERDES
indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de
URBANAS
recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos
recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens
e manifestações culturais.

Registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório e com prazo


CADASTRO indeterminado para todos os imóveis rurais a partir da publicação da Lei
AMBIENTAL RURAL 12.651/12.
- CAR Feito no âmbito do SINIMA, serve para reunir as informações e dados
ambientais das propriedades e posses rurais de todo o país.

61
O cadastramento não é título para fins de reconhecimento de direito de
posse ou propriedade.
A inscrição no CAR deve ser feita perante a Administração Pública
municipal ou estadual.
A área correspondente à Reserva Legal deve ser registrada no órgão
ambiental competente através da inscrição do imóvel no CAR, dispensada
a averbação no registro do imóvel, vedada, via de regra, a alteração da
sua destinação nos casos de transmissão ou desmembramento do bem.

Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de


ÁREA RURAL julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
CONSOLIDADA agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de
pousio.

PEQUENA É aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar


PROPRIEDADE OU e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos
POSSE RURAL de reforma agrária.
FAMILIAR

EXPLORAÇÃO DAS FLORESTAS E DA VEGETAÇÃO NATIVA


Substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras
coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de
geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte,
USO ALTERNATIVO
assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.
DO SOLO

Depende de cadastramento do imóvel no CAR e de prévia autorização


do órgão estadual competente do SISNAMA.
Em contrapartida à supressão da vegetação nativa para uso alternativo
do solo, o proprietário ou possuidor deve proceder a reposição florestal.
REPOSIÇÃO
FLORESTAL A reposição florestal deve ser feita no mesmo estado em que ocorreu a
supressão da matéria-prima utilizada.

62
Estão isentos da obrigatoriedade da reposição florestal aquele que
utilize: costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da
atividade industrial; ou matéria-prima florestal oriunda de PMFS; oriunda
de floresta plantada; ou não madeireira.
Aquele que utilizar matéria-prima florestal em suas atividades deve
suprir-se de recursos oriundos de florestas plantadas; de florestas nativas
EXPLORAÇÃO com Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS aprovado pela
FLORESTAL Administração Pública; de supressão de vegetação nativa quando
autorizada pelo órgão competente do SISNAMA; ou de outras formas de
biomassa florestal definidas pelo SISNAMA.
Administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios
econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de
sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,
cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies
madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem
como a utilização de outros bens e serviços.

É possível em área de RL, mas não é aplicado nas APPs.

 Sem propósito comercial – para consumo na propriedade: não


MANEJO depende de autorização prévia da Administração Pública, mas o
SUSTENTÁVEL proprietário ou possuidor deve declarar previamente ao órgão
ambiental a motivação da exploração e o seu volume.
 Com propósito comercial: precisa de uma prévia aprovação do órgão
ambiental, não pode descaracterizar a cobertura vegetal, não pode
prejudicar a conservação da vegetação nativa da área, deve assegurar
a manutenção da diversidade das espécies e deve conduzir o manejo
das espécies exóticas com adoção de medidas que favoreçam a
regeneração das espécies nativas.
Para a pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos
integrantes do SISNAMA deverão estabelecer procedimentos
simplificados de elaboração, análise e aprovação dos planos de manejo.
As empresas industriais que utilizam grande quantidade de matéria-
PLANO DE
prima florestal são obrigadas a elaborar e implementar Plano de
SUPRIMENTO
Suprimento Sustentável - PSS, a ser submetido à aprovação do órgão

63
SUSTENTÁVEL - competente do SISNAMA, com o objetivo de assegurar a produção
PSS equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela atividade
industrial.
CONTROLE DE O transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, lenha,
ORIGEM DOS carvão e outros produtos ou subprodutos florestais provenientes de
PRODUTOS florestas de espécies nativas, usados para fins comerciais ou industriais,
FLORESTAIS precisam de licença do órgão competente do SISNAMA.
É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do
fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação
do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel
rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de
monitoramento e controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em
conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia
aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao
manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características
ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
USO DO FOGOE O III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa
CONTROLE DE devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por
INCÊNDIOS instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão
ambiental competente do Sisnama.

Para fins de responsabilização ambiental pelo uso irregular do fogo


em terras públicas ou particulares, a autoridade competente para
fiscalizar e autuar o responsável deverá demonstrar o nexo causal entre
a ação do agente ou do seu preposto e o dano efetivamente causado.
A queimada controlada da vegetação, mesmo nos casos das exceções
legais, deve ser feita apenas nos casos em que não haja alternativa
técnica e científica. Portanto, existindo forma de substituir essa prática
sem inviabilizar a atividade econômica, ela deve ser adotada
gradativamente.

64
PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE
 Pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição,
monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos
ecossistemas e que gerem serviços ambientais;
 Compensação pelas medidas de conservação ambiental
LINHAS DE AÇÃO necessárias para o cumprimento dos objetivos do Código Florestal;
e
 Incentivos para comercialização, inovação e aceleração das ações
de recuperação, conservação e uso sustentável das florestas e
demais formas de vegetação nativa

65
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
(XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Gabriela, pequena produtora rural que desenvolve

atividade pecuária, é avisada por seu vizinho sobre necessidade de registrar seu imóvel rural no
Cadastro Ambiental Rural (CAR), sob pena de perder a propriedade do bem.
Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.

A) Gabriela não tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR por ser pequena produtora rural.
B) Gabriela tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR, sob pena de perder a propriedade

do bem, que apenas poderá ser reavida por ação judicial.


C) Gabriela tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR; o registro não será considerado título

para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse.


D) Gabriela tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR; o registro autoriza procedimento

simplificado para concessão de licença ambiental.

Comentário:

Lei n° 12.651/12 (Código Florestal):


Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de

Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional,
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais

das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento,

planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

66
§ 2° O cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de

propriedade ou posse, tampouco elimina a necessidade de cumprimento do disposto no art. 2o

da Lei no 10.267, de 28 de agosto de 2001.

Questão 2

(XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) João acaba de adquirir dois imóveis, sendo um
localizado em área urbana e outro, em área rural. Por ocasião da aquisição de ambos os imóveis,

João foi alertado pelos alienantes de que os imóveis contemplavam Áreas de Preservação
Permanente (APP) e de que, por tal razão, ele deveria buscar uma orientação mais especializada,

caso desejasse nelas intervir.


Considerando a disciplina legal das Áreas de Preservação Permanente (APP), bem como as
possíveis preocupações gerais de João, assinale a afirmativa correta.

A) As APPs não são passíveis de intervenção e utilização, salvo decisão administrativa em sentido
contrário de órgão estadual integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, uma

vez que não há preceitos legais abstratamente prevendo exceções à sua preservação absoluta
e integral.

B) As hipóteses legais de APP, com o advento do denominado “Novo Código Florestal" – Lei nº
12.651/2012 –, foram abolidas em âmbito federal, subsistindo apenas nos casos em que os

Estados e Municípios assim as exijam legalmente.


C) As APPs são espaços territoriais especialmente protegidos, comportando exceções legais para
fins de intervenção, sendo certo que os Estados e os Municípios podem prever outras hipóteses

de APP além daquelas dispostas em normas gerais, inclusive em suas Constituições Estaduais e
Leis Orgânicas, sendo que a supressão irregular da vegetação nela situada gera a obrigação do

proprietário, possuidor ou ocupante a qualquer título de promover a sua recomposição,


obrigação esta de natureza propter rem.

D) As APPs, assim como as reservas legais, não se aplicam às áreas urbanas, sendo certo que a
Lei Federal nº 12.651/2012 (“Novo Código Florestal"), apesar de ter trazido significativas

mudanças no seu regime, garantiu as APPs para os imóveis rurais com mais de 100 hectares.

67
Comentário:

Novo CFlo Art. 2º (...) § 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas

ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel


rural. (Conceito de obrigação propter rem).

1. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs

e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio
ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação

ambiental. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever

de recuperar a área de preservação permanente [STJ/AgRg no AREsp 327.687, de 15.08.2013).]

Questão 3

(XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Hugo, proprietário de imóvel rural, tem instituída
Reserva Legal em parte de seu imóvel. Sobre a hipótese, considerando o instituto da Reserva
Legal, de acordo com a disciplina do Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), assinale a

afirmativa correta.
A) As áreas de Reserva Legal são excluídas da base tributável do Imposto sobre a Propriedade

Territorial Rural (ITR), compreendendo esta uma função extrafiscal do tributo.


B) Caso Hugo transmita onerosamente a propriedade, o adquirente não tem o dever de

recompor a área de Reserva Legal, mesmo que averbada, tendo em vista o caráter
personalíssimo da obrigação.

C) Hugo não pode explorar economicamente a área de Reserva Legal, conduta tipificada como
crime pelo Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012).
D) A área compreendida pela Reserva Legal é considerada Unidade de Conservação de Uso

Sustentável, admitindo exploração somente se inserida no plano de manejo instituído pelo Poder
Público.

68
Comentário:

o art. 41, inciso II, alínea c, da Lei 12.651/2012. De fato, as áreas de reserva legal são excluídas

da base de cálculo do ITR.


Art. 41. É o Poder Executivo federal autorizado a instituir, sem prejuízo do cumprimento da

legislação ambiental, programa de apoio e incentivo à conservação do meio ambiente, bem


como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária

e florestal, com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do


desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados sempre os critérios de

progressividade, abrangendo as seguintes categorias e linhas de ação:


(...)
II - compensação pelas medidas de conservação ambiental necessárias para o cumprimento dos

objetivos desta Lei, utilizando-se dos seguintes instrumentos, dentre outros:


(...)

c) dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito da base
de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, gerando créditos tributários;

No mesmo sentido, a Lei 9.393/1996, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural - ITR, retira da área tributável para apuração do ITR as áreas de reserva legal.

Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte,


independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições
estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior.

§ 1º Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á:


(...)

II - área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas:


a) de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei no 12.651, de 25 de maio de

2012;
b) de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do

órgão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso previstas na alínea
anterior;
c) comprovadamente imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira,

69
aquícola ou florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão competente,

federal ou estadual;

Portanto, a alternativa está correta.

Questão 4

(FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto) Suponha que determinado proprietário rural deseje

instituir servidão ambiental na área de sua propriedade, incidente sobre a parcela


correspondente à reserva legal mínima imposta nos termos do Código Florestal (Lei n°

12.651/2012). Tal pretensão


A) será viável se a reserva legal determinada para a região for inferior a vinte por cento da área,
devendo a servidão estabelecer as mesmas limitações e restrições ao uso da área impostas por

força da reserva legal.


B) somente poderá ser acolhida se a servidão for instituída em caráter perpétuo e gratuito e

devidamente averbada na matrícula do imóvel.


C) poderá ser acolhida, a critério do órgão ambiental competente, desde que a propriedade não

esteja localizada em área de proteção permanente.


D) afigura-se inviável, eis que a instituição da servidão se dá exclusivamente por ato do poder

público, para proibir ou restringir o uso de parcela da propriedade objetivando a preservação


dos recursos naturais nela existentes.
E) não encontra amparo legal, eis que a servidão ambiental constitui uma limitação voluntária

instituída pelo proprietário da área que não substitui ou reduz as limitações impostas pela
reserva legal mínima.

Comentário:

Para revisar a servidão ambiental, lembramos: proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa


natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo

firmado perante órgão integrante do SISNAMA a, limitar o uso de toda a sua propriedade

70
ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes,

instituindo servidão ambiental.

Portanto, a servidão ambiental é uma limitação total ou parcial ao direito de propriedade,


imposta pelo proprietário ou possuidor do imóvel, que visa preservar, conservar ou

recuperar o meio ambiente.

Como a instituição de APP e de Reserva Legal mínima já cumprem o mesmo papel de


preservação e também são limitações da propriedade (só que impostas por lei), não teria

sentido que fosse possível a servidão ambiental ser instituída em áreas correspondentes à
APP e RL mínima.

Questão 5

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) A implantação de trilhas para

o desenvolvimento do ecoturismo, a construção e manutenção de cercas na propriedade e a


construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro, são algumas das

hipóteses de atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental definidas nas alíneas do inciso
X do art. 3º da Lei Federal n. 12.651/2012.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

Trata-se de uma questão que exige do candidato o conhecimento da literalidade do Código


Florestal. De fato, as atividades elencadas pelo examinador estão no rol do art. 3, X do

Código Florestal, que define as atividades de baixo impacto ambiental. Visto isso, destaca-
se a importância da familiaridade do candidato com o rol elencado pelo legislador de
hipóteses de atividades de baixo impacto ambiental, de utilidade pública e de interesse

social.

71
Questão 6

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) Como regra geral, a Lei Federal

n. 12.651/2012 somente admite a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de


Preservação Permanente nas hipóteses de utilidade pública e de baixo impacto ambiental por

esta previstas.
( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

A regra geral do Código Florestal é a não intervenção ou supressão de vegetação nativa

em APP. Entretanto, o próprio Código elenca como exceções as hipóteses de utilidade


pública, interesse social e atividades de baixo impacto ambiental.

Questão 7

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) De acordo com decisão

proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 4.903, foi reconhecida a
caracterização das nascentes e olhos d'água intermitentes como áreas de preservação

permanente, de modo que, atualmente, a proteção do entorno destas áreas abrange o raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes e
intermitentes, nos termos do art. 4º, IV, da Lei Federal n. 12.651/2012.

( ) CERTO
( ) ERRADO

72
Comentário:

De acordo com a literalidade do art. 4º, IV do Código Florestal, são consideradas APPs as

áreas entorno dos reservatórios d’água perenes.

Ao dar interpretação a este dispositivo conforme a Constituição Federal, visando dar a


maior e mais adequada proteção ao meio ambiente, o STF fixou na ADI 4.903 que as áreas

localizadas entorno das nascentes e olhos d’água, devem ser consideradas Áreas de
Preservação Permanente independentemente de eles serem perenes ou intermitentes.

Questão 8

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) A Lei Federal n. 12.651/2012,

conhecida como Código Florestal, define como área de preservação permanente somente a
coberta por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,


proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

Relembrando o conceito de Área de Preservação Permanente: é a área protegida coberta


ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e


flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Questão 9
73
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Em uma área completamente preservada, com bioma

intacto, localizada em sua integralidade no bioma cerrado, existe uma propriedade particular de
100 ha, dos quais 40 ha constituem reserva legal com a devida averbação na matrícula do imóvel

e com o registro no cadastro ambiental rural (CAR).

Nessa situação, o limite máximo de hectares que o proprietário poderá destinar para fins de
instituição de servidão ambiental corresponde a
A) 5 ha.

B) 25 ha.
C) 45 ha.

D) 65 ha.

Comentário:

É uma questão que, à primeira vista, parece complicada e incompleta, mas só tem uma

alternativa possível. Vejamos: em primeiro lugar, o candidato precisaria saber que a área
de Reserva Legal mínima não pode ser objeto de servidão, mas a área destinada

voluntariamente à Reserva Legal de forma excedente ao mínimo exigido por lei, pode.

Visto isso, o candidato precisaria saber qual o percentual mínimo de RL estabelecido para
o imóvel rural localizado no bioma cerrado. Neste ponto, temos o seguinte problema que

poderia gerar dúvidas na questão: se o cerrado está dentro da área de Amazônia Legal, o
Código Florestal estabelece que os imóveis rurais devem ter 35% do seu território

destinado à RL. Entretanto, se o cerrado está fora da Amazônia Legal, os imóveis rurais
devem seguir a regra das demais localidades do país para definição de RL: 20% da sua

área.

Como o examinador não define se o cerrado em questão está em área de Amazônia Legal
ou não, vamos tentar responder a questão das duas formas e ver se temos alternativas

possíveis, ok?

74
Se o cerrado não estiver em área de Amazônia Legal, o percentual mínimo de RL para os

imóveis rurais ali localizados deve ser de 20%. Portanto, o proprietário em questão
estabeleceu uma área de RL 20% a mais do que o exigido por lei ao destinar 40 ha da sua

propriedade de 100 ha. Nessa situação, ele poderá instituir servidão ambiental em até 80%
do seu imóvel, que engloba 60% da área remanescente e 20% da área de RL acima do

mínimo exigido por lei.

80% de uma propriedade de 100 ha corresponde a 80 ha e, como você pode ver, não
temos a opção de 80 ha. Portanto, podemos concluir que o cerrado que o examinador se

referiu está localizado na Amazônia Legal.

Quando o imóvel rural está em área de cerrado na Amazônia Legal, deve ter no mínimo
35% da sua área destinada à Reserva Legal. Em uma propriedade de 100 ha, portanto, 35

ha devem ser compreendidos por esta limitação. Entretanto, o proprietário em questão


estabeleceu 40 ha da sua propriedade como área de Reserva Legal, com 5 ha excedentes.

Com essas informações, fica fácil concluir que o a servidão ambiental em questão poderá

ter no máximo 65 ha, correspondentes aos 60 ha remanescentes e 5 ha excedentes da


Reserva Legal mínima.

Questão 10

(CESPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto) De acordo com o Código Florestal,

considera-se área de preservação permanente


A) a faixa marginal de curso d’água efêmero, desde a borda da calha do leito maior, em largura
mínima de 30 metros, para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura.

B) a faixa marginal de curso d’água perene, desde a borda da calha do leito maior, em largura
mínima de 10 metros, para os cursos d’água de menos de 30 metros de largura.

C) os manguezais, até o limite de 200 metros, contados da borda da calha do leito maior do
curso d’água.

75
D) a área no entorno das nascentes, intermitentes ou perenes, qualquer que seja a sua situação

topográfica, em um raio mínimo de 50 metros.


E) as bordas dos tabuleiros ou chapadas, em toda a sua extensão.

Comentário:

Na presente questão, o examinador cobrou a familiaridade do candidato com os tipos de


APP elencadas pelo art. 4º do Código Florestal.

Em primeiro lugar, a faixa marginal de curso d’água, em regra, é APP, excluídos os

efêmeros, ao contrário do que afirma a alternativa “A”. Ademais, o tamanho da APP deve
ser contado a partir da borda da calha do leito regular e não da calha do leito maior,
como afirma a alternativa “A” e “B”.

A alternativa “B” também está incorreta porque inverte o tamanho da APP com o tamanho
da largura do curso d’água que ele se relaciona. O correto seria dizer que a APP das faixas

marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros,


desde a borda da calha do leito regular, será de no mínimo 30m quando a largura do

curso d’água for de menos de 10m.

Quanto aos manguezais, o Código Florestal define que toda a sua extensão deve ser
considerada APP, sem estabelecer nenhum limite, como faz a alternativa “C”.

De acordo com o inciso IV do art. 4º do Código Florestal e o entendimento do STF, as

áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água, sejam eles perenes ou intermitentes,
devem ser consideradas APP no raio mínimo de 50m, conforme o disposto na alternativa

“D”.

Por fim, as bordas dos tabuleiros ou chapadas possuem como área considerada APP o
espaço até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em

projeções horizontais.

76
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - E

Questão 5 - CERTO

Questão 6 - ERRADO

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - D

Questão 10 - D

77
QUESTÃO DESAFIO

Defina áreas de preservação permanente e reservas legais.

Máximo de 5 linhas

78
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

A Área de Preservação Permanente consiste em uma área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar o local, pode ser tanto zona urbana
como rural. Já as Reservas Legais tratam-se de áreas localizadas nas zonas rurais com a

função de assegurar o uso econômico.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 APP: área protegida -proteção do solo-urbana/rural

A Área de Preservação Permanente consiste em uma área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a

estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o


solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. (Artigo 3, inciso II, da Lei n. 12.651/12)
Pode ser tanto zona rural quanto urbana, além da possibilidade de ocorrência área pública ou

privada. Quanto às hipóteses de intervenção ou supressão de vegetação nativa em APP somente


ocorrerá nas seguintes situações: utilidade pública, interesse social, desde que causem baixo

impacto ambiental. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito Ambiental Esquematizado; Ed.


Juspodivm) Quanto à temática da Área de Preservação Permanente (APP), é importante destacar

importante jurisprudência do STF, a qual afirma que é inconstitucional Lei Estadual que prevê a
supressão de vegetal em APP para a realização de atividade exclusivamente de lazer, vejamos:

“É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de


Preservação Permanente(APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima de
190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”. Essa lei possui vícios de

inconstitucionalidade formal e material. Há inconstitucionalidade formal porque o Código


Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da

CF/88) não permite a instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade
meramente recreativa. Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso

e abuso da lei estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer individual.
STF. Plenário. ADI 4988, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/09/2018 (Info 916).”
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de

79
vegetal em APP para a realização de atividades exclusivamente de lazer. Buscador Dizer o Direito,

Manaus. Disponível em: . Acesso em: 25/06/2019

 RL: área rural - uso econômico de modo sustentável

A Reserva Legal, por sua vez, trata-se de área localizada no interior de uma propriedade ou

posse rural (apenas existe reserva legal em zona rural!), com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e
a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como

o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. (Artigo 3, inciso III, da Lei n. 12.651/12)
O instituto da Reserva Legal é mais um dos instrumentos pelos quais o legislador brasileiro

busca criar uma ponte entre estes dois interesses fundamentais: meio ambiente diverso e
sustentável e o direito ao desenvolvimento econômico. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito

Ambiental Esquematizado; Ed. Juspodivm) No que diz respeito à “reserva legal”, destaca-se a
seguinte jurisprudência do STJ: “Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural

sem matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro
da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal)
instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a concentrar as informações ambientais

dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no Registro de Imóveis (art.
18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condição para o registro da sentença

de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal


no CAR. A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente

alterar o órgão responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro
de Imóveis, e agora passou a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR. STJ. 3ª Turma. REsp

1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Área de reserva legal e registro da sentença declaratória de
usucapião. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 25/06/2019

80
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Licença Ambiental:

 CF/88: art. 23, 24 e 225;


 Código Florestal: Lei 12.651/12;
 Decreto 7.830/12;

 Súmula 479, STF

As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas
de indenização.

81
JURISPRUDÊNCIA

Código Florestal

 STJ - AgRg no REsp: 1317806 MG 2012/0080818-4, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data
de Julgamento: 06/11/2012, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/11/2012

ADMINISTRATIVO. CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. NÃO CONFIGURAÇÃO. NECESSIDADE


DO EFETIVO DE APOSSAMENTO E DAIRREVERSIBILIDADE DA SITUAÇÃO. NORMAS AMBIENTAIS.
LIMITAÇÃOADMINISTRATIVA. ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DA PROPRIEDADE. AÇÃO DEDIREITO PESSOAL.
PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. 1. Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade
pelo Poder Público. Desse modo, as restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais,
ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se constituem desapropriação indireta. 2. O que ocorre com
a edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade é a limitação administrativa, cujos prejuízos
causados devem ser indenizados por meio de uma ação de direito pessoal, e não de direito real, como é o caso
da ação em face de desapropriação indireta. 3. Assim, ainda que tenha havido danos aos agravantes, em face de
eventual esvaziamento econômico de propriedade, devem ser indenizados pelo Estado, por meio de ação de direito
pessoal, cujo prazo prescricional é de 5 anos, nos termos do art. 10, parágrafo único, do Decreto-Lei n.
3.365/41.Agravo regimental improvido.

 STF. ADI 3540 MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 1º.9.2005. (Informativo 399)

O Tribunal, por maioria, negou referendo à decisão do Min. Nelson Jobim, Presidente, que deferira pedido de
liminar formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra o
art. 1º da Medida Provisória 2.166-67/2001, na parte em que alterou o art. 4º, caput e §§ 1º a 7º da Lei 4.771/65
(Código Florestal), que dispõem sobre autorização do órgão ambiental para supressão de vegetação em área de
preservação permanente - APP. Entendeu-se que a norma impugnada, ao invés de resultar qualquer efeito lesivo
e predatório ao meio-ambiente, veio a conferir-lhe proteção, viabilizando o exercício, pelo Poder Público, do efetivo
controle estatal sobre o procedimento de supressão de vegetação em APP. Inicialmente, comparou-se o texto do
art. 4º resultante das modificações introduzidas pela MP impugnada com o da sua redação primitiva, elecando-se
diversas consequências danosas advindas com a suspensão dos dispositivos impugnados, dentre as quais: a retirada

82
da garantia de que a supressão de vegetação somente seria permitida em caso de utilidade pública ou de interesse
social; o afastamento da possibilidade de o órgão ambiental autorizar a supressão de vegetação em APP, o que
teria implicado a inversão do sistema constitucional de competências; o afastamento das medidas mitigadoras e
compensatórias que deveriam ser adotadas pelo empreendedor antes da supressão da vegetação; o impedimento
de acesso de pessoas e animais às APP para obtenção de água, sob pena das sanções prescritas na Lei 9.605/98.

 ADI 3540 MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 1º.9.2005. (ADI-3540)

Em seguida, tendo em conta que o art. 4º, caput, alterado pela MP, admite a supressão de vegetação, e não de
APP, e asseverando que somente a alteração e a supressão desta, bem como do regime jurídico que institui,
delimita e disciplina esse espaço protegido, é que se submetem ao princípio da reserva legal, consubstanciado no
art. 225, § 1º, III, da CF, concluiu-se prescindir de lei, em sentido formal, o ato administrativo que, vinculado à
norma legal que disciplina determinado espaço territorial protegido, decide sobre obras ou atividades a serem nele
realizados. Se assim não fosse, estar-se-ia subvertendo o sistema constitucional das competências, atribuindo ao
Legislativo o que seria de competência do Executivo. Em razão desses motivos, reputou-se ausente a plausibilidade
jurídica da pretensão. Considerou-se, também, inexistente o periculum in mora, já que o diploma em questão,
embora editado há mais de 4 anos, veio a ser impugnado apenas em julho de 2005, não havendo que se falar,
outrossim, em risco de danos irreparáveis e irreversíveis às áreas atingidas pela retirada de vegetação, eis que a
própria Constituição da República, no § 2º do seu art. 225, impõe as medidas destinadas à restauração do meio-
ambiente degradado. Afirmou-se se estar, na verdade, diante de periculum in mora em sentido inverso, pois o
deferimento da liminar estaria ocasionando a paralisação de inúmeras atividades econômicas, obras e serviços em
andamento, com prejuízos inestimáveis para o país. Por conseguinte, cassou-se a liminar concedida, restaurando-
se a eficácia e a aplicabilidade do diploma legislativo impugnado. Vencidos os Ministros Carlos Britto e Marco
Aurélio que referendavam a decisão liminar. O Min. Nelson Jobim, Presidente, reformulou sua decisão para
acompanhar o voto do relator.

 STJ - REsp: 1161300 SC 2009/0197645-0, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de


Julgamento: 22/02/2011, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2011

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE COISA JULGADA. VIOLAÇÃO DO § 3º DO
ART. 267 DO CPC NÃO CONFIGURADA. NÃO-DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. AVERBAÇÃO DA DEMANDA NA
MATRÍCULADO IMÓVEL. LEGALIDADE. DIREITO DOS CONSUMIDORES À INFORMAÇÃO E ÀTRANSPARÊNCIA.
PODER GERAL DE CAUTELA. 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obstar a construção
de empreendimento imobiliário de grande porte em Área de Preservação Permanente situada em Jurerê
Internacional, sem licenciamento do Ibama. O acórdão recorrido limitou-se a manter decisão liminar que determinou
a averbação da demanda no cartório de registro de imóveis. 2. As peculiaridades do Termo de Ajustamento de
Conduta, mencionadas em Memorial, não foram analisadas pelo Tribunal a quo, nem debatidas nos Aclaratórios
ou no Recurso Especial, sendo inviável, nessa oportunidade, o pronunciamento do STJ. 3. Não está configurada a
alegada violação do art. 267, § 3º, do CPC, porquanto o Tribunal de origem não afastou a possibilidade de
reconhecimento, de ofício e em qualquer grau de jurisdição, da coisa julgada. Sua recusa em apreciá-la está
83
justificada no fato de que tal preliminar já havia sido rechaçada por decisão anterior, pendente de recurso, sendo
descabida e inoportuna a renovação da mesma questão. Nesse ponto, tampouco ficou demonstrada divergência
jurisprudencial. 4. Quanto ao mérito, observo que a recorrente carece de interesse jurídico tutelável porque a
averbação, em si, obrigação alguma lhe impõe, servindo apenas para informar os pretensos adquirentes da
existência de Ação Civil Pública na qual se questiona a legalidade do empreendimento. 5. Na verdade, o interesse
implícito da empresa, que não se mostra legítimo, é de que inexista prejuízo mediato à sua atividade comercial
com a ampliação da publicidade acerca da demanda, em negativa ao direito básico à informação do consumidor,
bem como aos princípios da transparência e da boa-fé, estatuídos pelo CDC. 6. Impende anotar que a averbação
foi determinada na esteira de acórdão (questionado no REsp 1.177.692/SC) que deferira em parte a liminar pleiteada
pelo Ministério Público para condicionar o prosseguimento das obras à prestação de caução imobiliária equivalente
a 15% do valor comercial dos imóveis, para fins de compensação ambiental, bem como à ciência dos adquirentes.
7. Nesse contexto, o provimento encontra suporte no art. 167, II, item 12, da Lei 6.015/1973, que determina a
averbação "das decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos ou títulos registrados ou averbados".
8. Ressalto ainda que, ao contrário do que sustenta a recorrente, o amparo legal para proceder à averbação não
se restringe ao art. 167, II, da Lei 6.015/1973, porquanto o rol nele estabelecido não é taxativo, e sim exemplificativo,
haja vista a norma extensiva do art. 246 da mesma lei. 9. Na hipótese, a averbação serve para tornar completa e
adequada a informação sobre a real situação do empreendimento, o que se coaduna com a finalidade do sistema
registral e com os direitos do consumidor. 10. Ademais, tal medida está legitimada no poder geral de cautela do
julgador (art. 798 do CPC), que, a par da decisão liminar, considerou-a adequada para assegurar a necessária
informação dos adquirentes acerca do litígio existente. 11. Recurso Especial não provido.

