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Direito Ambiental
Capítulos 1 ao 8
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 1
Olá, aluno!
Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você
não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que
você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua
atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é
escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre!
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum,
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Bons estudos
1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Ambiental da seguinte forma:
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos
objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda
diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com
base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina!
Sistema Nacional de
Unidades de
Conservação da
Natureza
12%
Política Nacional do
Meio Ambiente
33%
Estudo de
Impacto
Ambiental -
EIA
24%
Responsabilidade
ambiental
6%
2
CAPÍTULOS
Capítulo 8 – Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente e Tutela Penal e Processual Penal do
Meio Ambiente.
3
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL, Capítulo 1 ................................................................................................................................ 6
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 28
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 32
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 33
4
Olá, futuro advogado! Tudo bem?
Em primeiro turno, Princípios do Direito Ambiental não costuma ser cobrado no exame de
ordem!
Bom, como é de conhecimento geral, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível,
e o nosso objetivo é deixar você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na
prova!
Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior
aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá?
Vamos juntos!
5
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 1
“Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”.
1
Vide questão 8 desse material.
6
Nesse contexto, o princípio quarto da Declaração da Rio 92 aduz que “para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do
processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”.
Enquanto isso, o princípio quinto da mesma declaração aduz: “todos os Estados e todos
os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem
cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos
padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo”.
II - propriedade privada;
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
7
Alguns doutrinadores afirmam que do fato de a Constituição Federal estabelecer que
cabe ao Poder Público e à coletividade defender e preservar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado para as futuras gerações, surge o princípio da equidade intergeracional, ou
princípio da solidariedade intergeracional.
Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na
legislação infraconstitucional podemos destacar os artigos 2º e 40 da Lei 6.938/81 que trata da
Política Nacional do Meio Ambiente.
8
indígena. (...) Do ponto de vista do sujeito passivo (causador de eventual dano), a prescrição cria
em seu favor a faculdade de articular (usar da ferramenta) exceção substancial peremptória. A
prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como mecanismo de
segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco
a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito
difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande
amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco
ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do
dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade
hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de
direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente
de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional
em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade
com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo,
indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida,
nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela
imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja
genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o
montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009).
Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir
sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução,
extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos
visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?2
2
Vide questões 2, 3, 4, 7, 8 e 9 desse material.
9
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
A aplicação do princípio da prevenção ocorre A aplicação do princípio da precaução ocorre
na certeza científica do impacto ambiental da na constatação de potenciais riscos de
atividade. impacto ambiental da atividade, que no
Conhecendo os danos que determinada momento não podem ser cientificamente
atividade causa ao meio ambiente, podemos comprovados. É um dever de cautela.
impor medidas preventivas para minimizar ou
eliminar esses efeitos.
Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de
provar que as ações não são danosas é do acusado interessado3. Mas atenção: a aplicação do
princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena
de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de
risco ambiental.
3
Vide questão 7 desse material.
4
Vide questões 1 e 10 desse material.
5
Vide questão 6 desse material.
10
Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva6 do degradador ambiental que,
independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua
atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a atividade
do agente.
Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente
equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do
direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao
direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que
6
Vide questões 5, 8 e 10 desse material.
7
Vide questão 4 desse material.
8
Vide questões 9 e 10 desse material.
11
se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à
compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção.
Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar
o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por
eles, mesmo que a sua atividade seja lícita9. É uma forma de evolução e de complementar o
princípio do poluidor pagador.
O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve
ser revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da
ocorrência de efetivo dano ambiental e de qualquer ilicitude no comportamento do usuário.
Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito
da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções
administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses
exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a
preservação do meio ambiente.
9
Vide questão 8 e 9 desse material.
12
Poder Legislativo elaborar leis que visem esse objetivo. Portanto, o dever de intervenção para a
preservação do meio ambiente cabe a todos os Poderes da República, em todas as suas esferas
de atuação.
Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.
13
informações à sociedade, as entidades privadas também estão sujeitas à incidência do princípio
da informação ambiental10, devendo, muitas vezes, elaborar relatórios periódicos.
Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de
forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a
adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades.
Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja
verdade, ampla, tempestiva e acessível.
Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público
o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.
É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação
Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a
quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade
10
Vide questão 4 desse material.
14
perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da
sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo11.
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como
titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à
sua tutela.
Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais,
de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio
ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar
reflexos em todo o planeta12.
11
Vide questão 4 desse material.
12
Vide questão 9 desse material.
15
1.13 Princípio do Limite
Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste
no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no
âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do
meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que
seja permanentemente disponível13.
Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente,
ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares.
É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está
obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos
direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas
garantias.
Esse princípio funciona como um instrumento econômico de proteção ambiental que visa
incentivar as iniciativas para proteção do meio ambiente por meio de recompensas econômicas.
Essas recompensas devem ser custeadas pela pessoa física, jurídica ou pela coletividade que se
beneficia da iniciativa do protetor.
13
Vide questão 9 desse material.
16
QUADRO SINÓTICO
17
proteção ambiental, como as decisões públicas e a fiscalização das suas
execuções.
As informações sobre o meio ambiente devem ser disponibilizadas para todos
os interessados. O direito à informação sobre matéria ambiental é um
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
desdobramento lógico do princípio da participação comunitária, pois o cidadão
só poderá participar se tiver informação.
PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO Incumbe ao Poder Público promover em todos os níveis de ensino a educação
AMBIENTAL ambiental e a conscientização pública para preservar o meio ambiente.
O direito de propriedade está condicionado à observância da sua função social.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que
SOCIOAMBIENTAL DA
tem como titular a coletividade, evidentemente que a função social da
PROPRIEDADE
propriedade está condicionada à sua tutela.
A poluição ambiental não fica limitada apenas a um território, portanto, as
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
nações precisam cooperar entre si para proteger o equilíbrio do meio
ENTRE OS POVOS
ambiente.
Cabe ao Poder Público impor limites, controlar a produção, a comercialização
PRINCÍPIO DO LIMITE e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que gerem risco à vida, à
qualidade de vida e ao meio ambiente.
Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO fundamental, quando conquistadas garantias de proteção ambiental, a
RETROCESSO ECOLÓGICO sociedade não pode retroagir para níveis de proteção inferiores sem que as
circunstâncias fáticas sejam substancialmente alteradas.
PRINCÍPIO DO PROTETOR Segundo o princípio do protetor recebedor, as condutas de proteção ambiental
RECEBEDOR relevantes devem ser compensadas com benefícios econômicos.
18
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
19
Questão 2
Comentário:
Questão 3
20
Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio
ambiental
A) da precaução.
B) da proporcionalidade.
C) da equidade.
D) do poluidor-pagador.
E) do desenvolvimento sustentável.
Comentário:
A questão narra uma situação em que não há estudos conclusivos sobre uma determinada
atividade produzir ou não danos ambientais. Pelo princípio da precaução, a falta de certeza
científica milita em favor do meio ambiente, portanto, isso não deve ser um pretexto para
a negligenciar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental.
Questão 4
Comentário:
21
De acordo com o art. 225, §3º da Constituição Federal, as pessoas físicas e jurídicas estão
sujeitas à sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados, quando as suas condutas e atividades forem nocivas ao meio ambiente.
No direito ambiental, portanto, há uma TRIPLA RESPONSABILIZAÇÃO do poluidor. A
alternativa “B” está incorreta porque as entidades privadas também devem observar o
princípio da informação ambiental, pelo qual todo cidadão tem o direito às informações
que julgar necessárias sobre o meio ambiente, pois trata-se de um direito difuso, que
interessa à toda coletividade. A alternativa “C” está incorreta porque o princípio da função
socioambiental da propriedade possui caráter de dever coletivo. A alternativa “D” está
incorreta porque troca o conceito do princípio da prevenção com o do princípio da
precaução.
Questão 5
Comentário:
22
Questão 6
Comentário:
Questão 7
(IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito do princípio da precaução
em relação ao Direito Ambiental, é correto afirmar que:
A) o ônus da prova sobre a ocorrência do dano ambiental e sua autoria é do autor da ação civil
pública.
B) os riscos são certos e o perigo de dano é concreto.
C) o Poder Público deve comprovar que os riscos existem, e que a pessoa que explora a atividade
foi a causadora do dano.
23
D) ele se confunde com o princípio da prevenção.
E) compete a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou
ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.
Comentário:
Questão 8
(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito dos princípios
que sustentam o direito ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que:
A) O princípio do desenvolvimento sustentável envolve a substituição de norma de expansão
quantitativa por uma melhoria qualitativa como caminho para o progresso, trazendo a
integração entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico para o benefício das
presentes e futuras gerações.
B) O princípio usuário-pagador pressupõe uma prática ilícita daquele que utiliza o recurso
ambiental, sendo possível a exigência de pagamento quando houver o cometimento de faltas
ou infrações.
C) O princípio da precaução contido no artigo 225 da Constituição Federal impõe ao Poder
Público a obrigação de controlar atividades de risco quando importarem ameaças de danos
irreversíveis e conhecidos pela ciência, sendo liberada a atividade se não houver prova do
prejuízo.
D) A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente obriga a reparação dos danos causados pelo
poluidor à fauna, à flora e ao meio ambiente, devendo ser demonstrada a culpa em sua conduta,
exceto em caso de prejuízo causado pela atividade nuclear.
24
Comentário:
Questão 9
II. Para a maioria da doutrina que faz a diferenciação entre estes dois princípios, o princípio da
precaução é aplicável aos casos em que os impactos ambientais são conhecidos e devem ser
evitados ou mitigados, enquanto o princípio da prevenção é aplicável aos casos em que não há
certeza científica sobre os riscos e os impactos ambientais da atividade a ser exercida.
III. As Resoluções do CONAMA que tratam de padrões máximos de emissão de poluentes têm
por fundamento o princípio do limite ou controle.
25
IV. O princípio da Ubiquidade é aquele segundo o qual as presentes gerações não podem utilizar
os recursos ambientais de maneira irracional, de modo a privar as gerações futuras de um
ambiente ecologicamente equilibrado.
V. A cobrança pelo uso da água prevista na Lei de Recursos Hídricos e a compensação ambiental
prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são exemplos de aplicação
prática do princípio do usuário-pagador.
Comentário:
26
Questão 10
Comentário:
Pelo princípio do poluidor-pagador, o sujeito que praticar atividade que cause ou possa
causar dano ambiental deve ser responsável pelas despesas de prevenção, reparação e
repressão desse dano. Portanto, a responsabilidade pela prevenção ao dano ambiental está
incluída na esfera de atuação do princípio do poluidor-pagador. A alternativa “A” está
incorreta porque o princípio em análise não se resume a medidas repressivas, ao contrário,
deve-se privilegiar as medidas preventivas; a alternativa “C” está incorreta porque a
reponsabilidade do poluidor-pagador é objetiva, deve reparar o dano causado por sua
atividade independentemente de culpa; e a alternativa “D” está incorreta porque a
recuperação ambiental próxima das condições originais não exclui o dever de
ressarcimento, inclusive as despesas de prevenção, reparação e repressão podem ser
acumuladas.
27
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - CERTO
Questão 3 - A
Questão 4 - A
Questão 5 - B
Questão 6 - A
Questão 7 - E
Questão 8 - A
Questão 9 - B
Questão 10 - B
28
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
29
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
O princípio do poluidor-pagador é instrumento econômico que exige do poluidor que arque com
os danos causados pela sua atividade, com base no art. 225, § 3º, da CF. Já o princípio do usuário-
pagador, previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938, prevê a cobrança pelo uso dos recursos naturais.
Poluidor-pagador
O princípio do poluidor- pagador busca a reparação ambiental. Isso porque toda atividade
poluidora gera um dano ao meio ambiente, de modo que aquele que polui estará obrigado a
pagar pelos danos suportados pela sociedade. Explica AMADO, Frederico. Resumo Direito
Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São Paulo. Método. 2015, p. 39: “(...) diga-se que a poluição
amparada em regular licença ou autorização ambiental não desonerará o poluidor de reparar
os danos ambientais, pois não se trata de uma penalidade, e sim de um ressarcimento ao meio
ambiente, em aplicação ao princípio do poluidor- pagador.
Usuário-pagador
Uma vez que os recursos naturais são limitados, o legislador passou a prever, inclusive como
instrumento da política nacional do meio ambiente, a possibilidade de se realizar cobrança pelo
uso dos recursos. Isso porque, além de limitar o seu uso, garante que os indivíduos consumirão
os bens naturais de maneira mais consciente, visto que estarão pagando pelo seu uso. Nesse
sentido, preceitua AMADO, Frederico. Resumo Direito Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São
Paulo. Método. 2015, p. 41: “Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar
pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso racional da água (...) há
uma progressiva tendência mundial na cobrança pelo uso dos recursos naturais, notadamente
os mais escassos, a fim de racionalizar a sua utilização e funcionar como medida educativa para
inibir o desperdício (...)”
Art. 225, § 3º, CF. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados. Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente
30
visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar
os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos. Jurisprudência Correlata: ADI 3378. (...)Também considerou que o dispositivo
hostilizado densifica o princípio do usuário-pagador, que impõe ao empreendedor a obrigação
de responder pelas medidas de prevenção de impactos ambientais que possam decorrer da
implementação da atividade econômica (...)
31
LEGISLAÇÃO COMPILADA
CF/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XIII, XXXIII, 170 e 225;
PNMA: art. 2º e 40;
Código Civil: art. 1.228, §1º.
32
JURISPRUDÊNCIA
suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de
obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação
desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que se traduz bem de uso comum da generalidade
de pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.
STJ. REsp 1.120-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009 (Informativo 415, STJ)
O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular
do bem ambiental que constitui direito difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental
assumiu grande amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador
do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato
da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. O direito ao pedido de reparação
de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade,
por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de
estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador
do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e
tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais
direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo
pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja genérico, havendo
elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação.
Quando se cogita da preservação da vida numa escala mais ampla, ou seja, no plano coletivo, não apenas nacional,
mas inclusive planetário, vem à baila o chamado "princípio da precaução", que hoje norteia as condutas de todos
aqueles que atuam no campo da proteção do meio ambiente e da saúde pública. Ainda que não expressamente
formulado, encontra abrigo nos arts. 196 e 225 de nossa Constituição. O princípio da precaução foi explicitado, de
33
forma pioneira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro, em 1992, da qual resultou a Agenda 21, que, em seu item 15, estabeleceu que, diante de uma ameaça
de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o
adiamento de medidas viáveis para prevenir a degradação ambiental. (...) Dentre os principais elementos que
integram tal princípio figuram: i) a precaução diante de incertezas científicas; ii) a exploração de alternativas a ações
potencialmente prejudiciais, inclusive a da não-ação; iii) a transferência do ônus da prova aos seus proponentes e
não às vítimas ou possíveis vítimas; e iv) o emprego de processos democráticos de decisão e acompanhamento
dessas ações, com destaque para o direito subjetivo ao consentimento informado.
STJ. REsp 1049822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª Turma, DJe 18/05/2009.
Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal
contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva. Cabível, na hipótese, a
inversão o ônus da prova que, em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou
compensada a eventual prática lesiva ao meio ambiente.
STJ. R.E. 2003/0195051-9. Rel. orig. Min. José Delgado, rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 18/08/2005.
Publ. 17/10/2005, p. 179.
O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CRFB/1988, art. 225,
§3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do
poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os destinatários (Estado e comunidade), deveres
e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e não fazer), bem
como de pagar quantia (indenização dos danos insuscetíveis de recomposição in natura), prestações essas que
não se excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso.
tem entendido, à luz do dispositivo referido, que a manutenção da área destinada à reserva legal é obrigação
propter rem, ou seja, decorre da relação existente entre o devedor e a coisa, de modo que o ônus de conservação
do imóvel é automaticamente transferido do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter
responsabilidade pelo dano ambiental. Eventual prejuízo deverá ser discutido, por meio de ação própria entre o
adquirente e o alienante que efetivamente provocou o dano.
O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato
jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no
Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdades e dilapidação da qualidade de vida
nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, princípio da
34
proibição do retrocesso), garantia de que os avanços urbanísticos-ambientais conquistados no passado não serão
diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes.
Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Direito Constitucional e Ambiental. Acórdão do tribunal de
origem que, além de impor normativa alienígena, desprezou norma técnica mundialmente aceita. Conteúdo jurídico
do princípio da precaução. Ausência, por ora, de fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de
energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar
legal. Presunção de constitucionalidade não elidida. Recurso provido. Ações civis públicas julgadas improcedentes.
1. O assunto corresponde ao Tema nº 479 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet
e trata, à luz dos arts. 5º, caput e inciso II, e 225, da Constituição Federal, da possibilidade, ou não, de se impor a
concessionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, por observância ao princípio da precaução, a
obrigação de reduzir o campo eletromagnético de suas linhas de transmissão, de acordo com padrões internacionais
de segurança, em face de eventuais efeitos nocivos à saúde da população. 2. O princípio da precaução é um critério
de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto,
evento ou serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o estado analise
os riscos, avalie os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão
decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais. 3. Não há vedação
para o controle jurisdicional das políticas públicas sobre a aplicação do princípio da precaução, desde que a decisão
judicial não se afaste da análise formal dos limites desses parâmetros e que privilegie a opção democrática das
escolhas discricionárias feitas pelo legislador e pela Administração Pública. 4. Por ora, não existem fundamentos
fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas
de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar legal fixado. 5. Por força da repercussão geral, é fixada a
seguinte tese: no atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da
exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por
sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos
pela Organização Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009. 6. Recurso extraordinário provido
para o fim de julgar improcedentes ambas as ações civis públicas, sem a fixação de verbas de sucumbência.
DANO AMBIENTAL. MORTANDADE. PÁSSAROS. O MP estadual, recorrido, ajuizou, na origem, ação civil pública em
desfavor da empresa agrícola, recorrente, sob a alegação de que essa seria responsável por dano ambiental por
uso de agrotóxico ilegal, o que teria causado grande mortandade de pássaros. A recorrente, em contestação, entre
outras alegações, sustentou a descaracterização do mencionado dano, arguindo que pouco mais de trezentas aves
teriam morrido, sem que tenha havido efetivo comprometimento do meio ambiente. A sentença julgou procedente
a ação, condenando a recorrente a pagar a importância de R$ 150 mil em indenização a ser revertida para o meio
ambiente local, em recomposição do dano ambiental causado com a morte de 1.300 pássaros da fauna silvestre, o
35
que se manteve em grau de apelação. Nesta instância especial, ao apreciar a controvérsia, consignou o Min. Relator
que a existência de um dano ambiental não só encerra a necessidade de reconstituição do meio ambiente no que
for possível, com a necessária punição do poluidor (princípio do poluidor-pagador), mas também traz em seu bojo
a necessidade de evitar que o fato venha a repetir-se, o que justifica medidas coercitivas e punições que terão,
inclusive, natureza educativa. Observou não haver como fracionar o meio ambiente e, dessa forma, deve ser
responsabilizado o agente pela morte dos pássaros em decorrência de sua ação poluidora. Quanto ao valor
estabelecido na condenação, entendeu que o pleito da recorrente para que se tome como base de cálculo o valor
unitário de cada pássaro não pode prosperar, já que a mensuração do dano ecológico não se exaure na simples
recomposição numérica dos animais mortos, devendo-se também considerar os nefastos efeitos decorrentes do
desequilíbrio ecológico em face da ação praticada pela recorrente. Diante desses fundamentos, entre outros, a
Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 1.120.117-AC, DJe 19/11/2009, e REsp 1.114.893-
MG.
STF. ADI 3540 MC/DF. Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/09/2005
EMENTA: MEIO AMBIENTE – DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) – PRERROGATIVA
OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA,
QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL –
RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) – COLISÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES
CONSTITUCIONAIS RELEVANTES – OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES
(FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) – A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À
obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade
coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável,
representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais
36
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de
uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de
motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que
privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente
laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela
efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que
provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além
de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A
QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO
obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação
desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A
atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias
e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora
propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. -
Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos
qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio
da reserva legal. - É lícito ao Poder Público – qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na
estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) – autorizar, licenciar ou permitir a
execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde
que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte
comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico
de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).
37
STF. ADPF 101/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia, 11/03/2009.
DE PNEUS USADOS: AUSÊNCIA DE ELIMINAÇÃO TOTAL DE SEUS EFEITOS NOCIVOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituição Brasileira) e a busca de
desenvolvimento econômico sustentável: princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comércio
interpretados e aplicados em harmonia com o do desenvolvimento social saudável. Multiplicidade de ações judiciais,
nos diversos graus de jurisdição, nas quais se têm interpretações e decisões divergentes sobre a matéria: situação
de insegurança jurídica acrescida da ausência de outro meio processual hábil para solucionar a polêmica pendente:
observância do princípio da subsidiariedade. Cabimento da presente ação. 2. Arguição de descumprimento dos
preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de
pneus usados de Países que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do
Comércio – OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. 3. Crescente
aumento da frota de veículos no mundo a acarretar também aumento de pneus novos e, consequentemente,
de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente:
demonstração pelos dados. 4. Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da
geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com garantia
paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das
necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e respeito às gerações futuras.
ordem social e econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a falta de utilização
dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de disseminação de doenças tropicais. Legitimidade e
razoabilidade da atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem
causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não patrimonial, cuja tutela se impõe
de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados, idêntico procedimento adotado
pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. (...) 8. Demonstração de que: a) os elementos que compõem o
pneus, dando-lhe durabilidade, é responsável pela demora na sua decomposição quando descartado em aterros;
b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e cancerígenas no
38
ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície,
ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis e
descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico
dos pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto se tornam focos de incêndio
difíceis de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo
suficiente para abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria prima a impedir
a atividade econômica. Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação de pneus
usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil).
STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837)
É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir,
através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena
- multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os
programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado
pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).
39
ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.
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PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 2
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL ......................................................................................................................... 4
GABARITO.......................................................................................................................................... 68
1
QUESTÃO DESAFIO .......................................................................................................................... 69
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................... 83
2
E aí, OABeiro! Como vai?
A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre Direito Ambiental
da Constituição Federal e Responsabilidade ambiental.
“Direito Ambiental na Constituição Federal” não teve recorrência nos últimos três anos no exame
de ordem! No entanto, por sabermos que a FGV costuma ser bastante imprevisível e este assunto
ser bastante cobrado em diversos concursos públicos, achamos melhor acrescentá-lo na sua
apostila para que assim, possam ser abrangidos o máximo de conteúdo possível. Dessa forma,
acrescentamos também algumas questões que abordaram o referido tema. Não deixe de
responde-las, ok? 😉
assunto de alta recorrência no Exame de Ordem. Nem preciso falar que o estudo deste assunto
é essencial, não é mesmo? Então, mãos à obra! As questões 06 a 09 tratam sobre o tema em
questão.
A banca costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será
cobrado do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.
Vamos juntos!
3
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 2
Antes da Constituição Federal de 1988 o meio ambiente era visto apenas como um recurso
que poderia ser explorado economicamente. Naquele momento histórico, a abundância d a
natureza e a sua aparente infinidade não preocupava a sociedade com a necessidade de sua
preservação. Era uma visão utilitarista do meio ambiente, que vigorou até meados dos anos 70
em todo o planeta.
princípios ambientais.
Foi em 1972, na Conferência de Estocolmo, que teve início a visão protecionista do meio
ambiente. Essa percepção influenciou diversos ordenamentos jurídicos, inclusive o brasileiro que,
em sede infraconstitucional, criou a Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, em 1973, e a Política
Mas foi apenas com a Constituição de 1988 que a proteção do meio ambiente ganha
hierarquicamente inferiores e que eventualmente causem danos ambientais. Além disso, com a
4
previsão constitucional, a proteção ambiental passa a ser uma obrigação do Poder Público, que
deve atuar sempre observando como diretriz o princípio do desenvolvimento sustentável.
Vale lembrar que a forma como o meio ambiente está tutelado pela Constituição de 1988
Quando a Constituição Federal, em seu art. 225, afirma que “todos têm direito ao meio
titularidade coletiva. Por isso, podemos afirmar que qualquer pessoa, residente ou não no
fundamental material. Apesar de não está no rol do Título II da CF/88, que trata especificamente
dos direitos fundamentais, alguns direitos, como o agora estudado, possuem matéria de direito
clássicas”.
intervir. Os direitos de segunda geração são os direitos de igualdade – direitos sociais, culturais
e econômicos.
seja, direitos que possuem uma coletividade em um dos polos da relação jurídica. Eles podem
ser direitos difusos, direitos coletivos propriamente ditos, ou direitos individuais homogêneos.
objeto da tutela e a forma como os polos da relação jurídica estão ligados. O Código de Defesa
Art. 81. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
direito difuso por ser indivisível, com titulares indeterminados (toda a coletividade), ligados por
capítulo específico para a tutela do meio ambiente (Capítulo VI, inserido no Título VIII – Da
Ordem Social).
1
Vide questão 4 desse material.
6
É de extrema importância para o nosso estudo entender as disposições ali escritas, pois
elas devem guiar todo o raciocínio dentro da matéria, então leia o texto da Constituição com
atenção:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
7
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos.
O art. 225 da CF/88 dispõe de diversos aspectos e princípios que devem ser observados
em todo o estudo do direito ambiental. Primeiramente, temos a definição do bem jurídico
tutelado: o meio ambiente ecologicamente equilibrado; depois, podemos extrair da norma que
ele se trata de um bem difuso, pois pertence a “todos” e é “de uso comum do povo”; ainda,
atual deve cuidar do equilíbrio ambiental para si pensando na manutenção desse equilíbrio no
futuro.
interações normais. Ou seja, interações sociais que firam esse direito devem ser condenadas de
acordo com o caput do art. 225 da CF/88.
um conjunto de ações para proteger o meio ambiente, que ainda não foi degradado; enquanto
a restauração consiste em ações para restituir o meio ambiente já degradado ao mais próximo
Portanto, de acordo com o §1º, I, do art. 225 da CF/88, incumbe ao Poder Público proteger
o meio ambiente e, caso ocorra um dano, restituí-lo da forma mais completa possível.
Processos ecológicos essenciais são os processos vitais, que tornam possíveis as relações
entre os seres vivos e o meio ambiente, como as cadeias alimentares, o ciclo da água, do
2
Vide questão 5 desse material.
9
Por sua vez, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas significa que o Poder Público
deve administrar a biodiversidade das espécies vivas e dos seus respectivos ecossistemas.
A Lei 11.105/05 define normas de segurança e de fiscalização das atividades que envolvem
organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados. Para tanto, cria o Conselho
Nacional de Biossegurança e a Política Nacional de Biossegurança.
A Lei 9.985/00, por fim, cria a área ambientalmente protegida, importante instrumento de
preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético do país.
Essa reserva de território deve ser feita em todas as unidades da Federação por meio de
lei ou decreto do Poder Executivo, entretanto, uma vez estabelecida, a sua redução ou supressão
só pode ser feita através de lei. Evidente é o intuito do legislador constituinte: facilitar a criação
de áreas ambientalmente protegidas e dificultar a sua supressão.
3
Vide questões 3 e 5 desse material.
4
Vide questões 2 e 3 desse material.
5
Vide questões 2 e 3 desse material.
10
O estudo prévio de impacto ambiental, que chamaremos de EIA, é uma forma de avaliar o
impacto que determinada atividade pode causar ao meio ambiente. Ele serve para subsidiar o
Além da realização do EIA, a Constituição exige que a ele seja dada publicidade,
qualquer atividade potencialmente danosa para a vida, para a qualidade de vida e para o meio
ambiente, deve ser controlada pelo Poder Público para afastar ou diminuir os seus riscos.
com a responsabilidade pela preservação do meio ambiente. Para tanto, foi instituída a Política
Nacional de Educação Ambiental, pela Lei 9.795/99, que conceitua a educação ambiental como
“processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
sustentabilidade”.
6
Vide questões 3 e 5 desse material.
7
Vide questão 5 desse material.
11
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade 8;
Há diversos diplomas legais que, com base no dispositivo da Constituição, visam a proteção
dos animais e das plantas no ecossistema equilibrado, inclusive tipificando como crime a
conduta danosa a esses bens.
Por exemplo, a Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 32, define como crime “praticar ato
de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos
ou exóticos”; e em seu §1º, o mesmo artigo tipifica a realização de experiencia dolorosa ou cruel
em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando há recurso alternativo.
É para cumprir esse preceito constitucional que a Lei 11.794/08 estabelece regras para os
procedimentos científicos e de aprendizagem que utilizam animais. Fica reservado o uso de
animais vivos, em experiencias que possam causar dor ou angústia, aos casos inevitáveis. Nesses
casos, é preciso desenvolver a pesquisa sob sedação, analgesia ou anestesia adequada e que o
animal seja sacrificado antes de recobrar a consciência – morte por meios humanitários.
foi a que trata da farra do boi, prática catarinense, com contexto religioso, em que o participante
fazia “pegas e correrias de boi” para depois sacrificar o animal e oferecer à comunidade como
hóstia.
Para o Supremo, a farra do boi não se tratava apenas de uma manifestação cultural, mas
sim de uma prática violenta e cruel para com os animais (RE 153.531/SC). As manifestações
culturais no Brasil não podem ser exercidas de forma absoluta, elas encontram limites, e o limite
8
Vide questões 3 e 5 desse material.
12
no caso era a crueldade contra os animais. Portanto, por maioria, a Corte deu provimento ao
recurso, proibindo a realização da farra do boi.
O mesmo entendimento foi adotado quando o Supremo julgou a ADI 4883 e declarou a
consideram a atividade como legítima manifestação cultural protestaram e viram ser aprovada
a Emenda Constitucional nº 96/17, que acrescentou o §7º ao art. 255 da CF/88. A alteração do
texto constitucional passa a reconhecer práticas desportivas que utilizam animais e que sejam
Portanto, atualmente atividades como a vaquejada e o rodeio não podem ser consideradas
inconstitucionais de acordo com o disposto no inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88 e a decisão
No §2º do art. 225, a Constituição destaca a exploração dos recursos minerais porque essa
atividade gera relevantes impactos ao meio ambiente e tem uma expressiva importância
econômica e social.
em decorrência de um único dano ambiental, o seu causador, pessoa física ou jurídica, de direito
13
público ou privado, possa ser responsabilizada penal, administrativa e civilmente de forma
simultânea e independente.
A responsabilidade civil do ente público por dano ambiental pode ser, inclusive,
decorrente da sua omissão ou da sua atuação insuficiente, e, nesses casos, como veremos
Com esse dispositivo, a Constituição Federal quis enfatizar a importância ambiental desses
ecossistemas, transformando-os em patrimônio nacional. Mas, atenção: a previsão constitucional
não transforma esses biomas em bens da União. O que podemos extrair do §4º é que a Floresta
Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira, por serem patrimônio nacional, não admitem qualquer tipo de internacionalização.
As áreas não são bens da União, mas o status de patrimônio nacional garante aos biomas
um regime especial de utilização, que deve ser voltado para a preservação dos respectivos
atributos naturais e para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.
9
Vide questão 1 desse material.
10
Vide questão 2 desse material.
14
As terras devolutas são aqueles territórios que não pertencem legitimamente a nenhum
particular e as, incorporadas no patrimônio público, não são afetadas a qualquer uso. Em regra,
bens públicos de uso especial, pois estão afetados à uma destinação pública específica – a
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas 11;
União, devendo ser usada para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional (com
exceção dos radioisótopos, cuja produção, comercialização e utilização podem ser autorizadas
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos12.
Como já demonstrado nos comentários do inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88, o
legislador constituinte derivado passou a entender que práticas desportivas que utilizem animais,
como por exemplo, a vaquejada, são permitidas desde que configurem manifestações culturais
registradas como patrimônio público cultural brasileiro de natureza imaterial.
Para harmonizar tais práticas com a proteção do meio ambiente prevista no inciso VII do
§1º do art. 225 da CF/88, a atividade deve ser regulamentada por lei específica que tenha como
11
Vide questão 2 desse material.
12
Vide questão 2 desse material.
15
2.4 Ações constitucionais
não era preparado para tutelar direitos transindividuais. Suas características individualistas eram
ecologicamente equilibrado.
estabelece expressamente a Ação Civil Pública e a Ação Popular como instrumentos para garantir
a proteção dos direitos transindividuais.
Ação Civil Pública: é um instrumento processual que serve para condenar o agente
causador de dano ambiental a cessar ato lesivo ao meio ambiente, recuperar as áreas
degradadas e/ou pagar reparação pecuniária. A Ação Civil Pública – ACP – está
regulamentada pela Lei 7.347/85. Nesta lei, temos um rol taxativo de legitimados a
propor a ACP, mas entre eles não encontramos o cidadão. 13
Ação Popular: é o instrumento processual utilizado pelo cidadão para fazer um controle
de legalidade e de lesividade de atos, e proteger interesses transindividuais, entre eles,
o meio ambiente. É uma forma de exercer a democracia direta e, portanto, o seu titular
deve ter capacidade eleitoral ativa. Por isso, a pessoa jurídica não é legitimada a propor
Ação Popular (Súmula 265, STF).
O Poder Público exerce um domínio eminente sobre todos os bens situados no território
Estado, que o permite submeter, de forma geral, à sua vontade todos os bens situados em seu
13
Vide questão 09 e 08
16
território, sejam eles públicos, privados ou não sujeitos ao regime normal de propriedade, como
a água.
É por esse domínio eminente dos bens pelo Estado que os recursos ambientais podem
sofrer intervenções do Poder Público, mesmo que ele não seja o proprietário.
De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente, prevista na Lei 6.938/81, são recursos
ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar
O Estado exerce a função de gestor e assegurador desses recursos ambientais, que são
classificados como patrimônio público em sentido amplo, tendo em vista o seu uso coletivo.
Quanto à sua destinação, os recursos naturais podem ser classificados como bens públicos
de uso comum do povo, de acordo com a divisão de bens públicos do art. 99 do Código Civil.
Portanto, os bens naturais podem ser utilizados por todos, igualmente, sem necessidade de
Não podemos confundir o termo “bem de uso comum do povo” usado no caput do art.
225 da CF/88 com a classificação do CC/02. O intuito do legislador constituinte ao usar essa
A doutrina administrativista tem uma percepção diferente. Por ela, é permitido que os bens
de uso comum do povo sejam desafetados, o que é impossível de acontecer com os bens
naturais, devido à titularidade difusa dada pela Constituição. Ademais, como visto, os bens
naturais eventualmente afetados podem ser classificados administrativamente como “bens de
uso especial”, mas não perdem a característica de bem de uso comum do povo no sentido dado
pela Constituição.
17
Quanto à titularidade, os recursos naturais podem ser classificados em federais, estaduais,
distritais ou municipais. Vale lembrar que ao dar a titularidade dos recursos naturais aos entes
federados, a Constituição não está dando a propriedade ou o domínio desses bens. A União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios atuam como gestores responsáveis pela preservação
A Constituição enumera os bens da União em seu art. 20, nos seguintes temos:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental
federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
46, de 2005)
VI - o mar territorial;
18
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais
no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
Por ser um tema de direito constitucional, vamos tratá-lo de forma objetiva aqui na matéria
de direito ambiental, revisando e destacando os pontos que interessam à nossa disciplina, ok?
As terras devolutas são aquelas que não são de propriedade particular e aquelas que,
incorporadas ao domínio público, ainda não foram afetadas a qualquer uso. Em geral elas são
classificadas como bens públicos dominicais. Em regra, os bens dominicais são disponíveis,
entretanto, quando as terras devolutas são indispensáveis para a preservação ambiental, há uma
exceção quanto a sua disponibilidade: o art. 225, §5º da própria CF/88 estabelece a
excepcionalmente classificadas como bens públicos de uso especial devido à destinação pública
que receberam da Constituição.
Para classificar os cursos d’água como bens da União, devemos observar a sua extensão e
o critério da segurança nacional. Para aferir no caso concreto se o bem é federal, estadual ou
distrital, a Agência Nacional de Águas – ANA – definiu 5 critérios na Resolução n. 399/04:
5.1. Cada curso d’água, desde a sua foz até a sua nascente, será considerado como
unidade indivisível, para fins de classificação quanto ao domínio.
19
5.2. Os sistemas hidrográficos serão estudados, examinando-se as suas correntes de água
sempre de jusante para montante e iniciando-se pela identificação do seu curso principal.
5.3. Em cada confluência será considerado curso d’água principal aquele cuja bacia
hidrográfica tiver a maior área de drenagem.
5.4. A determinação das áreas de drenagem será feita com base na Cartografia Sistemática
Terrestre Básica.
5.5. Os braços de rios, paranás, igarapés e alagados não serão classificados em separado,
uma vez que são considerados parte integrante do curso d'água principal.
Por esses critérios, os trechos de rios que compõem os cursos principais das bacias
hidrográficas que transpassam ou compõem limites estaduais, são bens da União (STJ,
informativo 398).
As ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras.
Entretanto, própria Constituição estabelece que não são bens de União as áreas que sejam
de domínio do estado membro ou que sejam sede de Município (salvo as áreas afetadas ao
(SNUC), estabelece que as ilhas oceânicas e costeiras são ambientalmente relevantes porque se
destinam prioritariamente à proteção da natureza. Ainda, define que outra destinação dessas
ilhas deve ser precedida de autorização de órgão ambiental competente, tendo em vista que a
marítimas devem ter acesso livre, salvo quando a sua área for de interesse para segurança
nacional ou protegida por lei.
20
Em 1982 ocorreu a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, na Jamaica.
Nessa convenção foram estabelecidos os princípios gerais para a exploração dos recursos
O mar territorial brasileiro é um bem da União por ser de interesse para a segurança
nacional, pois a soberania do Brasil se estende por ele, por seu espaço aéreo, por seu leito e
por seu subsolo. O mar territorial compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura
(mais ou menos 22km), medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular.
Lembre-se que a soberania nacional na área de mar territorial e seus respectivos espaços
sempre lembrar do direito de passagem inocente para os navios de qualquer outro Estado
soberano.
Mas o direito de passagem inocente pode ser exercido de qualquer forma? Claro que não!
O Estado que possui o mar territorial que é área para a passagem inocente tem o direito de
A Zona Econômica Exclusiva, que vamos chamar apenas de “ZEE”, compreende uma faixa
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para
mar e do seu subsolo. Por força da Constituição, os recursos naturais encontrados na ZEE são
considerados bens da União, a quem também cabe regulamentar matérias como a investigação
instalação ou estrutura.
O fato de o Brasil ter soberania para explorar e aproveitar os recursos naturais da ZEE
brasileira não retira o direito dos demais Estados ao gozo de liberdades como a navegação e o
sobrevoo.
21
Por fim, devemos conceituar a plataforma continental como o leito e o subsolo das áreas
submarinas além do mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do território
terrestre ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base.
A União, por força do art. 20, V, da CF/88, tem o direito exclusivo de autorizar e
regulamentar perfurações na plataforma continental, mas é importante destacar que é
brasileira.