 STJ - REsp: 1056540 GO 2008/0102625-1, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
25/08/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 14/09/2009

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA. ARTS. 3º, INC. IV, E 14, § 1º, DA LEI 6.398/1981. IRRETROATIVIDADE
DA LEI. PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO:
SÚMULA 284/STF. INADMISSIBILIDADE. 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não
exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra,
dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de imóvel já danificado
porque, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao
novo proprietário a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. 3. A solidariedade nessa hipótese decorre
da dicção dos arts. 3º, inc. IV, e 14, § 1º, da Lei 6.398/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). 4. Se
possível identificar o real causador do desastre ambiental, a ele cabe a responsabilidade de reparar o dano,
ainda que solidariamente com o atual proprietário do imóvel danificado. 5. Comprovado que a empresa Furnas
foi responsável pelo ato lesivo ao meio ambiente a ela cabe a reparação, apesar de o imóvel já ser de propriedade
de outra pessoa jurídica. 6. É inadmissível discutir em recurso especial questão não decidida pelo Tribunal de
origem, pela ausência de prequestionamento. 7. É deficiente a fundamentação do especial que não demonstra

84
contrariedade ou negativa de vigência a tratado ou lei federal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e não
provido.

 STF. ADI 1.086, voto do Min. Ilmar Galvão, julgamento em 7-6-01, DJ de 10-8-01.

(...) a atividade de florestamento ou reflorestamento, ao contrário do que se poderia supor, não pode deixar de ser
tida como eventualmente lesiva ao meio ambiente, quando, por exemplo, implique substituir determinada espécie
de flora nativa, com as suas próprias especificidades, por outra, muitas vezes sem nenhuma identidade com o
ecossistema local e escolhidas apenas em função da sua utilidade econômica, com ruptura, portanto, do equilíbrio
e da diversidade da flora local.

 STJ. Resp. 878.467-PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 15/9/2009. (Informativo 407).

Trata-se de Resp em que se discute a decadência para a Administração anular ato administrativo que aprovara um
projeto de reflorestamento. Tal ato, entre outras irregularidades, não teria atendido às manifestações técnicas
produzidas pelo IBAMA e, ainda, evidenciou-se um flagrante desrespeito ao meio ambiente, na medida em que
houve plantio de bambu em áreas de encostas em diversos estágios de desenvolvimento vegetativo, bem como a
utilização de áreas de preservação permanente.

 STF - RE: 586224 SP, Relator: Min. LUIZ FUX. DJe 08.05.2015. (Informativo 776).

(...) No mérito, o Plenário destacou que a questão em análise, diante de seu caráter eclético e multidisciplinar,
envolveria questões sociais, econômicas e políticas – possibilidade de crise social, geração de desemprego,
contaminação do meio ambiente em razão do emprego de máquinas, impossibilidade de mecanização em
determinados terrenos e existência de proposta federal de redução gradativa de uso da queima –, em conformidade
com informações colhidas em audiência pública realizada sobre o tema. (...) seria necessário, portanto, sopesar se
o impacto positivo da proibição imediata da queima da cana na produtividade seria constitucionalmente mais
relevante do que o pacto social em que o Estado brasileiro se comprometera a conferir ao seu povo o pleno
emprego para o completo gozo da sua dignidade. (...) Portanto, mesmo que fosse mais benéfico, para não dizer
inevitável, optar pela mecanização da colheita da cana, por conta da saúde do trabalhador e da população a viver
nas proximidades da área de cultura, não se poderia deixar de lado o meio pelo qual se considerasse mais razoável
pra a obtenção desse objetivo: a proibição imediata da queima da cana ou a sua eliminação gradual. Por óbvio,
afigurar-se-ia muito mais harmônico com a disciplina constitucional a eliminação planejada e gradual da queima
da cana. (...) As normas federais paradigmáticas a tratar do assunto, expressamente, apontariam para a necessidade
de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método
despalhador e facilitador para o corte da cana (Lei 12.651/2012, art. 40, e Decreto 2.661/1998).

85
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86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

87
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 6
SUMÁRIO

DIREITO AMBIENTAL ..................................................................................................................................................... 3

7. Unidades de Conservação da Natureza....................................................................................................... 3

7.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC .......................................................... 3

7.2 As Unidades de Conservação da Natureza ...............................................................................................................10

7.2.1 Unidades de Proteção Integral .......................................................................................................................................11

7.2.2 Unidades de Uso Sustentável ..........................................................................................................................................11

7.2.3 Instituição e supressão das Unidades de Conservação da Natureza ............................................................13

7.2.4 Administração das Unidades de Conservação da Natureza ..............................................................................14

7.3 Unidade de Conservação da Natureza: Estação Ecológica ................................................................................16

7.4 Unidade de Conservação da Natureza: Reserva Biológica .................................................................................17

7.5 Unidade de Conservação da Natureza: Parque Nacional ...................................................................................18

7.6 Unidade de Conservação da Natureza: Monumento Natural ..........................................................................19

7.7 Unidade de Conservação da Natureza: Refúgio Da Vida Silvestre ................................................................20

7.8 Unidade de Conservação da Natureza: Área De Proteção Ambiental..........................................................21

7.9 Unidade de Conservação da Natureza: Área De Relevante Interesse Ecológico .....................................24

7.10 Unidade de Conservação da Natureza: Floresta Nacional .................................................................................25

7.11 Unidade de Conservação da Natureza: Reserva Extrativista .............................................................................26

7.12 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA DE FAUNA ..........................................................................28

7.13 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...............28

7.14 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL ..........30

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 33

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 41

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 54

LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 58

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 62

1
E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 06 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre as Unidades de


Conservação.

Agora, vamos as nossas considerações:

“Unidades de Conservação” apareceu apenas 2 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado

um assunto de baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos
achar que esse assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o

seu aprendizado se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam
sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado

do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

2
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 6

7. Unidades de Conservação da Natureza

7.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da


Natureza - SNUC

As áreas ambientalmente relevantes do nosso país exigem uma proteção especial para

manter as suas características e, assim, promover o direito fundamental ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, de acordo com o art. 225, §1º, I, II, III e VII da Constituição Federal,

que vamos ler novamente para fixar:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
Em consonância com a Constituição Federal, a PNMA estabelece como um dos seus
instrumentos “a criação de espaços especialmente protegidos pelo Poder Público federal,
estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico
e reservas extrativistas” (art. 9º, IV).

3
Para regulamentar a proteção desses espaços, foi editada a Lei 9.985/00, conhecida como

a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, que estabelece


critérios e normas para criação, implantação e gestão das unidades de conservação da natureza.

A referida lei define unidade de conservação como “espaço territorial e seus recursos

ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente


instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime

especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (art. 2º, I).

Ademais, o subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do ecossistema,


integram os limites das unidades de conservação.

Outros conceitos importantes para o seu estudo estão elencados no art. 2º da Lei 9.985/00,

destacando-se:

CONCEITOS IMPOTANTES
O manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a
manutenção, a utilização sustentável, a
restauração e a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
benefício, em bases sustentáveis, às atuais
gerações, mantendo seu potencial de
satisfazer as necessidades e aspirações das
gerações futuras, e garantindo a sobrevivência
dos seres vivos em geral.
Manutenção dos ecossistemas livres de
alterações causadas por interferência humana,
PROTEÇÃO INTEGRAL
admitido apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais.
Aquele que não envolve consumo, coleta,
USO INDIRETO
dano ou destruição dos recursos naturais.
Aquele que envolve coleta e uso, comercial ou
USO DIRETO
não, dos recursos naturais.

4
Exploração do ambiente de maneira a garantir
a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos,
USO SUSTENTÁVEL
mantendo a biodiversidade e os demais
atributos ecológicos, de forma socialmente
justa e economicamente viável.
Sistema de exploração baseado na coleta e
EXTRATIVISMO extração, de modo sustentável, de recursos
naturais renováveis.
Definição de setores ou zonas em uma
unidade de conservação com objetivos de
manejo e normas específicos, com o
ZONEAMENTO propósito de proporcionar os meios e as
condições para que todos os objetivos da
unidade possam ser alcançados de forma
harmônica e eficaz.
Documento técnico mediante o qual, com
fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu
zoneamento e as normas que devem presidir
PLANO DE MANEJO
o uso da área e o manejo dos recursos
naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade.
O entorno de uma unidade de conservação,
onde as atividades humanas estão sujeitas a
ZONA DE AMORTECIMENTO normas e restrições específicas, com o
propósito de minimizar os impactos negativos
sobre a unidade.
Porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre elas o
CORREDORES ECOLÓGICOS
fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem

5
como a manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência áreas com
extensão maior do que aquela das unidades
individuais.

Como visto no capítulo anterior sobre o Código Florestal, as Áreas de Preservação

Permanente e as áreas de Reserva Legal também são espaços territoriais definidos pelo Poder
Público como ambientalmente relevantes e que merecem uma proteção especial. Portanto, no

Brasil, temos as APPs, as áreas de Reserva Legal e as Unidades de Conservação da Natureza


como formas de concretização do mandamento constitucional previsto no art. 225, §1º, III da
CF, acima destacado.

Lembre-se, OABeiro! Toda unidade de conservação da natureza é um espaço especialmente

protegido, mas nem todo espaço especialmente protegido é uma unidade de conservação da
natureza.

6
Vale destacar mais uma vez o que a Constituição dispõe no art. 225 sobre os espaços

territoriais especialmente protegidos: todos os entes federados – União, estados, Distrito


Federal e municípios – podem criar unidades de conservação da natureza. O conjunto de

todas essas unidades forma o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –


SNUC, que se organiza da seguinte forma:

Excepcionalmente, e a critério do CONAMA, podem integrar o SNUC as unidades de


conservação estaduais e municipais que, concebidas para atender a peculiaridades regionais ou

locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por

7
nenhuma categoria prevista na lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara

distinção.

O art. 4º da Lei 9.985/00, que institui do SNUC, estabelece como objetivos desse sistema,
que estão listados a seguir. A familiaridade com esses objetivos do SNUC é muito importante

para entender e fixar os dispositivos da lei, principalmente para que serve cada tipo de unidade
de conservação.

 I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos


no território nacional e nas águas jurisdicionais;
 II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
 III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais;
 IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
 V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
 VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
 VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,
espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
 VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
 IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
 X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos
e monitoramento ambiental;
 XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
 XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a
recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
 XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente.

Em seguida, o art. 5º da mesma lei elenca diretrizes, princípios, que devem reger o SNUC:

Art. 5º – O SNUC será regido por diretrizes que:


I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas
amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e

8
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o
patrimônio biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da
sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de
conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e
gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de
organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas
científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,
monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;
V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e
administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de
conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de
populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e
recursos genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação
sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas
circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento
e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de
recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de
subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que,
uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e
atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as
conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades
de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas
de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de
preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e
recuperação dos ecossistemas.

Como você pode observar, os incisos do art. 5º da Lei 9.985/00 se relacionam diretamente
com os princípios do direito ambiental. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação
claramente foi criado para promover a proteção do meio ambiente ecologicamente sustentável.

9
Entretanto, isso não quer dizer que em todas as situações o meio ambiente será intocável. É

possível garantir o equilíbrio ecológico e, ao mesmo tempo, explorar os recursos naturais.

Portanto, o SNUC tem um relevante papel na promoção e no controle do desenvolvimento


sustentável – equilíbrio entre a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento econômico e a

justiça social.

7.2 As Unidades de Conservação da Natureza

De acordo com a intensidade de proteção de cada área, a Lei 9.985/00, que institui o
SNUC, divide as Unidades de Conservação da Natureza, que chamarmos de “UC”, em duas
grandes categorias: as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável, como

você pode observar na imagem acima.

Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos,


com características específicas:

I - Unidades de Proteção Integral;

II - Unidades de Uso Sustentável.

§ 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo


admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos
previstos nesta Lei.

10
§ 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação
da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

7.2.1 Unidades de Proteção Integral

Na categoria “Unidades de Proteção Integral”, como o próprio nome já sugere, a proteção

ambiental é intensa, total, integral. Nelas, o Poder Público visa a manutenção dos ecossistemas
livres de alterações ou interferências do homem, admitindo-se apenas o uso indireto dos seus

recursos naturais, ou seja, aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos
naturais.

A relevância dessas áreas é tão grande que em determinados casos a lei determina que a

UC de proteção integral seja de domínio público, o que vai desencadear a desapropriação das
áreas incluídas em seus limites por interesse social1

Em outras situações, a lei permite que a UC seja instituída em área de domínio particular,

sem que haja desapropriação, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da UC com a
utilização do imóvel e dos seus recursos naturais pelo proprietário.

Elas são divididas nas seguintes subcategorias de Unidades de Conservação da Natureza –

UC:

7.2.2 Unidades de Uso Sustentável

Na categoria de UC de Uso Sustentável, a proteção ambiental é de menor intensidade do

que as UC de Proteção Integral. O objetivo dessas UC é compatibilizar a conservação da natureza


com o uso sustentável dos seus recursos naturais, que consiste na “exploração do ambiente de

1
Questão 03
11
maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,

mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e


economicamente viável” (art. 2º, XI, Lei do SNUC).

O regime jurídico das Unidades de Uso Sustentável permite a exploração de parcela dos

recursos naturais do local de acordo com o manejo sustentável e observados o respectivo


zoneamento e o Plano de Manejo da UC.

Elas são divididas nas seguintes subcategorias de Unidades de Conservação da Natureza –

UC:

Por fim, vale ressaltar que as unidades de conservação da categoria de Uso Sustentável
podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades da categoria de Proteção Integral,

por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que haja
consulta pública.

12
7.2.3 Instituição e supressão das Unidades de Conservação da

Natureza

De acordo com o art. 22 da Lei do SNUC, as UC serão instituídas por “ato do Poder

Público”. Note que a norma não definiu qual seria esse ato, portanto, a doutrina admite que as
unidades sejam criadas por meio de lei ou por meio de Decreto do Chefe do Poder Executivo 2.

Quanto à supressão ou alteração que gere diminuição da UC, a Constituição Federal, em

seu art. 225, §1º, III, determina que são permitidas somente através de lei. Portanto:

O intuito do legislador em escolher um processo legislativo ou administrativo para a criação


de uma unidade de conservação e um processo legislativo mais rigoroso para a sua supressão

ou diminuição é facilitar a criação de áreas ambientalmente protegidas e dificultar a redução


delas, em consonância com o princípio do não retrocesso dos direitos fundamentais.

Assim, a alteração de uma UC que vise a sua ampliação, sem modificar a sua área

original, pode ser feita por lei ou decreto do Chefe do Poder Executivo.

A criação de uma unidade de conservação, independentemente de ser por meio de lei ou


de decreto, deve indicar a sua denominação, a categoria de manejo, os seus objetivos, limites,

área, o órgão responsável por sua administração e quais são as atividades econômicas, de
segurança e de defesa nacional desenvolvidas.

No caso das Reservas Extrativistas e das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, que

veremos adiante, o ato de criação da unidade também deve indicar a população tradicional que
será beneficiada. Assim como o ato de criação das Florestas Nacionais, Florestas Estaduais e

2
Vide questão 5 desse material.
13
Florestas Municipais, que também veremos adiante, devem indicar a população tradicional

residente.

A instituição de uma UC deve ser precedida de estudos técnicos e, em regra, de consulta


pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a

unidade, contendo informações inteligíveis à população e a outras partes interessadas, ou seja,


sem linguagem puramente técnica3.

Exceto nos casos de Área de Proteção Ambiental – APA e de Reserva Particular do

Patrimônio Natural, ao criar uma unidade de conservação, deve ser observada a sua zona de
amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos, que poderão ter seus limites

definidos no próprio ato de criação da unidade ou posteriormente.

Segundo o STJ, ao criar uma unidade de conservação, o Poder Público torna-se


corresponsável pela fiscalização dos seus atributos naturais e pela manutenção de suas corretas

condições de funcionamento. Inclusive, deve responder de forma solidária com o particular que
eventualmente cause dano à unidade.

Isso se justifica diante da inércia do Estado em situação que deveria agir para evitar o dano

ao meio ambiente, ou mesmo na sua atuação deficiente que, mesmo indiretamente, contribui
para o acontecimento do dano.

7.2.4 Administração das Unidades de Conservação da Natureza

Todas as unidades de conservação devem ter um Plano de Manejo, que deve ser

elaborado no prazo de 5 anos a partir da sua criação. Trata-se de documento técnico que,
com fundamento nos objetivos gerais da unidade, estabelece o seu zoneamento e as normas

que devem presidir o uso da área e o manejo dos seus recursos naturais, inclusive a implantação
das estruturas físicas necessárias à sua gestão (art. 2º, XVII da Lei 9.985/00), funcionando como
uma verdadeira lei interna da unidade.

3
Vide questão 5 desse material.
14
O Plano de Manejo da unidade de conservação deve abranger a sua área, sua zona de

amortecimento e os corredores ecológicos, quando houver, incluindo medidas com o fim de


promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.

A lei proíbe quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização das unidades de

conservação em desacordo com os seus objetivos, Plano de Manejo e regulamentos. Por isso,
até que seja elaborado o Plano de Manejo (que tem um prazo de 5 anos a partir da criação da

unidade para ser feito), todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação
de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos

que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura


residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades
materiais, sociais e culturais.

Como veremos adiante, a elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo


das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção
Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais, Estaduais, Municipais e das Áreas de

Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente.

Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não,


próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas,

constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e


participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a

compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o


desenvolvimento sustentável no contexto regional.

As unidades de conservação podem dispor de Conselho Consultivo ou Conselho

deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por
representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de

terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e,
por populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de

criação da unidade.

Para as unidades de conservação do grupo de Proteção Integral a lei determina que exista
um Conselho Consultivo, entretanto, no caso das unidades de uso sustentável, a lei só faz

15
exigência da formação de um conselho em algumas situações. Nos casos em que o legislador

não determina a existência de um conselho, a sua formação será facultativa.

Vale ressaltar que as unidades de conservação podem ser geridas por organizações da
sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento

a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão. Nesse caso, vale lembrar que, mesmo
transferindo a execução da gestão para uma terceira pessoa, o Estado não pode abdicar do

dever de controle e fiscalização da unidade.

Os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber


recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou sem encargos,

provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas físicas que desejarem


colaborar com a sua conservação.

7.3 Unidade de Conservação da Natureza: Estação Ecológica

De acordo com o art. 9º da Lei do SNUC, A Estação Ecológica é uma UC de proteção


integral e tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas.

É uma das UC que obrigatoriamente são de domínio público e, como mencionado, se as suas
áreas pertencerem a particulares, devem ser desapropriadas.

A criação de uma Estação Ecológica depende da elaboração de estudos técnicos, mas a


realização de uma consulta pública é facultativa4.

A visitação das Estações Ecológicas é restrita ao objetivo educacional de acordo com o que
dispuser o Plano de Manejo de cada unidade ou regulamento específico. Portanto, é correto

afirmar que em regra, é vedada a visitação pública das Estações Ecológicas.

A pesquisa científica desenvolvida em UC Estação Ecológica depende de autorização prévia


do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições

por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

4
Vide questão 5 desse material.
16
Como você já percebeu, a proteção do meio ambiente nas Estações Ecológicas é altíssima.

Por isso, só é permitido que haja alteração dos seus ecossistemas em casos específicos elencados
no art. 9º, §4º da lei do SNUC:

§ 4o Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso


de:
I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;
II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;
III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;
IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele
causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos
ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão
total da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares.
Para fins de curiosidade, atualmente, contamos com 30 Estações Ecológicas federais, 60
Estações Ecológicas estaduais, 7 Estações Ecológicas municipais, totalizando 97 Unidades de

Conservação da Natureza dessa espécie.

7.4 Unidade de Conservação da Natureza: Reserva Biológica

As Reservas Biológicas são UC de proteção integral que, têm como objetivo de promover

a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem
interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de

recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e


preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais (art.

10, caput, da lei do SNUC).

Assim como as Estações Ecológicas, a Reserva Biológica deve ser de domínio público, o
que significa que as áreas particulares incluídas em seus limites precisam ser desapropriadas; e

a sua criação também depende apenas da elaboração de estudos técnicos, sendo a realização
de uma consulta pública facultativa 5.

As visitações públicas nas áreas de Reserva Biológica também são, em regra, vedadas.

Excetua-se, de acordo com o regulamento específico, apenas as visitações com fins


educacionais.

5
Vide questão 5 desse material.
17
Nas áreas de Reserva Biológica, a pesquisa científica depende de autorização prévia do

órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por
este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

Para fins de curiosidade, atualmente contamos com 31 Reservas Biológicas federais, 27

Reservas Biológicas estaduais e 8 Reservas Biológicas municipais, totalizando 66 Unidades de


Conservação da Natureza dessa espécie.

7.5 Unidade de Conservação da Natureza: Parque Nacional

Os parques nacionais foram pioneiros na legislação brasileira no âmbito de espaços


territoriais ambientalmente protegidos. O primeiro Parque Nacional do Brasil foi criado em 1937,

em Itatiaia, com o objetivo de incentivar a pesquisa científica e oferece lazer à população.

Chamamos de “Parque Nacional” a UC criada pela União. As unidades dessa categoria,


quando criadas pelo estado ou município, serão denominadas, respectivamente, “Parque

Estadual” e “Parque Natural Municipal”.

Hoje, os Parques Nacionais são categorizados como UC de proteção integral e possuem


o objetivo básico de preservar os ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza

cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades


de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico.

Segundo a legislação ambiental, o Parque Nacional é de domínio público, sendo que as


áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas.

Como você percebeu, a visitação pública não é proibida nos Parques Nacionais, ao

contrário, o desenvolvimento de atividades de recreação em contato com a natureza e o turismo


ecológico são incentivados. Entretanto, a visitação pública está sujeita às normas e restrições

estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável


por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

Assim como as demais espécies de UC de proteção integral até agora estudadas, as

pesquisas científicas realizadas nos Parques Nacionais devem ter prévia autorização do órgão

18
responsável pela administração da unidade e estará sujeita às condições e restrições por este

estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

De acordo com o STJ, quando o Poder Público cria uma UC como um Parque, torna-se
corresponsável pela fiscalização dos seus atributos naturais e pela manutenção de suas corretas

condições de funcionamento. Visto isso, o Poder Público responderá solidariamente com o


particular que eventualmente cause dano à Unidade de Conservação, justificada pela inércia

em situação em que deveria agir para evitar o dano ao meio ambiente, ou por sua atuação
deficiente que contribuiu para o dano ambiental, ainda que indiretamente.

Atualmente, temos 74 Parques Nacionais, 223 Parques Estaduais e 178 Parques Naturais

Municipais, totalizando 475 UC dessa espécie.

7.6 Unidade de Conservação da Natureza: Monumento


Natural

Os Monumentos Naturais são UC de proteção integral e são definidos pela Convenção


para a Proteção da Flora, Fauna e Belezas Cênicas dos Países da América, promulgada pelo Brasil

através do Decreto 58.054/66, como

As regiões, os objetos, ou as espécies vivas de animais ou plantas, de interesse estético


ou valor histórico ou científico, aos quais é dada proteção absoluta, como fim de
conservar um objeto específico ou uma espécie determinada de flora ou fauna,
declarando uma região, um objeto, ou uma espécie isolada, monumento natural inviolável,
exceto para a realização de investigações científicas devidamente autorizadas, ou
inspeções oficiais.

A Lei 9.985/00, a lei do SNUC, regulamentou os Monumentos Naturais do Brasil em seu

art. 12, estabelecendo como seu objetivo básico a preservação dos sítios naturais raros,
singulares ou de grande beleza cênica.

Ao contrário das UC até agora estudadas, os Monumentos Naturais podem ser

constituídos por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da
unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Portanto,
em regra, não é preciso desapropriar imóveis para instituir essa espécie de Unidade de
Conservação da Natureza.
19
A criação de uma UC em área de domínio particular configura uma intervenção restritiva

do Estado na propriedade privada, como ocorre nos casos das Áreas de Preservação Permanente
– APPs que já estudamos. Através dessas limitações, o Poder Público estabelece restrições para

a utilização da propriedade privada em benefício do interesse público de proteção dos atributos


naturais do local.

Entretanto, havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas

ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável


pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da

propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.

Quanto à visitação pública dos Monumentos Naturais, está sujeita às condições e


restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão

responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento.

Temos como exemplo de UC da espécie Monumento Natural o Cânion do Rio São


Francisco, localizado entre os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe. De acordo com as

informações do Ministério do Meio Ambiente, existem 5 Monumentos Naturais nacionais, 34


Monumentos Naturais estaduais e 23 Monumentos Naturais municipais, totalizando 62 UC dessa
espécie no Brasil.

7.7 Unidade de Conservação da Natureza: Refúgio Da Vida


Silvestre

O Refúgio de Vida Silvestre é a última espécie de unidade de proteção integral que temos
no Brasil. Previsto no art. 13 da lei do SNUC, tem como objetivo proteger ambientes naturais

onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades


da flora local e da fauna residente ou migratória6.

Assim como os Monumentos Naturais, os Refúgios de Vida Silvestre podem ser

constituídos por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da
unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.

6
Vide questão 6 desse material.
20
Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não

havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela


administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da

propriedade, a lei prevê que a área deve ser desapropriada.

A visitação pública das áreas de Refúgio de Vida Silvestre está sujeita às normas e
restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão

responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

A pesquisa científica desenvolvida nas UC de Refúgio da Vida Silvestre depende de


autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às

condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

De acordo com os dados disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente, existem 77


Refúgios da Vida Silvestre no Brasil, sendo 9 instituídos pela União, 55 instituídos pelos estados

e 13 instituídos pelos municípios.

Com isso, temos o total de 663.474 Km² de área de proteção integral do meio ambiente
nos de 8.511.000 Km² do território brasileiro.

7.8 Unidade de Conservação da Natureza: Área De Proteção


Ambiental7

Trata-se de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, em geral extensa, com um

certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,

e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de


ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais 8.

As Áreas de Preservação Ambiental, que chamaremos de APA, podem ser constituídas por

terras de domínio público ou privado9. Quando instituídas em imóveis privados, a APA pode
estabelecer normas e restrições para a sua utilização, respeitando os limites constitucionais.

7
Questão 1
8
Vide questão 10 desse material.
9
Vide questão 7 desse material.
21
Quando a APA está localizada em propriedade privada, o respectivo proprietário é o

responsável por estabelecer as condições de visitação pública e de realização de pesquisa


científica na área, observadas as exigências e restrições legais.

Quando a APA está localizada em propriedade de domínio público, as condições de

visitação pública e de realização de pesquisa científica na área será de responsabilidade do


órgão gestor da unidade.

A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho Consultivo e Deliberativo

presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente10, conforme se

dispuser no regulamento da lei do SNUC.

Ao elaborar o Plano de Manejo da uma Área de Proteção Ambiental, deve ser garantida
a participação ampla da população residente, que também terá voz na sua implementação e

em eventual atualização.