Os recursos naturais com potencial energético são em regra bens da União, tendo em vista
a sua relevância econômica. Mesmo que esteja localizado em curso d’água estadual, a área de
potencial de energia hidráulica será sempre bem da União, que tem competência para explorar,
diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços e instalações de
solo e a propriedade dos seus recursos minerais. Esses últimos não integram o patrimônio do
Art. 1.230, do Código Civil – A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
As cavidades naturais subterrâneas são espaços subterrâneos acessíveis pelo ser humano,
popularmente conhecidos como caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou buraco. Inclui-se no
22
conceito de cavidades naturais subterrâneas o seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna
e a flora e o corpo rochoso, desde que tenham se formado por processos naturais,
O dispositivo aduz às terras ocupadas permanentemente pelos índios, utilizadas para suas
costumes e tradições.
As terras ocupadas tradicionalmente pelos índios são de titularidade da União, mas são
Muito importante destacar que o STF entende que a Constituição de 1988 reconheceu os
direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e não simplesmente outorgou
as eles esse direito. Ou seja, isso quer dizer que o ato de demarcação de terras indígenas tem
natureza declaratória e não constitutiva. Trata-se de um direito originário, mais antigo do que
qualquer outro, que prepondera mesmo diante de pretensos direitos adquiridos materializados
em escrituras públicas ou título de legitimação de posse de pessoa não-índio, que são atos
23
Por fim, vale lembrar que as terras indígenas são bens públicos de uso especial, pois têm
destinação pública definida (estão afetadas). Isso implica na inalienabilidade, indisponibilidade
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas
aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
Para Carvalho Filho, as regras do art. 26 devem ser estendidas ao Distrito Federal, tendo
em vista a sua aproximação com os estados membros pela disciplina constitucional.
Os municípios foram excluídos da partilha de bens constitucional! Mas isso não significa
que eles não tenham titularidade de bens! As ruas, praças, jardins públicos, edifícios públicos
União cabe legislar sobre matérias de interesse nacional, aos estados cabe legislar sobre matérias
de interesse regional e aos municípios cabe legislar sobre matérias de interesse local.
A competência ambiental material, por sua vez, atribui aos entes federados o poder de
execução da lei, de colocá-la em prática independentemente de provocação, e se subdivide em
exclusiva e comum.
24
2.6.1 Competência legislativa privativa
É a competência outorgada pela Constituição (art. 22) à União para legislar sobre
determinados assuntos, entre eles: águas, energia, regime de portos, navegação lacustre, fluvial
e marítima, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, sistema de geologia
privativa da União podem ser delegadas para os estados da federação mediante autorização
por meio de lei complementar.
Ademais, não custa nada lembrar que o fato de a competência legislativa ser privativa da
União, não significa que só ela tenha o poder de fiscalizar. Guarde essa informação. 😉
Os estados federados possuem sua competência legislativa exclusiva prevista nos §2º e §3º
do art. 25 da CF/88.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
(...)
Quanto aos municípios, apesar de não terem sido expressamente contemplados por
competências legislativas exclusivas em matéria ambiental pela Constituição, podemos extrair
do art. 30, I da CF/88 que esses entes podem legislar sobre assuntos de interesse local, desde
25
que comprovado o interesse restrito ao âmbito territorial do município. Esse “interesse local”
não significa ausência de interesse regional ou nacional. Para detectar se a matéria é de
De acordo com o art. 25, §1º da Constituição Federal, são reservadas aos Estados as
competências que não lhes sejam por ela vedadas. É o que chamamos de competência
são elencadas matérias legislativas que cabem a todos os entes da federação. No contexto
ambiental, destaca-se:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
(...)
legislativa, é preciso estabelecer algumas regras para evitar conflitos. A mais importante é a
prevista no §1º do art. 24 da CF/88, que limita a competência da União a estabelecer normas
26
gerais sobre essas matérias, que devem ser observadas pelos estados, DF e municípios. Normas
gerais são aquelas que estabelecem conceitos, princípios e procedimentos básicos para serem
A inércia da União em editar a norma geral faz surgir a competência legislativa supletiva
ou plena para os estados e para o DF, como dispõe o §3º do art. 24 da CF/88, que passam a
poder editar normas gerais e normas específicas sobre os assuntos concorrentes.
Se após exercida a competência legislativa supletiva pelo estado ou pelo DF, a União editar
a norma geral, ela irá suspender a eficácia da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária.
Atenção: a lei geral editada pela União supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva
editada pelo estado ou pelo DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES
FEDERATIVOS DISTINTOS! Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editada a
E os municípios? Bem, o art. 24 da CF/88 não atribui nenhuma competência legislativa aos
municípios, por isso, a doutrina majoritária não considera que eles tenham competência
concorrente. Mas o art. 30, I e II da CF/88 afirma que cabe ao município “legislar sobre assuntos
de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”! Isso não é
suplementar.
desdobramento da competência concorrente, e está prevista no art. 24, §2º da CF/88 da seguinte
forma: “a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
27
suplementar dos estados”. Portanto, os estados e o DF podem suplementar as normas gerais
editadas pela União, claro, sem confrontá-las.
suplementar com base no art. 30, II da CF/88, desde que a norma trate de interesse local. Com
isso, preenchemos eventuais lacunas na divisão constitucional de competências legislativas.
utilizado pelo constituinte para definir quais assuntos seriam incluídos nesse rol foi o interesse
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
28
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos
e mediante aprovação do Congresso Nacional;
(...)
Notou alguma coisa no inciso XII acima citado? Observe que ele autoriza a exploração
portanto, de uma possibilidade de delegação do exercício dessa competência. Ok, mas e daí?
Daí que esse inciso especificamente deixa de ser classificado como uma competência material
exclusiva e passa a ser considerado uma competência material privativa da União que, como
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
29
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;
(...)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
(...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
Para regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei Complementar 140/11, que será
aprofundada adiante, com o intuito de estabelecer uma gestão descentralizada das questões
30
3. Responsabilidade Ambiental
Como vimos, o art. 225, §3º da CF/88 estabelece que “as condutas e atividades
direta ou indiretamente pela atividade que causou o dano ambiental – pode ser responsabilizado
direito subjetivo da vítima, sem que preexista relação jurídica entre ela e o agente, temos a
nos artigos 927 e 186 do Código Civil, são: ato ilícito (com dolo ou culpa) + dano + nexo causal.
Quando falamos em culpa no direito civil temos que entendê-la como qualquer
mesmo se a conduta do agente for dolosa ou culposa, se ela não gerar dano à vítima, não
31
falamos em responsabilidade civil. Por fim, o nexo causal é a relação entre a conduta do agente
e o dano causado à vítima. É uma relação de causa e efeito. Para a responsabilização de alguém,
é preciso provar que ele deu causa ao resultado, não basta que o agente tenha praticado
conduta ilícita e que a vítima tenha sofrido um dano, é preciso estabelecer uma relação casuística
entre os dois.
Já que estamos tratando do nexo causal, é importante lembrar a você que existem situações
excludentes do nexo causal: caso fortuito ou caso de força maior; fato exclusivo da vítima; e
fato de terceiro.
A responsabilidade objetiva, por sua vez, exige apenas dois pressupostos: a dano e nexo
causal. A teoria objetiva baseia-se no risco da atividade e, por isso, não se interessa com o
elemento subjetivo (dolo ou culpa). Portanto, quando dizemos que a responsabilidade é objetiva,
significa que, independente de dolo ou culpa, se houve dano e se esse dano decorreu de
conduta lícita ou ilícita do agente (nexo causal), ele deve ser responsabilizado pelos prejuízos
causados.
A regra civil é que a responsabilidade seja subjetiva, sendo a teoria objetiva aplicada apenas
Art. 14, §1º, da Lei 6.938/81 – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 14
degradado por meio de uma tutela específica. Por isso, em regra, cabe ao poluidor a obrigação
de recuperar o meio ambiente, restaurando o seu status quo ante. Subsidiariamente, apenas se
o dano for irreparável, é que caberá ao poluidor indenizar os danos causados em dinheiro,
14
Vide questão 7
32
Ademais, a recuperação do meio ambiente pode ser conjugada com a indenização
pecuniária, pois o princípio da reparação integral visa a mais completa restauração do
equilíbrio ambiental. Nesse sentido, se, em caso de dano, o poluidor reparar de forma completa
e imediata o meio ambiente, não há o que se falar em indenização.
Vale lembrar que a responsabilização do poluidor na esfera civil não visa puni-lo, mas
apenas reparar o dano causado. Nesse sentido, o STJ afirma que “é inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é
Como vimos, a responsabilidade ambiental segue a teoria objetiva. Com isso, não é
(culpa) do poluidor. Basta que se constate do efetivo dano ambiental e a relação entre ele e a
dano e o nexo causal entre ele e a atividade do acusado. De acordo com o enunciado da Súmula
618 do STJ, “a inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental”. Esse
entendimento se baseia no in dubio pro nature, pois o aplicador do direito deve sempre
interpretar os fatos em favor da tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
infrator a atribuição de demonstrar que não praticou a atividade lesiva a ele imputada, ou que
ambiental, a doutrina diverge. Alguns entendem que a teoria objetiva, baseada na teoria do
33
risco, deve admitir a prova de excludente de responsabilidade. Para eles, a pessoa que assume
o risco de uma atividade deve assumir os seus ônus, exceto os absolutamente imprevisíveis.
Para os que defendem esse posicionamento, o dever de indenizar surge apenas com o
dano, ainda que ele seja causado por culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito
ou de força maior, pois o simples fato de exercer a atividade potencialmente poluidora produz
Portanto, para a teoria do risco integral, só se exclui a responsabilidade civil caso seja
comprovado que o dano não existiu ou que o dano não está relacionado com a atividade que
o agente exerce.
É uma teoria extremamente rigorosa e, por isso, é adotada no Brasil apenas nos casos de
Além de ser objetiva e pautada na teoria do risco integral, a responsabilidade civil por
dano ambiental também é solidária. A solidariedade é um artifício técnico usado para facilitar
o cumprimento de uma obrigação, que poderá ser reclamada em sua totalidade por qualquer
dos credores a qualquer dos devedores.
Para fins de solidariedade ambiental, equiparam-se como poluidores quem faz, quem não
faz quando deveria fazer, quem faz mal feito, quem não se importa que façam, quem financia
solidária faz com que todos eles devam responder através de seus bens por todo os prejuízos
causados pelo dano, independentemente do seu grau de culpabilidade. Portanto, a formação
34
de litisconsórcio não é obrigatória, os responsáveis solidários podem ser acionados
conjuntamente ou de forma individual.
e do nexo causal entre ele e a atividade do poluidor. Entretanto, o STJ excetua essa regra,
dispensando a comprovação do nexo causal, no caso de responsabilidade por degradação
Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo
admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
Não custa nada reforçar, tendo em vista a importância do tema, que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é imprescritível. Diante do conflito entre a segurança
jurídica do poluidor com a prescrição e a melhor tutela do bem jurídico ambiental, que é
coletivo, indisponível, fundamental e antecede todos os demais direitos (pois sem ele não há
35
vida), o último prevalece sobre o primeiro e a reparação do dano ambiental é considerada
imprescritível.
matéria, nos autos do Recurso Especial 654.833. Sob a relatoria do Ministro Alexandre de Moraes,
os autos foram julgados, definitivamente, em 20 de abril de 2020, ratificando, por maioria de
ambiental? É possível que um dano ao meio ambiente, direito difuso, cause dano moral
Todas das respostas são positivas. A degradação do meio ambiente pode causar um dano
Com a crise ambiental e a sociedade de massa em que vivemos, é preciso dar um enfoque
mais abrangente à responsabilidade civil. Normalmente a responsabilização extrapatrimonial
está relacionada aos direitos de personalidade, vinculados a uma pessoa física e até mesmo
jurídica. Entretanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ter a sua
face individual, apresenta-se como um direito difuso, transindividual. Se o indivíduo pode ser
indenizado por dano moral, também deve ser admitido o dano moral da coletividade, caso
Seguindo esse entendimento, o STJ demonstra que admite o dano moral coletivo em
matéria ambiental na decisão do REsp. 1.114.839: “a reparação ambiental deve ser feita de forma
mais completa possível, de modo que a condenação a recuperar a área lesionada não exclui o
dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno
restabelecimento do meio ambiente afetado (dano interino ou intermediário), bem como pelo
dano moral coletivo e pelo dano residual (degradação ambiental que subsiste, não obstante
36
Ademais, na decisão do REsp. 1.367.923, o STJ deixou claro que existe um paradoxo na
admissão de dano moral individual sem que fosse possível o mesmo tratamento à coletividade.
E ainda, que a degradação do meio ambiente causa dano moral coletivo, mesmo que de forma
reflexa.
De acordo com o art. 37, §6º da CF/88, “as pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável
O Código Civil, nesse contexto, dispõe no seu art. 43 que “as pessoas jurídicas de direito
público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade
causa a terceiros, ressalvado direito de regresso contra os causadores do dano, se houver, por
objetiva pelo dano causado ao meio ambiente por seus agentes, no desempenho de suas
funções ou em razão delas.
A teoria do risco administrativo não se confunde com a teoria do risco integral. Ambas
adotam a responsabilidade objetiva, dispensando a comprovação de dolo ou culpa do agente.
Entretanto, pela teoria do risco integral não é possível reconhecer as causas excludentes de nexo
causal e, já na teoria do risco administrativo, admite-se que o Estado afaste a sua
responsabilidade nos casos de fato exclusivo da vítima, caso exclusivo de terceiro, caso fortuito
e força maior.
37
No direito administrativo, aplicamos a teoria do risco administrativo quando estamos diante
de um ato comissivo do agente público, mas ela convive perfeitamente com a teoria da culpa
do serviço, que prevê a responsabilidade subjetiva do Estado nos casos de danos decorrentes
da sua omissão.
serviço. Portanto, não é preciso indicar o sujeito que se omitiu por dolo ou culpa e gerou o
dano a terceiro, basta que fique comprovado que o Estado não agiu, ou que agiu de forma
insuficiente.
responsabilidade solidária do Poder Público nos casos em que figura como poluidor por
omissão.
duplamente onerada – com o dano ambiental e com o pagamento respectivo feito com dinheiro
público.
recuperar o meio ambiente e/ou indenizar os prejuízos causados. Se eventualmente ele for
direito de regresso contra o responsável principal. Isso quer dizer que o Estado integra o título
fizer.
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RESPONSABILIDADE
OBJETIVA
(TEORIA DO RISCO ADM.)
RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO
RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA
(POLUIDOR POR OMISSÃO)
pelos danos que causou ao meio ambiente. A Administração Pública deve fiscalizaras atividades,
Como se trata de uma competência material comum aos entes federados, essa atividade
é atribuída aos órgãos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, dentro das
limitando direitos individuais, para tutelar interesse público. Para tanto, são usadas normas
limitadoras e sancionadoras.
O poder de polícia ambiental se fundamenta no art. 225 da CF/88, que determina ser um
dever do Poder Público e da coletividade a defesa e a preservação do meio ambiente
O Poder Público exerce o poder de polícia ambiental através do seu órgão ambiental
competente, que deve atuar sempre nos limites da lei, observando o devido processo legal e,
quando se deparar com um ato discricionário, agir sem abuso ou desvio de poder.
39
O processo administrativo federal para apuração de infrações relativas ao meio ambiente
pode ser sintetizado da seguinte forma:
no processo administrativo. Trata-se de uma fase obrigatória que deve ser observada pela
autoridade administrativa, logo após a aplicação do auto de infração. Importante destacar que
a conciliação administrativa não tem o objetivo de reparar o dano, mas sim, de conferir
alternativas para quitação da multa ambiental aplicada (pagamento com desconto, parcelamento
ou conversão da multa em serviços ambientais fora da área degradada). Caso o autuado não
compareça à audiência, não ocorrerá revelia
A lei complementar 140/11 dispõe que qualquer pessoa que seja legalmente identificada
deve ser determinada e executada pela própria Administração Pública, pois as principais
40
A responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva, ou seja, diferentemente da
responsabilidade civil, adotamos aqui a teoria da culpabilidade, avaliando o elemento subjetivo
do poluidor (dolo ou culpa) para a sua condenação, além, é claro, do efetivo dano e do nexo
causal entre ele e a conduta. Isso se justifica porque a responsabilização administrativa do
poluidor visa precipuamente a sua punição, ao contrário da responsabilização civil, que visa a
seja, se determinada conduta causadora de dano ambiental não for prevista nas normas de
Veja bem: uma mesma conduta pode ser tipificada como infração administrativa ao mesmo
tempo que está tipificada como crime, ok? Mas se uma conduta estiver tipificada somente como
crime, ela também pode ser sancionada administrativamente! Se uma pessoa violou bem jurídico
tutelado pelo direito penal, consequentemente ela violou uma regra jurídica de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
O agente público que autuar o poluidor, ao lavrar o auto de infração, deve indicar as
sanções aplicadas ao caso concreto seguindo os critérios de: gravidade dos fatos, antecedentes
consequências que o dano causou; o agente também deve apurar se o poluidor autuado possui
antecedentes quanto ao cumprimento da legislação ambiental; e, no caso de multa, a situação
I - advertência;
II - multa simples;
X – (VETADO)
XI - restritiva de direitos.
Advertência
um ato lesivo ao meio ambiente. Aplicando a advertência, o Poder Público objetiva que o agente
tome as devidas providências para cessar ou impedir a degradação ambiental.
Segundo o §2º do art. 72 supracitado, a advertência será aplicada pela inobservância das
meio de lavratura de auto de infração, garantido o devido processo legal, com contraditório e
ampla defesa.
Com o auto de infração, deve ser estabelecido um prazo para que a irregularidade seja
sanada. Caso decorra o prazo fixado sem a devida regularização, o agente público autuante
42
Por fim, vale salientar que o STJ entende que as demais sanções podem ser aplicadas
independentemente da advertência prévia, pois o agente público deve levar em consideração
Multa simples
A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: advertido
por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por
Ministério da Marinha.
Como já foi mencionado, o agente público, ao fixar o valor da multa, deve observar a
situação econômica do infrator além dos seus antecedentes e da gravidade dos fatos.
como base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma, metro de carvão-mdc, estéreo, metro
quadrado, dúzia, estipe, cento, milheiros ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto
jurídico lesado.
em dívida ativa e na execução imediata das obrigações pactuadas, tendo em vista o seu caráter
A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo.
Ela deve ser imposta até que a infração seja cessada ou até a celebração de termo de
Cabe ao agente público estabelecer o valor do dia-multa ao lavrar o auto de infração. Esse
valor não pode ser inferior a R$ 50,00 e nem superior a 10% do valor da multa simples cominada
para a infração.
Atenção: de acordo com o art. 76 da lei 9.605/98, o pagamento da multa imposta pela
administração estadual, distrital, municipal ou do território, substitui a multa federal quando
tiver a mesma hipótese de incidência. Observe que somente o pagamento da multa gera a
substituição. A celebração de acordos para ajustamento de conduta não possui esse condão,
Mas, no caso de crimes ambientais, não é preciso esperar a condenação do infrator para
realizar a apreensão desses instrumentos e produtos, que deve ser feita logo que verificada a
infração e providenciada a correta destinação.
Quanto à apreensão dos animais, temos as seguintes regras: os animais silvestres devem
ser libertados em seu habitat ou entregues a zoológicos, fundações, entidades científicas, centros
44
habilitados, ou ainda entregues à guarda doméstica provisória. Os animais domésticos e os
animais exóticos serão apreendidos quando forem encontrados no interior de unidade de
prévio e notificação do proprietário para que remova os animais do local no prazo fixado pela
Os animais domésticos e os animais exóticos que forem apreendidos poderão ser vendidos
ou doados pela autoridade ambiental competente para órgãos e entidades públicas de caráter
científico, cultural, educacional, hospitalar, penal, militar ou social, bem como para entidades
Quanto aos produtos e subprodutos da fauna e da flora, destacamos que a Lei de Crimes
perecíveis apreendidos, como a pele, o pelo, a pena, o chifre e o osso do animal, devem ser
destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.
descaracterização por meio de reciclagem quando puder ser usado para nova infração.
As vendas serão feitas mediante leilão, nos termos da lei 8.666/93, e os custos operacionais
de depósito, remoção, transporte, beneficiamento e demais encargos legais devem ser arcados
pelo adquirente. Outra possibilidade é a doação desses bens ou a utilização deles pela própria
terceiros, fundamentando a medida como a mais adequada para a execução dos fins
45
Destruição ou inutilização do produto
aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis no caso
instruído com as condições anteriores e posteriores do produto, bem como com a respectiva
avaliação.
Trata-se de uma penalidade aplicada ao produtor que não seguir as normas legais e os
regulamentos aplicáveis ao produto. Serve para impedir que o produto e o subproduto de uma
O embargo deve ser limitado ao local onde de fato ocorreu a infração ambiental. Se existem
outras atividades exercidas na propriedade do embargo, elas não devem ser alcançadas. Ou
seja, a sanção não impede atividades não relacionadas com a infração, mesmo que funcione no
mesmo local da embargada.
Ministério Público em até 72 horas para que seja apurado se houve infração penal; e promover
a divulgação dos dados do bem embargado e do seu titular em lista oficial, especificando o
local embargado e se o respectivo auto de infração está julgado ou se ainda está pendente.
Demolição de obra
A sanção pode ser executada pela administração ou pelo próprio infrator, em prazo fixado
após o julgamento do auto de infração. Mesmo que seja executada pela Administração, as
despesas da demolição devem ser do infrator.
Ademais, não deve ocorrer a demolição quando, por laudo técnico, ficar demonstrado
que a sua execução pode acarretar mais impactos ao meio ambiente do que a sua
manutenção. Nesses casos, a autoridade ambiental, sem prejuízo das demais sanções
administrativas cabíveis, deve determinar de forma justificada outras medidas para cessar ou
extrema, que só pode ser tomada quando o agente público autuante estiver diante de um grave
risco à saúde humana ou de risco de agravamento de dano ambiental que não sejam sanáveis.
Nesses casos, a demolição poderá ser executada pelo próprio agente público, por quem
ele autorizar ou pelo infrator, e sempre às custas deste último. Ademais, em situações assim,
cabe ao representante do Poder Público descrever e documentar a ação, inclusive com fotos.
47
Vale ressaltar que o Decreto 6.514/08, que faz todas essas regulamentações, veda
expressamente a demolição de edificações residenciais que, segundo o STJ, só podem ser
ambientais.
normas, portanto, não há prazo definido para sua cessação. Se o infrator autuado demonstrar
que regularizou o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento que sofreu a suspensão, a
sanção deve acabar – mas isso depende de uma decisão administrativa da autoridade pública
ambiental competente.
Restritiva de direitos
Segundo o §8º do art. 72 da Lei 9.605/98, as sanções restritivas de direito são: I - suspensão
A suspensão do registro, licença ou autorização ocorre até que o infrator adeque as suas
48
exemplos de instrumentos econômicos para promover a preservação ambiental. Essas sanções
atingem atividades econômicas que violam as normas ambientais e, nada mais do que justo que
contratar com a Administração Pública, que tem um prazo de até 3 anos. Entretanto, a
chamando apenas de prescrição. É importante que você não confunda: o prazo para a
administração apurar uma infração ambiental é decadencial, apesar do termo “prescrição” usado
na lei; o prazo para a apuração do auto de infração é prescrição intercorrente; e o prazo para
estiver cessada.
49
Se a infração também for considerada crime, devemos usar o prazo prescricional do
Código Penal para reger essa situação administrativa.
durante determinado prazo legal. A prescrição limita a ação do Estado e privilegia a segurança
jurídica do administrado.
O artigo supracitado também dispõe sobre a prescrição intercorrente nos termos do seu
§2º: incide a prescrição no procedimento de apuração do auto de infração paralisado por mais
de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou
começa a fluir um prazo prescricional de 5 anos para que a Administração Pública execute a
penalidade. Nesse contexto, a Súmula 467 do STJ: “prescreve em cinco anos, contados do
QUADRO SINÓTICO
50
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de
todos (transindividual).
É um direito fundamental.
O meio ambiente é um bem de uso comum do povo – podem ser
usados por todos, em igualdade de condições, sem necessidade
de consentimento individualizado por parte da Administração
Pública. São bens públicos afetados e, portanto, indisponíveis.
Princípio do desenvolvimento sustentável – defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
futuras gerações.
Princípio democrático: o dever de defender e preservar o meio
ambiente para as presentes e futuras gerações também pertence
à coletividade.
ART. 225, §1º DA Princípio da obrigatoriedade de atuação estatal – para assegurar a
CF/88 efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
ART. 225, §1º, I, Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
DA CF/88 manejo ecológico das espécies e ecossistemas (princípio da prevenção)
Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País
ART. 225, §1º, II,
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
DA CF/88
genético.
Em todas as unidades da Federação devem ser definidos espaços
territoriais e seus componentes para serem especialmente protegidos,
ART. 225, §1º, III, sendo vedada qualquer forma de utilização que comprometa a
DA CF/88 integridade dos atributos que justifiquem essa proteção.
Esses espaços protegidos podem ser criados por meio de lei ou de
decreto, mas só podem ser alterados ou suprimidos por meio de lei.
Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
ART. 225, §1º, IV, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade – a
DA CF/88 publicidade do EIA é essencial para o princípio da informação e,
consequentemente, para a participação da sociedade nas questões
ambientais.
controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
ART. 225, §1º, V,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
DA CF/88
vida e o meio ambiente (lembre-se do poder de polícia ambiental).
51
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
ART. 225, §1º, VI,
pública para a preservação do meio ambiente – é uma forma de viabilizar
DA CF/88
o princípio democrático.
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
ART. 225, §1º,
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
VII, DA CF/88
espécies ou submetam os animais a crueldade.
Princípio do poluidor-pagador: aquele que explorar recursos minerais
fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado [lembre-se que a
ART. 225, §2º DA
prioridade da reparação é in natura, se não for possível, o degradador
CF/88
deve indenizar em pecúnia], de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
ART. 225, §3º DA Tríplice responsabilização: os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
CF/88 estão sujeitos à responsabilidade penal, administrativa e civil.
Patrimônio nacional: Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira.
ART. 225, §4º DA
Sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
CF/88
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.
ART. 225, §5º DA As terras necessárias (afetadas) à proteção do meio ambiente são
CF/88 indisponíveis.
ART. 225, §6º DA O local das usinas nucleares deve ser definido por lei federal.
CF/88
VAQUEJADA: não se consideram cruéis as práticas desportivas que
utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, registradas
ART. 225, §7º DA
como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
CF/88
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure
o bem-estar dos animais envolvidos.
AÇÕES Ação Civil Pública
CONSTITUCIONAI Ação Popular
S
Competência legislativa Competência material
Estado
União Estado e DF Municípios União Municípios
COMPETÊNCIAS e DF
Privativa Exclusiva Exclusiva Comum Comum
Exclusiva
art. 22 art. 30, I art. 21 art. 23 art. 23
52
Concorrente art. 25, §2º e Suplementar Comum
art. 24 §3º art. 30, II art. 23
Remanescente
art. 25, §1º
Concorrente
art. 24
Suplementar
art. 24, §2º
Supletiva
art. 24, §3º
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Responsabilidade civil
ART. 225, §3º DA CF/88 Obrigação do poluidor de recuperar ou
ART. 4º, VII DA LEI 6.938/81 indenizar os danos causados.
Independentemente da existência de dolo ou
culpa, o poluidor é obrigado a indenizar e
reparar os danos decorrentes de sua atividade
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
causados ao meio ambiente e a terceiros.
Basta a comprovação do dano e o nexo causal
entre ele e a atividade do poluidor.
Na responsabilidade objetiva ambiental não
cabe a invocação de causa excludente do
nexo de causalidade para afastar a
TEORIA DO RISCO INTEGRAL responsabilização.
Excludentes de nexo causal: caso fortuito,
força maior, culpa exclusiva da vítima e fato
de terceiro.
É possível acumular na mesma condenação
REPARAÇÃO INTEGRAL DO MEIO
obrigação de fazer, de não fazer e de
AMBIENTE
indenizar.
É uma responsabilidade extracontratual –
RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR emana da lei/Constituição.
DANO AMBIENTAL Há responsabilidade civil ambiental do Estado
quando a sua omissão na fiscalização for
53
determinante para que o dano ocorra ou para
a sua maior gravidade.
Nesses casos a responsabilidade civil da
Administração Pública é solidária, mas de
execução subsidiária.
Responsabilidade administrativa
Considera-se infração administrativa
ambiental toda ação ou omissão que viole as
ART. 70 DA LEI 9.605/98
regras jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA Dolo/culpa + dano + nexo causal
Advertência
Multa simples
Multa diária
Apreensão dos animais, produtos e
subprodutos da fauna e da flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos
ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração
SANÇÕES AMBIENTAIS ADMINISTRATIVAS
Destruição ou inutilização do produto
Suspensão de venda e fabricação do
produto
Embargo de obra ou atividade
Demolição da obra
Suspensão parcial ou total das
atividades
Restritiva de direitos
Para apurar a prática de infração ambiental: 5
anos contados da data da prática do ato, ou,
no caso de infração permanente ou
continuada, do dia em que esta estiver
PRESCRIÇÃO
cessado.
Se a infração administrativa também for um
crime, o prazo para a apuração deve ser o
mesmo prazo prescricional da lei penal.
54
Prescrição intercorrente: procedimento de
apuração do auto de infração paralisado por
mais de 3 anos, pendente de julgamento ou
despacho. Os autos serão arquivados de ofício
ou mediante requerimento da parte
interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional pela paralização.
55
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Segundo prevê o art. 225 da
Constituição Federal “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
caso,
B) como cabe ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente, jamais poderá ser
C) o poluidor será sempre a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável, direta ou
indiretamente, pela degradação ambiental.
D) o poluidor será a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
Comentário:
A Lei 6.938/81, em seu art. 3º, faz algumas conceituações importantes. Entre elas, está a
56
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; ou que lancem matérias ou energia em desacordo
com os padrões ambientais estabelecidos.
O mesmo artigo ainda define “poluidor” como: “pessoa jurídica, de direito público ou
Veja que, de acordo com a definição legal de poluidor, o próprio Poder Público pode ser
responsabilizado pela degradação que seja causada direta ou indiretamente por sua
Por fim, destacamos que a poluição pode ser lícita! O uso de recursos naturais, mesmo
dentro das normas regulamentares, causa danos ao meio ambiente.
Questão 2
imposto ao Poder Público e à coletividade quanto a defender e preservar o meio ambiente para
territórios, em que poderão ser instaladas usinas que operem com reator nuclear, excluídas as
B) a Floresta Amazônica brasileira, a Serra do Mar e a Zona Costeira são patrimônio nacional,
devendo sua utilização econômica ser feita dentro de condições que assegurem a preservação
do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais, sendo exigido prévio depósito,
C) a Constituição Federal autoriza práticas desportivas em que são utilizados animais, desde que
sejam manifestações culturais registradas como bem de natureza imaterial, devendo ainda ser
57
cabendo ao órgão ambiental responsável pela análise a guarda dos documentos, a fim de que
seja preservado o sigilo das informações.
Comentário:
É uma questão bem interessante porque aborda vários assuntos do art. 225 da CF/88. Em
primeiro lugar, as localizações das usinas que operem com reator nuclear devem ser
definidas por meio de lei complementar federal, de acordo com os termos do §6º: “as
usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal,
A Floresta Amazônica brasileira, a Serra do Mar e a Zona Costeira, bem como a Mata
pelo §4º, devendo sua utilização econômica ser feita na forma da lei, dentro das condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais. Entretanto, não é exigido prévio depósito para fins de reparação nos casos de
risco previsível.
De acordo com o §7º, ficam autorizada as práticas desportivas em que são utilizados
animais, desde que sejam manifestações culturais registradas como bem de natureza
imaterial, devendo ainda ser regulamentadas por lei específica, a fim de evitar a crueldade
contra os animais.
sigilosos.
58
Por fim, a definição de espaços territoriais e de seus componentes a serem especialmente
protegidos é uma competência material comum entre os entes da federação.
Questão 3
(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) O artigo 225 da Constituição Federal impõe ao
Conama, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade.
D) proteger a fauna e a flora, autorizadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, desde que não provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais à crueldade.
Comentário:
De acordo com o §1º, III, do art. 225 da CF/88, incumbe ao Poder Público definir, em todas
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção.
59
O inciso seguinte dispõe sobre a exigência, na forma da lei, do estudo prévio de impacto
ambiental para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente. A esse estudo prévio de impacto ambiental – EIA deve ser
dada publicidade, o que permitirá o conhecimento de dados técnicos pelos interessados e
ambiente.
de material genético. Cabe ao Poder Público, segundo o inciso II do §1º do art. 225 da
O inciso VII do mesmo dispositivo define como um dever do Poder Público na tutela do
da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade”.
Por fim, incumbe ao Poder Público controlar, e não vedar, a produção, a comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente, de acordo com o disposto no art. 225, §1º, V da
CF/88.
Questão 4
1988, que trata do meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, impondo-
60
se ao poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. O princípio aí tratado identifica-se com o
A) do planejamento racional.
B) da soberania territorial.
C) do combate à pobreza.
D) de guerra e paz.
Comentário:
um meio ambiente de qualidade, que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-
estar.
Questão 5
(IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”
(trecho do art. 225, da Constituição Federal). De modo a assegurar o cumprimento e a
B) controlar apenas a comercialização de substâncias que comportem risco para a vida e o meio
espécies e ecossistemas.
61
D) promover a educação ambiental exclusivamente no nível fundamental de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
experimentação.
Comentário:
genético.
que comportem risco para a vida e o meio ambiente, assim como também tem o dever
e métodos que também possam colocar a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente
em risco.
Por fim, a proteção da fauna e da flora é mais um dever do Poder Público elencado pelo
art. 225 da CF/88, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. As
práticas experimentais com animais não são completamente vedadas. Quando for inevitável
realizados sob sedação, analgesia ou anestesia. Essa entre outras normas buscam
62
regulamentar práticas científicas e educacionais com o mínimo de sofrimento para o animal
envolvido.
Questão 6
(XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020) Seguindo plano de expansão de seu parque industrial
para a produção de bebidas, o conselho de administração da sociedade empresária Frescor S/A
afirmativa correta.
A) Frescor S/A responde civil e administrativamente, sendo excluída a responsabilidade penal
Conservação.
C) Frescor S/A responde civil, administrativa e penalmente, sendo a ação penal pública,
condicionada à prévia apuração pela autoridade ambiental competente.
D) Frescor S/A responde civil, administrativa e penalmente, sendo agravante da pena a intenção
Comentário:
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
63
II - ter o agente cometido a infração:
Questão 7
da-raiz, praga que causa imensos danos à sua lavoura de soja, Nelson, produtor rural,
desenvolveu e produziu de forma artesanal, em sua fazenda, agrotóxico que combate a aludida
praga. Mesmo sem registro formal, Nelson continuou a usar o produto por meses, o que
ocasionou grave intoxicação em Beto, lavrador da fazenda, que trabalhava sem qualquer
equipamento de proteção. Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.
B) Nelson somente responde civilmente pelos danos causados, pelo não fornecimento de
equipamentos de proteção a Beto.
C) Nelson responde civil e criminalmente pelos danos causados, ainda que não tenha produzido
Comentário:
•Lei 6938/81, Art. 14 § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
• Lei 7.802/89, Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à
saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização,
64
transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não
cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: (...)
às embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente; (Redação dada pela Lei nº
9.974, de 2000)
Questão 8
(XX EXAME DE ORDEM – FGV- 2016) No curso de obra pública de construção de represa para
fins de geração de energia hidrelétrica em rio que corta dois estados da Federação, a associação
privada Sorrio propõe ação civil pública buscando a reconstituição do ambiente ao status quo
A) Caso a associação Sorrio abandone a ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá
a titularidade ativa.
B) Caso haja inquérito civil público em curso, proposto pelo Ministério Público, a ação civil
C) Como o bem público objeto da tutela judicial está localizado em mais de um estado da
federação, a legitimidade ativa exclusiva para propositura da ação civil pública é do Ministério
Público Federal.
D) Caso o pedido seja julgado improcedente por insuficiência de provas, não será possível a
Comentário:
Lei nº 7.347: Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
65
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial
do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,
Questão 9
(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Pedro, em visita a determinado Município do interior
do Estado do Rio de Janeiro, decide pichar e deteriorar a fachada de uma Igreja local tombada,
por seu valor histórico e cultural, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico-Cultural –
A) Pedro será responsabilizado apenas administrativamente, com pena de multa, uma vez que
os bens integrantes do patrimônio cultural brasileiro não se sujeitam, para fins de tutela, ao
regime de responsabilidade civil ambiental, que trata somente do meio ambiente natural.
civilmente, pois o dano, além de não poder ser considerado de natureza ambiental, não pode
ser objeto de simultânea recuperação e indenização.
C) Pedro, por ter causado danos ao meio ambiente cultural, poderá ser responsabilizado
administrativa, penal e civilmente, sendo admissível o manejo de ação civil pública pelo
66
Ministério Público, demandando a condenação em dinheiro e o cumprimento de obrigação de
fazer.
forma subjetiva, havendo necessidade de inequívoca demonstração de dolo ou culpa por parte
Comentário:
Lei nº 7347, de 1985, art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada
(...)
Lei nº 7347, de 1985, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
67
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - C
Questão 3 - B
Questão 4 - E
Questão 5 - C
Questão 6 - D
Questão 7 - C
Questão 8 - A
Questão 9 - C
68
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
69
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Pela teoria da dupla imputação, para que haja a responsabilização penal de uma pessoa jurídica
pela prática de crime ambiental, é necessária a concomitante imputação à pessoa física por ela
responsável. Atualmente, tanto o STF quanto o STJ não aplicam a dupla imputação aos crimes
ambientais.
Nos termos do art. 225, §3º, da CF, “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Ainda, também prevendo a
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, o art. 3º, da Lei 9605/98, dispõe que “as pessoas jurídicas
serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em
que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”. Dito isto, pode-se concluir que a lei prevê dois
requisitos para a responsabilização criminal das pessoas jurídicas pela prática de crimes ambientais: 1) a
infração criminal deve ter sido cometida por decisão do seu representante legal; 2) a infração criminal
deve ter sido praticada no interesse ou benefício da entidade. Todavia, segundo Márcio André Cavalcante,
apesar dos dispositivos citados, ainda é grande a discussão doutrinária acerca da possibilidade de
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, existindo, basicamente, quatro correntes quanto ao
tema: 1) a primeira corrente afirma que a Constituição Federal nem sequer previu a responsabilização
criminal das pessoas jurídicas, mas apenas sua responsabilidade administrativa; 2) a segunda corrente,
por sua vez, afirma que a ideia de responsabilidade criminal da pessoa jurídica é incompatível com a
teoria do crime adotada no Brasil; 3) para a terceira corrente é plenamente possível a responsabilização
penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais, uma vez que assim determinou o § 3º do art.
225 da CF/88. Assim, a pessoa jurídica poderia ser punida penalmente por crimes ambientais, ainda que
não houvesse a responsabilização de pessoas físicas; 4) e a quarta corrente, que traz a teoria da dupla
imputação, que afirma pela possibilidade da responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em
conjunto com uma pessoa física. Desta forma, para a teoria da dupla imputação, a denúncia concomitante
da pessoa física e da pessoa jurídica é pressuposto para que o processo-crime se desenvolva
corretamente.
70
Durante muitos anos, o STJ posicionava-se no sentido de exigir a dupla imputação para a
responsabilização criminal das pessoas jurídicas, enquanto que o STF, desde 2013, já afirmava pela
desvinculação entre as denúncias imputadas às pessoas físicas e às pessoas jurídicas. Apenas em 2015,
o STJ, em julgado importantíssimo, resolveu aderir ao entendimento do STF, abandonando a teoria da
dupla imputação. Segue abaixo trecho do citado acórdão: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL:
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA. 1.
Conforme orientação da 1ª Turma do STF, “O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária
dupla imputação.” (RE 548181, Relatora Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão
eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014, public. 30/10/2014). 2. Tem-se, assim, que é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. 3. A
personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática de condutas
espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se
nega provimento. (RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 06/08/2015, DJe 13/08/2015).
71
LEGISLAÇÃO COMPILADA
CF/88: Art. 5º, LXXII, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 30, 129, III, 225
CDC: Art. 81;
Súmula: 365, STF.
Responsabilidade Ambiental:
72
JURISPRUDÊNCIA
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 2/5/2017 (Info 863)
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
causados pela supressão de vegetação nativa e edificação irregular em Área de Preservação Permanente. O juiz de
primeiro grau e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o
réu a repará-lo; porém, julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residua l.
2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei 6.938/81, de
cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (...)
STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e 30/6/2016 (Info 832).
Impossibilidade do Poder Judiciário interferir, no mérito, na elaboração das leis orçamentárias Salvo em situações
graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de violação ao princípio da separação de Poderes,
interferir na função do Poder Legislativo de definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando
projetos de leis orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da Constituição
Federal.
73
STF. MS 28845/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 21.11.2017. (MS-28845)
Descabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente administrativas, o controle de
controvérsia submetida à apreciação do Poder Judiciário. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma indeferiu
mandado de segurança impetrado contra o ato, por meio do qual o CNJ determinou o arquivamento de processo
administrativo, ante a alegada inviabilidade de controle, pelo Órgão, de questão submetida ao crivo do Supremo
Tribunal Federal (STF). A impetrante postulava no CNJ a sua recondução à titularidade interina de Tabelionato de
Notas e Ofício de Protesto de Títulos e o consequente afastamento de aprovado em concurso público que assumiu
o acervo do cartório. Afirmava o descumprimento da decisão liminar em mandado de segurança que suspendeu o
mencionado certame. A Turma considerou, inicialmente, que o eventual descumprimento de decisão proferida pelo
STF não se resolve na seara do CNJ, mas, sim, na do próprio Tribunal, mediante reclamação. Entendeu, ademais,
que o CNJ observou, com acerto, o fato de a controvérsia estar submetida ao Judiciário, quadro impeditivo da
própria atuação, tendo em conta o disposto nos parágrafos 4º e 5º do artigo 103-B da Constituição Federal.
Pet 5.714 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 28-11-2017, 1ª T, DJE de 13-12-2017
Deputado federal. Crime contra a honra. Nexo de implicação entre as declarações e o exercício do mandato.
Imunidade parlamentar material. Alcance. Art. 53, caput, da CF. (...) A verbalização da representação parlamentar
não contempla ofensas pessoais, via achincalhamentos ou licenciosidade da fala. Placita, contudo, modelo de
expressão não protocolar, ou mesmo desabrido, em manifestações muitas vezes ácidas, jocosas, mordazes, ou até
impiedosas, em que o vernáculo contundente, ainda que acaso deplorável no patamar de respeito mútuo a que se
aspira em uma sociedade civilizada, embala a exposição do ponto de vista do orador.
O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar mandado de segurança
com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis
com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo
Responsabilidade Ambiental
74
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais
causados pela supressão de vegetação nativa e edificação irregular em Área de Preservação Permanente. O juiz de
primeiro grau e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o
réu a repará-lo; porém, julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual.
2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei 6.938/81, de
cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (...)
STJ - REsp: 1357614 SE 2012/0259765-2, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Publicação: DJ 11/05/2015
(...) RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO
RIO SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE 2008. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
NÃO CONFIGURADA. DANO PATRIMONIAL. SÚMULA 283/STF. DANO MORAL. SÚMULA 284/STF. RAZOABILIDADE.
RECURSO NÃO PROVIDO. (...) 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) para demonstração da
legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental que resultou na redução da pesca na área atingida, o
registro de pescador profissional e a habilitação ao benefício do seguro-desemprego, durante o período de defeso,
somados a outros elementos de prova que permitam o convencimento do magistrado acerca do exercício dessa
atividade, são idôneos à sua comprovação; b) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela
teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre
na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de
excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que
incumbe ao direito penal e administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e homogeneidade dos efeitos
do dano ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando significativamente, por cerca de seis meses,
o volume pescado e a renda dos pescadores na região afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora
para mitigação dos danos morais experimentados e demonstrados por aqueles que extraem o sustento da pesca
profissional, não se justifica, em sede de recurso especial, a revisão do quantum arbitrado, a título de compensação
por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o dano material somente é indenizável mediante prova efetiva
de sua ocorrência, não havendo falar em indenização por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente
demonstrado nos autos; assim, se durante o interregno em que foram experimentados os efeitos do dano ambiental
houve o período de "defeso" - incidindo a proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em
indenização por lucros cessantes durante essa vedação (...).
75
STJ - REsp: 578797 RS 2003/0162662-0, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento:
05/08/2004, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 20/09/2004 p. 196)
do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) adotou a sistemática da responsabilidade civil objetiva (art. 14, parágrafo1º.) e
foi integralmente recepcionada pela ordem jurídica atual, de sorte que é irrelevante e impertinente a discussão da
conduta do agente (culpa ou dolo) para atribuição do dever de indenizar. 3. A adoção pela lei da responsabilidade
civil objetiva, significou apreciável avanço no combate a devastação do meio ambiente, uma vez que, sob esse
sistema, não se leva em conta, subjetivamente, a conduta do causador do dano, mas a ocorrência do resultado
prejudicial ao homem e ao ambiente. Assim sendo, para que se observe a obrigatoriedade da reparação do dano
é suficiente, apenas, que se demonstre o nexo causal entre a lesão infligida ao meio ambiente e a ação ou omissão
do responsável pelo dano. 4. O art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/81 prevê expressamente o dever do poluidor ou predador
de recuperar e/ou indenizar os danos causados, além de possibilitar o reconhecimento da responsabilidade, repise-
se, objetiva, do poluidor em indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente ou aos terceiros afetados
por sua atividade, como dito, independentemente da existência de culpa., consoante se infere do art. 14, § 1º, da
citada lei. 6. A aplicação de multa, na hipótese de dano ambiental, decorre do poder de polícia - mecanismo de
frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter ou coibir atividades dos particulares que se revelarem
nocivas, inconvenientes ao bem-estar social, ao desenvolvimento e à segurança nacional, como sói acontecer na
degradação ambiental.7. Recurso especial provido.
STJ - REsp: 442586 SP 2002/0075602-3, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento:
26/11/2002, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 24/02/2003 p. 196REVJMG vol.
163 p. 825RSTJ vol. 173 p. 136
76
poderá, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo evento. 5. Considerando que a lei legitima o Ministério
Público da União e do Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente, é inequívoco que o Estado não pode inscrever sel-executing, sem acesso à justiça,
quantum indenizatório, posto ser imprescindível ação de cognição, mesmo para imposição de indenização, o que
não se confunde com a multa, em obediência aos cânones do devido processo legal e da inafastabilidade da
jurisdição. 6. In casu, discute-se tão-somente a aplicação da multa, vedada a incursão na questão da
responsabilidade fática por força da Súmula 07/STJ. 5. Recurso improvido.
STJ - REsp: 1114398 PR 2009/0067989-1, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:
08/02/2012, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 16/02/2012
POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DECOLISÃO DO NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ
(...) c) Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro, ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de
culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante
a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da
CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-
pagador. d) Configuração de dano moral - Patente o sofrimento intenso de pescador profissional artesanal, causado
pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização
por dano moral, fixada, por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. e) termo inicial de incidência dos
juros moratórios na data do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir
da data do fato, no tocante aos valores devidos a título de dano material e moral; (...).
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. NATUREZA JURÍDICA DOS MANGUEZAIS E MARISMAS. TERRENOS DE MARINHA.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ATERRO ILEGAL DE LIXO. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. NEXO DE CAUSALIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. PAPEL DO
JUIZ NA IMPLEMENTAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL. ATIVISMO JUDICIAL. MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
DESAFETAÇÃO OU DESCLASSIFICAÇÃO JURÍDICA TÁCITA. SÚMULA 282/STF. VIOLAÇÃO DO ART. 397 DO CPC NÃO
CONFIGURADA. ART. 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981. (...) 2. Por séculos prevaleceu entre nós a concepção cultural
distorcida que enxergava nos manguezais lato sensu (= manguezais stricto sensu e marismas) o modelo consumado
do feio, do fétido e do insalubre, uma modalidade de patinho-feio dos ecossistemas ou antítese do Jardim do
Éden. 3. Ecossistema-transição entre o ambiente marinho, fluvial e terrestre, os manguezais foram menosprezados,
popular e juridicamente, e por isso mesmo considerados terra improdutiva e de ninguém, associados à procriação
de mosquitos transmissores de doenças graves, como a malária e a febre amarela. Um ambiente desprezível, tanto
que ocupado pela população mais humilde, na forma de palafitas, e sinônimo de pobreza, sujeira e párias sociais
(como zonas de prostituição e outras atividades ilícitas). 4. Dar cabo dos manguezais, sobretudo os urbanos em
época de epidemias, era favor prestado pelos particulares e dever do Estado, percepção incorporada tanto no
77
sentimento do povo como em leis sanitárias promulgadas nos vários níveis de governo. 5. Benfeitor-modernizador,
o adversário do manguezal era incentivado pela Administração e contava com a leniência do Judiciário, pois
ninguém haveria de obstaculizar a ação de quem era socialmente abraçado como exemplo do empreendedor a
serviço da urbanização civilizadora e do saneamento purificador do corpo e do espírito. 6. Destruir manguezal
impunha-se como recuperação e cura de uma anomalia da Natureza, convertendo a aberração natural pela
humanização, saneamento e expurgo de suas características ecológicas no Jardim do Éden de que nunca fizera
parte. 7. No Brasil, ao contrário de outros países, o juiz não cria obrigações de proteção do meio ambiente. Elas
jorram da lei, após terem passado pelo crivo do Poder Legislativo. Daí não precisarmos de juízes a tivistas, pois o
ativismo é da lei e do texto constitucional. Felizmente nosso Judiciário não é assombrado por um oceano de lacunas
ou um festival de meias-palavras legislativas. Se lacuna existe, não é por falta de lei, nem mesmo por defeito na
lei; é por ausência ou deficiência de implementação administrativa e judicial dos inequívocos deveres ambientais
estabelecidos pelo legislador. 8. A legislação brasileira atual reflete a transformação científica, ética, política e jurídica
que reposicionou os manguezais, levando-os da condição de risco à saúde pública ao patamar de ecossistema
criticamente ameaçado. Objetivando resguardar suas funções ecológicas, econômicas e sociais, o legislador atribuiu-
lhes o regime jurídico de Área de Preservação Permanente. 9. É dever de todos, proprietários ou não, zelar pela
preservação dos manguezais, necessidade cada vez maior, sobretudo em época de mudanças climáticas e aumento
do nível do mar. Destruí-los para uso econômico direto, sob o permanente incentivo do lucro fácil e de benefícios
de curto prazo, drená-los ou aterrá-los para a especulação imobiliária ou exploração do solo, ou transformá-los em
depósito de lixo caracterizam ofensa grave ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao bem-estar da
coletividade, comportamento que deve ser pronta e energicamente coibido e apenado pela Administração e pelo
Judiciário. 10. Na forma do art. 225, caput, da Constituição de 1988, o manguezal é bem de uso comum do povo,
marcado pela imprescritibilidade e inalienabilidade. Logo, o resultado de aterramento, drenagem e degradação
ilegais de manguezal não se equipara ao instituto do acrescido a terreno de marinha, previsto no art. 20, inciso VII,
do texto constitucional. 11. É incompatível com o Direito brasileiro a chamada desafetação ou desclassificação
jurídica tácita em razão do fato consumado. 12. As obrigações ambientais derivadas do depósito ilegal de lixo ou
resíduos no solo são de natureza propter rem, o que significa dizer que aderem ao título e se transferem ao futuro
proprietário, prescindindo-se de debate sobre a boa ou má-fé do adquirente, pois não se está no âmbito da
responsabilidade subjetiva, baseada em culpa. 13. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano
ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se
importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem. 14. Constatado
o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes com o dano ambiental em questão, surge, objetivamente,
o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes, na forma do art.
14, § 1º, da Lei 6.938/81 (...).
STJ - REsp: 67285 SP 1995/0027385-3, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento:
03/06/2004, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 03/09/2007 p. 154
78
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PRECEDENTES. 1. Mostra-se induvidosa a responsabilidade solidária e objetiva
da recorrente, consoante entenderam as instâncias ordinárias, pelo que seria meramente facultativa a denunciação
da lide, pois nada impede que a contratante se volte, posteriormente, contra a contratada, ou outra pessoa jurídica
ou física, para o ressarcimento da reparação a que vier a ser condenada. 2. Precedentes desta Corte. 3. Recurso
Especial improvido.
STJ - REsp: 880160 RJ 2006/0182866-7, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 04/05/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/05/2010
AMBIENTAL. DRENAGEM DE BREJO. DANO AO MEIO AMBIENTE. ATIVIDADE DEGRADANTE INICIADA PELO PODER
PÚBLICO E CONTINUADA PELA PARTE RECORRIDA. NULIDADE DA SENTENÇA. PARTE DOS AGENTES POLUIDORES
pelo Poder Público e apenas continuada pela empresa ora recorrida. 2. Preliminar levantada pelo MPF em seu
parecer - nulidade da sentença em razão da necessidade de integração da lide pelo Departamento Nacional de
Obras e Saneamento - DNOS, extinto órgão federal, ou por quem lhe faça as vezes -, rejeitada, pois é pacífica a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que, mesmo na existência de múltiplos agentes poluidores, não
existe obrigatoriedade na formação do litisconsórcio, uma vez que a responsabilidade entre eles é solidária pela
reparação integral do dano ambiental (possibilidade se demandar de qualquer um deles, isoladamente ou em
conjunto, pelo todo). Precedente. 3. Também é remansosa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pela
impossibilidade de que qualquer dos envolvidos alegue, como forma de se isentar do dever de reparação, a não-
contribuição direta e própria para o dano ambiental, considerando justamente que a degradação ambiental impõe,
entre aqueles que para ela concorrem, a solidariedade da reparação integral do dano. 4. Na espécie, ficou assentado
tanto pela sentença (fl. 268), como pelo acórdão recorrido (fl. 365), que a parte recorrida continuou as atividades
degradantes iniciadas pelo Poder Público, aumentando a lesão ao meio ambiente. Inclusive, registrou-se que,
embora lesivas ao brejo, a atuação da usina recorrida é importante para a preservação da rodovia construída sobre
um aterro contíguo ao brejeiro - a ausência de drenagem poderia acarretar a erosão da base da estrada pelo
rompimento do aterro. 5. Inexiste, nesta esteira, dúvidas acerca da caracterização do dano ambiental e da
contribuição da parte recorrida para isto - embora reconheçam as instâncias ordinárias que também o DNOS é
agente degradador (a título inicial). 6. Aplicáveis, assim, os arts. 3º, inc. IV, e 4º, inc. VII, da Lei n. 6.938/81. 7. Óbvio,
portanto, que, sendo demandada pela integralidade de um dano que não lhe é totalmente atribuível, a parte
79
recorrida poderá, em outra sede, cobrar de quem considere cabível a parte das despesas com a recuperação que
lhe serão atribuídas nestes autos. 8. Recurso especial provido.
STJ - REsp: 1056540 GO 2008/0102625-1, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
25/08/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 14/09/2009
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA. ARTS. 3º, INC. IV, E 14, § 1º, DA LEI 6.398/1981. IRRETROATIVIDADE
DA LEI. PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO:
SÚMULA 284/STF. INADMISSIBILIDADE. 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não
exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra,
dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de imóvel já danificado porque,
independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao novo proprietário
a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. 3. A solidariedade nessa hipótese decorre da dicção dos arts.
3º, inc. IV, e 14, § 1º, da Lei 6.398/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). 4. Se possível identificar o real
causador do desastre ambiental, a ele cabe a responsabilidade de reparar o dano, ainda que solidariamente com
o atual proprietário do imóvel danificado. 5. Comprovado que a empresa Furnas foi responsável pelo ato lesivo ao
meio ambiente a ela cabe a reparação, apesar de o imóvel já ser de propriedade de outra pessoa jurídica. 6. É
inadmissível discutir em recurso especial questão não decidida pelo Tribunal de origem, pela ausência de
prequestionamento. 7. É deficiente a fundamentação do especial que não demonstra contrariedade ou negativa de
vigência a tratado ou lei federal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.
STJ - REsp: 1120117 AC 2009/0074033-7, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
10/11/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 19/11/2009
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL – IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL – PEDIDO GENÉRICO – ARBITRAMENTO
DO QUANTUM DEBEATUR NA SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 7/STJ. 1.É da
competência da Justiça Federal o processo e julgamento de Ação Civil Pública visando indenizar a comunidade
indígena Ashaninka-Kampa do rio Amônia. 2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência
territorial e funcional, eis que o dano ambiental não integra apenas o foro estadual da Comarca local, sendo bem
mais abrangente espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de competência do Juiz Federal.
3. Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na extração ilegal de madeira da área indígena. 4.
O dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que lhe está próximo, a comunidade indígena,
também atinge a todos os integrantes do Estado, espraiando-se para toda a comunidade local, não indígena e
para futuras gerações pela irreversibilidade do mal ocasionado. 5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil
assume grande amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é
objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente
causador do dano. 6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica,
está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial
80
à afirmação dos povos, independentemente de não estar expresso em texto legal. 7. Em matéria de prescrição
cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações
indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem
ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível o direito à reparação. 8. O dano
ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da
imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental. 9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado
determinar, desde já, o montante da reparação, havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ. 10.
Inviável, no presente recurso especial modificar o entendimento adotado pela instância ordinária, no que tange aos
valores arbitrados a título de indenização, por incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ. 11. Recurso especial
parcialmente conhecido e não provido.
81
ESTUDO COMPLEMENTAR
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82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019.
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Direito Ambiental
Capítulo 3
SUMÁRIO
GABARITO ............................................................................................................................................... 45
JURISPRUDÊNCIA..................................................................................................................................... 47
ESTUDO COMPLEMENTAR................................................................................................................... 50
1
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 3
4.1 Introdução
A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA foi instituída no Brasil em 1981 através da
Lei 6.938, influenciada pelas normas de direito ambiental internacional e recepcionada pela
Portanto, cabe à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios implementar a
PNMA e exercer a atividade pública de acordo com os seus princípios e objetivos, utilizando de
2
Em seguida, o mesmo dispositivo enumera princípios 1 norteadores que devem ser
Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional
e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
1
Vide questão 5 desse material.
2
Vide questão 10 desse material.
3
necessariamente assegurado e protegido, tendo
em vista o uso coletivo
procedimentos que devem ser realizados para alcançar o resultado esperado, qual seja, os
objetivos gerais.
4
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao
equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios;
econômico com equidade social e a preservação ambiental. O inciso I do art. 4º da PNMA dispõe
exatamente sobre isso quando afirma que a Lei visará “à compatibilização do desenvolvimento
econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”.
3
Vide questão 2 desse material.
5
Ao estabelecer critérios e padrões de qualidade ambiental e normas regulamentadoras do
uso e manejo dos recursos naturais, a PNMA passa a tolerar determinados impactos ambientais.
Com isso, podemos afirmar que o impacto ambiental causado por determinada atividade que
cumpra as normas ambientais é permitido. O que diferencia esse impacto do dano ambiental é
exatamente a atividade fora dos critérios e padrões de qualidade estabelecidos.
racional4.
do meio ambiente, mas, para tanto, ela precisa ter uma consciência pública de democracia e
acesso a dados e informações sobre a qualidade ambiental e sobre o equilíbrio ecológico.
4
Vide questão 10 desse material.
6
Em caso de dano ao meio ambiente, cabe ao poluidor restaurar a sua condição anterior.
Caso isso não seja possível, o poluidor deverá recuperar os danos que causou, deixando o
ecossistema em condição de equilíbrio ambiental, mesmo que diferente da condição original.
Geralmente os danos ambientais não são reversíveis por completo. Por isso, a
A preferência é pela tutela específica de recuperar os danos causados, mas, caso isso não
seja possível, haverá a imposição de obrigação de indenizar ao poluidor, que deve ser revertido
o seu desperdício e mantendo a sua forma preservada. Para tanto, é definido um valor
econômico ao bem natural.
O art. 3º da PNMA define diversos conceitos importantes para o nosso estudo. Essa
conceituação se aplica à toda matéria ambiental e não somente à lei em análise.
5
Vide questões 3, 6 e 10 desse material.
7
b) criem condições adversas às atividades
sociais e econômicas;
O conceito de meio ambiente apresentado pela Lei 6.938/81 trata apenas dos seus aspectos
naturais, mas ele não se resume a isso na sociedade atual. De acordo com a Constituição de
ser amplo, assim como o previsto na Resolução 306/2002 do CONAMA: “conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Portanto, temos como meio ambiente
os seguintes patrimônios:
8
Natural Cultural
é constituído pelo patrimônio histórico,
também chamado de meio ambiente artístico, arqueológico, paisagístico e
físico, composto pelo solo, pela água, turístico.
ar, fauna, flora...
art. 215 e 216 da CF/88
MEIO
AMBIENTE
Artificial Do trabalho
deve garantir ao homem proteção em
é o espaço urbano, composto de seu local de trabalho.
edificações, ruas, praças...
art. 200, VIII da CF/88
qual a poluição faz parte. A degradação do meio ambiente pode ocorrer por causas naturais ou
artificiais. No primeiro caso, não acarretará nenhuma implicação jurídica. Entretanto, quando a
degradação ambiental ocorre por causas artificiais, por ação humana, estamos falando de
poluição.
O SISNAMA é uma rede governamental, formada pelos diversos níveis da federação, que
visa implementar a Política Nacional do Meio Ambiente de forma eficiente.
9
Estrutura do SISNAMA6
Governo é presidido pelo Presidente da República, que pode determinar a sua substituição pelo
Ministro de Estado Chefe da Casa Civil; e composto por Ministros de Estado e o titular do
6
Vide questão 1 desse material.
10
Integram o Plenário do CONAMA: I – o Ministro de Estado do Meio Ambiente, que o
pelos titulares das respectivas Pastas: a) Casa Civil da Presidência da República; b) Ministério da
Economia; c) Ministério da Infraestrutura; d) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
capitais dos Estados; VII - quatro representantes de entidades ambientalistas de âmbito nacional
inscritas, há, no mínimo, um ano, no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas – CNEA,
As reuniões do Plenário serão públicas, e devem contar com pelo menos a metade mais
um dos seus membros. As deliberações devem ser feitas por maioria simples dos membros
presentes na sessão, cabendo ao Presidente o voto de qualidade, além do seu voto pessoal.
Também poderão ser realizadas reuniões regionais, de caráter não deliberativo, com a
participação de representantes dos Estados, do Distrito Federal e das capitais dos Estados das
respectivas regiões.
11
O art. 7º do Decreto 99.274/90 define as competências do CONAMA, entre elas,
Obs.: na literalidade da Lei 6.938/81, você vai encontrar “Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República”, mas em 1992 ela foi transformada em Ministério do Meio Ambiente.
7
Vide questão 8 desse material.
12
O Instituto Chico Mendes também é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente. Tem como atribuição a execução das ações federais que tratam sobre a política
nacional de unidades de conservação da natureza. Em caso de omissão do Instituto Chico
Mendes quanto às suas atribuições, o IBAMA pode, de forma supletiva, exercer o seu poder
de polícia ambiental.
pelo controle e pela fiscalização das atividades capazes de provocar degradação ambiental, nas
suas respectivas jurisdições.
Para que os órgãos ambientais possam efetivar a PNMA seguindo os seus princípios para
alcançar os objetivos elencados, a Lei 6.938/81 estabeleceu em seu art. 9º alguns instrumentos9.
II - o zoneamento ambiental;
8
Vide questão 4 desse material.
9
Vide questão 7 desse material.
13
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental;
Praticamente todas as atividades humanas causam algum tipo de impacto ambiental, que
é definido pela Resolução 01/86 do CONAMA como “qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança
Zoneamento ambiental
determinado espaço geográfico, que tem como objetivo conhecer a vocação ambiental e
econômica de cada região10.
10
Vide questão 9 desse material.
14
O ZEE procura dividir o território em zonas de acordo com as necessidades de proteção,
Diretor, que deve ser compatível com os zoneamentos dos demais entes.
Qualquer atividade que causa impacto ambiental deve passar por uma avaliação prévia
dispõe sobre a AIA nos seguintes termos “a Avaliação de Impacto Ambiental deve ser
empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável
sobre o meio ambiente, e que dependem de uma decisão de autoridade nacional competente”.
Como existem diversos níveis de impactos ambientais, também existem diversas formas de
AIA, com avaliações menos complexas para atividades que gerem baixo impacto e avaliações
15
EIA
Plano de manejo
Relatório ambiental
A imagem acima mostra os tipos de AIA de acordo com a sua complexidade, quanto maior
o círculo, mais complexa a avaliação, que deve ser feita nos casos de maiores riscos ambientais.
O Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA deve ser feito para subsidiar o licenciamento
Para que seja concedida a licença ambiental para uma atividade (pública ou privada) que
apresente grande potencial de degradação do meio ambiente, deve ser realizado previamente
o EIA. Nesse sentido, a Resolução 237/97 do CONAMA:
16
Mas quais seriam essas atividades causadoras ou potencialmente causadoras de
II - Ferrovias;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para
fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais
para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e
embocaduras, transposição de bacias, diques;
XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez
toneladas por dia., entre elas encontramos as estradas de rodagem com duas ou mais
17
faixas de rolamento, as ferrovias, portos e terminais de minério, petróleo e produtos
químicos, oleodutos, gasodutos e mineradouros. Todas as atividades que constam nesse
rol são, portanto, presumidamente causadoras de significativa degradação ambiental.
atividades que não constem na lista do CONAMA, mas que considere potencialmente poluidora.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência
de cada uma delas.
18
A realização do EIA deve ser feita pelo sujeito interessado em exercer a atividade que será
licenciada, que também deve arcar com todos os seus custos. Para tanto, o empreendedor
poderá contratar uma empresa de consultoria cujos membros sejam inscritos no Cadastro
Atenção: é muito importante você saber que o EIA não vincula a decisão do órgão
ambiental11.
O EIA é dotado de linguagem técnica, muitas vezes incompreensível para a sociedade. Para
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência
do projeto;
11
Vide questão 9 desse material.
12
Vide questão 9 desse material.
19
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de
alteração esperado;
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas
por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo
que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.
julgar necessário, quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público ou por
cinquenta ou mais cidadãos.
A audiência pública é tão relevante que, se solicitada e não realizada, a licença ambiental
A da Lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais, com pena de reclusão de 3 a 6 anos e multa,
se doloso, e de detenção de 1 a 3 anos, se culposo. Ademais, a pena deve ser aumentada de
1/3 até 2/3 se em decorrência do crime ocorre dano significativo ao meio ambiente.
13
Vide questão 9 desse material.
20
O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo feito pelo órgão ambiental
adiante no nosso curso, ok? Mas você já pode ir se familiarizando com os tipos de licenças
ambientais que existem no ordenamento jurídico:
21
Se todas as condicionantes forem cumpridas no prazo de 6 anos, o interessado poderá
solicitar a licença de operação, permitindo que o empreendedor exerça a sua atividade, mas
nela também podem ser previstas condicionantes, que devem ser cumpridas até o momento da
sua renovação.
A licença de operação pode ser concedida por 4 até 10 anos. Depois desse prazo será
necessário requerer uma prorrogação. O prazo para solicitar essa prorrogação é de até 120 dias
antes do fim do prazo de validade. Se o órgão público demorar mais tempo para avaliar a
concessão da prorrogação, a licença fica automaticamente renovada até a manifestação
definitiva da Administração.
Existem vários tipos de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público,
como por exemplo as Áreas de Preservação Permanente – APP, as Áreas de Reserva Legal e as
14
Vide questão 9 desse material.
22
Os estados devem fornecer informações ambientais à União para a formação e atualização
Por sua vez, o município deve prestar as suas informações ambientais ao seu respectivo
estado e à União para formar e atualizar o Sistema Estadual de Informação sobre o meio
ambiente e o SINIMA.
Os órgãos ambientais só podem aceitar avaliações técnicas como o EIA que tenham sido
elaborados por profissionais, empresas ou sociedades civis registradas no Cadastro Técnico
O cadastro deve ser administrado pelo IBAMA e possui o objetivo de relacionar e tonar
público quais são os profissionais dedicados a prestar consultoria ambiental, as suas habilitações
Como já vimos neste curso, o Poder Público deve proceder a fiscalização das atividades
que utilizam recursos naturais por meio do seu poder de polícia ambiental. Diante de ação ou
omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
23
Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras
dos recursos ambientais.
Recursos Ambientais, segundo o art. 17 da PNMA, serve para o registro obrigatório de pessoas
físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração,
produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio
É um cadastro administrado pelo IBAMA e serve para integrar as informações dos entes
federados em matéria ambiental, assim como o Cadastro Técnico de Atividade e Instrumentos
Nesse contexto, foram criados mecanismos complementares para efetivar a PNMA, como
os instrumentos econômicos, a concessão florestal, a servidão ambiental e o seguro ambiental.
O intuito é incentivar uma gestão ecológica das áreas ambientalmente relevantes. Para
tanto, são usados benefícios econômicos para aqueles que preservam o meio ambiente, como
a servidão ambiental e o ICMS ecológico; as atividades poluidoras são desestimuladas com o
A servidão ambiental está prevista a partir do art. 9º-A da PNMA. Por ela, o proprietário
ou possuidor de imóvel rural, pessoa natural ou jurídica, voluntariamente, pode, por
instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante
24
do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar,
No caso das florestas, a servidão deve se referir à vegetação localizada fora da Reserva
Legal mínima exigida e das Áreas de Preservação Permanente – APP, que veremos mais adiante.
Mas, desde já, guarde a informação que a proteção desses espaços decorre da lei.
Mas a quem interessa a servidão ambiental? A propriedade rural precisa ter um percentual
de área ambientalmente protegida, ok? Ok! Mas se uma propriedade não atingir esse percentual
mínimo de área protegida estipulado nas normas ambientais, pode compensar esse déficit com
outras propriedades em que há proteção ambiental além dos limites legais, por meio da
servidão. 😉
O regime de utilização da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo,
No último caso, deve ter prazo de, no mínimo 15 anos. Caso haja transmissão, desmembramento
ou retificação dos limites do imóvel, é vedada a alteração da destinação da área de servidão
15
Vide questão 10 desse material.
25
A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos
ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social.
Por outro lado, são deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações
26
propriedade, manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da
estabelece como condição para a aprovação de projeto habilitado para receber benefícios
concedidos pelas entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais o seu
Parágrafo único - As entidades e órgãos referidos no "caput" deste artigo deverão fazer
constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao
controle de degradação ambiental e à melhoria da qualidade do meio ambiente.
A PNMA institui em seu art. 17-B a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA,
Antes desse tributo, foi criada a Taxa de Fiscalização Ambiental, muito criticada na doutrina
27
fato gerador da antiga Taxa de Fiscalização Ambiental era simplesmente a atividade exercida
Ambiental – TCFA que, sanando a inconstitucionalidade do antigo tributo, trouxe como fato
gerador o serviço de controle das atividades potencialmente poluidoras e a fiscalização da
Ao declarar a constitucionalidade da nova exação, o STF entendeu que não fere o princípio
da isonomia o fato de o valor da TCFA ser calculado em função da potencialidade poluidora da
informações, a fiscalização “porta a porta” fica cada vez mais rara e sem sentido prático.
O pagamento da TCFA deve ser feito trimestralmente e o seu valor é definido pelo
cruzamento do grau de poluição e utilização ambiental com o porte da empresa, nos termos
Caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização, pagará a taxa
relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado. Os recursos arrecadados com a
O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano
relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo IBAMA, para
28
São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e
“PNMA” apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de baixa
recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos achar que esse assunto
é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o seu aprendizado se torna
essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam sobre esse tema para que
você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.
Vamos juntos!
29
QUADRO SINÓTICO
30
formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio
ecológico;
VI - à preservação e restauração
dos recursos ambientais com
vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente,
concorrendo para a manutenção
do equilíbrio ecológico propício à
vida;
VII - à imposição, ao poluidor e
ao predador, da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os
danos causados e, ao usuário, da
contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins
econômicos.
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
PRINCÍPIOS
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente.
31
Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
MEIO AMBIENTE
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
DEGRADAÇÃO A alteração adversa das características do meio ambiente
Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
POLUIÇÃO
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
POLUIDOR
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental
RECURSOS A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o
NATURAIS mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente:
IMPACTO A saúde, a segurança, e o bem-estar da população;
AMBIENTAL As atividades sociais e econômicas;
A biota;
As condições estéticas e sanitárias ambientais;
A qualidade dos recursos ambientais.
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
32
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa
Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,
seguro ambiental e outros.
Deve ser feito pelo agente interessado, através de empresas de consultoria
ambiental cadastradas no órgão competente, para subsidiar o licenciamento
EIA
de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras que causem significativa
degradação ambiental.
Para prestigiar o princípio da informação e o princípio da participação
democrática, a legislação exige que também seja elaborado um o Relatório
RIMA de Impacto Ambiental – RIMA, com uma linguagem mais acessível que
demonstre as conclusões do EIA, as vantagens e as desvantagens do projeto
e as consequências ambientais da sua implementação.
LICENÇA PRÉVIA: até 5 anos
LICENÇA DE INSTALAÇÃO: até 6 anos
LICENÇA DE OPERAÇÃO: de 4 a 10 anos
LICENCIAMENTO
RENOVAÇÃO DA LICENÇA: requisitada até 120 dias antes de terminar a o
prazo da licença de operação anterior e automaticamente renovada enquanto
a Administração não se manifestar.
O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por
instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado
SERVIDÃO perante órgão integrante do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua
propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os
recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.
33
A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à
Reserva Legal mínima exigida.
A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão
ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.
A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou
perpétua. Sendo temporária, deve ter o prazo mínimo de 15 anos.
O instrumento ou termo que instituir a servidão e o seu contrato de
alienação, cessão ou transferência precisam ser averbados na matrícula dos
imóveis envolvidos.
Tem por fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao
IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras
e utilizadoras de recursos naturais. A TCFA é devida trimestralmente e seus
recursos devem ser utilizados restritamente nas atividades de controle e
TCFA
fiscalização ambiental.
São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais,
estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam
agricultura de subsistência e as populações tradicionais.
34
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Renato, proprietário de terra rural inserida no Município
A) A queimada poderá ser autorizada pelo órgão estadual ambiental competente do SISNAMA,
caso as peculiaridades dos locais justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou
florestais.
B) A queimada poderá ser autorizada pelo órgão municipal ambiental competente, após
Comentário:
CAPÍTULO IX
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:
35
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas
(...)
______________________________________
→ O Código Florestal (Lei 12.651/12) permite o uso do fogo apenas nas seguintes situações:
agropastoris ou florestais;
III – quando autorizado pelo órgão estadual ambiental competente para realização de
______________________________________
→ Quando não autorizada, a prática de queimadas constitui crime previsto na Lei 9605/98
(Lei de Crimes Ambientais):
36
Questão 2
uso coletivo.
C) O controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras.
Comentário:
Questão 3
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei n.º 12.651/2012, que estabelece prescrições
acerca do Código Florestal e as resoluções do CONAMA, julgue o item a seguir.
37
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
De acordo com o art. 3º da PNMA, que estabelece conceitos importantes para toda a
Questão 4
(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina
A) órgão superior.
B) órgão supervisor.
C) órgão local.
D) órgão seccional.
38
Comentário:
Mais uma questão que trata sobre a estrutura do SISNAMA. De forma contextualizada, mas
sem grandes mistérios, o examinador quer que o candidato saiba qual a qualidade de um
órgão estadual dentro da estrutura do SISNAMA. Como vimos, todos os órgãos estaduais
são considerados órgãos seccionais. Não confunda com os órgãos locais, que são todos
os órgãos municipais.
Questão 5
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Os princípios expressos na Lei n.º 6.938/1981 —
degradadas.
C) o desenvolvimento sustentável e o poluidor pagador.
D) o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional
de recursos ambientais.
Comentário:
39
ambientais; acompanhamento do estado da qualidade ambiental; recuperação de áreas
tecnologias nacionais orientadas para o uso de recursos ambientais são objetivos da PNMA,
enquanto o desenvolvimento sustentável e o poluidor pagador são princípios do Direito
Ambiental.
Questão 6
(FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público) Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente, é
considerada degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
C) a exploração da vegetação.
D) o desequilíbrio ecológico.
E) a poluição.
Comentário:
40
Questão 7
(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) De acordo com o artigo
impactos ambientais.
B) Os órgãos e entidades que constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.
Comentário:
territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais
como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
41
Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;
Questão 8
aplicáveis ao SISNAMA e as Resoluções CONAMA n.º 237/1997 e n.º 378/2006, julgue o item
seguinte.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Questão 9
42
C) o RIMA consiste no estudo de impacto prévio ambiental elaborado e custeado pelo
pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como área de proteção ambiental, de
relevante interesse ecológico e de reservas extrativistas.
Comentário:
Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; o sistema nacional de
e outros.
43
EIA com linguagem mais acessível). Quando apresentado, o EIA/RIMA não vincula a
autoridade pública.
Por fim, o rol que estabelece os requisitos para o licenciamento e a revisão de atividades
potencialmente poluidoras é exemplificativo.
Questão 10
E) A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser,
no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.
Comentário:
44
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - E
Questão 3 - CERTO
Questão 4 - D
Questão 5 - B
Questão 6 - E
Questão 7 - B
Questão 8 - ERRADO
Questão 9 - D
Questão 10 -B
45
LEGISLAÇÃO COMPILADA
46
JURISPRUDÊNCIA
STF - ADI-MC: 3540 DF, Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 01/09/2005, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528
MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225)- PRERROGATIVA QUALIFICADA
POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO)
QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE
DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS
TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III)- ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME
JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI -
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES
NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS
ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II,
C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225)- COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE
SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS
DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161)
- A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI)- DECISÃO NÃO REFERENDADA -
CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO
AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS
PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de
terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao
Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras
gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse
encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves
conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na
proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO
47
PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO
MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais
nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a
atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios
gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e
abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial
(espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza
constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e
os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura,
trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado
este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A
NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS
DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA . - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da
ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre
valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o
conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente,
que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras
gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO
EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE . - A Medida Provisória nº 2.166-67, de
24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de
comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário,
mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de
preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação
de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com
o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão . - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico
pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art.
225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal . - É lícito ao Poder Público -
qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros,
Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços
no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições,
limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos
que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º,
III).