A Lei Complementar 140/11 estabelece um tratamento especial quanto à instituição da


competência para o licenciamento ambiental e para a supressão de vegetação das APAs,

lembra?

Em regra geral, o ente federativo instituidor é o critério usado para definir a competência
para o licenciamento ambiental e para a aprovar a supressão de vegetação em Unidades de

Conservação da Natureza.

10
Vide questão 4 desse material.
22
Entretanto, nos casos das Áreas de Proteção Ambiental, o legislador optou por adotar

critério diverso para a definição de competência dos respectivos licenciamentos ambientais e


para as aprovações de supressões de suas vegetações.

De acordo com o parágrafo único do art. 12 da LC 140/11, a definição do ente federativo

responsável pelos licenciamentos e autorizações em APA seguirá os critérios previstos nas


alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7º, no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do

inciso XIV do art. 9º do diploma legal, que dispõem:

Art. 7º São ações administrativas da União: (...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;

b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona


econômica exclusiva; (...)

e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;

f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do


Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme
disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (...)

h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;

Art. 8º São ações administrativas dos Estados: (...)

XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores


de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o;

Art. 9º São ações administrativas dos Municípios:

XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei
Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade;

23
Assim, o órgão ambiental competente para licenciar uma atividade ou um empreendimento

em APA não será necessariamente órgão ambiental do ente federado que a instituiu.

Como exemplo, uma atividade que pretende ser desenvolvida em APA estadual pode ter
como licenciador um órgão ambiental municipal quando essa atividade cause ou possa causar

apenas impacto ambiental de âmbito local.

Atualmente existem 37 APAs federais, 200 APAs estaduais e 138 APAs municipais,
totalizando 375 Áreas de Proteção Ambiental no Brasil.

7.9 Unidade de Conservação da Natureza: Área De Relevante


Interesse Ecológico

A Área de Relevante Interesse Ecológico é uma espécie de UC de uso sustentável.


Geralmente trata-se de uma área de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação

humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da


biota regional.

Essas Unidades de Conservação têm como objetivo manter os ecossistemas naturais de

importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a


compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.

Podem ser constituídas por terras de domínio público ou privado e respeitados os limites

constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma


propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.

Como vimos, as Unidades de Conservação da Natureza possuem Conselhos de

administração. Entretanto, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico não estão obrigadas a


implantar este Conselho, pois a inexistência de previsão legal expressa torna-o facultativo neste
caso.

24
Não é facultativa, entretanto, a elaboração de um Plano de Manejo para a unidade, que

deve contar com a ampla participação da população residente11.

Existem 59 Áreas de Relevante Interesse Ecológico instituídas no Brasil, sendo 13 federais,


30 estaduais e 16 municipais.

7.10 Unidade de Conservação da Natureza: Floresta Nacional

A Floresta Nacional é mais uma espécie de UC de uso sustentável. Ela consiste em uma
área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo

básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase
em métodos para exploração sustentável de florestas nativas 12.

Assim como no caso dos Parques Nacionais, chamamos de Floresta Nacional as UC

instituídas pela União, de Floresta Estadual as UC instituídas pelos estados e de Floresta


Municipal as UC instituídas por municípios.

Trata-se de uma UC de domínio público, ou seja, as áreas particulares incluídas em seus

limites devem ser desapropriadas. Entretanto, nas Florestas Nacionais é admitida a permanência
de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação 13, em conformidade com o

disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade, que deve ser elaborado com ampla
participação dessa população.

A visitação pública da sua área é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o

manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.

Já a pesquisa, além de permitida, é incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão


responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e

àquelas previstas em regulamento.

11
Vide questão 4 desse material.
12
Vide questão 8 desse material.
13
Vide questão 4 desse material.
25
A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável

por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da


sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes.

A título de curiosidade, temos 67 Florestas Nacionais, 41 Florestas Estaduais e nenhuma

Floresta Municipal atualmente no Brasil, totalizando 108 UC dessa espécie em todo o nosso
território.

7.11 Unidade de Conservação da Natureza: Reserva Extrativista

Para contextualizar a previsão legal de uma Unidade de Conservação da Natureza destinada


ao extrativismo precisamos contar a história de Chico Mendes. Ele foi um ativista político e

ambiental que buscava a preservação das atividades seringueiras na Amazônia e foi premiado
e reconhecido de várias formas por seu ativismo e contribuições para o desenvolvimento

sustentável.

Chico Mendes idealizou uma proposta de desenvolvimento sustentável da Amazônia


brasileira, buscando o equilíbrio entre o crescimento econômico, a justiça social e a conservação

ambiental. Em 1985, mais de 100 seringueiros criaram o Conselho Nacional dos Seringueiros
(CNS), entidade representativa que teve como proposta a fundação das Reservas Extrativistas.

Através desse movimento liderado por Chico Mendes, foi editada a Lei 7.804/89, que prevê
a possibilidade da instituição de Reservas Extrativistas pelo Poder Público.

A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e

na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de
vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da

unidade (art. 18 da lei do SNUC).

A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações


extrativistas tradicionais14. Portanto, os imóveis particulares que estejam incluídos nos limites

dessa unidade, devem ser desapropriados.

14
Vide questão 4 desse material.
26
A utilização dessas terras públicas pelas populações extrativistas tradicionais é feita através

de um contrato de concessão de direito real de uso. Essa forma de concessão salvaguarda o


patrimônio da Administração Pública, evita a alienação dos bens, mantém as populações

extrativistas tradicionais na área da unidade e possibilita a exploração sustentável dos seus


recursos naturais.

O ato de criação de uma Reserva Extrativista deve indicar qual é a população extrativista

tradicional que será beneficiada. E essa população deve ter ampla participação na elaboração,
atualização e implementação do Plano de Manejo da unidade.

A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão

responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de


organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se

dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. Esse Conselho será o responsável


pela aprovação do Plano de Manejo da respectiva Reserva Extrativista.

A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo

com o disposto no Plano de Manejo da área. A pesquisa científica é permitida e incentivada,


sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às
condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento.

Nas unidades de conservação da natureza da espécie Reserva Extrativista, a lei proíbe


expressamente a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional; o uso
de espécies localmente ameaçadas de extinção ou práticas que danifiquem os seus habitats; e

práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos ecossistemas.

Por outro lado, é permitida a exploração comercial dos recursos madeireiros, desde que
em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades

desenvolvidas na Reserva Extrativista.

No Brasil, existem 85 Reservas Extrativistas, sendo 66 instituídas pela União e 29 instituídas


pelos estados federados. Atualmente não existem Reservas Extrativistas municipais.

27
7.12 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA DE
FAUNA

A Reserva de Fauna é uma UC de uso sustentável que consistem em uma área natural

com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias,


adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos

faunísticos.

Trata-se de uma unidade de conservação de domínio público e, portanto, as propriedades


particulares que estejam em seus limites devem ser desapropriadas.

A visitação pública pode ser permitida nas Reservas de Fauna, desde que compatível com

o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua
administração. Nesse contexto, o §3º do art. 19 da lei do SNUC veda expressamente a caça

amadorística ou profissional nas Reservas de Fauna.

A realização de pesquisas científicas nas Reservas de Fauna devem ser previamente


autorizadas e ficarão sujeitas à fiscalização do órgão responsável por sua administração. A

comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto


nas leis sobre fauna e regulamentos.

A criação de um Conselho é facultativa nos casos das UC Reservas de Fauna, pois a lei é

silente quanto ao tema.

Curiosamente, ainda não existem áreas destinadas à Reserva de Fauna em nosso país.

7.13 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Reserva de Desenvolvimento sustentável é uma UC de uso sustentável que a Lei do

SNUC define como uma área natural que abriga populações tradicionais 15, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao

15
Vide questão 4 desse material.
28
longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel

fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.

O objetivo básico dessa unidade de conservação é preservar a natureza e, ao mesmo


tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos

modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais,
bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do

ambiente, desenvolvido por estas populações. Ou seja, equilibrar a proteção do meio ambiente,
com o crescimento econômico e a justiça social = desenvolvimento sustentável.

Trata-se de uma unidade de domínio público e, quando necessário, as propriedades

particulares que estiverem localizadas em seus limites devem ser desapropriadas.

O uso dessas terras públicas que são ocupadas pelas populações tradicionais deve ser
regulado por meio de um contrato de concessão de direito real de uso. Assim como nas Reservas

Extrativistas, o ato de criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável deve indicar qual
a população tradicional será beneficiada e essa população deve ter ampla participação na

elaboração, atualização e implementação do respectivo Plano de Manejo.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo,


presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de

órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na


área. Esse conselho deve aprovar o Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável, definindo suas zonas de proteção integral, de uso sustentável, de amortecimento e

privilegiando a formação de corredores ecológicos.

As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável devem obedecer


a algumas condições legais:

 É permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses


locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área;
 É permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à
melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental,
sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da

29
unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em
regulamento;
 Deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população
e a conservação; e
 É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de
manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis,
desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da
área.

7.14 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA


PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL

Como última espécie de unidade de conservação da natureza, temos a Reserva Particular


do Patrimônio Natural. Trata-se de uma UC de uso sustentável, instituída em uma área privada,
gravada perpetuamente, com o objetivo de conservar a diversidade biológica do local.

O gravame constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que


verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro
Público de Imóveis.

A possibilidade de criação de uma reserva ambiental a partir de um patrimônio particular


visa consagrar o princípio da participação democrática no direito ambiental, pelo qual o cidadão
tem o direito de estar engajado na preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A pesquisa científica e a visitação pública, inclusive com objetivos turísticos, recreativos e


educacionais, são permitidas na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme dispuser o
seu respectivo regulamento.

Como qualquer outra UC, a Reserva Particular do Patrimônio Natural, que chamaremos
apenas de Reserva Particular, precisa elaborar um plano ne manejo. Para tanto, sempre que

possível e oportuno, o proprietário do imóvel gravado deve ser orientado técnica e


cientificamente pelos órgãos integrantes do SNUC.

Uma vez instituída a Reserva Particular, cabe ao proprietário do respectivo imóvel a

manutenção da preservação ambiental, a sinalização dos seus limites, a advertência de terceiros

30
quanto a atos que possam interferir na integridade da unidade, elaborar e apresentar um plano

de manejo ao órgão público ambiental competente e encaminhar, anualmente ou sempre que


solicitado, relatório da situação da reserva e das atividades desenvolvidas no local.

Os proprietários de terras destinadas à Reserva Particular do Patrimônio Natural possuem


alguns benefícios legais, como incentivos econômicos, o que materializa o princípio ambiental

do protetor-recebedor.

Exemplo desses benefícios é a isenção do Imposto Territorial Rural – ITR para a área
reconhecida como Reserva Particular, que é um relevante instrumento para o incentivo à

preservação do meio ambiente.

Ainda, os proprietários dessas reservas podem auferir renda para o auxílio da sua
manutenção, como ocorre no caso previsto nos arts. 47 e 48 da lei do SNUC:

Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de


água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por
uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e
implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição
de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação,
deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo
com o disposto em regulamentação específica.

Por fim, outro exemplo de benefício econômico desse tipo de UC é que a propriedade
com área de Reserva Particular superior a 50% da área de Reserva Legal mínima exigida e com

plano de manejo aprovado, possui preferência na concessão de crédito rural pela Administração
Pública federal.

31
A pessoa física ou jurídica, que deseja instituir uma Reserva Particular em toda ou em parte

da sua propriedade, deve fazer um requerimento ao órgão ambiental competente. Em âmbito


federal, a Reserva Particular do Patrimônio Natural é requerida perante a Superintendência

Estadual do IMBA, e declarada mediante portaria deste órgão.

Averbada à matrícula do imóvel, a Reserva Particular só poderá ser extinta ou ter os seus
limites reduzidos mediante lei específica.

Atualmente, temos 993 Reservas Particulares do Patrimônio Natural no Brasil, sendo 670

instituídas no âmbito federal, 321 no âmbito estadual e 2 no âmbito municipal, segundo os


dados fornecidos pelo Ministério do Meio Ambiente.

32
QUADRO SINÓTICO

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA


Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC
formado pelo conjunto de todas as unidades de conservação da
natureza, criado para promover o desenvolvimento sustentável.
Estrutura:
SNUC
 Órgão Consultivo e Deliberativo – CONAMA;
 Órgão Central – Ministério do Meio Ambiente; e
 Órgãos Executores – ICMBio, IBAMA e, em caráter supletivo,
órgãos estaduais e municipais.
Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
CONCEITO
garantias adequadas de proteção.
Ademais, o subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na
estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de
conservação.
 Espécie de espaço territorial protegido;
 Características naturais relevantes;
 Legalmente instituídos;
CARACERÍSTICAS
 Objetivo de conservação;
 Limites físicos definidos; e
 Regime especial de proteção e administração.
UNIDADES DE
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
PROTEÇÃO INTEGRAL
O objetivo básico das O objetivo básico das Unidades de Uso
Unidades de Proteção Sustentável é compatibilizar a
CATEGORIAS
Integral é preservar a conservação da natureza com o uso
natureza, sendo admitido sustentável de parcela dos seus recursos
apenas o uso indireto dos naturais.
seus recursos naturais, com

33
exceção dos casos
previstos em lei.
 Estação Ecológica;
UNIDADES DE  Reserva Biológica;
PROTEÇÃO  Parque Nacional;
INTEGRAL  Monumento Natural; e
 Refúgio da Vida Silvestre.
 Área de Proteção Ambiental – APP;
 Área de Relevante Interesse Ecológico;
 Floresta Nacional;
UNIDADES DE USO
 Reserva Extrativista;
SUSTENTÁVEL
 Reserva de Fauna;
 Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
 Reserva Particular do Patrimônio Natural.
 Criação – Lei ou Decreto do Chefe do Poder Executivo;
INSTITUIÇÃO E
 Supressão ou alteração (para diminuir) – Lei específica.
SUPRESSÃO DA
Se a alteração da UC for para aumentar a sua área, sem modificar a
UNIDADE DE
original, é permitida a alteração por meio de lei ou decreto do Chefe
CONSERVAÇÃO
do Poder Executivo.
 É um documento técnico que, com fundamento nos objetivos
gerais da unidade, estabelece o seu zoneamento e as normas
que devem presidir o uso da área e o manejo dos seus recursos
naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas
necessárias à sua gestão.
PLANO DE MANEJO
 É a lei interna da unidade.
 Deve ser elaborado em 5 anos contados a partir da criação da
UC.
 Deve abranger a área da UC e sua respectiva zona de
amortecimento e corredores ecológicos, quando houver.
 Consultivo ou Deliberativo;
 Presidido pelo órgão responsável por sua administração e
constituído por representantes de órgãos públicos, de
CONSELHO
organizações da sociedade civil, por proprietários de terras
localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural,
quando for o caso, e, por populações tradicionais residentes,

34
conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da
unidade.
 O Conselho Consultivo é obrigatório para todas as UC de
Proteção Integral,
 Quando o legislador não determina a obrigatoriedade de um
Conselho, ele será facultativo.
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL
 Objetiva a preservação da natureza e a realização de pesquisas
científicas;
 Domínio público;
 A consulta pública prévia à sua criação é facultativa;
 Visitação pública: restrita ao objetivo educacional.
 Na Estação Ecológica só se permite alterações do ecossistema
nos casos de:
ESTAÇÃO
a) Medidas que visem restaurar o ecossistema modificado;
ECOLÓGICA
b) Manejo de espécies para preservar a diversidade biológica;
c) Coleta de componentes dos ecossistemas para fins científicos;
d) Pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior
do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta
controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área
correspondente a no máximo três por cento da extensão total
da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares.
 Objetiva a preservação integral da biota e dos demais atributos
naturais da sua área;
 Domínio público;
 A consulta pública prévia à sua criação é facultativa;
RESERVA BIOLÓGICA  Visitação pública: restrita ao objetivo educacional.
 Não admite interferência humana direta ou modificações no seu
meio ambiente, salvo medidas necessárias para recuperar e
preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os
processos ecológicos naturais;
 Quando criados pelos estados ou pelos municípios, chamamos,
PARQUE NACIONAL respectivamente, de “Parques Estaduais” e de “Parque Natural
Municipal”;

35
 Objetiva preservar os ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica;
 Domínio público;
 Visitação pública: permitida.
 Possibilita a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico.
 Objetiva a preservação dos sítios naturais raros, singulares ou de
MONUMENTO grande beleza cênica;
NATURAL  Domínio público ou particular;
 Visitação pública: permitida.
 Objetiva proteger ambientes naturais onde se asseguram
condições para a existência ou reprodução de espécies ou
REFÚGIO DA VIDA
comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.
SILVESTRE
 Domínio público ou particular;
 Visitação pública: permitida.
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
 Em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-
estar das populações humanas;
 Objetiva proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
ÁREA DE PROTEÇÃO
naturais.
AMBIENTAL
 Domínio público ou particular;
 Visitação Pública: permitida;
 Conselho Consultivo de Deliberativo, presidido pelo órgão
responsável por sua administração e constituído por
representantes dos órgãos públicos, de organizações da
sociedade civil e da população residente.
ÁREA DE RELEVANTE  Área de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação
INTERESSE humana, com características naturais extraordinárias ou que
ECOLÓGICO abriga exemplares raros da biota regional.

36
 Objetiva manter os ecossistemas naturais de importância
regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de
modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da
natureza.
 Domínio público ou particular;
 Conselho facultativo.
 Quando criada pelo estado ou pelo município, chamamos,
respectivamente, de “Floresta Estadual” e de “Floresta
Municipal”;
 Área com cobertura florestal de espécies predominantemente
nativas;
 Objetiva o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a
pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração
sustentável de florestas nativas;
FLORESTA
 Domínio público;
NACIONAL
 Admitida a permanência de populações tradicionais que a
habitam no momento da sua criação;
 Visitação pública: permitida;
 Pesquisa científica permitida e incentivada;
 Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o
caso, das populações tradicionais residentes.
 Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente,
na agricultura de subsistência e na criação de animais de
pequeno porte;
 Objetiva proteger os meios de vida e a cultura dessas
RESERVA populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais
EXTRATIVISTA da unidade;
 Domínio público;
 Uso concedido às populações extrativistas tradicionais por meio
de um contrato de concessão de direito real de uso;
 O ato de criação de uma Reserva Extrativista deve indicar qual
é a população extrativista tradicional que será beneficiada;

37
 Visitação pública: permitida, desde que compatível com os
interesses locais;
 Pesquisa científica permitida e incentivada;
 Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e das populações
tradicionais residentes na área.
 É permitida a exploração comercial dos recursos madeireiros,
desde que em bases sustentáveis e em situações especiais e
complementares às demais atividades desenvolvidas;
 Fica proibido:
a) a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou
profissional;
b) o uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou práticas
que danifiquem os seus habitats; e
c) práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos
ecossistemas.
 Área natural com populações animais de espécies nativas,
terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas
para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico
sustentável de recursos faunísticos;
RESERVA DE FAUNA
 Domínio público;
 Visitação pública: permitida;
 Vedada a caça amadorística ou profissional;
 Conselho facultativo.
 Área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos
naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às
condições ecológicas locais e que desempenham um papel
RESERVA DE
fundamental na proteção da natureza e na manutenção da
DESENVOLVIMENTO
diversidade biológica;
SUSTENTÁVEL
 Objetiva preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as
condições e os meios necessários para a reprodução e a
melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos
recursos naturais das populações tradicionais, bem como

38
valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas
de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações;
 Domínio público;
 Uso concedido às populações tradicionais por meio de um
contrato de concessão de direito real de uso, que deve levar em
consideração o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da
população e a conservação;
 O ato de criação de uma Reserva de Desenvolvimento
Sustentável deve indicar qual é a população tradicional que será
beneficiada;
 Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e das populações
tradicionais residentes na área.
 É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas
naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da
cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao
zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área.
 Instituída em uma área privada, gravada perpetuamente;
 Objetiva conservar a diversidade biológica do local;
 Constituída mediante um termo de compromisso assinado
perante o órgão ambiental, que verificará a existência de
interesse público, e será averbado à margem da inscrição no
Registro Público de Imóveis.
RESERVA  Visitação pública: permitida, inclusive com objetivos turísticos,
PARTICULAR DO recreativos e educacionais;
PATRIMÔNIO  Uma vez instituída a Reserva Particular, cabe ao proprietário do
NATURAL respectivo imóvel a manutenção da preservação ambiental, a
sinalização dos seus limites, a advertência de terceiros quanto a
atos que possam interferir na integridade da unidade, elaborar
e apresentar um plano de manejo ao órgão público ambiental
competente e encaminhar, anualmente ou sempre que
solicitado, relatório da situação da reserva e das atividades
desenvolvidas no local.

39
 Averbada à matrícula do imóvel, a Reserva Particular só poderá
ser extinta ou ter os seus limites reduzidos mediante lei
específica.

40
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) O Ministro do Meio Ambiente recomenda ao

Presidente da República a criação de uma Unidade de Conservação em área que possui relevante
ecossistema aquático e grande diversidade biológica. Porém, em razão da grave crise financeira,
o Presidente pretende que a União não seja compelida a pagar indenização aos proprietários

dos imóveis inseridos na área da Unidade de Conservação a ser criada.


Considerando o caso, assinale a opção que indica a Unidade de Conservação que deverá ser

criada.
A) Estação Ecológica.

B) Reserva Biológica.
C) Parque Nacional.

D) Área de Proteção Ambiental.

Comentário:

Lei nº 9.985 de 18 de Julho de 2000

Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.

Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de
unidade de conservação:

I - Área de Proteção Ambiental;

41
Estou justificando as questões e encontrei esse artigo, porém, não achei nada relacionado à
primeira parte da questão:

"O Ministro do Meio Ambiente recomenda ao Presidente da República a criação de uma Unidade

de Conservação..."

Questão 2

(XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Configurada a violação aos dispositivos da Lei do

Sistema Nacional de Unidades de Conservação, especificamente sobre a restauração e


recuperação de ecossistema degradado, o Estado Z promove ação civil pública em face de
Josemar, causador do dano.

Em sua defesa judicial, Josemar não nega a degradação, mas alega o direito subjetivo de
celebração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com a possibilidade de transacionar

sobre o conteúdo das normas sobre restauração e recuperação.


Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.

A) Josemar não possui direito subjetivo à celebração do TAC, que, caso celebrado, não pode

dispor sobre o conteúdo da norma violada, mas sobre a forma de seu cumprimento.
B) O TAC não pode ser celebrado, uma vez que a ação civil pública foi proposta pelo Estado, e
não pelo Ministério Público.

C) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC, sob pena de violação ao princípio da
isonomia, mas sem que haja possibilidade de flexibilizar o conteúdo das normas violadas.

D) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC nos termos pretendidos, valendo o termo
como título executivo extrajudicial, apto a extinguir a ação civil pública por perda de objeto.

Comentário:

Considerando o disposto no Art. 5º, §6º, Lei 7.347/1985 -

42
Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento

de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo

extrajudicial

Questão 3

(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Paulo é proprietário de um grande terreno no qual
pretende instalar um loteamento, já devidamente aprovado pelo Poder Público.

Contudo, antes que Paulo iniciasse a instalação do projeto, sua propriedade foi integralmente

incluída nos limites de um Parque Nacional.

Considerando as normas que regem o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC,

é correto afirmar que

A) Paulo deverá aguardar a elaboração do plano de manejo do parque para verificar a viabilidade
de seu empreendimento.

B) Paulo poderá ajuizar ação com o objetivo de ser indenizado pelo lucro cessante decorrente
da inviabilidade do empreendimento.

C) Caso seu terreno não seja desapropriado, Paulo poderá ajuizar ação de desapropriação
indireta em face da União.
D) Paulo não poderá implementar seu loteamento, mas poderá explorar o ecoturismo na área

com cobrança de visitação.

Comentário:

A questão trata sobre a "Desapropriação que é regra prevista pela Lei 9985/2000 – SNUC, que
assim prevê:

43
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais

de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas


científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de

recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.


§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas

em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) São unidades de conservação que admitem a

habitação ou a permanência de populações tradicionais


A) as reservas extrativistas e as reservas de fauna.

B) as estações ecológicas e as reservas biológicas.


C) as reservas de desenvolvimento sustentável e as florestas nacionais.

D) as reservas de fauna e os parques nacionais.

Comentário:

Entre todas as unidades de conservação, só é permitida a permanência de população

tradicional nas Reservas Extrativistas, nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável e nas


Florestas Nacionais/ Estaduais/ Municipais, neste último caso, quando já a habitavam no

momento da sua criação e em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano


de Manejo da unidade.

44
Questão 5

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Conforme a Lei n.º 9.985/2000, que instituiu o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), os requisitos necessários à criação

de uma unidade de conservação, exceto no caso de estação ecológica ou reserva biológica, são
Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento, a licença de instalação

atesta a viabilidade ambiental e estabelece os requisitos básicos e condicionantes a serem


atendidos nas próximas fases de implementação do projeto.

A) a publicação de lei autorizadora, a realização de estudos técnicos para identificação da


localização, da dimensão e dos limites adequados da unidade, e a elaboração de licenciamento

ambiental.
B) a edição de ato autorizador do Poder Executivo e a realização de estudos técnicos e de
consulta pública para a identificação da localização, da dimensão e dos limites adequados da

unidade.
C) a edição de ato autorizador do Poder Executivo, a elaboração de licenciamento ambiental, a

realização de consulta pública e a verificação da existência de população tradicional residente


no local.

D) a publicação de lei autorizadora, a elaboração de licenciamento ambiental, a identificação da


dimensão e dos limites da unidade e a verificação da existência de população tradicional

residente no local.

Comentário:

A lei do SNUC determina que as unidades de conservação serão criadas por “ato do Poder

Público”, sem especificar qual seria esse ato. Portanto, entende-se que as UC podem ser
criadas por meio de lei ou de Decreto do Chefe do Poder Executivo.

Em regra, a criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos

e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais


adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.

45
Entretanto, nos casos de criação de uma estação ecológica ou de uma reserva biológica,

essa consulta pública é dispensada, sendo facultativa.

Deixamos, portanto, a nossa crítica à elaboração da questão: exceto nos casos de estação
ecológica e de reserva biológica, para criar uma unidade de conservação da natureza se

faz necessário ato do Poder Público (lei ou decreto do Chefe do Poder Executivo) e a
realização de estudos técnicos e de consulta pública para a identificação da localização, da

dimensão e dos limites adequados da unidade.

Questão 6

(MPE-BA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto) O senhor João de Deus possui
uma pequena propriedade localizada na Zona Rural do Município fictício de Águas Claras. A

totalidade da poligonal dessa propriedade passou a ser parte integrante de uma unidade de
conservação, que tem como objetivo “proteger ambientes naturais onde se assegurem

condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da


fauna residente ou migratória” (BRASIL, 2000, p.5). Dentre outras informações repassadas pelo
órgão ambiental, consta que a visitação pública nessa unidade de conservação está sujeita a

normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo, às normas estabelecidas pelo órgão


responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

Com base na situação acima apresentada, e de acordo com a Lei nº 9.985, de 18 de julho de
2000, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), é correto afirmar que

A) a unidade de conservação constituída sobre a propriedade de seu João de Deus é uma Área
de Proteção Ambiental, sendo uma unidade de conservação do grupo de Uso Sustentável. Por

essa razão, não há óbices a que o senhor João de Deus permaneça na área, podendo ser
estabelecidas normas e restrições para a utilização de sua propriedade privada.
B) a unidade de conservação constituída sobre a propriedade de seu João de Deus é uma Área

de Relevante Interesse Ecológico, sendo uma unidade de conservação do grupo de Uso


Sustentável. Nesse caso, o senhor João de Deus poderá permanecer na área, mas podem ser

46
estabelecidas regras, como forma de compatibilizar os objetivos da unidade de conservação,

com a utilização da terra e dos recursos naturais pelo proprietário.


C) a Unidade de Conservação constituída é um Refúgio da Vida Silvestre, sendo uma Unidade

de Conservação do grupo de Proteção Integral. Nesse caso, o senhor João de Deus poderá
permanecer na área, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade de

conservação com sua utilização da terra e dos recursos naturais.


D) a Unidade de Conservação constituída é um parque, sendo uma Unidade de Conservação do
Grupo de Proteção Integral. Nesse caso, a posse e o domínio são públicos, sendo que a área

do senhor João de Deus, incluída em seus limites, será desapropriada, de acordo com o que
dispõe a lei.

E) a Unidade de Conservação constituída é uma Estação Ecológica, sendo esta uma Unidade de
Conservação do Grupo de Proteção Integral. Nesse caso, a posse e o domínio são públicos,
sendo que a área do senhor João de Deus, incluída em seus limites, será desapropriada, de
acordo com o que dispõe a lei.

Comentário:

O Refúgio da Vida Silvestre, é a espécie de unidade de conservação da natureza que


objetiva proteger ambientes naturais onde se assegurem condições para a existência ou
reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

No caso em questão, a Unidade de Conservação constituída na propriedade de João de


Deus é um Refúgio da Vida Silvestre, uma Unidade de Conservação do grupo de Proteção

Integral, que pode ser constituída em áreas particulares.

Nesse caso, o senhor João de Deus poderá permanecer na área, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade de conservação com a utilização da terra e dos

recursos naturais do local pelo proprietário.

Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área destinada ao Refúgio da Vida


Silvestre e as atividades privadas de João de Deus, ou se ele não concordar com as

condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a

47
coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser

desapropriada.

Questão 7

(FCC - 2018 - PGE-AP - Procurador do Estado) Determinado proprietário de área rural com
remanescente de mata nativa realizou a extração ilegal de madeira dentro de sua propriedade.

Responsabilizado pelo Poder Público, o proprietário comprometeu-se a proceder a


recomposição dos danos a essa mata e a convertê-la em unidade de conservação, que ficaria

sob seu domínio e responsabilidade, sem transferência ao poder público. A Unidade de


Conservação prevista na legislação aplicável que melhor atenderá aos requisitos mencionados é

a
A) Reserva Biológica.
B) Área de Proteção Ambiental.

C) Estação Ecológica.
D) Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

E) Reserva Extrativista.

Comentário:

Diante da situação exposta no enunciado, a espécie de unidade de conservação da natureza

que melhor atenderá aos requisitos mencionados, entre as opções dadas pelo examinador,
é a Área de Proteção Ambiental.

Não poderia ser Reserva Biológica, Estação Ecológica, Reserva de Desenvolvimento

Sustentável ou Reserva Extrativista porque todas essas espécies de unidades de


conservação são de posse e domínio público, ou seja, a propriedade privada que se localize

em seus limites deve ser desapropriada, ao contrário do que quer a questão – que a

48
unidade fique sob o domínio e responsabilidade do particular proprietário, sem

transferência ao poder público.

Questão 8

(VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto) No que tange às unidades de


conservação, assinale a alternativa correta.

A) A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas


científicas.

B) O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de


grande relevância ecológica e beleza cênica.

C) Na Estação Ecológica não podem ser permitidas alterações dos ecossistemas.


D) O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é preservar a natureza, sendo admitido
apenas o uso indireto dos seus recursos naturais.

E) A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente


nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a

pesquisa científica.

Comentário:

A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos

naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações


ambientais. A descrição contida na alternativa “A” – tem como objetivo a preservação da

natureza e a realização de pesquisas científicas – refere-se à Estação Ecológica.

O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se
asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da

flora local e da fauna residente ou migratória. A unidade de conservação que tem como

49
objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza

cênica, como aduz a alternativa “B”, é o Parque Nacional.

Quanto à alternativa “C”, na Estação Ecológica, em regra, não são permitidas alterações
dos ecossistemas. Entretanto, a própria lei do SNUC, em seu art. 9º, §4º, estabelece 4

exceções, situações que que são permitidas as alterações dos seus ecossistemas:

I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;

II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;

III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;

IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado

pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em


uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até

o limite de um mil e quinhentos hectares.

O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da


natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. A alternativa “D”

conceituou o objetivo das Unidades de Proteção Integral - preservar a natureza, sendo


admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos
em lei.

Por fim, só nos resta a alternativa “E”, que conceitua a Floresta Nacional de acordo com o
art. 17 da lei do SNUC.

Questão 9

(PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) A SOBREPOSIÇÃO DE UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E TERRITÓRIOS OCUPADOS POR POPULAÇÕES TRADICIONAIS


É UM FATO: DADOS DE 2011 APONTAM A PRESENÇA DE POVOS E COMUNIDADES

50
TRADICIONAIS EM 37% DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS, SENDO 14% EM

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL.


Quando se trata de unidades de conservação de proteção integral onde há a presença de

populações tradicionais, que alternativas podem revelar-se adequadas para enfrentar o


problema?

I – A remoção das populações tradicionais, em caráter excepcional, quando comprovada a


inviabilidade, especialmente de longo prazo, da permanência das populações.
II – A dupla afetação da área como unidade de conservação e como território tradicional,

viabilizada por meio de administração conjunta ou gestão compartilhada.


III – A recategorização da unidade de conservação de proteção integral, para transformá-la em

unidade de conservação de uso sustentável.


IV – A desafetação da unidade, com alteração de seus limites incidentes sobre o território
tradicional, nos casos de incompatibilidade em relação à permanência das comunidades
tradicionais.

A) Todas as alternativas podem revelar-se adequadas.


B) Apenas as alternativas II, III e IV podem revelar-se adequadas.
C) Apenas as alternativas I, II e III podem revelar-se adequadas.

D) Apenas as alternativas II e III podem revelar-se adequadas.

Comentário:

Nenhuma unidade de conservação de proteção integral permite a presença de populações


tradicionais em seu território. Quando determinada área com presença de população
tradicional é afetada como unidade de proteção integral, temos as seguintes opções:

Em primeiro lugar, é possível a remoção das populações tradicionais, em caráter


excepcional, quando comprovada a inviabilidade, especialmente de longo prazo, da
permanência das populações. Essa remoção deve ser feita de acordo com o art. 42 da lei

do SNUC, que determina uma indenização ou compensação pelas benfeitorias existentes


e a recolocação das populações em local e condições acordados entre elas e o Poder

Público.

51
Outra opção para enfrentar o problema proposto pela questão é a dupla afetação da área

como unidade de conservação e como território tradicional, viabilizada por meio de


administração conjunta ou gestão compartilhada. Isso deve ocorrer quando for possível a

harmonização entre os interesses da UC e das populações tradicionais.

A recategorização da unidade de conservação de proteção integral, para transformá-la em


unidade de conservação de uso sustentável é aceitável nos casos em que, por exemplo,

ocorra a perda os atributos que ensejaram a instituição da UC de proteção integral.

Por fim, cabe a desafetação da unidade, com alteração de seus limites incidentes sobre o
território tradicional, nos casos de incompatibilidade em relação à permanência das

comunidades tradicionais.

Questão 10

(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Uma área em geral extensa, com
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais

especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e


que tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de

ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais é considerada, pela


legislação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza,
A) unidade de uso sustentável da categoria área de relevante interesse ecológico.

B) unidade de uso sustentável da categoria reserva de desenvolvimento sustentável.


C) unidade de proteção integral da categoria área de relevante interesse ecológico.

D) unidade de proteção integral da categoria área de proteção ambiental.


E) unidade de uso sustentável da categoria área de proteção ambiental.

52
Comentário:

Segundo a lei do SNUC, a Área de Proteção Ambiental é uma unidade de conservação da

natureza de uso sustentável, que consiste em uma área, em geral extensa, com um certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais

especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações


humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o

processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

53
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - A

Questão 3 - C

Questão 4 - C

Questão 5 - B

Questão 6 - C

Questão 7 - B

Questão 8 - E

Questão 9 - A

Questão 10 - E

54
QUESTÃO DESAFIO

É constitucional a redução de unidade de conservação (UC) por


meio de medida provisória?

Máximo de 5 linhas

55
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

As UCs são espaços territoriais especialmente protegidos. Para o STF, é inconstitucional a


redução de UC por meio de medida provisória, uma vez que o art. 225, §1º, III, da CF exige
lei em sentido estrito, além do que a proteção ao meio ambiente configura um limite

material implícito à edição de MP.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Espaços territoriais especialmente protegidos

Segundo Frederico Amado, as unidades de conservação constituem uma modalidade de espaço


ambiental territorial especialmente protegido a ser instituído pelo Poder Público. Quanto ao seu

conceito legal, resta importante citar o art. 2º, I, da Lei 9.985/00, segundo o qual unidade de
conservação é o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos

de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam


garantias adequadas de proteção”. De acordo com o art. 7º, da Lei 9.985/00, as unidades de

conservação integrantes do SNUC subdividem-se em: 1) Unidades de Proteção Integral, que


possuem a finalidade de preservar a natureza, admitindo apenas o uso indireto dos seus recursos

naturais, com exceção dos casos previstos na lei; 2) Unidades de Uso Sustentável, que possuem
a finalidade de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos

seus recursos naturais.”.

 STF exige lei estrita. Limite implícito à MP.

Nos termos do art. 225, §1º, III, da CF, bem como do art. 22, “caput” e §7º, da Lei 9.989/00, as

unidades de conservação poderão ser criadas por ato do Poder Público, apesar de a sua eventual
diminuição ou supressão exigir a edição de lei específica. Partindo do pressuposto de que as

medidas provisórias possuem força de lei (“vide” art. 62, da CF), existia uma grande divergência
quanto à possibilidade ou não de o Presidente da República editar medida provisória
restringindo o âmbito de uma unidade de conservação. Instado a se pronunciar, o STF pacificou

a matéria: “É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente


protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso

56
viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88. Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação

somente é permitida mediante lei em sentido formal. A medida provisória possui força de lei,
mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito. A proteção ao meio ambiente é

um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente
do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88” (STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel.

Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 - Info 896).

57
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Unidades de Conservação da Natureza:

 CF/88: art. 225;


 PNMA: art. 9º, VI;
 Lei Complementar 140 de 2011: art. 7º, X; 8º, X; e 9º, X;
 Lei 9.985/2000;
 Decreto 5.746/06;
 Decreto 4.340/02.

58
JURISPRUDÊNCIA

Unidades de Conservação da Natureza

 STF. MS n. 25.347-DF. Julgamento 17/02/2010. (Informativo 579).

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DA TERRA DO MEIO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE


ATIVA REJEITADA. REALIZAÇÃO DE ESTUDOS TÉCNICOS E CONSULTA PÚBLICA ÀS POPULAÇÕES INTERESSADAS.
FACULTATIVIDADE DE CONSULTA PÚBLICA PARA A CRIAÇÃO DE ESTAÇÃO ECOLÓGICA (§ 4º DO ART. 22 DA LEI
9.985/00). LEGALIDADE DA CRIAÇÃO DE MAIS DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA A PARTIR DE
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO ÚNICO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA PARA SE PERQUIRIR DE SUPOSTA
SUBSERVIÊNCIA A INTERESSES INTERNACIONAIS. (...) 3. A consulta pública, que não tem natureza de plebiscito,
visa a “subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados” (art. 5º do Decreto 4.340/02)
para a unidade de conservação, sendo facultativa quando se tratar de proposta de criação de estação ecológica ou
reserva biológica (§ 4º do art. 22 da Lei 9.985/00). 4. Não há ilegalidade na criação de mais de um tipo de
unidade de conservação da natureza a partir de um único procedimento administrativo. 5. Por constituírem
matéria fática, dependente de instrução probatória, as suposições da impetrante de que o verdadeiro motivo da
criação da Estação Ecológica da Terra do Meio seria a subserviência brasileira a interesses internacionais não podem
ser aferidas em sede de mandado de segurança. 6. Segurança denegada.

 REsp 1.071.741-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/3/2009.

DANOS AMBIENTAIS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. A questão em causa diz respeito à responsabilização do


Estado por danos ambientais causados pela invasão e construção, por particular, em unidade de conservação
(parque estadual). A Turma entendeu haver responsabilidade solidária do Estado quando, devendo agir para
evitar o dano ambiental, mantém-se inerte ou atua de forma deficiente. A responsabilização decorre da omissão
ilícita, a exemplo da falta de fiscalização e de adoção de outras medidas preventivas inerentes ao poder de polícia,
as quais, ao menos indiretamente, contribuem para provocar o dano, até porque o poder de polícia ambiental não
se exaure com o embargo à obra, como ocorreu no caso. Há que ponderar, entretanto, que essa cláusula de
solidariedade não pode implicar benefício para o particular que causou a degradação ambiental com sua ação, em
detrimento do erário. Assim, sem prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado - que não provocou
diretamente o dano nem obteve proveito com sua omissão - buscar o ressarcimento dos valores despendidos do
responsável direto, evitando, com isso, injusta oneração da sociedade. Com esses fundamentos, deu-se provimento
59
ao recurso. Precedentes citados: AgRg no Ag 973.577-SP, DJ 19/12/2008; REsp 604.725-PR, DJ 22/8/2005; AgRg no
Ag 822.764-MG, DJ 2/8/2007, e REsp 647.493-SC, DJ 22/10/2007.

 STF - AC: 1255 RR, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 16/06/2006, Data de
Publicação: DJ 22/06/2006 PP-00005.

DIREITO AMBIENTAL. CRIAÇÃO DE RESERVA EXTRATIVISTA. PROCEDIMENTO DE INSTITUIÇÃO DESSA UNIDADE DE


USO SUSTENTÁVEL. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONSULTA PÚBLICA (LEI Nº 9.985/2000, ART. 22, §§ 2º E
3º, C/C O DECRETO Nº 4.340/2002, ART. 5º,"CAPUT"). PRECEDENTE DO STF. INSTITUIÇÃO, PELA UNIÃO FEDERAL,
DE RESERVA EXTRATIVISTA EM ÁREA QUE COMPREENDE TERRAS PÚBLICAS PERTENCENTES A UM ESTADO-
MEMBRO DA FEDERAÇÃO. EXISTÊNCIA DE POTENCIAL CONFLITO FEDERATIVO. INSTAURAÇÃO DA COMPETÊNCIA
ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, COMO TRIBUNAL DA FEDERAÇÃO. PRECEDENTES. A QUESTÃO DA
DESAPROPRIAÇÃO, PELA UNIÃO FEDERAL, DE BENS INTEGRANTES DO DOMÍNIO PÚBLICO ESTADUAL.
POSSIBILIDADE DO ATO EXPROPRIATÓRIO, SUJEITO, NO ENTANTO, QUANTO À SUA EFETIVAÇÃO, À PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA DO CONGRESSO NACIONAL (DL Nº 3.365/41, ART. 2º, § 2º). CONTROLE POLÍTICO,
PELO PODER LEGISLATIVO DA UNIÃO, DO ATO EXCEPCIONAL DE EXPROPRIAÇÃO FEDERAL DE BENS INTEGRANTES
DO PATRIMÔNIO IMOBILIÁRIO ESTADUAL. DOUTRINA. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DO REGULAR
PROCEDIMENTO EXPROPRIATÓRIO, INCLUSIVE COM O RECONHECIMENTO DO DEVER DA UNIÃO FEDERAL DE
INDENIZAR O ESTADO-MEMBRO. PRECEDENTES DO STF. CONFLITO ENTRE A UNIÃO FEDERAL E AS DEMAIS
UNIDADES FEDERADAS, QUANDO NO EXERCÍCIO, EM TEMA AMBIENTAL, DE SUA COMPETÊNCIA MATERIAL
COMUM. CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE CONFLITO: CRITÉRIO DA PREPONDERÂNCIA DO INTERESSE E CRITÉRIO
DA COLABORAÇÃO ENTRE AS PESSOAS POLÍTICAS. RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE, EM JUÍZO DE DELIBAÇÃO,
DO CARÁTER MAIS ABRANGENTE DO INTERESSE DA UNIÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA, AINDA, DE SITUAÇÃO DE
IRREVERSIBILIDADE DECORRENTE DA CONSULTA PÚBLICA CONVOCADA PELO IBAMA. MEDIDA LIMINAR
INDEFERIDA.

 STF. ADI 1.086, voto do Min. Ilmar Galvão, julgamento em 7-6-01, DJ de 10-8-01.

(...) a atividade de florestamento ou reflorestamento, ao contrário do que se poderia supor, não pode deixar de ser
tida como eventualmente lesiva ao meio ambiente, quando, por exemplo, implique em substituir determinada
espécie de flora nativa, com as suas próprias especificidades, por outra, muitas vezes sem nenhuma identidade
com o ecossistema local e escolhidas em função de sua utilidade econômica, com ruptura, portanto, do equilíbrio
e da diversidade da flora local (...).

60
ESTUDO COMPLEMENTAR

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61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

Unidades de Conservação. Revista Eletrônica do STJ. 2015. Disponível em


<https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-eletronica-
2015_239_1_capUnidadedeConservacao.pdf> Acesso em: 02.04.2020

Áreas Protegidas. Cadastro Nacional de UCS. Disponível em <https://www.mma.gov.br/areas-


protegidas/cadastro-nacional-de-ucs> Acesso em: 02.04.2020

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

62
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 7
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 3

8. Política Nacional dos Recursos Hídricos ..................................................................................... 3


8.1 Introdução ............................................................................................................................................................. 3
8.1.1 A água na Constituição Federal............................................................................................................................. 4
8.2 Política Nacional de Recursos Hídricos ................................................................................................................. 6
8.2.1 Instrumentos da PNRH .......................................................................................................................................... 8
8.3 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos ............................................................................... 14

9. Política Nacional dos Resíduos Sólidos ......................................................................................................... 22

9.1 Objeto e Campo de Aplicação ............................................................................................................................. 22

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 26

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 27

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 42

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 45

1
E aí, OABeiro! Como vai?

A apostila de número 08 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre as Política Nacional
de recursos Hídricos e Sólidos.

Agora, vamos as nossas considerações:

“Política Nacional de Resíduo Hídrico” apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo
considerado um assunto de baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que
devemos achar que esse assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de
questão, o seu aprendizado se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que
versam sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

Já, “Política Nacional de Resíduos Sólidos” apareceu 3 VEZES nos últimos 3 anos, sendo
considerado um assunto de média recorrência no Exame de ordem. As questões 02, 03 e 04
tratam sobre o referido tema!

A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.

Vamos juntos!

2
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 7

8. Política Nacional dos Recursos Hídricos

8.1 Introdução

Conforme a Constituição Federal de 1988, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é


um direito de todos, um interesse transindividual. Para assegurar a efetividade desse direito, o
legislador constituinte impôs ao Poder Público diversas obrigações, que decorrem do princípio
ambiental da obrigatoriedade de intervenção estatal.

Como já foi explicado neste curso, a intervenção, no âmbito ambiental, do Poder Público
na propriedade privada decorre do seu domínio eminente, que é o poder político que permite
que o Estado influencie todos os bens situados em seu território, seja bem público, bem privado
ou bem não sujeito ao regime normal de propriedade, como a água.

O domínio eminente não se trata de um domínio relacionado com a propriedade, mas


sim com um poder geral do Estado, decorrente da sua soberania, sobretudo em seu território.

Visto isso, os bens naturais situados no Brasil, mesmo que não sejam de propriedade do
Estado, sujeitam-se à interferência do Poder Público, que deve instituir regimes jurídicos
específicos, sempre visando o preceito constitucional do equilíbrio ambiental para as presentes
e futuras gerações.
3
De acordo com a PNMA que já estudamos, os recursos naturais são: a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Neste capítulo, trataremos especificamente do regime jurídico da água, previsto na Lei


9.437/97, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos.

8.1.1 A água na Constituição Federal

Com o advento da Constituição Federal de 1988, as águas do nosso País passaram a ser
bens públicos divididos entre a União e os estados federados, de acordo com os arts. 20 e
26. Portanto, não existem águas particulares em nosso ordenamento jurídico.

O art. 20 da CF/88 define com bens da União1:

Art. 20. São bens da União:


(...)
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
(...)
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
(...)
Como você pode observar no dispositivo acima, o legislador constituinte usou os critérios
do domínio, da extensão e da segurança nacional para classificar os cursos d’água como bens
da União. Ademais, os recursos naturais com potencial energético são considerados bens da
União em razão da relevância econômica para o país.

1
Vide questão 8 desse material.
4
Os potenciais de energia elétrica são sempre bens da União, independentemente de
onde se situem.

Enquanto isso, o art. 26 da CF/88 define como bens dos estados2:

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,


neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; (...)

Portanto, são bens dos estados o curso d’água que tenha início e fim dentro dos limites
territoriais de um estado-membro, e desde que não tenha outra característica que os tornem
bens da União, como o potencial de energia hidráulica.

Por opção do legislador constituinte, os municípios não possuem “domínio” de bens


hídricos.

O art. 22, IV, da CF/88 define como competência privativa da União, ou seja, com
possibilidade de delegação, a competência para legislar sobre águas e energia3. Já o art. 24 da
CF/88 estabelece como competência concorrente entre a União, os estados e o Distrito Federal,
legislar sobre a conservação da natureza, a defesa dos recursos naturais, a proteção do meio
ambiente e o controle da poluição.

Como competência material exclusiva da União, no art. 21, XIX, da CF/88, temos a
instituição de um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e a definição de
critérios de outorga de direitos de seu uso.

2
Vide questão 8 desse material.
3
Vide questão 8 desse material.
5
Já o art. 23 da CF/88, atribui à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios
uma competência material comum para promover a proteção do meio ambiente em
cooperação. Portanto, segundo o inciso XI desse artigo, é competência de todos os entes
federados registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos em seus respectivos territórios.

8.2 Política Nacional de Recursos Hídricos

Instituída pela Lei 9.437/97, a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH baseia-se nos
seguintes fundamentos:

 a água é um bem de domínio público – o legislador ordinário reiterou o


estabelecido pelo legislador constituinte: a água é um bem público, cujo domínio
pertence à União ou ao estado, que passam a gerenciar a sua utilização e
preservação. É, portanto, insuscetível de apropriação pelo particular, que tem apenas
o direito à exploração das águas mediante autorização do Poder Público (outorga);
 a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico – a água é um
recurso finito e, por isso, aplicamos a ela instrumentos econômicos que visam um
uso racional em interesse da coletividade. A atribuição de valor econômico à água
decorre do princípio do direito ambiental do usuário-pagador4;
 em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais – em regra, a PNRH visa o uso múltiplo
das águas, entretanto, em casos emergenciais de escassez, os recursos hídricos
devem ser destinados prioritariamente ao consumo humano e à dessedentação de
animais;
 a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas – com esse fundamento, a PNRH visa beneficiar todos os usuários de forma
indistinta, servindo ao abastecimento humano, à irrigação, às atividades industriais...;
 a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos – bacia hidrográfica é a área na qual ocorre a captação de
água para um rio principal e seus afluentes. Com o presente fundamento, a PNRH

4
Vide questão 10 desse material.
6
define que os Planos de Recursos Hídricos devem ser elaborados por bacia
hidrográfica;
 a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades – o modelo de
gestão implantado pela PNRH é baseado na participação democrática da sociedade
junto ao Poder Público, em respeito ao princípio democrático.

O que são bacias hidrográficas? O conjunto de diversos corpos d’água, como um rio e
seus afluentes, formam uma bacia hidrográfica.

Para que seja feita a gestão descentralizada dos recursos hídricos, são definidas regiões
hidrográficas, que consistem em um espaço territorial, compreendido por uma bacia, grupo de
bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com características naturais, sociais e econômicas
homogêneas ou similares.

5
As 12 Regiões hidrográficas do Brasil. Fonte: CNRH (2003).
7
De acordo com o art. 2º da Lei 9.437/97, a PNRH tem como objetivos:

 Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,


em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos – princípio da
solidariedade intergeracional;
 A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
 A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou
decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
 Incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas
pluviais.

Em seguida, o art. 3º da Lei 9.437/97 estabelece como diretrizes gerais de ação para a
implementação da PNRH:

 A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de


quantidade e qualidade;
 A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas,
demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;
 A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
 A articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e
com os planejamentos regional, estadual e nacional;
 A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
 A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e
zonas costeiras.

Ademais, a União deve trabalhar de forma cooperada com os estados federados para um
gerenciamento comum dos recursos hídricos de interesse comum.

8.2.1 Instrumentos da PNRH

Para alcançar os objetivos acima citados, a PNRH possui os seguintes instrumentos6:

 Planos de Recursos Hídricos;

6
Vide questões 6 e 10 desse material.
8
 Enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo os usos preponderantes da
água;
 A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
 A cobrança pelo uso de recursos hídricos; e
 O Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos.

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores, elaborados para cada bacia
hidrográfica, para cada estado federado e para o País como um todo7, que visam a fundamentar
e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos
recursos hídricos.

Trata-se de plano de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o


período de implantação de seus programas e projetos. Portanto, não há um prazo definido em
lei para o Plano de Recursos Hídricos, no caso concreto, ele deve ser definido de acordo com o
tempo que se deve levar para implementar os seus programas e projetos8.

No mínimo, o Plano de Recursos Hídricos deve conter:

 Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;


 Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades
produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;
 Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em
quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
 Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade
dos recursos hídricos disponíveis;
 Medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem
implantados, para o atendimento das metas previstas;
 Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;
 Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; e
 Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção
dos recursos hídricos.

O enquadramento dos corpos de água em classes segundo o seu uso preponderante


visa assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem

7
Vide questões 8 e 10 desse material.
8
Vide questão 7 desse material.
9
destinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes.

A classificação das águas foi feita pelas Resoluções 357/05 e 396/08 do CONAMA. Nesse
contexto temos o seguinte enquadramento:

 Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5%;


 Águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%; e
 Águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%.

A classificação das águas em doces, salobras e salinas é fundamental para a manutenção


dos seus níveis de qualidade.

O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos


assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos
de acesso à água. Como as águas são recursos naturais, bens públicos de uso comum do povo,
essenciais à sadia qualidade de vida, o seu uso depende de prévia autorização do Poder Público,
inexistindo o direito subjetivo à sua livre utilização.

A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples
direito de seu uso9. Trata-se de um ato administrativo precário (passível de revogação ou
suspensão), com natureza jurídica de autorização administrativa, em que a autoridade pública
competente confere ao outorgado o direito de uso de recursos hídrico, por prazo determinado,
nos termos e condições definidas no próprio ato, de acordo com a legislação vigente.

O prazo máximo de uma outorga para o uso de recursos hídricos é de 35 anos10, renovável,
devendo ser onerosa, condicionada às prioridades de uso estabelecidas no respectivo Plano de
Recursos Hídricos e respeitada a classe de enquadramento da água.

9
Vide questão 10 desse material.
10
Vide questão 8 desse material.
10
Apesar de a regra geral ser o prazo máximo de 35 anos para a validade da autorização
administrativa do direito de uso dos recursos hídricos, a Lei 9.984/00, que cria a Agência Nacional
das Águas – ANA, estabelece que, nos casos das outorgas de direito de uso de recursos hídricos
de domínio da União, os prazos de vigência serão fixados em função da natureza e do porte
do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso, o período de retorno do
investimento.

Visto isso, as outorgas de direito de uso de recursos hídricos para concessionárias e


autorizadas de serviços públicos e de geração de energia hidrelétrica vigorarão por prazos
coincidentes com os dos correspondentes contratos de concessão ou atos administrativos de
autorização.

Ademais, a ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, com a
finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos. A outorga preventiva
não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a reservar a vazão passível de
outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreendimentos que necessitem
desses recursos. O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a
complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de três anos.

A onerosidade da outorga de uso de recursos hídricos não tem natureza tributária. Trata-
se de um preço público, fundamentado no princípio do usuário-pagador.

Estão sujeitos a outorga11 pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos
hídricos, taxados em rol exemplificativo pelo art. 12 da PNRH:12

11
Vide questões 1 e 4 desse material.
12
Vide questão 01
11
 Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
 Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
 Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
 Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; e
 Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo de água.

Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de


Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a
manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. Ademais, a
outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes, considerando
todos os tipos de usuários de forma indistinta.

Por outro lado, estão dispensados de outorga pelo Poder Público:

 O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos


populacionais, distribuídos no meio rural;
 As derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; e
 As acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Mesmo nos casos que não é necessária a outorga, o interessado deve solicitar uma
dispensa de outorga ao órgão ambiental competente, pois não é possível utilizar recursos
hídricos sem antes consultar o Poder Público.

A concessão de outorga não dispensa o processo de licenciamento ambiental de atividade


ou empreendimento, nem mesmo a elaboração de eventual EIA/RIMA. São atos administrativos
distintos, que se produzem em paralelo, mas se relacionam quando um empreendedor deseja
utilizar recursos hídricos em suas atividades ou empreendimentos, pois a outorga é pressuposto
para a concessão da licença de instalação e da licença de operação.

12
A outorga de direito de uso de recursos hídricos concedida pelo Poder Público poderá ser
suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes
circunstâncias:

 Não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;


 Ausência de uso por três anos consecutivos;
 Necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as
decorrentes de condições climáticas adversas;
 Necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
 Necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais
não se disponha de fontes alternativas;
 Necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de
água.