48
STJ - REsp: 994881 SC 2007/0236340-0, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de
Julgamento: 16/12/2008, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 09/09/2009
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. OBRA EMBARGADA
PELO IBAMA, COM FUNDAMENTO NA RESOLUÇÃO DO CONAMA N. 303/2002. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. EXCESSO REGULAMENTAR. NÃO-OCORRÊNCIA. ART. 2º, ALÍNEA 'F', DO CÓDIGO FLORESTAL NÃO-
VIOLADO. LOCAL DA ÁREA EMBARGADA. PRETENSÃO DE ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 7 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHECIDO. 1. O fundamento jurídico da impetração repousa
na ilegalidade da Resolução do Conama n. 303/2002, a qual não teria legitimidade jurídica para prever restrição ao
direito de propriedade, como aquele que delimita como área de preservação permanente a faixa de 300 metros
medidos a partir da linha de preamar máxima. 2. Pelo exame da legislação que regula a matéria (Leis 6.938/81 e
4.771/65), verifica-se que possui o Conama autorização legal para editar resoluções que visem à proteção do
meio ambiente e dos recurso naturais, inclusive mediante a fixação de parâmetros, definições e limites de
Áreas de Preservação Permanente, não havendo o que se falar em excesso regulamentar. 3. Assim, dentro do
contexto fático delineado no acórdão recorrido, e, ainda, com fundamento no que dispõe a Lei n. 6.938/81 e o
artigo 2º, f, da Lei n. 4.771/65, devidamente regulamentada pela Resolução Conama n. 303/2002, é inafastável a
conclusão a que chegou o Tribunal de origem, no sentido de que os limites traçados pela norma regulamentadora
para a construção em áreas de preservação ambiental devem ser obedecidos. 4. É incontroverso nos autos que as
construções sub judice foram implementadas em área de restinga, bem como que a distância das edificações está
em desacordo com a regulamentação da Resolução Conama n. 303/2002. Para se aferir se o embargo à área em
comento se deu apenas em razão de sua vegetação restinga ou se, além disso, visou à proteção da fixação de
dunas e mangues, revela-se indispensável a reapreciação do conjunto probatório existente no processo, o que é
vedado em sede de recurso especial em virtude do preceituado na Súmula n. 7, desta Corte. 5. Recurso especial
não-conhecido.
49
ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
51
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 4
SUMÁRIO
5.7 Competência............................................................................................................................................................................14
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 42
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 43
1
E aí, OABeiro! Como vai?
“Licenciamento Ambiental” apareceu apenas 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado
um assunto de alta recorrência no Exame de Ordem. Nem preciso dizer que esse assunto é
muito importante para sua preparação, não é mesmo? Adicionamos questões de outros
concursos que versam sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.
Vamos juntos!
2
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 4
5. Licença Ambiental
5.1 Introdução
O meio ambiente é um bem de uso comum do povo, patrimônio público de uso coletivo
que deve ser protegido e assegurado pelo Poder Público. Visto isso, a utilização dos seus
recursos naturais depende de consentimento do Estado, inexistindo direito subjetivo à sua livre
utilização.
gestão ambiental previsto na PNMA, que visa o controle prévio das atividades potencialmente
poluidoras. É uma forma de exercer os postulados do desenvolvimento sustentável, da
preservação, da precaução, do limite e da obrigatoriedade da intervenção estatal.
Como você já pode ter percebido, o licenciamento ambiental decorre do poder de polícia
ambiental da Administração Pública, que é a prerrogativa pública que a autoriza restringir o
uso e o gozo da liberdade e da propriedade privada em favor do interesse público da
coletividade.
1
Vide Questão 02
3
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental”2.
III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos documentos,
projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando
necessárias;
2
Vide questão 9 desse material.
3
Vide questão 9 desse material.
4
VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;
requerimento, cabe a análise dos documentos, projetos e estudos por um órgão ambiental
integrante do SISNAMA que, quando for necessário, fará vistorias técnicas.
Se no momento dessa análise a autoridade licenciante ficar com alguma dúvida, poderá
solicitar esclarecimentos e complementações. Essa solicitação só poderá ser feita uma vez, mas
se a resposta do empreendedor não for satisfatória, a mesma solicitação poderá ser reiterada.
5
A regra da única complementação é excetuada nos casos de empreendimentos e atividades
sujeitos ao EIA, conforme o §2º do dispositivo citado. Nesses casos, se verificada a necessidade
de uma nova complementação depois dos esclarecimentos já prestados, o órgão ambiental
pode formular um novo pedido mediante decisão motivada que deve contar com a participação
do empreendedor.
da notificação. Esse prazo poderá ser prorrogado se houver justificativa e concordância entre o
empreendedor e o órgão ambiental.
Também poderá ser feita uma audiência pública para debater com a sociedade o
licenciamento ambiental pode ser feita por determinação do próprio órgão ambiental, se julgar
necessário, ou mediante solicitação de entidade civil, do Ministério Público ou de cinquenta ou
mais cidadãos. Se, quando solicitada, a audiência pública não for realizada, a licença ambiental
concedida ao final do procedimento não terá validade.
técnico conclusivo (sempre) e, quando couber, um parecer jurídico. Por fim, a autoridade
competente deve deferir ou indeferir o pedido de licença ambiental e dar a sua devida
publicidade.
O prazo deve ser estabelecido em cada caso pela autoridade competente, a depender das
peculiaridades da atividade ou do empreendimento, observado o prazo máximo de 6 meses,
6
contados do protocolo de requerimento até o deferimento (salvo nos casos em que houver
justificada.
procedimento é da Administração.
Não existe o licenciamento tácito no direito ambiental, caso a Administração não cumpra
o prazo estipulado para o licenciamento ambiental, o procedimento ficará sujeito à ação de
órgão que detenha competência supletiva. Caso o empreendedor não cumpra o prazo para
ele estabelecido, o seu pedido de licença deve ser arquivado.
Ainda, poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para pequenos
empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles integrantes de planos de
4
Vide questão 6 desse material.
7
desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente, desde que
Quem deve ter licença ambiental? nem toda atividade ou empreendimento precisa de
uma licença ambiental. Ela é obrigatória para qualquer atividade que possa causar degradação
turismo, atividades agropecuárias, entre outras. Esse rol de atividades eleitas pelo CONAMA é
meramente exemplificativo, servindo como auxílio para a atuação dos órgãos ambientais.
8
Dependendo da natureza do empreendimento e dos recursos naturais envolvidos, a licença
preliminares, que são as licenças prévia e de instalação; e a segunda fase é composta pela
licença final, que é a licença de operação.
concepção para atestar se existe viabilidade ambiental. Existindo, a autoridade pública licenciante
5
Vide questões 6 desse material.
9
deve conceder a licença ambiental prévia, e nela estabelecer requisitos básicos e condicionantes
na licença. Ele deve conter todos os elementos necessários e suficientes para caracterizar a obra
ou o serviço, assegurar a sua viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental.
Ademais, o Projeto Básico deve possibilitar a avaliação dos custos da obra e definir os métodos
e prazos de sua execução.
acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo
as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo
Nessa fase do licenciamento deve ser elaborado o Projeto Executivo, que consiste em
uma revisão do Projeto Básico, enriquecido com detalhes técnicos. O foco desse projeto é
6
Vide questões 5 desse material.
10
Atenção: a Licença de Instalação não autoriza qualquer tipo de operação do
Na fase de licença final, temos a Licença de Operação (LO), que “autoriza a operação da
atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das
Após a instalação, a Administração Pública deve fazer uma vistoria na obra para verificar a
7
Vide questões 8 desse material.
11
Vamos fazer um link com Direito Administrativo?
Como a licença ambiental prévia vem antes da elaboração do Projeto Básico, o Tribunal de
Contas da União – TCU entende que é um indício de irregularidade grave para efeito de
12
Quando o empreendimento tem como característica intrínseca um impacto negativo ao
meio ambiente, devem ser adotadas medidas mitigadoras do dano. São exigências feitas pelo
órgão ambiental licenciador para que o empreendedor minimize o impacto ambiental da sua
atividade ou empreendimento.
Quando não for possível medidas preventivas ou medidas mitigadoras do dano ambiental,
o órgão licenciador deve exigir do empreendedor medidas compensatórias. Nesse caso, cabe
ao responsável pelo impacto ambiental adotar medidas que causem efeitos ambientais positivos,
buscando um reequilíbrio.
deve estabelecer prazo de validade para cada licença, especificando-o no respectivo documento.
O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo
cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou
6 (seis) anos.
13
A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os prazos de validade
prorrogados no caso concreto, desde que não ultrapassem os prazos máximos de 5 e 6 anos,
respectivamente.
Como a Licença de Operação tem um prazo determinado de validade, ela precisa ser
renovada. Na sua renovação, o órgão ambiental competente poderá, mediante decisão
5.7 Competência
A Constituição Federal, em seu art. 23, VI, estabelece a competência material comum para
De acordo com a Lei Complementar 140/11, tanto a União, como os estados, o Distrito
8
Vide questão 6 desse material.
14
gerem impactos ambientais, mas, no caso concreto, apenas um dos entes será competente, pois
Mesmo que dois ou mais entes sejam interessados no licenciamento, apenas um será o
A Lei Complementar 140/11 estabeleceu em seus artigos 7º, XIV, 8º, XIV, XV, e 9º, XIV, as
seguintes critérios:
9
Vide questões 4, 7 e 9 desse material.
15
o critério de segurança nacional para o licenciamento de atividades de caráter
militar; e
os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento, que são critérios objetivos usados para estabelecer tipologias de
empreendimentos e atividades que devem ser licenciados por órgão federal.
(...)
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;
10
Vide questão 7 desse material.
16
(...)
(...)
XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei
Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito locaL, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou
Futuramente, ainda neste curso, vamos estudar as Unidades de Conservação. Mas nesse
momento você precisa saber que “Unidades de Conservação” é um gênero do qual a Área de
17
Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e
autorização a que se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas
alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV do art. 8o e na alínea
“a” do inciso XIV do art. 9o.
De acordo com a LC 140/11, a fiscalização, que faz parte do exercício do poder de polícia
ambiental da Administração Pública, deve ser feita pelo órgão responsável pelo licenciamento.
Entretanto, a norma não impede que a fiscalização seja feita pelos outros entes federados
no exercício das suas competências materiais comuns estabelecidas pela CF/88. Caso o ente
11
Vide questão 7 desse material.
18
licenciador fique inerte, outro pode fiscalizar de forma supletiva o empreendimento ou a
atividade.
Esse é o entendimento do STJ, que afirma não existir competência exclusiva de um ente
da federação para promover medidas protetivas ao meio ambiente. Entretanto, caso haja
atuação de mais de um órgão ambiental, o auto de infração lavrado pelo órgão que tem
competência para o licenciamento deve prevalecer.
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.
pelos valores gastos para a análise ambiental do seu empreendimento ou atividade. Trata-se de
um requisito para a instauração e para o andamento do procedimento de licenciamento
ambiental.
19
Ainda, cada tipo de licença pode ter um valor de taxa diferenciado, proporcionais ao custo
Por fim, a taxa de licenciamento ambiental não se confunde com a Taxa de Controle e
Fiscalização Ambiental – TCFA, que é cobrada da atividade ou do empreendimento já licenciado
e em operação. A TCFA tem como fato gerador o serviço de controle e fiscalização, enquanto a
taca de licenciamento ambiental tem como fato gerador o procedimento de licenciamento.
5.9 Publicidade
de uma exigência legal que, se desrespeitada, tornará inválida a licença por vício de legalidade.
A extinção natural da licença ambiental ocorre com o fim do seu prazo de validade.
Entretanto, antes do fim desse prazo, o órgão ambiental competente, mediante decisão
motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender
12
Vide questão 9 desse material.
20
A modificação de uma licença ambiental ocorre, por exemplo, com a constatação de uma
nova situação, imprevisível no momento em que a licença foi expedida e que agora torna o seu
conteúdo inadequado.
A suspensão de uma licença ambiental ocorre pelo período que o empreendedor leva para
de controle e adequação.
revogação. A licença será cassada quando verificada a violação de condicionante que permitia
a subsistência do ato. A licença será anulada (invalidada) quando houver ilegalidade na sua
concessão, ou seja, por violação de normas legais ou por falsa descrição de informações
relevantes para a expedição da licença. Por fim, a licença pode ser revogada, que é a retirada
do ato administrativo por conveniência e oportunidade da Administração Pública. A revogação
pode ocorrer, por exemplo, nos casos de superveniência de graves riscos ambientais e à saúde,
desde que insuperáveis com medidas de controle e adequação.
empreendimento. Isso ocorre em decorrência lógica do seu objetivo, que é evitar, minimizar
e/ou compensar o impacto ambiental de atividades potencialmente poluidoras.
21
Não podemos falar em direito adquirido do empreendimento e da atividade não
licenciados. Mesmo aqueles que não estejam regularizados devem renovar a licença ambiental
periodicamente.
proteção integral.
imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por delegados, em
favor de um serviço público ou de um bem que foi destinado à utilidade pública.
compensação florestal. Assim, o proprietário rural poderá instituir a servidão, mediante a qual
voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou
exploração da vegetação nativa, que seja localizada na parte exterior da reserva legal e da área
com vegetação de preservação permanente.
do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta
e risco e por prazo determinado
Este instrumento tem como objetivo estabelecer um método adequado do uso correto de
recursos ambientais.
22
QUADRO SINÓTICO
LICENÇA AMBIENTAL
É o procedimento administrativo que ao final deferirá ou não uma licença
ambiental (ato administrativo) para atividades ou empreendimentos que
utilizem recursos naturais, efetiva ou potencialmente poluidores do meio
ambiente.
LICENCIAMENTO
Deve ter duração de no máximo 6 meses, contados a partir do protocolo
do requerimento do empreendedor.
Em casos de atividades potencialmente causadoras de significativo dano
ambiental, o licenciamento pode durar até 12 meses.
Concedida na fase preliminar de planejamento. Visa aprovar a localização
e a concepção da atividade ou empreendimento, atestando a sua
LICENÇA PRÉVIA
viabilidade ambiental e estabelecendo condicionantes para serem
atendidas nas licenças seguintes.
Após a licença prévia, atendidas as suas condicionantes e com base nos
planos, programas e projetos aprovados, deve ser expedida a licença de
LICENÇA DE
instalação. Essa licença permite que o requerente instale o seu
INSTALAÇÃO
empreendimento (pode construir). Ela deve conter requisitos básicos e
condicionantes para que se possa requerer a próxima licença.
É a autorização para que a atividade ou o empreendimento possa
começar a operar (produzir). Ela deve ser expedida após verificadas todas
LICENÇA DE
as condicionantes das licenças anteriores e deve prever medidas de
OPERAÇÃO
controle ambiental e condicionantes para a operação. Ela não é perpétua,
deve ser renovada periodicamente.
LICENÇA PRÉVIA – até 5 anos.
PRAZOS DE
LICENÇA DE INSTALAÇÃO – até 6 anos.
VALIDADE
LICENÇA DE OPERAÇÃO – de 4 a 10 anos.
23
Deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias
da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença de
RENOVAÇÃO DA
operação.
LICENÇA
A licença fica automaticamente prorrogada até a manifestação definitiva
do órgão ambiental competente.
UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS
Promover o Promover o Observadas as
licenciamento licenciamento atribuições dos
ambiental de ambiental de demais entes
empreendimentos e atividades ou federativos, promover
atividades: empreendimentos o licenciamento
utilizadores de ambiental das
a) localizados ou recursos ambientais, atividades ou
desenvolvidos efetiva ou empreendimentos:
conjuntamente no potencialmente
Brasil e em país poluidores ou capazes, a) que causem ou
limítrofe; sob qualquer forma, possam causar
de causar degradação impacto ambiental de
b) localizados ou ambiental, ressalvada âmbito local, conforme
desenvolvidos no mar a competência da tipologia definida
COMPETÊNCIA
territorial, na União e dos pelos respectivos
plataforma continental municípios; Conselhos Estaduais
ou na zona econômica de Meio Ambiente,
exclusiva; Promover o considerados os
licenciamento critérios de porte,
c) localizados ou ambiental de potencial poluidor e
desenvolvidos em atividades ou natureza da atividade;
terras indígenas; empreendimentos ou
localizados ou
d) localizados ou desenvolvidos em b) localizados em
desenvolvidos em unidades de unidades de
unidades de conservação conservação
conservação instituídas pelo instituídas pelo
instituídas pela União, Estado, exceto em Município, exceto em
exceto em Áreas de
24
Proteção Ambiental Áreas de Proteção Áreas de Proteção
(APAs); Ambiental (APAs) Ambiental (APAs);
e) localizados ou
desenvolvidos em 2
(dois) ou mais
Estados;
f) de caráter militar,
excetuando-se do
licenciamento
ambiental, nos termos
de ato do Poder
Executivo, aqueles
previstos no preparo e
emprego das Forças
Armadas, conforme
disposto na Lei
Complementar no 97,
de 9 de junho de
1999;
g) destinados a
pesquisar, lavrar,
produzir, beneficiar,
transportar, armazenar
e dispor material
radioativo, em
qualquer estágio, ou
que utilizem energia
nuclear em qualquer
de suas formas e
aplicações, mediante
parecer da Comissão
25
Nacional de Energia
Nuclear (Cnen); ou
h) que atendam
tipologia estabelecida
por ato do Poder
Executivo, a partir de
proposição da
Comissão Tripartite
Nacional, assegurada
a participação de um
membro do Conselho
Nacional do Meio
Ambiente (Conama), e
considerados os
critérios de porte,
potencial poluidor e
natureza da atividade
ou empreendimento;
26
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) A sociedade empresária Asfalto Joia S/A, vencedora de
licitação realizada pela União, irá construir uma rodovia com quatro pistas de rolamento, ligando
cinco estados da Federação. Sobre o licenciamento ambiental e o estudo de impacto ambiental
dessa obra, assinale a afirmativa correta.
estudos ambientais diferentes do Estudo prévio de Impacto Ambiental (EIA), visto que ela se
realiza em mais de uma unidade da Federação.
D) Qualquer atividade ou obra, para ser instalada, dependerá da realização de Estudo prévio de
Impacto Ambiental (EIA), ainda que não seja potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental.
Comentário:
artigo 225. 1º, IV da Constituição Federal de 1988 nos seguintes termos: Art. 225. 1º, IV -
exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se
dará publicidade.
27
Questão 2
(XXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) A sociedade empresária Xique-Xique S.A. pretende
instalar uma unidade industrial metalúrgica de grande porte em uma determinada cidade. Ela
exigido outro licenciamento ambiental para a nova atividade utilizadora de recursos ambientais,
se efetiva ou potencialmente poluidora, mas será dispensada a realização de qualquer estudo
Comentário:
28
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos,
Questão 3
(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV- 2019) Pedro, proprietário de fazenda com grande diversidade
florestal, decide preservar os recursos ambientais nela existentes, limitando, de forma perpétua,
o uso de parcela de sua propriedade por parte de outros possuidores a qualquer título, o que
Assinale a opção que indica o instrumento jurídico a que se refere o caso descrito.
A) Zoneamento Ambiental.
B) Servidão Ambiental.
C) Área Ambiental Restrita.
Comentário:
Questão 4
(XXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) O Governo Federal, tendo em vista a grande dificuldade
B) Essa concessão, que tem como objeto o manejo florestal sustentável, deve ser precedida de
licitação na modalidade de concorrência.
C) Essa concessão somente é possível para fins de exploração de recursos minerais pelo
concessionário.
D) Essa concessão somente incide sobre florestas públicas estaduais e, por isso, a competência
para sua delegação é exclusiva dos Estados, o que torna ilegal sua implementação pelo IBAMA.
Comentário:
LEI Nº 11.284, DE 2 DE MARÇO DE 2006 - fundamento art. 3º, VII c/c art. 13
Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a gestão de florestas públicas para produção sustentável, institui o
Serviço Florestal Brasileiro - SFB, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, e cria o Fundo
Nacional de Desenvolvimento Florestal - FNDF.
do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta
e risco e por prazo determinado;
Art. 13. As licitações para concessão florestal observarão os termos desta Lei e, supletivamente,
30
Questão 5
seguinte.
Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento, a licença de instalação
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Questão 6
C) Considera-se Impacto Ambiental Regional todo e qualquer impacto ambiental que afete
diretamente (a área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois
ou mais Municípios.
31
D) O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a apresentação de novo
Comentário:
distintos, por isso vamos tratá-las individualmente. Quanto à alternativa “A”, o prazo de
validade da Licença Prévia já foi repetidamente exposto nesse curso: será de no máximo 5
anos, portanto, pode ser superior a 3 anos. Não custa nada lembrar, e já esclarecendo a
alternativa “E”, que o prazo máximo da Licença de Instalação será de 6 anos e o prazo de
Falando de Licença de Operação, devemos destacar que ela não é perpétua, deve ser
renovada periodicamente. O empreendedor deve requerer essa renovação com
Quanto à alternativa “C”, devemos corrigir o seu enunciado afirmando que considera-se
Impacto Ambiental Regional todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (a
área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais
32
Questão 7
(FCC - 2018 - PGE-TO - Procurador do Estado) De acordo com o disposto na Lei Complementar
no 140/2011, a atividade de licenciamento é realizada pelos entes federados
decreto federal.
E) considerando-se, entre outros aspectos, a inserção em unidades de conservação instituídas
por União, Estados e Municípios e a natureza da atividade, conforme definição dos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente.
Comentário:
Como visto no presente capítulo, existem vários critérios para estabelecer a competência
de um ente para o licenciamento ambiental de uma atividade ou empreendimento. De
33
assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
Questão 8
(CESPE - 2017 - PGE-SE - Procurador do Estado) Caio deseja iniciar uma criação de pacas
(Cuniculus paca), com um plantel de quatro animais, para o fornecimento de carnes a um
mercado consumidor desejoso de novidades. Para tanto, Caio apresentou ao órgão ambiental
competente um pedido de licenciamento ambiental.
D) automaticamente, após o prazo de cento e vinte dias, caso o órgão ambiental se mantenha
omisso na apreciação do pedido apresentado por ele.
E) imediatamente após protocolar novo pedido, a outro órgão ambiental, caso ocorra demora
na análise do pedido apresentado originalmente.
Comentário:
Quando um empreendedor pretende exercer uma atividade que utilize recursos naturais,
34
Diante da alternativa “D”, vale a pena reforçar que não existe licenciamento ambiental
tácito. Se o órgão competente não cumpriu com o prazo estipulado para a análise da
licença ambiental, o processo deve ser remetido a um órgão com competência supletiva.
Questão 9
Estado.
B) compete à SEMA propor ao CONAMA normas e padrões para implementação,
Comentário:
ser publicados no jornal oficial, bem como no periódico regional ou local de grande
circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental
competente. A alternativa “A” está, portanto, incompleta.
35
Quanto à alternativa “B”, cabe ao IBAMA, e não à SEMA propor ao CONAMA normas e
licenciamento e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo
CONAMA, e não pelo SEMA como afirma a alternativa “E”.
Questão 10
empreendedor
A) o desonera da responsabilidade administrativa.
36
Comentário:
37
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 -B
Questão 3 - B
Questão 4 - B
Questão 5 - ERRADO
Questão 6 - B
Questão 7 - E
Questão 8 - B
Questão 9 - D
Questão 10 - A
38
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
39
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
União. II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; III - cujos impactos ambientais
diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV - destinados a
fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos
órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento,
bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados,
40
ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; II - localizados ou
forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais; III - cujos impactos ambientais
diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios; IV – delegados pela União
aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio. Parágrafo único. O órgão
ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo após
considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se
localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, oparecer dos demais
órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no
procedimento de licenciamento.
Art. 6o Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos
41
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Licença Ambiental:
42
JURISPRUDÊNCIA
Licença Ambiental
STJ. REsp 1479316/SE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 01/09/2015
(...) PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. ÁREA PRIVADA. MATA ATLÂNTICA. DESMATAMENTO.
IBAMA. PODER FISCALIZATÓRIO. POSSIBILIDADE. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. EXISTÊNCIA. PRECEDENTES. 1. Não há falar em competência exclusiva de um
ente da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido
pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo, bem
como da competência para o licenciamento. 2. A dominialidade da área em que o dano ou o risco de dano se
manifesta é apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do Parquet Federal. 3. A atividade
fiscalizatória das atividades nocivas ao meio ambiente concede ao IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer
seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja competência para o
licenciamento seja do município ou do estado, o que, juntamente com a legitimidade ad causam do Ministério
Público Federal, define a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do feito.
STF - ADI: 3252 RO, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 06/04/2005, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008
Medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei nº 1.315/2004, do Estado de Rondônia, que exige
autorização prévia da Assembleia Legislativa para o licenciamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais
consideradas efetivas e potencialmente poluidoras, bem como capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental. 3. Condicionar a aprovação de licenciamento ambiental à prévia autorização da Assembleia Legislativa
implica indevida interferência do Poder Legislativo na atuação do Poder Executivo, não autorizada pelo art. 2º da
Constituição. Precedente: ADI nº 1.505. 4. Compete à União legislar sobre normas gerais em matéria de
licenciamento ambiental (art. 24, VI, da Constituição. 5. Medida cautelar deferida.
43
ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
45
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 5
SUMÁRIO
GABARITO ............................................................................................................................................... 77
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 81
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................................................ 82
ESTUDO COMPLEMENTAR................................................................................................................... 86
2
E aí, OABeiro! Como vai?
A apostila de número 05 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre o Código Florestal.
Este assunto apareceu apenas 3 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de
média recorrência no Exame de Ordem. Assim, podemos constatar que este assunto é muito
importante para o seu estudo! Adicionamos também questões de outros concursos que versam
sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
Vamos juntos!
3
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 5
6. Código Florestal
6.1 Introdução
O Código Florestal foi instituído pela Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Trata-se de uma
norma geral editada pela União no âmbito da sua competência legislativa concorrente prevista
e procedimentos que devem ser observados pelos demais entes federados no exercício das suas
respectivas competências.
florestas que, paradoxalmente, são essenciais para a nossa sobrevivência. Elas possuem funções
altamente relevantes, como a manutenção da diversidade genética, a regeneração do solo, a
manutenção do ciclo da água, da umidade do ar, o amortecimento da variação climática, entre
outras coisas.
Visto isso, durante décadas a sociedade busca compatibilizar o uso dos recursos naturais
das florestas com a sua preservação. O objetivo não é manter o ecossistema florestal intocado,
4
6.1.1 Contexto histórico
No período colonial do Brasil não houve qualquer preocupação com a proteção das
concepção colonial sobre a natureza não mudou. O meio ambiente era apenas um recurso
inesgotável a serviço da humanidade.
de propriedade ao interesse social. Também foi assim nas constituições brasileiras seguintes,
que continuaram a prever o princípio da função social da propriedade, o que foi fundamental
Em 1965 surgiu o Código Florestal Brasileiro através da Lei 4.771/65. Foi um marco para a
proteção ambiental no nosso país, pois a norma era avançada e instituía, por exemplo, a
possibilidade de existir áreas de preservação ambiental, como as Áreas de Preservação
fauna silvestres, bem assim o seu habitat, que se encontram atualmente em grave perigo por
combinação de fatores adversos. Em consequência, ao planejar o desenvolvimento econômico,
deve ser dada a devida importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna
Com o advento da Constituição Federal de 1988, passou a ser um dever do Poder Público
proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em risco as suas funções
federados, entre outras matérias ambientais, preservar as florestas, a fauna e a flora. Esse
comando constitucional deve ser exercido pelos entes em cooperação. E, segundo o art. 24 da
para a Mata Atlântica, para a Serra do Mar, para o Pantanal Mato-Grossense e para a Zona
Costeira. Esses ecossistemas são considerados patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.
Posteriormente, a Agenda 21, elaborada na Conferência ECO 92, dispõe que as florestas
Como já mencionado, em 2012 foi publicado o novo Código Florestal, muito polêmico por
beneficiar vários indivíduos que foram degradadores do meio ambiente até 22 de julho de 2008,
6
6.2 O Código Florestal Brasileiro
Para estudar o nosso Código Florestal você precisa ter em mente que, apesar do nome,
ele não se refere apenas às florestas. A lei estabelece normas gerais sobre a proteção da
vegetação nativa.
O objetivo do Código Florestal não é a preservação do meio ambiental de forma que ele
fique intocado pelo homem, mas sim o desenvolvimento sustentável da humanidade,
explorando os recursos naturais com equilíbrio. É uma norma que reafirma o compromisso do
Brasil de preservar as florestas e a vegetação nativa ao mesmo tempo que enaltece a
importância da atividade agropecuária para o nosso país.
Também podemos observar que o Código Florestal está em consonância com o art. 225
da CF/88, pois trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito difuso,
Para ressaltar a importância das florestas, elas podem induzir limitações ao direito de
propriedade. Nesse ponto, devemos ter em mente que as obrigações previstas no Código
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Florestal são de natureza real (propter rem), transmitidas ao atual proprietário ou possuidor do
Por fim, a norma em análise utiliza instrumentos econômicos para fomentar a preservação
do meio ambiente. Ou seja, existindo o protetor ambiental, ele deve receber vantagens
8
Esses princípios norteadores visam compatibilizar o desenvolvimento econômico com a
Por esse princípio, o direito de propriedade não é absoluto, pois sofre limitações legais,
Assim como a PNMA, o Código Florestal elenca alguns conceitos importantes para o estudo
da matéria. Destacamos alguns deles:
Acre
Pará
Amazonas
Roraima
AMAZÔNIA
Rondônia
LEGAL
Amapá
Mato Grosso
Norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás
Oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão
Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ÁREA DE
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
PRESERVAÇÃO
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
PERMANENTE
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
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Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a
função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
RESERVA LEGAL naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de
ÁREA RURAL julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
CONSOLIDADA agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de
pousio.
PEQUENA É aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar
PROPRIEDADE e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos
OU POSSE RURAL de reforma agrária.
FAMILIAR
Substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras
USO
coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de
ALTERNATIVO
geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte,
DO SOLO
assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.
Administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios
econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de
MANEJO sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,
SUSTENTÁVEL cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies
madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem
como a utilização de outros bens e serviços.
Fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente
VEREDA com a palmeira arbórea Mauritia flexuosa - buriti emergente, sem formar
dossel, em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas.
Ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das
marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se
associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como
MANGUEZAL
mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões
estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira,
entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina.
SALGADO OU Áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias
MARISMAS entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia
10
TROPICAIS entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde
HIPERSALINOS pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica.
Áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores,
inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade
APICUM
superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de
vegetação vascular.
Depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente
alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram
diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cobertura
RESTINGA
vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato
herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado.
Afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá
NASCENTE
início a um curso d’água.
OLHO D’ÁGUA Afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente.
A calha por onde correm regularmente as águas do curso d’água durante
LEITO REGULAR
o ano.
VÁRZEA DE Áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações
INUNDAÇÃO OU periódicas.
PLANÍCIE DE
INUNDAÇÃO
Prática de interrupção temporária de atividades ou usos agrícolas,
POUSIO pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 (cinco) anos, para possibilitar
a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo.
Pantanais e superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas,
ÁREAS ÚMIDAS cobertas originalmente por florestas ou outras formas de vegetação
adaptadas à inundação.
CRÉDITO DE Título de direito sobre bem intangível e incorpóreo transacionável.
CARBONO
11
6.3 Área de Preservação Permanente – APP 1
do Código Florestal).
Trata-se de um espaço territorial especialmente protegido com base no art. 225, §1º, III
da CF/88: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
De acordo com o disposto nos arts. 4º e 6º do Código Florestal, as APPs podem ser criadas
em razão da localização ou da finalidade. São onze espécies de áreas que a legislação
1
Vide questão 02
2
Vide questão 8 desse material.
12
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;
A primeira espécie de APP corresponde às matas ciliares, que são as faixas de terra
marginais dos cursos d’água. Note que a legislação estabeleceu um caráter progressivo para o
tamanho das APPs dependendo da largura do curso d’água que ela está relacionada, começando
por 30m, quando o curso d’água correspondente tiver menos de 10m de largura, e podendo
chegar a até 500m quando o curso d’água correspondente tiver largura superior a 600 metros,
como acontece em alguns trechos do Rio Amazonas e do Rio São Francisco.
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
Observe que só haverá APP nos casos de lagos e lagoas naturais e que o critério usado
para o seu tamanho é a localidade do lago ou lagoa correspondente, se em zona urbana ou
em zona rural. No caso das zonas rurais, a lei ainda usa como critério para definir o tamanho
da APP o tamanho da superfície do lago ou lagoa correspondente.
13
observar a faixa mínima de 30m e máxima de 100m em área rural e a faixa mínima de 15m e
máxima de 30m em área urbana.
Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare,
fica dispensada a instituição de APP na reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III
supracitados, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão
ambiental competente do SISNAMA (§4º).
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja
sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros 3;
Sempre que há fortes chuvas vemos nos noticiários casos de deslizamentos de encostas,
que muitas vezes destroem casas e fazem vítimas. A definição de APP nos declives com
inclinação superior a 45º visa evitar esse tipo de fenômeno com a preservação da totalidade de
sua vegetação. Não há um tamanho específico para a APP estabelecida em razão das encostas,
100% da sua vegetação deve ser preservada.
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)
metros e inclinação média maior que 25º, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à
base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho
3
Vide questões 7 e 10 desse material.
14
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da
elevação;
Esclarecendo o inciso IX, não é qualquer morro (montes, montanhas e serras) que terá APP.
Deve existir APP apenas nos topos dos morros (montes, montanhas e serras), correspondente
ao seu 1/3 superior, e não em toda a sua área; quando eles possuírem altura mínima de 100m,
ou seja, um morro com menos de 100m de altura não terá APP (pelo inciso IX); e uma inclinação
média superior a 25º (lembre-se que as encostas possuem inclinação de 45º).
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja
a vegetação;
As áreas altas, que possuem altitude de 1.800m ou mais acima do nível do mar,
independentemente de qual seja a sua vegetação, deve ser protegida por APP. Nesses casos,
por ausência de previsão legal, o local protegido corresponderá à totalidade da área alta, sem
tamanho mínimo ou máximo especificado na legislação.
(...)
§ 6º Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas de
que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da aquicultura e a
infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:
15
Como esclarecimento, vale destacar que a aquicultura e a produção de organismos
Observe que nas hipóteses elencadas no art. 6º do Código Florestal, que se preocupa com
a função da área de preservação ambiental, as APPs podem ser instituídas mediante decreto
do Poder Executivo – federal, estadual, distrital ou municipal. Entretanto, nas hipóteses do art.
4º, em que as APPs são instituídas em razão da sua localização, devem ser criadas mediante lei.
16
APP APP
Em razão da Em razão da
LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO
Como você pode notar, a APP é uma limitação à propriedade. Em caso de APP que esteja
localizada em propriedade privada, não haverá desapropriação do bem, mas apenas uma
restrição para a sua utilização.
Nos casos de APPs instituídas por força de lei (hipóteses do art. 4º do Código Florestal),
que são aquelas áreas protegidas em razão da sua localização, não é cabível indenização ao
proprietário do local, mesmo que prejuízos econômicos sejam alegados. Esse tipo de limitação
da propriedade deve ser genérica, gratuita e unilateral, pois as características que a torna APP
são anteriores ao início da propriedade do imóvel.
Já no caso de APP instituída por meio de Decreto do Poder Executivo (hipóteses do art.
público ou privado. Destaca-se novamente que a área qualificada como APP merece assim ser
tratada e protegida possuindo ou não vegetação. Portanto, caso não exista vegetação em local
17
com status de APP, ela deve ser recomposta sob pena de responsabilização penal, civil e
administrativa.
18
tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente
e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas no Código Florestal;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de
7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água
e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes
integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica
e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal.
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e
pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso
de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos
oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água
e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso
ATIVIDADES DE da água, quando couber;
BAIXO IMPACTO c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
AMBIENTAL4 d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno
ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais
em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço
próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
4
Vide questão 5 desse material.
19
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros
requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e
produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a
legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas
e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da
vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e
familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros,
desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem
prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e
de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente.
Quanto à intervenção nas APPs, o art. 9º do Código Florestal permite o acesso de pessoas
e animais para a obtenção de água e realização de atividades de baixo impacto ambiental.
20
Por fim, é dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução,
Como vimos, a depender do fundamento legal para a criação de uma APP, ela deverá ser
feita mediante lei ou mediante decreto do Poder Executivo. Entretanto, para a sua alteração ou
supressão, se faz necessária uma lei formal.
Se o objeto da alteração for uma ampliação da APP, sem modificar a área original, ela
também poderá ser feita por meio de decreto do Poder Executivo nos casos do art. 6º do
O legislador escolheu uma forma simples (ato administrativo) para proteger o meio
ambiente. Entretanto, optou por não seguir a simetria das formas nesses casos para dificultar
e ampliar o debate sobre as supressões da proteção. É o que podemos extrair do art. 225, §1º,
III da CF/88.
a qualquer título é responsável por promover a sua recomposição. Essa obrigação tem natureza
real e, por isso, transfere-se ao sucessor do domínio ou posse do imóvel (obrigação propter
rem).
Entretanto, o Código Florestal, em seu art. 8º, estabelece que a intervenção ou a supressão
de vegetação nativa em APP pode ser autorizada pelo órgão ambiental competente nas
Como foi visto, a APP é uma limitação ao exercício da propriedade, afetando o seu caráter
absoluto. Entretanto, uma restrição como essa não retira do proprietário o domínio do imóvel.
Portanto, diante de uma desapropriação por utilidade pública de bem imóvel que tem em
sua extensão APP, essa área deve ser computada para o valor da respectiva indenização.
Segundo o STJ, mesmo que devida a indenização em relação imóvel com a limitação por
APP, não cabem quanto a essas áreas juros compensatórios. O Tribunal entende que se o
imóvel está impedido de ter exploração econômica por causa da APP, não há que se falar em
compensação ao seu proprietário. Admitir o contrário seria permitir o enriquecimento ilícito pelo
desapropriado.
22
Também segundo o STJ, nos casos das matas ciliares de rios navegáveis, os terrenos
reservados nas margens das correntes públicas são bens públicos dominiais e,
consequentemente, as APPs ali presentes também. Isso quer dizer que esses terrenos marginais
Nesse contexto, o STF editou a Súmula 479 nos seguintes termos: “as margens dos rios
navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas
de indenização”.
A Área de Reserva Legal – RL, assim como a Área de Preservação Permanente – APP, é
De acordo com o conceito legal do art. 3º do Código Florestal, a Reserva Legal é a área
localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso
23
Assegurar o uso
econômico de modo
sustentável dos
recursos naturais.
Auxiliar a
Abrigar e proteger a PARA QUE SERVE conservação e a
fauna silvestre e a
A RESERVA LEGAL? reabilitação dos
flora nativa
processos ecológicos
Promover a
conservação da
biodiversidade
Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente.
A área de RL específica de cada imóvel deve corresponder a um percentual mínimo estabelecido
5
Vide questão 9 desse material.