A extinção da outorga para utilização de recursos hídricos ocorre quando há morte do


usuário que seja pessoa física, pois a autorização tem caráter pessoal, quando há liquidação
judicial ou extrajudicial do usuário no caso de o outorgado ser pessoa jurídica, ou quando ocorre
o término do prazo de sua validade sem que seja renovada. Nenhuma dessas hipóteses de
extinção da outorga gera direito à indenização.

Outro instrumento da PNRH é a cobrança pelo uso de recursos hídricos, que objetiva
reconhecer a água como um bem econômico, passível de precificação, dando ao usuário uma
indicação real de seu valor; incentivar a racionalização do seu uso; e obter recursos financeiros
para financiar programas e intervenções previstas nos planos de recursos hídricos.

Na fixação dos valores dessa cobrança, devem ser observados, dentre outros fatores, o
volume retirado e o seu regime de variação nas derivações, captações e extrações de água e,
nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu
regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente.

Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados
prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados13. Eles devem ser utilizados no
financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos

13
Vide questões 5 e 8 desse material.
13
Hídricos; e no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Esses valores não possuem natureza tributária, são tarifas com o intuito de incentivar o uso
racional da água. Portanto, é perfeitamente possível que sejam aplicados de maneira direcionada
acima descrita14. Por isso, não podemos confundir essa cobrança com as taxas (essas sim de
natureza tributária) cobradas pelo fornecimento de água e coleta de esgoto.

Por fim, temos como o último instrumento da PNRH o Sistema de Informações Sobre
Recursos Hídricos. Trata-se de um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação
de informações sobre os recursos hídricos e de dos fatores intervenientes em sua gestão.

São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações sobre Recursos


Hídricos: descentralização da obtenção e produção de dados e informações; coordenação
unificada do sistema; e o acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos tem como objetivos: reunir, dar
consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos
recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e
demanda de recursos hídricos em todo o território nacional; e fornecer subsídios para a
elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

8.3 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

A Lei 9.433/97 institui o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que


possui os seguintes objetivos:

 Coordenar a gestão integrada das águas;


 Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
 Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
 Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos
hídricos; e
 Promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

14
Vide questão 1 desse material.
14
Temos a sua estrutura composta por um Conselho Nacional de Recursos Hídricos; a
Agência Nacional de Águas – ANA; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito
Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos federais, estaduais, distritais de municipais
com competências que se relacionam com a gestão de recursos hídricos; e as agências de
água15.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por representantes dos


Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou no uso
de recursos hídricos, que não poderá ultrapassar a metade mais um do número total de
membros do Conselho16; representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos, que privilegia a gestão cooperativa; representantes dos usuários dos recursos hídricos;
e representantes das organizações civis de recursos hídricos, em razão do princípio da
participação democrática.

Dentre esses componentes do Conselho, o seu presidente será o Ministro de Estado do


Desenvolvimento Regional. Ademais, haverá um Secretário-Executivo, que será um titular do
órgão, integrante da estrutura do mesmo ministério, que seja responsável pela gestão dos
recursos hídricos.

Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

 Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos


nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;
 Arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos;
 Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas
repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;
 Deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;
 Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à
Política Nacional de Recursos Hídricos;

15
Vide questão 10 desse material.
16
Vide questão 7 desse material.
15
 Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
 Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer
critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
 Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e
determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
 Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e
para a cobrança por seu uso;
 Zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB);
 Estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus instrumentos
e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB17); e
 Apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário,
recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao
Congresso Nacional18.

A Agência Nacional de Águas – ANA foi criada pela Lei 9.984/00. Trata-se de uma agência
reguladora, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, com finalidade de
implementar os objetivos e diretrizes da PNRH.

Segundo a Lei 13.848/19, a ANA será dirigida por Diretoria Colegiada composta de 5 (cinco)
membros, nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não coincidentes de 5 (cinco)
anos, vedada a recondução, sendo um deles o Diretor-Presidente, e terá em sua estrutura uma
Procuradoria, uma Ouvidoria e uma Auditoria.

Segundo o art. 4º da Lei 9.984/00, são atribuições da ANA:

Art. 4º da Lei 9.984/00 – A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos,


diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e será desenvolvida
em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cabendo-lhe:
I – supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento
da legislação federal pertinente aos recursos hídricos;

17
Vide questão 9 desse material.
18
Vide questão 9 desse material.
16
II – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e
a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;
III – (VETADO)
IV – outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em
corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts. 5o, 6o, 7o e 8o19;
V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;
VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio
da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da Lei no 9.433, de 1997;
VII – estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia
Hidrográfica;
VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo
uso de recursos hídricos de domínio da União;
IX – arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso
de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22 da Lei no
9.433, de 1997;
X – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e
inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em
articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos
Estados e Municípios;
XI - promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros
da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e
distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o
estabelecido nos planos de recursos hídricos;
XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos
e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido
nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas;
XIII - promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede
hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas
que a integram, ou que dela sejam usuárias;
XIV - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos;
XV - estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos
hídricos;
XVI - prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos;
XVII – propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos,
inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos.
XVIII - participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e supervisionar a
sua implementação.

19
Vide questão 9 desse material.
17
XIX - regular e fiscalizar, quando envolverem corpos d'água de domínio da União, a
prestação dos serviços públicos de irrigação, se em regime de concessão, e adução de
água bruta, cabendo-lhe, inclusive, a disciplina, em caráter normativo, da prestação desses
serviços, bem como a fixação de padrões de eficiência e o estabelecimento de tarifa,
quando cabíveis, e a gestão e auditagem de todos os aspectos dos respectivos contratos
de concessão, quando existentes.
XX - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens (SNISB);
XXI - promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
XXII - coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e encaminhá-lo,
anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de forma consolidada.

Os Comitês de Bacia Hidrográfica são órgãos colegiados com atribuições normativas,


deliberativas e consultivas. Atuam na totalidade de uma bacia hidrográfica, de uma sub-bacia
hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse tributário,
ou em grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.

No âmbito de sua respectiva área de atuação, o Comitê de Bacia Hidrográfica terá


competência para:

 Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a


atuação das entidades intervenientes;
 Arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos
hídricos20;
 Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia21;
 Acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as
providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
 Propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as
acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito
de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos,
de acordo com os domínios destes;
 Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os
valores a serem cobrados; e

20
Vide questão 9 desse material.
21
Vide questão 9 desse material.
18
 Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.

No exercício dessas competências, das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá
recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com
sua esfera de atuação.

Os comitês serão dirigidos por um presidente e um secretário, eleitos dentre os seus


membros. A composição de um Comitê de Bacia Hidrográfica adota um modelo de gestão
participativa, por isso, conta com representantes da União, dos estados e do Distrito Federal
cujos territórios se situam, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação,
representantes dos municípios situados, no todo ou em parte, em suas áreas de atuação,
representantes dos usuários das águas das suas áreas de atuação e representantes das entidades
civis de recursos hídricos com atuação na área da bacia comprovada.

O número dos representantes de cada setor no Comitê de Bacia Hidrográfica dependerá


dos regimentos de cada comitê, assim como os critérios para as indicações. Entretanto, a lei
determina que a representação dos poderes executivos da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios seja limitada à metade do total de membros.

Ainda quanto à composição dos membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas, quando a
respectiva área de atuação for bacia de rio fronteiriço e de transfronteiriços de gestão
compartilhada, a União deve incluir entre os seus representantes um membro do Ministério das
Relações Exteriores;

E nos casos de bacias hidrográficas situadas em territórios indígenas, devem ser incluídos
nos respectivos comitês representantes da FUNAI, entre os representantes da União, e
representantes das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

19
Quanto aos Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal, que
também integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a partir de uma
leitura sistematizada da PNRH, podemos dizer que esses órgãos possuem as seguintes
atribuições:

 Encaminhar questões para deliberação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos;


 Deliberar sobre as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca
expressão, para efeito de isenção de obrigatoriedade de outorga de direito de uso
de recursos hídricos, nas águas de domínio estadual ou distrital;
 Analisar os recursos das decisões dos Comitês de Bacia estaduais;
 Autorizar a criação de Agências de Água em bacias de rios de domínio estadual
mediante solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica; e
 Apreciar propostas de Agências de Água quanto ao enquadramento dos corpos de
água nas classes de uso.

As Agências de Água exercerão a função de secretaria executiva22 do respectivo ou


respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica. Para tanto, uma Agência de Água terá a mesma área
de atuação de um ou mais Comitê de Bacia Hidrográfica.

Art. 44 da Lei 9.433/97 – Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de


atuação:
I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de
atuação;
II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;
III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos
gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e encaminhá-los à instituição
financeira responsável pela administração desses recursos;
V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança
pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;
VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;
VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas
competências;
VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo ou
respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área
de atuação;

22
Vide questão 9 desse material.
20
X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia
Hidrográfica;
XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao
respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo
com o domínio destes;
b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos 23;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos24;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

A criação das Agências de Água depende da autorização do Conselho Nacional de Recursos


Hídricos ou do Conselho Estadual de Recursos Hídricos mediante a solicitação de um ou mais
Comitês de Bacias Hidrográficas. Além disso, está condicionada à prévia existência do respectivo
ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica; e à viabilidade financeira assegurada pela
cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação25.

23
Vide questão 7 desse material.
24
Vide questão 7 desse material.
25
Vide questão 7 desse material.
21
9. Política Nacional dos Resíduos Sólidos

A lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos tem como objetivo principal a substituição
dos lixões por aterros sanitários até o ano de 2014. No entanto, os municípios deverão
elaborar, até 2011, seus planos de gestão de resíduos.

A gestão de resíduos sólidos mexe com toda a estrutura das empresas e, com isso, muda
a atenção do contador também.

Esta lei prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a
prática de hábitos de consumo sustentável e em um conjunto de instrumentos para propiciar o
aumento da reciclagem e reutilização de resíduos sólidos e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos, instituindo a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos:

 Dos fabricantes;
 Importadores;
 Distribuidores;
 Comerciantes;
 O cidação e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na
Logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e pós-consumo.

A PLRS cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação nos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e
metropolitano e municipal; Além de impor que os particulares elaborem seus Planos de
Gerenciamento de Resíduos sólidos.

Importante salientar que este plano coloca o Brasil no mesmo patamar dos países
desenvolvidos no que se refere ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores
de materiais recicláveis e reutilizáveis.

9.1 Objeto e Campo de Aplicação

A lei nº 12.305 de 2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Referida lei
contém 57 artigos.

22
Estão sujeitos a lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado,
responsáveis direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos, e as que
desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos
sólidos.

Os objetivos da PNRS são:

a) proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;


b) não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
c) estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e
serviços;
d) adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma
de minimizar impactos ambientais;
e) redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
f) incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-
primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;
g) gestão integrada de resíduos sólidos;
h) articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor
empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para gestão integrada
de resíduos sólidos;
i) capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
j) regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com
adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação
dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir suas
sustentabilidades operacionais e financeira, observada a Lei n. 11.445/2007;
k) prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para: 1) produtos
reciclados e recicláveis e 2) bens, serviços e obras que considerem critérios
compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;
l) integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que
envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
m) estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;
n) incentivo ao desenvolvimento
o) de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos
processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a
23
recuperação e o aproveitamento energético; e o estímulo à rotulagem
ambiental e ao consumo sustentável

Os instrumentos da PNRS estão arrolados no art. 8º da referida lei! Por sua vez, suas
diretrizes estão dispostas no art. 9º, § 1º e 2º.

Os resíduos sólidos são classificados quanto a origem e quanto a periculosidade. O art.


13, I trata sobre os resíduos sólidos classificados em decorrência da sua origem, e, o inciso II do
art. 13 trata sobre os resíduos sólidos classificados em razão da sua periculosidade.

Os planos deverão ser elaborados pela União, Estados e Municípios, e articulados entre
si, com prazos, estratégias, competências preestabelecidas na lei. A legislação exige um conteúdo
mínimo para cada plano. Além disso, a articulação e a integração serão realizadas entre o Poder
Público, setores empresariais e a coletividade, observando-se as informações armazenadas no
Sistema Nacional de Informação de Resíduos Sólidos — SINIR, Sistema Nacional de Informações
em Saneamento Básico — SINISA e Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente —
SINIMA.

Os planos de resíduos sólidos estão dispostos no art. 14 e parágrafo único da lei nº


12.305/2010.

O destino dos resíduos sólidos é uma questão de saúde pública. Compete à engenharia
sanitária estabelecer critérios adequados para o destino desses resíduos. Estas são as mais
conhecidas formas de disposição dos resíduos sólidos: a) depósito a céu aberto; b) depósito em
aterro sanitário; c) usina de compostagem; d) usina de reciclagem; e) usina de incineração; e f)
usina verde.

A prefeitura de cada Município deverá delimitar o local para a implantação do Centro de


Tratamento de Resíduos Sólidos (CENTRES), que poderá ser administrado pela própria
prefeitura ou por outra concessionária de Serviço Público. Caso haja terceirização, a
municipalidade deverá expedir um tipo de autorização para a empresa concessionária dar início
ao procedimento de licenciamento, sem o qual fica inviabilizada a apreciação do procedimento
pelo órgão estadual. Sem essa autorização, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) não
poderá dar início ao procedimento de licenciamento.
24
Os consórcios públicos constituídos, nos termos da Lei no 11.107, de 2005, com o objetivo
de viabilizar a descentralização e a prestação de serviços públicos que envolvam resíduos sólidos,
têm prioridade na obtenção dos incentivos instituídos pelo Governo Federal.26

Outro ponto importante é a licitação. Não se pode realizar a implantação do aterro sanitário
sem a realização desse procedimento, devendo-se abrir oportunidade às demais empresas que
atuam no ramo.

A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos


previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos
da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à
limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou
financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.27

Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que:

 optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos


sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que
se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos
referidos no § 1o do art. 16;
 implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
formadas por pessoas físicas de baixa renda.

O conteúdo mínimo do plano municipal de questão está disposto no art. 19 da lei da política
nacional dos Resíduos sólidos.

26
Questão 02
27
Questão 04
25
QUADRO SINÓTICO

POLÍTICA NACIONAL DOS RECURSOS HÍDRICOS

 A água é um bem de domínio público;


 A água é um recurso natural limitado, dotado de valor
econômico;
 Em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos
é o consumo humano e a dessedentação de animais;
 A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso
FUNDAMENTOS múltiplo das águas;
 A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
 A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar
com a participação do Poder Público, dos usuários e das
comunidades.

 Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária


disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados
aos respectivos usos;
 A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo
o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
OBJETIVOS sustentável;
 A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de
origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos
naturais.
 Incentivar e promover a captação, a preservação e o
aproveitamento de águas pluviais.

 A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos


aspectos de quantidade e qualidade;
DIRETRIZES
 A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades
físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das
diversas regiões do País;

26
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXVII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) A União edita o Decreto nº 123, que fixa as regras
pelas quais serão outorgados direitos de uso dos recursos hídricos existentes em seu território,
garantindo que seja assegurado o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água.
Determinada sociedade empresária, especializada nos serviços de saneamento básico,
interessada na outorga dos recursos hídricos, consulta seu advogado para analisar a
possibilidade de assumir a prestação do serviço.
Desse modo, de acordo com a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, assinale a opção
que indica o uso de recursos hídricos que pode ser objeto da referida outorga pela União.
A) O lançamento de esgotos em corpo de água que separe dois Estados da Federação, com o
fim de sua diluição.
B) A captação da água de um lago localizado em terreno municipal.
C) A extração da água de um rio que banhe apenas um Estado.
D) O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos pelo meio rural.

Comentário:

Lei 9.433/97, art.12, in verbis "Estão sujeito a outorga pelo Poder Público os direito dos seguintes
usos de recursos hídricos:"

I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo

final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

27
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados
ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um

corpo de água.

Questão 2

(XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Os Municípios ABC e XYZ estabeleceram uma solução
consorciada intermunicipal para a gestão de resíduos sólidos. Nesse sentido, celebraram um
consórcio para estabelecer as obrigações e os procedimentos operacionais relativos aos resíduos
sólidos de serviços de saúde, gerados por ambos os municípios.
Sobre a validade do plano intermunicipal de resíduos sólidos, assinale a afirmativa correta.
A) Não é válido, uma vez que os resíduos de serviços de saúde não fazem parte da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, sendo disciplinados por lei específica.
B) É válido, sendo que os Municípios ABC e XYZ terão prioridade em financiamentos de
entidades federais de crédito para o manejo dos resíduos sólidos.
C) É válido, devendo o consórcio ser formalizado por meio de sociedade de propósito específico
com a forma de sociedade anônima.
D) É válido, tendo como conteúdo mínimo a aplicação de 1% (um por cento) da receita corrente
líquida de cada município consorciado.

Comentário:

Conforme disposto no art. 45 da Lei nº 12.305/2010 (Art. 45. Os consórcios públicos constituídos,
nos termos da Lei nº 11.107/2005, com o objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação

28
de serviços públicos que envolvam resíduos sólidos, têm prioridade na obtenção dos incentivos
instituídos pelo Governo Federal.)

Questão 3

(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Bolão Ltda., sociedade empresária, pretende iniciar
atividade de distribuição de pneus no mercado brasileiro. Para isso, contrata uma consultoria
para, dentre outros elementos, avaliar sua responsabilidade pela destinação final dos pneus que
pretende comercializar.
Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.

A) A destinação final dos pneus será de responsabilidade do consumidor final, no âmbito do


serviço de regular limpeza urbana.
B) A sociedade empresária será responsável pelo retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana.
C) A destinação final dos pneus, de responsabilidade solidária do distribuidor e do consumidor
final, se dará no âmbito do serviço público de limpeza urbana.
D) Previamente à distribuição de pneus, a sociedade empresária deve celebrar convênio com o
produtor, para estabelecer, proporcionalmente, as responsabilidades na destinação final dos
pneus.

Comentário:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores
e comerciantes de

III - pneus;

29
Minha sugestão para Bolão Ltda., sociedade empresária é:

§ 3o do art. 33 da lei 12.305/2010.

III - atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de

materiais reutilizáveis e recicláveis.

Questão 4

(XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) O Município de Fernandópolis, que já possui aterro
sanitário, passa por uma grave crise econômica. Diante disso, o prefeito solicita auxílio financeiro
do Governo Federal para implantar a coleta seletiva de resíduos sólidos, que contará com a
participação de associação de catadores de materiais recicláveis.
Sobre o auxílio financeiro tratado, assinale a afirmativa correta.

A) Não será possível o auxílio financeiro, sob pena de violação ao princípio da isonomia com
relação aos demais entes da Federação.
B) Não será possível o auxílio financeiro, uma vez que a coleta seletiva de resíduos sólidos do
Município de Fernandópolis está sendo realizada parcialmente por associação privada.
C) O auxílio financeiro é possível, desde que o Município possua até 20 mil habitantes ou seja
integrante de área de especial interesse turístico.
D) O auxílio financeiro é possível, desde que o Município elabore plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos.

Comentário:

Lei 12.305/2010 (Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos)

30
Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos
previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos
da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à
limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou

financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.

Questão 5

(CESPE - 2018 - PGE-AM - Procurador do Município) Julgue o próximo item, relativos a


recursos hídricos e florestais.
Valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos podem ser aplicados em
bacia hidrográfica distinta daquela em que forem gerados tais valores.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

A cobrança de valores para o uso de recursos hídricos é um dos instrumentos da PNRH.


Nesse contexto, os valores arrecadados devem ser prioritariamente aplicados na bacia
hidrográfica em que foram gerados, mas não é impossível a sua aplicação em bacia distinta.

Questão 6

(TRF - 2ª Região - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) De acordo a Lei n.
9.433/97, são instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
A) a compensação a Estados membros da Federação.
B) a outorga dos direitos de disposição de recursos hídricos.
C) a cessão gratuita pelo uso de recursos hídricos.
D) a gestão centralizada dos recursos hídricos.
31
E) os Planos de Recursos Hídricos.

Comentário:

De acordo com o art. 5º da PNRH, seus instrumentos são:

 os Planos de Recursos Hídricos;


 o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes
da água;
 a outorga dos direitos de uso, e não de disposição, de recursos hídricos;
 a cobrança pelo uso de recursos hídricos (e não a cessão gratuita);
 a compensação a municípios, e não aos estados;
 o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, que estabelece uma gestão
descentralizada.

Questão 7

(FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 - MPE-MG - Promotor de Justiça Substituto) Sobre


o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:
I. A criação de uma Agência de Água está condicionada à viabilidade financeira assegurada pela
cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação.
II. Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e conterão, entre
outras questões obrigatórias, propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com
vistas à proteção dos recursos hídricos.
III. Compete ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos propor aos Comitês de Bacia
Hidrográfica os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos, bem como o plano de
aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
IV. O número de representantes do poder executivo nos órgãos colegiados do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos não poderá exceder à metade do total dos seus
membros.

32
Assinale a alternativa CORRETA:
A) Os itens I e IV estão corretos.
B) Os itens II e III estão incorretos.
C) Os itens III e IV estão incorretos.
D) Todos os itens estão corretos.

Comentário:

A criação de uma Agência de Água está condicionada à viabilidade financeira assegurada


pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação e à existência prévia
do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica.

Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão uma séria
de questões obrigatórias, que são consideradas o seu conteúdo mínimo.

Essas questões estão elencadas nos incisos do artigo 7º da PNRH e, entre elas, está a
necessidade de o Plano de Recursos Hídricos conter propostas para a criação de áreas
sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

No âmbito da atuação das Agências de Água, podemos vislumbrar a atribuição de propor


ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica os valores a serem cobrados
pelo uso de recursos hídricos e o respectivo plano de aplicação.

Por fim, o número de representantes do poder executivo nos órgãos colegiados do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos não poderá exceder à metade mais um
do total dos seus membros.

33
Questão 8

(VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto) No tocante às águas, nos termos da
Constituição Federal e da Lei das Águas, assinale a alternativa correta.
A) Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não inferior a vinte
e cinco anos, renovável.
B) Os planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica, por Município e por
Estado.
C) São bens da União todas as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em
depósito.
D) Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados
exclusivamente na bacia hidrográfica em que foram gerados.
E) A União tem competência privativa para legislar sobre águas.

Comentário:

Em regra geral, a outorga de direitos de uso de recursos hídricos deve ser feita por prazo
não excedente a 35 anos, sendo renovável. Apesar disso, a Lei 9.984/00, que cria a Agência
Nacional das Águas – ANA, estabelece que, nos casos das outorgas de direito de uso de
recursos hídricos de domínio da União, os prazos de vigência serão fixados em função da
natureza e do porte do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso,
o período de retorno do investimento. Ademais, as outorgas de direito de uso de recursos
hídricos para concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia
hidrelétrica vigorarão por prazos coincidentes com os dos correspondentes contratos de
concessão ou atos administrativos de autorização.

Quanto aos Planos de Recursos Hídricos, o art. 8º da PNRH determina que eles devem ser
elaborados por bacia hidrográfica, por estado e para o País, não incluindo os municípios.

Em relação à cobrança pelo uso dos recursos hídricos, como já foi mencionado, os seus
valores devem ser preferencialmente aplicados na bacia hidrográfica em que foram

34
gerados, mas essa regra não impede situações em que tais recursos sejam aplicados em
bacias diversas.

De acordo com o art. 20 da CF/88, são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes
de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como
os terrenos marginais e as praias fluviais; e os potenciais de energia hidráulica.

As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito são bens dos


estados de acordo com o art. 26 da CF/88, ressalvadas as decorrentes de obras da União.

Por fim, a Constituição Federal estabelece em seu art. 22 a competência privativa da União
para legislar sobre as águas

Questão 9

(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Os comitês de bacias hidrográficas
são
A) competentes para implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens.
B) competentes para outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de
domínio da União, mediante permissão.
C) incompetentes para aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia.
D) incompetentes para arbitrar administrativamente conflitos relacionados a recursos hídricos.
E) incompetentes para o exercício do poder de polícia.

Comentário:

No âmbito da gestão dos recursos hídricos, quem exerce o poder de polícia administrativa
são as Agências de Águas, que são as agências reguladoras.

35
Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua atuação:

 promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a


atuação das entidades intervenientes;
 arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos
recursos hídricos;
 aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;
 acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as
providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
 propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as
acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito
de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos,
de acordo com os domínios destes;
 estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os
valores a serem cobrados; e
 estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.

Por outro lado, compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, entre outras
atribuições elencadas no art. 35 da PNRH, estabelecer diretrizes para implementação da
PNSB, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre
Segurança de Barragens (SNISB) e apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo,
se necessário, recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como
encaminhá-lo ao Congresso Nacional.

Por fim, de acordo com a Lei 9984/00, compete à ANA outorgar o direito de uso de
recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, mediante autorização.

Questão 10

(FMP Concursos - 2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça Substituto) Sobre a Política Nacional
de Recursos Hídricos, assinale a alternativa CORRETA.

36
A) O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é integrado, exclusivamente,
pelos Comitês de Bacia Hidrográfica e pelas Agências de Água.
B) Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados, apenas, por bacia hidrográfica de cunho
regional.
C) São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, entre outros: os Planos de
Recursos Hídricos, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e a cobrança pelo uso de
recursos hídricos.
D) A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos implica alienação parcial das águas.
E) A água é um recurso natural limitado, não dotado de valor econômico.

Comentário:

Em primeiro lugar, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é formado


pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, pela Agência Nacional de Águas, pelos
Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal, pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica, pelos órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, distritais e municipais
cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos, e pelas Agências de
Água.

São instrumentos da PNRH os Planos de Recursos Hídricos, o enquadramento dos corpos


de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga dos direitos de
uso de recursos hídricos e o Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos. Quando aos
Planos de Recursos Hídricos, segundo o art. 8º da PNRH, eles devem ser elaborados por
bacia hidrográfica, por estado e para o País. Já quanto à outorga dos direitos de uso de
recursos hídricos, a sua concessão jamais implicará em alienação parcial das águas, que
são inalienáveis.

Por fim, a PNRH baseia-se no fundamento de que a água é um recurso natural limitado,
dotado de valor econômico.

37
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - B

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 - CERTO

Questão 6 - E

Questão 7 - C

Questão 8 - E

Questão 9 - E

Questão 10 - C

38
QUESTÃO DESAFIO

Quais são os órgãos que compõem o sistema de recursos hídricos?

Máximo de 5 linhas

39
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Integram o SINGREH, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, os conselhos de


recursos hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os comitês de bacias hidrográficas, a
ANA e os órgãos dos poderes públicos Federal, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais,
cujas competências se relacionem.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 CNRH - elaborar plano nacional - define o valor

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) órgão federal, associado ao Ministério do


Meio Ambiente, com composição dos entes federais com interesse na gestão ambiental (IBAMA,
ICMBio, Ministérios que tenham relação com questão hídrica), com representantes dos conselhos
estaduais de recursos hídricos, e com representantes dos integrantes da sociedade civil e dos
usuários. O referido órgão tem duas funções principais: (a) elaborar o plano nacional de recursos
hídricos; (b) definir o valor para cobrança da água federal, destaca-se que, conforme o artigo 1,
inciso II, da Lei n. 9.433/97, o valor econômico da água é um fundamento da Política Nacional
de Recursos Hídricos. Para desempenhar o mister de definir o valor da água federal será ajudado
pela Agência Nacional de Águas - ANA (autarquia federal) – artigo 41 e seguintes da Lei n.
9.433/97 - que tem por finalidade, especialmente, conferir a outorga do bem e assegurar o
pagamento e cobrança de valores. Apesar de a ANA não fazer concessão de serviços públicos,
é considerada uma agência, na modalidade de autarquia sob regime especial. Esse regime se
manifesta na questão de seus diretores, uma vez que estes são escolhidos pelo Presidente da
República, para um mandato fixo de 4 anos. Estes diretores só poderão ser demitidos ad nutum
nos primeiros 4 meses do mandato, posteriormente só podem sair se houver sentença judicial
transitada em julgado; se houver processo administrativo que os apene; se o próprio diretor
quiser sair. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito Ambiental Esquematizado; Ed. Juspodivm)

 Conselho Estadual- Comitê de Bacia -Agência Água

Os Conselhos Estaduais e Distrital são órgãos que em relação aos respectivos recursos hídricos
têm a mesma competência do Conselho Nacional. Comitê de Bacia é o órgão autorizado pelo
Conselho Nacional ou pelo Conselho Estadual de natureza política, propiciando um espaço de

40
debate (artigo 38, inciso I, da Lei n.9.433/97). A Agência de Água, por sua vez, consiste em um
órgão executivo pode realizar a atividade de concessão; de registro das outorgas; controlar a
cobrança dos recursos relacionados e ele. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito Ambiental
Esquematizado; Ed. Juspodivm)

41
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Política Nacional dos Recursos Hídricos:

 CF/88: art. 20, 21, 22, 23, 24, 26 e 225;


 PNMA: art. 3º, V;
 Lei 9.433/97;
 Decreto 24.643/34;
 Lei 9.984/00;
 Lei 13.848/19;

42
JURISPRUDÊNCIA

Política Nacional dos Recursos Hídricos

 STJ - CC: 97359 SP 2008/0157898-8, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:
10/06/2009, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe 24/06/2009.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL E JUÍZO ESTADUAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. IMÓVEL QUE

CONFRONTA COM RIO FEDERAL. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. De acordo com a
Nota Técnica n. 18/2005/NGI e a Resolução n. 399 da Agência Nacional de Águas - ANA, o Rio Piracicaba, por
banhar mais de um estado da Federação, é considerado federal, nos termos do artigo 20, III, da Constituição
Federal. Conflito conhecido, declarando-se competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Piracicaba- SJ/SP.

 STJ - REsp: 848287 RS 2006/0107872-6, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento:
17/08/2006, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 14/09/2006 p. 289.

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. DECRETAÇÃO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. REQUERIMENTO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 8º, IV, DA LEF, 219, § 4º, DO CPC, E 174, PARÁGRAFO ÚNICO,

DO CTN. SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ÁGUA E COLETA DE ESGOTO. TAXA. NATUREZA TRIBUTÁRIA.

PRECEDENTES. (...) 5. O serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto é cobrado do usuário pela entidade
fornecedora como sendo taxa, quando há compulsoriedade. Tem-se, in casu, serviço público concedido, de natureza
compulsória, visando atender necessidades coletivas ou públicas (...).

43
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44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

CONHEÇA MAIS SOBRE 12 REGIÕES HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS. Tratamento de Água. Disponível em


<https://www.tratamentodeagua.com.br/artigo/conheca-mais-sobre-12-regioes-hidrograficas-brasileiras/

https://www.ana.gov.br/> Acesso em: 03.04.2020

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

45
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 8
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL ........................................................................................................................................................ 2

1. Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente ............................................................................................ 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Ação Civil Pública .................................................................................................................................................. 6

1.2.1 Inquérito Civil....................................................................................................................................................... 12

1.2.2 Compromisso De Ajustamento de Conduta .......................................................................................... 13

1.3 Ação Popular ........................................................................................................................................................ 15

2. Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente ............................................................................... 22

2.1 Lei de Crimes Ambientais ............................................................................................................................... 22

2.2 Responsabilidade penal................................................................................................................................... 24

2.2.1 Responsabilidade penal das pessoas jurídicas ...................................................................................... 25

2.2.2 Responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito público ............................................... 28

2.3 Aplicação da Pena ............................................................................................................................................. 29

2.3.1 Penas restritivas de direitos........................................................................................................................... 32

2.3.2 Suspensão condicional da pena .................................................................................................................. 34

QUADRO SINÓTICO ....................................................................................................................................................... 40

QUESTÕES COMENTADAS .......................................................................................................................................... 42

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 52

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 56

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 66

1
E aí, OABeeiro! Como vai?

A apostila de número 08 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre a Tutela Processual
Coletiva do Meio Ambiente.

Agora, vamos as nossas considerações:

Este assunto apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de
baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos achar que esse
assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o seu aprendizado
se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam sobre esse tema para
que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?

Vamos juntos!

2
DIREITO AMBIENTAL

Capítulo 8

10. Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente

10.1 Introdução

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental transindividual, ou


seja, todas as pessoas, independentemente de serem ou não residentes no País, brasileiros natos
ou naturalizados, inclusive as futuras gerações, são interessadas na garantia da sua integralidade.
Portanto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado tem titularidade coletiva.

Os direitos fundamentais não estão previstos exaustivamente no rol do art. 5º da CF/88,


existem direitos fundamentais espalhados pelo texto constitucional. Por exemplo, são direitos
fundamentais a anterioridade eleitoral (art. 16 da CF), a irretroatividade tributária (art. 150, III, a,
da CF) e o meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF). É o que chamamos de
direito fundamental material.

Não custa nada recordar que o caput do art. 225 da CF/88 dispõe que “todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

3
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

De acordo com o dispositivo constitucional, podemos classificar o direito fundamental ao


maio ambiente ecologicamente equilibrado como um interesse difuso e um direito de terceira
geração.

Interesse difuso: os direitos coletivos podem ser divididos em direitos difusos, coletivos
propriamente ditos e individuais homogêneos. Todos eles tutelam interesses que extrapolam a
esfera do indivíduo, mas cada um guarda as suas peculiaridades, que os diferenciam. Os
interesses e direitos difusos, especificamente, são aqueles indivisíveis, que possui como titulares
pessoas indeterminadas ligadas por uma circunstância de fato. O direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é classificado como um direito difuso porque é um bem indivisível
e envolve a sociedade como um todo, já que não é possível determinar com precisão quem é
ou não atingido por um dano ambiental.

Direito de terceira geração: diante das classificações do constitucionalismo moderno, o


direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos direitos de terceira geração,
também chamados de direitos de fraternidade ou de solidariedade. A principal característica
diferenciadora dos direitos de terceira geração é não se destinarem à proteção de interesses
individuais de pessoas ou Estados, eles se destacam pela universalidade. Na tutela do meio
ambiente o grande destinatário é a humanidade, o que consagra o princípio da solidariedade.

Em sede de julgamento de um recurso em Ação Civil Pública que pleiteava a reparação de


danos ambientais causados à uma comunidade indígena, decorrentes da extração ilegal de
madeira, devido ao caráter transindividual e difuso do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, o STJ entendeu que o direito à reparação por dano ambiental é imprescritível, nos

4
seguintes termos: “a prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como
mecanismo de segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece
grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui
direito difuso” (REsp. 1.120.117-AC).

Independentemente de ser ou não expresso em texto legal, a hermenêutica exercida pelo


Tribunal Superior entende que o direito ao pedido de reparação civil por dano ambiental é
imprescritível porque se trata de direito inerente à vida, fundamental e essencial à firmação
dos povos. Diante do conflito entre a segurança jurídica em favor do causador do dano
ambiental, materializada pela prescrição, e a forma mais benéfica de tutelar do bem jurídico
coletivo, indisponível, fundamental e que antecede todos os demais direitos (pois sem o meio
ambiente ecologicamente equilibrado não há vida, saúde, trabalho ou lazer), obviamente o este
último prevalece1.

A reparação civil do dano ambiental vem ganhando destaque na jurisprudência brasileira,


que encara a responsabilidade do degradador com firmeza e com maiores implicações, como
por exemplo, imputando-lhe a responsabilidade objetiva fundamentada no simples risco de
dano ambiental ou no simples fato de sua atividade ser danosa ao meio ambiente,
independentemente da caracterização de culpa. Ademais, visando a reparação integral do dano
ambiental, a responsabilidade civil é solidária entre os poluidores diretos e indiretos.

No presente capítulo, passaremos a estudar os instrumentos processuais para a proteção


do direito fundamental difuso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O sistema do Código de Processo Civil de 1973, nitidamente individualista, era insuficiente


para tutelar interesses transindividuais que surgiam com a massificação social. Não adiantava a
Constituição prever o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e garantir acesso à
justiça, sem viabilizar técnicas processuais que viabilizassem a pretensão. Nesse contexto, foi
criado o que chamamos de microssistema processual da tutela coletiva, composto pela Lei
4.717/65 (Lei de Ação Popular), Lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública) e Lei 8.078/90 (Código
de Defesa do Consumidor).

1
Vide questão 7 e 10 desse material.
5
Especificamente quanto ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CF/88 elenca a
Ação Civil Pública e a Ação Popular como os instrumentos para garantir a sua proteção:

Art. 129, CF/88 – São funções institucionais do Ministério Público: (...)

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Art. 5º, LXXIII, CF/88 – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

Lembre-se: a proteção do meio ambiente abrange o meio ambiente natural, como a fauna
e a flora; o meio ambiente artificial, como o espaço urbano; o meio ambiente cultural, como o
patrimônio histórico; e o meio ambiente do trabalho.

10.2 Ação Civil Pública

A Ação Civil Pública está disciplinada na Lei 7.347/85. Trata-se de um instrumento


processual de extrema importância para a proteção do meio ambiente. Através dessa ação, os
seus legitimados podem pleitear perante o judiciário a cessação de ato lesivo ao meio ambiente,
assim como a recuperação de áreas degradadas e eventual pagamento de reparação por dano
ambiental2.

As disposições da Lei de Ação Civil Pública aplicam-se à tutela preventiva ou reparatória,


fundamentada em danos morais ou patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor,

2
Vide questão 5 desse material.
6
aos bens e direitos de valor histórico, turístico e paisagístico, à qualquer outro interesse difuso
ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbana, à honra e à dignidade de grupos raciais,
étnicos ou religiosos, e ao patrimônio público e social.

Por outro lado, não será cabível Ação Civil Pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.

Através da Ação Civil Pública, o autor poderá pleitear, isolada ou cumulativamente, a


cessação do ato lesivo ao meio ambiente, a recuperação de áreas degradadas e o pagamento
de indenização pelo dano causado. É o entendimento do STJ na Súmula 629: “quanto ao dano
ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada
com a de indenizar”3.

Entretanto, sendo possível a reparação do dano in natura, deve-se privilegiar a tutela


específica. Portanto, apenas se não for possível a sua reparação integral é que caberá também
a indenização.

Apesar de ser possível a cumulação de pedidos na tutela do meio ambiente em respeito


ao princípio da reparação integral do dano ambiental, a restauração completa e imediata do
meio ambiente, que reestabeleça o seu estado anterior ao dano, dispensa a indenização.

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer.

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação
da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária,

se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.

A legitimidade para propor a Ação Civil Pública é concorrente e disjuntiva, ou seja, um


legitimado não precisa da autorização dos demais para atuar. Apesar de a Constituição Federal
legitimar apenas o Ministério Público para propor a ação civil pública, o art. 5º da Lei 7.347/85
estabelece um rol taxativo de outros legitimados.

3
Vide questões 1 e 2 desse material.
7
Art. 5º da Lei 7.347/85 – Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I - o Ministério Público;

II - a Defensoria Pública;

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

V - a associação que, concomitantemente4:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,


ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.

A despeito de o cidadão não ser legitimado para propor ação civil pública, qualquer pessoa
pode provocar a iniciativa do Ministério Público, e o servidor público tem o dever, informando
sobre lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente (art. 6º da lei de ACP). Se, no exercício de
suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis
(art. 7º da lei de ACP).

Perceba que não é qualquer associação que está legitimada a propor ação civil pública
ambiental. De acordo com a lei, a associação deve cumprir, cumulativamente, os seguintes
requisitos: existir a mais de um ano e que em seu estatuto social esteja previsto como sua
finalidade a proteção do meio ambiente.

Quanto ao primeiro requisito, o juiz pode dispensar que a associação esteja constituída a
mais de um ano quando existir manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
características do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido5.

4
Vide questão 1 desse material.
5
Vide questão 4 desse material.
8
Quanto ao segundo requisito, chamado de pertinência temática, a associação deve
demonstrar no processo que representa legitimamente os interessados no direito objeto da
ação.

Ademais, quando uma associação cumpre os dois requisitos legais, o STF entende que ela
não precisa de uma autorização especial de seus membros, nem mesmo em assembleia geral,
para que possa atuar em ação civil pública. Nesse contexto, o Tribunal ainda destaca a
necessidade de a matéria constar do estatuto, pois trata-se de substituição processual, instituto
que condiciona a legitimação à defesa dos direitos ou interesses jurídicos da categoria que
representa.

Em caso de litigância de má-fé da associação, ela e os diretores responsáveis pela


propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo
das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

Quanto ao Ministério Público, quando outro legitimado for o autor da ação civil pública, o
Parquet deve atuar como fiscal da lei. E, em caso de desistência infundada ou abandono da
ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.

Em sede de Ação Civil Pública, o litisconsórcio entre os legitimados ativos é facultativo. O


Poder Público e outras associações colegitimadas podem se habilitar como litisconsortes de
qualquer das partes. Ademais, admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios
Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados.

Em relação à legitimidade passiva, qualquer pessoa, física ou jurídica, de direito público ou


privado, direta ou indiretamente responsável pela lesão ambiental, pode ser réu em ação civil
pública ambiental. Como a responsabilidade civil ambiental é solidária, o autor pode escolher
formar o litisconsórcio passivo necessário entre os poluidores, ou intentar a ACP contra apenas
um ou alguns deles6.

6
Vide questão 9 e 10 desse material.
9
A ação civil pública discute apenas a proteção do meio ambiente e as consequências de
sua violação. Não é cabível discutir o direito de regresso entre os sujeitos passivos da ação, que
devem ser discutidos em ação própria.

Para instruir a inicial de uma Ação Civil Pública, o interessado poderá requerer às
autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas
no prazo de 15 (quinze) dias.

Especificamente quanto ao Ministério Público, trata-se do único legitimado ativo da Ação


Civil Pública que poderá instaurar e presidir inquérito civil e, ao requisitar certidões, informações
ou perícias de qualquer organismo público ou particular, deve ser respondido no prazo que
assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação,
hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo
ao juiz requisitá-los.

Ademais, o art. 10 da Lei de Ação Civil Pública tipifica como crime a recusa, o retardamento
ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura a Ação Civil Pública quando forem
requisitados pelo Ministério Público, punido com pena de reclusão, de 1 a 3 anos, e multa de
10 a 1.000 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.

As Ações Civis Públicas devem ser propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa7. A propositura da ação
prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a
mesma causa de pedir ou o mesmo objeto (art. 2º da lei de ACP).

7
Vide questão 3 desse material.
10
Nas Ações Civis Públicas, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora em honorários
advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.

O juiz poderá conceder liminar em sede de Ação Civil Pública, sujeita a agravo, com ou
sem justificação prévia. A multa cominada liminarmente só é exigível após o eventual trânsito
em julgado a favor do autor, entretanto, será devida desde o dia em que houver configurado o
descumprimento8.

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.

§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave


lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do
Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas
julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.

§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado


da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado
o descumprimento.

A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do
órgão judicial que a prolatou, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.

Na fase recursal em sede de Ação Civil Pública, o juízo poderá conferir efeito suspensivo
ao recurso para evitar dano irreparável à parte. Já na fase executória da sentença, o art. 15 da
lei de ACP dispõe que, decorridos 60 dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, se
a associação autora não promover a execução, o Ministério Público fica obrigado a promovê-la,
sendo facultada a mesma iniciativa aos demais legitimados.

8
Vide questão 8 desse material.
11
10.2.1 Inquérito Civil

O inquérito Civil é um instrumento inquisitorial (não há contraditório nem ampla defesa)


que serve para a apuração de fatos para a formação da convicção do membro do Ministério
Público quanto ao dano ambiental e instruir futura ação civil pública.

Art. 8º da Lei 7.347/85 – Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às


autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem
fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou


requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames
ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles
documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.

Assim como no processo penal, a realização de um inquérito civil não é necessária para a
propositura da demanda judicial que, existindo elementos de convicção suficientes, pode ser
proposta de imediato.

Se esgotadas as possibilidades de diligências e o Ministério Público não se convencer da


existência de fundamento para propor a Ação Civil Pública, deve promover o arquivamento do
Inquérito Civil de forma fundamentada.

Art. 9º da Lei 7.347/85 – Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências,


se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá
o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
fundamentadamente.

§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos,


sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior
do Ministério Público.

§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada


ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar
razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados
às peças de informação.

§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho


Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.

12
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento,
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

Apesar de a legitimidade para instaurar inquérito civil ser do Ministério Público, a


legitimidade para propor ação civil pública é disjuntiva e concorrente! Portanto, a instauração
do inquérito civil e até mesmo o seu arquivamento não são causas impeditivas para a
propositura de ação civil pública sobre a mesma matéria pelos demais legitimados.

10.2.2 Compromisso De Ajustamento de Conduta

O Compromisso de Ajustamento de Conduta é um acordo (convergência de vontades)


feito entre os órgãos públicos legitimados para propor a Ação Civil Pública (e não associações)
e pessoa física ou jurídica, com eficácia de título executivo extrajudicial9.

O intuito da celebração desse compromisso é reparar o dano ambiental, adequar a


conduta lesiva à lei e compensar os danos que não possam ser recuperados.

Art. 5º, § 6°, da lei 7.347/85 – Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Vale salientar que não podemos falar em direito subjetivo de firmar um compromisso
de ajustamento de conduta. Esse instrumento corresponde a uma solução extrajudicial de
conflito, que precisa contar com o interesse de todos os envolvidos.

A fiscalização do cumprimento do ajuste firmado como compromisso de ajustamento de


conduta cabe ao órgão que o celebrou.

9
Vide questão 6 desse material.
13
Nem todos os legitimados para propor Ação Civil Pública também são legitimados para
celebrar o compromisso de ajustamento de conduta. Como você já pode ter percebido, dentre
eles, apenas os órgãos públicos possuem essa capacidade – ou seja, apenas o Ministério Público,
a Administração Pública Direta e Indireta e a Defensoria Pública. Portanto, as associações
privadas não podem firmar o referido compromisso.

Caso seja celebrado um compromisso de ajustamento de conduta preliminar e o acordo


firmado não abranja todos os elementos que devem ser protegidos, caberá Ação Civil Pública
em relação aos fatos ou pessoas remanescentes.

O compromisso de ajustamento de conduta é o conteúdo, formalizado por meio de um


Termo de Ajustamento de Conduta – TAC.

O TAC não pode ser caracterizado como uma transação, que é um instrumento
característico do direito civil individual, incompatível com a tutela dos direitos transindividuais,
como a proteção do meio ambiente, que são direitos indisponíveis, de titularidade coletiva e de
proteção obrigatória pelo Poder Público.

O compromisso previsto no TAC deve abranger a reparação de todo o dano ambiental


causado, pois o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito indisponível,
ou seja, o órgão público celebrante não pode renunciar a ele ou a parte dele. Visto isso, são
requisitos para a celebração do TAC:

 Previsão da reparação integral do dano;


 Previsão das obrigações estipuladas;
 Anuência do Ministério Público, quando ele não for parte.

14
Por se tratar de um título executivo extrajudicial, descumpridas as obrigações estipuladas,
o TAC poderá ser executado por qualquer dos legitimados ativos da Ação Civil Pública,
independentemente de qual deles o celebrou.

10.3 Ação Popular

A Ação Popular – AP é um importante instrumento dentro da tutela processual do meio


ambiente, pois permite que o cidadão utilize uma ação coletiva para proteger interesses
transindividuais. Com isso, a Ação Popular é uma verdadeiro instrumento, com previsão
constitucional (art. 5º, LXXIII), para o controle popular da legalidade e da lesividade de atos.

A legitimidade ativa da Ação Popular é do cidadão. A qualidade de cidadão, comprovada


por meio do título eleitoral ou documento correspondente, decorre do exercício e gozo dos
direitos políticos pela pessoa física. A partir dessa afirmação, podemos extrair algumas
conclusões importantes:

 O estrangeiro e o conscrito (inalistáveis) não têm legitimidade para propor Ação


Popular;
 Se o analfabeto for alistado (pois o seu alistamento é facultativo), ele pode propor
Ação Popular;
 Pessoa jurídica não pode propor Ação Popular (Súmula 365 do STF);
 O condenado criminalmente não pode propor Ação Popular em razão da suspensão
dos seus direitos políticos; e
 O menor de 18 e maior de 16 anos que detenha capacidade eleitoral ativa pode
propor Ação Popular independentemente de assistência.

Além do autor da Ação Popular, o seu polo ativo pode ser ocupado por qualquer outro
cidadão que queira se habilitar no processo como litisconsorte ou assistente.

A Lei 4.717/65 regulamenta a Ação Popular em nosso ordenamento jurídico. Segundo o


seu art. 1º, a referida ação serve para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos
lesivos ao patrimônio:

 Dos entes políticos – União, Distrito Federal, Estados, Municípios;


 De entidades autárquicas;

15
 De sociedades de economia mista;
 De sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
ausentes;
 De empresas públicas;
 De serviços sociais autônomos;
 De instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja
concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita ânua;
 De empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados
e dos Municípios; e
 De quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Como você pode notar, a Ação Popular serve para proteger o patrimônio público. Para
tanto, consideram-se patrimônio público os bens e direitos de valor econômico, artístico,
estético, histórico ou turístico.

Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro público


concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, bem como de
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as consequências patrimoniais da invalidez dos
atos lesivos por meio de Ação Popular terão por limite a repercussão deles sobre a contribuição
dos cofres públicos.

Segundo o art. 2º da lei de AP, são nulos os atos lesivos ao patrimônio público que
violarem um ou mais dos seguintes elementos do ato administrativo:

 Competência;
 Forma;
 Objeto;

16
 Motivo;
 Finalidade.

Portanto, o ato que for praticado por sujeito incompetente, com vício de forma, com
ilegalidade do objeto, com inexistência de motivos ou desvio de finalidade e atingir o patrimônio
público, pode ser objeto de Ação Popular para que seja declarado nulo. Para a conceituação
dos casos de nulidade, devemos observar as seguintes normas previstas no parágrafo único do
art. 2º da Lei de AP:

 a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais
do agente que o praticou;
 o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de
formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
 a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de
lei, regulamento ou outro ato normativo;
 a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em
que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada
ao resultado obtido; e
 o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

Segundo o art. 3º da Lei de AP, além dessas ilegalidades acima citadas, referentes aos
elementos do ato administrativo, outros vícios podem ser constatados e serão anuláveis por
meio de Ação Popular.

Também são nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por quaisquer
das pessoas ou entidades supra referidas:

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.

I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições


de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;

II - A operação bancária ou de crédito real, quando:

a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, estatutárias,


regimentais ou internas;

17
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de escritura,
contrato ou avaliação;

III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:

a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência pública ou


administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei, regulamento ou norma
geral;

b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que comprometam


o seu caráter competitivo;

c) a concorrência administrativa for processada em condições que impliquem na limitação


das possibilidades normais de competição;

IV - As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem admitidas, em favor


do adjudicatário, durante a execução dos contratos de empreitada, tarefa e concessão de
serviço público, sem que estejam previstas em lei ou nos respectivos instrumentos;

V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não cabível
concorrência pública ou administrativa, quando:

a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou constantes de


instruções gerais;

b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da


operação;

c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação;

VI - A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua


modalidade, quando:

a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de


instruções e ordens de serviço;

b) resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador;

VII - A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o limite de valor,
desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;

VIII - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:

a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais, regulamentares, regimentais


ou constantes de instruções gerias;

b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da avaliação;

18
IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e
regulamentadoras que regem a espécie.

Por oportuno, vale destacar que não é apenas o ato comissivo da Administração Pública
que está sujeito à impugnação por meio de Ação Popular. A omissão do Poder Público que
possa acarretar dano ambiental também pode ser objeto de uma Ação Popular.

Além da comprovação da cidadania do autor, é preciso comprovar a lesividade do ato


impugnado ao patrimônio público. Essa lesão poderá ser efetiva ou legalmente presumida, caso
em que basta a demonstração da prática do ato para que ele seja considerado nulo de pleno
direito. Na Ação Popular que visa defender o meio ambiente, a lesividade é presumida,
dispensando-se a sua comprovação.

No polo passivo de uma Ação Popular, assim como na Ação Civil Pública, pode figurar
qualquer pessoa, física ou jurídica, de direito público ou privado, que seja direta ou
indiretamente responsável pelo ato danoso ao meio ambiente.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades


referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

§ 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele indeterminado ou


desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste
artigo.

Para instruir a inicial da Ação Popular, o cidadão poderá requerer às entidades acima
mencionadas certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a
finalidade delas. Essas certidões e informações devem ser fornecidas dentro de 15 dias da
entrega, sob recibo, do respectivo requerimento. Ademais, a lei exige que tais certidões e
informações sejam utilizadas apenas para instruir a Ação Popular.

Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo,
poderá ser negada ao cidadão requerente a certidão ou informação. Nesse caso, assim como
na ACP, a Ação Popular poderá ser proposta desacompanhada dos documentos negados,
cabendo ao juiz, após apreciar os motivos do indeferimento, e salvo em casos de segurança

19
nacional, requisitá-las. Feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça, que cessará
com o trânsito em julgado de sentença condenatória.

A competência para conhecer, processar e julgar a Ação Popular é definida de acordo com
a origem do ato impugnado. É competente o juiz que, de acordo com a organização judiciária
de cada estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado, ao
Município, as pessoas jurídicas criadas ou mantidas por eles, bem como os atos das sociedades
de que eles sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por eles subvencionadas ou em
relação às quais tenham interesse patrimonial.

Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoa ou


entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; mas, quando interessar
simultaneamente ao estado e ao município, será competente o juiz das causas do estado, se
houver.

A propositura da AP prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações que forem


posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.

Ao contrário da Ação Civil Pública que é completamente gratuita, na Ação Popular são
devidas as custas processuais e o preparo, que deverão ser pagos pela parte vencida ao final
do processo.

Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado.

A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de
impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor,
desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou
dirigente.

O Ministério Público acompanhará todos os atos da Ação Popular, cabendo-lhe apressar a


produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem,
sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus
autores. Para tanto, ao despachar a inicial, o juiz ordenará, além da citação dos réus, a intimação
do representante do Ministério Público.

20
A desistência da Ação Popular acarretará a publicação de editais para que qualquer cidadão
ou o Ministério Público, dentro do prazo de 90 dias da última publicação feita, promova o
prosseguimento da ação, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito.

A sentença incluirá sempre, na condenação dos réus, o pagamento, ao autor, das custas e
demais despesas, judiciais e extrajudiciais, diretamente relacionadas com a ação e comprovadas,
bem como o dos honorários de advogado.

Ademais, a sentença de uma Ação Popular que, julgando procedente a ação popular,
decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os
responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os
funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.

Se, ao apreciar o fundamento de direito do pedido, o magistrado julgar a lide


manifestamente temerária, condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.

É sempre permitida às pessoas ou entidades referidas no art. 1º da lei de AP, ainda que
hajam contestado a ação, promover, em qualquer tempo, e no que as beneficiar a execução da
sentença contra os demais réus.

Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de segunda


instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução, o representante do
Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.

A sentença em sede de Ação Popular terá eficácia erga omnes, exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova. Neste caso, qualquer cidadão poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

21
11. Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente

11.1 Lei de Crimes Ambientais

Como você já estudou, o legislador constituinte estabelece a tríplice responsabilização do


poluidor ambiental. Isso quer dizer que um mesmo sujeito, pessoa física ou jurídica, pode
responder civil, administrativa e penalmente pelo mesmo dano que causou ao meio ambiente.

As responsabilidades civil e administrativa já foram abordadas em capítulo próprio,


restando agora trabalhar a responsabilidade penal e a tutela processual penal do meio ambiente.

A Lei 9.605/98, chamada de Lei de Crimes Ambientais, é a norma responsável por


regulamentar a Constituição Federal no âmbito penal ambiental, tipificando a maior parte dos
crimes contra o meio ambiente.

Uma característica desse diploma é que, não raras vezes, o legislador da Lei de Crimes
Ambientais se utiliza de normas penais em branco, que necessitam de complementação por
outra norma jurídica para que possam ser aplicadas.

As normas penais em branco podem ser complementadas por disposição prevista na


mesma lei; disposição prevista em outra lei; ou disposição de um ato administrativo.

22
Exemplo: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida: (...) § 4º A pena é aumentada de metade, se o
crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que
somente no local da infração; (...).

O dispositivo citado expressa que a pena do crime será aumentada de metade se ele for
praticado contra espécie ameaçada de extinção. Mas a Lei de Crimes Ambientais não nos diz
quais são as espécies ameaçadas de extinção! Nesse caso, o intérprete deve recorrer às listas
oficiais do IBAMA para saber quais são essas espécies.