24
Como você pode ver na tabela, quando o cerrado está localizado na Amazônia Legal, os
imóveis ali situados devem ter 35% das suas áreas destinadas à RL. Entretanto, se o cerrado não
está localizado na Amazônia Legal, a área de RL dos imóveis ali situados deve seguir a regra
Nos casos dos imóveis localizados na Amazônia Legal em área de floresta, o Poder Público
poderá reduzir os seus percentuais mínimos destinados à Reserva Legal para até 50% (cinquenta
por cento), para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por
cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e por
Também poderá ser reduzido para até 50% o percentual mínimo para a RL dos imóveis
localizados na área de floresta da Amazônia Legal quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-
Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por
unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por
terras indígenas homologadas.
25
A área destinada à RL dentro de cada propriedade ou posse rural, aonde se deve manter
corredor ecológico serve para evitar que a vegetação nativa se fragmente, possibilitando o
abrigo e o deslocamento para a fauna silvestre.
Além disso, a localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em
O proprietário ou possuidor diligente não pode ser penalizado por eventual morosidade
da Administração. Portanto, protocolada a documentação exigida para a análise da localização
da área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção
administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente
26
cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de
múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços”.
Diferentemente do que vimos na APP, nas áreas de RL é possível o manejo sustentável dos
seus recursos naturais. O art. 20 do Código Florestal define duas modalidades de manejo
sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal: sem propósito comercial para consumo
na propriedade e com propósito comercial.
ambiental competente apenas a motivação da exploração e o seu volume, que deve ser limitado
a 20m³ anuais.
Ainda sobre o manejo florestal sustentável das áreas destinadas à Reserva Legal, o art. 21
do Código Florestal define que é livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, como
frutos, cipós, folhas e sementes. Entretanto, devem ser observados os períodos de coleta e
volumes fixados nos regulamentos específicos, quando houver; a época de maturação dos frutos
e sementes; e as técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie
coletada o caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.
Por fim, quando tratamos de manejo de área de Reserva Legal na pequena propriedade
27
6.4.2 Cadastro Ambiental Rural - CAR6
A localização da Reserva Legal só deve ser aprovada pelo órgão estadual integrante do
SISNAMA ou por instituição por ele habilitada após a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental
Rural – CAR, que é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório e com prazo
O CAR é um cadastro feito no âmbito do SINIMA que serve para reunir as informações e
os dados ambientais das propriedades e posses rurais de todo o país. Com essas informações,
a segurança jurídica, ordem e estabilidade das relações pessoais. O cadastramento não será
considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse.
A inscrição no CAR deve ser feita perante a Administração Pública municipal ou estadual,
imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas
geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a
localização dos remanescentes de vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito, das
6
Questão 01
28
possuidor do imóvel rural, a comprovação de propriedade ou posse e um croqui identificando
A área correspondente à Reserva Legal deve ser registrada no órgão ambiental competente
através da inscrição do imóvel no CAR, dispensada a averbação no registro do imóvel, vedada,
Atualmente, após sucessivas modificações legislativas, não há mais prazo para que o
proprietário ou o possuidor rural faça a inscrição de seu imóvel perante o referido sistema
eletrônico. Com o advento da Lei 13.887/2019, apenas a adesão ao Programa de Regularização
Se o imóvel rural possui área de reserva legal acima do mínimo exigido por lei, o respectivo
proprietário ou possuidor não está autorizado a suprimir a vegetação excedente, mas poderá
constituir servidão ambiental ou Cota de Reserva Ambiental, que poderão ser negociadas
economicamente com outros proprietários ou possuidores de imóveis rurais deficitários de
Reserva Legal.
Outro instrumento compensatório é a Reserva Legal condominial, que pode ser instituída
em casos de imóveis rurais contíguos, que derivaram da repartição de uma propriedade
Art. 16. Poderá ser instituído Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre
propriedades rurais, respeitado o percentual previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.
Parágrafo único. No parcelamento de imóveis rurais, a área de Reserva Legal poderá ser
agrupada em regime de condomínio entre os adquirentes.
Muitas vezes o proprietário de um grande imóvel rural dividia a sua área em vários outros
imóveis como uma forma de burlar as exigências para a instituição da Reserva Legal. Para evitar
essa prática, o legislador instituiu, no caso de parcelamento de imóveis rurais, a possibilidade
29
de as áreas de Reserva Legal dos imóveis desmembrados serem agrupadas em regime de
Para que seja possível um condomínio de Reserva Legal, precisamos observar os seguintes
requisitos: os imóveis precisam ser contínuos, o percentual legal em relação a cada imóvel
ÁREA DE PRESERVAÇÃO
ÁREA DE PROTEÇÃO RESERVA LEGAL
PERMANENTE
Área protegida, coberta ou não Área localizada no interior de
por vegetação nativa, com a uma propriedade ou posse
função ambiental de preservar rural, delimitada nos termos do
os recursos hídricos, a paisagem, art. 12, com a função de
a estabilidade geológica e a assegurar o uso econômico de
biodiversidade, facilitar o fluxo modo sustentável dos recursos
CONCEITO LEGAL gênico de fauna e flora, naturais do imóvel rural, auxiliar
proteger o solo e assegurar o a conservação e a reabilitação
bem-estar das populações dos processos ecológicos e
humanas. promover a conservação da
biodiversidade, bem como o
abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa
LOCAL Área urbana ou rural Área rural
PRESENÇA NA Nem todas as propriedades Todas as propriedades rurais
PROPRIEDADE RURAL rurais têm APP. precisam ter RL.
Apesar das diferenças, como você pode observar, podem existir situações em que uma
APP e uma RL estarão presentes simultaneamente em uma propriedade rural. Visto isso, o
30
Código Florestal permite ao proprietário/possuidor computar as APPs existentes em seu
Para abater o tamanho da APP do valor mínimo necessário de RL exigido pela lei, devemos
observar os seguintes requisitos:
Que esse benefício não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo
do solo. Ou seja, se a APP for usada no cômputo da área de Reserva legal, o
proprietário ou possuidor do bem não pode usar o local que seria de RL se não
existisse a APP para outras atividades com substituição da vegetação nativa por
outras coberturas do solo;
A APP usada no cálculo do percentual mínimo de RL deve estar conservada ou em
processo de recuperação;
O proprietário ou o possuidor precisa requerer a inclusão do imóvel no CAR.
Apesar de ser usada no cômputo da área de Reserva Legal, a APP não perde a sua natureza
e o seu regime de proteção para fins de intervenção humana ou supressão de vegetação.
O Código Florestal ainda prevê outra espécie de área de proteção ambiental além das
APPs e das Reservas Legais. Segundo o seu art. 10, é permitida a exploração ecologicamente
Ademais, nas Áreas de Uso Restrito com inclinação entre 25º e 45º, serão permitidos o
boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses
de utilidade pública e interesse social.
Cabe ao Poder Público municipal estabelecer as Áreas Verdes Urbanas. Para tanto, contará
com os seguintes instrumentos:
31
o exercício do direito de preempção para aquisição de remanescentes florestais
relevantes;
a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas;
o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos
comerciais e na implantação de infraestrutura; e
aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da compensação ambiental.
I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa
modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento)
no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas;
II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos
ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica
e condição de berçário de recursos pesqueiros;
III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual,
cientificado o IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da
União, realizada regularização prévia da titulação perante a União;
IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos;
V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas
de Preservação Permanente; e (
VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais.
32
2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove sua localização em apicum
O uso alternativo do solo consiste na substituição da vegetação nativa por outras formas
Como já foi mencionado, o Código Florestal não visa a proteção integral da vegetação,
solo, o proprietário ou possuidor deverá proceder a reposição florestal, que deve priorizar os
projetos que contemplem a utilização de espécies nativas do bioma em que ocorreu a supressão.
Ademais, a reposição florestal deve ser feita no mesmo estado em que ocorreu a supressão da
matéria-prima utilizada, facilitando a adaptação das espécies nativas ao solo, ao clima e à
biodiversidade.
Por fim, buscando racionalizar e otimizar o uso do meio ambiente, o Código Florestal veda
a conversão de vegetação nativa para um uso alternativo do solo quando o imóvel rural possuir
Cabe observar que é livre a extração de produtos florestais das florestas plantadas que
não estejam em APP ou em Reserva Legal. Como esclarecimento, as florestas plantadas são
Ademais, o art. 33, §3º, do Código Florestal permite o corte ou a exploração de espécies
Florestas plantadas;
34
Plano de Manejo Florestal Sustentável de floresta nativa aprovado pelo órgão
competente do SISNAMA;
Supressão de vegetação nativa autorizada pelo órgão competente do SISNAMA; ou
Outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão competente do SISNAMA.
Para emitir tal licença, o interessado deve apresentar um Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, que deve ser previamente aprovado pela Administração. Nele devem
constar as técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os
Para fins ambientais, manejo é todo e qualquer procedimento que vise assegurar a
conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. O manejo florestal sustentável consiste,
manejo.
O PMFS é um importante instrumento para racionalizar o uso dos recursos florestais. Para
tanto, atenderá os seguintes fundamentos técnicos e científicos:
35
A simples aprovação do PMFS pelo órgão competente do SISNAMA confere ao seu
detentor a licença ambiental para a prática do manejo florestal sustentável, não se aplicando a
esse processo as outras etapas de licenciamento ambiental.
Emitida a licença para a exploração florestal, o responsável pelo PMFS fica obrigado a
encaminhar um relatório anual ao órgão ambiental competente com as informações sobre toda
a área de manejo florestal sustentável e a descrição das atividades realizadas. Além disso, o
PMFS será submetido a vistorias técnicas para fiscalizar as operações e atividades desenvolvidas
na área de manejo.
Segundo o art. 33, §1º, do Código Florestal, as pessoas físicas ou jurídicas que utilizem
competente do SISNAMA.
No parágrafo seguinte, o próprio Código Florestal, estabelece algumas exceções que estão
isentas da obrigação de reposição florestal. Entretanto, a isenção da obrigatoriedade da
36
Art. 33, §2º do Código Florestal - É isento da obrigatoriedade da reposição florestal aquele
que utilize:
II - matéria-prima florestal:
a) oriunda de PMFS;
c) não madeireira.
37
Os parâmetros de utilização de matéria-prima florestal para fins de enquadramento das
Essa licença será emitida por meio da emissão de Documento de Origem Florestal – DOF,
que deve acompanhar o material até o seu destino final. Para a emissão do DOF, a pessoa física
No DOF deverão constar a especificação do material, sua volumetria e dados sobre sua
origem e destino. É obrigatória a exigência do DOF por aquele que recebe ou adquire o material,
seja ou não com fins comerciais. E o seu porte também é obrigatório até o beneficiamento final.
38
Segundo o art. 35 do Código Florestal, “o controle da origem da madeira, do carvão e de
outros produtos ou subprodutos florestais incluirá sistema nacional que integre os dados dos
diferentes entes federativos, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão federal
livre a extração de lenha e demais produtos de florestas plantadas nas áreas não
consideradas Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal; em seguida, o §3º do mesmo
artigo afirma que o corte ou a exploração de espécies nativas plantadas em área de uso
Por fim, o controle do comércio de plantas vivas e outros produtos oriundos da flora
nativa será feito por meio de licença do órgão estadual competente do SISNAMA e de registro
no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de
O uso de fogo na vegetação é, em regra, proibido pelo Código Florestal, que elenca as
seguintes exceções:
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:
39
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em
práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual
ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada,
que estabelecerá os critérios de monitoramento e controle;
(...)
o licenciamento da atividade rural deve exigir estudos que contenham o planejamento específico
para o emprego do fogo e para o controle de incêndios para a emissão da respectiva licença
ambiental.
Como exemplo da exceção elencada no inciso II, podemos citar a vegetação do cerrado,
que tem o fogo como um aliado para a germinação de sementes que precisam sofrer um
Para fins de responsabilização ambiental pelo uso irregular do fogo em terras públicas
ou particulares, a autoridade competente para fiscalizar e autuar o responsável deverá
demonstrar o nexo causal entre a ação do agente ou do seu preposto e o dano efetivamente
causado.
O art. 38 supracitado deve ser interpretado de acordo com os preceitos da CF/88 e com o
40
Nesse contexto, o STF, ao admitir a continuidade da prática de queimada de palha de
cana-de-açúcar, considerou razoável que esse método seja substituído gradualmente pela
mecanização da colheita, sem determinar a proibição imediata da queima da cana-de-açúcar
por considerar os aspectos econômicos, sociais e políticos que envolvem a questão (RE
586.224/SP).
ação:
c) a conservação da biodiversidade;
e) a regulação do clima;
41
h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de
uso restrito;
O programa relativo aos serviços ambientais deve integrar os sistemas nacionais e estaduais
com o objetivo de criar um mercado de serviços ambientais e os seus respectivos pagamentos
no mercado;
42
f) isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais como:
parte dos gastos efetuados com a recomposição das APPs, de Reserva Legal e de áreas de uso
restrito, cujo desmatamento seja anterior a 22 de julho de 2008; e a utilização de fundos públicos
O Código Florestal, em seu art. 44, institui a Cota de Reserva Ambiental – CRA, que
consiste em um título nominativo que representa a área com vegetação nativa ou em
processo de recuperação
43
Sob regime de servidão ambiental;
Correspondente à área de Reserva Legal voluntária, protegida por Reserva
Particular do Patrimônio Natural; e
Existente em propriedade rural, ainda não desapropriada, localizada em Unidade
de Conservação de domínio público.
Obs.: o §4º do art. 44 do Código Florestal ainda permite a instituição de CRA da vegetação
nativa que integra a Reserva Legal das pequenas propriedades ou posses rurais familiares.
imóvel incluído no CAR que mantenha área nas condições acima descritas.
Cada CRA corresponderá a 1 hectare de área com vegetação nativa primária ou com
vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração ou recomposição; ou a 1 hectare de
área de recomposição mediante reflorestamento com espécies nativas. Apesar disso, a CRA não
poderá ser emitida quando a regeneração ou recomposição da área forem improváveis ou
inviáveis.
credenciada.
memorial descritivo do imóvel, com a indicação da área a ser vinculada ao título, contendo pelo
menos um ponto de amarração georreferenciado relativo ao perímetro do imóvel e um ponto
de amarração georreferenciado relativo à Reserva Legal.
Aprovada a proposta pela Administração, será emitida a CRA e o vínculo entre ela e a sua
respectiva área será averbado na matrícula do imóvel.
O órgão ambiental federal que é competente para emitir a CRA poderá delegar ao órgão
ambiental estadual atribuições para emissão, cancelamento e transferência da CRA, assegurada
44
a implementação de sistema único de controle. Em qualquer caso, deve ser assegurado o
Mas, afinal, para que serve a CRA? A CRA pode ser utilizada para compensar Reserva
Legal de imóvel rural deficitário situado no mesmo bioma da área à qual o título está
vinculado.
jurídica de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo
adquirente, que deve ser registrado no sistema único de controle como condição de eficácia da
transferência.
A utilização de CRA para compensação da Reserva Legal deve ser averbada na matrícula
do imóvel no qual se situa a área vinculada ao título e na matrícula do imóvel beneficiário da
compensação.
A transmissão inter vivos ou causa mortis do imóvel não elimina nem altera o vínculo de
área contida no imóvel à CRA.
quando há desistência de manter a área nas condições necessárias para a concessão de CRA;
automaticamente, em razão de término do prazo da servidão ambiental; ou por decisão do
vínculo entre a área e o título, o que não impede a aplicação das eventuais sanções
administrativas e penais.
O cancelamento da CRA utilizada para fins de compensação de Reserva Legal só pode ser
efetivado se assegurada Reserva Legal para o imóvel no qual a compensação foi aplicada. Nesses
45
casos, o cancelamento deve ser averbado na matrícula do imóvel no qual se situa a área
com o disposto na legislação ambiental, deverá embargar a obra ou atividade que deu causa
ao uso alternativo do solo indevido, como medida administrativa voltada a impedir a
A agricultura familiar recebe uma série de benefícios legais para simplificar e facilitar a
manutenção da pequena propriedade ou posse rural familiar. Como exemplo clássico desses
46
propósito comercial direto ou indireto dependerá de uma simples autorização do órgão
ambiental competente.
Enquanto isso, o manejo sustentável da Reserva Legal para exploração florestal eventual,
sem propósito comercial direto ou indireto, para consumo no próprio imóvel caracterizado como
pequena propriedade ou posse rural familiar, independe de autorização dos órgãos ambientais
competentes. Esse manejo fica limitado à retirada anual de 2m³ por hectare de material lenhoso
e não pode comprometer mais de 15% da biomassa da Reserva Legal, nem ser superior a 15m³
de lenha para uso doméstico e uso energético por ano.
propriedade ou posse rural familiar é gratuito, devendo o Poder Público prestar apoio técnico
e jurídico.
Para tanto, deve ser feita uma apresentação de dados que identifiquem a área proposta
ou posses rurais familiares, o Código Florestal autoriza o cômputo dos plantios de árvores
frutíferas, ornamentais ou industriais, espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em
consórcio com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais; além de garantir o apoio
47
técnico do Poder Público estadual para a recomposição da vegetação das Reservas Legais em
Por fim, o art. 58 estabelece que o Poder Público poderá instituir programa de apoio
técnico e incentivos financeiros, podendo incluir medidas indutoras e linhas de financiamento
para atender, prioritariamente, esse tipo de imóvel nas iniciativas dos elencadas em seus incisos.
Art. 58. Assegurado o controle e a fiscalização dos órgãos ambientais competentes dos
respectivos planos ou projetos, assim como as obrigações do detentor do imóvel, o poder
público poderá instituir programa de apoio técnico e incentivos financeiros, podendo
incluir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, os
imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3º , nas iniciativas de:
I - preservação voluntária de vegetação nativa acima dos limites estabelecidos no art. 12;
48
Esta parte do Código Florestal é muito criticada por privilegiar os proprietários e
possuidores rurais que causaram danos ao meio ambiente antes de 22 de julho de 2008.
A inscrição do imóvel rural no CAR, condição obrigatória para a adesão ao PRA, deve ser
requerida em até o dia 31 de dezembro de 2020 para que se possa ter o direito de aderir ao
programa de regularização. Caso os Estados e o Distrito Federal não implantem o PRA até esta
mesma data, o proprietário ou possuidor de imóvel rural poderá aderir ao PRA implantado pela
União.
adesão ao órgão competente integrante do SISNAMA, que convocará o interessado para assinar
um termo de compromisso, com natureza de título executivo extrajudicial.
49
recuperar ou recompor as áreas de preservação permanente, de reserva legal e de uso restrito
cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por
infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação
Lei nº 9.605 de 1998 também ficará suspensa, e o respectivo prazo prescricional interrompido,
a partir da assinatura do termo de compromisso para a regularização de imóvel ou posse rural,
definido no PRA.
pessoas.
No regime geral do Código Florestal, podemos ter APP em áreas urbanas e em áreas rurais.
Entretanto, as regras do regime de transição ora estudadas só se aplicam às áreas rurais
consolidadas. Ou seja, as áreas urbanas consolidadas até 22 de julho de 2008, que deveriam ser
caracterizadas como APP, não precisam ser regularizadas.
atividades em APP, no regime geral do Código Florestal só pode haver intervenção em APP nos
casos de utilidade pública, interesse social ou atividade de baixo impacto ambiental.
As matas ciliares (vegetações das faixas marginais dos cursos d’água naturais) de imóveis
rurais que possuam áreas consolidadas em APP, devem ser recompostas observando as
seguintes regras:
Recomposição das faixas marginais aos cursos d’água naturais em imóveis rurais com
áreas consolidadas
51
Área do imóvel Recomposição
Até 1 módulo fiscal 5 metros
Superior a 1 módulo fiscal e de até 2
8 metros
módulos fiscais
Superior a 2 módulos fiscais e até 4 módulos
15 metros
fiscais
No mínimo 20 metros
No máximo 100 metros
Superior a 4 módulos
fiscais e até 10
módulos fiscais;
Nos demais casos
quando o curso
d’água for de até
Superior a 4 módulos fiscais
10m de largura
Metade da largura
do curso d’água,
observando o
20 metros
mínimo de 30 metros
e o máximo de 100
metros.
Observe que as áreas consolidadas são submetidas a condições bem mais brandas do que
as previstas no art. 4º, I, do Código Florestal como regra de extensão da APP nos casos das
matas ciliares. O dispositivo mencionado considera a largura do curso d’água para definir o
tamanho da APP e dispõe que a APP será de 30m para os cursos d’água com menos de 10m
52
A recomposição das APP em área rural consolidada no entorno de lagos e lagoas naturais
Ao contrário da regra geral, que leva em consideração o tamanho dos lagos e lagoas
naturais, o regime de transição ao qual as áreas rurais consolidadas estão submetidas leva em
geral.
Nos casos de áreas rurais consolidadas em veredas, será obrigatória a recomposição das
faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado,
Apenas esses tipos de APP sofrem alterações quando tratamos do regime transitório para
a regulamentação das áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Os demais tipos de
53
APP seguem as mesmas regras do regime geral do Código Florestal, mesmo quando em áreas
rurais consolidadas.
critérios estipulados pelo órgão competente integrante do SISNAMA e deve ser concluída em
até 20 anos, abrangendo, a cada 2 anos, o mínimo de 1/10 da área total final.
e poderá ser feita por meio de Cota de Reserva Ambiental – CRA; servidão ambiental; doação
ao Poder Público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público
A definição dessas áreas prioritárias deve visar favorecer, entre outras coisas, a recuperação
de bacias hidrográficas excessivamente desmatadas, a criação de corredores ecológicos, a
7
Questão 03
54
conservação de grandes áreas protegidas e a conservação ou recuperação de ecossistemas ou
espécies ameaçados.
Quando a compensação for para regularizar a Reserva Legal de imóvel público, poderá
ser feita mediante concessão de direito real de uso ou doação, por parte da pessoa jurídica de
direito público proprietária de imóvel rural que não detém Reserva Legal em extensão suficiente,
ao órgão público responsável pela Unidade de Conservação de área localizada no interior de
Como não poderia ser diferente, as medidas de compensação de área de Reserva Legal
não poderão ser utilizadas como forma de viabilizar a conversão de novas áreas para uso
alternativo do solo.
Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos
fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto
no art. 12 do Código Florestal, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a
vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso
alternativo do solo.
Nesses casos, o proprietário ou possuidor do imóvel não precisará regularizar a sua área
de Reserva legal, pois o próprio Código Florestal, em seu art. 67, considera regular a situação.
55
Para prestigiar a segurança jurídica, o art. 68 do Código Florestal determina que os
área de Reserva Legal, o proprietário ou possuidor do respectivo imóvel fica obrigado a proceder
a sua regularização, nos termos do Código Florestal acima explanados, mesmo que não tenha
A regularização da área de Reserva Legal é uma obrigação é propter rem, ou seja, tem
natureza real. Por isso, ela é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou
56
Entretanto, em situações especiais, para garantir a proteção integral do meio ambiente, STJ
admite a dispensa de comprovação do nexo causal. É o caso ora estudado de imóvel rural
ambientalmente degradado, em que temos uma obrigação de natureza real, que adere ao título
ambiental.
57
QUADRO SINÓTICO
CÓDIGO FLORESTAL
Lei 12.651 de 25 de maio de 2012;
É uma norma geral editada pela União;
INTRODUÇÃO
Trata das florestas e das demais formas de vegetação nativa;
Objetiva o desenvolvimento sustentável.
Afirmação do compromisso soberano do Brasil com a
preservação das suas florestas e demais formas de vegetação
nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos
hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar
das gerações presentes e futuras – princípio da prevenção/
princípio da precaução/ princípio da solidariedade intergeracional;
Reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de
vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento
econômico, na melhoria da qualidade de vida da população
brasileira e na presença do País nos mercados nacional e
PRINCÍPIOS
internacional de alimentos e bioenergia – princípio do
desenvolvimento sustentável;
Ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e
harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da
água, do solo e da vegetação – princípio da obrigatoriedade da
intervenção do Estado;
Responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação
de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa
e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais
58
– princípio da obrigatoriedade da intervenção do Estado/
princípio da participação democrática;
Fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da
inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação
e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa
– princípio da obrigatoriedade da intervenção do Estado;
Criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar
a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para
promover o desenvolvimento de atividades produtivas
sustentáveis – princípio da obrigatoriedade da intervenção do
Estado/ princípio do poluidor-pagador/ princípio do protetor-
recebedor.
Função socioambiental da propriedade – o direito à propriedade
não é absoluto, pois sofre limitações legais, como as estabelecidas
no Código Florestal. Elas se justificam porque o meio ambiente
ecologicamente equilibrado é um direito difuso e inerente à vida,
ou seja, nitidamente de interesse público.
Acre
Pará
Amazonas
Roraima
AMAZÔNIA LEGAL Rondônia
Amapá
Mato Grosso
Norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás
Oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão.
59
Em razão da finalidade: Art. 6º. Instituídas por Decreto do Poder
Executivo. Cabe indenização ao proprietário se, em razão da limitação
por APP, ficar comprovada a inviabilidade de utilização do bem.
Em regra, as APPs são intocáveis, vedado o seu uso econômico direto.
Exceções:
INTERVENÇÃO NA
Utilidade pública;
APP
Interesse social; e
Atividade de baixo impacto ambiental.
ALTERAÇÃO OU Sempre que houver supressão ou alteração que modifique a área origina
SUPRESSÃO da APP, deverá ser feita mediante lei.
RESERVA LEGAL
Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a
função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
CONCEITO LEGAL naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
60
funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica,
subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de
distribuição de energia elétrica.
Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de
capacidade de rodovias e ferrovias.
ÁREA DE USO
Ademais, nas Áreas de Uso Restrito com inclinação entre 25º e 45º, serão
RESTRITO
permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física
associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas
agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as
hipóteses de utilidade pública e interesse social.
São espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação,
preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano
Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município,
ÁREAS VERDES
indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de
URBANAS
recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos
recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens
e manifestações culturais.
61
O cadastramento não é título para fins de reconhecimento de direito de
posse ou propriedade.
A inscrição no CAR deve ser feita perante a Administração Pública
municipal ou estadual.
A área correspondente à Reserva Legal deve ser registrada no órgão
ambiental competente através da inscrição do imóvel no CAR, dispensada
a averbação no registro do imóvel, vedada, via de regra, a alteração da
sua destinação nos casos de transmissão ou desmembramento do bem.
62
Estão isentos da obrigatoriedade da reposição florestal aquele que
utilize: costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da
atividade industrial; ou matéria-prima florestal oriunda de PMFS; oriunda
de floresta plantada; ou não madeireira.
Aquele que utilizar matéria-prima florestal em suas atividades deve
suprir-se de recursos oriundos de florestas plantadas; de florestas nativas
EXPLORAÇÃO com Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS aprovado pela
FLORESTAL Administração Pública; de supressão de vegetação nativa quando
autorizada pelo órgão competente do SISNAMA; ou de outras formas de
biomassa florestal definidas pelo SISNAMA.
Administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios
econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de
sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,
cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies
madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem
como a utilização de outros bens e serviços.
63
SUSTENTÁVEL - competente do SISNAMA, com o objetivo de assegurar a produção
PSS equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela atividade
industrial.
CONTROLE DE O transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, lenha,
ORIGEM DOS carvão e outros produtos ou subprodutos florestais provenientes de
PRODUTOS florestas de espécies nativas, usados para fins comerciais ou industriais,
FLORESTAIS precisam de licença do órgão competente do SISNAMA.
É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações:
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do
fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação
do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel
rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de
monitoramento e controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em
conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia
aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao
manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características
ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;
USO DO FOGOE O III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa
CONTROLE DE devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por
INCÊNDIOS instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão
ambiental competente do Sisnama.
64
PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE
Pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição,
monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos
ecossistemas e que gerem serviços ambientais;
Compensação pelas medidas de conservação ambiental
LINHAS DE AÇÃO necessárias para o cumprimento dos objetivos do Código Florestal;
e
Incentivos para comercialização, inovação e aceleração das ações
de recuperação, conservação e uso sustentável das florestas e
demais formas de vegetação nativa
65
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Gabriela, pequena produtora rural que desenvolve
atividade pecuária, é avisada por seu vizinho sobre necessidade de registrar seu imóvel rural no
Cadastro Ambiental Rural (CAR), sob pena de perder a propriedade do bem.
Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.
A) Gabriela não tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR por ser pequena produtora rural.
B) Gabriela tem a obrigação de registrar o imóvel no CAR, sob pena de perder a propriedade
Comentário:
Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional,
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais
das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento,
66
§ 2° O cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de
Questão 2
(XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) João acaba de adquirir dois imóveis, sendo um
localizado em área urbana e outro, em área rural. Por ocasião da aquisição de ambos os imóveis,
João foi alertado pelos alienantes de que os imóveis contemplavam Áreas de Preservação
Permanente (APP) e de que, por tal razão, ele deveria buscar uma orientação mais especializada,
A) As APPs não são passíveis de intervenção e utilização, salvo decisão administrativa em sentido
contrário de órgão estadual integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, uma
vez que não há preceitos legais abstratamente prevendo exceções à sua preservação absoluta
e integral.
B) As hipóteses legais de APP, com o advento do denominado “Novo Código Florestal" – Lei nº
12.651/2012 –, foram abolidas em âmbito federal, subsistindo apenas nos casos em que os
de APP além daquelas dispostas em normas gerais, inclusive em suas Constituições Estaduais e
Leis Orgânicas, sendo que a supressão irregular da vegetação nela situada gera a obrigação do
D) As APPs, assim como as reservas legais, não se aplicam às áreas urbanas, sendo certo que a
Lei Federal nº 12.651/2012 (“Novo Código Florestal"), apesar de ter trazido significativas
mudanças no seu regime, garantiu as APPs para os imóveis rurais com mais de 100 hectares.
67
Comentário:
Novo CFlo Art. 2º (...) § 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas
1. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs
e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio
ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação
ambiental. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever
Questão 3
(XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Hugo, proprietário de imóvel rural, tem instituída
Reserva Legal em parte de seu imóvel. Sobre a hipótese, considerando o instituto da Reserva
Legal, de acordo com a disciplina do Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), assinale a
afirmativa correta.
A) As áreas de Reserva Legal são excluídas da base tributável do Imposto sobre a Propriedade
recompor a área de Reserva Legal, mesmo que averbada, tendo em vista o caráter
personalíssimo da obrigação.
C) Hugo não pode explorar economicamente a área de Reserva Legal, conduta tipificada como
crime pelo Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012).
D) A área compreendida pela Reserva Legal é considerada Unidade de Conservação de Uso
Sustentável, admitindo exploração somente se inserida no plano de manejo instituído pelo Poder
Público.
68
Comentário:
o art. 41, inciso II, alínea c, da Lei 12.651/2012. De fato, as áreas de reserva legal são excluídas
c) dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito da base
de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, gerando créditos tributários;
No mesmo sentido, a Lei 9.393/1996, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural - ITR, retira da área tributável para apuração do ITR as áreas de reserva legal.
2012;
b) de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do
órgão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso previstas na alínea
anterior;
c) comprovadamente imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira,
69
aquícola ou florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão competente,
federal ou estadual;
Questão 4
(FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto) Suponha que determinado proprietário rural deseje
instituída pelo proprietário da área que não substitui ou reduz as limitações impostas pela
reserva legal mínima.
Comentário:
firmado perante órgão integrante do SISNAMA a, limitar o uso de toda a sua propriedade
70
ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes,
sentido que fosse possível a servidão ambiental ser instituída em áreas correspondentes à
APP e RL mínima.
Questão 5
hipóteses de atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental definidas nas alíneas do inciso
X do art. 3º da Lei Federal n. 12.651/2012.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Código Florestal, que define as atividades de baixo impacto ambiental. Visto isso, destaca-
se a importância da familiaridade do candidato com o rol elencado pelo legislador de
hipóteses de atividades de baixo impacto ambiental, de utilidade pública e de interesse
social.
71
Questão 6
(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) Como regra geral, a Lei Federal
esta previstas.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Questão 7
proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 4.903, foi reconhecida a
caracterização das nascentes e olhos d'água intermitentes como áreas de preservação
permanente, de modo que, atualmente, a proteção do entorno destas áreas abrange o raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes e
intermitentes, nos termos do art. 4º, IV, da Lei Federal n. 12.651/2012.
( ) CERTO
( ) ERRADO
72
Comentário:
De acordo com a literalidade do art. 4º, IV do Código Florestal, são consideradas APPs as
localizadas entorno das nascentes e olhos d’água, devem ser consideradas Áreas de
Preservação Permanente independentemente de eles serem perenes ou intermitentes.
Questão 8
conhecida como Código Florestal, define como área de preservação permanente somente a
coberta por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Questão 9
73
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Em uma área completamente preservada, com bioma
intacto, localizada em sua integralidade no bioma cerrado, existe uma propriedade particular de
100 ha, dos quais 40 ha constituem reserva legal com a devida averbação na matrícula do imóvel
Nessa situação, o limite máximo de hectares que o proprietário poderá destinar para fins de
instituição de servidão ambiental corresponde a
A) 5 ha.
B) 25 ha.
C) 45 ha.
D) 65 ha.
Comentário:
É uma questão que, à primeira vista, parece complicada e incompleta, mas só tem uma
alternativa possível. Vejamos: em primeiro lugar, o candidato precisaria saber que a área
de Reserva Legal mínima não pode ser objeto de servidão, mas a área destinada
voluntariamente à Reserva Legal de forma excedente ao mínimo exigido por lei, pode.
Visto isso, o candidato precisaria saber qual o percentual mínimo de RL estabelecido para
o imóvel rural localizado no bioma cerrado. Neste ponto, temos o seguinte problema que
poderia gerar dúvidas na questão: se o cerrado está dentro da área de Amazônia Legal, o
Código Florestal estabelece que os imóveis rurais devem ter 35% do seu território
destinado à RL. Entretanto, se o cerrado está fora da Amazônia Legal, os imóveis rurais
devem seguir a regra das demais localidades do país para definição de RL: 20% da sua
área.
Como o examinador não define se o cerrado em questão está em área de Amazônia Legal
ou não, vamos tentar responder a questão das duas formas e ver se temos alternativas
possíveis, ok?
74
Se o cerrado não estiver em área de Amazônia Legal, o percentual mínimo de RL para os
imóveis rurais ali localizados deve ser de 20%. Portanto, o proprietário em questão
estabeleceu uma área de RL 20% a mais do que o exigido por lei ao destinar 40 ha da sua
propriedade de 100 ha. Nessa situação, ele poderá instituir servidão ambiental em até 80%
do seu imóvel, que engloba 60% da área remanescente e 20% da área de RL acima do
80% de uma propriedade de 100 ha corresponde a 80 ha e, como você pode ver, não
temos a opção de 80 ha. Portanto, podemos concluir que o cerrado que o examinador se
Quando o imóvel rural está em área de cerrado na Amazônia Legal, deve ter no mínimo
35% da sua área destinada à Reserva Legal. Em uma propriedade de 100 ha, portanto, 35
Com essas informações, fica fácil concluir que o a servidão ambiental em questão poderá
Questão 10
(CESPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto) De acordo com o Código Florestal,
B) a faixa marginal de curso d’água perene, desde a borda da calha do leito maior, em largura
mínima de 10 metros, para os cursos d’água de menos de 30 metros de largura.
C) os manguezais, até o limite de 200 metros, contados da borda da calha do leito maior do
curso d’água.
75
D) a área no entorno das nascentes, intermitentes ou perenes, qualquer que seja a sua situação
Comentário:
efêmeros, ao contrário do que afirma a alternativa “A”. Ademais, o tamanho da APP deve
ser contado a partir da borda da calha do leito regular e não da calha do leito maior,
como afirma a alternativa “A” e “B”.
A alternativa “B” também está incorreta porque inverte o tamanho da APP com o tamanho
da largura do curso d’água que ele se relaciona. O correto seria dizer que a APP das faixas
Quanto aos manguezais, o Código Florestal define que toda a sua extensão deve ser
considerada APP, sem estabelecer nenhum limite, como faz a alternativa “C”.
áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água, sejam eles perenes ou intermitentes,
devem ser consideradas APP no raio mínimo de 50m, conforme o disposto na alternativa
“D”.
Por fim, as bordas dos tabuleiros ou chapadas possuem como área considerada APP o
espaço até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em
projeções horizontais.
76
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - E
Questão 5 - CERTO
Questão 6 - ERRADO
Questão 7 - CERTO
Questão 8 - ERRADO
Questão 9 - D
Questão 10 - D
77
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
78
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
A Área de Preservação Permanente consiste em uma área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar o local, pode ser tanto zona urbana
como rural. Já as Reservas Legais tratam-se de áreas localizadas nas zonas rurais com a
A Área de Preservação Permanente consiste em uma área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
importante jurisprudência do STF, a qual afirma que é inconstitucional Lei Estadual que prevê a
supressão de vegetal em APP para a realização de atividade exclusivamente de lazer, vejamos:
CF/88) não permite a instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade
meramente recreativa. Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso
79
vegetal em APP para a realização de atividades exclusivamente de lazer. Buscador Dizer o Direito,
A Reserva Legal, por sua vez, trata-se de área localizada no interior de uma propriedade ou
posse rural (apenas existe reserva legal em zona rural!), com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e
a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como
o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. (Artigo 3, inciso III, da Lei n. 12.651/12)
O instituto da Reserva Legal é mais um dos instrumentos pelos quais o legislador brasileiro
busca criar uma ponte entre estes dois interesses fundamentais: meio ambiente diverso e
sustentável e o direito ao desenvolvimento econômico. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito
Ambiental Esquematizado; Ed. Juspodivm) No que diz respeito à “reserva legal”, destaca-se a
seguinte jurisprudência do STJ: “Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural
sem matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro
da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal)
instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a concentrar as informações ambientais
dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no Registro de Imóveis (art.
18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condição para o registro da sentença
alterar o órgão responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro
de Imóveis, e agora passou a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR. STJ. 3ª Turma. REsp
1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Área de reserva legal e registro da sentença declaratória de
usucapião. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 25/06/2019
80
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Licença Ambiental:
As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas
de indenização.
81
JURISPRUDÊNCIA
Código Florestal
STJ - AgRg no REsp: 1317806 MG 2012/0080818-4, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data
de Julgamento: 06/11/2012, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/11/2012
STF. ADI 3540 MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 1º.9.2005. (Informativo 399)
O Tribunal, por maioria, negou referendo à decisão do Min. Nelson Jobim, Presidente, que deferira pedido de
liminar formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra o
art. 1º da Medida Provisória 2.166-67/2001, na parte em que alterou o art. 4º, caput e §§ 1º a 7º da Lei 4.771/65
(Código Florestal), que dispõem sobre autorização do órgão ambiental para supressão de vegetação em área de
preservação permanente - APP. Entendeu-se que a norma impugnada, ao invés de resultar qualquer efeito lesivo
e predatório ao meio-ambiente, veio a conferir-lhe proteção, viabilizando o exercício, pelo Poder Público, do efetivo
controle estatal sobre o procedimento de supressão de vegetação em APP. Inicialmente, comparou-se o texto do
art. 4º resultante das modificações introduzidas pela MP impugnada com o da sua redação primitiva, elecando-se
diversas consequências danosas advindas com a suspensão dos dispositivos impugnados, dentre as quais: a retirada
82
da garantia de que a supressão de vegetação somente seria permitida em caso de utilidade pública ou de interesse
social; o afastamento da possibilidade de o órgão ambiental autorizar a supressão de vegetação em APP, o que
teria implicado a inversão do sistema constitucional de competências; o afastamento das medidas mitigadoras e
compensatórias que deveriam ser adotadas pelo empreendedor antes da supressão da vegetação; o impedimento
de acesso de pessoas e animais às APP para obtenção de água, sob pena das sanções prescritas na Lei 9.605/98.
Em seguida, tendo em conta que o art. 4º, caput, alterado pela MP, admite a supressão de vegetação, e não de
APP, e asseverando que somente a alteração e a supressão desta, bem como do regime jurídico que institui,
delimita e disciplina esse espaço protegido, é que se submetem ao princípio da reserva legal, consubstanciado no
art. 225, § 1º, III, da CF, concluiu-se prescindir de lei, em sentido formal, o ato administrativo que, vinculado à
norma legal que disciplina determinado espaço territorial protegido, decide sobre obras ou atividades a serem nele
realizados. Se assim não fosse, estar-se-ia subvertendo o sistema constitucional das competências, atribuindo ao
Legislativo o que seria de competência do Executivo. Em razão desses motivos, reputou-se ausente a plausibilidade
jurídica da pretensão. Considerou-se, também, inexistente o periculum in mora, já que o diploma em questão,
embora editado há mais de 4 anos, veio a ser impugnado apenas em julho de 2005, não havendo que se falar,
outrossim, em risco de danos irreparáveis e irreversíveis às áreas atingidas pela retirada de vegetação, eis que a
própria Constituição da República, no § 2º do seu art. 225, impõe as medidas destinadas à restauração do meio-
ambiente degradado. Afirmou-se se estar, na verdade, diante de periculum in mora em sentido inverso, pois o
deferimento da liminar estaria ocasionando a paralisação de inúmeras atividades econômicas, obras e serviços em
andamento, com prejuízos inestimáveis para o país. Por conseguinte, cassou-se a liminar concedida, restaurando-
se a eficácia e a aplicabilidade do diploma legislativo impugnado. Vencidos os Ministros Carlos Britto e Marco
Aurélio que referendavam a decisão liminar. O Min. Nelson Jobim, Presidente, reformulou sua decisão para
acompanhar o voto do relator.
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE COISA JULGADA. VIOLAÇÃO DO § 3º DO
ART. 267 DO CPC NÃO CONFIGURADA. NÃO-DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. AVERBAÇÃO DA DEMANDA NA
MATRÍCULADO IMÓVEL. LEGALIDADE. DIREITO DOS CONSUMIDORES À INFORMAÇÃO E ÀTRANSPARÊNCIA.
PODER GERAL DE CAUTELA. 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obstar a construção
de empreendimento imobiliário de grande porte em Área de Preservação Permanente situada em Jurerê
Internacional, sem licenciamento do Ibama. O acórdão recorrido limitou-se a manter decisão liminar que determinou
a averbação da demanda no cartório de registro de imóveis. 2. As peculiaridades do Termo de Ajustamento de
Conduta, mencionadas em Memorial, não foram analisadas pelo Tribunal a quo, nem debatidas nos Aclaratórios
ou no Recurso Especial, sendo inviável, nessa oportunidade, o pronunciamento do STJ. 3. Não está configurada a
alegada violação do art. 267, § 3º, do CPC, porquanto o Tribunal de origem não afastou a possibilidade de
reconhecimento, de ofício e em qualquer grau de jurisdição, da coisa julgada. Sua recusa em apreciá-la está
83
justificada no fato de que tal preliminar já havia sido rechaçada por decisão anterior, pendente de recurso, sendo
descabida e inoportuna a renovação da mesma questão. Nesse ponto, tampouco ficou demonstrada divergência
jurisprudencial. 4. Quanto ao mérito, observo que a recorrente carece de interesse jurídico tutelável porque a
averbação, em si, obrigação alguma lhe impõe, servindo apenas para informar os pretensos adquirentes da
existência de Ação Civil Pública na qual se questiona a legalidade do empreendimento. 5. Na verdade, o interesse
implícito da empresa, que não se mostra legítimo, é de que inexista prejuízo mediato à sua atividade comercial
com a ampliação da publicidade acerca da demanda, em negativa ao direito básico à informação do consumidor,
bem como aos princípios da transparência e da boa-fé, estatuídos pelo CDC. 6. Impende anotar que a averbação
foi determinada na esteira de acórdão (questionado no REsp 1.177.692/SC) que deferira em parte a liminar pleiteada
pelo Ministério Público para condicionar o prosseguimento das obras à prestação de caução imobiliária equivalente
a 15% do valor comercial dos imóveis, para fins de compensação ambiental, bem como à ciência dos adquirentes.
7. Nesse contexto, o provimento encontra suporte no art. 167, II, item 12, da Lei 6.015/1973, que determina a
averbação "das decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos ou títulos registrados ou averbados".
8. Ressalto ainda que, ao contrário do que sustenta a recorrente, o amparo legal para proceder à averbação não
se restringe ao art. 167, II, da Lei 6.015/1973, porquanto o rol nele estabelecido não é taxativo, e sim exemplificativo,
haja vista a norma extensiva do art. 246 da mesma lei. 9. Na hipótese, a averbação serve para tornar completa e
adequada a informação sobre a real situação do empreendimento, o que se coaduna com a finalidade do sistema
registral e com os direitos do consumidor. 10. Ademais, tal medida está legitimada no poder geral de cautela do
julgador (art. 798 do CPC), que, a par da decisão liminar, considerou-a adequada para assegurar a necessária
informação dos adquirentes acerca do litígio existente. 11. Recurso Especial não provido.
STJ - REsp: 1056540 GO 2008/0102625-1, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
25/08/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 14/09/2009
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA. ARTS. 3º, INC. IV, E 14, § 1º, DA LEI 6.398/1981. IRRETROATIVIDADE
DA LEI. PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO:
SÚMULA 284/STF. INADMISSIBILIDADE. 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não
exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra,
dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de imóvel já danificado
porque, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao
novo proprietário a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. 3. A solidariedade nessa hipótese decorre
da dicção dos arts. 3º, inc. IV, e 14, § 1º, da Lei 6.398/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). 4. Se
possível identificar o real causador do desastre ambiental, a ele cabe a responsabilidade de reparar o dano,
ainda que solidariamente com o atual proprietário do imóvel danificado. 5. Comprovado que a empresa Furnas
foi responsável pelo ato lesivo ao meio ambiente a ela cabe a reparação, apesar de o imóvel já ser de propriedade
de outra pessoa jurídica. 6. É inadmissível discutir em recurso especial questão não decidida pelo Tribunal de
origem, pela ausência de prequestionamento. 7. É deficiente a fundamentação do especial que não demonstra
84
contrariedade ou negativa de vigência a tratado ou lei federal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e não
provido.
STF. ADI 1.086, voto do Min. Ilmar Galvão, julgamento em 7-6-01, DJ de 10-8-01.
(...) a atividade de florestamento ou reflorestamento, ao contrário do que se poderia supor, não pode deixar de ser
tida como eventualmente lesiva ao meio ambiente, quando, por exemplo, implique substituir determinada espécie
de flora nativa, com as suas próprias especificidades, por outra, muitas vezes sem nenhuma identidade com o
ecossistema local e escolhidas apenas em função da sua utilidade econômica, com ruptura, portanto, do equilíbrio
e da diversidade da flora local.
STJ. Resp. 878.467-PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 15/9/2009. (Informativo 407).
Trata-se de Resp em que se discute a decadência para a Administração anular ato administrativo que aprovara um
projeto de reflorestamento. Tal ato, entre outras irregularidades, não teria atendido às manifestações técnicas
produzidas pelo IBAMA e, ainda, evidenciou-se um flagrante desrespeito ao meio ambiente, na medida em que
houve plantio de bambu em áreas de encostas em diversos estágios de desenvolvimento vegetativo, bem como a
utilização de áreas de preservação permanente.
STF - RE: 586224 SP, Relator: Min. LUIZ FUX. DJe 08.05.2015. (Informativo 776).
(...) No mérito, o Plenário destacou que a questão em análise, diante de seu caráter eclético e multidisciplinar,
envolveria questões sociais, econômicas e políticas – possibilidade de crise social, geração de desemprego,
contaminação do meio ambiente em razão do emprego de máquinas, impossibilidade de mecanização em
determinados terrenos e existência de proposta federal de redução gradativa de uso da queima –, em conformidade
com informações colhidas em audiência pública realizada sobre o tema. (...) seria necessário, portanto, sopesar se
o impacto positivo da proibição imediata da queima da cana na produtividade seria constitucionalmente mais
relevante do que o pacto social em que o Estado brasileiro se comprometera a conferir ao seu povo o pleno
emprego para o completo gozo da sua dignidade. (...) Portanto, mesmo que fosse mais benéfico, para não dizer
inevitável, optar pela mecanização da colheita da cana, por conta da saúde do trabalhador e da população a viver
nas proximidades da área de cultura, não se poderia deixar de lado o meio pelo qual se considerasse mais razoável
pra a obtenção desse objetivo: a proibição imediata da queima da cana ou a sua eliminação gradual. Por óbvio,
afigurar-se-ia muito mais harmônico com a disciplina constitucional a eliminação planejada e gradual da queima
da cana. (...) As normas federais paradigmáticas a tratar do assunto, expressamente, apontariam para a necessidade
de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método
despalhador e facilitador para o corte da cana (Lei 12.651/2012, art. 40, e Decreto 2.661/1998).
85
ESTUDO COMPLEMENTAR
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86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
87
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 6
SUMÁRIO
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 54
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 62
1
E aí, OABeiro! Como vai?
“Unidades de Conservação” apareceu apenas 2 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado
um assunto de baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos
achar que esse assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o
seu aprendizado se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam
sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
Vamos juntos!
2
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 6
As áreas ambientalmente relevantes do nosso país exigem uma proteção especial para
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
Em consonância com a Constituição Federal, a PNMA estabelece como um dos seus
instrumentos “a criação de espaços especialmente protegidos pelo Poder Público federal,
estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico
e reservas extrativistas” (art. 9º, IV).
3
Para regulamentar a proteção desses espaços, foi editada a Lei 9.985/00, conhecida como
A referida lei define unidade de conservação como “espaço territorial e seus recursos
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (art. 2º, I).
Outros conceitos importantes para o seu estudo estão elencados no art. 2º da Lei 9.985/00,
destacando-se:
CONCEITOS IMPOTANTES
O manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a
manutenção, a utilização sustentável, a
restauração e a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
benefício, em bases sustentáveis, às atuais
gerações, mantendo seu potencial de
satisfazer as necessidades e aspirações das
gerações futuras, e garantindo a sobrevivência
dos seres vivos em geral.
Manutenção dos ecossistemas livres de
alterações causadas por interferência humana,
PROTEÇÃO INTEGRAL
admitido apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais.
Aquele que não envolve consumo, coleta,
USO INDIRETO
dano ou destruição dos recursos naturais.
Aquele que envolve coleta e uso, comercial ou
USO DIRETO
não, dos recursos naturais.
4
Exploração do ambiente de maneira a garantir
a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos,
USO SUSTENTÁVEL
mantendo a biodiversidade e os demais
atributos ecológicos, de forma socialmente
justa e economicamente viável.
Sistema de exploração baseado na coleta e
EXTRATIVISMO extração, de modo sustentável, de recursos
naturais renováveis.
Definição de setores ou zonas em uma
unidade de conservação com objetivos de
manejo e normas específicos, com o
ZONEAMENTO propósito de proporcionar os meios e as
condições para que todos os objetivos da
unidade possam ser alcançados de forma
harmônica e eficaz.
Documento técnico mediante o qual, com
fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu
zoneamento e as normas que devem presidir
PLANO DE MANEJO
o uso da área e o manejo dos recursos
naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade.
O entorno de uma unidade de conservação,
onde as atividades humanas estão sujeitas a
ZONA DE AMORTECIMENTO normas e restrições específicas, com o
propósito de minimizar os impactos negativos
sobre a unidade.
Porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre elas o
CORREDORES ECOLÓGICOS
fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem
5
como a manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência áreas com
extensão maior do que aquela das unidades
individuais.
Permanente e as áreas de Reserva Legal também são espaços territoriais definidos pelo Poder
Público como ambientalmente relevantes e que merecem uma proteção especial. Portanto, no
protegido, mas nem todo espaço especialmente protegido é uma unidade de conservação da
natureza.
6
Vale destacar mais uma vez o que a Constituição dispõe no art. 225 sobre os espaços
locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por
7
nenhuma categoria prevista na lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara
distinção.
O art. 4º da Lei 9.985/00, que institui do SNUC, estabelece como objetivos desse sistema,
que estão listados a seguir. A familiaridade com esses objetivos do SNUC é muito importante
para entender e fixar os dispositivos da lei, principalmente para que serve cada tipo de unidade
de conservação.
Em seguida, o art. 5º da mesma lei elenca diretrizes, princípios, que devem reger o SNUC:
8
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o
patrimônio biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da
sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de
conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e
gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de
organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas
científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,
monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;
V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e
administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de
conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de
populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e
recursos genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação
sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas
circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento
e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de
recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de
subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que,
uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e
atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as
conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades
de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas
de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de
preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e
recuperação dos ecossistemas.
Como você pode observar, os incisos do art. 5º da Lei 9.985/00 se relacionam diretamente
com os princípios do direito ambiental. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação
claramente foi criado para promover a proteção do meio ambiente ecologicamente sustentável.
9
Entretanto, isso não quer dizer que em todas as situações o meio ambiente será intocável. É
justiça social.
De acordo com a intensidade de proteção de cada área, a Lei 9.985/00, que institui o
SNUC, divide as Unidades de Conservação da Natureza, que chamarmos de “UC”, em duas
grandes categorias: as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável, como
10
§ 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação
da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
ambiental é intensa, total, integral. Nelas, o Poder Público visa a manutenção dos ecossistemas
livres de alterações ou interferências do homem, admitindo-se apenas o uso indireto dos seus
recursos naturais, ou seja, aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos
naturais.
A relevância dessas áreas é tão grande que em determinados casos a lei determina que a
UC de proteção integral seja de domínio público, o que vai desencadear a desapropriação das
áreas incluídas em seus limites por interesse social1
Em outras situações, a lei permite que a UC seja instituída em área de domínio particular,
sem que haja desapropriação, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da UC com a
utilização do imóvel e dos seus recursos naturais pelo proprietário.
UC:
1
Questão 03
11
maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,
O regime jurídico das Unidades de Uso Sustentável permite a exploração de parcela dos
UC:
Por fim, vale ressaltar que as unidades de conservação da categoria de Uso Sustentável
podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades da categoria de Proteção Integral,
por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que haja
consulta pública.
12
7.2.3 Instituição e supressão das Unidades de Conservação da
Natureza
De acordo com o art. 22 da Lei do SNUC, as UC serão instituídas por “ato do Poder
Público”. Note que a norma não definiu qual seria esse ato, portanto, a doutrina admite que as
unidades sejam criadas por meio de lei ou por meio de Decreto do Chefe do Poder Executivo 2.
seu art. 225, §1º, III, determina que são permitidas somente através de lei. Portanto:
Assim, a alteração de uma UC que vise a sua ampliação, sem modificar a sua área
original, pode ser feita por lei ou decreto do Chefe do Poder Executivo.
área, o órgão responsável por sua administração e quais são as atividades econômicas, de
segurança e de defesa nacional desenvolvidas.
veremos adiante, o ato de criação da unidade também deve indicar a população tradicional que
será beneficiada. Assim como o ato de criação das Florestas Nacionais, Florestas Estaduais e
2
Vide questão 5 desse material.
13
Florestas Municipais, que também veremos adiante, devem indicar a população tradicional
residente.
Patrimônio Natural, ao criar uma unidade de conservação, deve ser observada a sua zona de
amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos, que poderão ter seus limites
condições de funcionamento. Inclusive, deve responder de forma solidária com o particular que
eventualmente cause dano à unidade.
Isso se justifica diante da inércia do Estado em situação que deveria agir para evitar o dano
ao meio ambiente, ou mesmo na sua atuação deficiente que, mesmo indiretamente, contribui
para o acontecimento do dano.
Todas as unidades de conservação devem ter um Plano de Manejo, que deve ser
elaborado no prazo de 5 anos a partir da sua criação. Trata-se de documento técnico que,
com fundamento nos objetivos gerais da unidade, estabelece o seu zoneamento e as normas
que devem presidir o uso da área e o manejo dos seus recursos naturais, inclusive a implantação
das estruturas físicas necessárias à sua gestão (art. 2º, XVII da Lei 9.985/00), funcionando como
uma verdadeira lei interna da unidade.
3
Vide questão 5 desse material.
14
O Plano de Manejo da unidade de conservação deve abranger a sua área, sua zona de
conservação em desacordo com os seus objetivos, Plano de Manejo e regulamentos. Por isso,
até que seja elaborado o Plano de Manejo (que tem um prazo de 5 anos a partir da criação da
unidade para ser feito), todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação
de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos
deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por
representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de
terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e,
por populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de
criação da unidade.
Para as unidades de conservação do grupo de Proteção Integral a lei determina que exista
um Conselho Consultivo, entretanto, no caso das unidades de uso sustentável, a lei só faz
15
exigência da formação de um conselho em algumas situações. Nos casos em que o legislador
Vale ressaltar que as unidades de conservação podem ser geridas por organizações da
sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento
a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão. Nesse caso, vale lembrar que, mesmo
transferindo a execução da gestão para uma terceira pessoa, o Estado não pode abdicar do
É uma das UC que obrigatoriamente são de domínio público e, como mencionado, se as suas
áreas pertencerem a particulares, devem ser desapropriadas.
A visitação das Estações Ecológicas é restrita ao objetivo educacional de acordo com o que
dispuser o Plano de Manejo de cada unidade ou regulamento específico. Portanto, é correto
4
Vide questão 5 desse material.
16
Como você já percebeu, a proteção do meio ambiente nas Estações Ecológicas é altíssima.
Por isso, só é permitido que haja alteração dos seus ecossistemas em casos específicos elencados
no art. 9º, §4º da lei do SNUC:
As Reservas Biológicas são UC de proteção integral que, têm como objetivo de promover
a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem
interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de
Assim como as Estações Ecológicas, a Reserva Biológica deve ser de domínio público, o
que significa que as áreas particulares incluídas em seus limites precisam ser desapropriadas; e
a sua criação também depende apenas da elaboração de estudos técnicos, sendo a realização
de uma consulta pública facultativa 5.
As visitações públicas nas áreas de Reserva Biológica também são, em regra, vedadas.
5
Vide questão 5 desse material.
17
Nas áreas de Reserva Biológica, a pesquisa científica depende de autorização prévia do
órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por
este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Como você percebeu, a visitação pública não é proibida nos Parques Nacionais, ao
pesquisas científicas realizadas nos Parques Nacionais devem ter prévia autorização do órgão
18
responsável pela administração da unidade e estará sujeita às condições e restrições por este
De acordo com o STJ, quando o Poder Público cria uma UC como um Parque, torna-se
corresponsável pela fiscalização dos seus atributos naturais e pela manutenção de suas corretas
em situação em que deveria agir para evitar o dano ao meio ambiente, ou por sua atuação
deficiente que contribuiu para o dano ambiental, ainda que indiretamente.
Atualmente, temos 74 Parques Nacionais, 223 Parques Estaduais e 178 Parques Naturais
art. 12, estabelecendo como seu objetivo básico a preservação dos sítios naturais raros,
singulares ou de grande beleza cênica.
constituídos por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da
unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Portanto,
em regra, não é preciso desapropriar imóveis para instituir essa espécie de Unidade de
Conservação da Natureza.
19
A criação de uma UC em área de domínio particular configura uma intervenção restritiva
do Estado na propriedade privada, como ocorre nos casos das Áreas de Preservação Permanente
– APPs que já estudamos. Através dessas limitações, o Poder Público estabelece restrições para
propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
O Refúgio de Vida Silvestre é a última espécie de unidade de proteção integral que temos
no Brasil. Previsto no art. 13 da lei do SNUC, tem como objetivo proteger ambientes naturais
constituídos por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da
unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.
6
Vide questão 6 desse material.
20
Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não
A visitação pública das áreas de Refúgio de Vida Silvestre está sujeita às normas e
restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão
condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Com isso, temos o total de 663.474 Km² de área de proteção integral do meio ambiente
nos de 8.511.000 Km² do território brasileiro.
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
As Áreas de Preservação Ambiental, que chamaremos de APA, podem ser constituídas por
terras de domínio público ou privado9. Quando instituídas em imóveis privados, a APA pode
estabelecer normas e restrições para a sua utilização, respeitando os limites constitucionais.
7
Questão 1
8
Vide questão 10 desse material.
9
Vide questão 7 desse material.
21
Quando a APA está localizada em propriedade privada, o respectivo proprietário é o
presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente10, conforme se
Ao elaborar o Plano de Manejo da uma Área de Proteção Ambiental, deve ser garantida
a participação ampla da população residente, que também terá voz na sua implementação e
em eventual atualização.
lembra?
Em regra geral, o ente federativo instituidor é o critério usado para definir a competência
para o licenciamento ambiental e para a aprovar a supressão de vegetação em Unidades de
Conservação da Natureza.
10
Vide questão 4 desse material.
22
Entretanto, nos casos das Áreas de Proteção Ambiental, o legislador optou por adotar
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;
XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei
Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade;
23
Assim, o órgão ambiental competente para licenciar uma atividade ou um empreendimento
em APA não será necessariamente órgão ambiental do ente federado que a instituiu.
Como exemplo, uma atividade que pretende ser desenvolvida em APA estadual pode ter
como licenciador um órgão ambiental municipal quando essa atividade cause ou possa causar
Atualmente existem 37 APAs federais, 200 APAs estaduais e 138 APAs municipais,
totalizando 375 Áreas de Proteção Ambiental no Brasil.
Podem ser constituídas por terras de domínio público ou privado e respeitados os limites
24
Não é facultativa, entretanto, a elaboração de um Plano de Manejo para a unidade, que
A Floresta Nacional é mais uma espécie de UC de uso sustentável. Ela consiste em uma
área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo
básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase
em métodos para exploração sustentável de florestas nativas 12.
limites devem ser desapropriadas. Entretanto, nas Florestas Nacionais é admitida a permanência
de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação 13, em conformidade com o
disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade, que deve ser elaborado com ampla
participação dessa população.
11
Vide questão 4 desse material.
12
Vide questão 8 desse material.
13
Vide questão 4 desse material.
25
A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável
Floresta Municipal atualmente no Brasil, totalizando 108 UC dessa espécie em todo o nosso
território.
ambiental que buscava a preservação das atividades seringueiras na Amazônia e foi premiado
e reconhecido de várias formas por seu ativismo e contribuições para o desenvolvimento
sustentável.
ambiental. Em 1985, mais de 100 seringueiros criaram o Conselho Nacional dos Seringueiros
(CNS), entidade representativa que teve como proposta a fundação das Reservas Extrativistas.
Através desse movimento liderado por Chico Mendes, foi editada a Lei 7.804/89, que prevê
a possibilidade da instituição de Reservas Extrativistas pelo Poder Público.
A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e
na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de
vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
14
Vide questão 4 desse material.
26
A utilização dessas terras públicas pelas populações extrativistas tradicionais é feita através
O ato de criação de uma Reserva Extrativista deve indicar qual é a população extrativista
tradicional que será beneficiada. E essa população deve ter ampla participação na elaboração,
atualização e implementação do Plano de Manejo da unidade.
A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão
A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo
Por outro lado, é permitida a exploração comercial dos recursos madeireiros, desde que
em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades
27
7.12 Unidade de Conservação da Natureza: RESERVA DE
FAUNA
A Reserva de Fauna é uma UC de uso sustentável que consistem em uma área natural
faunísticos.
A visitação pública pode ser permitida nas Reservas de Fauna, desde que compatível com
o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua
administração. Nesse contexto, o §3º do art. 19 da lei do SNUC veda expressamente a caça
A criação de um Conselho é facultativa nos casos das UC Reservas de Fauna, pois a lei é
Curiosamente, ainda não existem áreas destinadas à Reserva de Fauna em nosso país.
SNUC define como uma área natural que abriga populações tradicionais 15, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao
15
Vide questão 4 desse material.
28
longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel
modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais,
bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do
ambiente, desenvolvido por estas populações. Ou seja, equilibrar a proteção do meio ambiente,
com o crescimento econômico e a justiça social = desenvolvimento sustentável.
O uso dessas terras públicas que são ocupadas pelas populações tradicionais deve ser
regulado por meio de um contrato de concessão de direito real de uso. Assim como nas Reservas
Extrativistas, o ato de criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável deve indicar qual
a população tradicional será beneficiada e essa população deve ter ampla participação na
29
unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em
regulamento;
Deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população
e a conservação; e
É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de
manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis,
desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da
área.
Como qualquer outra UC, a Reserva Particular do Patrimônio Natural, que chamaremos
apenas de Reserva Particular, precisa elaborar um plano ne manejo. Para tanto, sempre que
30
quanto a atos que possam interferir na integridade da unidade, elaborar e apresentar um plano
do protetor-recebedor.
Exemplo desses benefícios é a isenção do Imposto Territorial Rural – ITR para a área
reconhecida como Reserva Particular, que é um relevante instrumento para o incentivo à
Ainda, os proprietários dessas reservas podem auferir renda para o auxílio da sua
manutenção, como ocorre no caso previsto nos arts. 47 e 48 da lei do SNUC:
Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição
de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação,
deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo
com o disposto em regulamentação específica.
Por fim, outro exemplo de benefício econômico desse tipo de UC é que a propriedade
com área de Reserva Particular superior a 50% da área de Reserva Legal mínima exigida e com
plano de manejo aprovado, possui preferência na concessão de crédito rural pela Administração
Pública federal.
31
A pessoa física ou jurídica, que deseja instituir uma Reserva Particular em toda ou em parte
Averbada à matrícula do imóvel, a Reserva Particular só poderá ser extinta ou ter os seus
limites reduzidos mediante lei específica.
Atualmente, temos 993 Reservas Particulares do Patrimônio Natural no Brasil, sendo 670
32
QUADRO SINÓTICO
33
exceção dos casos
previstos em lei.
Estação Ecológica;
UNIDADES DE Reserva Biológica;
PROTEÇÃO Parque Nacional;
INTEGRAL Monumento Natural; e
Refúgio da Vida Silvestre.
Área de Proteção Ambiental – APP;
Área de Relevante Interesse Ecológico;
Floresta Nacional;
UNIDADES DE USO
Reserva Extrativista;
SUSTENTÁVEL
Reserva de Fauna;
Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Criação – Lei ou Decreto do Chefe do Poder Executivo;
INSTITUIÇÃO E
Supressão ou alteração (para diminuir) – Lei específica.
SUPRESSÃO DA
Se a alteração da UC for para aumentar a sua área, sem modificar a
UNIDADE DE
original, é permitida a alteração por meio de lei ou decreto do Chefe
CONSERVAÇÃO
do Poder Executivo.
É um documento técnico que, com fundamento nos objetivos
gerais da unidade, estabelece o seu zoneamento e as normas
que devem presidir o uso da área e o manejo dos seus recursos
naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas
necessárias à sua gestão.
PLANO DE MANEJO
É a lei interna da unidade.
Deve ser elaborado em 5 anos contados a partir da criação da
UC.
Deve abranger a área da UC e sua respectiva zona de
amortecimento e corredores ecológicos, quando houver.
Consultivo ou Deliberativo;
Presidido pelo órgão responsável por sua administração e
constituído por representantes de órgãos públicos, de
CONSELHO
organizações da sociedade civil, por proprietários de terras
localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural,
quando for o caso, e, por populações tradicionais residentes,
34
conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da
unidade.
O Conselho Consultivo é obrigatório para todas as UC de
Proteção Integral,
Quando o legislador não determina a obrigatoriedade de um
Conselho, ele será facultativo.
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL
Objetiva a preservação da natureza e a realização de pesquisas
científicas;
Domínio público;
A consulta pública prévia à sua criação é facultativa;
Visitação pública: restrita ao objetivo educacional.
Na Estação Ecológica só se permite alterações do ecossistema
nos casos de:
ESTAÇÃO
a) Medidas que visem restaurar o ecossistema modificado;
ECOLÓGICA
b) Manejo de espécies para preservar a diversidade biológica;
c) Coleta de componentes dos ecossistemas para fins científicos;
d) Pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior
do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta
controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área
correspondente a no máximo três por cento da extensão total
da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares.
Objetiva a preservação integral da biota e dos demais atributos
naturais da sua área;
Domínio público;
A consulta pública prévia à sua criação é facultativa;
RESERVA BIOLÓGICA Visitação pública: restrita ao objetivo educacional.
Não admite interferência humana direta ou modificações no seu
meio ambiente, salvo medidas necessárias para recuperar e
preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os
processos ecológicos naturais;
Quando criados pelos estados ou pelos municípios, chamamos,
PARQUE NACIONAL respectivamente, de “Parques Estaduais” e de “Parque Natural
Municipal”;
35
Objetiva preservar os ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica;
Domínio público;
Visitação pública: permitida.
Possibilita a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico.
Objetiva a preservação dos sítios naturais raros, singulares ou de
MONUMENTO grande beleza cênica;
NATURAL Domínio público ou particular;
Visitação pública: permitida.
Objetiva proteger ambientes naturais onde se asseguram
condições para a existência ou reprodução de espécies ou
REFÚGIO DA VIDA
comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.
SILVESTRE
Domínio público ou particular;
Visitação pública: permitida.
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
Em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-
estar das populações humanas;
Objetiva proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
ÁREA DE PROTEÇÃO
naturais.
AMBIENTAL
Domínio público ou particular;
Visitação Pública: permitida;
Conselho Consultivo de Deliberativo, presidido pelo órgão
responsável por sua administração e constituído por
representantes dos órgãos públicos, de organizações da
sociedade civil e da população residente.
ÁREA DE RELEVANTE Área de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação
INTERESSE humana, com características naturais extraordinárias ou que
ECOLÓGICO abriga exemplares raros da biota regional.
36
Objetiva manter os ecossistemas naturais de importância
regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de
modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da
natureza.
Domínio público ou particular;
Conselho facultativo.
Quando criada pelo estado ou pelo município, chamamos,
respectivamente, de “Floresta Estadual” e de “Floresta
Municipal”;
Área com cobertura florestal de espécies predominantemente
nativas;
Objetiva o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a
pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração
sustentável de florestas nativas;
FLORESTA
Domínio público;
NACIONAL
Admitida a permanência de populações tradicionais que a
habitam no momento da sua criação;
Visitação pública: permitida;
Pesquisa científica permitida e incentivada;
Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o
caso, das populações tradicionais residentes.
Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente,
na agricultura de subsistência e na criação de animais de
pequeno porte;
Objetiva proteger os meios de vida e a cultura dessas
RESERVA populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais
EXTRATIVISTA da unidade;
Domínio público;
Uso concedido às populações extrativistas tradicionais por meio
de um contrato de concessão de direito real de uso;
O ato de criação de uma Reserva Extrativista deve indicar qual
é a população extrativista tradicional que será beneficiada;
37
Visitação pública: permitida, desde que compatível com os
interesses locais;
Pesquisa científica permitida e incentivada;
Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e das populações
tradicionais residentes na área.
É permitida a exploração comercial dos recursos madeireiros,
desde que em bases sustentáveis e em situações especiais e
complementares às demais atividades desenvolvidas;
Fica proibido:
a) a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou
profissional;
b) o uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou práticas
que danifiquem os seus habitats; e
c) práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos
ecossistemas.
Área natural com populações animais de espécies nativas,
terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas
para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico
sustentável de recursos faunísticos;
RESERVA DE FAUNA
Domínio público;
Visitação pública: permitida;
Vedada a caça amadorística ou profissional;
Conselho facultativo.
Área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos
naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às
condições ecológicas locais e que desempenham um papel
RESERVA DE
fundamental na proteção da natureza e na manutenção da
DESENVOLVIMENTO
diversidade biológica;
SUSTENTÁVEL
Objetiva preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as
condições e os meios necessários para a reprodução e a
melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos
recursos naturais das populações tradicionais, bem como
38
valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas
de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações;
Domínio público;
Uso concedido às populações tradicionais por meio de um
contrato de concessão de direito real de uso, que deve levar em
consideração o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da
população e a conservação;
O ato de criação de uma Reserva de Desenvolvimento
Sustentável deve indicar qual é a população tradicional que será
beneficiada;
Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua
administração e constituído por representantes de órgãos
públicos, de organizações da sociedade civil e das populações
tradicionais residentes na área.
É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas
naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da
cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao
zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área.
Instituída em uma área privada, gravada perpetuamente;
Objetiva conservar a diversidade biológica do local;
Constituída mediante um termo de compromisso assinado
perante o órgão ambiental, que verificará a existência de
interesse público, e será averbado à margem da inscrição no
Registro Público de Imóveis.
RESERVA Visitação pública: permitida, inclusive com objetivos turísticos,
PARTICULAR DO recreativos e educacionais;
PATRIMÔNIO Uma vez instituída a Reserva Particular, cabe ao proprietário do
NATURAL respectivo imóvel a manutenção da preservação ambiental, a
sinalização dos seus limites, a advertência de terceiros quanto a
atos que possam interferir na integridade da unidade, elaborar
e apresentar um plano de manejo ao órgão público ambiental
competente e encaminhar, anualmente ou sempre que
solicitado, relatório da situação da reserva e das atividades
desenvolvidas no local.
39
Averbada à matrícula do imóvel, a Reserva Particular só poderá
ser extinta ou ter os seus limites reduzidos mediante lei
específica.
40
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Presidente da República a criação de uma Unidade de Conservação em área que possui relevante
ecossistema aquático e grande diversidade biológica. Porém, em razão da grave crise financeira,
o Presidente pretende que a União não seja compelida a pagar indenização aos proprietários
criada.
A) Estação Ecológica.
B) Reserva Biológica.
C) Parque Nacional.
Comentário:
Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema
Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de
unidade de conservação:
41
Estou justificando as questões e encontrei esse artigo, porém, não achei nada relacionado à
primeira parte da questão:
"O Ministro do Meio Ambiente recomenda ao Presidente da República a criação de uma Unidade
de Conservação..."
Questão 2
(XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Configurada a violação aos dispositivos da Lei do
Em sua defesa judicial, Josemar não nega a degradação, mas alega o direito subjetivo de
celebração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com a possibilidade de transacionar
A) Josemar não possui direito subjetivo à celebração do TAC, que, caso celebrado, não pode
dispor sobre o conteúdo da norma violada, mas sobre a forma de seu cumprimento.
B) O TAC não pode ser celebrado, uma vez que a ação civil pública foi proposta pelo Estado, e
não pelo Ministério Público.
C) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC, sob pena de violação ao princípio da
isonomia, mas sem que haja possibilidade de flexibilizar o conteúdo das normas violadas.
D) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC nos termos pretendidos, valendo o termo
como título executivo extrajudicial, apto a extinguir a ação civil pública por perda de objeto.
Comentário:
42
Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento
de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial
Questão 3
(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Paulo é proprietário de um grande terreno no qual
pretende instalar um loteamento, já devidamente aprovado pelo Poder Público.
Contudo, antes que Paulo iniciasse a instalação do projeto, sua propriedade foi integralmente
A) Paulo deverá aguardar a elaboração do plano de manejo do parque para verificar a viabilidade
de seu empreendimento.
B) Paulo poderá ajuizar ação com o objetivo de ser indenizado pelo lucro cessante decorrente
da inviabilidade do empreendimento.
C) Caso seu terreno não seja desapropriado, Paulo poderá ajuizar ação de desapropriação
indireta em face da União.
D) Paulo não poderá implementar seu loteamento, mas poderá explorar o ecoturismo na área
Comentário:
A questão trata sobre a "Desapropriação que é regra prevista pela Lei 9985/2000 – SNUC, que
assim prevê:
43
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais
Questão 4
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) São unidades de conservação que admitem a
Comentário:
44
Questão 5
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Conforme a Lei n.º 9.985/2000, que instituiu o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), os requisitos necessários à criação
de uma unidade de conservação, exceto no caso de estação ecológica ou reserva biológica, são
Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento, a licença de instalação
ambiental.
B) a edição de ato autorizador do Poder Executivo e a realização de estudos técnicos e de
consulta pública para a identificação da localização, da dimensão e dos limites adequados da
unidade.
C) a edição de ato autorizador do Poder Executivo, a elaboração de licenciamento ambiental, a
residente no local.
Comentário:
A lei do SNUC determina que as unidades de conservação serão criadas por “ato do Poder
Público”, sem especificar qual seria esse ato. Portanto, entende-se que as UC podem ser
criadas por meio de lei ou de Decreto do Chefe do Poder Executivo.
Em regra, a criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos
45
Entretanto, nos casos de criação de uma estação ecológica ou de uma reserva biológica,
Deixamos, portanto, a nossa crítica à elaboração da questão: exceto nos casos de estação
ecológica e de reserva biológica, para criar uma unidade de conservação da natureza se
faz necessário ato do Poder Público (lei ou decreto do Chefe do Poder Executivo) e a
realização de estudos técnicos e de consulta pública para a identificação da localização, da
Questão 6
(MPE-BA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto) O senhor João de Deus possui
uma pequena propriedade localizada na Zona Rural do Município fictício de Águas Claras. A
totalidade da poligonal dessa propriedade passou a ser parte integrante de uma unidade de
conservação, que tem como objetivo “proteger ambientes naturais onde se assegurem
Com base na situação acima apresentada, e de acordo com a Lei nº 9.985, de 18 de julho de
2000, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), é correto afirmar que
A) a unidade de conservação constituída sobre a propriedade de seu João de Deus é uma Área
de Proteção Ambiental, sendo uma unidade de conservação do grupo de Uso Sustentável. Por
essa razão, não há óbices a que o senhor João de Deus permaneça na área, podendo ser
estabelecidas normas e restrições para a utilização de sua propriedade privada.
B) a unidade de conservação constituída sobre a propriedade de seu João de Deus é uma Área
46
estabelecidas regras, como forma de compatibilizar os objetivos da unidade de conservação,
de Conservação do grupo de Proteção Integral. Nesse caso, o senhor João de Deus poderá
permanecer na área, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade de
do senhor João de Deus, incluída em seus limites, será desapropriada, de acordo com o que
dispõe a lei.
E) a Unidade de Conservação constituída é uma Estação Ecológica, sendo esta uma Unidade de
Conservação do Grupo de Proteção Integral. Nesse caso, a posse e o domínio são públicos,
sendo que a área do senhor João de Deus, incluída em seus limites, será desapropriada, de
acordo com o que dispõe a lei.
Comentário:
Nesse caso, o senhor João de Deus poderá permanecer na área, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade de conservação com a utilização da terra e dos
47
coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser
desapropriada.
Questão 7
(FCC - 2018 - PGE-AP - Procurador do Estado) Determinado proprietário de área rural com
remanescente de mata nativa realizou a extração ilegal de madeira dentro de sua propriedade.
a
A) Reserva Biológica.
B) Área de Proteção Ambiental.
C) Estação Ecológica.
D) Reserva de Desenvolvimento Sustentável.