Outra característica da Lei de Crimes Ambientais é que ela tipifica condutas de perigo
abstrato, ou seja, que independem da produção de um dano efetivo ao meio ambiente para
que sejam puníveis (por exemplo, art. 52). Essa técnica legislativa é muito importante para
materializar o princípio da prevenção, que direciona a norma ambiental como um todo, e não

23
só a penal, para os riscos decorrentes de determinadas condutas e não apenas para os danos
propriamente efetivados.

Como última característica relevante da Lei de Crimes Ambientais, temos a sua


especialidade. Isso implica na sua prevalência sobre as regras gerais do Código Penal e do
Código de Processo Penal – Princípio da Especialidade. Entretanto, você precisa ter em mente
que, caso a lei penal ambiental seja omissa em algum ponto, nós devemos aplicar as normas
gerais de direito e processo penal de forma subsidiária.

11.2 Responsabilidade penal

A Constituição Federal de 1988 institui um mandado expresso de criminalização das


condutas lesivas ao meio ambiente em seu art. 225, §3º quando afirma que “as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”.

No art. 2º da Lei 9.605/98, a Lei de Crimes Ambientais, temos a previsão de que “quem,
de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a
estes cominadas, na medida da sua culpabilidade”

E o mesmo dispositivo completa que “o diretor, o administrador, o membro de conselho


e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que,
sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir
para evitá-la” também devem ser punidos pelos crimes ambientais, na medida da sua
culpabilidade.

Desse artigo, tiramos a seguinte conclusão: é possível o concurso de pessoas nos crimes
ambientais com fundamento na teoria monista (ou unitária) – todos os agentes respondem pelo
mesmo crime, na medida se sua culpabilidade. Assim, apesar de todos os agentes responderem
pelo mesmo crime, não necessariamente terão a mesma pena.

Vimos anteriormente que a responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva.


Entretanto, tanto a responsabilidade administrativa como a responsabilidade penal ambiental

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são subjetivas, pois é imprescindível que o dolo ou a culpa (elemento subjetivo) do agente seja
comprovado para aplicar a sanção.

A responsabilidade penal ambiental é subjetiva. Para responsabilizar criminalmente um


agente, é preciso comprovar a conduta, o dolo ou culpa do agente em cometê-la, e o nexo
causal entre ela e o dano causado (ou risco de dano).

11.2.1 Responsabilidade penal das pessoas jurídicas

Apesar de todos os debates sobre a possibilidade ou não de responsabilização da pessoa


jurídica por crime ambiental, no Brasil prevalece o entendimento de que isso é possível.
Fundamentada na teoria da realidade, da personalidade real ou orgânica, a teoria que defende
a possibilidade de uma pessoa jurídica responder por crime ambiental afirma que ela é um ente
real, com capacidade e vontade própria, distinta das pessoas físicas que a compõem.

Para essa teoria, as pessoas jurídicas são seres coletivos, dotados de vontade, que podem
ser exercidas de diversas formas, portanto, não há que se falar em responsabilidade penal
objetiva ao puni-las. Ademais, as pessoas jurídicas têm capacidade de culpabilidade e de sanção
penal, pois a culpabilidade no conceito mais moderno é a responsabilidade social. Nesse
contexto, a culpabilidade da pessoa jurídica está intrínseca à vontade do seu administrador.

A sanção da pessoa jurídica não fere os princípios da personalidade e da individualização


da pena, pois a responsabilidade penal recai sobre o autor do crime – a própria pessoa jurídica.
Além disso, o argumento de que a pessoa jurídica não poderia sofrer restrição ao seu direito
de liberdade de locomoção não deve prosperar, pois a pena privativa de liberdade não é a única
sanção penal prevista em nosso ordenamento jurídico.

25
Trata-se, nesse caso, da figura do garantidor, que comete os chamados crimes omissivos
impróprios (ou comissivos por omissão), nos termos do art. 2o da Lei no 9.605/1998

Por fim, está clara a previsão constitucional da responsabilização de pessoa jurídica por
crimes ambientais, na forma do art. 225, §3º, regulamentado infraconstitucionalmente por meio
do art. 3º da Lei de Crimes Ambientais, com a seguinte redação:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente


conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão
de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Visto isso, é importante ressaltar que, para haver responsabilidade penal da pessoa jurídica
a infração deve ser cometida no interesse ou benefício da entidade e por decisão do seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado.

RESPONSABILIDADE PENAL DA
PESSOA JURÍDICA

INFRAÇÃO COMETIDA EM SEU


INTERESSE OU BENEFÍCIO

POR DECISÃO DO SEU:

- REPRESENTANTE LEGAL;

- REPRESENTANTE CONTRATUAL; ou

- ÓRGÃO COLEGIADO

26
Até algum tempo atrás, o STJ entendia que só seria possível a responsabilidade penal da
pessoa jurídica por crimes ambientais se, simultaneamente, houvesse a imputação da pessoa
natural que atua em seu nome ou benefício.

Esse entendimento consagrava a teoria da dupla imputação, pela qual o Ministério Público
só poderia formular uma denúncia contra pessoa jurídica se identificasse a pessoa física que
participou do delito (REsp. 610.114/RN).

Posteriormente, na decisão do RE 548181, publicada em 2013, o STF se manifestou no


sentido de ser admissível a condenação de uma pessoa jurídica pela prática de um crime
ambiental, ainda que as pessoas físicas com ela relacionadas sejam absolvidas.

Para o STF, a teoria da dupla imputação, até então adotada pelo STJ, afronta a CF/88 ao
condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa física, pois estaria subordinando a
responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física.

Dessa forma, o STF passou a rechaçar a teoria da dupla imputação e admitir a denúncia
do MP apenas contra a pessoa jurídica.

Nesse contexto, vale ressaltar que a denúncia contra os dirigentes da pessoa jurídica deve
contar com elementos hábeis a comprovar a relação entre o fato delituoso e as respectivas
autorias, sob pena se ser considerada inepta. Portanto, deve ser comprovado o nexo causal
entre as condutas dos dirigentes e as imputações a eles atribuídas.

A condição de administrador da pessoa jurídica não é suficiente para autorizar a


instauração de processo criminal por crimes praticados no âmbito da sociedade.

27
Por fim, destaca-se que é possível a desconsideração da personalidade jurídica sempre que
ela for obstáculo para o ressarcimento de prejuízos causados à qualidade ambiental (art. 4º da
Lei 9.605/98).

11.2.2 Responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito


público

A União, os estados, o Distrito Federal, os municípios, as autarquias e fundações públicas


são consideradas pessoas jurídicas de direito público. Há doutrina que admite a responsabilidade
penal por crimes ambientais desses entes, baseando-se no fato de não existir especificação de
quais pessoas jurídicas (de direito público ou de direito privado) estão submetidas às regras do
art. 225, §3º da CF/88 e 3º da Lei de Crimes Ambientais.

Os que defendem essa teoria afirmam que, nesses casos, o magistrado deve escolher a
pena cabível à pessoa jurídica de direito público dentre as possibilidades previstas no art. 21 da
Lei de Crimes Ambientais. Ao contrário do que pode parecer, a condenação de um ente público
não enfraqueceria a instituição, ao contrário, o apoiaria no cumprimento de suas finalidades,
pois o seu erário teria uma destinação fixada pelo Poder Judiciário.

Por outro lado, a doutrina que não admite a responsabilização criminal de pessoas jurídicas
de direito público argumenta que é intrínseco a elas a perseguição da finalidade pública, sendo
impossível que atuem em interesse ou benefício próprio (o que é necessário para que exista
responsabilidade penal das pessoas jurídicas).

Quando a pessoa jurídica de direito público não persegue a finalidade pública, há desvio
de poder e, nessa situação, só a pessoa natural é responsabilizada penalmente.

Além disso, para a doutrina contra a punição penal da pessoa jurídica de direito público,
não teria sentido uma eventual sanção contra um ente público, seria redundante condenar, por
exemplo, um município à pena de multa, pois ela acabaria transcendendo a pessoa jurídica
condenada e quem arcaria com a condenação seriam os contribuintes.

28
11.3 Aplicação da Pena

O art. 6º da Lei de Crimes Ambientais dispõe de critérios a serem observados pelo julgador
na imposição e na gradação da pena base dos crimes nela previstos. São eles:

 A gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências


para a saúde pública e para o meio ambiente;
 Os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental; e
 A situação econômica do infrator, no caso de multa.

Em primeiro lugar, ressaltamos que os antecedentes do infrator que devem ser analisados
são aqueles pertinentes à toda legislação ambiental, não apenas à Lei de Crimes Ambientais.
Portanto, é possível considerar uma infração administrativa ambiental como mau antecedente.

Depois, é preciso esclarecer que esses critérios devem ser analisados pelo magistrado no
momento de definir a pena base do condenado em conjunto com os critérios do art. 59 e 60
do CP.

Definida a pena base, o juiz passa a analisar as circunstâncias atenuantes e agravantes da


pena, previstas nos arts. 14 e 15 da Lei de Crimes Ambientais, respectivamente.

29
Em relação às agravantes, entende-se que o baixo grau de instrução do agente retira a sua
potencial consciência de ilicitude, configurando erro de proibição.

Quanto ao arrependimento do infrator, como não há disposição legal expressa em relação


ao momento em que ele deve ser manifestado, entende-se possível a sua ocorrência antes ou
depois da denúncia.

30
Em relação às agravantes dos crimes ambientais, destacamos que a reincidência prevista
no inciso I do art. 15 da Lei de Crimes Ambientais é uma reincidência específica, ou seja, se o
agente cometeu crime de outra natureza (que não seja contra o meio ambiente), a agravante
não irá incidir.

Sobre o tema, destacamos:

 A reincidência não precisa ser em crime tipificado na Lei de Crimes Ambientais,


basta que seja da mesma natureza, independentemente da norma que o prevê; e
 Condenação prévia por contravenção penal ambiental não gera reincidência.

Apesar que crime comum prévio não implicar na agravante de reincidência em crime
ambiental, o crime ambiental prévio implicará na agravante da reincidência em condenação por
crime comum posterior, conforme o art. 63 do CP.

31
Com o fim da segunda etapa da aplicação da pena, deve ser estabelecido o regime inicial
de cumprimento de pena para a pessoa física. Como a Lei de Crimes Ambientais não dispõe de
regra específica sobre o tema, nesse ponto aplicamos as disposições do CP:

Na terceira etapa da aplicação da pena, verifica-se a possibilidade substituição da pena


privativa de liberdade intermediária aplicada por penas restritivas de direitos ou sursis.

11.3.1 Penas restritivas de direitos

De acordo com o art. 7º da Lei de Crimes Ambientais, as penas restritivas de direitos,


autônomas, substituem as penas privativas de liberdade:

 Quando tratar-se de crime culposo;


 Quando, mesmo que em crime doloso, for aplicada a pena privativa de liberdade
inferior a quatro anos; e
 Quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a
substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.

A regra de substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos na Lei
de Crimes Ambientais tem uma pequena diferença em relação à regra do Código Penal: na Lei
9.605/98, essa substituição ocorre nos crimes com penas aplicadas inferiores a 4 anos, ou seja,
quando o condenado tiver a pena por crime ambiental instituída em 4 anos exatos, não terá
direito à sua substituição por restritiva de direitos. Por outro lado, o CP, em seu art. 44, I, prevê

32
que a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ocorre quando a
condenação é igual ou inferior a 4 anos. Isso quer dizer que, ao contrário dos crimes ambientais,
quando o condenado por crime comum tem a sua pena estabelecida em exatos 4 anos, terá
direito à respectiva substituição.

Prestação
pecuniária

Suspensão
Recolhimento
parcial ou total
PENAS domiciliar
de atividades
RESTRITIVAS
DE DIREITOS

Interdição Prestação de
temporária de serviços à
direitos comunidade

As penas restritivas de direitos, em regra, terão o mesmo tempo de duração da pena


privativa de liberdade que substituiu no caso concreto. A exceção encontra-se na pena de
interdição temporária de direitos, que tem a sua duração predeterminada no art. 10 da Lei de
Crimes Ambientais.

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado


contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros
benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de
crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos.

Segundo a Lei de Crimes Ambientais, a prestação de serviços à comunidade consiste na


atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de

33
conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta,
se possível.

Já a interdição temporária de direito, entende-se como a proibição de o condenado


contratar com o Poder Público, receber incentivos fiscais ou qualquer outro benefício.

A pena de suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo
às prescrições legais. Enquanto isso, a pena de prestação pecuniária consiste no pagamento
em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada
pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos.
Segundo o art. 12 da Lei de Crimes Ambientais, o valor a título de prestação pecuniária será
deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

Por fim, a pena restritiva de direito de recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina


e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar
curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em
residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na
sentença condenatória.

11.3.2 Suspensão condicional da pena

Na última fase de aplicação da pena, se não for possível a substituição da pena privativa
de liberdade por uma pena restritiva de direitos, o magistrado deve observar a possibilidade de
cabimento da suspensão condicional da pena.

Se cabível, a respectiva pena não será executada, caso em que o condenado deverá se
submeter a determinadas condições legais e impostas pelo juiz no caso concreto. Essas últimas,
no caso dos crimes ambientais, devem ser relacionadas com a proteção do meio ambiente.

De acordo com o art. 16 da Lei de Crimes Ambientais, a suspensão condicional da pena


pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três
anos.

O requisito temporal para a suspensão condicional da pena de crimes ambientais é mais


brando do que o requisito temporal para a suspensão condicional da pena de crimes comuns,
previsto no art. 77 do CP – que determina como requisito do instituto a pena privativa de
liberdade não superior a 2 anos. Fora essa observação, nos crimes ambientais devemos seguir
os demais requisitos da suspensão condicional da pena previstos na lei penal comum:

34
 O condenado não pode ser reincidente em crime doloso; e
 A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e circunstâncias, autorizem a concessão do benefício.

11.4 Princípio da insignificância nos crimes ambientais

Segundo o princípio da insignificância, a lei penal deve ser aplicada apenas para punir
condutas que sejam efetivamente capazes de lesar um bem jurídico tutelado pelo direito penal.
Trata-se de uma forma de materializar a fragmentariedade do direito penal e a teoria de
intervenção mínima.

Apesar da discussão doutrinária a respeito da aplicação do princípio da insignificância no


âmbito dos crimes ambientais, os Tribunais Superiores entendem pela sua aplicabilidade.

Prevalece em nosso ordenamento jurídico que a ultima ratio da tutela penal deve ser
utilizada apenas quando a agressão ao meio ambiente ecologicamente equilibrado por
intolerável e quando as demais instâncias (civil e administrativa) não forem suficientes para coibir
a conduta infracional.

Modernamente, o legislador visa privilegiar as soluções consensuais de conflitos, inclusive


no âmbito criminal. Exemplo disso é a transação penal, prevista na Lei 9.099/95, e admitida em
determinas circunstâncias pela Lei de Crimes Ambientais.

11.5 Processo penal de crimes ambientais

11.5.1 Ação penal

As infrações penais previstas na Lei 9.605/98 são de ação penal pública incondicionada.
Isso quer dizer que, em regra, será o Ministério Público o titular da ação penal referente a crimes
ambientais. A exceção se configura nos casos de ação penal privada subsidiária da pública, em
que a titularidade da ação passa para o ofendido diante da inércia do MP.

Nesse contexto, é importante ressaltar que o titular da ação penal privada subsidiária da
pública é apenas o ofendido, pessoa física. Não há possibilidade de, por exemplo, associação
civil de proteção ambiental ingressar com ação penal, mesmo que seja legitimada para propor
ação civil pública.

35
11.5.2 Transação penal

Modernamente, o legislador visa privilegiar as soluções consensuais de conflitos, inclusive


no âmbito criminal. Exemplo disso é a transação penal, prevista na Lei 9.099/95, e admitida em
determinas circunstâncias pela Lei de Crimes Ambientais.

De acordo com o art. 27 da Lei 9.605/98, nos crimes ambientais de menor potencial
ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa pode ser
formulada pelo representante do Ministério Público quando houver a prévia composição do
dano ambiental e não estejam presentes as situações que impedem a celebração da transação
penal.

Art. 76 da Lei 9.099/95 – Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada
na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até
a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação
de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem


como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação
do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz


aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82


desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de


antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

36
11.5.3 Suspensão condicional do processo

Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, também é possível aplicar a suspensão
condicional do processo. De acordo com o art. 28 da Lei de Crimes Ambientais, o Ministério
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do respectivo processo:

 Por dois a quatro anos;


 Se o acusado não esteja sendo processado;
 Se o acusado não tenha sido condenado por outro crime;
 Quando presentes os demais requisitos que autorizem a suspensão condicional da
pena (pena privativa de liberdade não superior a três anos, o condenado não pode
ser reincidente em crime doloso; e a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
e a personalidade do agente, bem como os motivos e circunstâncias, autorizem a
concessão do benefício).

A extinção de punibilidade do agente decorrente da suspensão condicional do processo


dependerá de um laudo que contate a reparação do ano ambiental causado pela conduta do
infrator, ressalvados os casos de impossibilidade de reparação do dano.

Se o laudo demonstrar que a respectiva reparação não foi completa durante a suspensão
condicional do processo, o prazo de suspensão será prorrogado nos termos do art. 28, II da Lei
de Crimes Ambientais, assim como ficará suspenso o prazo prescricional da infração.

Com o fim do prazo máximo de prorrogação da suspensão condicional do processo, a


declaração de extinção de punibilidade do agente dependerá de um novo laudo que constate
o empenho do acusado em tomar todas as providências necessárias para a reparação integral
do dano que a sua conduta causou ao meio ambiente.

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-


se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes
modificações:

I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no


caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada
a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;

II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação,


o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no
artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da
prescrição;

37
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do §
1° do artigo mencionado no caput;

IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de


constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser
novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste
artigo, observado o disposto no inciso III;

V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade


dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências
necessárias à reparação integral do dano.

11.5.4 Competência

A Lei de Crimes Ambientais nada dispõe sobre a competência para conhecer e julgar os
crimes ambientais. Portanto, diante de uma interpretação sistemática da Constituição Federal,
concluímos que, em regra, a competência para o julgamento dos crimes ambientais é da Justiça
Comum Estadual.

A Justiça Comum Federal será competente para o julgamento dos crimes ambientais
apenas nas hipóteses em que eles tenham como objeto bens, serviços ou interesses da União
ou de suas autarquias ou empresas públicas, de acordo com o art. 109 da CF/88.

Ademais, segundo os Tribunais Superiores, ainda temos como hipóteses que justificam a
competência da Justiça Federal:

 Crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados


de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por Tratados e Convenções
internacionais (RE 835558/SP);
 Pesca predatória no mar territorial, no entorno de unidade de conservação da
natureza, ou em águas territoriais divisórias de Estados-membros da Federação (STJ.
CC 115.282-RS, STJ. CC 34.689-SP e STJ. CC 37.404-SP);
 Crimes contra a fauna em parques nacionais, reservas ecológicas ou áreas sujeitas
ao domínio eminente da Nação; e
 Conduta que ultrapassa os limites de um único estado ou as fronteiras do país.

Como o inciso IV do art. 109 da CF/88 exclui do âmbito da competência da Justiça Federal
as contravenções penais, em regra, as contravenções ambientais serão julgadas perante a Justiça
Comum Estadual, mesmo que atingidos bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias
ou empresas públicas.

38
A exceção à essa regra encontra-se no caso de contravenção ambiental cometida por
pessoa com foro por prerrogativa de função previsto constitucionalmente, como os juízes
federais, que devem ser julgados perante a Justiça Federal.

39
QUADRO SINÓTICO

TUTELA PROCESSUAL COLETIVA DO MEIO AMBIENTE


Fundamento legal: art. 129, III da CF/88 e Lei 7.347/85.

Legitimados:
 Ministério Público;
 Defensoria Pública;
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
 União, estados, Distrito Federal e municípios;
 Autarquia, empresa pública, fundação e sociedade de economia
mista; e
 Associação civil constituída há pelo menos 1 ano e com
pertinência temática.

Instrumento pertencente ao Ministério Público para apurar os fatos que


INQUÉRITO CIVIL servirão de fundamento para eventual Ação Civil Pública.

Título executivo extrajudicial celebrado entre órgão público legitimado


TERMO DE para propor Ação Civil Pública e a pessoa física ou jurídica interessada
AJUSTAMENTO DE em reparar dano ambiental, adequar suas condutas às exigências legais
CONDUTA ou compensar os danos ambientais que não possam ser reparados.

Fundamento legal: art. 5º, LXXIII da CF/88 e Lei 4.717/65.


AÇÃO POPULAR
Qualquer cidadão possui legitimidade ativa para propor Ação Popular.

TUTELA PENAL E PROCESSUAL PENAL DO MEIO AMBIENTE


A responsabilidade penal é subjetiva, devendo ser comprovado o
RESPONSABILIDADE elemento subjetivo da conduta do agente.
PENAL Teoria da realidade: a pessoa jurídica pode cometer crimes (adotada
pelos Tribunais Superiores).

40
As penas restritivas de direitos substituem as penas privativas de
liberdade:
 Quando tratar-se de crime culposo;
 Quando, mesmo que em crime doloso, for aplicada a pena
PENAS RESTRITIVAS
privativa de liberdade inferior a quatro anos; e
DE DIREITOS
 Quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja
suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
 Pena privativa de liberdade não superior a três anos;
 Não reincidência em crime doloso; e
SUSPENSÃO
 A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
CONDICIONAL DA
PENA personalidade do agente, bem como os motivos e
circunstâncias, autorizem a concessão do benefício.

PRINCÍPIO DA STF e STJ: é possível a aplicação do princípio da insignificância nos


INSIGNIFICÂNCIA crimes ambientais.
AÇÃO PENAL DOS
Ação penal pública incondicionada.
CRIMES AMBIENTAIS

Proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa


formulada pelo representante do Ministério Público quando houver a
TRANSAÇÃO PENAL
prévia composição do dano ambiental e não estejam presentes as
situações que impedem a celebração da transação penal.

Proposta pelo MP, ao propor a denúncia, com duração de dois a quatro


anos; só é possível se o agente não estiver sendo processado ou for
condenado por outro crime; e quando presentes os demais requisitos
SUSPENSÃO
que autorizem a suspensão condicional da pena.
CONDICIONAL DO
PROCESSO A extinção de punibilidade dependerá de um laudo que contate a
reparação do ano ambiental causado pela conduta do infrator,
ressalvados os casos de impossibilidade de reparação do dano.

Em regra, da Justiça Comum Estadual.


COMPETÊNCIA Justiça Comum Federal: quando o crime ambiental atingir bem, serviço
ou interesse da União, das suas autarquias ou empresas públicas.

41
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Em decorrência de grave dano ambiental em uma
Unidade de Conservação, devido ao rompimento de barragem de contenção de sedimentos
minerais, a Defensoria Pública estadual ingressa com Ação Civil Pública em face do causador do
dano.
Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.

A) A Ação Civil Pública não deve prosseguir, uma vez que a Defensoria Pública não é legitimada
a propor a referida ação judicial.
B) A Defensoria Pública pode pedir a recomposição do meio ambiente cumulativamente ao
pedido de indenizar, sem que isso configure bis in idem.
C) Tendo em vista que a conduta configura crime ambiental, a ação penal deve anteceder a
Ação Civil Pública, vinculando o resultado desta.
D) A Ação Civil Pública não deve prosseguir, uma vez que apenas o IBAMA possui competência
para propor Ação Civil Pública quando o dano ambiental é causado em Unidade de Conservação.

Comentário:

*Lei nº 7.347/85: Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao
meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico e dá outras providências.

42
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I - o Ministério Público;

II - a Defensoria Pública;

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao


meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos

raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Questão 2

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) Em ação civil pública ambiental,
não é possível cumulação de pedido de obrigação de fazer e de reparação pecuniária, em razão
do que dispõe o art. 3º da Lei n. 7.347/1985.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

O art. 3º da Lei de Ação Civil Pública dispõe que o seu objeto poderá ser a condenação
em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Nesse contexto, o STJ
entende que esses pedidos podem ser cumulados ou não (Súmula 629).

43
Questão 3

(CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) Acerca do direito coletivo, julgue o item a seguir.
Conforme jurisprudência do STJ, é competência da justiça eleitoral julgar ação civil pública em
que se busque cessar degradação ambiental causada por partido político em propaganda
eleitoral consistente em pichações e pinturas em edificações urbanas.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

Na Ação Civil Pública em que se busca cessar degradação ambiental causada por partido
político em propaganda eleitoral não se discute direitos políticos, inelegibilidade, sufrágio,
partidos políticos ou infrações à norma eleitoral, que são matérias da competência da
Justiça Eleitoral. Apesar de a obrigação de pagar, fazer ou não fazer que se requer com a
ACP ser dirigida a partido político, a demanda não é inerente ao processo eleitoral.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Uma associação de proteção ao patrimônio ambiental
de Santa Catarina, constituída havia seis meses, ajuizou ACP requerendo a paralisação das obras
de construção de um resort sobre dois sambaquis do estado — depósitos de conchas dos povos
pré-históricos que habitaram as regiões litorâneas do estado. A entidade, cumprindo sua
finalidade institucional de proteger o meio ambiente, pleiteou na ACP a condenação do
proprietário do resort pelos danos até então causados ao patrimônio arqueológico.
De acordo com a legislação que rege os meios processuais para a defesa ambiental, a referida
associação
A) não detém legitimidade para propor a ACP, em razão do seu tempo de pré-constituição, mas
poderia propor ação popular com o mesmo fim.
44
B) não detém legitimidade para propor a ACP, porque a defesa de patrimônio arqueológico
extrapola as suas finalidades.
C) detém legitimidade para propor a ACP, independentemente de ter sido constituída nos
termos da lei civil, pois não se exige das associações o registro do seu estatuto em cartório.
D) detém legitimidade para propor a ACP, pois o requisito de tempo de pré-constituição poderá
ser dispensado pelo juiz, se verificado manifesto interesse social pela dimensão do dano.
E) não detém legitimidade para propor a ACP, a menos que atue em litisconsórcio com o
Ministério Público.

Comentário:

Em regra, a associação civil possui legitimidade para propor ACP, independentemente de


atuação de outro legitimado, desde que cumpra dois requisitos legais: esteja constituída
há pelo menos 1 ano nos termos da lei civil e tenha finalidade compatível com a tutela
que pleiteia (pertinência temática).

No caso em questão, a associação civil possui a pertinência temática, pois tem como
finalidade institucional a proteção do meio ambiente, que inclui o patrimônio arqueológico;
entretanto, por ter sido constituída há apenas 6 meses, em regra, a associação não poderia
propor a Ação Civil Pública (nem a Ação Popular, que é de legitimidade exclusiva do
cidadão)

Ocorre que a jurisprudência dos tribunais superiores é pacífica ao admitir a flexibilização


do requisito temporal de pré-constituição da associação quando for verificado pelo juiz
um manifesto interesse social devido à dimensão do dano no caso concreto.

Questão 5

(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) O MP de determinado estado da Federação


propôs ação civil pública consistente em pedido liminar para obstar a construção de

45
empreendimento às margens de um rio desse estado. No local escolhido, uma área de
preservação permanente, a empresa empreendedora desmatou irregularmente 200 ha para
instalar o empreendimento. A liminar incluiu, ainda, pedido para que a empresa fosse obrigada
a iniciar imediatamente replantio na área desmatada.
Nessa situação hipotética, a ação civil pública proposta deverá discutir
A) apenas a responsabilidade civil da empresa.
B) as responsabilidades civil e criminal da empresa.
C) as responsabilidades civil e administrativa da empresa.
D) apenas a responsabilidade administrativa da empresa.
E) as responsabilidades civil, administrativa e criminal da empresa.

Comentário:

A Ação Civil Pública visa apurar a responsabilidade civil do degradador ambiental. Se for
detectado que réu da ACP também tem responsabilidade administrativa ou penal, o juiz
deve encaminhar as informações para os órgãos competentes da Administração Pública e
do Ministério Público para as devidas providências.

Questão 6

(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) Um termo de ajustamento de conduta celebrado


em relação a uma questão de natureza ambiental tem a natureza de
A) início de prova sujeita ao contraditório.
B) pré-contrato.
C) título executivo.
D) negócio jurídico condicionado.

Comentário:
46
O Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, que pode ser celebrado entre órgãos públicos
legitimados paras propor ACP e os poluidores interessados, tem natureza de título
executivo extrajudicial.