E) Reserva Extrativista.
Comentário:
que melhor atenderá aos requisitos mencionados, entre as opções dadas pelo examinador,
é a Área de Proteção Ambiental.
em seus limites deve ser desapropriada, ao contrário do que quer a questão – que a
48
unidade fique sob o domínio e responsabilidade do particular proprietário, sem
Questão 8
pesquisa científica.
Comentário:
A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos
O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se
asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da
flora local e da fauna residente ou migratória. A unidade de conservação que tem como
49
objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza
Quanto à alternativa “C”, na Estação Ecológica, em regra, não são permitidas alterações
dos ecossistemas. Entretanto, a própria lei do SNUC, em seu art. 9º, §4º, estabelece 4
exceções, situações que que são permitidas as alterações dos seus ecossistemas:
IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado
Por fim, só nos resta a alternativa “E”, que conceitua a Floresta Nacional de acordo com o
art. 17 da lei do SNUC.
Questão 9
50
TRADICIONAIS EM 37% DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS, SENDO 14% EM
Comentário:
Público.
51
Outra opção para enfrentar o problema proposto pela questão é a dupla afetação da área
Por fim, cabe a desafetação da unidade, com alteração de seus limites incidentes sobre o
território tradicional, nos casos de incompatibilidade em relação à permanência das
comunidades tradicionais.
Questão 10
(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Uma área em geral extensa, com
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
52
Comentário:
natureza de uso sustentável, que consiste em uma área, em geral extensa, com um certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
53
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - A
Questão 3 - C
Questão 4 - C
Questão 5 - B
Questão 6 - C
Questão 7 - B
Questão 8 - E
Questão 9 - A
Questão 10 - E
54
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
55
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
conceito legal, resta importante citar o art. 2º, I, da Lei 9.985/00, segundo o qual unidade de
conservação é o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos
naturais, com exceção dos casos previstos na lei; 2) Unidades de Uso Sustentável, que possuem
a finalidade de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos
Nos termos do art. 225, §1º, III, da CF, bem como do art. 22, “caput” e §7º, da Lei 9.989/00, as
unidades de conservação poderão ser criadas por ato do Poder Público, apesar de a sua eventual
diminuição ou supressão exigir a edição de lei específica. Partindo do pressuposto de que as
medidas provisórias possuem força de lei (“vide” art. 62, da CF), existia uma grande divergência
quanto à possibilidade ou não de o Presidente da República editar medida provisória
restringindo o âmbito de uma unidade de conservação. Instado a se pronunciar, o STF pacificou
56
viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88. Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação
somente é permitida mediante lei em sentido formal. A medida provisória possui força de lei,
mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito. A proteção ao meio ambiente é
um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente
do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88” (STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel.
57
LEGISLAÇÃO COMPILADA
58
JURISPRUDÊNCIA
STF - AC: 1255 RR, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 16/06/2006, Data de
Publicação: DJ 22/06/2006 PP-00005.
STF. ADI 1.086, voto do Min. Ilmar Galvão, julgamento em 7-6-01, DJ de 10-8-01.
(...) a atividade de florestamento ou reflorestamento, ao contrário do que se poderia supor, não pode deixar de ser
tida como eventualmente lesiva ao meio ambiente, quando, por exemplo, implique em substituir determinada
espécie de flora nativa, com as suas próprias especificidades, por outra, muitas vezes sem nenhuma identidade
com o ecossistema local e escolhidas em função de sua utilidade econômica, com ruptura, portanto, do equilíbrio
e da diversidade da flora local (...).
60
ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
62
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 7
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 3
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 42
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 43
1
E aí, OABeiro! Como vai?
A apostila de número 08 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre as Política Nacional
de recursos Hídricos e Sólidos.
“Política Nacional de Resíduo Hídrico” apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo
considerado um assunto de baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que
devemos achar que esse assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de
questão, o seu aprendizado se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que
versam sobre esse tema para que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
Já, “Política Nacional de Resíduos Sólidos” apareceu 3 VEZES nos últimos 3 anos, sendo
considerado um assunto de média recorrência no Exame de ordem. As questões 02, 03 e 04
tratam sobre o referido tema!
A FGV costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será cobrado
do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei.
Vamos juntos!
2
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 7
8.1 Introdução
Como já foi explicado neste curso, a intervenção, no âmbito ambiental, do Poder Público
na propriedade privada decorre do seu domínio eminente, que é o poder político que permite
que o Estado influencie todos os bens situados em seu território, seja bem público, bem privado
ou bem não sujeito ao regime normal de propriedade, como a água.
Visto isso, os bens naturais situados no Brasil, mesmo que não sejam de propriedade do
Estado, sujeitam-se à interferência do Poder Público, que deve instituir regimes jurídicos
específicos, sempre visando o preceito constitucional do equilíbrio ambiental para as presentes
e futuras gerações.
3
De acordo com a PNMA que já estudamos, os recursos naturais são: a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, as águas do nosso País passaram a ser
bens públicos divididos entre a União e os estados federados, de acordo com os arts. 20 e
26. Portanto, não existem águas particulares em nosso ordenamento jurídico.
1
Vide questão 8 desse material.
4
Os potenciais de energia elétrica são sempre bens da União, independentemente de
onde se situem.
Portanto, são bens dos estados o curso d’água que tenha início e fim dentro dos limites
territoriais de um estado-membro, e desde que não tenha outra característica que os tornem
bens da União, como o potencial de energia hidráulica.
O art. 22, IV, da CF/88 define como competência privativa da União, ou seja, com
possibilidade de delegação, a competência para legislar sobre águas e energia3. Já o art. 24 da
CF/88 estabelece como competência concorrente entre a União, os estados e o Distrito Federal,
legislar sobre a conservação da natureza, a defesa dos recursos naturais, a proteção do meio
ambiente e o controle da poluição.
Como competência material exclusiva da União, no art. 21, XIX, da CF/88, temos a
instituição de um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e a definição de
critérios de outorga de direitos de seu uso.
2
Vide questão 8 desse material.
3
Vide questão 8 desse material.
5
Já o art. 23 da CF/88, atribui à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios
uma competência material comum para promover a proteção do meio ambiente em
cooperação. Portanto, segundo o inciso XI desse artigo, é competência de todos os entes
federados registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos em seus respectivos territórios.
Instituída pela Lei 9.437/97, a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH baseia-se nos
seguintes fundamentos:
4
Vide questão 10 desse material.
6
define que os Planos de Recursos Hídricos devem ser elaborados por bacia
hidrográfica;
a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades – o modelo de
gestão implantado pela PNRH é baseado na participação democrática da sociedade
junto ao Poder Público, em respeito ao princípio democrático.
O que são bacias hidrográficas? O conjunto de diversos corpos d’água, como um rio e
seus afluentes, formam uma bacia hidrográfica.
Para que seja feita a gestão descentralizada dos recursos hídricos, são definidas regiões
hidrográficas, que consistem em um espaço territorial, compreendido por uma bacia, grupo de
bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com características naturais, sociais e econômicas
homogêneas ou similares.
5
As 12 Regiões hidrográficas do Brasil. Fonte: CNRH (2003).
7
De acordo com o art. 2º da Lei 9.437/97, a PNRH tem como objetivos:
Em seguida, o art. 3º da Lei 9.437/97 estabelece como diretrizes gerais de ação para a
implementação da PNRH:
Ademais, a União deve trabalhar de forma cooperada com os estados federados para um
gerenciamento comum dos recursos hídricos de interesse comum.
6
Vide questões 6 e 10 desse material.
8
Enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo os usos preponderantes da
água;
A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
A cobrança pelo uso de recursos hídricos; e
O Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos.
Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores, elaborados para cada bacia
hidrográfica, para cada estado federado e para o País como um todo7, que visam a fundamentar
e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos
recursos hídricos.
7
Vide questões 8 e 10 desse material.
8
Vide questão 7 desse material.
9
destinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes.
A classificação das águas foi feita pelas Resoluções 357/05 e 396/08 do CONAMA. Nesse
contexto temos o seguinte enquadramento:
A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples
direito de seu uso9. Trata-se de um ato administrativo precário (passível de revogação ou
suspensão), com natureza jurídica de autorização administrativa, em que a autoridade pública
competente confere ao outorgado o direito de uso de recursos hídrico, por prazo determinado,
nos termos e condições definidas no próprio ato, de acordo com a legislação vigente.
O prazo máximo de uma outorga para o uso de recursos hídricos é de 35 anos10, renovável,
devendo ser onerosa, condicionada às prioridades de uso estabelecidas no respectivo Plano de
Recursos Hídricos e respeitada a classe de enquadramento da água.
9
Vide questão 10 desse material.
10
Vide questão 8 desse material.
10
Apesar de a regra geral ser o prazo máximo de 35 anos para a validade da autorização
administrativa do direito de uso dos recursos hídricos, a Lei 9.984/00, que cria a Agência Nacional
das Águas – ANA, estabelece que, nos casos das outorgas de direito de uso de recursos hídricos
de domínio da União, os prazos de vigência serão fixados em função da natureza e do porte
do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso, o período de retorno do
investimento.
Ademais, a ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, com a
finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos. A outorga preventiva
não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a reservar a vazão passível de
outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreendimentos que necessitem
desses recursos. O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a
complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de três anos.
A onerosidade da outorga de uso de recursos hídricos não tem natureza tributária. Trata-
se de um preço público, fundamentado no princípio do usuário-pagador.
Estão sujeitos a outorga11 pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos
hídricos, taxados em rol exemplificativo pelo art. 12 da PNRH:12
11
Vide questões 1 e 4 desse material.
12
Vide questão 01
11
Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; e
Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo de água.
Mesmo nos casos que não é necessária a outorga, o interessado deve solicitar uma
dispensa de outorga ao órgão ambiental competente, pois não é possível utilizar recursos
hídricos sem antes consultar o Poder Público.
12
A outorga de direito de uso de recursos hídricos concedida pelo Poder Público poderá ser
suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes
circunstâncias:
Outro instrumento da PNRH é a cobrança pelo uso de recursos hídricos, que objetiva
reconhecer a água como um bem econômico, passível de precificação, dando ao usuário uma
indicação real de seu valor; incentivar a racionalização do seu uso; e obter recursos financeiros
para financiar programas e intervenções previstas nos planos de recursos hídricos.
Na fixação dos valores dessa cobrança, devem ser observados, dentre outros fatores, o
volume retirado e o seu regime de variação nas derivações, captações e extrações de água e,
nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu
regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente.
Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados
prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados13. Eles devem ser utilizados no
financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos
13
Vide questões 5 e 8 desse material.
13
Hídricos; e no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Esses valores não possuem natureza tributária, são tarifas com o intuito de incentivar o uso
racional da água. Portanto, é perfeitamente possível que sejam aplicados de maneira direcionada
acima descrita14. Por isso, não podemos confundir essa cobrança com as taxas (essas sim de
natureza tributária) cobradas pelo fornecimento de água e coleta de esgoto.
Por fim, temos como o último instrumento da PNRH o Sistema de Informações Sobre
Recursos Hídricos. Trata-se de um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação
de informações sobre os recursos hídricos e de dos fatores intervenientes em sua gestão.
Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos tem como objetivos: reunir, dar
consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos
recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e
demanda de recursos hídricos em todo o território nacional; e fornecer subsídios para a
elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.
14
Vide questão 1 desse material.
14
Temos a sua estrutura composta por um Conselho Nacional de Recursos Hídricos; a
Agência Nacional de Águas – ANA; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito
Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos federais, estaduais, distritais de municipais
com competências que se relacionam com a gestão de recursos hídricos; e as agências de
água15.
15
Vide questão 10 desse material.
16
Vide questão 7 desse material.
15
Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer
critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e
determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e
para a cobrança por seu uso;
Zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB);
Estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus instrumentos
e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB17); e
Apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário,
recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao
Congresso Nacional18.
A Agência Nacional de Águas – ANA foi criada pela Lei 9.984/00. Trata-se de uma agência
reguladora, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, com finalidade de
implementar os objetivos e diretrizes da PNRH.
Segundo a Lei 13.848/19, a ANA será dirigida por Diretoria Colegiada composta de 5 (cinco)
membros, nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não coincidentes de 5 (cinco)
anos, vedada a recondução, sendo um deles o Diretor-Presidente, e terá em sua estrutura uma
Procuradoria, uma Ouvidoria e uma Auditoria.
17
Vide questão 9 desse material.
18
Vide questão 9 desse material.
16
II – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e
a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;
III – (VETADO)
IV – outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em
corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts. 5o, 6o, 7o e 8o19;
V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;
VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio
da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da Lei no 9.433, de 1997;
VII – estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia
Hidrográfica;
VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo
uso de recursos hídricos de domínio da União;
IX – arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso
de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22 da Lei no
9.433, de 1997;
X – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e
inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em
articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos
Estados e Municípios;
XI - promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros
da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e
distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o
estabelecido nos planos de recursos hídricos;
XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos
e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido
nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas;
XIII - promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede
hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas
que a integram, ou que dela sejam usuárias;
XIV - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos;
XV - estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos
hídricos;
XVI - prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos;
XVII – propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos,
inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos.
XVIII - participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e supervisionar a
sua implementação.
19
Vide questão 9 desse material.
17
XIX - regular e fiscalizar, quando envolverem corpos d'água de domínio da União, a
prestação dos serviços públicos de irrigação, se em regime de concessão, e adução de
água bruta, cabendo-lhe, inclusive, a disciplina, em caráter normativo, da prestação desses
serviços, bem como a fixação de padrões de eficiência e o estabelecimento de tarifa,
quando cabíveis, e a gestão e auditagem de todos os aspectos dos respectivos contratos
de concessão, quando existentes.
XX - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens (SNISB);
XXI - promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
XXII - coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e encaminhá-lo,
anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de forma consolidada.
20
Vide questão 9 desse material.
21
Vide questão 9 desse material.
18
Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.
No exercício dessas competências, das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá
recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com
sua esfera de atuação.
Ainda quanto à composição dos membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas, quando a
respectiva área de atuação for bacia de rio fronteiriço e de transfronteiriços de gestão
compartilhada, a União deve incluir entre os seus representantes um membro do Ministério das
Relações Exteriores;
E nos casos de bacias hidrográficas situadas em territórios indígenas, devem ser incluídos
nos respectivos comitês representantes da FUNAI, entre os representantes da União, e
representantes das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.
19
Quanto aos Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal, que
também integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a partir de uma
leitura sistematizada da PNRH, podemos dizer que esses órgãos possuem as seguintes
atribuições:
22
Vide questão 9 desse material.
20
X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia
Hidrográfica;
XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao
respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo
com o domínio destes;
b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos 23;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos24;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.
23
Vide questão 7 desse material.
24
Vide questão 7 desse material.
25
Vide questão 7 desse material.
21
9. Política Nacional dos Resíduos Sólidos
A lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos tem como objetivo principal a substituição
dos lixões por aterros sanitários até o ano de 2014. No entanto, os municípios deverão
elaborar, até 2011, seus planos de gestão de resíduos.
A gestão de resíduos sólidos mexe com toda a estrutura das empresas e, com isso, muda
a atenção do contador também.
Esta lei prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a
prática de hábitos de consumo sustentável e em um conjunto de instrumentos para propiciar o
aumento da reciclagem e reutilização de resíduos sólidos e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos, instituindo a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos:
Dos fabricantes;
Importadores;
Distribuidores;
Comerciantes;
O cidação e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na
Logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e pós-consumo.
A PLRS cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação nos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e
metropolitano e municipal; Além de impor que os particulares elaborem seus Planos de
Gerenciamento de Resíduos sólidos.
Importante salientar que este plano coloca o Brasil no mesmo patamar dos países
desenvolvidos no que se refere ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores
de materiais recicláveis e reutilizáveis.
A lei nº 12.305 de 2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Referida lei
contém 57 artigos.
22
Estão sujeitos a lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado,
responsáveis direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos, e as que
desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos
sólidos.
Os instrumentos da PNRS estão arrolados no art. 8º da referida lei! Por sua vez, suas
diretrizes estão dispostas no art. 9º, § 1º e 2º.
Os planos deverão ser elaborados pela União, Estados e Municípios, e articulados entre
si, com prazos, estratégias, competências preestabelecidas na lei. A legislação exige um conteúdo
mínimo para cada plano. Além disso, a articulação e a integração serão realizadas entre o Poder
Público, setores empresariais e a coletividade, observando-se as informações armazenadas no
Sistema Nacional de Informação de Resíduos Sólidos — SINIR, Sistema Nacional de Informações
em Saneamento Básico — SINISA e Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente —
SINIMA.
O destino dos resíduos sólidos é uma questão de saúde pública. Compete à engenharia
sanitária estabelecer critérios adequados para o destino desses resíduos. Estas são as mais
conhecidas formas de disposição dos resíduos sólidos: a) depósito a céu aberto; b) depósito em
aterro sanitário; c) usina de compostagem; d) usina de reciclagem; e) usina de incineração; e f)
usina verde.
Outro ponto importante é a licitação. Não se pode realizar a implantação do aterro sanitário
sem a realização desse procedimento, devendo-se abrir oportunidade às demais empresas que
atuam no ramo.
Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que:
O conteúdo mínimo do plano municipal de questão está disposto no art. 19 da lei da política
nacional dos Resíduos sólidos.
26
Questão 02
27
Questão 04
25
QUADRO SINÓTICO
26
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXVII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) A União edita o Decreto nº 123, que fixa as regras
pelas quais serão outorgados direitos de uso dos recursos hídricos existentes em seu território,
garantindo que seja assegurado o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água.
Determinada sociedade empresária, especializada nos serviços de saneamento básico,
interessada na outorga dos recursos hídricos, consulta seu advogado para analisar a
possibilidade de assumir a prestação do serviço.
Desse modo, de acordo com a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, assinale a opção
que indica o uso de recursos hídricos que pode ser objeto da referida outorga pela União.
A) O lançamento de esgotos em corpo de água que separe dois Estados da Federação, com o
fim de sua diluição.
B) A captação da água de um lago localizado em terreno municipal.
C) A extração da água de um rio que banhe apenas um Estado.
D) O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos pelo meio rural.
Comentário:
Lei 9.433/97, art.12, in verbis "Estão sujeito a outorga pelo Poder Público os direito dos seguintes
usos de recursos hídricos:"
27
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados
ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um
corpo de água.
Questão 2
(XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Os Municípios ABC e XYZ estabeleceram uma solução
consorciada intermunicipal para a gestão de resíduos sólidos. Nesse sentido, celebraram um
consórcio para estabelecer as obrigações e os procedimentos operacionais relativos aos resíduos
sólidos de serviços de saúde, gerados por ambos os municípios.
Sobre a validade do plano intermunicipal de resíduos sólidos, assinale a afirmativa correta.
A) Não é válido, uma vez que os resíduos de serviços de saúde não fazem parte da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, sendo disciplinados por lei específica.
B) É válido, sendo que os Municípios ABC e XYZ terão prioridade em financiamentos de
entidades federais de crédito para o manejo dos resíduos sólidos.
C) É válido, devendo o consórcio ser formalizado por meio de sociedade de propósito específico
com a forma de sociedade anônima.
D) É válido, tendo como conteúdo mínimo a aplicação de 1% (um por cento) da receita corrente
líquida de cada município consorciado.
Comentário:
Conforme disposto no art. 45 da Lei nº 12.305/2010 (Art. 45. Os consórcios públicos constituídos,
nos termos da Lei nº 11.107/2005, com o objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação
28
de serviços públicos que envolvam resíduos sólidos, têm prioridade na obtenção dos incentivos
instituídos pelo Governo Federal.)
Questão 3
(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Bolão Ltda., sociedade empresária, pretende iniciar
atividade de distribuição de pneus no mercado brasileiro. Para isso, contrata uma consultoria
para, dentre outros elementos, avaliar sua responsabilidade pela destinação final dos pneus que
pretende comercializar.
Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.
Comentário:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores
e comerciantes de
III - pneus;
29
Minha sugestão para Bolão Ltda., sociedade empresária é:
Questão 4
(XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) O Município de Fernandópolis, que já possui aterro
sanitário, passa por uma grave crise econômica. Diante disso, o prefeito solicita auxílio financeiro
do Governo Federal para implantar a coleta seletiva de resíduos sólidos, que contará com a
participação de associação de catadores de materiais recicláveis.
Sobre o auxílio financeiro tratado, assinale a afirmativa correta.
A) Não será possível o auxílio financeiro, sob pena de violação ao princípio da isonomia com
relação aos demais entes da Federação.
B) Não será possível o auxílio financeiro, uma vez que a coleta seletiva de resíduos sólidos do
Município de Fernandópolis está sendo realizada parcialmente por associação privada.
C) O auxílio financeiro é possível, desde que o Município possua até 20 mil habitantes ou seja
integrante de área de especial interesse turístico.
D) O auxílio financeiro é possível, desde que o Município elabore plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos.
Comentário:
30
Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos
previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos
da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à
limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou
Questão 5
Comentário:
Questão 6
(TRF - 2ª Região - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) De acordo a Lei n.
9.433/97, são instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
A) a compensação a Estados membros da Federação.
B) a outorga dos direitos de disposição de recursos hídricos.
C) a cessão gratuita pelo uso de recursos hídricos.
D) a gestão centralizada dos recursos hídricos.
31
E) os Planos de Recursos Hídricos.
Comentário:
Questão 7
32
Assinale a alternativa CORRETA:
A) Os itens I e IV estão corretos.
B) Os itens II e III estão incorretos.
C) Os itens III e IV estão incorretos.
D) Todos os itens estão corretos.
Comentário:
Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão uma séria
de questões obrigatórias, que são consideradas o seu conteúdo mínimo.
Essas questões estão elencadas nos incisos do artigo 7º da PNRH e, entre elas, está a
necessidade de o Plano de Recursos Hídricos conter propostas para a criação de áreas
sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.
Por fim, o número de representantes do poder executivo nos órgãos colegiados do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos não poderá exceder à metade mais um
do total dos seus membros.
33
Questão 8
(VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto) No tocante às águas, nos termos da
Constituição Federal e da Lei das Águas, assinale a alternativa correta.
A) Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não inferior a vinte
e cinco anos, renovável.
B) Os planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica, por Município e por
Estado.
C) São bens da União todas as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em
depósito.
D) Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados
exclusivamente na bacia hidrográfica em que foram gerados.
E) A União tem competência privativa para legislar sobre águas.
Comentário:
Em regra geral, a outorga de direitos de uso de recursos hídricos deve ser feita por prazo
não excedente a 35 anos, sendo renovável. Apesar disso, a Lei 9.984/00, que cria a Agência
Nacional das Águas – ANA, estabelece que, nos casos das outorgas de direito de uso de
recursos hídricos de domínio da União, os prazos de vigência serão fixados em função da
natureza e do porte do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso,
o período de retorno do investimento. Ademais, as outorgas de direito de uso de recursos
hídricos para concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia
hidrelétrica vigorarão por prazos coincidentes com os dos correspondentes contratos de
concessão ou atos administrativos de autorização.
Quanto aos Planos de Recursos Hídricos, o art. 8º da PNRH determina que eles devem ser
elaborados por bacia hidrográfica, por estado e para o País, não incluindo os municípios.
Em relação à cobrança pelo uso dos recursos hídricos, como já foi mencionado, os seus
valores devem ser preferencialmente aplicados na bacia hidrográfica em que foram
34
gerados, mas essa regra não impede situações em que tais recursos sejam aplicados em
bacias diversas.
De acordo com o art. 20 da CF/88, são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes
de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como
os terrenos marginais e as praias fluviais; e os potenciais de energia hidráulica.
Por fim, a Constituição Federal estabelece em seu art. 22 a competência privativa da União
para legislar sobre as águas
Questão 9
(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Os comitês de bacias hidrográficas
são
A) competentes para implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens.
B) competentes para outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de
domínio da União, mediante permissão.
C) incompetentes para aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia.
D) incompetentes para arbitrar administrativamente conflitos relacionados a recursos hídricos.
E) incompetentes para o exercício do poder de polícia.
Comentário:
No âmbito da gestão dos recursos hídricos, quem exerce o poder de polícia administrativa
são as Agências de Águas, que são as agências reguladoras.
35
Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua atuação:
Por outro lado, compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, entre outras
atribuições elencadas no art. 35 da PNRH, estabelecer diretrizes para implementação da
PNSB, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre
Segurança de Barragens (SNISB) e apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo,
se necessário, recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como
encaminhá-lo ao Congresso Nacional.
Por fim, de acordo com a Lei 9984/00, compete à ANA outorgar o direito de uso de
recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, mediante autorização.
Questão 10
(FMP Concursos - 2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça Substituto) Sobre a Política Nacional
de Recursos Hídricos, assinale a alternativa CORRETA.
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A) O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é integrado, exclusivamente,
pelos Comitês de Bacia Hidrográfica e pelas Agências de Água.
B) Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados, apenas, por bacia hidrográfica de cunho
regional.
C) São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, entre outros: os Planos de
Recursos Hídricos, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e a cobrança pelo uso de
recursos hídricos.
D) A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos implica alienação parcial das águas.
E) A água é um recurso natural limitado, não dotado de valor econômico.
Comentário:
Por fim, a PNRH baseia-se no fundamento de que a água é um recurso natural limitado,
dotado de valor econômico.
37
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - B
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 - CERTO
Questão 6 - E
Questão 7 - C
Questão 8 - E
Questão 9 - E
Questão 10 - C
38
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
39
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Os Conselhos Estaduais e Distrital são órgãos que em relação aos respectivos recursos hídricos
têm a mesma competência do Conselho Nacional. Comitê de Bacia é o órgão autorizado pelo
Conselho Nacional ou pelo Conselho Estadual de natureza política, propiciando um espaço de
40
debate (artigo 38, inciso I, da Lei n.9.433/97). A Agência de Água, por sua vez, consiste em um
órgão executivo pode realizar a atividade de concessão; de registro das outorgas; controlar a
cobrança dos recursos relacionados e ele. (AMADO, Frederico; Resumo de Direito Ambiental
Esquematizado; Ed. Juspodivm)
41
LEGISLAÇÃO COMPILADA
42
JURISPRUDÊNCIA
STJ - CC: 97359 SP 2008/0157898-8, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:
10/06/2009, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe 24/06/2009.
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL E JUÍZO ESTADUAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. IMÓVEL QUE
CONFRONTA COM RIO FEDERAL. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. De acordo com a
Nota Técnica n. 18/2005/NGI e a Resolução n. 399 da Agência Nacional de Águas - ANA, o Rio Piracicaba, por
banhar mais de um estado da Federação, é considerado federal, nos termos do artigo 20, III, da Constituição
Federal. Conflito conhecido, declarando-se competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Piracicaba- SJ/SP.
STJ - REsp: 848287 RS 2006/0107872-6, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento:
17/08/2006, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 14/09/2006 p. 289.
PRECEDENTES. (...) 5. O serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto é cobrado do usuário pela entidade
fornecedora como sendo taxa, quando há compulsoriedade. Tem-se, in casu, serviço público concedido, de natureza
compulsória, visando atender necessidades coletivas ou públicas (...).
43
ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
45
PDF OAB
Direito Ambiental
Capítulo 8
SUMÁRIO
DIREITO AMBIENTAL ........................................................................................................................................................ 2
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 52
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 56
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................... 57
1
E aí, OABeeiro! Como vai?
A apostila de número 08 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre a Tutela Processual
Coletiva do Meio Ambiente.
Este assunto apareceu apenas 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de
baixa recorrência no Exame de Ordem. Mas isso não significa que devemos achar que esse
assunto é irrelevante, muito pelo contrário! Por já ter sido objeto de questão, o seu aprendizado
se torna essencial. Adicionamos questões de outros concursos que versam sobre esse tema para
que você assimile ainda mais o conteúdo, tá?
Vamos juntos!
2
DIREITO AMBIENTAL
Capítulo 8
10.1 Introdução
Não custa nada recordar que o caput do art. 225 da CF/88 dispõe que “todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
3
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Interesse difuso: os direitos coletivos podem ser divididos em direitos difusos, coletivos
propriamente ditos e individuais homogêneos. Todos eles tutelam interesses que extrapolam a
esfera do indivíduo, mas cada um guarda as suas peculiaridades, que os diferenciam. Os
interesses e direitos difusos, especificamente, são aqueles indivisíveis, que possui como titulares
pessoas indeterminadas ligadas por uma circunstância de fato. O direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é classificado como um direito difuso porque é um bem indivisível
e envolve a sociedade como um todo, já que não é possível determinar com precisão quem é
ou não atingido por um dano ambiental.
4
seguintes termos: “a prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como
mecanismo de segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece
grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui
direito difuso” (REsp. 1.120.117-AC).
1
Vide questão 7 e 10 desse material.
5
Especificamente quanto ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CF/88 elenca a
Ação Civil Pública e a Ação Popular como os instrumentos para garantir a sua proteção:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
Art. 5º, LXXIII, CF/88 – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;
Lembre-se: a proteção do meio ambiente abrange o meio ambiente natural, como a fauna
e a flora; o meio ambiente artificial, como o espaço urbano; o meio ambiente cultural, como o
patrimônio histórico; e o meio ambiente do trabalho.
2
Vide questão 5 desse material.
6
aos bens e direitos de valor histórico, turístico e paisagístico, à qualquer outro interesse difuso
ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbana, à honra e à dignidade de grupos raciais,
étnicos ou religiosos, e ao patrimônio público e social.
Por outro lado, não será cabível Ação Civil Pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação
da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária,
3
Vide questões 1 e 2 desse material.
7
Art. 5º da Lei 7.347/85 – Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
A despeito de o cidadão não ser legitimado para propor ação civil pública, qualquer pessoa
pode provocar a iniciativa do Ministério Público, e o servidor público tem o dever, informando
sobre lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente (art. 6º da lei de ACP). Se, no exercício de
suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis
(art. 7º da lei de ACP).
Perceba que não é qualquer associação que está legitimada a propor ação civil pública
ambiental. De acordo com a lei, a associação deve cumprir, cumulativamente, os seguintes
requisitos: existir a mais de um ano e que em seu estatuto social esteja previsto como sua
finalidade a proteção do meio ambiente.
Quanto ao primeiro requisito, o juiz pode dispensar que a associação esteja constituída a
mais de um ano quando existir manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
características do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido5.
4
Vide questão 1 desse material.
5
Vide questão 4 desse material.
8
Quanto ao segundo requisito, chamado de pertinência temática, a associação deve
demonstrar no processo que representa legitimamente os interessados no direito objeto da
ação.
Ademais, quando uma associação cumpre os dois requisitos legais, o STF entende que ela
não precisa de uma autorização especial de seus membros, nem mesmo em assembleia geral,
para que possa atuar em ação civil pública. Nesse contexto, o Tribunal ainda destaca a
necessidade de a matéria constar do estatuto, pois trata-se de substituição processual, instituto
que condiciona a legitimação à defesa dos direitos ou interesses jurídicos da categoria que
representa.
Quanto ao Ministério Público, quando outro legitimado for o autor da ação civil pública, o
Parquet deve atuar como fiscal da lei. E, em caso de desistência infundada ou abandono da
ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.
6
Vide questão 9 e 10 desse material.
9
A ação civil pública discute apenas a proteção do meio ambiente e as consequências de
sua violação. Não é cabível discutir o direito de regresso entre os sujeitos passivos da ação, que
devem ser discutidos em ação própria.
Para instruir a inicial de uma Ação Civil Pública, o interessado poderá requerer às
autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas
no prazo de 15 (quinze) dias.
Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação,
hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo
ao juiz requisitá-los.
Ademais, o art. 10 da Lei de Ação Civil Pública tipifica como crime a recusa, o retardamento
ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura a Ação Civil Pública quando forem
requisitados pelo Ministério Público, punido com pena de reclusão, de 1 a 3 anos, e multa de
10 a 1.000 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.
As Ações Civis Públicas devem ser propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa7. A propositura da ação
prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a
mesma causa de pedir ou o mesmo objeto (art. 2º da lei de ACP).
7
Vide questão 3 desse material.
10
Nas Ações Civis Públicas, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora em honorários
advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.
O juiz poderá conceder liminar em sede de Ação Civil Pública, sujeita a agravo, com ou
sem justificação prévia. A multa cominada liminarmente só é exigível após o eventual trânsito
em julgado a favor do autor, entretanto, será devida desde o dia em que houver configurado o
descumprimento8.
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do
órgão judicial que a prolatou, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.
Na fase recursal em sede de Ação Civil Pública, o juízo poderá conferir efeito suspensivo
ao recurso para evitar dano irreparável à parte. Já na fase executória da sentença, o art. 15 da
lei de ACP dispõe que, decorridos 60 dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, se
a associação autora não promover a execução, o Ministério Público fica obrigado a promovê-la,
sendo facultada a mesma iniciativa aos demais legitimados.
8
Vide questão 8 desse material.
11
10.2.1 Inquérito Civil
§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles
documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
Assim como no processo penal, a realização de um inquérito civil não é necessária para a
propositura da demanda judicial que, existindo elementos de convicção suficientes, pode ser
proposta de imediato.
12
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento,
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
Art. 5º, § 6°, da lei 7.347/85 – Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.
Vale salientar que não podemos falar em direito subjetivo de firmar um compromisso
de ajustamento de conduta. Esse instrumento corresponde a uma solução extrajudicial de
conflito, que precisa contar com o interesse de todos os envolvidos.
9
Vide questão 6 desse material.
13
Nem todos os legitimados para propor Ação Civil Pública também são legitimados para
celebrar o compromisso de ajustamento de conduta. Como você já pode ter percebido, dentre
eles, apenas os órgãos públicos possuem essa capacidade – ou seja, apenas o Ministério Público,
a Administração Pública Direta e Indireta e a Defensoria Pública. Portanto, as associações
privadas não podem firmar o referido compromisso.
O TAC não pode ser caracterizado como uma transação, que é um instrumento
característico do direito civil individual, incompatível com a tutela dos direitos transindividuais,
como a proteção do meio ambiente, que são direitos indisponíveis, de titularidade coletiva e de
proteção obrigatória pelo Poder Público.
14
Por se tratar de um título executivo extrajudicial, descumpridas as obrigações estipuladas,
o TAC poderá ser executado por qualquer dos legitimados ativos da Ação Civil Pública,
independentemente de qual deles o celebrou.
Além do autor da Ação Popular, o seu polo ativo pode ser ocupado por qualquer outro
cidadão que queira se habilitar no processo como litisconsorte ou assistente.
15
De sociedades de economia mista;
De sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
ausentes;
De empresas públicas;
De serviços sociais autônomos;
De instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja
concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita ânua;
De empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados
e dos Municípios; e
De quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
Como você pode notar, a Ação Popular serve para proteger o patrimônio público. Para
tanto, consideram-se patrimônio público os bens e direitos de valor econômico, artístico,
estético, histórico ou turístico.
Segundo o art. 2º da lei de AP, são nulos os atos lesivos ao patrimônio público que
violarem um ou mais dos seguintes elementos do ato administrativo:
Competência;
Forma;
Objeto;
16
Motivo;
Finalidade.
Portanto, o ato que for praticado por sujeito incompetente, com vício de forma, com
ilegalidade do objeto, com inexistência de motivos ou desvio de finalidade e atingir o patrimônio
público, pode ser objeto de Ação Popular para que seja declarado nulo. Para a conceituação
dos casos de nulidade, devemos observar as seguintes normas previstas no parágrafo único do
art. 2º da Lei de AP:
a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais
do agente que o praticou;
o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de
formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de
lei, regulamento ou outro ato normativo;
a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em
que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada
ao resultado obtido; e
o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
Segundo o art. 3º da Lei de AP, além dessas ilegalidades acima citadas, referentes aos
elementos do ato administrativo, outros vícios podem ser constatados e serão anuláveis por
meio de Ação Popular.
Também são nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por quaisquer
das pessoas ou entidades supra referidas:
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
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b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de escritura,
contrato ou avaliação;
V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não cabível
concorrência pública ou administrativa, quando:
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação;
VII - A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o limite de valor,
desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da avaliação;
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IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e
regulamentadoras que regem a espécie.
Por oportuno, vale destacar que não é apenas o ato comissivo da Administração Pública
que está sujeito à impugnação por meio de Ação Popular. A omissão do Poder Público que
possa acarretar dano ambiental também pode ser objeto de uma Ação Popular.
No polo passivo de uma Ação Popular, assim como na Ação Civil Pública, pode figurar
qualquer pessoa, física ou jurídica, de direito público ou privado, que seja direta ou
indiretamente responsável pelo ato danoso ao meio ambiente.
Para instruir a inicial da Ação Popular, o cidadão poderá requerer às entidades acima
mencionadas certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a
finalidade delas. Essas certidões e informações devem ser fornecidas dentro de 15 dias da
entrega, sob recibo, do respectivo requerimento. Ademais, a lei exige que tais certidões e
informações sejam utilizadas apenas para instruir a Ação Popular.
Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo,
poderá ser negada ao cidadão requerente a certidão ou informação. Nesse caso, assim como
na ACP, a Ação Popular poderá ser proposta desacompanhada dos documentos negados,
cabendo ao juiz, após apreciar os motivos do indeferimento, e salvo em casos de segurança
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nacional, requisitá-las. Feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça, que cessará
com o trânsito em julgado de sentença condenatória.
A competência para conhecer, processar e julgar a Ação Popular é definida de acordo com
a origem do ato impugnado. É competente o juiz que, de acordo com a organização judiciária
de cada estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado, ao
Município, as pessoas jurídicas criadas ou mantidas por eles, bem como os atos das sociedades
de que eles sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por eles subvencionadas ou em
relação às quais tenham interesse patrimonial.
Ao contrário da Ação Civil Pública que é completamente gratuita, na Ação Popular são
devidas as custas processuais e o preparo, que deverão ser pagos pela parte vencida ao final
do processo.
A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de
impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor,
desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou
dirigente.
20
A desistência da Ação Popular acarretará a publicação de editais para que qualquer cidadão
ou o Ministério Público, dentro do prazo de 90 dias da última publicação feita, promova o
prosseguimento da ação, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito.
A sentença incluirá sempre, na condenação dos réus, o pagamento, ao autor, das custas e
demais despesas, judiciais e extrajudiciais, diretamente relacionadas com a ação e comprovadas,
bem como o dos honorários de advogado.
Ademais, a sentença de uma Ação Popular que, julgando procedente a ação popular,
decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os
responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os
funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.
É sempre permitida às pessoas ou entidades referidas no art. 1º da lei de AP, ainda que
hajam contestado a ação, promover, em qualquer tempo, e no que as beneficiar a execução da
sentença contra os demais réus.
A sentença em sede de Ação Popular terá eficácia erga omnes, exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova. Neste caso, qualquer cidadão poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
21
11. Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente
Uma característica desse diploma é que, não raras vezes, o legislador da Lei de Crimes
Ambientais se utiliza de normas penais em branco, que necessitam de complementação por
outra norma jurídica para que possam ser aplicadas.
22
Exemplo: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida: (...) § 4º A pena é aumentada de metade, se o
crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que
somente no local da infração; (...).
O dispositivo citado expressa que a pena do crime será aumentada de metade se ele for
praticado contra espécie ameaçada de extinção. Mas a Lei de Crimes Ambientais não nos diz
quais são as espécies ameaçadas de extinção! Nesse caso, o intérprete deve recorrer às listas
oficiais do IBAMA para saber quais são essas espécies.
Outra característica da Lei de Crimes Ambientais é que ela tipifica condutas de perigo
abstrato, ou seja, que independem da produção de um dano efetivo ao meio ambiente para
que sejam puníveis (por exemplo, art. 52). Essa técnica legislativa é muito importante para
materializar o princípio da prevenção, que direciona a norma ambiental como um todo, e não
23
só a penal, para os riscos decorrentes de determinadas condutas e não apenas para os danos
propriamente efetivados.
No art. 2º da Lei 9.605/98, a Lei de Crimes Ambientais, temos a previsão de que “quem,
de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a
estes cominadas, na medida da sua culpabilidade”
Desse artigo, tiramos a seguinte conclusão: é possível o concurso de pessoas nos crimes
ambientais com fundamento na teoria monista (ou unitária) – todos os agentes respondem pelo
mesmo crime, na medida se sua culpabilidade. Assim, apesar de todos os agentes responderem
pelo mesmo crime, não necessariamente terão a mesma pena.
24
são subjetivas, pois é imprescindível que o dolo ou a culpa (elemento subjetivo) do agente seja
comprovado para aplicar a sanção.
Para essa teoria, as pessoas jurídicas são seres coletivos, dotados de vontade, que podem
ser exercidas de diversas formas, portanto, não há que se falar em responsabilidade penal
objetiva ao puni-las. Ademais, as pessoas jurídicas têm capacidade de culpabilidade e de sanção
penal, pois a culpabilidade no conceito mais moderno é a responsabilidade social. Nesse
contexto, a culpabilidade da pessoa jurídica está intrínseca à vontade do seu administrador.
25
Trata-se, nesse caso, da figura do garantidor, que comete os chamados crimes omissivos
impróprios (ou comissivos por omissão), nos termos do art. 2o da Lei no 9.605/1998
Por fim, está clara a previsão constitucional da responsabilização de pessoa jurídica por
crimes ambientais, na forma do art. 225, §3º, regulamentado infraconstitucionalmente por meio
do art. 3º da Lei de Crimes Ambientais, com a seguinte redação:
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Visto isso, é importante ressaltar que, para haver responsabilidade penal da pessoa jurídica
a infração deve ser cometida no interesse ou benefício da entidade e por decisão do seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado.
RESPONSABILIDADE PENAL DA
PESSOA JURÍDICA
- REPRESENTANTE LEGAL;
- REPRESENTANTE CONTRATUAL; ou
- ÓRGÃO COLEGIADO
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Até algum tempo atrás, o STJ entendia que só seria possível a responsabilidade penal da
pessoa jurídica por crimes ambientais se, simultaneamente, houvesse a imputação da pessoa
natural que atua em seu nome ou benefício.
Esse entendimento consagrava a teoria da dupla imputação, pela qual o Ministério Público
só poderia formular uma denúncia contra pessoa jurídica se identificasse a pessoa física que
participou do delito (REsp. 610.114/RN).
Para o STF, a teoria da dupla imputação, até então adotada pelo STJ, afronta a CF/88 ao
condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa física, pois estaria subordinando a
responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física.
Dessa forma, o STF passou a rechaçar a teoria da dupla imputação e admitir a denúncia
do MP apenas contra a pessoa jurídica.
Nesse contexto, vale ressaltar que a denúncia contra os dirigentes da pessoa jurídica deve
contar com elementos hábeis a comprovar a relação entre o fato delituoso e as respectivas
autorias, sob pena se ser considerada inepta. Portanto, deve ser comprovado o nexo causal
entre as condutas dos dirigentes e as imputações a eles atribuídas.
27
Por fim, destaca-se que é possível a desconsideração da personalidade jurídica sempre que
ela for obstáculo para o ressarcimento de prejuízos causados à qualidade ambiental (art. 4º da
Lei 9.605/98).
Os que defendem essa teoria afirmam que, nesses casos, o magistrado deve escolher a
pena cabível à pessoa jurídica de direito público dentre as possibilidades previstas no art. 21 da
Lei de Crimes Ambientais. Ao contrário do que pode parecer, a condenação de um ente público
não enfraqueceria a instituição, ao contrário, o apoiaria no cumprimento de suas finalidades,
pois o seu erário teria uma destinação fixada pelo Poder Judiciário.
Por outro lado, a doutrina que não admite a responsabilização criminal de pessoas jurídicas
de direito público argumenta que é intrínseco a elas a perseguição da finalidade pública, sendo
impossível que atuem em interesse ou benefício próprio (o que é necessário para que exista
responsabilidade penal das pessoas jurídicas).
Quando a pessoa jurídica de direito público não persegue a finalidade pública, há desvio
de poder e, nessa situação, só a pessoa natural é responsabilizada penalmente.
Além disso, para a doutrina contra a punição penal da pessoa jurídica de direito público,
não teria sentido uma eventual sanção contra um ente público, seria redundante condenar, por
exemplo, um município à pena de multa, pois ela acabaria transcendendo a pessoa jurídica
condenada e quem arcaria com a condenação seriam os contribuintes.
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11.3 Aplicação da Pena
O art. 6º da Lei de Crimes Ambientais dispõe de critérios a serem observados pelo julgador
na imposição e na gradação da pena base dos crimes nela previstos. São eles:
Em primeiro lugar, ressaltamos que os antecedentes do infrator que devem ser analisados
são aqueles pertinentes à toda legislação ambiental, não apenas à Lei de Crimes Ambientais.
Portanto, é possível considerar uma infração administrativa ambiental como mau antecedente.
Depois, é preciso esclarecer que esses critérios devem ser analisados pelo magistrado no
momento de definir a pena base do condenado em conjunto com os critérios do art. 59 e 60
do CP.
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Em relação às agravantes, entende-se que o baixo grau de instrução do agente retira a sua
potencial consciência de ilicitude, configurando erro de proibição.
30
Em relação às agravantes dos crimes ambientais, destacamos que a reincidência prevista
no inciso I do art. 15 da Lei de Crimes Ambientais é uma reincidência específica, ou seja, se o
agente cometeu crime de outra natureza (que não seja contra o meio ambiente), a agravante
não irá incidir.
Apesar que crime comum prévio não implicar na agravante de reincidência em crime
ambiental, o crime ambiental prévio implicará na agravante da reincidência em condenação por
crime comum posterior, conforme o art. 63 do CP.
31
Com o fim da segunda etapa da aplicação da pena, deve ser estabelecido o regime inicial
de cumprimento de pena para a pessoa física. Como a Lei de Crimes Ambientais não dispõe de
regra específica sobre o tema, nesse ponto aplicamos as disposições do CP:
A regra de substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos na Lei
de Crimes Ambientais tem uma pequena diferença em relação à regra do Código Penal: na Lei
9.605/98, essa substituição ocorre nos crimes com penas aplicadas inferiores a 4 anos, ou seja,
quando o condenado tiver a pena por crime ambiental instituída em 4 anos exatos, não terá
direito à sua substituição por restritiva de direitos. Por outro lado, o CP, em seu art. 44, I, prevê
32
que a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ocorre quando a
condenação é igual ou inferior a 4 anos. Isso quer dizer que, ao contrário dos crimes ambientais,
quando o condenado por crime comum tem a sua pena estabelecida em exatos 4 anos, terá
direito à respectiva substituição.
Prestação
pecuniária
Suspensão
Recolhimento
parcial ou total
PENAS domiciliar
de atividades
RESTRITIVAS
DE DIREITOS
Interdição Prestação de
temporária de serviços à
direitos comunidade
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conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta,
se possível.
A pena de suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo
às prescrições legais. Enquanto isso, a pena de prestação pecuniária consiste no pagamento
em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada
pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos.
Segundo o art. 12 da Lei de Crimes Ambientais, o valor a título de prestação pecuniária será
deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.
Na última fase de aplicação da pena, se não for possível a substituição da pena privativa
de liberdade por uma pena restritiva de direitos, o magistrado deve observar a possibilidade de
cabimento da suspensão condicional da pena.
Se cabível, a respectiva pena não será executada, caso em que o condenado deverá se
submeter a determinadas condições legais e impostas pelo juiz no caso concreto. Essas últimas,
no caso dos crimes ambientais, devem ser relacionadas com a proteção do meio ambiente.
34
O condenado não pode ser reincidente em crime doloso; e
A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e circunstâncias, autorizem a concessão do benefício.
Segundo o princípio da insignificância, a lei penal deve ser aplicada apenas para punir
condutas que sejam efetivamente capazes de lesar um bem jurídico tutelado pelo direito penal.
Trata-se de uma forma de materializar a fragmentariedade do direito penal e a teoria de
intervenção mínima.
Prevalece em nosso ordenamento jurídico que a ultima ratio da tutela penal deve ser
utilizada apenas quando a agressão ao meio ambiente ecologicamente equilibrado por
intolerável e quando as demais instâncias (civil e administrativa) não forem suficientes para coibir
a conduta infracional.
As infrações penais previstas na Lei 9.605/98 são de ação penal pública incondicionada.
Isso quer dizer que, em regra, será o Ministério Público o titular da ação penal referente a crimes
ambientais. A exceção se configura nos casos de ação penal privada subsidiária da pública, em
que a titularidade da ação passa para o ofendido diante da inércia do MP.
Nesse contexto, é importante ressaltar que o titular da ação penal privada subsidiária da
pública é apenas o ofendido, pessoa física. Não há possibilidade de, por exemplo, associação
civil de proteção ambiental ingressar com ação penal, mesmo que seja legitimada para propor
ação civil pública.
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11.5.2 Transação penal
De acordo com o art. 27 da Lei 9.605/98, nos crimes ambientais de menor potencial
ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa pode ser
formulada pelo representante do Ministério Público quando houver a prévia composição do
dano ambiental e não estejam presentes as situações que impedem a celebração da transação
penal.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até
a metade.
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação
de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação
do Juiz.
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11.5.3 Suspensão condicional do processo
Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, também é possível aplicar a suspensão
condicional do processo. De acordo com o art. 28 da Lei de Crimes Ambientais, o Ministério
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do respectivo processo:
Se o laudo demonstrar que a respectiva reparação não foi completa durante a suspensão
condicional do processo, o prazo de suspensão será prorrogado nos termos do art. 28, II da Lei
de Crimes Ambientais, assim como ficará suspenso o prazo prescricional da infração.
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III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do §
1° do artigo mencionado no caput;
11.5.4 Competência
A Lei de Crimes Ambientais nada dispõe sobre a competência para conhecer e julgar os
crimes ambientais. Portanto, diante de uma interpretação sistemática da Constituição Federal,
concluímos que, em regra, a competência para o julgamento dos crimes ambientais é da Justiça
Comum Estadual.
A Justiça Comum Federal será competente para o julgamento dos crimes ambientais
apenas nas hipóteses em que eles tenham como objeto bens, serviços ou interesses da União
ou de suas autarquias ou empresas públicas, de acordo com o art. 109 da CF/88.
Ademais, segundo os Tribunais Superiores, ainda temos como hipóteses que justificam a
competência da Justiça Federal:
Como o inciso IV do art. 109 da CF/88 exclui do âmbito da competência da Justiça Federal
as contravenções penais, em regra, as contravenções ambientais serão julgadas perante a Justiça
Comum Estadual, mesmo que atingidos bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias
ou empresas públicas.
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A exceção à essa regra encontra-se no caso de contravenção ambiental cometida por
pessoa com foro por prerrogativa de função previsto constitucionalmente, como os juízes
federais, que devem ser julgados perante a Justiça Federal.
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QUADRO SINÓTICO
Legitimados:
Ministério Público;
Defensoria Pública;
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
União, estados, Distrito Federal e municípios;
Autarquia, empresa pública, fundação e sociedade de economia
mista; e
Associação civil constituída há pelo menos 1 ano e com
pertinência temática.
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As penas restritivas de direitos substituem as penas privativas de
liberdade:
Quando tratar-se de crime culposo;
Quando, mesmo que em crime doloso, for aplicada a pena
PENAS RESTRITIVAS
privativa de liberdade inferior a quatro anos; e
DE DIREITOS
Quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja
suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Pena privativa de liberdade não superior a três anos;
Não reincidência em crime doloso; e
SUSPENSÃO
A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
CONDICIONAL DA
PENA personalidade do agente, bem como os motivos e
circunstâncias, autorizem a concessão do benefício.
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QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Em decorrência de grave dano ambiental em uma
Unidade de Conservação, devido ao rompimento de barragem de contenção de sedimentos
minerais, a Defensoria Pública estadual ingressa com Ação Civil Pública em face do causador do
dano.
Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.
A) A Ação Civil Pública não deve prosseguir, uma vez que a Defensoria Pública não é legitimada
a propor a referida ação judicial.
B) A Defensoria Pública pode pedir a recomposição do meio ambiente cumulativamente ao
pedido de indenizar, sem que isso configure bis in idem.
C) Tendo em vista que a conduta configura crime ambiental, a ação penal deve anteceder a
Ação Civil Pública, vinculando o resultado desta.
D) A Ação Civil Pública não deve prosseguir, uma vez que apenas o IBAMA possui competência
para propor Ação Civil Pública quando o dano ambiental é causado em Unidade de Conservação.
Comentário:
*Lei nº 7.347/85: Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao
meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico e dá outras providências.
42
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
Questão 2
(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) Em ação civil pública ambiental,
não é possível cumulação de pedido de obrigação de fazer e de reparação pecuniária, em razão
do que dispõe o art. 3º da Lei n. 7.347/1985.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
O art. 3º da Lei de Ação Civil Pública dispõe que o seu objeto poderá ser a condenação
em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Nesse contexto, o STJ
entende que esses pedidos podem ser cumulados ou não (Súmula 629).
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Questão 3
(CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) Acerca do direito coletivo, julgue o item a seguir.
Conforme jurisprudência do STJ, é competência da justiça eleitoral julgar ação civil pública em
que se busque cessar degradação ambiental causada por partido político em propaganda
eleitoral consistente em pichações e pinturas em edificações urbanas.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Na Ação Civil Pública em que se busca cessar degradação ambiental causada por partido
político em propaganda eleitoral não se discute direitos políticos, inelegibilidade, sufrágio,
partidos políticos ou infrações à norma eleitoral, que são matérias da competência da
Justiça Eleitoral. Apesar de a obrigação de pagar, fazer ou não fazer que se requer com a
ACP ser dirigida a partido político, a demanda não é inerente ao processo eleitoral.
Questão 4
(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Uma associação de proteção ao patrimônio ambiental
de Santa Catarina, constituída havia seis meses, ajuizou ACP requerendo a paralisação das obras
de construção de um resort sobre dois sambaquis do estado — depósitos de conchas dos povos
pré-históricos que habitaram as regiões litorâneas do estado. A entidade, cumprindo sua
finalidade institucional de proteger o meio ambiente, pleiteou na ACP a condenação do
proprietário do resort pelos danos até então causados ao patrimônio arqueológico.
De acordo com a legislação que rege os meios processuais para a defesa ambiental, a referida
associação
A) não detém legitimidade para propor a ACP, em razão do seu tempo de pré-constituição, mas
poderia propor ação popular com o mesmo fim.
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B) não detém legitimidade para propor a ACP, porque a defesa de patrimônio arqueológico
extrapola as suas finalidades.
C) detém legitimidade para propor a ACP, independentemente de ter sido constituída nos
termos da lei civil, pois não se exige das associações o registro do seu estatuto em cartório.
D) detém legitimidade para propor a ACP, pois o requisito de tempo de pré-constituição poderá
ser dispensado pelo juiz, se verificado manifesto interesse social pela dimensão do dano.
E) não detém legitimidade para propor a ACP, a menos que atue em litisconsórcio com o
Ministério Público.
Comentário:
No caso em questão, a associação civil possui a pertinência temática, pois tem como
finalidade institucional a proteção do meio ambiente, que inclui o patrimônio arqueológico;
entretanto, por ter sido constituída há apenas 6 meses, em regra, a associação não poderia
propor a Ação Civil Pública (nem a Ação Popular, que é de legitimidade exclusiva do
cidadão)
Questão 5
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empreendimento às margens de um rio desse estado. No local escolhido, uma área de
preservação permanente, a empresa empreendedora desmatou irregularmente 200 ha para
instalar o empreendimento. A liminar incluiu, ainda, pedido para que a empresa fosse obrigada
a iniciar imediatamente replantio na área desmatada.
Nessa situação hipotética, a ação civil pública proposta deverá discutir
A) apenas a responsabilidade civil da empresa.
B) as responsabilidades civil e criminal da empresa.
C) as responsabilidades civil e administrativa da empresa.
D) apenas a responsabilidade administrativa da empresa.
E) as responsabilidades civil, administrativa e criminal da empresa.
Comentário:
A Ação Civil Pública visa apurar a responsabilidade civil do degradador ambiental. Se for
detectado que réu da ACP também tem responsabilidade administrativa ou penal, o juiz
deve encaminhar as informações para os órgãos competentes da Administração Pública e
do Ministério Público para as devidas providências.
Questão 6
Comentário:
46
O Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, que pode ser celebrado entre órgãos públicos
legitimados paras propor ACP e os poluidores interessados, tem natureza de título
executivo extrajudicial.
Questão 7
(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) O Ministério Público ajuizou ações
na esfera cível e criminal contra empresa exploradora de petróleo, alegando prejuízos
decorrentes de vazamento de óleo combustível em águas marinhas. O vazamento de óleo
resultou na mortandade da fauna aquática e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) determinou, então, a imediata proibição de pesca na
região, por seis meses. Na fase de provas, foram provadas a regularidade das instalações da
empresa, que contava com as melhores tecnologias disponíveis, e a idoneidade dos esforços
para a reparação do problema, tendo o prejuízo ocorrido por motivo de força maior.
Determinado pescador profissional ajuizou ação indenizatória individual pelos mesmos fatos,
requerendo danos materiais e morais.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
A) A pretensão indenizatória na ação civil pública pelo dano ambiental difuso é imprescritível.
B) A pretensão do pescador é imprescritível.
C) A responsabilidade da empresa pela poluição gerada é objetiva em todas as ações.
D) Se reconhecida processualmente, a força maior afastará a obrigação de indenizar.
E) O reconhecimento da força maior como determinante do dano não tem repercussão na ação
criminal.
47
Comentário:
No caso em questão, o dano ambiental foi comprovadamente causado por força maior,
mas isso não é capaz de retirar a responsabilidade civil de indenizar do agente. Entretanto,
ao reconhecer a força maior como determinante do dano, afasta-se a responsabilidade
criminal do agente que, como dito, é subjetiva.
Questão 8
Comentário:
De acordo com o art. 12 da lei de ACP, o juiz pode conceder liminar com ou sem
justificação prévia. Nesses casos, a multa cominada só será exigível do réu depois do
trânsito em julgado da decisão em favor do autor, mas será contabilizada a partir do dia
em que houve o descumprimento.
Questão 9
(VUNESP - 2016 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Um Município, no interior de Minas Gerais, pretende,
em sede recursal, a inclusão do referido Estado no polo passivo da Ação Civil Pública, que visa
a reparação e prevenção de danos ambientais causados por deslizamentos de terras em encostas
habitadas. Segundo regra geral quanto ao dano ambiental e urbanístico, e segundo posição do
STJ, o litisconsórcio, nesses casos é
A) facultativo, mesmo havendo múltiplos agentes poluidores.
B) obrigatório, no caso de causas concorrentes.
C) facultativo, pois os responsáveis pela degradação ambiental não são coobrigados solidários.
D) necessário, quando o ato envolve particular e poder público.
E) facultativo, quando envolve ato do particular e necessário quando envolve ato da
Administração Pública.
Comentário:
49
ambiente é solidária, ou seja, todos os responsáveis diretos ou indiretos do dano podem
responder integralmente por ele.
Para apurar o nexo de causal e a solidariedade no caso de dano ambiental, a lei equipara
quem faz, a quem não faz quando deveria fazer, quem faz mal feito, quem não se importa
que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem.
Por isso, existindo vários agentes poluidores responsáveis por um dano ambiental, a
formação de litisconsórcio passivo entre eles não é necessário, mas sim facultativo.
Questão 10
(FMP Concursos - 2015 - MPE-AM - Promotor de Justiça Substituto) Ao ajuizar ação civil
pública para proteger o meio ambiente, pode o Promotor de Justiça
I – inserir no polo passivo tanto a pessoa jurídica como a pessoa física responsável direta ou
indiretamente pelo dano ambiental.
II – buscar a reparação de dano ambiental causado há mais de vinte anos, devido ao caráter
imprescritível do dano ambiental.
III – pleitear medida cautelar inibitória com o escopo de evitar a instalação de atividade lesiva
ao meio ambiente, em atenção ao princípio do poluidor-pagador.
IV – demandar, na mesma ação, o ente público que autorizou a atividade poluidora e o particular
beneficiário da autorização.
Quais das assertivas acima estão corretas?
A) Apenas a I, II e III.
B) Apenas a III e IV.
C) Todas.
D) Apenas a I e III.
E) Apenas a I, II e IV.
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Comentário:
Ao ajuizar uma ACP para proteger o meio ambiente, o Promotor de Justiça pode compor
o polo passivo com um litisconsórcio facultativo entre a pessoa jurídica e a pessoa física
responsáveis direta ou indiretamente pelo dano ambiental; pode buscar a reparação de
um dano ambiental ocorrido há mais de 20 anos, pois o STJ entende que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, difuso e inerente à vida humana, é imprescritível; e
pode demandar em uma só ação o ente público que autorizou a atividade poluidora e o
particular poluidor que se beneficiou dessa autorização, pois a responsabilidade do ente é
solidária. Por fim, o Promotor de Justiça também pode pleitear, em sede de ACP, medida
inibitória com o escopo de evitar a instalação de atividade lesiva ao meio ambiente,
entretanto, o fundamento dessa tutela não será o princípio do poluidor-pagador, como
afirma a assertiva III, mas sim princípios como o da prevenção e da precaução.
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GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - ERRADO
Questão 3 - ERRADO
Questão 4 - D
Questão 5 - A
Questão 6 - C
Questão 7 - A
Questão 8 - CERTO
Questão 9 - A
Questão 10 - E
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QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
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GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
É necessário que a associação esteja constituída há pelo menos 01 ano, bem como que a
proteção ao meio ambiente esteja entre as suas finalidades institucionais.
Constituída há 01 ano
Conforme esclarece RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5ª Ed: São
Paulo. Saraiva. 2018, p. 439: “Nota-se, ainda, do art. 5º, I, da Lei da Ação Civil Pública, que, no
tocante a essa demanda específica, exige-se o preenchimento de dois requisitos de forma
concomitante: ■ inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico; ■ esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil. O primeiro deles traduz a ideia que vem sendo chamada de pertinência temática. Em
outras palavras, o interesse que se busca tutelar deve ter relação com a finalidade para a qual
foi criada a associação. Em relação à segunda das condições, o § 4º do mesmo art. 5º prevê
importante exceção: “§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.” Assim, pode o Magistrado, desde que haja
interesse social — caracterizado por aspectos do dano ou do bem jurídico tutelado —, permitir
o ajuizamento de demanda coletiva por entidade associativa que tenha sido constituída
regularmente há menos de um ano. Tal exceção — de caráter nitidamente aberto — ganha
ainda mais em importância das demandas ambientais se tivermos em conta o elevado interesse
inerente às qualidades do bem ambiental, além do caráter difuso do dano ecológico.
Informa, ainda, RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5ª Ed: São Paulo.
Saraiva. 2018, p. 439: “Diga-se, por fim, que, ainda que não tenha sido atendido no momento
da propositura da demanda, caso o prazo anual venha a se completar no curso dela, não deve
ser extinta por carência de ação. Trata-se da adoção de premissa de Liebman, o artífice da
“teoria eclética da ação”, para quem, se a condição da ação faltante surgir no curso da demanda,
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por questão de economia processual, não se deve extinguir o processo sem resolução de mérito.
Vale dizer ainda que, como espécie de associação, os sindicatos possuem legitimidade ativa
para o ajuizamento de ações civis públicas na defesa de interesses ligados à categoria que
representam, como decide o STJ: “ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. (...) AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. SINDICATO. LEGITIMIDADE ATIVA. (...) 2. A doutrina tem entendido que os sindicatos
possuem natureza jurídica de associação civil, o que lhe concede a legitimidade ativa para a
propositura de eventual ação civil pública em defesa de direito afeto à categoria que representa;
e que eventual limitação a essa legitimidade implica restrição ao direito de ação dos sindicatos,
não limitado pelo texto constitucional, em seus arts. 5º, inciso XXI, 8º, inciso III e 114, § 1º. 3. A
despeito da existência de julgados em sentido diverso, já encontra eco na jurisprudência pátria
o entendimento no sentido de que os sindicatos, mormente quando houver expressa
autorização em seu estatuto, têm legitimidade ativa para propor ação civil pública, em
atendimento a princípios constitucionais, especialmente o da democratização do acesso ao
Judiciário e da celeridade na prestação jurisdicional, entre outros. 3. No caso, sendo o direito
vindicado afeto a toda a categoria representada pelo Sindicato Recorrente e estando este, por
meio de seus estatutos, autorizado a promover a defesa daquela em juízo, não há como
restringir a legitimidade da entidade sindical para propor ação civil pública. 4. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido” (STJ, 5ª Turma, REsp 549.794/RS, rel. Min. Laurita Vaz, DJ 5-
11-2007). Como se vê, recorre o Tribunal da Cidadania a dispositivos da Constituição Federal,
como o art. 8º, III: “Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...)
III — ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas; (...).”
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.
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JURISPRUDÊNCIA
STF. MS: 22164/SP, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 30/10/1995, TRIBUNAL
PLENO, Data de Publicação: DJ 17-11-1995 PP-39206 EMENT VOL-01809-05 PP-01155.
PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLASSICAS, NEGATIVAS
OU FORMAIS - REALCAM O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (DIREITOS
STJ. REsp: 1120117 AC 2009/0074033-7, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento:
10/11/2009, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 19/11/2009.
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL. PEDIDO GENÉRICO. ARBITRAMENTO DO
QUANTUM DEBEATUR NA SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 7/STJ. 1.É da competência
da Justiça Federal o processo e julgamento de Ação Civil Pública visando indenizar a comunidade indígena
Ashaninka-Kampa do rio Amônia. 2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência territorial e
funcional, eis que o dano ambiental não integra apenas o foro estadual da Comarca local, sendo bem mais
abrangente espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de competência do Juiz Federal. 3.
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Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na extração ilegal de madeira da área indígena. 4. O
dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que lhe está próximo, a comunidade indígena, também
atinge a todos os integrantes do Estado, espraiando-se para toda a comunidade local, não indígena e para futuras
gerações pela irreversibilidade do mal ocasionado. 5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande
amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no
simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano.
6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, está protegido pelo
manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos
povos, independentemente de não estar expresso em texto legal. 7. Em matéria de prescrição cumpre distinguir
qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se
o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem
saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível o direito à reparação. 8. O dano ambiental inclui-se
dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da imprescritibilidade a
ação que visa reparar o dano ambiental. 9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado determinar, desde já,
o montante da reparação, havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ. 10. Inviável, no presente
recurso especial modificar o entendimento adotado pela instância ordinária, no que tange aos valores arbitrados a
título de indenização, por incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ. 11. Recurso especial parcialmente conhecido e
não provido.
a competência da 1ª Seção deste Tribunal. Contudo, um recurso especial que tenha como objeto a discussão
exclusivamente da responsabilidade civil pela reparação do dano ambiental, sem outras questões ambientais que
justifiquem seu deslocamento à 1ª Seção, deve ser julgado por uma das Turmas integrantes da 2ª Seção, inserindo-
se no conceito amplo de responsabilidade civil a que se refere o art. 9º, § 2º, III do RI/STJ. 2. É possível, em ação
área) e de pagamento pelo dano material causado. Precedentes. 3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa
parte, provido.
STJ - REsp: 876931 RJ 2006/0115752-8, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 10/08/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/09/2010.
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é "[z]elar pela manutenção e melhoria da qualidade de vida do bairro, buscando manter sua ocupação e seu
desenvolvimento em ritmo e grau compatíveis com suas características de zona residencial". 2. Desta cláusula, é
perfeitamente possível extrair sua legitimidade para ação civil pública em que se pretende o seqüestro do conjunto
arquitetônico "Mansão dos Lage", a cessação imediata de toda atividade predadora e poluidora no conjunto
arquitetônico e a proibição de construção de anexos e de obras internas e externas no referido conjunto
arquitetônico. Dois são os motivos que levam a tal compreensão. 3. Em primeiro lugar, a Constituição da República
vigente expressamente vincula o meio ambiente à sadia qualidade de vida (art. 225, caput), daí porque é válido
concluir que a proteção ambiental tem correlação direta com a manutenção e melhoria da qualidade de vida dos
moradores do Jardim Botânico (RJ). 4. Em segundo lugar, a legislação federal brasileira que trata da problemática
da preservação do meio ambiente é expressa, clara e precisa quanto à relação de continência existente entre os
conceitos de loteamento, paisagismo e estética urbana e o conceito de meio ambiente, sendo que este último
abrange os primeiros. 5. Neste sentido, importante citar o que dispõe o art. 3º, inc. III, alíneas a e d, da Lei n.
6.938/81, que considera como poluição qualquer degradação ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente prejudiquem a saúde e o bem-estar da população e afetem condições estéticas do meio ambiente.
6. Assim sendo, não há como sustentar, à luz da legislação vigente, que inexiste pertinência temática entre o objeto
social da parte recorrente e a pretensão desenvolvida na presente demanda, na forma do art. 5º, inc. V, alínea b,
da Lei n. 7.347/85. 7. Recurso especial provido.
STF. ARE 1197788, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em 03/05/2019, publicado em
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 21/05/2019 PUBLIC 22/05/2019.
Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo: “AGRAVO DE
INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO - ASSOCIAÇÃO DOS SUBTENENTES E SARGENTOS DA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - Preliminar de nulidade da decisão afastada - Prévia intimação
prescindível - Extensão dos efeitos da decisão aos que se associaram após a impetração do ‘writ’ - Possibilidade -
Associação que possui legitimidade extraordinária, na qualidade de substituto processual - Defesa de interesses
de grupo, categoria ou classe – Irrelevância do momento de associação – Eficácia subjetiva ampla, ‘ultra parte’ -
Desnecessidade de autorização especial expressa de cada associado - Inteligência dos art. 5º, inc. LXX, alínea
‘b’, da CF/1988 e arts. 21 e 22 da Lei n° 12.016/2009 – Súmula n° 629 do C. STF – Entendimento majoritário da
doutrina e da jurisprudência - Inaplicabilidade do disposto no art. 2º-A da Lei n° 9.494/1997 – Elevação do prazo
para cumprimento das ordens – Cabimento - Número expressivo de associados - Decisão reformada em parte -
Recurso parcialmente provido” (fls. 29-30, vol. 6). 2. No recurso extraordinário, os agravantes alegam ter o Tribunal
de origem contrariado o inc. XXI do art. 5º da Constituição da República. Asseveram ser “imprescindível que a
inicial se faça acompanhar do rol de autorização individual expressa dos associados que pretendam se beneficiar
59
da demanda coletiva, para que se dê a legitimidade da associação e crave os parâmetros subjetivos dos efeitos do
julgado” (fl. 54, vol. 6). Sustentam que “os efeitos da decisão no processo coletivo beneficiam tão somente aqueles
que, à época da impetração, encontravam-se vinculados à legitimada coletiva que ajuizou a ação” (fl. 55, vol. 6).
(...) Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO. 4. Razão jurídica não assiste aos agravantes. 5. O
acórdão recorrido harmoniza-se com a jurisprudência deste Supremo Tribunal quanto à desnecessidade de
instrução da inicial com relação nominal e autorização expressa dos associados para a impetração de mandado de
segurança coletivo. (...)
STJ - REsp: 232187 SP 1999/0086288-0, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento:
23/03/2000, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 08/05/2000 p. 67 LEXSTJ vol. 132
p. 203.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. 1. É parte legítima para figurar no pólo passivo da
Ação Civil Pública a pessoa jurídica ou física apontada como tendo praticado o dano ambiental. 2. A Ação Civil
Pública deve discutir, unicamente, a relação jurídica referente à proteção do meio ambiente e das suas
conseqüências pela violação a ele praticada. 3. Incabível, por essa afirmação, a denunciação da lide. 4. Direito
de regresso, se decorrente do fenômeno de violação ao meio ambiente, deve ser discutido em ação própria.
5. As questões de ordem pública decididas no saneador não são atingidas pela preclusão. 6. Recurso especial
improvido.
STJ - REsp: 596764 MG 2003/0177227-5, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de
Julgamento: 17/05/2012, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/05/2012.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERMO DEAJUSTAMENTO DE CONDUTA. NÃO
OBRIGATORIEDADE DE O MINISTÉRIO PÚBLICO ACEITÁ-LO OU DE NEGOCIAR SUAS CLÁUSULAS.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO DO PARTICULAR. 1. Tanto o art. 5º, § 6º, da LACP quanto o art. 211 do
ECA dispõem que os legitimados para a propositura da ação civil pública "poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais". 2. Do mesmo modo que o MP não pode obrigar
qualquer pessoa física ou jurídica a assinar termo de cessação de conduta, o Parquet também não é obrigado a
aceitar a proposta de ajustamento formulada pelo particular. Precedente. 3. O compromisso de ajustamento de
conduta é um acordo semelhante ao instituto da conciliação e, como tal, depende da convergência de vontades
STJ - REsp: 889766 SP 2006/0211354-5, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento:
04/10/2007, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 18/10/2007 p. 333.
60
por objetivo anular judicialmente atos lesivos ou ilegais aos interesses garantidos constitucionalmente, quais sejam,
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural. 4. A ação popular é o instrumento jurídico que deve ser utilizado para
impugnar atos administrativos omissivos ou comissivos que possam causar danos ao meio ambiente. 5. Pode
ser proposta ação popular ante a omissão do Estado em promover condições de melhoria na coleta do esgoto
da Penitenciária Presidente Bernardes, de modo a que cesse o despejo de elementos poluentes no Córrego
Guarucaia (obrigação de não fazer), a fim de evitar danos ao meio ambiente. 6. A prova pericial cumpre a função
de suprir a falta ou insuficiência de conhecimento técnico do magistrado acerca de matéria extra-jurídica, todavia,
se o juiz entender suficientes as provas trazidas aos autos, pode dispensar a prova pericial, mesmo que requeridas
pelas partes. 7. Recurso especial conhecido em parte e não provido.
STJ. HC: 86259 MG 2007/0154492-9, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de
Julgamento: 10/06/2008, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/08/2008.
HABEAS CORPUS PREVENTIVO. CRIME AMBIENTAL. ART. 40 DA LEI 9.605/98. INÉPCIA DA DENÚNCIA. OCORRÊNCIA.
AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO MÍNIMA DA CONDUTA DO PACIENTE QUE TERIA CONTRIBUÍDO PARA CAUSAR DANO
DIRETO OU INDIRETO À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO. MERA ALUSÃO AO FATO DE SER PROPRIETÁRIO DO
TERRENO. INAMISSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A formulação de qualquer denúncia criminal se acha
submetida a exigências legais absolutamente insuperáveis, dentre as quais avulta a da exposição do fato criminoso,
com todas as suas circunstâncias (art. 41 do CPP), sem cujo integral atendimento não pode ser validamente exercido
o poder de denunciar ou restará a iniciativa denunciatória carente de aceitabilidade judicial, devendo ser
prontamente rejeitada pelo Juiz que a examina. 2. In casu, a denúncia não descreve, de forma clara e objetiva,
como seria de rigor, a conduta perpetrada pelo agente que teria dado causa, provocado ou desencadeado, de
forma direta ou indireta, o dano à área inserida em unidade de conservação ambiental. 3. Colhe-se dos autos,
especialmente das peças do Inquérito Policial, que a conduta não teria sido perpetrada diretamente pelo paciente,
mas por um caseiro, que trabalha e reside no local, tanto que o Parquet aduziu que a responsabilidade do acusado
derivaria de sua condição de proprietário do sítio (art. 2o. da Lei 9.605/98); entretanto, ainda nessa hipótese,
mostrava-se indispensável que se declinasse qual a atitude ou a conduta que teria concorrido para o dano, de
forma direta ou indireta, sendo vedada a imputação tão-somente pela relação da pessoa com a coisa (possuidor,
proprietário, gerente, etc). 4. Concede-se a ordem, para declarar a nulidade da denúncia oferecida em desfavor do
ora paciente, por inépcia, facultando ao Ministério Público apresentar nova peça acusatória, perante o Juízo
competente, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário.
STJ - REsp: 610114 RN 2003/0210087-0, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento:
17/11/2005, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 19/12/2005 p. 463
CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE
COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA
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DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA
JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE
relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades. V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no
ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar
condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal. VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a
responsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu
administrador ao agir em seu nome e proveito. VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver
intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral. VIII. "De qualquer modo, a
pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu
representante legal ou contratual ou de seu órgão colegiado.". IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas
penas autônomas de multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e
desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica. X. Não há ofensa ao princípio
constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado...", pois é incontroversa a existência de
duas pessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada
qual recebendo a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva. XI. Há legitimidade da
pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da relação processual-penal. XII. Hipótese em que pessoa jurídica de
direito privado foi denunciada isoladamente por crime ambiental porque, em decorrência de lançamento de
elementos residuais nos mananciais dos Rios do Carmo e Mossoró, foram constatadas, em extensão aproximada
de 5 quilômetros, a salinização de suas águas, bem como a degradação das respectivas faunas e floras aquáticas
e silvestres. XIII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física,
que atua em nome e em benefício do ente moral. XIV. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa
jurídica é a própria vontade da empresa. XV. A ausência de identificação das pessoas físicas que, atuando em nome
e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, inviabiliza o recebimento da exordial acusatória.
STF - RE: 548181 PR, Relator: Min. ROSA WEBER, Data de Julgamento: 06/08/2013, Primeira Turma,
Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA
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PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da
Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional
não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam
pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as
dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Carta
Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional,
expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também
de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis
internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e
agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso
concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de
suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da
entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se
confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa
das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas
ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso
STJ - REsp: 1409051 SC 2013/0338393-8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento:
20/04/2017, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/04/2017
ambiente, circunstância registrada no "Relatório de Fiscalização firmado pelo ICMBio [em que] foi informado que
a gravidade do dano foi leve, além do crime não ter sido cometido atingindo espécies ameaçadas." 2. Os
instrumentos utilizados - vara de molinete com carretilha, linhas e isopor -, são de uso permitido e não
configuram profissionalismo, mas ao contrário, demonstram o amadorismo da conduta do denunciado.
Precedente. 3. Na ausência de lesividade ao bem jurídico protegido pela norma incriminadora (art. 34, caput, da
Lei n. 9.605/1998), verifica-se a atipicidade da conduta. 4. Recurso especial provido para reconhecer a atipicidade
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ESTUDO COMPLEMENTAR
App OABeiros
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.
DIZER O DIREITO. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por crime ambiental, ainda que não haja
imputação contra pessoas físicas?. Disponível em: <https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/e-possivel-
responsabilizacao-penal-da.html> Acesso em: 07.04.2020.
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