Questão 7

(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) O Ministério Público ajuizou ações
na esfera cível e criminal contra empresa exploradora de petróleo, alegando prejuízos
decorrentes de vazamento de óleo combustível em águas marinhas. O vazamento de óleo
resultou na mortandade da fauna aquática e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) determinou, então, a imediata proibição de pesca na
região, por seis meses. Na fase de provas, foram provadas a regularidade das instalações da
empresa, que contava com as melhores tecnologias disponíveis, e a idoneidade dos esforços
para a reparação do problema, tendo o prejuízo ocorrido por motivo de força maior.
Determinado pescador profissional ajuizou ação indenizatória individual pelos mesmos fatos,
requerendo danos materiais e morais.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
A) A pretensão indenizatória na ação civil pública pelo dano ambiental difuso é imprescritível.
B) A pretensão do pescador é imprescritível.
C) A responsabilidade da empresa pela poluição gerada é objetiva em todas as ações.
D) Se reconhecida processualmente, a força maior afastará a obrigação de indenizar.
E) O reconhecimento da força maior como determinante do dano não tem repercussão na ação
criminal.

47
Comentário:

Nessa questão vamos aproveitar para revisar a responsabilidade ambiental. O poluidor do


meio ambiente pode ser responsabilizado pelo dano que provocou em três esferas: civil,
administrativa e penal. No âmbito administrativo e penal a responsabilidade do agente
será subjetiva, ou seja, para que haja sanção é preciso comprovar o dolo ou a culpa de
produzir o dano ambiental. Entretanto, apenas no âmbito civil a responsabilidade ambiental
do agente poluidor será subjetiva, ou seja, basta a comprovação do dano e o nexo causal
entre ele e a atividade do agente.

A responsabilidade civil do autor do dano ambiental, além de ser objetiva, é fundamentada


na teoria do risco integral, ou seja, nem mesmo as causas excludentes de nexo causal são
capazes de afastar a responsabilização.

No caso em questão, o dano ambiental foi comprovadamente causado por força maior,
mas isso não é capaz de retirar a responsabilidade civil de indenizar do agente. Entretanto,
ao reconhecer a força maior como determinante do dano, afasta-se a responsabilidade
criminal do agente que, como dito, é subjetiva.

Voltando para a responsabilidade civil ambiental, o STJ já pacificou o entendimento de que


a pretensão indenizatória de dano ambiental em sede de ACP é imprescritível, pois trata-
se de um direito difuso inerente à vida. Entretanto, a pretensão do pescador em questão
está relacionada com um interesse individual, sob o qual incide a prescrição em prestígio
à segurança jurídica.

Questão 8

(MPE-GO - 2016 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto - ADAPTADA) Cominada


liminarmente pelo juiz no bojo de ação civil pública, a multa somente será exigível do réu após
o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia quem se
houver configurado o descumprimento.
( ) CERTO
48
( ) ERRADO

Comentário:

De acordo com o art. 12 da lei de ACP, o juiz pode conceder liminar com ou sem
justificação prévia. Nesses casos, a multa cominada só será exigível do réu depois do
trânsito em julgado da decisão em favor do autor, mas será contabilizada a partir do dia
em que houve o descumprimento.

Questão 9

(VUNESP - 2016 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Um Município, no interior de Minas Gerais, pretende,
em sede recursal, a inclusão do referido Estado no polo passivo da Ação Civil Pública, que visa
a reparação e prevenção de danos ambientais causados por deslizamentos de terras em encostas
habitadas. Segundo regra geral quanto ao dano ambiental e urbanístico, e segundo posição do
STJ, o litisconsórcio, nesses casos é
A) facultativo, mesmo havendo múltiplos agentes poluidores.
B) obrigatório, no caso de causas concorrentes.
C) facultativo, pois os responsáveis pela degradação ambiental não são coobrigados solidários.
D) necessário, quando o ato envolve particular e poder público.
E) facultativo, quando envolve ato do particular e necessário quando envolve ato da
Administração Pública.

Comentário:

Como vimos no capítulo referente à responsabilidade civil ambiental, além de objetiva e


fundamentada na teoria do risco integral, a responsabilidade civil por dano ao meio

49
ambiente é solidária, ou seja, todos os responsáveis diretos ou indiretos do dano podem
responder integralmente por ele.

Para apurar o nexo de causal e a solidariedade no caso de dano ambiental, a lei equipara
quem faz, a quem não faz quando deveria fazer, quem faz mal feito, quem não se importa
que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem.

Por isso, existindo vários agentes poluidores responsáveis por um dano ambiental, a
formação de litisconsórcio passivo entre eles não é necessário, mas sim facultativo.

Questão 10

(FMP Concursos - 2015 - MPE-AM - Promotor de Justiça Substituto) Ao ajuizar ação civil
pública para proteger o meio ambiente, pode o Promotor de Justiça
I – inserir no polo passivo tanto a pessoa jurídica como a pessoa física responsável direta ou
indiretamente pelo dano ambiental.
II – buscar a reparação de dano ambiental causado há mais de vinte anos, devido ao caráter
imprescritível do dano ambiental.
III – pleitear medida cautelar inibitória com o escopo de evitar a instalação de atividade lesiva
ao meio ambiente, em atenção ao princípio do poluidor-pagador.
IV – demandar, na mesma ação, o ente público que autorizou a atividade poluidora e o particular
beneficiário da autorização.
Quais das assertivas acima estão corretas?
A) Apenas a I, II e III.
B) Apenas a III e IV.
C) Todas.
D) Apenas a I e III.
E) Apenas a I, II e IV.

50
Comentário:

Ao ajuizar uma ACP para proteger o meio ambiente, o Promotor de Justiça pode compor
o polo passivo com um litisconsórcio facultativo entre a pessoa jurídica e a pessoa física
responsáveis direta ou indiretamente pelo dano ambiental; pode buscar a reparação de
um dano ambiental ocorrido há mais de 20 anos, pois o STJ entende que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, difuso e inerente à vida humana, é imprescritível; e
pode demandar em uma só ação o ente público que autorizou a atividade poluidora e o
particular poluidor que se beneficiou dessa autorização, pois a responsabilidade do ente é
solidária. Por fim, o Promotor de Justiça também pode pleitear, em sede de ACP, medida
inibitória com o escopo de evitar a instalação de atividade lesiva ao meio ambiente,
entretanto, o fundamento dessa tutela não será o princípio do poluidor-pagador, como
afirma a assertiva III, mas sim princípios como o da prevenção e da precaução.

51
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - ERRADO

Questão 3 - ERRADO

Questão 4 - D

Questão 5 - A

Questão 6 - C

Questão 7 - A

Questão 8 - CERTO

Questão 9 - A

Questão 10 - E

52
QUESTÃO DESAFIO

Quais os requisitos para que uma associação esteja legitimada a

ingressar com ação civil pública ambiental?

Máximo de 5 linhas

53
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

É necessário que a associação esteja constituída há pelo menos 01 ano, bem como que a
proteção ao meio ambiente esteja entre as suas finalidades institucionais.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Constituída há 01 ano

Conforme esclarece RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5ª Ed: São
Paulo. Saraiva. 2018, p. 439: “Nota-se, ainda, do art. 5º, I, da Lei da Ação Civil Pública, que, no
tocante a essa demanda específica, exige-se o preenchimento de dois requisitos de forma
concomitante: ■ inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico; ■ esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil. O primeiro deles traduz a ideia que vem sendo chamada de pertinência temática. Em
outras palavras, o interesse que se busca tutelar deve ter relação com a finalidade para a qual
foi criada a associação. Em relação à segunda das condições, o § 4º do mesmo art. 5º prevê
importante exceção: “§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.” Assim, pode o Magistrado, desde que haja
interesse social — caracterizado por aspectos do dano ou do bem jurídico tutelado —, permitir
o ajuizamento de demanda coletiva por entidade associativa que tenha sido constituída
regularmente há menos de um ano. Tal exceção — de caráter nitidamente aberto — ganha
ainda mais em importância das demandas ambientais se tivermos em conta o elevado interesse
inerente às qualidades do bem ambiental, além do caráter difuso do dano ecológico.

 Proteção ao meio ambiente

Informa, ainda, RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5ª Ed: São Paulo.
Saraiva. 2018, p. 439: “Diga-se, por fim, que, ainda que não tenha sido atendido no momento
da propositura da demanda, caso o prazo anual venha a se completar no curso dela, não deve
ser extinta por carência de ação. Trata-se da adoção de premissa de Liebman, o artífice da
“teoria eclética da ação”, para quem, se a condição da ação faltante surgir no curso da demanda,

54
por questão de economia processual, não se deve extinguir o processo sem resolução de mérito.
Vale dizer ainda que, como espécie de associação, os sindicatos possuem legitimidade ativa
para o ajuizamento de ações civis públicas na defesa de interesses ligados à categoria que
representam, como decide o STJ: “ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. (...) AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. SINDICATO. LEGITIMIDADE ATIVA. (...) 2. A doutrina tem entendido que os sindicatos
possuem natureza jurídica de associação civil, o que lhe concede a legitimidade ativa para a
propositura de eventual ação civil pública em defesa de direito afeto à categoria que representa;
e que eventual limitação a essa legitimidade implica restrição ao direito de ação dos sindicatos,
não limitado pelo texto constitucional, em seus arts. 5º, inciso XXI, 8º, inciso III e 114, § 1º. 3. A
despeito da existência de julgados em sentido diverso, já encontra eco na jurisprudência pátria
o entendimento no sentido de que os sindicatos, mormente quando houver expressa
autorização em seu estatuto, têm legitimidade ativa para propor ação civil pública, em
atendimento a princípios constitucionais, especialmente o da democratização do acesso ao
Judiciário e da celeridade na prestação jurisdicional, entre outros. 3. No caso, sendo o direito
vindicado afeto a toda a categoria representada pelo Sindicato Recorrente e estando este, por
meio de seus estatutos, autorizado a promover a defesa daquela em juízo, não há como
restringir a legitimidade da entidade sindical para propor ação civil pública. 4. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido” (STJ, 5ª Turma, REsp 549.794/RS, rel. Min. Laurita Vaz, DJ 5-
11-2007). Como se vê, recorre o Tribunal da Cidadania a dispositivos da Constituição Federal,
como o art. 8º, III: “Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...)
III — ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas; (...).”

55
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente:

 CF/88: art. 225;


 CDC: art. 81, parágrafo único;
 Lei 7.347/85;
 Lei 4.717/65.

 Súmula 629, STJ

Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.

 Súmula 365, STF

Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente:

 CF/88: art. 109 e 225;


 Lei 9.605/98;
 CP: art. 21, 49, 59, 60, 77 e 78;
 Lei 9.099/95: art. 61, 74 e 76.

56
JURISPRUDÊNCIA

Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente

 STF. MS: 22164/SP, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 30/10/1995, TRIBUNAL
PLENO, Data de Publicação: DJ 17-11-1995 PP-39206 EMENT VOL-01809-05 PP-01155.

(...) A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DE TERCEIRA

GERAÇÃO - PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. - O DIREITO A INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE - TIPICO DIREITO


DE TERCEIRA GERAÇÃO - CONSTITUI PRERROGATIVA JURÍDICA DE TITULARIDADE COLETIVA, REFLETINDO, DENTRO
DO PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, A EXPRESSAO SIGNIFICATIVA DE UM PODER
ATRIBUIDO, NÃO AO INDIVIDUO IDENTIFICADO EM SUA SINGULARIDADE, MAS, NUM SENTIDO

VERDADEIRAMENTE MAIS ABRANGENTE, A PROPRIA COLETIVIDADE SOCIAL. ENQUANTO OS DIREITOS DE

PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLASSICAS, NEGATIVAS
OU FORMAIS - REALCAM O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (DIREITOS

ECONOMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS) - QUE SE IDENTIFICA COM AS LIBERDADES POSITIVAS, REAIS OU


CONCRETAS - ACENTUAM O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO, QUE

MATERIALIZAM PODERES DE TITULARIDADE COLETIVA ATRIBUIDOS GENERICAMENTE A TODAS AS FORMAÇÕES


SOCIAIS, CONSAGRAM O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E CONSTITUEM UM MOMENTO IMPORTANTE NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EXPANSAO E RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS,
CARACTERIZADOS, ENQUANTO VALORES FUNDAMENTAIS INDISPONIVEIS, PELA NOTA DE UMA ESSENCIAL
INEXAURIBILIDADE. CONSIDERAÇÕES DOUTRINARIAS.

 STJ. REsp: 1120117 AC 2009/0074033-7, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
10/11/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 19/11/2009.

ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL. PEDIDO GENÉRICO. ARBITRAMENTO DO
QUANTUM DEBEATUR NA SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 7/STJ. 1.É da competência
da Justiça Federal o processo e julgamento de Ação Civil Pública visando indenizar a comunidade indígena
Ashaninka-Kampa do rio Amônia. 2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência territorial e
funcional, eis que o dano ambiental não integra apenas o foro estadual da Comarca local, sendo bem mais

abrangente espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de competência do Juiz Federal. 3.

57
Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na extração ilegal de madeira da área indígena. 4. O
dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que lhe está próximo, a comunidade indígena, também

atinge a todos os integrantes do Estado, espraiando-se para toda a comunidade local, não indígena e para futuras

gerações pela irreversibilidade do mal ocasionado. 5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande
amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no
simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano.
6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, está protegido pelo
manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos
povos, independentemente de não estar expresso em texto legal. 7. Em matéria de prescrição cumpre distinguir
qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se

o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem

saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível o direito à reparação. 8. O dano ambiental inclui-se
dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da imprescritibilidade a
ação que visa reparar o dano ambiental. 9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado determinar, desde já,

o montante da reparação, havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ. 10. Inviável, no presente

recurso especial modificar o entendimento adotado pela instância ordinária, no que tange aos valores arbitrados a
título de indenização, por incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ. 11. Recurso especial parcialmente conhecido e
não provido.

 STJ - REsp: 1181820 MG 2010/0029751-7, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de


Julgamento: 07/10/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/10/2010.

PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. CONDENAÇÃO A REFLORESTAMENTO.


RESSARCIMENTO DE DANO MATERIAL. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. Usualmente, as questões relativas a direito
ambiental se inserem no amplo conceito de direito público a que se refere o art. 9º, § 1º, XIII, do RI/STJ, atraindo

a competência da 1ª Seção deste Tribunal. Contudo, um recurso especial que tenha como objeto a discussão
exclusivamente da responsabilidade civil pela reparação do dano ambiental, sem outras questões ambientais que
justifiquem seu deslocamento à 1ª Seção, deve ser julgado por uma das Turmas integrantes da 2ª Seção, inserindo-
se no conceito amplo de responsabilidade civil a que se refere o art. 9º, § 2º, III do RI/STJ. 2. É possível, em ação

civil pública ambiental, a cumulação de pedidos de condenação a obrigação de fazer (reflorestamento de

área) e de pagamento pelo dano material causado. Precedentes. 3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa
parte, provido.

 STJ - REsp: 876931 RJ 2006/0115752-8, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 10/08/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/09/2010.

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. PRESERVAÇÃO ARQUITETÔNICA DO PARQUE LAGE (RJ). ASSOCIAÇÃO DE

MORADORES. LEGITIMIDADE ATIVA. PERTINÊNCIA TEMÁTICA CARACTERIZADA. CONCEITO LEGAL DE "MEIO


AMBIENTE" QUE ABRANGE IDEAIS DE ESTÉTICA E PAISAGISMO (ARTS. 225, CAPUT, DA CR/88 E 3º, INC. III, ALÍNEAS
A E D DA LEI N. 6.938/81). 1. O estatuto da associação recorrente prevê, em seu art. 4º (1), que um de seus objetivos

58
é "[z]elar pela manutenção e melhoria da qualidade de vida do bairro, buscando manter sua ocupação e seu
desenvolvimento em ritmo e grau compatíveis com suas características de zona residencial". 2. Desta cláusula, é

perfeitamente possível extrair sua legitimidade para ação civil pública em que se pretende o seqüestro do conjunto

arquitetônico "Mansão dos Lage", a cessação imediata de toda atividade predadora e poluidora no conjunto
arquitetônico e a proibição de construção de anexos e de obras internas e externas no referido conjunto
arquitetônico. Dois são os motivos que levam a tal compreensão. 3. Em primeiro lugar, a Constituição da República
vigente expressamente vincula o meio ambiente à sadia qualidade de vida (art. 225, caput), daí porque é válido
concluir que a proteção ambiental tem correlação direta com a manutenção e melhoria da qualidade de vida dos
moradores do Jardim Botânico (RJ). 4. Em segundo lugar, a legislação federal brasileira que trata da problemática
da preservação do meio ambiente é expressa, clara e precisa quanto à relação de continência existente entre os

conceitos de loteamento, paisagismo e estética urbana e o conceito de meio ambiente, sendo que este último

abrange os primeiros. 5. Neste sentido, importante citar o que dispõe o art. 3º, inc. III, alíneas a e d, da Lei n.
6.938/81, que considera como poluição qualquer degradação ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente prejudiquem a saúde e o bem-estar da população e afetem condições estéticas do meio ambiente.

6. Assim sendo, não há como sustentar, à luz da legislação vigente, que inexiste pertinência temática entre o objeto

social da parte recorrente e a pretensão desenvolvida na presente demanda, na forma do art. 5º, inc. V, alínea b,
da Lei n. 7.347/85. 7. Recurso especial provido.

 STF. ARE 1197788, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em 03/05/2019, publicado em
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 21/05/2019 PUBLIC 22/05/2019.

DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE


SEGURANÇA COLETIVO. ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS ASSOCIADOS E
FILIAÇÃO ANTERIOR À PROPOSITURA DA AÇÃO. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. (...) Relatório 1. Agravo nos
autos principais contra inadmissão de recurso extraordinário interposto com base na al. a do inc. III do art. 102 da

Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo: “AGRAVO DE
INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO - ASSOCIAÇÃO DOS SUBTENENTES E SARGENTOS DA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - Preliminar de nulidade da decisão afastada - Prévia intimação
prescindível - Extensão dos efeitos da decisão aos que se associaram após a impetração do ‘writ’ - Possibilidade -

Associação que possui legitimidade extraordinária, na qualidade de substituto processual - Defesa de interesses

de grupo, categoria ou classe – Irrelevância do momento de associação – Eficácia subjetiva ampla, ‘ultra parte’ -
Desnecessidade de autorização especial expressa de cada associado - Inteligência dos art. 5º, inc. LXX, alínea
‘b’, da CF/1988 e arts. 21 e 22 da Lei n° 12.016/2009 – Súmula n° 629 do C. STF – Entendimento majoritário da
doutrina e da jurisprudência - Inaplicabilidade do disposto no art. 2º-A da Lei n° 9.494/1997 – Elevação do prazo

para cumprimento das ordens – Cabimento - Número expressivo de associados - Decisão reformada em parte -
Recurso parcialmente provido” (fls. 29-30, vol. 6). 2. No recurso extraordinário, os agravantes alegam ter o Tribunal
de origem contrariado o inc. XXI do art. 5º da Constituição da República. Asseveram ser “imprescindível que a

inicial se faça acompanhar do rol de autorização individual expressa dos associados que pretendam se beneficiar

59
da demanda coletiva, para que se dê a legitimidade da associação e crave os parâmetros subjetivos dos efeitos do
julgado” (fl. 54, vol. 6). Sustentam que “os efeitos da decisão no processo coletivo beneficiam tão somente aqueles

que, à época da impetração, encontravam-se vinculados à legitimada coletiva que ajuizou a ação” (fl. 55, vol. 6).

(...) Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO. 4. Razão jurídica não assiste aos agravantes. 5. O
acórdão recorrido harmoniza-se com a jurisprudência deste Supremo Tribunal quanto à desnecessidade de
instrução da inicial com relação nominal e autorização expressa dos associados para a impetração de mandado de
segurança coletivo. (...)

 STJ - REsp: 232187 SP 1999/0086288-0, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento:
23/03/2000, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 08/05/2000 p. 67 LEXSTJ vol. 132
p. 203.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. 1. É parte legítima para figurar no pólo passivo da

Ação Civil Pública a pessoa jurídica ou física apontada como tendo praticado o dano ambiental. 2. A Ação Civil
Pública deve discutir, unicamente, a relação jurídica referente à proteção do meio ambiente e das suas
conseqüências pela violação a ele praticada. 3. Incabível, por essa afirmação, a denunciação da lide. 4. Direito

de regresso, se decorrente do fenômeno de violação ao meio ambiente, deve ser discutido em ação própria.

5. As questões de ordem pública decididas no saneador não são atingidas pela preclusão. 6. Recurso especial
improvido.

 STJ - REsp: 596764 MG 2003/0177227-5, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de
Julgamento: 17/05/2012, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/05/2012.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERMO DEAJUSTAMENTO DE CONDUTA. NÃO
OBRIGATORIEDADE DE O MINISTÉRIO PÚBLICO ACEITÁ-LO OU DE NEGOCIAR SUAS CLÁUSULAS.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO DO PARTICULAR. 1. Tanto o art. 5º, § 6º, da LACP quanto o art. 211 do

ECA dispõem que os legitimados para a propositura da ação civil pública "poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais". 2. Do mesmo modo que o MP não pode obrigar
qualquer pessoa física ou jurídica a assinar termo de cessação de conduta, o Parquet também não é obrigado a
aceitar a proposta de ajustamento formulada pelo particular. Precedente. 3. O compromisso de ajustamento de
conduta é um acordo semelhante ao instituto da conciliação e, como tal, depende da convergência de vontades

entre as partes. 4. Recurso especial a que se nega provimento.

 STJ - REsp: 889766 SP 2006/0211354-5, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento:
04/10/2007, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 18/10/2007 p. 333.

ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR. INTERESSE DE AGIR. PROVA PERICIAL. DESNECESSIDADE. MATÉRIA


CONSTITUCIONAL. 1. O recurso especial não é a via adequada para análise da suscitada afronta ao art. 5º, LXXIV
e LV, da CF, cujo exame é da competência exclusiva da Suprema Corte, a teor do contido no art. 103 da Carta
Magna. 2. As condições gerais da ação popular são as mesmas para qualquer ação: possibilidade jurídica do pedido,
interesse de agir e legitimidade para a causa. 3. A ação popular pode ser ajuizada por qualquer cidadão que tenha

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por objetivo anular judicialmente atos lesivos ou ilegais aos interesses garantidos constitucionalmente, quais sejam,
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e

ao patrimônio histórico e cultural. 4. A ação popular é o instrumento jurídico que deve ser utilizado para

impugnar atos administrativos omissivos ou comissivos que possam causar danos ao meio ambiente. 5. Pode
ser proposta ação popular ante a omissão do Estado em promover condições de melhoria na coleta do esgoto
da Penitenciária Presidente Bernardes, de modo a que cesse o despejo de elementos poluentes no Córrego
Guarucaia (obrigação de não fazer), a fim de evitar danos ao meio ambiente. 6. A prova pericial cumpre a função
de suprir a falta ou insuficiência de conhecimento técnico do magistrado acerca de matéria extra-jurídica, todavia,
se o juiz entender suficientes as provas trazidas aos autos, pode dispensar a prova pericial, mesmo que requeridas
pelas partes. 7. Recurso especial conhecido em parte e não provido.

Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente

 STJ. HC: 86259 MG 2007/0154492-9, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de
Julgamento: 10/06/2008, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/08/2008.

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. CRIME AMBIENTAL. ART. 40 DA LEI 9.605/98. INÉPCIA DA DENÚNCIA. OCORRÊNCIA.

AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO MÍNIMA DA CONDUTA DO PACIENTE QUE TERIA CONTRIBUÍDO PARA CAUSAR DANO
DIRETO OU INDIRETO À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO. MERA ALUSÃO AO FATO DE SER PROPRIETÁRIO DO
TERRENO. INAMISSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A formulação de qualquer denúncia criminal se acha
submetida a exigências legais absolutamente insuperáveis, dentre as quais avulta a da exposição do fato criminoso,

com todas as suas circunstâncias (art. 41 do CPP), sem cujo integral atendimento não pode ser validamente exercido
o poder de denunciar ou restará a iniciativa denunciatória carente de aceitabilidade judicial, devendo ser

prontamente rejeitada pelo Juiz que a examina. 2. In casu, a denúncia não descreve, de forma clara e objetiva,
como seria de rigor, a conduta perpetrada pelo agente que teria dado causa, provocado ou desencadeado, de

forma direta ou indireta, o dano à área inserida em unidade de conservação ambiental. 3. Colhe-se dos autos,
especialmente das peças do Inquérito Policial, que a conduta não teria sido perpetrada diretamente pelo paciente,

mas por um caseiro, que trabalha e reside no local, tanto que o Parquet aduziu que a responsabilidade do acusado
derivaria de sua condição de proprietário do sítio (art. 2o. da Lei 9.605/98); entretanto, ainda nessa hipótese,
mostrava-se indispensável que se declinasse qual a atitude ou a conduta que teria concorrido para o dano, de
forma direta ou indireta, sendo vedada a imputação tão-somente pela relação da pessoa com a coisa (possuidor,
proprietário, gerente, etc). 4. Concede-se a ordem, para declarar a nulidade da denúncia oferecida em desfavor do

ora paciente, por inépcia, facultando ao Ministério Público apresentar nova peça acusatória, perante o Juízo
competente, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário.

 STJ - REsp: 610114 RN 2003/0210087-0, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento:
17/11/2005, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 19/12/2005 p. 463

CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE
COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA
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DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA
JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE

COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE

COLETIVO. ACUSAÇÃO ISOLADA DO ENTE COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM


NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÃO NECESSÁRIA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO
DESPROVIDO. I. A Lei ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a prever, de forma inequívoca, a
possibilidade de penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio-ambiente. III. A responsabilização
penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas
de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo de prevenção geral e especial. IV. A
imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta incapacidade de praticarem uma ação de

relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades. V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no

ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar
condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal. VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a
responsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu

administrador ao agir em seu nome e proveito. VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver

intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral. VIII. "De qualquer modo, a
pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu

representante legal ou contratual ou de seu órgão colegiado.". IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas
penas autônomas de multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e

desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica. X. Não há ofensa ao princípio
constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado...", pois é incontroversa a existência de
duas pessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada

qual recebendo a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva. XI. Há legitimidade da
pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da relação processual-penal. XII. Hipótese em que pessoa jurídica de
direito privado foi denunciada isoladamente por crime ambiental porque, em decorrência de lançamento de
elementos residuais nos mananciais dos Rios do Carmo e Mossoró, foram constatadas, em extensão aproximada

de 5 quilômetros, a salinização de suas águas, bem como a degradação das respectivas faunas e floras aquáticas
e silvestres. XIII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física,
que atua em nome e em benefício do ente moral. XIV. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa

jurídica é a própria vontade da empresa. XV. A ausência de identificação das pessoas físicas que, atuando em nome
e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, inviabiliza o recebimento da exordial acusatória.

XVI. Recurso desprovido.

 STF - RE: 548181 PR, Relator: Min. ROSA WEBER, Data de Julgamento: 06/08/2013, Primeira Turma,
Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA

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PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da
Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à

simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional

não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam
pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as
dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Carta
Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional,
expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também
de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis
internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e

agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso

concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de
suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da
entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se

confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa

das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas
ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso

Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.

 STJ - REsp: 1409051 SC 2013/0338393-8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
20/04/2017, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/04/2017

RECURSO ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL. PESCA EM LOCAL PROIBIDO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

AUSÊNCIA DE DANO EFETIVO AO MEIO AMBIENTE. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. REJEIÇÃO DA


DENÚNCIA. RECURSO PROVIDO. 1. A devolução do peixe vivo ao rio demonstra a mínima ofensividade ao meio

ambiente, circunstância registrada no "Relatório de Fiscalização firmado pelo ICMBio [em que] foi informado que
a gravidade do dano foi leve, além do crime não ter sido cometido atingindo espécies ameaçadas." 2. Os

instrumentos utilizados - vara de molinete com carretilha, linhas e isopor -, são de uso permitido e não
configuram profissionalismo, mas ao contrário, demonstram o amadorismo da conduta do denunciado.

Precedente. 3. Na ausência de lesividade ao bem jurídico protegido pela norma incriminadora (art. 34, caput, da
Lei n. 9.605/1998), verifica-se a atipicidade da conduta. 4. Recurso especial provido para reconhecer a atipicidade

material da conduta, restabelecendo a decisão primeva de rejeição da denúncia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

DIZER O DIREITO. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por crime ambiental, ainda que não haja
imputação contra pessoas físicas?. Disponível em: <https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/e-possivel-
responsabilizacao-penal-da.html> Acesso em: 07.04.2020.

MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020.

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